O CURRÍCULO ADAPTADO NA PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby (Professora DEPED UNICENTRO) email: [email protected]. Carla Luciane Blum Vestena (Doutoranda UNESP) e-mail: [email protected] Palavras-chave: currículo adaptado, educação inclusiva, ensino fundamental. Resumo A presente pesquisa teve como objetivo investigar como os professores do Ensino Fundamental, que atuam com alunos incluídos, concebem e realizam a adaptação curricular. Utilizou-se um questionário semi-estruturado que foi aplicado pelos acadêmicos de Pedagogia do Campus de Chopinzinho. Concluiu-se que os professores apresentam conceitos semelhantes de adaptação curricular, mas, formas distintas de selecionar e adaptar os conteúdos, objetivos e atividades. Introdução A inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais ganhou força, nas últimas décadas, com a promoção de eventos internacionais em prol da democratização do ensino e do trabalho com a diversidade. O atendimento educacional a estas pessoas iniciou-se na Europa somente a partir do século XIX, com a organização das primeiras instituições para alunos com alguma deficiência visual ou auditiva e mais tarde para os deficientes mentais. O Brasil seguiu o modelo europeu de institucionalização das pessoas deficiência implantando serviços de Educação Especial e encaminhando os alunos que não se enquadravam a escolas e classes especializadas. (JANNUZZI, 2004) A partir dos anos 70, mudanças na forma de pensar sobre as funções da escola, discussões sobre direitos humanos e a luta de pais e educadores envolvidos com a educação de alunos com deficiência, resultaram na organização do movimento pela inclusão escolar. (SASSAKI, 1997) No entanto, atualmente, apesar de cada vez mais escolas tornarem-se inclusivas, algumas dificuldades persistem. Exemplo disso é a falta de formação dos professores para adaptar determinadas ações pedagógicas às necessidades específicas de alguns alunos incluídos e de propor currículos abertos e flexíveis que atendam a todos os seus alunos. (CARVALHO, 2000; BARBY, 2005). Materiais e métodos Utilizou-se um questionário semi-estruturado com 4 questões, das quais 2 foram analisadas aqui, tendo em vista a brevidade deste relato. São elas: 1) O que é adaptação curricular? 2) Como você faz adaptação curricular em sua turma? Os questionários foram aplicados pelos acadêmicos de Pedagogia do Campus de Chopinzinho a 10 professores deste mesmo município, que no ano de 2006 trabalhavam com alunos incluídos, investigou-se ainda, o perfil destes profissionais. Resultados e discussão Quanto ao perfil, os professores entrevistados, formam um grupo jovem com 70% destes com até 40 anos de idade e 30% entre 41 e 53. Quanto ao tempo de trabalho no magistério, 50% tem até 10 de experiência e 50% entre 11 e 23 anos. Todos os professores são graduados e 60% destes têm curso de Especialização nas seguintes áreas: Orientação e Supervisão, Educação Especial, Formação de Professores, Metodologia das Séries Iniciais e Ensino de Jovens e Adultos. As áreas de graduação são: Pedagogia, História, Física, Ciências e Matemática, Administração, Educação Física, Normal Superior e Letras. Com relação à primeira questão proposta, “O que é adaptação curricular?” foi possível observar que os professores investigados têm clara noção do que é adaptação curricular, identificando vários elementos que a compõem: a flexibilidade, a seleção dos conteúdos e objetivos prioritários e a proposição de atividades variadas. Conforme exemplificam estes depoimentos: ... Entendo como adaptação curricular o fato do professor ser maleável e buscar atender todos os alunos mesmo sabendo que a turma é heterogênea [...] (P2) São estratégias e critérios de atuação docente, [...] que oportunizam adequar a ação educativa escolar as maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos [...] (P3) ... adequar o currículo conforme a necessidade do aluno. (P4) É procurar trabalhar os conteúdos necessários [...] (P9) Acredito ser adaptações realizadas nos conteúdos, atividades, as quais são desenvolvidas pelos alunos. (P10) Neste sentido, Carvalho (1998, p. 26), conceitua adaptação curricular como “modificações realizadas pelos professores, espontaneamente, e em todas as estratégias que são intencionalmente organizadas para dar respostas às necessidades de cada aluno, particularmente dos que apresentam dificuldades [...]” De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) as propostas curriculares inclusivas podem necessitar de adaptações de grande ou pequeno porte dependendo das características individuais ou coletivas dos alunos. As de pequeno porte relacionam-se as mudanças nas atividades propostas em sala de aula, nos objetivos e conteúdos selecionados. As adaptações de grande porte envolvem a escola toda e implicam na oferta de apoio especializado, material adaptado, profissionais de áreas específicas e adaptações na temporalidade. Estas reflexões nos remetem à segunda questão proposta neste estudo, Como você faz adaptação curricular em sua turma? Onde obtivemos respostas diferenciadas, pois alguns professores concentraram-se em aspectos específicos de determinados alunos individualizando a adaptação curricular: Observando o grau de conhecimento de cada aluno (P1) Conhecer a criança para ver em que necessidades especiais ela está inserida. (P3) Produzo material concreto com muitas gravuras e libras adaptando ao entendimento da criança. (P5) Trabalhando com atividades diferenciadas (práticas), dependendo do nível de aprendizagem, bloco lógico, música, coordenação motora fina, grossa, quebra-cabeça de palavras, sílabas ou letras, figuras geométricas [...] (P7) Enquanto outros buscaram adaptar o currículo de maneira abrangente, propondo atividades que envolvam toda a turma: [...] procuramos analisar as especificidades da turma e oferecer atividades diversificadas conforme a clientela. (P4) Com adequação dos conteúdos as capacidades presentes em cada turma... (P10) Procuro trazer atividades que atendam a todos, conversar o máximo que posso [...] (P2) Ressalta-se que num currículo adaptado alguns objetivos específicos podem ser priorizados e outros abolidos, as atividades modificadas e o tempo redefinido a critério da escola, as adaptações podem ser planejadas para um único aluno ou para toda a turma, “alguns podem dissertar sobre um tema de história, enquanto outros ilustrar o texto dos colegas ou encenar o acontecimento estudado.” (BARBY; VESTENA; GARRIDO, 2007, p. 105) Um dos professores entrevistados revelou que ainda resta muito a construir, dizendo que “Pouca adequação é realizada pois o professor regente muitas vezes acaba resolvendo seus problemas e conflitos sozinho.” (P8). Mas ao que parece os primeiros passos estão sendo dados por estes profissionais que estão trabalhando em prol da inclusão com criatividade e empenho. Conclusões Tradicionalmente o sistema comum de ensino caracterizou-se por basear suas ações pedagógicas em currículos seqüenciados e padronizados, divididos em séries ou ciclos, onde todos os alunos têm metas comuns. O professor estabelecia metas, apoiado num plano curricular, transmitia os conteúdos e quantifica a aprendizagem. Neste contexto, os alunos incluídos, muitas vezes ficavam ocupados com tarefas repetitivas enquanto o professor ensinava aos demais alunos. No entanto, hoje há consenso de que a inclusão de todos os alunos está diretamente relacionada à necessidade de se adotar currículos abertos e flexíveis, que levem em consideração, além dos conteúdos essenciais, as relações de amizade e respeito, oportunizando a troca de experiências entre os pares. Para Susan e William Stainback “É importante que todos aprendam o máximo que puderem nestas áreas, mas atingir os objetivos curriculares específicos nem sempre é o principal fator para mais tarde se ter sucesso e ser feliz.” (1999, p. 234) Referências BARBY, A. A. O. M. Inclusão de alunos com deficiência no sistema regular de ensino: o pensar dos futuros professores. Curitiba: UFPR, 2005. BARBY, A. A. O. M.; VESTENA, C. L. B.; GARRIDO, M. E. Inclusão educacional e adaptação curricular. In: MACIEL [et al]. Educação e alteridade. Guarapuava, PR: UNICENTRO, 2007. BRASIL, MEC/SEESP. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares: estratégias para a educação de alunos com necessidades especiais. CARVALHO, R. E. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre: Mediação, 2000. JANNUZZI, G. S. de M. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. RJ: WVA, 1997. STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.