ADVÉRBIO EM –MENTE: MODALIZADORES SENTENCIAIS Giseli Cavicchioli Prado - Letras – Universidade Estadual de Maringá – UEM Resumo: Apresentaremos um recorte das conclusões de uma pesquisa realizada pela autora em relação aos advérbios com terminação em –mente. Como é de conhecimento geral, a gramática da Língua Portuguesa apresenta algumas incoerências e imprecisões, as quais vão desde a heterogeneidade dos critérios adotados à falta de sistematização dos conceitos das classes de palavras. Assim, com o intuito de contribuir, de alguma forma, para esclarecer os fatos da língua, analisaremos os advérbios que funcionam como elemento modalizador do discurso, cuja possibilidade a teoria tradicional não aborda. Pretendemos, também, estabelecer critérios sintático-semântico-pragmáticos que permitiram identificar essas palavras no português e, ainda, propor uma classificação, distribuindo-os em subclasses. Finalmente, como modelo para a análise desses elementos, utilizaremos os fundamentos teóricos de Quirk et alii. Faz parte do corpus textos informativos da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo. Introdução Um dos maiores problemas incitados pelos profissionais envolvidos com a Língua Portuguesa são as imprecisões da teoria gramatical tradicional, as quais vão desde a falta de sistematização dos conceitos das classes de palavras à heterogeneidade dos critérios adotados. Assim, ao analisarmos uma gramática, podemos perceber que há muitas deficiências na descrição de qualquer classe. A dos advérbios, por exemplo, é definida como uma palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e o próprio advérbio, acrescentando-lhe uma circunstância. Por meio dessa definição, notamos a mistura dos critérios morfológico, sintático, nocional e semântico, aliada à falta de sistematização de sua hierarquia para deixar claro que distinção específica se deve à aplicação deste ou daquele critério. O problema dessa diversidade e heterogeneidade de critérios é que, dependendo da utilização, os resultados classificatórios são completamente diferentes. E é aqui que se encontra o grande problema do ensino da Língua Portuguesa. Dessa forma, essa classe nos chamou a atenção, porque foi procurando entender essas imprecisões que nos descortinou as muitas possibilidades que esses elementos adverbiais oferecem, manifestas em suas distintas funções e múltiplas significações. Isso ocorreu especialmente com o grupo de advérbios com terminação em –mente, que são classificados, segundo a gramática tradicional, como advérbios de modo e que, na verdade, constitui-se em uma das mais complexas unidades de nosso idioma. Considerando que o falante ao pronunciar o seu discurso está sempre avaliando, julgando, procurando influir sobre o comportamento do seu interlocutor, e que os advérbios em –mente têm se mostrado um grande recurso para produzir essa argumentatividade, decidimos pelo estudo dessa “classe de palavras”. Estabelecemos, então, como objetivo geral para nossa pesquisa, a análise dos advérbios em – mente. Dentre todos esses advérbios, verificaremos os conhecidos como “advérbios de frase”, os quais funcionam como elemento modalizador do discurso e que em nosso trabalho serão denominados por “disjuntos”. Desenvolvimento Um dos pontos de discussão e divergência entre os estudiosos da Língua Portuguesa é, sem dúvida, a falta de uma descrição adequada a alguns fatos lingüísticos por parte da gramática tradicional. Essa inadequação acarreta sérios problemas ao ensino da língua, tanto para os professores quanto para os alunos. Aos primeiros, sobra insatisfação por trabalharem com um material considerado ultrapassado, com muitas lacunas e, principalmente, pela falta de outros estudos que possam complementar e/ou substituir a velha gramática; aos segundos, resta o desinteresse pela aprendizagem da língua vernácula, pois não há, em muitos casos, relação entre a teoria e a prática. Segundo Carneiro (1989), após muitos seminários, simpósios, congressos que tratam do assunto, chega-se a algumas conclusões que podem auxiliar lingüistas interessados em diminuir os contratempos das aulas de português. Essas conclusões se referem: à falta de sistematização coerente da gramática; à inconsistência ou inadequação da descrição dos fatos gramaticais; ao caráter predominantemente normativo que apresenta; à consideração da língua como um bloco homogêneo; à ausência de fundamentação teórica e metodológica. (Carneiro, 1989: 09) Um problema referente à teoria gramatical, incitado por Perini (1991), diz respeito à dualidade de doutrinas gramaticais dentro da chamada gramática tradicional. Segundo ele, há duas doutrinas: uma é a definição propriamente dita dos fatos lingüísticos; a outra é a prática de identificação dos mesmos. A dificuldade dos estudantes é de relacionar a definição com a prática. Essas contradições são, em geral, toleradas, e mesmo ignoradas, por aqueles que trabalham com a gramática tradicional. Paralelamente às críticas, há também uma preocupação em encontrar soluções e até propostas de uma descrição gramatical alternativa, segundo Carneiro (1989). É importante ressaltar que nessas tentativas de melhorar a descrição da Língua Portuguesa, persiste a intenção de preservar a teoria tradicional naquilo que ela tem de positivo e adequado. Autores como Perini, Jubran & Risso (apud Carneiro, 1989), em suas propostas de uma nova gramática do português, enfatizam a necessidade de fazer uma descrição sistemática e livre de incoerências em que o dialeto padrão seja considerado como uma das possíveis variedades de língua em meio às variantes regionais, sociais e situacionais. Como conseqüência, esse estudo “tanto poderá servir de base para uma documentação científica do idioma, quanto ser aplicada sobretudo em situações de ensino, com objetivos prescritivos que desvirtuam sua natureza descritiva” (Carneiro, 1989:11). Podemos perceber que de todas as classes de palavras determinadas pela gramática, a classe dos advérbios é a que foi modelada de maneira mais insatisfatória. “Parece que se incluíram nas gramáticas sob a rubrica ‘advérbios’, todas as palavras com as quais não se sabia o que fazer. A sua lista não se fecha nunca e não se lhe dá uma definição integrante” (Pottier apud Biderman, 1978:217). Dessa forma, as palavras que compõem essa classe tem natureza e funções muitos diversas, pois ao lado dos advérbios modificadores que são os que modificam o verbo, há preposições adverbiais, conjunções adverbiais e até pronomes adverbiais. Essas inadequações não são exclusivas da gramática da Língua Portuguesa, mas o Italiano, o Francês, o Espanhol também encontram dificuldades para elaborar uma definição coerente do advérbio. Muitos autores têm se dedicado ao estudo da classe adverbial sob diferentes enfoques. Um deles, Ilari (1990) faz sua abordagem por meio de um estudo dos critérios de classificação, pois para ele, essa classe apresenta limites imprecisos referentes aos critérios tradicionais. Em relação ao critério morfológico, o advérbio tem um caráter de palavra invariável e de modificador tipicamente de não-substantivos (características de natureza morfossintática). Recorre-se também a critérios puramente morfológicos agrupando-se a essa classe todas as palavras derivadas com o sufixo –mente. Já o critério sintático é importante para definir em que ambientes as palavras da língua podem entrar sem prejuízo à gramaticalidade da sentença, por isso, o advérbio é considerado relacionado sintaticamente ao verbo, ao adjetivo ou a outro advérbio. Um outro critério é o nocional. Conforme a Gramática Tradicional, o substantivo designa os seres, ao passo que o adjetivo expressa características. Dessa maneira, as relações sintáticas do advérbio, correlacionados às semânticas, indicam uma modificação do sentido da palavra. Assim, o advérbio é definido por Ilari (1990:68) como modificador da “idéia expressa pelo verbo” ou denotador das “‘circunstâncias’ em que se dá o processo a que ele faz referência”. Conseqüentemente a essa definição, a NGB distingue o advérbio dos termos essenciais e integrantes, sendo ele um termo acessório na oração. A gramática mescla todos esses critérios na definição do advérbio. Ele é considerado, portanto, “uma palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e o próprio advérbio, acrescentando-lhe uma circunstância” (Carneiro, 1989:13). Sobre essa definição, Franchi (apud Carneiro, 1989) e Ilari (1990) concordam num ponto: além da mistura dos critérios, falta uma sistematização de sua hierarquia para deixar claro que distinção específica se deve à aplicação deste ou daquele critério. Os autores lembram que os estudiosos da língua não se dão conta da diversidade e heterogeneidade de critérios, deste modo, não atentam de que a utilização de um ou outro conduz a resultados classificatórios completamente diferentes. A classe do advérbio, além de ser objeto de estudo de lingüistas de língua portuguesa, tem sido objeto de lingüistas pertencentes às mais diversas teorias e idiomas, como inglês e espanhol. Os progressos obtidos por esses estudiosos, contudo, ainda não se refletiram na sistematização gramatical, porque as gramáticas continuam se repetindo tanto nas qualidades quanto nos defeitos, o que significa repetir as mesmas incoerências e inadequações. Um desses lingüistas, Quirk (apud Carneiro, 1989), fez um estudo muito revelador sobre os advérbios em –mente. Primeiramente, ele destaca os elementos que considera constituintes da frase: sujeito (S), verbo (V), objeto (O), complemento (C) e advérbio (A). O verbo é o elemento central, normalmente obrigatório, em geral seguido pelo sujeito. Já o advérbio é um elemento periférico, ou seja, na maioria das vezes opcional. O autor elenca as características que determinam a centralidade do verbo: “sua posição é normalmente medial mais do que inicial ou final; é normalmente obrigatório; em geral não pode ser movido para uma posição diferente na frase; determina ou não a ocorrência de objeto ou complemento na frase”. Faz o mesmo com advérbio que, ao contrário, é mais periférico: “ocorrem, mais freqüentemente, em posição final; são comumente opcionais; desfrutam, geralmente, de certa mobilidade; não determinam quais outros elementos ocorrem na frase” (Carneiro, 1989:71). Ao tentar realizar uma descrição coerente de elementos tão díspares, Quirk define o advérbio como um “spectrum of types”. Na ponta reúnem-se expressões de ocorrência obrigatória e na outra ponta encontram-se aqueles intitulados advérbios de frase. Ele considera os advérbios como elemento oracional por expressar categorias semânticas distintas; por desfrutar de uma certa liberdade posicional; por desempenhar diferentes posições sintáticas; por estabelecer coesão textual. Dessa forma, divide os advérbios em quatro grupos, classificados segundo o maior ou menor grau de integração que apresentam à frase em que ocorrem. São os adjuntos, subjuntos, conjuntos e disjuntos. Os adjuntos e os subjuntos caracterizam-se por determinar o verbo, ou o verbo e o objeto. Os conjuntos estabelecem ligações entre duas unidades lingüísticas. Já os disjuntos expressam uma avaliação do falante sobre a forma da comunicação ou sobre o seu sentido. Os disjuntos são advérbios que expressam uma avaliação do que está sendo dito tanto em relação à forma da comunicação, como ao seu conteúdo. Identificam-se com a autoridade do falante, ou sua observação pessoal sobre a frase. Segundo Quirk (apud Carneiro, 1989), o disjunto é um elemento adverbial cujo domínio se estende sobre a frase como um todo – portanto um advérbio sentencial – e que revela avaliação do falante sobre seu enunciado. Um advérbio para ser disjunto deve, básica e necessariamente, ser marcado por esses dois traços: a) ter a frase como escopo e b) traduzir julgamento do falante. Em (a) sintetizam-se os critérios sintático-semânticos definidos mediante a noção de escopo. Do ponto de vista semântico, escopo pode ser entendido como conjunto de conteúdos semânticos sobre os quais uma operação significativa atua. Do ponto de vista sintático, define-se a partir de sua abrangência, dos elementos afetados em uma dada operação sintática, segundo Carneiro (1989). O critério pragmático, também integrante do conceito do disjunto, manifesta-se em (b) na medida em que se percebe uma indicação das intenções, sentimentos e atitudes do locutor com relação ao seu enunciado. Como esses traços não são determinantes, há necessidade de elencar outros traços não intuitivos que, com maior segurança, possam definir com precisão tais elementos: esses advérbios não se encontram dentro do alcance da negação; podem aparecer inicialmente antes de orações negativas separadas por vírgula (na escrita), ou por pausas (na fala); não ocorrem em orações interrogativas; não podem ser o foco de uma oração clivada; podem aparecer em qualquer posição, mas a posição inicial – quase sempre seguida de pausa – é privilegiada. As posições medial e final são também possíveis, sempre que possível com a pausa mediando entre o advérbio e a oração; não impõem restrições selecionais aos verbos da oração, pois não estão diretamente vinculados a eles, mas sim a oração como um todo. Classificação e Análise Os advérbios em –mente que exercem a função de disjunto e integram a classe dos modalizadores sentenciais, podendo ser preliminarmente divididos em dois grandes grupos: disjuntos de forma e disjuntos de conteúdo. Segundo Carneiro (1989), os disjuntos de forma expressam o comentário do falante sobre o modo como a comunicação se realiza. Destacando não apenas o que é dito, mas sobretudo como é dito, esses elementos envolvem uma observação implícita sobre a linguagem em si mesma. Os advérbios que figuram o grupo do disjunto de conteúdo, por sua vez, manifestam uma opinião do falante sobre o conteúdo dos mesmos. Este grupo subdivide-se em três: apreciativos, asseverativos e concernência. Os disjuntos apreciativos, como o próprio nome diz, traduzem uma apreciação do enunciador sobre a mensagem que produz. Manifesta-se uma variação dos fatos, com matizes diversos da reação emocional que provocam, sugerindo enquadramentos distintos; os de concernência delimitam o âmbito a que concerne o fato enunciado, restringindo sua abrangência; já os asseverativos expressam uma observação do falante sobre o valor da verdade do que é dito. Variam de acordo com uma escala gradativa que vai desde a mais absoluta certeza do enunciador com relação aquilo que declara, até a recusa de responsabilidade do juízo emitido. Distribuem-se em distintos agrupamentos, segundo o grau de convicção que expressam. No primeiro subgrupo, temos os disjuntos que expressam convicção do falante em relação ao que afirma: logicamente, evidentemente, efetivamente, indubitavelmente, indiscutivelmente, incontestavelmente, inquestionavelmente, realmente, verdadeiramente. Os advérbios desse grupo admitem ser parafraseados por: (01) Tenho plena convicção de que [SENTENÇA] O texto escrito, ao contrário da fala, não é passageiro e fugaz, isso requer do enunciador certeza e convicção sobre seu conteúdo. É através da segurança que transmite em seu texto que o faz conquistar a cumplicidade do leitor. Os advérbios desse grupo atendem essa intenção. Percebemos através dos exemplos que o enunciador assume inteira responsabilidade sobre seu enunciado: (02) “... a assessoria do candidato divulgou uma nota dizendo que, se o candidato gastasse 600 000 em avião, ficaria cinco horas diárias no ar. ‘Isso, evidentemente, não aconteceu’, escreveu o assessor de imprensa de Serra.” Veja 15/5/02 – 50 (03) “Por longo tempo fomos céticos a respeito de nós mesmo e duvidamos se, realmente, o Messias político havia chegado” FSP 1º/2/03 – A10 Nesses dois exemplos fica claro que o enunciado produzido pelo falante não admite dúvida quanto ao seu valor de verdade. Em relação a posição, os representantes de subgrupo aparecem intercalados e separados por vírgulas. O advérbio “realmente” foi o que teve maior ocorrência, porém nessas ocorrências esse item lexical manifestava seu caráter enfatizador em construções onde desempenhava um papel distinto daquele que analisamos: (04) “O contrato foi renegociado no fim do anos passado, com dispensa de licitação e em bases realmente extraordinárias, que deram novo alento à saúde financeira da empresa de Fontenelle” Veja 20/3/02 – 40 (05) “Assim, empresários podem até ter contribuído com Murad, julgando que estavam auxiliando nos gastos de Roseana, mas isso só se materializaria no momento em que o dinheiro realmente fosse usado na campanha eleitoral – o que não aconteceu” Veja 20/3/02 – 47 (06) “Será que qualquer palavra é ofensiva demais, agora que as partes começaram a dizer o que realmente pensam no desentendimento entre EUA, por um lado, e França e Alemanha, por outro, em torno do Iraque?” FSP 24/1/03 – A13 Nesses exemplos, muda o escopo do advérbio, que deixa de funcionar como modificador sentencial, passando à enfatizador de constituintes de frase por ele precedidos: adjetivo (04), locução verbal (05) e verbo (06). A incidência sintática do advérbio se dá diretamente sobre tais termos. Como já dissemos, um marcador de pausa é, quase sempre, indispensável no caso do disjunto em posição intercalada (ver exemplos 02 e 03), notamos que nos exemplos dados os advérbios não vem marcados por vírgulas ou outra pausa qualquer, o que comprova nossa análise. No segundo subgrupo, são os disjuntos que expressam relativa convicção do falante em relação ao que enunciam: certamente, seguramente. (07) “Certamente nossos amigos aprenderam as lições do passado.” FSP 22/1/03 – A11 (08) “Certamente não aceitaremos ser o flanco esquerdo de um governo direitista.” FSP 30/1/03 – A14 Esses advérbios são empregados pelo locutor quando este, não absolutamente convicto da verdade da proposição, assume relativa responsabilidade sobre sua autoria. Arrisca uma avaliação a respeito do dito, evitando ser taxativo. Um texto escrito com esses modalizadores demonstra uma grande probabilidade de ser verdadeiro, sem contudo, ser uma afirmação incontestável. Todos os enunciados foram registrados em posição inicial. Importante destacar que nenhum exemplo estava marcado por pausas, mas como dissemos anteriormente, no momento da leitura, ou seja, na oralidade, essas pausa se faz presente. Essa expressão apareceu, também, incidindo sobre constituintes específicos, conferindo-lhes, cumulativamente, um tom enfatizador, como se observa em: (09) “... uma guerra dos EUA contra o Iraque, que certamente tentará envolver Israel.” FSP 29/1/03 – A13 Esse grupo de disjunto de expressão de convicção relativizada pode ser parafraseado por: (10) Eu acredito que [SENTENÇA] O advérbio “seguramente” não figurou em nenhum de nossos exemplos. Sobre ele, Barrenechea (1977:321) afirma que “seguramente no há aparecido nunca como ‘afirmación rotunda’ o como ‘modo de actuar com seguridad’”. Dessa forma, esse advérbio é utilizado em enunciados que se adianta a hipótese não confirmada de que algo ocorreu ou ocorrerá, com muita probabilidade, mas não com segurança total. Assim, sua paráfrase seria “é quase seguro que ...” e não “é seguro que ...”. Finalmente, no terceiro subgrupo, os disjuntos expressam dúvida e insegurança do falante sobre seu enunciado: provavelmente, possivelmente, aparentemente, presumidamente. Em nosso corpus, o advérbio “provavelmente” foi o que mais teve ocorrência, ao passo que “presumidamente” não teve nenhuma. (11) “Aparentemente, Murad não fez nada para impedir que Tostes integrasse o conselho da Sudam ...”. Veja 17/4/02 – 39 (12) “E, possivelmente, aceitariam um convite de Sharon para voltar ao governo”. FSP 26/1/03 – A13 (13) “A decisão final será tomada, provavelmente, por Powell e Bush”. FSP 31/1/03 – A14 Como podemos perceber nesses exemplos, as frases construídas com esses elementos traduzem uma recusa de responsabilidade do locutor em relação ao juízo emitido. Essas formas adverbiais orientam o discurso no sentido da hesitação e insegurança da afirmação nele contida. Dessa maneira, retiram do texto o tom dogmático do falante, pois este ao escolher algum desses advérbios para integrar sua mensagem, objetiva claramente atenuar a afirmativa. Das 15 orações desse subgrupo, somente em 3 os advérbios em –mente aparecem em posição inicial; o restante estão em posição medial, sempre marcados por pausa. Não há nenhum exemplo com o disjunto no final da oração. Os advérbios “possivelmente” e “provavelmente” sempre estiveram acompanhados de verbos no presente ou no futuro seja do presente ou do pretérito. Já com “aparentemente”, os verbos estavam no pretérito. A paráfrase adequada para os modalizadores sentenciais desse subgrupo pode ser: (14) Eu não tenho certeza mas é [ADJETIVO] que [SENTENÇA] Concluindo a análise dos disjuntos asseverativos, destacamos a prevalência exibida pelo terceiro subgrupo com 15 ocorrências, sobrepondo-se ao primeiro com 03 e ao segundo com 04 casos. A incidência desse advérbios é justificável na medida em que o locutor, às vezes, preocupado com a responsabilidade sobre aquilo que afirma, não se engaja totalmente com o conteúdo veiculado; cauteloso, constrói um asserção fraca, atenuada, procurando resguardar sua posição. Todos os textos do nosso corpus, tem a política como contexto o que dificulta para o locutor afirmar com total certeza os fatos que ocorrem no Brasil e no mundo. Considerações Finais Após a realização da análise, podemos inferir que as formulações de Quirk (apud Carneiro, 1989) alia os avanços da Lingüística à descrição gramatical das unidades da língua inglesa. Dessa forma, o tratamento dispensado aos elementos intitulados advérbios parece recobrir todas as possibilidades de ocorrência dessa classe, que estão distribuídos em quatro grandes grupos rotulados de adjuntos, subjuntos, conjuntos e disjuntos. De um modo geral, constatamos que as gramáticas normativas estabelecem que a ação do advérbio recai sobre o verbo, o adjetivo e o próprio advérbio, mas notamos pelos exemplos encontrados que não é bem assim, pois tal classe tem muito mais valor do que parece. Podemos verificar através dos disjuntos que esses elementos podem alterar significativamente toda uma frase. A natureza sentencial e a força modalizadora a eles subjacentes são atestadas em cada subgrupo que compõe essas expressões. Esperamos, futuramente, que as escolas e os autores de livros didáticos atentem para as pesquisas lingüísticas, que procuram explicar alguns fatos da Língua Portuguesa, ainda incoerentes em nossas gramáticas. Elementos como os disjuntos, que fazem parte do acervo lexical dos falantes, utilizados em sua atividade comunicativa, não podem ser ignorados pelos gramáticos e professores. Referências BIDERMAN, M. T. C. Teoria Lingüística: lingüística quantitativa e computacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978. CARNEIRO, I. C. Um recorte dos advérbios em –mente: contribuição para o estudo dos modalizadores sentencias no português. Tese de Mestrado. Assis, 1989. ILARI, R. Considerações sobre a posição dos advérbios. IN: CASTILHO, A. (org.). Gramática do português falado. Vol. I: A ordem. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP/FAPESP, 1990. PERINI, M. A. Para uma nova gramática do português. 5ªed. São Paulo: Ática, 1991.