O SR. LUIZ COUTO (PT – PB. Pronuncia o seguinte discurso) Senhor Presidente, Senhoras Deputadas e Senhores Deputados. Quero registrar, neste momento, um texto de minha autoria que durante esse período como parlamentar e defensor de direitos humanos, como Sacerdote e servo de Deus escrevi e, após anos de analise e correções, quero partilhar com todos aqueles que estão interessados nesta causa. O titulo do artigo é “Como Deus vê a dignidade da Pessoa Humana e como o homem a vê”? Podemos começar, afirmando que a dignidade da pessoa humana tem íntima relação com a complexidade de manifestações da personalidade humana. O que termina por gerar grandes polêmicas ao redor do seu conteúdo. Se isto ocorre no âmbito da filosofia em geral, o que dizer das controvérsias que se tornam fato nas discussões entre filósofos do direito e, depois disto, de qualquer operador jurídico que precise apresentar uma definição clara e precisa do que seja a dignidade da pessoa humana. Entretanto, digamos que a dignidade de pessoa é inseparável ao homem. Todo ser humano, independentemente de suas características anatômicas e psíquicas, de suas crenças e de sua conduta, é um valor dentro de si mesmo que, portanto, não pode ser utilizado nem instrumentalizado, transformado em objeto ou em meio para se atingir qualquer finalidade. A pessoa humana tem valor em si e por si, independente dos outros e de instituições ou leis que apenas visam captar esse valor para apreciá-lo ou balizá-lo. Todas as instituições humanas – particulares ou públicas – devem servir à dignidade da pessoa humana. O respeito à dignidade da pessoa humana e aos seus direitos básicos é requisito mínimo de toda convivência social. Todo intervencionismo que prejudique gravemente a liberdade transforma o sistema político em uma tirania. Como afirma o Cardeal EUSÉBIO OSCAR SCHEID: “É pela autotranscedência que se reconhece, ainda, que o homem está sempre aberto para novos objetivos e novas conquistas, porquanto é o artífice de sua própria vida. Ao nascer, não é um ser acabado. Logo, irá empreender a sua construção, no uso da liberdade e da responsabilidade. Não é um resultado pleno e adquirido desde o nascimento, mas é, antes, mina riquíssima de possibilidades, pela qual a pessoa é, em larga medida, uma conquista. Toda a dignidade da pessoa decorre do fato de ter sido criada, pensadamente, por Deus: “à sua imagem e semelhança” (Gn 27). Não é imagem inane, morta estática, mas viva e operante como consequência de Quem é a representação: “Crescei, multiplicai-vos, dominai, cultivai o Éden””. A pessoa humana é, assim, memória viva de Deus, evocando em sua perfeição a de Deus: liberdade, bondade, inteligência, verdade, beleza “emoções”, poder criativo. E quando tudo isso é atingido? Sinto em falar da realidade que presenciei por diversas audiências públicas, onde a dignidade que é um ponto fundamental para Deus, foi atingida através do Tráfico Humano e seus requintes de crueldades. O negócio do tráfico humano inclui serviços de engano através da pornografia adulta e até infantil com ou sem o abuso sexual de crianças por grupos organizados de pedófilos, bem como não-pedófilos estupradores, a falseta dos bordéis de massagem, vídeos e pornografia na Internet, tráfico e turismo de prostituição com encarceramento, vendas de recém nascidos e a morte para comercialização de órgãos. Esse crime desumaniza, bem como transforma as mulheres e homens em fetiches e comandites, em contraste com o sexo nãocomercial, onde agem com base na destruição e na comercialização das pessoas ou seus pacotes de mercadorias orgânicas, quando ao mesmo tempo infringe o principio do livre arbítrio. Existe sempre um desequilíbrio de poder no tráfico humano, onde o cliente tem o poderio social e econômico, bem como o poder de contratar pessoas enganadas, para fins sexuais ou trabalhistas, como uma marionete. Estupro, tortura, espancamento, abuso verbal, incesto, e assédio sexual ocorrem regularmente na caminha das pessoas traficadas e enganadas. A violência é a regra para as pessoas na ocasião. Ela é uma forma de violência que resulta em lucro econômico para aqueles que vendem homens, mulheres e crianças. A violência sistemática desses criminosos contra mulheres e homens traficados visa não só controlar, mas também deixar claro sua inutilidade e invisibilidade, e da mesma maneira a impotência da vítima, hipertrofiando seu papel social e constitucional. Pessoas traficadas são vítimas silenciosas desses criminosos chamadas de “morte da dignidade humana”. Além disso, a maioria das pessoas traficadas tem sua atividade controlada por um chefe (criminoso), que utiliza os seguintes métodos: cativeiro, violência física, exploração econômica, abuso sexual e verbal, negação verbal da violência física e abuso, isolamento social, intimidação e ameaças ou morte. De acordo com diversos terapeutas, psicólogos e psicanalistas “o Transtorno de estresse pós-traumático ou TEPT pode ocorrer quando pessoas experimentaram pressões traumáticas extremas envolvendo experiência pessoal direta de um fato que envolve ameaça da dignidade pessoal, ferimentos graves ou ameaçada de morte, ou mesmo testemunho de um evento que envolve morte, ferimentos ou ameaças à integridade física de outra pessoa”. A pessoa com transtorno de estresse pós-traumático “experimenta medo e impotência, oscilando entre o entorpecimento emocional e um estado de maior tensão psicológica e fisiológica, marcado por tais efeitos como tolerância reduzidos a dor, ansiedade, respostas de alarme exagerado, insônia, fadiga e acentuação de traços de personalidade, emocional e fisiológico”. Em catástrofes naturais, o transtorno de estresse pós-traumático é menos grave. Em estupro guerras, incesto, tortura, prostituição ou espancamento, ou seja, quando o estresse é planejado e implementado por seres humanos, “o transtorno de estresse póstraumático é passível de ser especialmente grave ou de longa duração”. Não podemos esquecer que, na maioria das vezes a prostituição, na maioria das vezes inclui esses estressores traumáticos. A violência sexual, gratuita ou remunerada, pode resultar em sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Podem acumular-se sobre uma vida inteira os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Existem relatos de uma correlação entre uma história de abuso sexual de infância e os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático em mulheres adultas. Três são os tipos de sintomas: “(1) rememoração traumática de eventos, ou flashbacks; (2) fuga de situações que são uma reminiscência dos eventos traumáticos e um entorpecimento protetor capacidade de resposta; e (3) hiperexcitação do sistema nervoso autônomo ocorrendo insônia ou irritabilidade nervosa”. O que foi exposto contribui para os sintomas de estresse póstraumático, uma vez que quase todas as pessoas traficadas têm histórias humildes e carentes de políticas públicas. O transtorno está relacionado com a gravidade da violência... e também com o número total de eventos traumáticos e a violação da dignidade humana. Assim, diante de um mundo que tanto defende a igualdade de direitos, como abrigar a odiosa discriminação entre seres humanos com e sem direitos à vida e sua liberdade ou combater os desastrosos casos do tráfico humano? Além disto, para nós, que cremos, sobressai o argumento definitivo: Todo ataque à dignidade humana “é injúria ao próprio Deus, cuja imagem é a criatura humana. Ele os criou a sua imagem e semelhança homem e mulher”. Era o que tinha a dizer, Sala das sessões, 19 de março de 2014.