A universidade brasileira, desde sua criação, tem servido como um instrumento de reprodução do sistema capitalista, tanto no sentido da manutenção das diferenciações de classe quanto no sentido da manutenção do modo de produção vigente. O ensino superior no Brasil segue uma pedagogia orientada pelas classes dominantes; reproduz o status quo da sociedade, forma profissionais comprometidos com a manutenção do sistema do capital, reproduz a ideologia dominante com o mascaramento dos conflitos e das contradições sociais, mercantiliza a produção do conhecimento e, diferentemente de algumas universidades dos nossos irmãos latino americano, ainda reproduz o privilégio do acesso, visto que a sua entrada não é de forma universal, e é necessário passar por filtros que privilegiam a meritocracia e o maior poder aquisitivo. É nesse cenário e nesse contexto da existência da universidade no Brasil que falar em extensão faz-se extremamente necessário. A sociedade brasileira mantém de pé as estruturas que possibilitam a formação de profissionais para atuarem em diversas áreas do conhecimento, no entanto, essa mesma sociedade, na sua extensa maioria, não utiliza-se dessas vagas e nem ao menos é retornada no sentido de beneficiar-se da produção acadêmica que é criada do lado de dentro dos “muros do saber.” A extensão, dentro da universidade inserida no sistema capitalista, tem a função de ser um exercício de comprometimento social e político dos estudantes com o povo brasileiro que sustenta nosso ensino público e de qualidade. A produção de conhecimento gestada na academia tem que chegar aos mais necessitados, e isso se faz - aceitando como provisório o tripé ensino-pesquisa-extensão- através desse último, quando os estudantes indagam-se sobre a relevância do conhecimento produzido por eles, e respondendo a que metodologias isso chegará a sociedade. Extensão compreende o processo de “estender” a universidade a locais que ela não acessa, e isso deve ser tomado não como uma “invasão cultural” no sentido freireano, porém como um processo de contribuir para que a universidade cumpra sua função social e servias como uma ferramenta para a emancipação e soberania do povo. Eventualmente essa atividade pode tomar contornos de prestação de serviço, o que não é ruim, visto que há necessitados e que faz-se uma obrigação daquela estudante que detém saberes técnicos contribuir com as necessidades do povo. O que não pode ocorrer é a extensão ser “somente” prestar serviço, ou seja, ser uma ação desprovida de reflexão e de produção de um saber que sirva para emancipar aquela comunidade ou grupo social. A extensão, nesse sentido, torna-se um elemento central e muitas vezes contra hegemônico dentro dessa sociedade conservadora que serve para a manutenção do sistema capitalista, paradoxalmente, essa mesma extensão que ganha centralidade nessa universidade tradicional, tende a desaparecer na “universidade popular” -que é a universidade socialmente referenciada nas demandas da classe trabalhadora e que produz pesquisa, ciência e tecnologia para melhor satisfazer as necessidades do povo brasileiro- uma vez que a universidade que almejamos e que conceituamos de “popular” será o povo, e terá suas raízes no povo, não necessitando “extender-se “até ele. Juliane Furno e Valéria Calvi