Resumo: Estudo descritivo e exploratório, realizado em um hospital escola em Londrina que objetivou identificar a freqüência dos principais diagnósticos de enfermagem de acordo com a North American Nursing Diagnoses Association em pacientes masculinos internados pela clínica ortopédica. A amostra foi composta de 60 pacientes, que foram submetidos à entrevista e exame físico. A média de idade foi de 40,6 anos e o número médio de diagnósticos de enfermagem por paciente de 10,6. O domínio atividade e repouso foi o mais freqüente (36%) seguido de segurança e proteção (28%). Os diagnósticos mais freqüentes foram: risco para infecção (76,6%), integridade da pele prejudicada (73,3%), dor aguda (65,0%), déficit de autocuidado para banho e higiene (58,3%), mobilidade física prejudicada (51,6%), conhecimento deficiente (50,0%), risco para disfunção neurovascular periférica (48,3%). Esta pesquisa favoreceu a identificação das necessidades de cuidados de doentes internados com problemas ortopédicos, contribuindo para o delineamento da relevância dos diferentes focos clínicos pertinentes a enfermagem ortopédica. Descritores: Processo de Enfermagem; Diagnósticos de Enfermagem; Ortopedia. Diagnósticos de enfermagem de pacientes internados pela clínica ortopédica em unidade médico-cirúrgica Resumen: Estudio descriptivo y exploratorio, realizado en un hospital escuela en Londrina, Brasil, que ha objetivado identificar la frecuencia de los principales diagnósticos de enfermería, de acuerdo con la North American Nursing Diagnses Association en pacientes masculinos internados por la clínica ortopédica. La muestra ha sido compuesta de 60 pacientes, los cuales han sido sometidos a entrevista y examen físico. La media de edad ha sido 40,6 años y el número medio de diagnósticos de enfermería por paciente, de 10,6. El dominio actividad y reposo ha sido el más frecuente (36%), seguido de seguridad y protección (28%). Los diagnósticos mas frecuentes ha sido: riesgo para infección (76,6%), integridad de la piel perjudicada (73,3%), dolor agudo (65,0%), déficit de autocuidado para baño e higiene (58,3%), movilidad física perjudicada (51,6%), conocimiento deficiente (50,0%), riesgo para disfunción neurovascular periférica (48,3%). Esta investigación ha favorecido la identificación de las necesidades de cuidados de enfermos internados con problemas ortopédicos, contribuyendo al delineamiento de la relevancia de los distintos focos clínicos pertinentes a la enfermería ortopédica. Descriptores: Processo de Enfermería; Diagnósticos de Enfermería; Ortopedia. Diagnósticos de enfermería de pacientes internados por la clínica ortopédica en unidad médico-quirúrgica Abstract: Descriptive and exploratory study, carried through in a school hospital in Londrina that was focused on how to identify the frequency of the main nursing diagnoses according to the North American Nursing Diagnoses Association in male patients interned in orthopedics clinic. The sample was composed from 60 patients, who had been submitted to an interview and physical examination. The average age was 40,6 years old and the average nursing diagnoses was 10,6 per patient. The activity domain and rest was the most frequent (36%) followed by security 1 and protection (28%). The most frequent nursing diagnoses were: risk for infection (76.6%), the harmed skin integrity (73,3%), acute pain (65%), auto care for bath and hygiene deficit (58,3%), physical mobility deficience (51.6%), deficient knowledge (50%), neurovascular peripheral dysfunction risk (48,3%). This research favored the identification of the necessities of cares of sick people interned with orthopedics problems, contributing to the delineation of the relevance of the different pertinent clinical focus concerning the orthopedics nursing. Descriptors: Nursing process; Nursing Diagnoses; Orthopedic. Nursing diagnoses in patients interned for the orthopedics clinic in a medical-surgical unit 2 1. INTRODUÇÃO No Brasil, a prática da enfermagem tem sido guiada, em grande parte das instituições, por normas e rotinas pré-estabelecidas e ainda poucos hospitais utilizam alguma metodologia mais elaborada na organização da assistência de Enfermagem(1). Na literatura brasileira, a expressão “diagnóstico de enfermagem” foi introduzido por Wanda de Aguiar Horta na década de 60, constituindo uma das etapas do processo de enfermagem proposto pela autora(2). O diagnóstico de enfermagem, como parte do trabalho do enfermeiro, constitui uma oportunidade ímpar no caminho da individualização da assistência, objetivando o cuidado integral do paciente(3). A identificação dos diagnósticos de enfermagem de um determinado grupo específico de pacientes possibilita ao enfermeiro o conhecimento das respostas humanas alteradas e contribui para que haja o desenvolvimento de intervenções de enfermagem direcionadas e individualizadas(4). Os diagnósticos de enfermagem proporcionam um método útil para a organização dos conhecimentos de enfermagem e caracteriza-se como um requisito para a profissão alcançar status e possuir um corpo de conhecimento próprio e desenvolver ações com autonomia. Sendo assim, a Enfermagem necessita de um sistema de classificação ou taxonomia, sendo os da North American Nursing Diagnoses Association (NANDA) atualmente os mais amplamente desenvolvidos(5). Utilizado como instrumento de trabalho pelos enfermeiros, o diagnóstico de enfermagem mostra-se como uma forma de expressar as necessidades de cuidados que são identificados nos pacientes assistidos por eles(6). Estudos epidemiológicos que expõe a freqüência dos diagnósticos de enfermagem em uma determinada população contribuem para organizar a base de conhecimentos de enfermagem 3 visto que determinam a assistência, prevendo cuidados de enfermagem necessários a está população específica e também orientam a seleção de medidas reparadoras nos serviços e nos programas de educação(7). Informações sobre a prevalência de diagnósticos em populações específicas permitem estimar a probabilidade destas pessoas apresentarem determinados diagnósticos, favorecendo a previsão de cuidados necessários e a carga de trabalho do enfermeiro(8). No Brasil já se encontram publicações de pesquisas de identificação de diagnósticos em diversas áreas da enfermagem, porém ainda são poucas. A continuidade de estudos deste tipo permitirá acumular resultados que, integrados, poderão apoiar decisões sobre os focos clínicos das diferentes áreas da enfermagem. Poucos trabalhos descrevem os diagnósticos de enfermagem em pacientes de unidades de atendimento ortopédico ou dos pacientes atendidos por esta clínica internados em unidades médico-cirúrgicas. Fazendo uma revisão de periódicos de enfermagem, pouco se vê sobre este assunto. A descrição dos diagnósticos de enfermagem de pacientes atendidos pela clínica ortopédica pode fornecer um perfil dos cuidados indicados a esses doentes, sobre o qual é possível organizar o conhecimento e a prática na área, além de permitir comparações específicas de doentes. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo identificar a freqüência dos principais diagnósticos de enfermagem, baseados na taxionomia II (onde cada domínio é composto por classes e cada classe é composta por conceitos diagnósticos) da North American Nursing Diagnoses Association, em pacientes com problemas ortopédicos. 4 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, realizado em um hospital universitário na cidade de Londrina, Paraná, em uma unidade de internação médico-cirúrgica masculina. A unidade continha 61 leitos para internação de homens com idade superior a 12 anos. Definiu-se como população de estudo pacientes internados pela clínica ortopédica com tempo de internação de 24 a 48 horas. Para coleta dos dados foram realizadas visitas a cada dois dias na unidade de internação e todos os que se enquadravam nos requisitos e aceitaram participar da pesquisa foram inclusos. A coleta dos dados ocorreu entre os meses de setembro e novembro, totalizando ao final 60 pacientes. Todos os pacientes incluídos na pesquisa foram submetidos à entrevista e exame físico. Foi utilizado para coleta dos dados um instrumento com dados de um exame físico e questões abertas, desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Diagnóstico de Enfermagem de Londrina, composto por enfermeiras docentes de centros de ensino superior da região, todas com experiência no tema proposto. Com a finalidade de evitar vieses de pesquisa provenientes de apenas uma interpretação e aumentar a confiabilidade dos diagnósticos formulados, os instrumentos com os dados coletados foram analisados pelos três pesquisadores. Antes do início da coleta de dados o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina e todos os pesquisados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5 3. RESULTADOS Os resultados encontrados referem-se a uma população de 60 pacientes com idade média de 40,6 anos, sendo 50% com idade entre 20 a 40 anos. A escolaridade da população foi predominantemente de indivíduos com ensino médio completo (35%) e com renda familiar de 3 salários mínimos, conforme mostra a Tabela 1, referente a dados sócio-demográficos. Tabela 1- Características sócio-demográficas dos pacientes internados pela clínica ortopédica em unidade médico-cirúrgica de um hospital escola. Londrina, 2007. Variáveis Idade Escolaridade Renda (salários) Cor Morador de Londrina Categorias 13-20 n 6 % 10,0 20-40 40-60 60 ou mais Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Nenhuma 2 3 4 5 6 Branco Negro Pardo Amarelo Sim Não 30 12 12 14 12 10 21 3 6 27 16 7 4 44 10 6 34 26 50,0 20,0 20,0 23,3 20,0 16,6 35,0 5,0 10,0 45,0 26,6 11,6 6,6 73,3 16,6 10,0 57,6 42,3 6 A classificação dos diagnósticos de enfermagem foi feita de acordo com a NANDA 20052006, que possui 172 diagnósticos, destes, 60 foram identificados. Esse total corresponde a 34,88% das características diagnósticas, indicando que as necessidades de cuidados dos pacientes da amostra foram bastante variadas, e que para cuidar destes pacientes, a enfermagem desenvolveu muitas áreas assistências que devem sempre ser baseadas em conhecimentos específicos. A natureza dos diagnósticos identificados permite inferir, baseado em dados empíricos qual o domínio dos conhecimentos necessários aos enfermeiros para planejar o cuidado dos pacientes assistidos. Os diagnósticos de enfermagem usados pertencem as categorias atual e risco, sendo que os atuais se referem aos já instalados nos clientes, enquanto que os riscos relacionam-se aos que possuem alto risco e/ou possibilidade de ocorrência iminente. Os diagnósticos foram interpretados a partir de características definidoras, fatores de risco e situações iminentes de risco de os clientes apresentarem, identificados pelo exame físico. Os diagnósticos que ocorreram com maior freqüência foram risco para infecção (76,6%), integridade da pele prejudicada (73,3%), dor aguda (65,0%), déficit de autocuidado para banho e higiene (58,3%), mobilidade física prejudicada (51,6%), conhecimento deficiente (50,0%), risco para disfunção neurovascular periférica (48,3%), déficit de autocuidado para vestir-se e arrumarse (45,0%) e ansiedade (43,3%). A média de diagnósticos por pacientes foi de 10,6, variando de 6 a 15. Esse resultado mostra que a diversidade de necessidades desta população é intensa e muitas vezes complexa. Um estudo(9) semelhante entre mulheres internadas em unidade médico-cirúrgica na mesma instituição no ano 2000 foi encontrado uma média de 5,6 diagnósticos por paciente. 7 O domínio atividade e repouso foi o mais freqüente na amostra, com 36% do total de diagnósticos encontrados, seguido de segurança e proteção (28%), enfrentamento/tolerância ao estresse (7,5%) e conforto (7%) (Tabela 2). Tabela 2 – Freqüência dos diagnósticos de enfermagem identificados segundo domínios da NANDA em homens internados pela clinica de ortopedia em unidade médico-cirúrgica. Londrina, 2007. Domínios %* Atividade e repouso 36,0 Segurança/proteção 28,0 Diagnósticos Déficit: banho/higiene Mobilidade física prejudicada Déficit: vertir-se/arrumar-se Padrão de sono perturbado Risco p/ síndrome do desuso Andar prejudicado Déficit: alimentação Déficit: higiene íntima Capacidade de transferência prejudicada Mobilidade no leito prejudicada Fadiga Perfusão tissular ineficaz Intolerância à atividade Recuperação cirúrgica retardada Padrão respiratório ineficaz Ventilação espontânea prejudicada Resposta disfuncional ao desmame respiratório n 35 31 27 23 22 19 17 15 14 9 5 5 3 2 2 1 1 %** 58,3 51,6 45,0 38,3 36,6 31,6 28,3 25,0 23,3 15,0 8,3 8,3 5,0 3,3 3,3 1,6 1,6 Risco p/ infecção Integridade da pele prejudicada Risco p/ disfunção neurovascular periférica Risco p/ quedas Risco p/ integridade da pele Risco p/ lesão perioperatória de posicionamento Risco p/ trauma Hipertermia Desobstrução ineficaz de vias aéreas Proteção ineficaz 46 44 29 22 16 10 76,6 73,3 48,3 36,6 26,6 16,6 7 3 1 1 11,6 5,0 1,6 1,6 8 Enfrentamento/tolerâ ncia ao estresse Conforto Percepção/cognição Eliminação Nutrição Promoção da Saúde 7,5 7,0 Ansiedade Risco p/ síndrome do estresse por mudança Medo Adaptação prejudicada Tristeza crônica Síndrome do estresse por mudança 26 11 5 3 2 2 43,3 18,3 8,3 5,0 3,3 3,3 Dor aguda Dor crônica Isolamento social 39 6 3 65,0 10,0 5,0 30 8 50,0 13,3 3 2 5,0 3,3 Constipação Risco p/ constipação Incontinência urinária total Retenção urinária Incontinência urinária funcional 17 8 2 1 1 28,3 13,3 3,3 1,6 1,6 Nutrição desequilibrada: menos do que... Dentição prejudicada Volume de líquidos deficiente Deglutição prejudicada 11 4 2 1 18,3 6,6 3,3 1,6 Controle eficaz de regime terapêutico Controle comunitário ineficaz de regime terapêutico Controle ineficaz de regime terapêutico Controle familiar ineficaz de regime terapêutico Manutenção ineficaz da saúde 13 2 21,6 3,3 1 1 1,6 1,6 1 1,6 Conhecimento deficiente Percepção sensorial perturbada (auditiva: 5; visual: 3) 6,75 Memória prejudicada Confusão aguda 4,5 3,0 3,0 9 Relacionamento de papel Autopercepção Sexualidade Total 2,0 Tensão devido o papel de cuidador Processos familiares interrompidos Baixa auto-estima crônica Risco p/ solidão 1,25 Desesperança 1,0 Disfunção sexual 100,0 11 1 18,3 1,6 4 3 1 6,6 5,0 1,6 5 640 8,3 * Total de diagnósticos no domínio sobre o total geral de diagnósticos (640) ** Proporção sobre o número total de pacientes (60) 4. DISCUSSÃO Apesar da grande variedade de diagnósticos levantados, outros mais poderiam ter sido formulados, se o estudo considerasse todo o processo de internação do paciente. O fortalecimento da interação entre enfermeiro e paciente após o primeiro contato permite a detecção de outros diagnósticos e, além disso, as novas intervenções terapêuticas e o progresso no tratamento vão gerando ou excluindo novos cuidados no decorrer do período de internação. O diagnóstico Risco para infecção é definido como “estado no qual o indivíduo corre risco aumentado para ser invadido por organismos patogênicos”(10), sendo este o mais encontrado nesta amostra (76,6%). Em estudo com 50 pacientes submetidos à cirurgia traumato-ortopédica identificou risco de infecção em 60% deles(3). Outro estudo com 28 pacientes em pós-operatório, 26 apresentaram o diagnóstico para risco de infecção, causada pela solução de continuidade na pele e pelo trauma tissular(11). Na nossa amostra 75% dos pacientes havia se submetido à cirurgia. Risco para infecção é uma característica comum que acompanha este tipo de cliente, principalmente quando vítima de trauma músculo-esquelético com exposição óssea. Em tais situações é provável que o tempo de internamento seja ampliado com possibilidade de ocorrência 10 de mais de um procedimento cirúrgico, evidenciando a permanência do cliente na situação de risco(3). Sem uma adequada técnica para inserção do pino utilizado em osteossíntese, poderá ocorrer infecção, chegando a 30% dos pacientes. Tal complicação varia desde uma pequena inflamação remediada pelo tratamento tópico da ferida, passando por uma infecção superficial ou até mesmo remoção do pino devido osteomielite, exigindo seqüestrectomia(12). Além da solução de continuidade causada pela cirurgia, as freqüentes escoriações, o implante de placas metálicas, parafusos, fios e hastes usadas nas osteossínteses, tração transesquelética e fixadores externos, drenos de sucção e sondagem vesical de demora também aumentam a probabilidade do surgimento de processo infeccioso. Tais fatores de risco para infecção foram encontrados neste estudo na seguinte proporção: sondagem vesical de demora e fixador externo, ambos com 11,6%, tração transesquelética com 8,3% e dreno de sucção com 6,6%. Inserido também no domínio segurança e proteção, a integridade da pele prejudicada destaca-se como o segundo diagnóstico mais presente nesta categoria (73,3%). Grande parte destes pacientes recebeu este diagnóstico, pois foram submetidos a procedimento cirúrgico (75,0%), o restante apresentava escoriações ou lesões cutâneas mais profundas (causadas no momento de acidentes ou quedas) e demais procedimentos invasivos ois estes pacientes ao se submeteram a intervenções cirúrgicas necessitam realizar procedimentos invasivos na perspectiva de viabilizar acesso venoso para o ato anestésico, reposição hídrica e administração de medicamentos. Dos 60 pacientes 39 (65,0%) apresentavam diagnostico de dor aguda. Em eftudo(3) com 50 pacientes submetidos à cirurgia ortopédica, toda a população recebeu o diagnóstico. A menor 11 proporção encontrada neste estudo pode ser explicado, em parte, pelo fato da amostra do atual estudo não incluir somente pacientes em pós-operatório, estes representando 55% do total. Além da incisão cirúrgica, a presença de dor pode estar relacionada a estímulos de terminações nervosas por substâncias químicas utilizadas na cirurgia, isquemias causadas por interferência no suprimento sangüíneo para os tecidos, pressão, espasmo muscular ou edema(11), provocados também pelos traumas causadores das lesões, como acidentes automobilísticos, quedas e acidentes de trabalho. O número significativo de pacientes incluídos nesta categoria diagnóstica nos mostra que a dor deve ser foco freqüente da atenção do enfermeiro, e este deve empenhar-se na realização de programas de capacitação da equipe de enfermagem que visem o esclarecimento de formas de identificação e eliminação da dor, melhorando a qualidade da assistência prestada a esta clientela. Observa-se na Tabela 2 que o diagnóstico mobilidade física prejudicada, definido como o estado em que o indivíduo experimenta uma “limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo ou de uma ou mais extremidades”(10), atingiu 51,6% dos pacientes, número menor do que encontrado em outro estudo(3) com pacientes em pós-operatório, onde todos tinham este diagnóstico. Apesar dos pacientes estarem conscientes e muitas vezes não terem uma limitação aos movimentos impostos por sua capacidade física, em alguns casos o próprio tratamento destes pacientes exige o repouso e a limitação de certos movimentos. Relacionados a dificuldade decorrente da mobilidade física prejudicada, encontramos também os diagnósticos de déficits de autocuidado: banho/higiene (58,3%), vertir-se/arrumar-se (45,0%), alimentação (28,3%) e higiene íntima (25,0%). 12 Além da mobilidade física prejudicada, outros diagnósticos relacionados à mobilidade também foram detectados, como: andar prejudicado (31,6%), capacidade de transferência prejudicada (23,3%) e mobilidade no leito prejudicada (15,0%). Apesar de não estar entre os diagnósticos mais presentes nesta população, a constipação (29,3%) representa um risco para estes pacientes (risco para constipação: 13,3%) devido à imobilidade e o uso freqüente de analgésico opióides. A mobilidade física prejudicada é um diagnóstico de enfermagem presente na maioria destes pacientes (Tabela 2). A mobilidade é responsável pela manutenção do tônus e resistência muscular, inclusive abdominal, portanto a restrição dos movimentos pode trazer alguns efeitos negativos, como a constipação. A mudança de ambiente e a falta de privacidade também interferem negativamente no funcionamento intestinal(13). Conhecimento deficiente também foi um diagnóstico presente em número considerável dos pacientes (50%), sendo caracterizado pela verbalização do problema, através do não conhecimento sobre a condução do caso clínico pela equipe de saúde, resultados de exames realizados e medicamentos utilizados no tratamento. Através deste número fica evidente a necessidade de maiores esforços pelos profissionais da saúde que atendem a estes pacientes para garantir maior esclarecimento sobre seu tratamento. Como esperado risco para disfunção neurovascular periférica foi um dos mais presentes na amostra (48,3%). Um fator importante para este diagnóstico, além do procedimento cirúrgico, é o prolongado tempo em que o paciente permanece imóvel podendo levar a uma trombose venosa profunda, principalmente em pacientes que possuem trajetos varicosos. Além disso a presença de edema, decorrente também da imobilização e trauma local, diminui a circulação tecidual. 13 Padrão de sono perturbado é definido como “um distúrbio com tempo limitado na quantidade ou qualidade do sono”(10). Na população estudada 38,3% (23) pacientes receberam este diagnóstico. Como características definidoras todos fizeram queixas verbais de não se sentiram bem descansados pela manhã e 20 relataram três ou mais despertares durante a noite. Apesar de segundo a NANDA(10), a dor não ser um fator relacionado ao diagnóstico padrão de sono perturbado, ela foi citada por 86,6% (19) dos pacientes com este diagnóstico. 5. CONCLUSÃO O desenvolvimento desta pesquisa favoreceu a identificação das necessidades de cuidados de doentes internados com problemas ortopédicos, contribuindo para o delineamento da relevância dos diferentes focos clínicos pertinentes a enfermagem ortopédica. Os diagnósticos de enfermagem apresentados por poucos pacientes confirmam que os enfermeiros de unidades médico-cirúrgicas gerais precisam estar preparados para uma maior gama de necessidade de cuidados, identificando condições pouco freqüentes, mas que tornam possível a individualização do cuidado. No tocante a esta população específica, existem dificuldades para realizar o cuidado por uma série de condições: uso de trações cutâneas e transesqueléticas, presença de aparelho gessado, fixadores externos, drenos, necessidade de manutenção de membros elevados, necessários para tratamento eficaz. Como era esperado, os diagnósticos do domínio atividade e repouso foram os mais presentes, devido à dificuldade de locomoção (mobilidade física prejudicada, mobilidade no leito prejudicada, capacidade de transferência prejudicada, andar prejudicado) presente nestes pacientes e de suas repercussões (déficits de autocuidado). Estas informações devem ser de conhecimento do enfermeiro no momento de avaliação de pacientes desta clínica. 14 O grande risco de infecção (76,6%) e integridade da pele prejudicada (73,3%) associados devem ser motivo de atenção especial para a equipe de enfermagem. A avaliação periódica de lesões, incisões cirúrgicas, inserção de drenos e trações, seguida da prescrição adequada de curativos de acordo com a evolução do paciente deve ser prioridade para o enfermeiro. Na busca de melhor atender esta clientela o enfermeiro deve utilizar-se dos diagnósticos de enfermagem, com o objetivo de melhorar cada vez mais a qualidade do seu trabalho, fundamentado em conhecimentos científicos, uma vez que os diagnósticos de enfermagem permitem a identificação das necessidades de cuidados sobre os quais é preciso intervir. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Darli MCB, Rossi LA, Garcia TR. Diagnósticos de enfermagem em uma unidade de queimados: análise estrutural dos enunciados. Revista Brasileira de Enfermagem. 1996; 49 (1): 716. 2. Horta VA. Processo de Enfermagem. 8ª ed. São Paulo: EPU, 1979. 3. Freitas MC, Guedes MVC, Silva LF. Diagnósticos de Enfermagem em Pós-operatórios de cirurgias traumato-ortopédicas. Revista de Enfermagem da UERJ. 1997; 5 (2):439-448. 4. Galdeano LE, Rossi LA, Santos CB, Dantas RAS. Diagnósticos de enfermagem no perioperatório de cirurgia cardíaca. Rev. Esc. Enferm. USP. 2006; 40 (1): 26-33. 5. Carpenito LJ. 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