ORGANIZAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS

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ORGANIZAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS
ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS EM SERGIPE1
ORGANIZATION AND SPATIALIZATION OF SOLIDARY
ECONOMIC ENTRERPRISES IN SERGIPE
Profa. Dra. Geisa Daise Gumiero Cleps
Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia
Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFU
NEAT-LAGEA - UFU
[email protected]
Prof. Dr. Eraldo da Silva Ramos Filho
Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFS
LABERRUR - UFS
[email protected]
RESUMO
A exclusão econômica, social e política de uma parcela significativa da população mundial e, por
conseguinte, brasileira, tem incitado vários estudos, debates e a criação de possíveis alternativas para
minimizar este quadro. Neste contexto, apresenta-se a Economia Solidária a qual se encontra pautada
no trabalho coletivo, na autogestão, na solidariedade e no desenvolvimento econômico. A implantação
de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) permite articular os elos da cadeia produtiva em
redes e agentes que se apoiam e se completam, ampliando as oportunidades de trabalho e de renda,
promovendo o desenvolvimento local, o fortalecimento de redes da cadeia produtiva, à
sustentabilidade, à justiça social, econômica, cultura e ambiental e à formação de grupos populares.
Este artigo analisa a organização e espacialização da Economia Solidária (ES) em Sergipe, com ênfase
nos EES, a partir de dados obtidos no Cadastro Nacional de Economia Solidária (CADSOL), na
Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e em pesquisas quantitativas.
Palavras chave: Economia Solidária (ES). Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Sergipe.
ABSTRACT
The economic, social and political exclusion of a significant part of the worldwide population and,
consequently, Brazilian, has been inciting several studies, debates and the creation of possible
alternatives to minimize this picture. In this perspective, the Solidarity Economy is presented which is
guided by collective work, self management, solidarity and economic development. The
implementation of Solidarity Economy Enterprises (EES) allows an articulation of the links the
productive chains in networks and agents which support and complement themselves, expanding job
and income opportunities, promoting the local development, the strengthening of networks in the
productive chain, the sustainability, the social, economic, culture and environmental justice and the
formation of popular groups. This article analyzes the organization and spatialization of the Solidarity
Economy (ES) in Sergipe, with emphasis in the EES, from data obtained through the National Register
1
Este artigo faz parte dos resultados obtidos na pesquisa de Pós-doutorado realizado na Universidade Federal de
Sergipe - UFS, programa PNPD/CAPES, sob a supervisão do Prof. Dr. Eraldo da Silva Ramos Filho.
of Solidarity Economy (CADSOL), in the National Secretariat of Solidarity Economy (SENAES) and
in quantitative researches.
Keywords: Solidarity Economy (ES). Solidarity Economy Enterprises (EES). Sergipe.
INTRODUÇÃO
Em um sistema cada vez mais competitivo, num cenário de internacionalização da
economia, grupos sociais em diferentes nações procuram minimizar os problemas advindos
deste processo, da exclusão social e do acesso ao mercado de trabalho. Na busca por soluções
para o problema do desemprego e da miséria, uma alternativa encontrada foi denominada de
economia solidária, economia social, socioeconomia popular e solidária, humanoeconomia,
economia de proximidade, economia de comunhão, entre outras, que tem emergido como uma
forma de sobrevivência e de melhoria na qualidade de vida de pessoas em diferentes partes do
mundo.
Entende-se por Economia Solidária, a prática baseada no trabalho coletivo, através de
associações, cooperativas ou grupos informais, que sejam suprafamiliares; na solidariedade,
que os resultados do trabalho sejam divididos de maneira justa entre os membros do grupo,
tendo como princípio o fato de que economia solidária não trabalha tendo como objetivo
principal o lucro, e sim o excedente ou a sobra; na autogestão, os próprios membros do grupo
devem gerir o empreendimento e, para que isso ocorra, deve-se eleger um líder para
coordenar o trabalho de todo o grupo; no desenvolvimento de uma atividade econômica, pois
como o empreendimento, na maioria dos casos, é a única fonte de renda dos trabalhadores,
deve ter como objetivo garantir que as necessidades básicas do cidadão sejam atendidas,
porém existem empreendimentos que não resultam em fonte de renda para os trabalhadores,
embora garantam sua sobrevivência, são empreendimentos voltados para o autoconsumo.
De acordo com Singer (2003, p. 116),
O conceito (economia solidária) se refere a organizações de produtores,
consumidores, poupadores, etc., que se distinguem por duas especificidades:
(a) estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da
autogestão e (b) praticam a solidariedade para com a população trabalhadora
em geral, com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos.
Ainda em processo de consolidação, as definições são apresentadas por diferentes
autores de várias áreas da ciência. Diante do exposto, entendemos a Economia Solidária como
um processo que tem como base os princípios de cooperação e de trabalho coletivo,
diferenciando-se do sistema capitalista vigente.
Consiste, portanto, em uma das alternativas encontradas para minimizar a crise do
trabalho e da fome no mundo capitalista. Ressalta-se que a economia solidária não se constitui
como um modelo revolucionário para mudar ou subordinar o sistema atual, mas um projeto
que tem como objetivo estruturar uma alternativa econômica, social, política e cultural. As
privatizações, os processos de reestruturação públicos e privados, o aumento significativo de
falência de empresas e, inclusive, a internacionalização da economia, principalmente em se
tratando dos países em desenvolvimento, são alguns fatores contemporâneos que servem
como propulsores e estímulo à procura por estruturas associativas e de autogestão.
Como alternativa a esses processos torna-se visível, nos mais diversos setores, a
presença de organizações geridas pelos próprios trabalhadores, a exemplo das cooperativas de
crédito, de habitação, de educação, de seguros, de consumo e vários outros tipos. Almejando,
através dessas alternativas, além do emprego e renda, relações trabalhistas que enfoquem a
qualidade do emprego e de vida, onde trabalhadores possam se organizar investindo em seu
próprio negócio ou atuando como autônomos e profissionais liberais.
Gaiger (1999, p.2), salienta que na economia contemporânea,
Contrariando as expectativas de uma integração e uniformização progressiva
do tecido social, em decorrência de um desenvolvimento econômico que
viria cedo ou tarde, processos de fragmentação e exclusão social se
impuseram, nas últimas duas décadas, com virulência insuspeita e efeitos
dramáticos. Enormes contingentes, alijados do mercado de trabalho e
abandonados pelas políticas sociais em recuo, viram-se compelidos a criar
suas próprias oportunidades de trabalho e sobrevivência. Expandiu-se o setor
informal, multiplicaram-se os pequenos negócios, resgataram-se, por outro
lado, práticas de entre-ajuda e cresceu o interesse pela idéia de dar as mãos e
fazer, da união de forças, o caminho de uma nova alternativa.
Nessa perspectiva, a economia solidária representa também uma opção que o
indivíduo faz por um modo de vida, um projeto para a sociedade com valores novos e
distintos dos até então apresentados. Diz respeito às questões relativas ao mercado de trabalho
e uma nova visão social.
No Brasil, o número de trabalhadores absorvidos pelo mercado de trabalho é
proporcionalmente inferior ao número dos que compõem a oferta de força de trabalho, basta
observar a miséria crescente em nossas cidades. Conforme salientou Chesnais (1996, p.15), “é
na produção que se cria riqueza, a partir da combinação social de formas de trabalho humano,
de diferentes qualificações”. Porém, é da própria criação de riquezas para poucos que se tem
criado a miséria de muitos.
A crise do emprego é uma das formas para se analisar essa problemática. A realidade
política, econômica e social está se corroendo em função das atividades capitalistas, gerando
uma crise em todo o mundo, pois, a amplitude desta atinge as economias nacionais pelo
simples fato de estas estarem cada vez mais interligadas.
A globalização, considerada como um dos principais propulsores das mudanças
ocorridas na economia contemporânea, “é a última batalha do capitalismo, por uma
monopolização dos mercados e da centralização dos recursos” (NÚÑEZ, 1996, p.5). Esse
processo se dá à custa da aceleração de exploração dos recursos naturais e humanos,
principalmente através da produção de taxa de mais valia relativa. No entanto, para muitos
este é um processo que faz parte do ciclo econômico, mas se esquecem de que o ciclo traz, em
seu final, a depredação da natureza e do próprio ser humano.
A economia popular e solidária pode ser traduzida como uma opção por um modo de
vida, refazendo um projeto social com valores novos e distintos dos até então apresentados.
Pode ser considerada como uma consequência de dois principais fatores da economia
contemporânea. Primeiro o da modernização da produção e do mercado e, o segundo, o das
alterações na estrutura do Estado. A modernização do setor produtivo, causada pelas
mudanças tecnológicas e pelos sistemas de gestão, resulta no esgotamento da absorção da
força de trabalho.
O Estado, por sua vez, tem apresentado queda na criação e na manutenção dos postos
de trabalho, decorrente de sua reestruturação e das sucessivas crises fiscais e administrativas.
Esses fatores criam uma crescente massa marginalizada, resultando em atividades e iniciativas
que nascem nos setores populares, em busca de garantias à subsistência em níveis básicos
para uma vida com qualidade.
Assim, a economia solidária pode ser conceituada como sendo uma,
[...] formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para conta de
conjuntos significativos de experiências econômicas – no campo da
produção, comércio, financiamento de serviços etc. – que compartilham
alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo,
cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade
especial, diferente das outras realidades econômicas. (RAZETO, 1993, p.40)
À procura por caminhos solidários, surgem novas alternativas apoiadas por várias
instituições (internacionalmente através do Banco Mundial e de organizações do Terceiro
Setor; no Brasil através do SEBRAE e do Programa Comunidade Solidária do Governo FHC
e, no governo Lula com a criação da Secretaria Nacional da Economia Popular - SENAES,
em 2005), que, por exemplo, disponibilizaram recursos através dos mais variados fundos ou
bancos de microcrédito popular.
Pode-se inferir que Economia Popular Solidária (EPS) surge a partir de iniciativas de
base comunitária, em geral construída por organizações vinculadas aos setores populares.
Trata-se de atividades produtivas que se inserem no mercado e que constituem redes de
comercialização próprias (o Mercado Solidário). O campo da EPS, baseado na pequena
empresa comunitária, na agricultura familiar, no trabalho doméstico, autônomo, nas
cooperativas e empresas autogestionárias, aos poucos supera o desafio do mercado e viabiliza
(e se visibiliza) a competitividade no mesmo, constituindo-se como uma alternativa mesmo
no interior das relações mercantis.
Trata-se de um circuito econômico diferenciado do mercantil-capitalista e do estatal
no qual os pobres constroem suas próprias alternativas comunitárias de provisão material e da
sua existência através de relações de solidariedade. Como exemplos destas pequenas unidades
produtivas destacam-se: as cooperativas habitacionais e aos mutirões na construção e conserto
de casas; às formas associativas de produção de alimentos, vestuário, remédios, utensílios,
artesanato, objetos de uso pessoal e pequenos serviços; bem como à agricultura familiar.
Entretanto, não se pode caracterizar a EPS pela escala modesta ou pela defasagem tecnológica
dos seus empreendimentos.
A partir da década de 1990 houve um importante crescimento das ações institucionais
de apoio às iniciativas populares e solidárias, através, principalmente, de múltiplas políticas
de geração de emprego e renda. No entanto, na atualidade, apesar de todos os esforços, um
dos maiores desafios para os empreendimentos solidários é adquirir um selo comum que
identifique os produtos e serviços por eles gerados. Necessitam ainda de acesso ao crédito, à
mídia, ao design, ao controle de qualidade, de embalagens, de código de barras, de
distribuição e de comercialização (desafio mercadológico), bem como os decorrentes de
barreiras legais, do desenvolvimento tecnológico, da carência de entidades de apoio e de
padrões gerenciais adequados.
Nos últimos anos do século XX, assistiu-se a uma reconfiguração das relações entre o
local, o nacional e o global. Contrastando com o modelo de desenvolvimento neoliberal
hegemônico fundado num estilo excludente e na competitividade entre as cidades e as regiões,
a EPS tem sido induzida e potencializada pela ação política dos cidadãos, pelo crescimento do
poder local, por um processo de construção cidadã do espaço público através da democracia
direta e participativa. Na medida em que inúmeros governos locais/estaduais vão dando
prioridade a EPS, ela é alavancada para novos patamares, saindo da sua escala experimental.
Para a elaboração deste artigo foram utilizados, de forma combinada, dois tipos de
pesquisa científica: descritiva (e quantitativa) e qualitativa (e exploratória). Após leitura e
análise de várias contribuições teóricas sobre o tema, foram realizas pesquisas em sites
oficiais do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA); do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); da
Secretária Nacional de Economia Solidária (SENAES); do Sistema de Informações em
Economia Solidária (SIES); do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES); do Cadastro
Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários; de redes de Comercialização
Solidária; visitas técnicas em EES no estado de Sergipe, e outros.
A ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
O I Mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários brasileiros foi
realizado pela SENAES, em 2005. Foram identificados 14.954 empreendimentos. De acordo
com os dados do SIES (2005)2, havia uma concentração de empreendimentos solidários na
região Nordeste onde foram mapeados 6.549 empreendimentos (44%), seguido do Sul do
Brasil com 2.592 (17%), Sudeste com 2.144 (14%), Norte com 1.884 (13%) e Centro Oeste
com 1.785 empreendimentos (12%), conforme tabela 1.
No que concerne às Unidades Federativas, o Rio Grande do Sul, devido à
característica herdada do processo de colonização, é o estado brasileiro que possuí o maior
número de EES (1.634), seguido pelos estados nordestinos do Ceará (1.249), Bahia (1.096),
Piauí (1.006) e Pernambuco (1.004), onde as condições socioeconômicas acabam por
fortalecer as redes de solidariedade, cooperativas e associações.
Os EES registrados no mapeamento estão presentes em 2.274 municípios brasileiros,
totalizando 41% destes. Na região Norte 56% dos municípios possuem EES, seguida pelo
Centro Oeste com 53%, Nordeste com 48%, Sul com 43% e Sudeste com 23%.
No Brasil, as principais formas de comercialização, seguindo os moldes do comércio
solidário, são as feiras locais ou itinerantes, as cooperativas de compra, as vendas
institucionais, as trocas de mercadorias (na forma de escambo), as lojas de produtores e as
lojas e pontos de venda solidários.
De acordo com a SENAES (2008), o número de pessoas envolvidas com a economia
solidária no Brasil ultrapassava a um milhão e os recursos provenientes da mesma eram em
torno de oito bilhões de reais, em, aproximadamente, 15 a 20 mil EES.
2
Salienta-se que no I Mapeamento de Empreendimentos de Economia Solidária, desenvolvido pela Secretária
Nacional de Economia Solidária (SENAES) em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), não
foram mapeados todos os EES. Da mesma forma, os dados mais específicos do II Mapeamento ainda não foram
disponibilizados, o que justifica nossa análise a partir dos dados de 2005.
Nos EES existentes no país, várias atividades são desempenhadas. Dentre estas
destacam-se: o artesanato, os produtos agrícolas, a reciclagem, a produção de alimentos e
outros. Os empreendimentos podem ser tanto para autoconsumo quanto para a
comercialização.
Tabela 1: Brasil - Números de EES, por Regiões e Unidades Federativas, 2005
UF
No. de EES
%EES
No. de
Municípios
RO
AC
AM
RR
PA
AP
TO
NORTE
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
NORDESTE
MG
ES
RJ
SP
SUDESTE
PR
SC
RS
SUL
MS
MT
GO
DF
CENTRO OESTE
TOTAL
240
403
304
73
361
103
400
1.884
567
1.006
1.249
549
446
1.004
205
367
1.096
6.549
521
259
723
641
2.144
527
431
1.634
2.592
234
543
667
341
1.785
14.954
1,6%
2,7%
2,0%
0,5%
2,4%
0,7%
2,7%
13%
3,8%
7,1%
8,4%
3,7%
3,0%
6,7%
1,4%
2,5%
7,3%
44%
3,5%
1,7%
4,8%
4,3%
14%
3,5%
2,9%
10,9%
17%
1,6%
3,6%
4,5%
2,3%
12%
100%
40
20
32
14
51
13
84
254
73
83
134
77
101
129
48
63
153
861
101
59
82
147
389
109
133
270
512
25
91
127
12
258
2.274
%
Municípios/
Total de
Municípios
75%
87%
51%
88%
35%
76%
60%
56%
33%
37%
72%
46%
45%
69%
47%
83%
37%
48%
12%
75%
88%
23%
23%
27%
45%
54%
43%
32%
65%
61%
83%
53%
41%
Fonte: Atlas da Economia Solidária no Brasil, 2005.
Os produtos comercializados solidariamente são, na maioria, agropecuários,
confecções e artesanato, comercializados em lojas exclusivas de produtos do comércio
solidário e feiras livres, outros nos próprios empreendimentos. Há, também, lojas
convencionais que aderem ao comércio justo e comercializam alguns produtos provenientes
da ES. Como exemplo podem ser mencionadas lojas da rede C&A, e da rede de
supermercados Pão de Açúcar.
O comércio solidário faz-se necessário, principalmente, para algumas comunidades
mais carentes, pois através da sua prática as famílias garantem renda sem precisar da ajuda de
programas de transferência de renda. Numa visão mais crítica, consiste numa forma de
sujeição capitalista do trabalho não-capitalista (familiar, solidário, coletivo, comunitário ou
comunal) aos interesses de acumulação das corporações. O que, contrapõe os esforços de
constituição de uma plataforma da soberania alimentar que pressupõe trocas internacionais
efetivamente solidárias entre sujeitos e nações que se posicionam na mesma condição de
complementariedade econômica para uma aliança de classe trabalhadora.
DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA EM SERGIPE
De acordo com o Atlas da Economia Solidária, a região Nordeste possuía, em 2005,
6.549 EES, em 861 municípios (44% do total). O estado de Sergipe contava com 365 EES,
em 63 municípios (83% dos municípios do estado), totalizando 2,5% dos empreendimentos da
região, conforme demonstrado na tabela 1.
Mapa 1: Sergipe, Número de EES, por Mesorregiões, 2005
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
No site do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FIBES), no sistema Farejador,
foram constatados 425 EES, enquanto que no Cadastro Nacional de Empreendimentos
Solidários (CADSOL), de 2010, foram relacionados um total de 177 EES, mapa 1.
A Mesorregião Leste Sergipano, nas duas fontes de análise, apresentou a maior
concentração de EES, 299 (70,4%) e 80 (45,2%), respectivamente. No Agreste Sergipano
foram mapeados 83 EES pelo Farejador (19,5%) e 57 pelo CADSOL (32,2%). Enquanto que
no Sertão Sergipano foram, respectivamente, 43 (10,1%) e 40 (22,6%), conforme
demonstrado no mapa 1 e na tabela 2.
Tabela 2: Sergipe, Número de EES por Mesorregião
Mesorregião
Sertão Sergipano
Agreste Sergipano
Leste Sergipano
EES
Farejador
43
83
299
TOTAL
425
%
10,1
19,5
70,4
EES
Cadsol
40
57
80
%
22,6
32,2
45,2
100,0
177
100,0
Fonte: SENAES, 2007, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
Tratando-se de produtos e prestadores de serviços, nos empreendimentos econômicos
solidários sergipanos destaca-se a prática da agricultura (principalmente a agricultura familiar
e produtos orgânicos); artesanato (costuras, bordados, obras de arte); beneficiamento de
alimentos (doces, geleias, bolos, conservas); pecuária (criação de ovinos, suínos, bovinos,
apicultura); consumo e uso coletivo de bens e serviços pelos sócios; prestação de serviços a
terceiros (principalmente na forma de associações e cooperativas de transportes);
Comercialização ou organização da comercialização; serviços financeiros (poupança, crédito
rural e finanças); produção de artefatos (gesso, asfalto, concreto, cimento); catadores e
beneficiadores de recicláveis; produção de arte cultural (dança e capoeira); desenvolvimento
comunitário (CADSOL, 2016), conforme gráfico 2, 3 e 4.
De acordo com os dados, na Mesorregião do Sertão Sergipano as principais atividades
econômicas práticas nos EES são a agricultura; o artesanato; a prestação de serviços a
terceiros; a produção de alimentos; a pecuária; consumo, uso coletivo de bens e serviços pelos
sócios; e produção cultural. Salienta-se que há EES que não informaram quais atividades são
desenvolvidas.
Gráfico 2: Mesorregião do Sertão Sergipano, Atividades Econômicas dos EES
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
Da mesma forma, na Mesorregião do Agreste Sergipano, os dados do Cadsol destacam
como principais atividades econômicas dos EES o artesanato; produção cultural; prestação de
serviços a terceiros; produção de artefatos; comercialização ou organização da
comercialização; agricultura; pecuária; poupança/crédito e finanças; desenvolvimento
comunitário; produção de artefatos; e reciclagem, gráfico 3.
Gráfico 3: Mesorregião do Agreste Sergipano, Atividades Econômicas dos EES
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
Na Mesorregião do Leste Sergipano, os dados cadastrados informam a presença de 18
EES cuja principal atividade econômica é a agricultura; 15 de artesanato, e comercialização
ou organização da comercialização; 11 de consumo e uso coletivo de bens e sereviços pelos
sócios; cinco de pecuária e de prestação de serviços a terceiros; quatro de produção de
alimentos; três de produção de artes culturais; e um de atividades extrativas e outro de
recicláveis, conforme gráfico 4.
Gráfico 4: Mesorregião do Leste Sergipano, Atividades Econômicas dos EES
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
Com relação ao número de associados, os dados do CADSOL revelam que em todo o
estado existem 20.029 pessoas cadastradas nos empreendimentos sergipanos. Deste total,
10.452 são mulheres (52%) e 9.577 são homens (48%). Os dados do Cadsol (2016) revelam ainda
que havia 103 mulheres e 163 homens que atuavam nos empreendimentos como não
associados e 43 pessoas jurídicas. Do total de empreendimentos solidários cadastrados, apenas
quatro não informaram o número de sócios, não sócios e de pessoas jurídicas, conforme dados
do gráfico 5.
Gráfico 5: Mesorregiões Sergipanas, Número de Associados nos EES
7455
8000
5413
7000
6000
5000
3441
4000
2479
3000
2000
518
723
1000
0
N. de Mulheres Associadas
N. de Homens Associados
Sertão
Sergipan
o
Agreste
Sergipan
o
Leste
Sergipan
o
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
No que diz respeito à forma de organização dos empreendimentos, dos 177 cadastrados, 88
são associações, 41 são grupos informais e 48 cooperativas. Analisando por mesorregião pode-se
aferir que o Sertão Sergipano possui 17 associações (19% do toal do estado), 16 grupos informais e
seis cooperativas. O Agreste Sergipano registra 33 associações, seis grupos informais e 17
cooperativas. Enquanto que no Leste Sergipano foram cadastradas 38 associações, 19 grupos
informais e 25 cooperativas, conforme dados da tabela 3.
Tabela 3: Formas de Organização dos EES, por Mesorregiões Sergipanas
Mesorregião Associações
%
Grupos
% Cooperativas
Informais
17
19
16
39
6
Sertão do São
Francisco
33
38
6
15
17
Agreste
Sergipano
38
43
19
46
25
Leste
Sergipano
TOTAL
88
100
41
100
48
%
13
35
52
100
Fonte: CADSOL, 2016.
Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016.
Os dados analisados demonstram a importância dos empreendimentos econômicos
solidários para a economia e sobrevivência de um grupo significativo de sergipanos que se
dedicam a diversas atividades, de diferentes formas de organização, presentes nas três
mesorregiões do estado. Para muitos, esta consiste na única forma de viver dignamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Economia Solidária tem se apresentado como uma alternativa de inclusão
econômica e social de uma parcela significativa da população brasileira. Trata-se de um
projeto político globalizado presente principalmente nas economias mais fragilizadas. De
certa forma, a economia solidária que se pratica hoje é vista por muitos como uma saída não
capitalista de mercado.
Consiste num caminho de possibilidades que pode integrar homens e mulheres
trabalhadores que, de alguma forma, não conseguem inserir no mercado de trabalho e renda.
Para tanto, faz-se necessário um conjunto de políticas públicas que possam criar condições
para que esta possibilidade se transforme numa realidade.
Nas últimas décadas, os números de empreendimentos econômicos solidários
existentes no Brasil tem apresentado um grande crescimento, principalmente a partir da
década de 1990. Os dados da SENAES (2005) revelam que existiam, aproximadamente,
quinze mil empreendimentos que empregam cerca de 1,6 milhões de brasileiros em todas as
unidades federativas.
Em termos de regiões ressalta-se a concentração de EES no Nordeste, onde, com
certeza, em muitos lugares, a economia encontra-se mais fragilizada. No atlas da Economia
Solidária de 2205, foram mapeados mais de 6,5 mil empreendimentos na região. O que
representava 44% do total de EES existentes no país.
Por sua vez, o estado de Sergipe possuía 367 empreendimentos (2,5%), os quais
estavam organizados em cooperativas, associações e grupos informais. Comercializavam
produtos variados, com destaque para a agricultura orgânica, o artesanato regional (a exemplo
da renda de filó, de alto valor de comercialização; artes sacras; bordados em geral);
beneficiamento de produtos como a geleia e o bolo de mangaba muito apreciado localmente;
prestação de serviços de transporte; associações de comercialização e grupos culturais que
trazem os traços regionais em sua arte. Ao todo, são mais de vinte mil pessoas que buscam
nas práticas solidárias uma forma de sobrevivência com dignidade.
As pesquisas sobre a economia solidária no Brasil revelam a necessidade de uma
política pública mais efetiva, auxílio técnico e qualificação técnica específica. É neste
contexto que se destacam as iniciativas das incubadoras universitárias que possam se envolver
com a temática e propor novas alternativas de economia, de renda e de geração de empregos
nos empreendimentos econômicos solidários. No processo de solidificação da prática da
economia solidária, estratégias de desenvolvimento e relatos de experiências compõem um
universo de possibilidades em prol da busca por uma vida com dignidade.
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