ORGANIZAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS EM SERGIPE1 ORGANIZATION AND SPATIALIZATION OF SOLIDARY ECONOMIC ENTRERPRISES IN SERGIPE Profa. Dra. Geisa Daise Gumiero Cleps Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFU NEAT-LAGEA - UFU [email protected] Prof. Dr. Eraldo da Silva Ramos Filho Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFS LABERRUR - UFS [email protected] RESUMO A exclusão econômica, social e política de uma parcela significativa da população mundial e, por conseguinte, brasileira, tem incitado vários estudos, debates e a criação de possíveis alternativas para minimizar este quadro. Neste contexto, apresenta-se a Economia Solidária a qual se encontra pautada no trabalho coletivo, na autogestão, na solidariedade e no desenvolvimento econômico. A implantação de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) permite articular os elos da cadeia produtiva em redes e agentes que se apoiam e se completam, ampliando as oportunidades de trabalho e de renda, promovendo o desenvolvimento local, o fortalecimento de redes da cadeia produtiva, à sustentabilidade, à justiça social, econômica, cultura e ambiental e à formação de grupos populares. Este artigo analisa a organização e espacialização da Economia Solidária (ES) em Sergipe, com ênfase nos EES, a partir de dados obtidos no Cadastro Nacional de Economia Solidária (CADSOL), na Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e em pesquisas quantitativas. Palavras chave: Economia Solidária (ES). Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Sergipe. ABSTRACT The economic, social and political exclusion of a significant part of the worldwide population and, consequently, Brazilian, has been inciting several studies, debates and the creation of possible alternatives to minimize this picture. In this perspective, the Solidarity Economy is presented which is guided by collective work, self management, solidarity and economic development. The implementation of Solidarity Economy Enterprises (EES) allows an articulation of the links the productive chains in networks and agents which support and complement themselves, expanding job and income opportunities, promoting the local development, the strengthening of networks in the productive chain, the sustainability, the social, economic, culture and environmental justice and the formation of popular groups. This article analyzes the organization and spatialization of the Solidarity Economy (ES) in Sergipe, with emphasis in the EES, from data obtained through the National Register 1 Este artigo faz parte dos resultados obtidos na pesquisa de Pós-doutorado realizado na Universidade Federal de Sergipe - UFS, programa PNPD/CAPES, sob a supervisão do Prof. Dr. Eraldo da Silva Ramos Filho. of Solidarity Economy (CADSOL), in the National Secretariat of Solidarity Economy (SENAES) and in quantitative researches. Keywords: Solidarity Economy (ES). Solidarity Economy Enterprises (EES). Sergipe. INTRODUÇÃO Em um sistema cada vez mais competitivo, num cenário de internacionalização da economia, grupos sociais em diferentes nações procuram minimizar os problemas advindos deste processo, da exclusão social e do acesso ao mercado de trabalho. Na busca por soluções para o problema do desemprego e da miséria, uma alternativa encontrada foi denominada de economia solidária, economia social, socioeconomia popular e solidária, humanoeconomia, economia de proximidade, economia de comunhão, entre outras, que tem emergido como uma forma de sobrevivência e de melhoria na qualidade de vida de pessoas em diferentes partes do mundo. Entende-se por Economia Solidária, a prática baseada no trabalho coletivo, através de associações, cooperativas ou grupos informais, que sejam suprafamiliares; na solidariedade, que os resultados do trabalho sejam divididos de maneira justa entre os membros do grupo, tendo como princípio o fato de que economia solidária não trabalha tendo como objetivo principal o lucro, e sim o excedente ou a sobra; na autogestão, os próprios membros do grupo devem gerir o empreendimento e, para que isso ocorra, deve-se eleger um líder para coordenar o trabalho de todo o grupo; no desenvolvimento de uma atividade econômica, pois como o empreendimento, na maioria dos casos, é a única fonte de renda dos trabalhadores, deve ter como objetivo garantir que as necessidades básicas do cidadão sejam atendidas, porém existem empreendimentos que não resultam em fonte de renda para os trabalhadores, embora garantam sua sobrevivência, são empreendimentos voltados para o autoconsumo. De acordo com Singer (2003, p. 116), O conceito (economia solidária) se refere a organizações de produtores, consumidores, poupadores, etc., que se distinguem por duas especificidades: (a) estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da autogestão e (b) praticam a solidariedade para com a população trabalhadora em geral, com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos. Ainda em processo de consolidação, as definições são apresentadas por diferentes autores de várias áreas da ciência. Diante do exposto, entendemos a Economia Solidária como um processo que tem como base os princípios de cooperação e de trabalho coletivo, diferenciando-se do sistema capitalista vigente. Consiste, portanto, em uma das alternativas encontradas para minimizar a crise do trabalho e da fome no mundo capitalista. Ressalta-se que a economia solidária não se constitui como um modelo revolucionário para mudar ou subordinar o sistema atual, mas um projeto que tem como objetivo estruturar uma alternativa econômica, social, política e cultural. As privatizações, os processos de reestruturação públicos e privados, o aumento significativo de falência de empresas e, inclusive, a internacionalização da economia, principalmente em se tratando dos países em desenvolvimento, são alguns fatores contemporâneos que servem como propulsores e estímulo à procura por estruturas associativas e de autogestão. Como alternativa a esses processos torna-se visível, nos mais diversos setores, a presença de organizações geridas pelos próprios trabalhadores, a exemplo das cooperativas de crédito, de habitação, de educação, de seguros, de consumo e vários outros tipos. Almejando, através dessas alternativas, além do emprego e renda, relações trabalhistas que enfoquem a qualidade do emprego e de vida, onde trabalhadores possam se organizar investindo em seu próprio negócio ou atuando como autônomos e profissionais liberais. Gaiger (1999, p.2), salienta que na economia contemporânea, Contrariando as expectativas de uma integração e uniformização progressiva do tecido social, em decorrência de um desenvolvimento econômico que viria cedo ou tarde, processos de fragmentação e exclusão social se impuseram, nas últimas duas décadas, com virulência insuspeita e efeitos dramáticos. Enormes contingentes, alijados do mercado de trabalho e abandonados pelas políticas sociais em recuo, viram-se compelidos a criar suas próprias oportunidades de trabalho e sobrevivência. Expandiu-se o setor informal, multiplicaram-se os pequenos negócios, resgataram-se, por outro lado, práticas de entre-ajuda e cresceu o interesse pela idéia de dar as mãos e fazer, da união de forças, o caminho de uma nova alternativa. Nessa perspectiva, a economia solidária representa também uma opção que o indivíduo faz por um modo de vida, um projeto para a sociedade com valores novos e distintos dos até então apresentados. Diz respeito às questões relativas ao mercado de trabalho e uma nova visão social. No Brasil, o número de trabalhadores absorvidos pelo mercado de trabalho é proporcionalmente inferior ao número dos que compõem a oferta de força de trabalho, basta observar a miséria crescente em nossas cidades. Conforme salientou Chesnais (1996, p.15), “é na produção que se cria riqueza, a partir da combinação social de formas de trabalho humano, de diferentes qualificações”. Porém, é da própria criação de riquezas para poucos que se tem criado a miséria de muitos. A crise do emprego é uma das formas para se analisar essa problemática. A realidade política, econômica e social está se corroendo em função das atividades capitalistas, gerando uma crise em todo o mundo, pois, a amplitude desta atinge as economias nacionais pelo simples fato de estas estarem cada vez mais interligadas. A globalização, considerada como um dos principais propulsores das mudanças ocorridas na economia contemporânea, “é a última batalha do capitalismo, por uma monopolização dos mercados e da centralização dos recursos” (NÚÑEZ, 1996, p.5). Esse processo se dá à custa da aceleração de exploração dos recursos naturais e humanos, principalmente através da produção de taxa de mais valia relativa. No entanto, para muitos este é um processo que faz parte do ciclo econômico, mas se esquecem de que o ciclo traz, em seu final, a depredação da natureza e do próprio ser humano. A economia popular e solidária pode ser traduzida como uma opção por um modo de vida, refazendo um projeto social com valores novos e distintos dos até então apresentados. Pode ser considerada como uma consequência de dois principais fatores da economia contemporânea. Primeiro o da modernização da produção e do mercado e, o segundo, o das alterações na estrutura do Estado. A modernização do setor produtivo, causada pelas mudanças tecnológicas e pelos sistemas de gestão, resulta no esgotamento da absorção da força de trabalho. O Estado, por sua vez, tem apresentado queda na criação e na manutenção dos postos de trabalho, decorrente de sua reestruturação e das sucessivas crises fiscais e administrativas. Esses fatores criam uma crescente massa marginalizada, resultando em atividades e iniciativas que nascem nos setores populares, em busca de garantias à subsistência em níveis básicos para uma vida com qualidade. Assim, a economia solidária pode ser conceituada como sendo uma, [...] formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para conta de conjuntos significativos de experiências econômicas – no campo da produção, comércio, financiamento de serviços etc. – que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente das outras realidades econômicas. (RAZETO, 1993, p.40) À procura por caminhos solidários, surgem novas alternativas apoiadas por várias instituições (internacionalmente através do Banco Mundial e de organizações do Terceiro Setor; no Brasil através do SEBRAE e do Programa Comunidade Solidária do Governo FHC e, no governo Lula com a criação da Secretaria Nacional da Economia Popular - SENAES, em 2005), que, por exemplo, disponibilizaram recursos através dos mais variados fundos ou bancos de microcrédito popular. Pode-se inferir que Economia Popular Solidária (EPS) surge a partir de iniciativas de base comunitária, em geral construída por organizações vinculadas aos setores populares. Trata-se de atividades produtivas que se inserem no mercado e que constituem redes de comercialização próprias (o Mercado Solidário). O campo da EPS, baseado na pequena empresa comunitária, na agricultura familiar, no trabalho doméstico, autônomo, nas cooperativas e empresas autogestionárias, aos poucos supera o desafio do mercado e viabiliza (e se visibiliza) a competitividade no mesmo, constituindo-se como uma alternativa mesmo no interior das relações mercantis. Trata-se de um circuito econômico diferenciado do mercantil-capitalista e do estatal no qual os pobres constroem suas próprias alternativas comunitárias de provisão material e da sua existência através de relações de solidariedade. Como exemplos destas pequenas unidades produtivas destacam-se: as cooperativas habitacionais e aos mutirões na construção e conserto de casas; às formas associativas de produção de alimentos, vestuário, remédios, utensílios, artesanato, objetos de uso pessoal e pequenos serviços; bem como à agricultura familiar. Entretanto, não se pode caracterizar a EPS pela escala modesta ou pela defasagem tecnológica dos seus empreendimentos. A partir da década de 1990 houve um importante crescimento das ações institucionais de apoio às iniciativas populares e solidárias, através, principalmente, de múltiplas políticas de geração de emprego e renda. No entanto, na atualidade, apesar de todos os esforços, um dos maiores desafios para os empreendimentos solidários é adquirir um selo comum que identifique os produtos e serviços por eles gerados. Necessitam ainda de acesso ao crédito, à mídia, ao design, ao controle de qualidade, de embalagens, de código de barras, de distribuição e de comercialização (desafio mercadológico), bem como os decorrentes de barreiras legais, do desenvolvimento tecnológico, da carência de entidades de apoio e de padrões gerenciais adequados. Nos últimos anos do século XX, assistiu-se a uma reconfiguração das relações entre o local, o nacional e o global. Contrastando com o modelo de desenvolvimento neoliberal hegemônico fundado num estilo excludente e na competitividade entre as cidades e as regiões, a EPS tem sido induzida e potencializada pela ação política dos cidadãos, pelo crescimento do poder local, por um processo de construção cidadã do espaço público através da democracia direta e participativa. Na medida em que inúmeros governos locais/estaduais vão dando prioridade a EPS, ela é alavancada para novos patamares, saindo da sua escala experimental. Para a elaboração deste artigo foram utilizados, de forma combinada, dois tipos de pesquisa científica: descritiva (e quantitativa) e qualitativa (e exploratória). Após leitura e análise de várias contribuições teóricas sobre o tema, foram realizas pesquisas em sites oficiais do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA); do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); da Secretária Nacional de Economia Solidária (SENAES); do Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES); do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES); do Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários; de redes de Comercialização Solidária; visitas técnicas em EES no estado de Sergipe, e outros. A ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL O I Mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários brasileiros foi realizado pela SENAES, em 2005. Foram identificados 14.954 empreendimentos. De acordo com os dados do SIES (2005)2, havia uma concentração de empreendimentos solidários na região Nordeste onde foram mapeados 6.549 empreendimentos (44%), seguido do Sul do Brasil com 2.592 (17%), Sudeste com 2.144 (14%), Norte com 1.884 (13%) e Centro Oeste com 1.785 empreendimentos (12%), conforme tabela 1. No que concerne às Unidades Federativas, o Rio Grande do Sul, devido à característica herdada do processo de colonização, é o estado brasileiro que possuí o maior número de EES (1.634), seguido pelos estados nordestinos do Ceará (1.249), Bahia (1.096), Piauí (1.006) e Pernambuco (1.004), onde as condições socioeconômicas acabam por fortalecer as redes de solidariedade, cooperativas e associações. Os EES registrados no mapeamento estão presentes em 2.274 municípios brasileiros, totalizando 41% destes. Na região Norte 56% dos municípios possuem EES, seguida pelo Centro Oeste com 53%, Nordeste com 48%, Sul com 43% e Sudeste com 23%. No Brasil, as principais formas de comercialização, seguindo os moldes do comércio solidário, são as feiras locais ou itinerantes, as cooperativas de compra, as vendas institucionais, as trocas de mercadorias (na forma de escambo), as lojas de produtores e as lojas e pontos de venda solidários. De acordo com a SENAES (2008), o número de pessoas envolvidas com a economia solidária no Brasil ultrapassava a um milhão e os recursos provenientes da mesma eram em torno de oito bilhões de reais, em, aproximadamente, 15 a 20 mil EES. 2 Salienta-se que no I Mapeamento de Empreendimentos de Economia Solidária, desenvolvido pela Secretária Nacional de Economia Solidária (SENAES) em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), não foram mapeados todos os EES. Da mesma forma, os dados mais específicos do II Mapeamento ainda não foram disponibilizados, o que justifica nossa análise a partir dos dados de 2005. Nos EES existentes no país, várias atividades são desempenhadas. Dentre estas destacam-se: o artesanato, os produtos agrícolas, a reciclagem, a produção de alimentos e outros. Os empreendimentos podem ser tanto para autoconsumo quanto para a comercialização. Tabela 1: Brasil - Números de EES, por Regiões e Unidades Federativas, 2005 UF No. de EES %EES No. de Municípios RO AC AM RR PA AP TO NORTE MA PI CE RN PB PE AL SE BA NORDESTE MG ES RJ SP SUDESTE PR SC RS SUL MS MT GO DF CENTRO OESTE TOTAL 240 403 304 73 361 103 400 1.884 567 1.006 1.249 549 446 1.004 205 367 1.096 6.549 521 259 723 641 2.144 527 431 1.634 2.592 234 543 667 341 1.785 14.954 1,6% 2,7% 2,0% 0,5% 2,4% 0,7% 2,7% 13% 3,8% 7,1% 8,4% 3,7% 3,0% 6,7% 1,4% 2,5% 7,3% 44% 3,5% 1,7% 4,8% 4,3% 14% 3,5% 2,9% 10,9% 17% 1,6% 3,6% 4,5% 2,3% 12% 100% 40 20 32 14 51 13 84 254 73 83 134 77 101 129 48 63 153 861 101 59 82 147 389 109 133 270 512 25 91 127 12 258 2.274 % Municípios/ Total de Municípios 75% 87% 51% 88% 35% 76% 60% 56% 33% 37% 72% 46% 45% 69% 47% 83% 37% 48% 12% 75% 88% 23% 23% 27% 45% 54% 43% 32% 65% 61% 83% 53% 41% Fonte: Atlas da Economia Solidária no Brasil, 2005. Os produtos comercializados solidariamente são, na maioria, agropecuários, confecções e artesanato, comercializados em lojas exclusivas de produtos do comércio solidário e feiras livres, outros nos próprios empreendimentos. Há, também, lojas convencionais que aderem ao comércio justo e comercializam alguns produtos provenientes da ES. Como exemplo podem ser mencionadas lojas da rede C&A, e da rede de supermercados Pão de Açúcar. O comércio solidário faz-se necessário, principalmente, para algumas comunidades mais carentes, pois através da sua prática as famílias garantem renda sem precisar da ajuda de programas de transferência de renda. Numa visão mais crítica, consiste numa forma de sujeição capitalista do trabalho não-capitalista (familiar, solidário, coletivo, comunitário ou comunal) aos interesses de acumulação das corporações. O que, contrapõe os esforços de constituição de uma plataforma da soberania alimentar que pressupõe trocas internacionais efetivamente solidárias entre sujeitos e nações que se posicionam na mesma condição de complementariedade econômica para uma aliança de classe trabalhadora. DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA EM SERGIPE De acordo com o Atlas da Economia Solidária, a região Nordeste possuía, em 2005, 6.549 EES, em 861 municípios (44% do total). O estado de Sergipe contava com 365 EES, em 63 municípios (83% dos municípios do estado), totalizando 2,5% dos empreendimentos da região, conforme demonstrado na tabela 1. Mapa 1: Sergipe, Número de EES, por Mesorregiões, 2005 Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. No site do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FIBES), no sistema Farejador, foram constatados 425 EES, enquanto que no Cadastro Nacional de Empreendimentos Solidários (CADSOL), de 2010, foram relacionados um total de 177 EES, mapa 1. A Mesorregião Leste Sergipano, nas duas fontes de análise, apresentou a maior concentração de EES, 299 (70,4%) e 80 (45,2%), respectivamente. No Agreste Sergipano foram mapeados 83 EES pelo Farejador (19,5%) e 57 pelo CADSOL (32,2%). Enquanto que no Sertão Sergipano foram, respectivamente, 43 (10,1%) e 40 (22,6%), conforme demonstrado no mapa 1 e na tabela 2. Tabela 2: Sergipe, Número de EES por Mesorregião Mesorregião Sertão Sergipano Agreste Sergipano Leste Sergipano EES Farejador 43 83 299 TOTAL 425 % 10,1 19,5 70,4 EES Cadsol 40 57 80 % 22,6 32,2 45,2 100,0 177 100,0 Fonte: SENAES, 2007, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. Tratando-se de produtos e prestadores de serviços, nos empreendimentos econômicos solidários sergipanos destaca-se a prática da agricultura (principalmente a agricultura familiar e produtos orgânicos); artesanato (costuras, bordados, obras de arte); beneficiamento de alimentos (doces, geleias, bolos, conservas); pecuária (criação de ovinos, suínos, bovinos, apicultura); consumo e uso coletivo de bens e serviços pelos sócios; prestação de serviços a terceiros (principalmente na forma de associações e cooperativas de transportes); Comercialização ou organização da comercialização; serviços financeiros (poupança, crédito rural e finanças); produção de artefatos (gesso, asfalto, concreto, cimento); catadores e beneficiadores de recicláveis; produção de arte cultural (dança e capoeira); desenvolvimento comunitário (CADSOL, 2016), conforme gráfico 2, 3 e 4. De acordo com os dados, na Mesorregião do Sertão Sergipano as principais atividades econômicas práticas nos EES são a agricultura; o artesanato; a prestação de serviços a terceiros; a produção de alimentos; a pecuária; consumo, uso coletivo de bens e serviços pelos sócios; e produção cultural. Salienta-se que há EES que não informaram quais atividades são desenvolvidas. Gráfico 2: Mesorregião do Sertão Sergipano, Atividades Econômicas dos EES Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. Da mesma forma, na Mesorregião do Agreste Sergipano, os dados do Cadsol destacam como principais atividades econômicas dos EES o artesanato; produção cultural; prestação de serviços a terceiros; produção de artefatos; comercialização ou organização da comercialização; agricultura; pecuária; poupança/crédito e finanças; desenvolvimento comunitário; produção de artefatos; e reciclagem, gráfico 3. Gráfico 3: Mesorregião do Agreste Sergipano, Atividades Econômicas dos EES Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. Na Mesorregião do Leste Sergipano, os dados cadastrados informam a presença de 18 EES cuja principal atividade econômica é a agricultura; 15 de artesanato, e comercialização ou organização da comercialização; 11 de consumo e uso coletivo de bens e sereviços pelos sócios; cinco de pecuária e de prestação de serviços a terceiros; quatro de produção de alimentos; três de produção de artes culturais; e um de atividades extrativas e outro de recicláveis, conforme gráfico 4. Gráfico 4: Mesorregião do Leste Sergipano, Atividades Econômicas dos EES Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. Com relação ao número de associados, os dados do CADSOL revelam que em todo o estado existem 20.029 pessoas cadastradas nos empreendimentos sergipanos. Deste total, 10.452 são mulheres (52%) e 9.577 são homens (48%). Os dados do Cadsol (2016) revelam ainda que havia 103 mulheres e 163 homens que atuavam nos empreendimentos como não associados e 43 pessoas jurídicas. Do total de empreendimentos solidários cadastrados, apenas quatro não informaram o número de sócios, não sócios e de pessoas jurídicas, conforme dados do gráfico 5. Gráfico 5: Mesorregiões Sergipanas, Número de Associados nos EES 7455 8000 5413 7000 6000 5000 3441 4000 2479 3000 2000 518 723 1000 0 N. de Mulheres Associadas N. de Homens Associados Sertão Sergipan o Agreste Sergipan o Leste Sergipan o Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. No que diz respeito à forma de organização dos empreendimentos, dos 177 cadastrados, 88 são associações, 41 são grupos informais e 48 cooperativas. Analisando por mesorregião pode-se aferir que o Sertão Sergipano possui 17 associações (19% do toal do estado), 16 grupos informais e seis cooperativas. O Agreste Sergipano registra 33 associações, seis grupos informais e 17 cooperativas. Enquanto que no Leste Sergipano foram cadastradas 38 associações, 19 grupos informais e 25 cooperativas, conforme dados da tabela 3. Tabela 3: Formas de Organização dos EES, por Mesorregiões Sergipanas Mesorregião Associações % Grupos % Cooperativas Informais 17 19 16 39 6 Sertão do São Francisco 33 38 6 15 17 Agreste Sergipano 38 43 19 46 25 Leste Sergipano TOTAL 88 100 41 100 48 % 13 35 52 100 Fonte: CADSOL, 2016. Elaboração: CLEPS, G.D.G., 2016. Os dados analisados demonstram a importância dos empreendimentos econômicos solidários para a economia e sobrevivência de um grupo significativo de sergipanos que se dedicam a diversas atividades, de diferentes formas de organização, presentes nas três mesorregiões do estado. Para muitos, esta consiste na única forma de viver dignamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Economia Solidária tem se apresentado como uma alternativa de inclusão econômica e social de uma parcela significativa da população brasileira. Trata-se de um projeto político globalizado presente principalmente nas economias mais fragilizadas. De certa forma, a economia solidária que se pratica hoje é vista por muitos como uma saída não capitalista de mercado. Consiste num caminho de possibilidades que pode integrar homens e mulheres trabalhadores que, de alguma forma, não conseguem inserir no mercado de trabalho e renda. Para tanto, faz-se necessário um conjunto de políticas públicas que possam criar condições para que esta possibilidade se transforme numa realidade. Nas últimas décadas, os números de empreendimentos econômicos solidários existentes no Brasil tem apresentado um grande crescimento, principalmente a partir da década de 1990. Os dados da SENAES (2005) revelam que existiam, aproximadamente, quinze mil empreendimentos que empregam cerca de 1,6 milhões de brasileiros em todas as unidades federativas. Em termos de regiões ressalta-se a concentração de EES no Nordeste, onde, com certeza, em muitos lugares, a economia encontra-se mais fragilizada. No atlas da Economia Solidária de 2205, foram mapeados mais de 6,5 mil empreendimentos na região. O que representava 44% do total de EES existentes no país. Por sua vez, o estado de Sergipe possuía 367 empreendimentos (2,5%), os quais estavam organizados em cooperativas, associações e grupos informais. Comercializavam produtos variados, com destaque para a agricultura orgânica, o artesanato regional (a exemplo da renda de filó, de alto valor de comercialização; artes sacras; bordados em geral); beneficiamento de produtos como a geleia e o bolo de mangaba muito apreciado localmente; prestação de serviços de transporte; associações de comercialização e grupos culturais que trazem os traços regionais em sua arte. Ao todo, são mais de vinte mil pessoas que buscam nas práticas solidárias uma forma de sobrevivência com dignidade. As pesquisas sobre a economia solidária no Brasil revelam a necessidade de uma política pública mais efetiva, auxílio técnico e qualificação técnica específica. É neste contexto que se destacam as iniciativas das incubadoras universitárias que possam se envolver com a temática e propor novas alternativas de economia, de renda e de geração de empregos nos empreendimentos econômicos solidários. No processo de solidificação da prática da economia solidária, estratégias de desenvolvimento e relatos de experiências compõem um universo de possibilidades em prol da busca por uma vida com dignidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROYO, J. C. T.; SCHUCH, F. C. Economia popular e solidária: a alavanca para um desenvolvimento sustentável. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006. CADASTRO NACIONAL DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS - CADSOL. Disponível em http//www. cadsol.mte.gov.br/inter/cadsol/main.seam, acesso em março de 2016. CATTANI, A. D. (org.) A outra economia. 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