Benefício de abertura da economia é duvidoso GILSON SCHWARTZ da Equipe de Articulistas A queda nas exportações do Brasil e o difícil ajuste no comércio exterior, mesmo após a desvalorização cambial, preocupam os analistas menos afoitos. Por enquanto predominam os diagnósticos centrados no curto prazo, que vão da economia mundial em ritmo lento à perda de dinamismo do comércio internacional, passando pela queda nos preços de commodities ou pela escassez de crédito para o comércio exterior brasileiro. Uma explicação mais fundamental, entretanto, talvez seja possível apenas revisitando o debate sobre a abertura econômica brasileira. Mas reavaliando menos o comércio em si e mais os efeitos da nova onda de investimentos estrangeiros no país. Maurício M. Moreira, do BNDES, pesquisa o tema. Sua análise mais recente está na Internet (www.bndes.gov.br). Moreira faz a avaliação mais equilibrada possível. Mas seu relatório também traz inquietação com os novos riscos trazidos pelos investimentos externos. O seu principal argumento é formulado com cautela exemplar, já que os dados são limitados. Moreira afirma que o atual ciclo de investimentos na indústria "tende a ser" radicalmente distinto de ciclos anteriores. Ou, ainda, que "tem o potencial" de gerar uma relação custo-benefício mais vantajosa para o país. O pesquisador do BNDES realizou uma impressionante bateria de testes estatísticos para avaliar essas tendências e potencialidades. Os resultados não apenas deixam a questão em aberto, de vários ângulos, como sugerem novos motivos para a dificuldade de ajuste no comércio exterior brasileiro, mesmo depois da desvalorização cambial. A análise confirma a desnacionalização da indústria. Isso é bom ou ruim? Para Moreira, "as evidências empíricas estão longe de ser conclusivas". O ciclo anterior de substituição de importações criava muita ineficiência. Mas ainda não é possível saber se a abertura, do ponto de vista do bem-estar ou do desenvolvimento, fez ou fará melhor. Aqui entra a questão do impacto do investimento estrangeiro no comércio exterior ou do seu suposto viés importador. Reconhecendo que esse pode não ser o principal problema ou que não é insolúvel, o pesquisador afirma não ter dúvida de que há "razões para acreditar que fatores alheios ao comportamento dos preços relativos possam afetar a decisão dessas empresas quanto à escolha de mercados e à origem de seus insumos". Ou seja, "a subordinação da filial aos interesses da matriz" pode levar, pelo lado das importações, a compras de insumos decididas "por outros fatores que não preço e qualidade". E, sem ser taxativo, completa com um dado decisivo: o elevado peso do comércio intrafirma no total do comércio dessas firmas, que era de 43% em 1995. A pesquisa de Moreira, limitada ao ano de 1997, mostra que as firmas estrangeiras têm em média propensão a importar claramente superior à das firmas nacionais (18% contra 10%). O economista afirma que "não há nenhuma razão para acreditar que esse novo padrão de integração traga necessariamente prejuízos ao país". Podem até ajudar a modernizar a economia. Mas, se a questão fica em aberto, os dados são preocupantes. Para Moreira, não se pode "ignorar as imperfeições ligadas a arranjos intrafirma, pressões políticas dos países de origem ou vantagens de financiamento". A conclusão é pragmática: "é bem possível que estejam ocorrendo perdas de bem-estar para a economia nacional", tornando "a ação do Estado necessária".