Estrutura instalada para o atendimento dos pacientes com intoxicação aguda nos serviços hospitalares de urgência/emergência da região da Secretaria Regional de Desenvolvimento de Tubarão. Grasiane Nunes Mayer¹ , Flávio Liberali Magajewski² Resumo Objetivo: avaliar a estrutura das unidades hospitalares com serviços de emergência, para o atendimento de pacientes intoxicados agudamente. Métodos: Fora definido, segundo Centro de informações toxicológicas (CIT-SC) e Ministério da Saúde (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME), antídotos e medicações de suporte ao atendimento de intoxicações agudas indispensáveis ao atendimento em serviços de emergência. Com a aplicação de questionários ao farmacêutico e médico plantonista de todos os hospitais e pronto-atendimentos da Secretaria Regional De Desenvolvimento De Tubarão foram obtidos os dados publicados no presente artigo. Resultados: O hospital com maior porte e referência regional foi o que apresentou melhores resultados em relação à disponibilidade de antídotos e antagonistas, apresentando 61,1% das medicações questionadas. Já entre os hospitais de grande porte, um deles apresentou desempenho médio (44,44%) e outro, junto com o estabelecimento de médio porte, apresentaram performance pior quando comparados com os dois estabelecimento de pequeno porte. Resultado equivalente evidenciou-se em se tratando de vacinas/toxóides, soros e imunoglobulinas e antialérgicos usados em anafilaxia. Todos médicos plantonistas já tiveram experiências com intoxicações agudas, embora dois deles não garantem confiança no próprio conhecimento para estes casos. Conclusão: é fundamental elaborar sistemas de comunicação entre os estabelecimentos para troca de antídotos e antagonistas conforme a demanda. Outra alternativa para amenizar a insuficiência atual na atenção ao paciente em situação de risco de vida por intoxicação implica também em informação à população para prevenção de acidentes e melhor preparo dos profissionais da saúde neste assunto. Palavras-chave: intoxicação aguda, antídotos , emergênia. 1 Acadêmica de Medicina 2 Professor orientador, professor de Medicina do Trabalho Introdução 1 Vários produtos químicos, como medicamentos produtos de limpeza, estão presentes no dia-a-dia da população. Ao mesmo tempo, são estes os fatores que provocam casos de intoxicação aguda com elevado risco de óbito. O CIT/SC é um serviço que objetiva fornecer informações em casos de emergência, auxiliando diagnóstico e tratamento de envenenamentos e intoxicações. A decisão clínica inclui suporte, redução imediata da absorção e efeitos dos produtos, além do correto diagnóstico e indicação do antídoto. Porém, tal apoio torna-se ineficaz se no local de atendimento não houver o medicamento necessário à situação diagnosticada. Apesar de o CIT-SC possuir um banco de antídotos à disposição da rede de serviços de saúde, a distância entre este e o local de atendimento das vítimas de intoxicação nem sempre torna o seu uso oportuno. Avaliar unidades hospitalares com serviços de emergência quanto ao atendimento de intoxicações agudas é importante para identificar restrições ao acesso a medicamentos específicos para a atenção a esses casos. Com o diagnóstico da situação desses serviços, é possível elaborar proposta de recuperação dos mesmos, definindo de forma mais racional e consistente as unidades efetivamente qualificadas para assistência a esta situação crítica. Objetivos - Avaliar capacidade para atendimento de pacientes intoxicados nos hospitais e prontoatendimentos dos municípios da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional de Tubarão (Capivari de Baixo, Gravatal, Jaguaruna, Pedras Grandes, Sangão e Treze de Maio e Tubarão). - Investigar, quantos estão em conformidade com as recomendações governamentais. - Avaliar o conhecimento dos profissionais da saúde desses hospitais (médico plantonista) quanto ao tratamento do paciente intoxicado. Metodologia Trata-se de uma pesquisa avaliativa normativa, de abordagem qualitativa. Fora definido, segundo Centro de informações toxicológicas (CIT-SC) e Ministério da Saúde (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME), quais antídotos e medicações de suporte ao atendimento de intoxicações agudas são indispensáveis em serviços de emergência. Com a aplicação de questionários ao farmacêutico e médico plantonista de todos os hospitais e prontoatendimentos da SDRT obtiveram-se dados publicados no presente artigo. Foram visitados todos os hospitais e pronto-atendimentos da região da SDRT, num total de seis estabelecimentos. Resultados 2 Não houve concordância entre os antídotos/antagonistas considerados fundamentais pelo CIT e Ministério da Saúde, porém todas foram questionadas (Tabela 1). O RENAME sugere, também, a disponibilização de vacinas/toxóides, soros e imunoglobulinas, além de alguns antialérgicos usados em anafilaxia (Tabela 2). Tabela 1: Serviços hospitalares da Secretaria Regional de Desenvolvimento ofertantes dos medicamentos essenciais segundo CIT e RENAME. CIT N° de estabelecimentos disponibiladores Nitrito de amila, Dimercaprol (DMCP), 0 Digoxina Imune Fab SUCCIMER (dmsa), Glucagon, Octreotide, Edetato dissódico de cálcio 1 Hidroxocobalamina, Sulfato de Protamina 2 N-acetilcisteína, Etanol 4 Azul de metileno, Biperideno 5 Vitamina K1 6 CIT e RENAME N° de estabelecimentos disponibiladores 0 1 2 4 6 Deferoxamina, Nitrito de sódio Pralidoxima Naloxona, Penicilamina Tiossulfato de sódio, Flumazenil Atropina RENAME N° de estabelecimentos disponibiladores 0 1 5 6 Cloreto de metiltionínio Folinato de cálcio Carvão vegetal ativado Bicarbonato de sódio de Tubarão % 0 16,67 33,33 66,67 83,33 100 % 0 16,67 33,33 66,67 100 % 0 16,67 83,33 100 Tabela 2: Serviços hospitalares da Secretaria Regional de Desenvolvimento de Tubarão ofertantes de vacinas/toxóides, soros e imunoglobulinas e antialérgicos usados em anafilaxia segundo Ministério da Saúde. Vacinas e Toxóides N° de estabelecimentos % disponibiladores DT 2 33,33 DTP, DPT+HiB 3 50 Soros (S.) e Imunoglobulinas S.Antibotulínico, S.antidiftérico, S.antilatrodectus S.antibotróbico–crotálico, S.antibotróbico– laquético, S.anticrotálico, S.antielapídico, 3 N° de estabelecimentos disponibiladores 0 0 1 16,67 S.antiescorpiônico, S.antiloxocélico, S.antiaracnídeo, S.antibotróbico, antilonômico, S. antitetânico Imunoglobulina antitetânica S. Antialérgicos e Medicamentos Usados para Anafilaxia Loratadina Fosfato sódico de prednisolona Maleato de Dexclorfeniramina Prednisona, Succinato sódico de hidrocortisona Cloridrato (hemitartarato) de epinefrina, Cloridrato de prometazina 2 33,33 4 66,67 N° de estabelecimentos disponibiladores 2 3 4 5 % 33,33 50 66,67 83,33 6 100 Em certos casos, os antídotos são as únicas formas de reverter um quadro de intoxicação aguda e preservar a vida da vítima. Considerando-se que dos 7 municípios estudados, apenas 4 possuem atendimento hospitalar ou pronto-atendimento, 24.126 habitantes, ao sofrer alguma situação de urgência à saúde, precisam deslocar-se para municípios vizinhos. Caso essa urgência caracterize-se como intoxicação aguda a situação por si só compromete a qualidade do atendimento devido ao tempo decorrido no transporte. Os estabelecimentos participantes foram classificados conforme o número de leitos, em pequeno, médio, grande e muito grande porte (entre 1 e 30 leitos: pequeno, 31 a 60 leitos: médio, 61 a 90 leitos: grande, acima de 90 leitos: muito grande).Apesar da melhor performance,o hospital com maior número de leitos na região estudada, faltam aproximadamente 40% dos antídotos considerados essenciais (Tabela 3) e 20% de medicações adjuvantes (Tabela 4). Em situação inversa, surpreende o fato do bom desempenho do menor centro estudado, quando comparados aos serviços de médio porte. Embora muito longe do ideal, os dois estabelecimentos com 1 a 30 leitos possuíam 25% e 27,8% dos antídotos (tabela 3) e 25% e 37,5% dos adjuvantes (tabela 4). Estes valores foram maiores que os apresentados pelo hospital de médio porte e em certos casos, de um dos serviços de grande porte. Tabela 3: Disponibilidade de antídotos e antagonistas nos hospitais e pronto-atendimentos da Secretaria Regional de Desenvolvimento de Tubarão, classificados como essenciais segundo CIT e Ministério da Saúde (RENAME). Antídotos e Muito Grande Grande Médio Pequeno Pequeno antagonistas grande Segundo CIT 8 (57,14%) 9(64,28%) 4(28,5%) 2(14,28%) 4 (28,5%) 5(35,7%) somente (14) Segundo CIT 5 (62,5%) 4 (50%) 2(25%) 1 (12,5%) 4 (50%) 3(37,5%) e RENAME (8) Segundo 9 (64,28%) 3 (21,4%) 2(14,28%) 2(14,28%) 1 (7,14%) 2(14,28%) RENAME 4 somente (14) TOTAL (36) 22 (61,1%) 16(44,44%) 8(22,22%) 5(13,89) 9 (25%) 10 (27,8) Tabela 4: Disponibilidade de vacinas/toxóides, soros e imunoglobulinas, antialérgicos usados em anafilaxia nos hospitais e pronto-atendimentos da Secretaria Regional de Desenvolvimento de Tubarão, classificados como essenciais segundo Ministério da Saúde (RENAME). Tipo de fármaco Muito Grande Grande Médio Pequeno Pequeno grande Vacinas e 1 (33,3%) 2 (66,7%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (66,7%) 3 (100%) Toxóides (3) Soros e 11(7,85%) 2 (14,3%) 0 (0%) 3 (21,4%) 1 (7,14%) 1 (7,14%) imunoglobulinas (14) Antialérgicos e 7(100%) 7(100%) 4 (57,14) 5(71,43%) 3 (42,8%) 5(71,43%) específicos para anafilaxia (7) Total (24) 19 11(45,8%) 4(16,67%) 8 (33,33%) 6(25%) 9(37,5%) (79,1%) A associação do porte dos estabelecimentos com a disponibilidade dos medicamentos para os casos em questão demonstrou que não há uma hierarquia no padrão de atendimento, e essa hierarquia está associada com o porte dos serviços. Assim, a população pode ser induzida a utilizar estabelecimentos com recursos inadequados à gravidade do seu caso, assumindo riscos desnecessários. Em relação ao atendimento médico, viu-se que estes nem sempre se sentem em condições favoráveis para o atendimento ao paciente intoxicado, seja por falta de preparo ou por carência na estrutura oferecida pelo estabelecimento (Gráfico 1). Portanto, mesmo os pacientes que conseguem ser atendidos em tempo hábil, podem ter um diagnóstico errado e por conseqüência, tratamento equivocado. Quando o paciente supera o tempo no transporte e a intoxicação é corretamente diagnosticada, ele ainda está sujeito ao risco da indisponibilidade do antídoto no serviço onde foi atendido. Gráfico 1: Posição do médico plantonista quanto ao atendimento a vítimas de intoxicação aguda na prática de urgência. 7 6 5 4 3 2 1 0 Atenderam casos Segurança pelos de intoxicação na conhecimentos urgência que possui Segurança pela infra-estrutura disponível no serviço 5 Conhece o CIT Sabe como entrar em contato com CIT Conclusão Uma alternativa para amenizar a insuficiência na atenção ao paciente em situação de risco de vida pelas diversas formas de intoxicação implica em vários passos: informação contínua e clara à população para prevenção de acidentes, melhor preparo dos profissionais da saúde no tema, e a elaboração de um sistema de comunicação entre os estabelecimentos para troca de antídotos e antagonistas conforme a demanda. A disponibilização de todos os fármacos necessários para o atendimento de casos de intoxicação em todos os estabelecimentos de saúde é uma utopia no nosso sistema de saúde. Mas até que ponto vale manter estoque de antídotos sem saber ao certo se serão utilizados ao menos uma vez antes de perderem a validade? No momento que aparecer um único caso necessitado, já se terá a resposta desta questão: em se tratando de uma vida, todo esforço é válido. Por conta disso, é importante definir fluxos e referências para o atendimento especializado das intoxicações agudas, estruturando uma rede hierarquizada e regionalizada que tenha padrões e limites estabelecidos pelo porte, a população de referência a localização regional. Bibliografia Brasil 2004. Ministério da Saúde. Portaria n° 777, de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde– SUS. CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS DE SANTA CATARINA - CIT – SC http://www.cit.sc.gov.br/estatisticas.php?pg_estatistica=Tabela1-N+Atendimentos-2007.htm. Acesso em 28/04/2008. IBGE. www.Ibge.gov.br. Acesso em 28/04/2008. OLSON, Kent R. et al. Poisoning & Drug Overdose. 5.ed. Austrália: Lange, 2007. RENAME – Relação Nacional de Medicamentos essenciais – Ministério da Saúde – http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=25295. Acesso em 13/01/2009. 6