CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração EVENTO: Seminário LOCAL: Auditório Nereu Ramos COMISSÃO DE FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO REUNIÃO Nº: 0440/14 DATA: 29/04/2014 INÍCIO: 09h52min TÉRMINO: 14h23min PÁGINAS: 90 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO GUIDO MANTEGA - Ministro de Estado da Fazenda. ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Presidente da Confederação Nacional da Indústria — CNI. MAURO BORGES LEMOS - Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. MONICA MESSENBERG GUIMARÃES - Diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria — CNI. RENATO BALDINI JUNIOR - Consultor no Departamento Econômico do Banco Central do Brasil. LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI - Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras — CNF. MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO - Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB. CLEBER UBIRATAN DE OLIVEIRA - Subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional. LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO - Economista e Diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais — ANBIMA. CLAUDEMIR RODRIGUES MALAQUIAS - Chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal do Brasil. SUMÁRIO Seminário Brasil Novo - Discussões para a Construção de uma Agenda Positiva no Congresso Nacional. OBSERVAÇÕES Seminário promovido pela Comissão de Finanças e Tributação em conjunto com as Comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania; de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e com a participação da Comissão Especial do Código Comercial. Houve exibição de imagens. Há uma palavra ininteligível. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O SR. APRESENTADOR (João) – Senhoras e senhores, bom dia. Inicia-se a cerimônia de abertura do seminário intitulado Brasil Novo — Discussões para a Construção de uma Agenda Positiva no Congresso Nacional. O evento tem o propósito de discutir com representantes do Governo e do setor produtivo as perspectivas da economia brasileira, buscando não somente a compreensão e análise de cenários, como também a busca de alternativas para enfrentar os obstáculos que ainda entravam o desenvolvimento socioeconômico do País. O seminário é uma realização da Comissão de Finanças e Tributação e conta com a participação da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e da Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Informamos a todos que este evento está sendo transmitido ao vivo na página da Câmara na Internet por meio da ferramenta WebCâmara, cujo endereço é www.camara.leg.br. Convidamos para compor a nossa Mesa de abertura o Sr. Presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Deputado Mário Feitoza (palmas); o Sr. Ministro de Estado da Fazenda Guido Mantega (palmas); o Sr. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, Deputado Vicente Candido (palmas); o Sr. Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados, Deputado Augusto Coutinho (palmas); o Sr. Presidente da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, Deputado Arthur Oliveira Maia. (Palmas.) Convidamos ainda o Sr. Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria — CNI, que neste ato estará representando as confederações. (Palmas.) Pedimos a todos que se coloquem em posição de respeito para a execução do Hino Nacional brasileiro. (Pausa.) (É executado o Hino Nacional.) (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Registramos a presença dos Deputados José Guimarães, Afonso Florence, Júlio Cesar, Jesus Rodrigues, Pedro Eugênio e Alfredo Kaefer. 1 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Tem a palavra o Sr. Presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Deputado Mário Feitoza, que, a partir deste momento, presidirá a Mesa de abertura. O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Exmo. Sr. Ministro da Fazenda Guido Mantega, que muito nos honra com sua presença hoje na abertura do nosso Seminário Brasil Novo; Exmo. Sr. Deputado Federal Vicente Candido, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania; Exmo. Sr. Deputado Augusto Coutinho, Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico; Exmo. Sr. Deputado Arthur Maia, Presidente da Comissão Especial do Código de Processo Civil; Exmo. Sr. Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria, aqui representando as demais confederações que representam os órgãos e entidades de classe do nosso País, primeiro, quero dizer que o Presidente Henrique Eduardo Alves faria a abertura, mas, por volta de 8 horas, S.Exa. ligou-me e disse que, diante de uma convocação para definição da pauta junto com o Palácio do Planalto, deverá chegar a qualquer momento. Em ano de eleições gerais os candidatos a Presidente e a Governador devem cumprir a legislação eleitoral. O art. 11, § 1º, inciso IX, exige que, no ato de registro das candidaturas, a ser feito até 5 de julho, cada candidato entregue suas propostas de Governo. Para começar um Brasil novo, alertamos todos os possíveis candidatos de que suas propostas devem estar prontas, no máximo, em 90 dias. O silêncio sobre o tema incomoda a Nação. Queremos o Brasil novo a partir dos compromissos firmados com a Nação, a partir dos respectivos planos de Governo dos candidatos a Presidente. Temas para agitar o debate. O Brasil novo é uma economia permanente de crescimento. Como fazê-lo nas visões dos presentes? O Brasil novo é acabar com a sonegação de impostos. Dados do SINPROFAZ indicam que a evasão fiscal, desde janeiro de 2004, chegou a 108 bilhões. Caso não houvesse a sonegação, o Custo Brasil poderia ser reduzido em 28,2 bilhões. Brasil novo é fortalecer a economia nacional. Brasil novo é reduzir o custo administrativo da Nação. Brasil novo é fortalecer e exigir a atuação intensa das agências reguladoras. Brasil novo é estimular o empresariado a entrar nas parcerias 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 público-privadas economicamente saudáveis. Brasil novo é reduzir a intervenção do Estado nas tarifas e custos de serviço. Brasil novo é proteger os setores da economia nacional que geram emprego e renda no País. Brasil novo é atuar nas rodadas do comércio internacional com foco no interesse da Nação. Brasil novo é evitar ações de risco em países por mero alinhamento ideológico. Brasil novo é evitar perdas internacionais para o nacionalismo e a encampação local de bens nacionais. Brasil novo é proteger o Governo contra a nomeação de pessoas, seus requisitos de competência, probidade e moralidade já atestados. Finalmente, Brasil novo, no nosso ver, é lembrar que as ruas de junho passado nos cobram coerência, propostas e soluções definitivas para os problemas de gestão de saúde, educação, transporte e segurança. Tendo em vista todo esse apanhado de dados que relacionamos sobre o que nós pensamos ser o Brasil novo, propus ao Presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, fazer um seminário diferente e chamá-lo de "Brasil Novo". Não que o tema venha modificar todo o encaminhamento que já fazemos na Câmara, mas vai torná-lo mais objetivo. Daí, resolvemos procurar os Presidentes das confederações brasileiras, alinhando cinco confederações: Confederação Nacional da Indústria — CNI, Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Confederação Nacional de Transportes, Confederação Nacional de Comércio e Confederação Nacional da Agricultura. Procuramos as Confederações para fazermos uma agenda e a elas dissemos: "Como este é um ano curto — e, em condições normais, teríamos 40 sessões da minha Comissão para deliberações — em razão das eleições, da Copa, etc., só teremos 28 sessões; então, vamos transformá-las em pontos positivos e objetivos e vamos dar celeridade". Eu diria que neste seminário "Brasil Novo" será a primeira vez que o Congresso ficará calado para escutar, e escutar as Confederações. Fomos muito bem recebidos pelo Robson, Presidente da Confederação Nacional da Indústria, que nos deu o principal aconchego na sua Confederação para trazermos os demais nobres membros das outras Confederações para construirmos uma agenda positiva. 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Dizia-me José Ricardo, Vice-Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, que a Confederação tem tramitando no Congresso aproximadamente 190 itens de seu interesse. Eu disse: "Dr. José Ricardo, vamos transformá-los em 3 ou 4, porque, se cada confederação apresentar 3 ou 4, nós vamos ter uma dúzia de objetivos bem claros e bem postos". Por isso, fomos ouvir o Governo e convidamos seis Ministros e alguns órgãos do Governo para também ouvir o que as confederações aqui estão pedindo ao Congresso. E o Congresso passa a ter alinhados os principais itens, os quais, objetivamente, vão constar de pauta a ser entregue ao Presidente Henrique Eduardo Alves, para que possamos dar celeridade e tentar buscar soluções. Muito obrigado a todas as autoridades presentes. Saúdo os colegas Deputados presentes, assim como os Senadores, os Prefeitos, os empresários e os alunos de Economia, Direito e Administração, que carinhosamente aceitaram nosso convite, que estão presentes e terão como parte de seus currículos a oitiva, nesta abertura, do nosso tão nobre Ministro da Fazenda Guido Mantega, a quem passo a palavra. Ministro, fiquei muito alegre de estar ao seu lado, porque eu nunca vi tanta luz e tanta câmera. Vou chamá-lo toda semana para vir aqui. Um abraço grande. Passo a palavra ao senhor. Obrigado a todos. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Queremos registrar a presença do Deputado Junji Abe, 1º Vice-Presidente da Comissão do Código Comercial. O SR. MINISTRO GUIDO MANTEGA – Bom-dia a todos. Quero cumprimentar o Deputado Mário Feitoza, Presidente da Comissão de Finanças e Tributação desta Câmara; o Deputado Vicente Candido, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania; o Deputado Augusto Coutinho, Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; o Deputado Arthur Oliveira Maia, Presidente da Comissão Especial do Código Comercial da Câmara dos Deputados; e o Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria. Quero cumprimentar todos os Parlamentares presentes e demais participantes deste seminário. 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Em primeiro lugar, quero dizer que é uma satisfação para mim participar deste Seminário Brasil Novo, discutindo ideias, problemas e propostas que todos nós temos que ter para continuar renovando o nosso País. Vou fazer uma rápida apresentação sobre as perspectivas da economia brasileira nos próximos anos. Quero começar dizendo que temos boas perspectivas de retomar um crescimento mais vigoroso na economia brasileira. A razão disso é que a crise internacional que afetou todos os países durante os últimos 5 anos está terminando. Ela está arrefecendo. Portanto, está abrindo as perspectivas para o início de um novo ciclo de expansão da economia mundial. (Segue-se exibição de imagens.) Trouxemos uma apresentação em Power Point. Nós podemos ver um mapa do mundo mostrando que 2013 foi um ano difícil para todos os países. Todos cresceram menos. Os que estão em vermelho são os países que cresceram menos de 2% em 2013. Em azul, os que cresceram mais de 2%. Vários países ainda têm taxas modestas. Os Estados Unidos, que já começam a se recuperar, mesmo assim tiveram um desempenho apenas razoável, 1,9%. O Brasil, ano passado, conseguiu uma taxa de 2,3%. É uma taxa bem inferior àquela com que nós estávamos acostumados antes da crise. Porém, ela é maior que a da maioria dos países do G-20. Em 2014, nós estamos prevendo uma melhoria em relação a essas taxas. Segundo a previsão do Fundo Monetário Internacional, devemos ter os Estados Unidos com um crescimento um pouco maior. De fato, os Estados Unidos dão sinais de que estão saindo com mais vigor desta crise. Este ano, poderão crescer 2,8, 3%. Portanto, trazendo dinamismo para a economia mundial. Porém, ainda a União Europeia está engatinhando; está saindo da crise forte que a acometeu. E as taxas de crescimento se tornaram positivas, o que já é uma boa notícia, porque, ainda ano passado, vários países tiveram taxas negativas de crescimento. A União Europeia está começando uma retomada, recuperando aquilo que perdeu durante a crise. Os países emergentes estão também se recompondo. Mesmo os grandes países, China e Índia, aqueles que têm as maiores taxas de crescimento mundial, 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 também estão, digamos, se adaptando a um patamar menor de crescimento, porém ainda expressivo, em torno de 7 e 5%, respectivamente. Portanto, os emergentes estarão sempre crescendo acima dos países avançados. Porém, por enquanto, a taxas mais modestas em função da falta de dinamismo da economia mundial. O comércio internacional, maior termômetro da atividade econômica, não se recuperou ainda e está crescendo a taxas modestas. Isso dificulta a retomada do crescimento dos vários países. Ano passado os emergentes passaram por uma turbulência importante, principalmente após o Federal Reserve, ou Fed, que é o banco central americano, ter anunciado a redução dos estímulos monetários que tem praticado com a economia americana. Então, a partir de maio, houve uma mudança nos fluxos de capitais. Capitais foram em direção aos Estados Unidos para poder aproveitar dos rendimentos maiores que os treasures estavam possibilitando, e essa movimentação de capitais levou a uma desvalorização cambial na maior parte dos países emergentes. Então, houve desvalorização cambial, necessidade de adaptação das políticas, elevação de taxa de juros em vários países e, sobretudo, houve uma perda de confiança, o que eu chamaria de "mau humor" do mercado em relação aos países emergentes nesse período. Volatilidade nas bolsas também houve, com desvalorização de algumas. Esse estado de coisas, essa situação, essa turbulência perdurou até janeiro deste ano, quando se tornou um pouco mais forte, porque, finalmente, o Fed começou, de fato a realizar a redução dos estímulos. A partir de dezembro, aquele banco começou a retirar 10 bilhões de dólares do estímulo que estava dando. Então, isso causou mais uma comoção nos mercados, e alguns apressados decretaram a decadência dos países emergentes. Eu fui para Davos em janeiro deste ano e lá a tônica era a crise dos países emergentes, ou a crise dos BRICS. Essa era a perspectiva. Felizmente, a partir de fevereiro esse cenário mudou: o mercado se acomodou à atuação do Fed, a essa nova atuação com redução de estímulos, e a partir daí voltou a haver uma certa calmaria no mercado internacional, e os fluxos de capitais voltaram para os emergentes. 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, caíram por terra todas aquelas teorias que diziam que os emergentes iriam agora passar por dificuldades, que iriam ter períodos de baixo crescimento. Houve uma reversão dessas expectativas, os fluxos de capitais voltaram para os emergentes e passou a haver uma valorização das moedas dos emergentes. Aquelas que tinham se desvalorizado passaram a se valorizar, jogando por terra algumas teorias que foram improvisadas nesse período. Por exemplo, houve a tese dos cinco frágeis ou a tese dos cinco países frágeis, que seriam cinco países emergentes que estariam sofrendo mais as consequências dessa retirada dos estímulos, e o Brasil estaria entre eles. Bom, essa tese era equivocada e ela foi desmentida pela valorização do câmbio que ocorreu nesses países a partir de fevereiro. Então, aqui na tela nós temos quanto foi a valorização das moedas nos últimos três meses. Então, podemos ver que o real é a moeda que mais se valorizou nos últimos três meses. Valorizou-se mais de 8% e, portanto, voltou ao patamar anterior a essa turbulência. Assim também a lira turca e a rúpia da Indonésia. Enfim, as principais moedas dos emergentes passaram a ter uma valorização. Então, a tese caiu por terra, e nós, contrariamente a essa tese dos frágeis, podemos dizer que o Brasil é um País sólido e bem preparado para enfrentar esse tipo de turbulência. Isso pode ser observado pela atratividade do Brasil a investimento externo direto. O ingresso de capitais no Brasil, mesmo naquele período difícil, não parou de acontecer. O investimento externo direto continuou entrando no País. O investimento externo direto é aquele feito pelas empresas que vêm investir no Brasil. Portanto, não é capital especulativo, é capital de boa qualidade. E nós podemos ver pelo quadro que está aí que o investimento direto externo está, há alguns anos, no patamar de 65 bilhões de dólares. É aquilo que está entrando no Brasil nesses anos. E, se nós pegarmos de janeiro a março deste ano, veremos que continuamos com o mesmo fluxo forte de investimento externo direto para o País. Já são 4 anos consecutivos em que nós estamos com este patamar, que é um dos maiores do mundo. O Brasil tem sido terceiro, quarto ou quinto País a receber mais investimento externo direto no mundo. Em primeiro lugar, sempre vêm 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 a China e os Estados Unidos, naturalmente. Em seguida vêm outros países. E o Brasil está sempre entre os países que mais recebem. Portanto, há confiança no Brasil. Essas empresas que vêm para o Brasil são aquelas que confiam em que o País vai continuar crescendo, vai continuar tendo um mercado consumidor adequado e com condições sólidas para enfrentar situações de estresse na economia internacional, como esta que nós vivemos. Um dos fatores mais importantes para definir a solidez do Brasil é o volume de nossas reservas internacionais. Então, nós podemos ver que, hoje, temos a quinta maior reserva do mundo: são mais de 370 bilhões de dólares. Isso é uma das razões da força do Brasil, da solidez do Brasil para enfrentar essa turbulência que ocorre quando nós temos períodos de crise, que são, em geral, turbulências de fluxos de capitais, de desvalorizações cambiais. Com esses recursos, com essas reservas, é muito difícil que ocorram ataques especulativos contra o Brasil. Além disso, a nossa dívida externa é relativamente pequena, aproximadamente 320 bilhões de dólares, sendo que o exigível a curto prazo, ou seja, a dívida externa de curto prazo — aquela que você tem que pagar, que você precisa arranjar os recursos para pagar — é uma das menores entre os países do G-20. Pouco mais de 10% dessa dívida externa de 320 bilhões é exigível no curto prazo. Portanto, o Brasil está numa situação bastante confortável em relação a recursos, reservas, etc. Nesse período de crise, qual foi o desempenho da maioria das economias? A maioria das economias teve um crescimento baixo ou até ficou estagnada. Isso pode ser visto nessas curvas. São curvas de crescimento dos países do G-20. Nós podemos ver o crescimento acumulado de 2008 até 2013, que é o período de crise. Então, o que aconteceu? Na parte de baixo do gráfico, nós vemos as economias que não cresceram, que tiveram um crescimento baixo. Quando você tem um número de 91%, como é o da Itália, quer dizer que aquele país teve um crescimento negativo de aproximadamente 8%, e assim por diante. Outro exemplo: o Reino Unido, que agora tem um crescimento um pouco melhor, acumulando-se o percentual até 2013, teve um negativo de 2%. Portanto, não cresceu praticamente nada. 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 E na parte de cima do gráfico nós temos os países que mais cresceram. O destaque sempre será China e Índia, com um crescimento maior. Nós vemos que a China acumulou um crescimento de 66,7% nesse período e que a Índia cresceu 43,2%. E o Brasil aparece em sexto lugar, como o sexto país que mais cresceu no período da crise: crescemos 17,7%. Portanto, para um período de crise, não está mal. Não é o que nós desejaríamos; todo mundo deseja crescer mais. Porém, crescemos 17,7%, que foi exatamente o que a Coreia, considerada um país dinâmico, moderno, cresceu nesse período, acima de uma série de vários outros países que tiveram um crescimento mais modesto. Portanto, não foi, digamos, um crescimento desprezível; foi um crescimento bastante razoável, tendo em vista a crise que acometeu a economia mundial. Nós podemos ver melhor o desempenho do PIB brasileiro ao longo do tempo. Está nesse gráfico assinalado aí que, no período antes da crise, nós estávamos crescendo, de 2003 a 2007, a uma taxa média de 4%, uma boa taxa de crescimento, portanto. Mas, a partir da crise, essa taxa se reduziu, e nós tivemos um desempenho de 3,1% de crescimento médio no período da crise, portanto até acima do crescimento que o País vinha percebendo no período anterior. Tem gente que faz essa análise: nós estávamos crescendo a 5%, 6%, 7%. É verdade, estávamos crescendo a essas taxas, mas antes de começar a crise. Depois, com a crise, você tem dificuldades de manter essa taxa de crescimento, porque você não consegue exportar, a concorrência fica mais renhida. Então, com isso, nós passamos a ter taxas de crescimento menores. A perspectiva, daqui para frente, com a retomada da economia internacional, a retomada do comércio, a expansão das atividades mundiais, é de que se crie uma sinergia entre os países e se abra a possibilidade de você voltar a taxas de crescimento maiores. Evidentemente, esse não é um processo rápido, é um processo lento, porque os países, principalmente os avançados, onde foi o epicentro da crise internacional, ainda têm vários problemas para resolver. Então, eles estão resolvendo os seus problemas e, devagarinho, vão conseguindo ter um desempenho melhor. 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 É por isso que as nossas projeções para os próximos anos ainda são relativamente moderadas, essas projeções que estão aí, um crescimento de 2,3% para 2014; 3% para 2015 e 4% para 2016, 2017. É claro que, se houver uma recuperação mais rápida da economia mundial, então, nós poderemos ter um desempenho melhor do que esse que está aí proposto. Mas esta é uma perspectiva realista que temos para a economia brasileira nos próximos anos. O importante a assinalar é que, mesmo com taxas de crescimento menores, nós temos cumprido talvez a que seja a função econômica mais importante, a geração de empregos. Eu acho que não tem valor mais importante em um País, não tem objetivo mais importante para a política econômica do que gerar empregos para a população brasileira. E esse objetivo tem sido cumprido com bastante eficiência nos últimos anos. Nós podemos ver aí que, nós últimos 11 anos, houve uma geração de emprego formal no País, formalizada, de mais de 20 milhões de empregos. Nós nunca tínhamos tido esse desempenho na geração de empregos. Isso foi conseguido no período anterior ao início da crise, e, mesmo depois de iniciada a crise, nós continuamos gerando esse volume de empregos importante. Eu diria que nós praticamente absorvemos todo o exército de reserva de mão de obra que o País tinha. Aquelas margens de desemprego que se mantinham, que eram crônicas, praticamente — o Brasil tinha um nível de desemprego de 11%, 12% que se mantinha —, esse desemprego acabou, e nós absorvemos a mão de obra disponível na economia brasileira. Mesmo quando a economia passou a crescer menos, mesmo nos anos mais difíceis da crise, nós conseguimos gerar empregos, o que não é trivial, porque nós sabemos que, nos outros países, foram gerados grandes contingentes de desempregados e que ainda continuam existindo. Também, nesse período, a política econômica conseguiu contribuir para a redução das desigualdades sociais e a redução da pobreza. O objetivo da política econômica é melhorar a qualidade de vida da população, é reduzir as desigualdades, e isso foi conseguido. Nós podemos ver aí a redução da pobreza que se deu nesse período. Mesmo no período de crise a pobreza continuou sendo reduzida, de 35% para 16%, também na contracorrente do que aconteceu na economia mundial, em que mesmo os países desenvolvidos tiveram concentração 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 de riquezas e aumento das desigualdades. Então, o Brasil é um dos poucos países que, nesse período, conseguiu reduzir as desigualdades e produzir uma ascensão dos segmentos de mais baixa renda. Podemos ver que a nossa taxa de desemprego foi indiferente à crise. Ela vem caindo e continuou caindo como se crise não houvesse nos últimos 5 anos. Portanto, eu diria que esse é um dos indicadores de eficiência da política econômica. Nós podemos ver, por exemplo, na zona do euro até hoje o desemprego está crescendo, não caiu até agora. Nos Estados Unidos, a situação é um pouco melhor, o desemprego já está caindo num período mais recente. Neste período todo, nesses últimos anos, nós estamos construindo no Brasil algo que não havia: um estado de bem-estar social. Esse estado de bem-estar social significa a ascensão das camadas mais pobres da população, a constituição de uma grande classe média. Em 2002, 37% da população brasileira estava nessa categoria de classe média, de classe de renda média, vamos chamar assim, e no início de 2014 nós já temos 60% da população brasileira nessa categoria. Ou seja, houve uma ascensão dos segmentos de renda D e E, dos segmentos de renda baixa, portanto, para esses patamares de renda maior, e hoje nós temos quase 120 milhões de brasileiros que estão nessa categoria. Portanto, com esse poder aquisitivo, que lhes dá as condições de terem acesso a benesses de bens e de serviços mais qualificados. Para que o Brasil possa ter tido essa trajetória durante a crise, para que o Brasil possa ter mantido taxa de crescimento e desempenho social bastante satisfatório nesse período, foi preciso manter os fundamentos sólidos da economia brasileira. Sem fundamentos sólidos, nós não teríamos, por exemplo, feito políticas anticíclicas que fizemos durante esse período. Sr. Presidente, eu já estou ultrapassando o meu tempo? O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Vou conceder a V.Exa. mais 2 horas de prorrogação. O SR. MINISTRO GUIDO MANTEGA - Quanto? O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Duas horas! (Risos.) O SR. MINISTRO GUIDO MANTEGA - Duas horas! (Riso.) Muito obrigado, Sr. Presidente. 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, foi importante manter os fundamentos sólidos. Se nós não tivéssemos uma situação fiscal sólida quando a crise se iniciou, nós não poderíamos ter feito as políticas anticíclicas que mitigaram a crise e reverteram aquele estado que seria natural, caso deixássemos a crise se implantar no País, com a redução da atividade econômica, com o aumento do desemprego, com a redução de investimentos, enfim, com a paralisia da nossa economia. Então, os senhores podem ver que, nos últimos 15 anos, temos feito um superávit primário bastante satisfatório para os padrões internacionais. Nós podemos afirmar que o Brasil é um dos países que faz o maior superávit primário entre os maiores superávits primários dos países. Somos o segundo maior superávit primário dos países do G-20, inclusive agora, no período de crise, quando tivemos que reduzir o superávit primário para poder fazer a política anticíclica. O Estado teve que usar uma parte de recursos para injetar ânimo na economia, e, com isso, durante esse período de crise, é natural que nós fizéssemos um resultado primário menor; embora menor, ainda assim um resultado primário satisfatório, para manter a redução da nossa dívida líquida. Portanto, mesmo no período de crise, nós continuamos reduzindo a nossa dívida líquida. E agora que consideramos que a crise está acabando, que não há mais necessidade de estímulos econômicos, com os países reduzindo os estímulos, nós poderemos ambicionar um superávit primário gradualmente maior, ao longo do tempo, de modo a manter a nossa solidez fiscal. Este é o compromisso do nosso Governo. Para 2014, o nosso compromisso é realizar o superávit primário de 1.9 — e posso garantir-lhes que vamos fazê-lo —, e para os próximos 3 anos nós estamos trabalhando com um superávit de 2,5%, algo perfeitamente exequível, porque havendo uma recuperação maior da economia, havendo um crescimento maior, teremos também uma arrecadação maior, combinada com o controle de gastos, que tem que ser permanente no Governo. Com a colaboração do Parlamento, que tem nos ajudado em não aprovando projetos que impliquem aumento de gastos — foi muito importante esse pacto que firmamos com o Parlamento, no ano passado, de não aprovar projetos de aumento de gastos —, nós conseguiremos cumprir as metas fiscais que estão aí estabelecidas. 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Nós podemos observar aqui qual é o resultado desse desempenho fiscal na nossa dívida. Os senhores podem verificar — aí em roxo — que nós temos uma redução permanente da dívida líquida, caminhando para os 30%, o que é bastante razoável para o País. E mesmo a dívida bruta, que não considera as reservas, nós também estamos numa trajetória de declínio para os próximos anos. Outro fundamento muito importante para o País é o controle da inflação. Não podemos abrir mão do controle da inflação, porque o aumento da inflação é deletério principalmente para os trabalhadores brasileiros, diminui o seu poder aquisitivo, portanto deteriora as condições de vida. E pelo fato de a inflação prejudicar toda a atividade econômica é que o Governo tem tido um empenho total para impedir que ela ultrapasse os limites estabelecidos. De acordo com o que está neste quadro, nós temos cumprido à risca os limites estabelecidos pelas metas de inflação. Há 10 anos consecutivos que nós não ultrapassamos o limite superior das metas de inflação, que é de 6,5%, e assim continuaremos. Este ano também será assim, não vamos ultrapassar, procurando sempre criar condições para que a inflação seja a menor possível no País. É verdade que nos últimos anos tivemos alguns fatores que trabalharam no sentido oposto. Por exemplo, em 2012 e 2013, nós tivemos uma desvalorização do real. Essa desvalorização do real, que pode até beneficiar os setores exportadores, traz uma inflação adicional: quando aumenta o valor do dólar, significa que os produtos que estão sendo importados custam mais caros. Então, com o real desvalorizado — e ele se desvalorizou aproximadamente 35% em 2012 e 2013 —, nós tivemos uma pressão inflacionária adicional em torno de 0,5% a cada ano. Então, a inflação seria menor de 0,5% se não tivesse havido essa pressão. Além disso, nesse período, também tivemos uma pressão no caso de commodities. O preço das commodities, principalmente commodities de alimentos, tem subido bastante nos últimos tempos, o que, diga-se de passagem, é bom para o Brasil, porque o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities; é um dos países mais produtivos, o que mais aumenta a produção e exportação de commodities. Então, do ponto de vista da balança comercial, dos produtores 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 brasileiros, do setor agrícola, é positivo, faturam mais. Porém, isso traz alguma pressão inflacionária. Nós tivemos também o que se chama choque de oferta de alimentos. Ou seja, tivemos seca nos Estados Unidos, 2 anos atrás, com escassez de grãos. Nós faturamos com isso, porque nós produzimos mais e exportamos mais. Mas o preço dos grãos subiu, o preço da soja, o preço do milho, etc. Então, isso causa uma pressão inflacionária. Este ano, tivemos uma pressão inflacionária adicional por causa da falta de chuva nesse início de ano, o que afetou algumas safras agrícolas — pouca coisa, nada importante, não vai prejudicar a safra desse ano. Nós vamos continuar batendo recorde de safra agrícola esse ano, mas afetou alguns hortifrutigranjeiros, e, portanto, também houve uma pressão inflacionária nesse momento, em março e parte de abril, de modo que a inflação — conforme pode ser visto — teve uma elevação. Mas a boa notícia é que nós já estamos na descendente desse processo inflacionário. Ou seja, são preços que sobem rapidamente, mas depois também caem rapidamente com a recomposição da oferta. Então, nós já estamos com a redução dessa pressão inflacionária, de modo que, nos meses de maio e junho, a inflação estará num patamar bem mais baixo do que está hoje. Quais são as forças dinâmicas do nosso desenvolvimento? Quais são as prioridades da nossa política econômica que vão conduzir o País a taxas e crescimentos maiores, aos desenvolvimentos social e econômico do País nos próximos anos? Eu diria que a principal força de expansão neste momento é o investimento. Nós temos que considerar que há vários problemas para resolver no País. O País tem resolvido problemas, porém continuamos tendo problemas e desafios que têm que ser enfrentados. Um dos nossos problemas é a nossa infraestrutura. O Brasil cresceu muito nos últimos anos, a demanda por infraestrutura cresceu muito. Só para os senhores terem ideia, o nosso comércio exterior, que 10 anos atrás estava por volta de 120 bilhões de dólares — esse era o nosso movimento de comércio —, hoje está próximo dos 500 bilhões de dólares. Isso significa que nós estamos exportando e importando muito mais produtos, muito mais mercadorias. Isso, portanto, cria uma demanda sobre os portos, sobre os aeroportos, sobre as estradas, as ferrovias e tudo mais. 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, nós temos a necessidade de aumentar muito a nossa oferta de infraestrutura, senão ela se torna um gargalo para o nosso crescimento. Portanto, a prioridade número um é aumentar os investimentos em infraestrutura no País; aumentar os investimentos de construção civil, fazendo mais habitações, mais estradas, etc.; aumentar os investimentos dos setores estratégicos — energia elétrica, petróleo e gás, setores estratégicos da economia brasileira. Então, a prioridade número um seria, eu diria, aumentar o volume dos investimentos de modo a aumentar essa oferta para a qual já existe uma demanda assegurada. Portanto, é um bom negócio investir num produto que já tenha demanda assegurada. Em segundo lugar, investir no aumento da produtividade e na inovação. O Brasil carece de inovação. Temos que aumentar muito as inovações no País — no setor privado e no setor público — e aumentar a produtividade da economia brasileira. É fundamental, portanto, investimentos em capital humano: educação. O aumento dos investimentos em educação para a qualificação maior da mão de obra brasileira. Além disso, continuar expandindo o mercado interno. Nós temos já um mercado interno significativo, um dos maiores do mundo. Ele cresce, porque o emprego continua crescendo, a massa salarial continua crescendo. Portanto, ele vai continuar crescendo tão logo volte o crédito. Nós estamos hoje com o crédito escasso para consumo. Temos crédito abundante para investimento, mas temos crédito escasso para consumo. Tão logo o crédito para consumo seja reimplantado, nós teremos um avanço melhor do mercado interno. Temos que ocupar mais o mercado externo, portanto, dar capacidade às empresas para exportarem mais, serem competitivas no exterior, e temos que continuar mantendo a geração de empregos, questão fundamental, e o estado do bem-estar que está implantado. Qual é a dinâmica do investimento no País? Às vezes, eu ouço análises superficiais que dizem: "Não, o Brasil só apostou no consumo e não apostou no investimento. A política econômica é uma política que só se foca no consumo e não no investimento." 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, queria dizer que isto é um equívoco. Eu estou mostrando as taxas de crescimento do investimento no Brasil. Os senhores poderão ver ali em vermelho o desempenho do investimento nos últimos 11 anos. O que aconteceu? Ele cresceu em média 6,1% nesse período; e nós aí estamos compreendendo também o período de crise. Se nós olharmos, antes de começar a crise, até 2008, o investimento crescia fortemente; em 2006, cresceu quase 10%; em 2007, 13.9%; e em 2008, 13.6%. Portanto, o investimento era uma prioridade, estava crescendo. A crise naturalmente derrubou o investimento. Mas em 2010 foi um dos países que mais cresceu em investimento, mais de 21%; depois, nesse período mais recente, o investimento foi mais fraco. Ano passado o investimento cresceu 6,2%. Foi um excelente desempenho. Poucos países tiveram crescimento de investimento dessa magnitude. É claro, excluindo a China e a Índia, que têm taxas muito elevadas de investimentos, poucos foram os países que tiveram crescimento dessa magnitude. O que se espera para viabilizar esse novo ciclo de crescimento da economia brasileira é que o investimento aumente a sua média de 6.1 para 7% nos próximos 10 anos, que é o necessário que temos para manter uma taxa mais elevada, para que possamos ter esse aumento de infraestrutura e os demais investimentos do País. Se nós olharmos uma comparação do investimento com o aumento do consumo, e nós temos aí um quadro que mostra o consumo das famílias versus investimento, podemos ver que o consumo das famílias tem crescido ao longo do tempo, porém o investimento tem crescido mais, que é o que deve ser mesmo. O investimento deve crescer mais do que o consumo das famílias, de modo que haja um aumento da oferta maior do que o aumento do consumo. Portanto, essa equação está satisfatória. Justamente para fazer frente a essa falta de infraestrutura que temos no País e para dar condições para que o País continue crescendo a taxas maiores, o Governo lançou em 2012 um grande programa de infraestrutura, um grande programa de concessões de infraestrutura, que já está sendo posto em prática. É um programa de quase 700 bilhões de reais e implica investimentos a serem realizados nos próximos anos. Esses investimentos já começaram a ser feitos. Eles 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 vão modernizar a infraestrutura do País, vão modernizar a logística do País. Já está em curso — rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia elétrica, petróleo e gás. Só na área de petróleo e gás, quero mencionar que a PETROBRAS, sozinha, está investindo mais de 40 bilhões de dólares por ano. Ano passado a PETROBRAS investiu 48 bilhões de dólares, equivalente a 107 bilhões de reais. O plano de investimentos deste ano é maior ainda do que o do ano passado. Ele está se realizando plenamente. Nós o fiscalizamos mês a mês. Está ocorrendo plenamente esse plano de investimentos. Os demais setores também estão cumprindo esse programa de investimentos. Claro que nós vamos ter que acrescentar novas concessões a essas que estão aqui colocadas. Nós temos que desenvolver projetos e ampliar... Na área, por exemplo, de energia elétrica, grandes hidrelétricas já estão sendo construídas, algumas serão finalizadas em breve. Nós temos que continuar nessa trajetória de modo que o Brasil tenha uma das melhores infraestruturas do mundo. Eu diria que esse programa de concessões de infraestrutura que nós temos aqui é um dos maiores do mundo. Poucos países, neste momento — à exceção da China e da Índia, sempre trago essa exceção — possuem planos de investimento dessa magnitude em elaboração. Quero falar um pouco de investimento em educação. Nós estamos vendo aí as dotações do Ministério da Educação em valor nominal e em valor real. Graças inclusive aos senhores que estão aqui presentes, e vejo representantes do comitê de educação aqui na minha frente, nós triplicamos os recursos do Ministério da Educação nesse período de 11 anos. Provavelmente foi uma das dotações que mais subiu ao longo do tempo, o que mostra o compromisso e a prioridade que nós temos com educação. É fundamental melhorar a educação no País. Nós tivemos um atraso de mais de 50 anos em educação. Investiu-se pouco em educação no passado e nós temos agora que recuperar esse tempo perdido, fazendo em 5 anos o que não fizemos em 50 anos. Portanto, nós vamos, além dos recursos que já estão sendo destinados à educação, ter mais os royalties do pré-sal que irão aumentar a dotação para a educação. 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Embora o crescimento tenha sido menor, como nós tínhamos absorvido a mão de obra disponível, continua faltando mão de obra qualificada no País, o que é um excelente problema; ruim seria se não houvesse demanda por mão de obra. Esse é um bom problema: ainda falta mão de obra qualificada no País. Esse problema aumentou curiosamente por um dos reflexos desse estado de bem-estar social. Como a condição da família brasileira melhorou, como a renda da família melhorou, os filhos dessas famílias estão estudando por mais tempo. Eles estão fazendo faculdade, e, portanto, não estão indo ao mercado trabalho, estão demorando mais para ir ao mercado de trabalho. Isso causou uma escassez momentânea de mão de obra no mercado de trabalho. Mas isso será sanado tão logo todas essas novas levas de estudantes — nós aumentamos muito as vagas no ensino básico, superior etc. —, estejam ingressando no mercado de trabalho. O Governo promoveu um grande programa, o PRONATEC, um programa de qualificação do trabalhador, em conjunto com as confederações do setor privado. O Parlamento aprovou o PRONATEC, que já tem hoje, aproximadamente, 6 milhões de trabalhadores sendo qualificados. Até o final deste ano, teremos 8 milhões de trabalhadores sendo treinados. São cursos de 1 ano. De modo que nós teremos uma oferta maior de trabalhadores qualificados na economia brasileira, aumentando a produtividade dessa mão de obra, e, portanto, aumentando a eficiência da economia brasileira. Para terminar, queria mostrar qual é a evolução da renda per capita do País. Nós podemos ver que a renda per capita crescia muito pouco no passado. A partir de 2003, ganhou velocidade, e cresceu, nos últimos 11 anos, cerca de 29%. É um crescimento bastante razoável, e nós temos que criar as condições para que ela continue crescendo nos próximos 10 anos a uma taxa parecida ao que cresceu nesse período. As condições existem! Isso significa que o padrão de vida da população brasileira vai continuar melhorando, vai continuar aumentando e nós poderemos dizer que estamos conseguindo cumprir com os nossos objetivos da política econômica. Muito obrigado (Palmas.) 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O SR. APRESENTADOR (João) - Queremos registrar a presença do Sr. Marcus Vinícius Furtado Coêlho, Presidente do Conselho Federal da OAB; Deputado Laercio Oliveira, da Comissão de Código Comercial; Deputada Rosane Ferreira, Deputado José Humberto; e Deputado Eduardo Cunha, Líder do PMDB. O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Ministro, na hora em que V.Exa. disse que iria contar com o Congresso, para que não aprovasse nada que prejudicasse o superávit, foi exatamente a hora em que o Deputado Eduardo Cunha chegou, porque esse é o compromisso dele com a bancada: “Não vão aprovar nada para atrapalhar a vida do Mantega, só queremos somar!” Esse é o compromisso do PMDB, não é Ministro Afonso Florence? Estou passando às mãos do Ministro Mantega uma cartilha que foi preparada pelo Presidente antecessor João Magalhães, que diz os procedimentos da Comissão de Finanças. Nada que Paulo Caffarelli, com 5 minutos, não fique doutor com essa cartilha, porque ele é craque. Eu já passei à Caixa Econômica Federal, para Márcio Percival, que já sabe, e ao Fabinho Cleto, que também já sabe tudo dessa cartilha. Eles me cobram tudo da Comissão de Finanças por telefone. Passo às mãos de V.Exa. (Procede-se à entrega da cartilha.) Obrigado, Ministro Mantega, pela exposição e pela atenção com o Congresso Nacional, com a Comissão de Finanças e Tributação. Agora eu já senti que as portas estão abertas lá com o Caffarelli. Todo o mês eu vou lá tomar um cafezinho e chamar V.Exa. vir aqui. No dia 14 V.Exa. virá aqui e teremos umas perguntinhas. Hoje é só fotografia e maravilha. Muitíssimo obrigado pela sua presença. Passo a palavra para Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria — CNI, que representa as Confederações, por 10 minutos. O SR. ROBSON BRAGA DE ANDRADE - Agradeço a V.Exa. por ter aumentado o meu tempo, porque havia falado para eu falar só por 3 minutos, e agora está me dando 10 minutos. Eu queria cumprimentar todos os Parlamentares aqui presentes, em especial o Deputado Mário Feitoza, Presidente da Comissão, que muito nos honra com esse 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 convite para participar deste encontro; o Deputado Vicente Candido, que é Presidente da Comissão da Comissão de Constituição e Justiça; o Deputado Augusto Coutinho, Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico; o Deputado Arthur Oliveira Maia, Presidente da Comissão Especial da Câmara dos Deputados; e o Ministro Guido Mantega, é um prazer também encontrá-lo aqui. Eu queria também fazer um cumprimento especial ao Luiz Carlos Trabuco Cappi, Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras - CNF, e ao Roberto Nogueira Ferreira, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo — CNC, que me honraram, cedendo-me aqui a participação nesta Mesa inicial dos trabalhos. Mas eu queria dizer, Presidente, Deputado Mário Feitoza, que nós nas confederações, na indústria, no comércio, nas finanças, na agricultura, temos nos reunido constantemente, para discutir as dificuldades da economia, as dificuldades que todas as empresas e os setores têm enfrentado neste momento no Brasil e nas questões internacionais. E temos discutido também a questão do ambiente de negócios que tem dificultado o desenvolvimento, o crescimento das empresas, os investimentos e, muitas vezes, tem trazido uma percepção de que o País tem dificuldades de crescer e tem dificuldades de avançar. E nessas discussões nossas, principalmente, a preocupação maior este ano, por ser um ano eleitoral, é a de que as coisas ficariam muito concentradas nas discussões dos candidatos aos diversos cargos políticos. Essas discussões também são uma oportunidade para nós apresentarmos sempre as nossas propostas, os nossos projetos que entendemos necessários para que o País possa avançar. Por outro lado, nós não podemos ficar parados. A economia não pode ficar parada, e as empresas precisam que as coisas avancem, que o mercado avance e que medidas sejam tomadas. Então, nós tivemos uma agradável surpresa, quando fomos convidados pelos senhores a nos reunir para discutir aquilo que a Câmara e que o Congresso Nacional poderiam fazer este ano ainda, para mudar o perfil deste ambiente de negócios, a fim de aprovar rapidamente alguns projetos, algumas medidas, dando uma sinalização para a economia e para o mercado de que as legislações, os 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 projetos, as discussões não estavam paralisadas, mas que tendiam, pelo contrário, a avançar e avançar até de uma maneira mais célere. Entre nós, entre as Confederações, nós discutimos todos os projetos. Como o Sr. Deputado Mário Feitoza mencionou, a CNF tem mais de 190 projetos que são identificados como projetos que estão no Congresso Nacional e que são de importância para o setor das finanças. A CNI tem uma agenda legislativa com 120 projetos fundamentais que precisam ser tratados este ano ainda, para que a gente possa, por um lado, ter mais segurança e, por outro lado, melhorar algumas condições exatamente deste ambiente de negócios. Todas as discussões que nós temos mantido são voltadas para a melhoria da competitividade das empresas brasileiras e do Brasil. Nós temos tido muita dificuldade de comparar a competitividade do País e dos setores produtivos brasileiros com outros países. E, quando nós fazemos essa comparação, nós estamos sempre ficando numa posição de muita desvantagem, principalmente, quando, no mercado mundial, no comércio internacional, existe realmente uma guerra pelos investimentos, pelo posicionamento do mercado, pelas exportações. É uma guerra que tem envolvido não só as empresas, mas tem envolvido os governos. Os governos hoje, como a gente tem visto, por exemplo, na questão da indústria automobilística, quando eles fazem denúncias à OMC com relação ao setor automobilístico no Brasil, isso é uma forma de os Governos europeus manterem os empregos na Europa e de fazer com que a Europa não perca empregos para outros países, como o Brasil, nos investimentos do setor automobilístico. E isso tem acontecido, de maneira geral, em todos os setores. Nós temos questões que são fundamentais e que têm que ser discutidas, não só as questões tributárias. Quando V.Exa. fala de não aumentar os gastos públicos, nós ficamos muito satisfeitos, mas gostaríamos também de ver uma redução nas receitas, nos impostos. O Ministro sempre tem falado nos incentivos, nas isenções que foram dadas, mas as empresas têm tido sempre uma cobrança maior exatamente desses tributos, e muito da burocracia brasileira tem aumentado bastante o custo das empresas. Então, esses projetos que nós discutimos entre nós, e chegamos a apresentar para os senhores, vão fazer parte hoje desta discussão, a partir de agora, sobre 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 estes temas, nos diversos painéis, nos grupos de trabalho. E a nossa expectativa é a de ver isso avançando. Em alguns casos, nós temos enfrentado grandes inseguranças jurídicas, como no caso da legislação tributária, com a edição de medidas como NR 10, NR12 e outras questões trabalhistas. Muitas vezes, a gente vê que a Justiça e as próprias Delegacias do Trabalho têm assumido o papel do Parlamento na questão de legislar e de promulgar legislações que acabam comprometendo a eficiência e o trabalho das empresas sem trazer nenhum benefício para o trabalhador. Muitas vezes, a economia do País é prejudicada sem que ninguém esteja ganhando absolutamente nada com isso, porque o trabalhador não ganha, as empresas perdem e eu acho que o País perde muito. Então, essas questões que serão discutidas aqui hoje, eu tenho certeza de que poderão fazer com que a gente realmente avance, traga alguns projetos que possam avançar este ano e, certamente, alguns projetos que não devem avançar este ano. Nós estamos participando, com muito entusiasmo, dessas discussões. E esperamos que a gente saia daqui hoje com propostas bastante necessárias, próprias e que realmente tenham condições de ser implementadas em um ano eleitoral. Muito obrigado pela participação, pelo convite e por este trabalho, este seminário importante que está sendo realizado aqui hoje. Obrigado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Registramos também a presença da Deputada Federal Iriny Lopes. O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Agradeço ao Sr. Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria, as palavras. E agora, como eu já concedi 10 minutos ao Presidente Robson e eram só 3 minutos, vou caçar 1 minuto de cada um dos meus colegas: vou dar 2 minutos para o Deputado Vicente, 2 minutos para o Deputado Augusto e 2 minutos para o Deputado Arthur. O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Eu vou presidir a outra Mesa. O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - O Deputado Vicente já retirou os seus 2 minutos, porque vai presidir a próxima Mesa. 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O SR. DEPUTADO AUGUSTO COUTINHO - Eu também retiro a minha inscrição. O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Esse pessoal está bom demais com a gente aqui. Com a palavra o Deputado Arthur Oliveira Maia, por 2 minutos. O SR. DEPUTADO ARTHUR OLIVEIRA MAIA - Eu ganho os 2 minutos do Deputado Augusto e os 2 minutos do Deputado Vicente? (Risos.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Não, Deputado Arthur. (Risos.) Só quero lembrar que o Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras já fez o dever de casa, já leu a cartilha, já mandou o Dr. José Ricardo vir se reunir comigo, e já decorou toda a cartilha. Esse é um Presidente eficiente, o nosso Presidente do Bradesco, uma das maiores instituições do nosso planeta. Com a palavra o Deputado Arthur Oliveira Maia, por 2 minutos. O SR. DEPUTADO ARTHUR OLIVEIRA MAIA - Meu caro Presidente Mário Feitoza; meu caro Ministro Guido Mantega — é um prazer muito grande receber V.Exa. aqui na nossa Casa —; meu caro Presidente Robson Andrade; meu caro amigo e Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Vicente Candido; meu caro amigo Augusto Coutinho; minhas senhoras, meus senhores; meus colegas Deputados; quero saudar todos na pessoa do nosso Líder do PMDB, o Deputado Eduardo Cunha. Sr. Presidente, Sr. Ministro, a motivação desta reunião foi justamente criarmos aqui na Câmara uma agenda positiva que pudesse contribuir com a economia nacional, modernizando os setores, facilitando as relações da produção e do trabalho e, ao mesmo tempo, ajudar o Governo, porque sabemos que, quando a economia vai bem, isso, com certeza, facilita, e muito, a vida do próprio Governo. Dentro dessa lógica, nós elencamos vários projetos que consideramos importantes. E eu queria fazer menção muito rápida a dois deles. O primeiro, naturalmente, é o da Comissão que eu presido, a Comissão do Código Comercial, que traz uma série de facilitações para as relações de comércio e que é um projeto que vai, com certeza, contribuir grandemente para que as relações de comércio 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 sejam mais ágeis, tenham mais segurança jurídica e possam ser menos custosas. E já estamos entrando na fase de votação do relatório final aqui na Câmara, o que, com certeza, será uma contribuição importante para a economia brasileira. Mas eu também queria me referir a um projeto de lei polêmico, do qual sou Relator, mas, definitivamente, é um problema que o Brasil tem que enfrentar. Refirome ao Projeto de Lei nº 4.330, a chamada Lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. No ano passado, quando essa lei estava muito próxima de ser votada, nós tivemos uma reunião no Palácio do Planalto, onde o Ministro Gilberto Carvalho fez um apelo para que nós fizéssemos uma Mesa quadripartite, da qual participaram, além deste Deputado, como representante da Câmara; grande parte do setor produtivo nacional; quase todos os sindicatos; e sete Ministérios, inclusive o Ministério de V.Exa. Conseguimos chegar muito perto da produção de um texto que consolida essa tentativa de darmos uma normatização às relações de trabalho terceirizado no Brasil. Sem dúvida, todo o empresariado e esta Casa reconhecem isso, esse é um dos problemas mais dramáticos que vive a economia brasileira. Resta, de um lado, a insegurança jurídica, porquanto, ao se criar, não por esta Casa, mas pelo Tribunal Superior do Trabalho, um conceito de atividade-meio e de atividade-fim, criou-se uma nomenclatura que nem o mais renomado e mais qualificado jurista sabe definir o que seja um e outro. Isso tem gerado como consequência, de forma reiterada, o julgamento das relações de contratação de terceirizado como sendo de atividade-fim e tem feito com que as empresas sejam constantemente multadas. Quanto à PETROBRAS, a notícia que nos chega é a de que, no ano de 2011, foi multada em cerca de meio bilhão de reais em assuntos referentes a multas por contratações terceirizadas consideradas ilegais pela Justiça. Por outro lado, como não há normatização — e há uma exigência para que a empresa funcione como terceirizada —, temos visto de maneira continuada que os trabalhadores têm seus direitos lesados, não pelas empresas que têm responsabilidade, mas por aqueles que, aproveitando-se da inexistência da normatização, utilizam a lacuna da lei para fazer a inadimplência das obrigações trabalhistas. 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, naturalmente, eu compreendo que uma lei dessa natureza e dessa importância só será aprovada nesta Casa se houver também boa vontade do Governo, para que nós possamos fazer essa redação. Nesse sentido, faço um apelo para V.Exa. que conhece bastante o tema: contamos com o apoio do Governo para dar uma posição definitiva sobre esse assunto, que já se arrasta nesta Casa há mais de 10 anos e é de extrema necessidade para o nosso País. Era o que tinha a dizer. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Eu vou passar às mãos do Ministro Guido Mantega um trabalho muito bem feito pelo Deputado Júlio Cesar, do nosso Piauí, vizinho do meu Ceará. Trata-se do livro Brasil e o Mundo em Dados Comparados, que faz uma comparação em valores absolutos, relativos e per capita dos continentes, dos países, do Brasil, das regiões, dos Estados e Municípios. Júlio Cesar é o nosso Google, é o Deputado que tem todos os números e todos os dados. O Deputado vai fazer a entrega pessoalmente. (Pausa.) (Procede-se à entrega do livro.) Eu vou colocar a palavra à disposição do Ministro Guido Mantega a palavra, se quiser responder ao Presidente Robson e ao Deputado Arthur Oliveira Maia, por 2 ou 3 minutos, e se despedir, porque eu já vou liberá-lo. Com a palavra o Ministro Guido Mantega, para suas considerações finais. Mas, se V.Exa. quiser, pode ficar até o final da tarde com a gente, Ministro. O SR. MINISTRO GUIDO MANTEGA - Deputado, gostaria muito de permanecer aqui durante o dia todo para poder discutir e aprender com os senhores este tema que estamos abordando. Queria apenas dizer que nós vamos analisar o Código, essa proposta do Deputado Arthur Oliveira Maia, com toda a seriedade possível. Depois, vamos ajudar para ver se é possível a sua aprovação. Queria agradecer a oportunidade de ter vindo aqui nesta ocasião. Aguardarei os resultados deste seminário que vão nos ajudar nas nossas tarefas e nos nossos desafios. 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Queria agradecer a V.Exa. por ter permitido a minha participação aqui. Estou à disposição para outro seminário desta natureza. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Mário Feitoza) - Encerrando esta primeira Mesa de abertura, eu vou agradecer a todos que fizeram parte dessa abertura. Passo a palavra ao Presidente Vicente Candido, da Comissão de Constituição e Justiça, para comandar os trabalhos a partir do primeiro evento. Obrigado a todos. Vamos à primeira etapa do nosso Seminário. Obrigado, Ministro. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Comunicamos a todos que dentro de instantes daremos prosseguimento aos trabalhos deste Seminário. (Pausa.) Dando seguimento aos trabalhos deste Seminário, convidamos para tomar assento à mesa e compor esta Mesa nº 1 os Srs. expositores Mauro Borges Lemos, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior — MDIC; Sr. Luiz Carlos Trabuco Cappi, Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras — CNF; Sra. Monica Messenberg Guimarães, Diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria — CNI; Sr. Renato Baldini Júnior, Consultor no Departamento Econômico do Banco Central do Brasil; Sr. Marcus Vinicius Furtado Coêlho, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil — OAB; Senadora Kátia Abreu, Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA. Registramos a presença também do Sr. Otacílio Dantas Cartaxo, Presidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda. Neste momento, passamos a coordenação dos trabalhos ao Deputado Vicente Candido. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Bom dia a todos e a todas. Agradeço a todos a presença, a participação, a colaboração, bem como aos Ministros, que colocaram suas agendas à nossa disposição, e aos nossos palestrantes nesta Mesa da manhã. Dando prosseguimento, o nosso acordo regimental é que cada expositor fale por volta de 15 minutos. Depois, teremos o comentário do Marcus Vinicius Coêlho, 26 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, entidade da qual tenho a honra de ser membro. Vamos fazer um acordo para decidir quem começa a falar. Acho que, pela hierarquia, o Ministro de Estado abrirá os trabalhos. Concedo a palavra Sr. Mauro Borges, Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O SR. MINISTRO MAURO BORGES LEMOS - Bom dia a todos! Prezado Deputado Vicente Candido, Presidente da CCJC; prezados Deputados e Senadores aqui presentes; eu gostaria de cumprimentar a Senadora Kátia Abreu, Presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA; Luiz Carlos Trabuco Cappi, Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras — CNF; Monica Guimarães, nossa prezada Diretora de Relações Institucionais da CNI; Renato Baldini Junior, consultor do Departamento Econômico do Banco Central; Otacílio Dantas Cartaxo, Presidente do Conselho de Administração de Recursos Fiscais; Marcus Vinicius Furtado Coêlho, comentarista desta Mesa e Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Eu gostaria de ser bastante sucinto na minha exposição, para ter a oportunidade de ouvi-los. Esta Casa é extremamente inovadora do ponto de vista de formulação de políticas públicas. E evidentemente que este Seminário é um momento de fertilização cruzada de ideias do setor privado, do setor público e do Congresso Nacional. Então, é muito bom que a gente possa ter também oportunidade de ouvir. Além de falar, é muito importante ter um retorno desta Casa sobre as questões consideradas fundamentais para o desenvolvimento do Brasil. Primeiramente, eu gostaria de fazer um breve pano de fundo sobre o período de transição que nós estamos vivendo na economia e na indústria brasileira, entendendo onde estamos nessa profunda crise que ocorreu nos países desenvolvidos em 2007/2008. Primeiro, vou fazer uma conta aritmética. A gente sabe que a Grande Depressão de 29 durou 10 anos. Os países centrais saíram da crise com o início da Segunda Guerra Mundial. O ano de 1939 foi um período crítico, o momento crítico da Grande Depressão foi em 1929. Quer dizer, foi um período de 10 anos de crise profunda nas economias centrais. A Segunda Guerra Mundial foi, através do seu 27 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 vetor, a indústria bélica, um elemento de investimento crítico para a saída da Grande Depressão. A gente conhece bem essa história. Quero só fazer essa aritmética: nós estamos hoje no sexto ano da crise, nós estamos em 2014, temos 6 anos de crise mundial. Se fizermos uma pequena continha, nós estamos a 4 anos para completar 10 anos de crise, a maior crise que a economia mundial já vivenciou em sua história. Então, aquele foi um período muito grave e que nós, Brasil, conseguimos sobreviver. Esse é o primeiro aspecto que eu gostaria de enfatizar. Nós somos um dos poucos países que saímos relativamente ilesos dessa crise. Vou fazer uma representação figurativa aqui. É como se nós tivéssemos passado por uma enorme tormenta — na esquadra dessa enorme tormenta, nós somos um dos grandes navios —, em que obviamente nós sofremos avarias sérias, mas nós não fomos afundados, e o nível de avaria permite que nós continuemos navegando. Muitos foram, na verdade, definitivamente afetados por essa crise. Há países, por exemplo, Espanha e Portugal, que vão demorar anos e anos para a recuperação dos efeitos dessa crise. Quer dizer, esses navios efetivamente naufragaram durante a crise. Nós não naufragamos. Ao contrário, o Brasil, do ponto de vista do que foi a dimensão dessa crise, saiu sem entrar em recessão. O Brasil teve uma recessão tática em 2009; em 2010 nós tivemos um crescimento econômico de padrão chinês e a média do crescimento posterior a isso foi uma média pequena, mas em nenhum momento a economia brasileira nem a indústria brasileira entraram em crise. Se olharmos particularmente para alguns segmentos, como o nosso agronegócio, é o contrário. Felizmente, o nível de competitividade do agronegócio brasileiro não foi alvejado nesse período. Nós temos diversos problemas do Custo Brasil que afetam a competitividade do agronegócio, mas o agronegócio, em termos de lavoura e chão de fábrica, continua intacto, um setor altamente competitivo. A gente saiu relativamente bem da crise, mantendo o nível de emprego. Poucos países nesse período conseguiram manter uma economia próxima a pleno emprego. O Brasil é um país inteiramente fora da curva nesse sentido. Então, olhando para esse horizonte, nós somos um país bastante privilegiado. A gente conseguiu organizar uma política anticrise, anticíclica, como o nosso Ministro Guido 28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Mantega deixou claro na abertura deste Seminário, e a gente tem condições estruturais para estar muito bem posicionado no novo ciclo de expansão da economia mundial. Essa é a questão fundamental, como é que você se posiciona no novo ciclo de expansão. O Brasil, fazendo de novo comparação com a Grande Depressão de 1929, saiu extremamente bem da Grande Depressão. Para vocês terem ideia, já em 1934, quer dizer, 5 anos depois da crise, a economia brasileira era das economias com maior taxa de crescimento da economia mundial. O Brasil saiu rapidamente da Grande Depressão e se posicionou diferentemente a partir daí na economia mundial, inclusive se tornando uma potência industrial. O Brasil é o país que tem a matriz industrial mais consolidada, que tem cadeias produtivas mais desenvolvidas, mais adensadas, olhando para o mundo dos países emergentes, tirando a China, que teve um processo de industrialização extremamente exitoso, um país inteiramente fora da curva, pela própria dimensão continental da economia chinesa. Poucos países, mesmo incluindo os países asiáticos, tiveram um desempenho industrial no pós-guerra tão exitoso como o Brasil. O País tem um patrimônio industrial extremamente importante, o que, inclusive, viabilizou setores que eram a nossa origem, o setor agrícola e o setor mineral. A industrialização da agricultura, nós sabemos, foi um dos grandes vetores do crescimento e da economia brasileira do século XXI, que é a que nós temos hoje. Isso a gente não pode esquecer. Esse é o primeiro ponto para o qual eu queria chamar a atenção. Estamos terminando um período de transição, a economia mundial está iniciando os primeiros passos para um novo ciclo de expansão, tudo indica que esse novo ciclo de expansão da economia mundial não vai ter a pujança do ciclo anterior, do início dos anos 2000. Quer dizer, possivelmente não teremos um grande vetor de crescimento que a China cumpriu naquele período. A taxa de crescimento chinesa nesse novo tipo de expansão vai ser menor do que na expansão anterior, e nós não temos nenhum outro grande vetor de investimento no mundo ou uma grande inovação radical que aponte para uma taxa de crescimento muito exitosa. Esse é um cenário importante, do ponto de vista do que vem à frente, para a economia brasileira, uma vez que as perspectivas da economia mundial são de um 29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 processo de recuperação relativamente lento, com taxas de crescimento relativamente menores do que o ciclo anterior. Mas, sem dúvida, avizinha-se um novo ciclo de expansão, e nós temos que estar preparados para estar muito bem posicionados nesse novo ciclo de expansão. O segundo aspecto para o qual eu queria chamar a atenção é que, na verdade, pensando nesse novo ciclo de expansão, nós temos algumas questões bem endereçadas que nos capacitam a estar mais bem posicionados nesse novo ciclo de expansão. Eu acho que uma das questões-chaves para isso é que a gente endereçou muito bem o que está escrito na Constituição de 1988, que é a construção do Estado de bem-estar social no Brasil. Apesar de todas as dificuldades que todos aqui conhecem muito bem, nós conseguimos enfrentar o grande desafio de ter um Estado de bem-estar social, com todas as dificuldades de se construir um Estado de bem-estar social nesse período, que é muito diferente do que os países europeus fizeram logo após a Segunda Guerra Mundial. As condições materiais e objetivas são inteiramente distintas, e o Brasil endereçou bem isso aí, não só do ponto de vista estrutural de uma mudança radical na desigualdade social e eliminação da pobreza — nós demos passos fundamentais para isso —, como também do ponto de vista de direitos da cidadania. Hoje nós temos um Sistema Único de Saúde e um sistema gratuito público e universal na educação que poucos países de nível de desenvolvimento equivalente ao do Brasil têm. Nós temos dificuldades nesses dois campos? É claro que temos, e listaríamos aqui com facilidade esses problemas. Uma vez um interlocutor me questionou, por exemplo, a respeito do SUS — Sistema Único de Saúde brasileiro. Ele falou: “É, mas a gente tem muita fila, tem muitas vezes falta de remédio”. E listou alguns problemas. Eu respondi da seguinte forma: “Com certeza nem falta de remédio nem fila vai haver no México, por exemplo, pegando uma economia também grande, a segunda economia latinoamericana, logo depois do Brasil”. Não tem. Por que não tem? Porque lá não tem Sistema Único de Saúde, lá não tem um Estado de bem-estar social. A pobreza no México, por exemplo, aumentou na última década. Enquanto a gente reduziu, o México aumentou a pobreza. A desigualdade no México aumentou. 30 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Nós temos endereçado tanto a questão da saúde e a da educação como a questão da desigualdade. Quer dizer, são três questões que colocam, na verdade, uma possibilidade de o Brasil se consolidar como um país de classe média. Essa é uma questão importante. Hoje é possível vislumbrar o Brasil com as condições objetivas de consolidar uma sociedade de classe média — a gente pode virar uma middle class society —, o que poucos países conseguem num tempo tão curto como esse. Então, essa é uma boa questão, que traz enormes problemas do ponto de vista de desafio. Quer dizer, nós não estamos saindo de desafios, nós estamos entrando em novos desafios. Tem-se um grande risco nesse sentido, que é a armadilha da classe média. Vários problemas que nós temos hoje, ligados, por exemplo, à questão da mobilidade humana, à questão da violência, são problemas que nós temos que enfrentar para nos consolidar como um país de classe média. São desafios importantes. O nosso desafio não é mais as questões básicas de direitos sociais, como educação, saúde e renda mínima. Essas questões estão bem endereçadas, mas temos que avançar. Com relação à educação, nós temos o problema da qualidade, mas temos recursos para isso. Está sendo direcionada uma parte substantiva dos royalties do pré-sal para a educação, e do excedente de petróleo que nós vamos ter na produção. Isso é um fator de enorme conforto do ponto de vista de endereçar o problema da qualidade, além do problema da cobertura em educação. Nós temos problemas em diversas áreas, como mobilidade urbana, e temos programas estruturados para isso. Acho que esse é o caminho; ele é demorado, mas vai acontecer. Puxando a questão para o meu lado, da minha Pasta, eu gostaria de chamar a atenção aqui para como a gente trabalha duas questões: de um lado, a política industrial e, do outro, a política comercial. Do lado da política industrial, não tem jeito de pensar a política industrial nesses novos tempos que estão vindo a não ser olhando para os novos vetores de crescimento da economia brasileira. O Brasil fez uma política industrial na transição para evitar que o País entrasse em recessão. Nós tivemos instrumentos importantes do ponto de vista de redução do custo do trabalho, redução do custo do capital, desenvolvimento de cadeias produtivas, 31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 através de regimes especiais tributários. Esse foi o direcionamento claro da política industrial nesse período de transição. No período que está colocado à nossa frente, a questão da política industrial que eu considero chave é como aproveitar a grande janela de oportunidade do investimento das grandes infraestruturas que começou a ocorrer no Brasil. Quer dizer, o Brasil tem que transformar essa fronteira de investimentos em infraestrutura de transporte, logística, infraestrutura energética — petróleo e gás é uma ponta de lança, mas há um conjunto de energias renováveis também nesse vetor de investimento. Então, a questão é como aproveitar esse grande espaço de investimento em infraestruturas no Brasil para fazer política industrial, como todo país sempre fez. Nós não devemos ter vergonha de fazer política industrial a partir das infraestruturas. Os Estados Unidos se desenvolveram — é o país que é — baseados numa infraestrutura fundamental, num vetor fundamental de desenvolvimento, que é a indústria bélica. Essa é a base, a trajetória tecnológica americana, desde que os Estados Unidos se tornaram uma potência mundial, a partir do início do século XX. Então, usar a infraestrutura como instrumento de política industrial me parece o grande desafio para a economia brasileira hoje, porque isso dá perenidade à base econômica brasileira. Fazer o investimento em infraestrutura sem estar conectado com a consolidação da produção industrial e dos serviços correlatos aqui no País significa que nós vamos ter uma grande oportunidade, vamos criar uma infraestrutura importante para o País, o que vai reduzir o Custo Brasil, mas, ao mesmo tempo, não vamos dar um salto na nossa base industrial. Para dar um salto na base industrial, nós temos que ligar uma coisa com a outra: o vetor de expansão da economia, do investimento em infraestruturas, e a política industrial. Eu acredito que essa é uma questão importante que nós devemos endereçar. A segunda questão importante é como aproveitar esse novo ciclo de crescimento da economia mundial do ponto de vista da política comercial brasileira, que está inteiramente ligada ao que eu falei anteriormente, que é uma política industrial que viabiliza um salto de produtividade na indústria brasileira. Nesse sentido, ela tem que estar conectada com as infraestruturas e com a inovação tecnológica. 32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, o que é o ponto aqui da política comercial? Nós estamos entrando numa fase de dar um passo à frente no processo de aprofundamento da integração comercial e produtiva do Brasil com o mundo. É evidente que isso é uma questãochave. O Brasil hoje tem um nível de comércio internacional que o coloca entre as 20 maiores economias do ponto de vista do comércio internacional. Nós somos a sétima economia mundial em termos de PIB, e do ponto de vista de comércio nós estamos entre as 20 maiores. A corrente de comércio do Brasil é próxima a meio trilhão de dólares, ou seja, 500 bilhões de dólares. Essa corrente de comércio tem uma escala altamente significativa, poucos países a têm, só que, para esse novo ciclo de expansão, para o Brasil se colocar competitivamente no novo ciclo de expansão de uma forma bem localizada nas cadeias de produção mundial, nós temos que dar um salto na integração comercial com o mundo. O Brasil tem que aproximar a posição dele no ranking da economia mundial à posição dele no ranking do comércio mundial. Nós temos que trazer essa posição em torno do 20º lugar para algo próximo à posição que a gente ocupa hoje, que é de 7º lugar na economia mundial. Isso significa um enorme esforço de integração comercial brasileira. Quer dizer, é uma mudança extremamente importante no aprofundamento da economia brasileira nas cadeias globais de produção. Isso significa, em particular, aprofundar dois vetores da política comercial: o vetor da integração comercial, enquanto tal, e o vetor da integração produtiva. No vetor da integração comercial, nós temos o primeiro desafio à nossa frente, imediato, que é o acordo comercial com a União Europeia. Esse é um desafio fundamental. Nós estamos caminhando para fechar um acordo com um bloco comercial que é um dos três maiores do mundo e também é um dos três maiores blocos comerciais do Brasil. A União Europeia está entre os três maiores blocos de comércio que nós realizamos com o mundo. Nesse sentido, esse acordo comercial é estratégico para a economia brasileira. Para aprofundar a integração comercial com o mundo, o acordo com a União Europeia é fundamental. Esse acordo tem hoje um nível de maturidade muito alto, e nos cabe consolidar esse acordo para que esse aprofundamento dê 33 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 continuidade. Nós temos várias oportunidades de aprofundamento comercial e tecnológico com os Estados Unidos. O Presidente da China virá aqui, para uma reunião importante dos BRICS, logo após a Copa do Mundo. Essa é uma grande oportunidade para o aprofundamento da relação comercial com os BRICS, particularmente com a China, mas a União Europeia é uma oferta que está na nossa mão. Ela nos dará a credencial para a continuidade do processo de abertura da economia brasileira. A nossa economia já é relativamente aberta, com um volume de comércio de 500 bilhões de dólares. A questão não é mais de opção, se nós vamos ter uma política comercial aberta ou não; já é fato consumado que o Brasil está integrado à economia mundial. Uma economia de 500 bilhões de dólares de comércio não é mais opção de país — isso já está decidido —, a questão é como aprofundar isso aí. Nesse sentido, o acordo com a União Europeia é vital. O Brasil liderou o processo de estruturação da oferta do MERCOSUL para a União Europeia, e está havendo hoje uma reunião técnica para os últimos detalhes da oferta do MERCOSUL. Nós estaremos prontos para fazer a troca de ofertas no final do mês de maio ou início do mês de junho; o Brasil, junto com os parceiros do MERCOSUL, estaria preparado para fazer essa oferta com a União Europeia. Isso vai ter significado, em termos de ganhos de escala e competitividade para a economia brasileira, muito grande para essa nova fase comercial da economia brasileira. Outro aspecto para o qual eu gostaria de chamar atenção é que o Brasil também tem que caminhar fortemente para a integração produtiva. É parte da política comercial brasileira uma integração produtiva com os países vizinhos e, particularmente, com a África. Nós temos já fortes vínculos de investimento com a África e, no caso dos países da América Latina, nós temos acordos de complementaridade econômica com todos os países importantes da América Latina, inclusive com países pequenos, todos os países que importam. Se nós pegarmos Peru, Colômbia, Chile, México, além dos países do MERCOSUL, verificaremos que temos acordo de complementaridade econômica com todos os países. O que a gente deve fazer é acelerar esses acordos — o ideal para o Brasil seria que, a partir de 2016, nós estivéssemos já cursando uma zona de livre comércio com toda a América do Sul — e iniciar um processo definitivo de acordo 34 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 comercial com o México que vá além do acordo de complementaridade econômica atual, que é apenas no setor automotivo. Nós temos todas as condições para fazer isso. Esse seria um passo importante no processo de integração produtiva. Não vejo outro caminho para o Brasil aprofundar a integração comercial com os vizinhos a não ser através da integração produtiva — é a complementaridade econômica — que viabilize que os países vizinhos também se desenvolvam e, nesse sentido, o volume de comércio se amplie com os vizinhos. Nós nunca podemos ter um jogo querendo só aumentar superávit comercial com os países vizinhos. Isso a Europa nos mostrou que não funciona. Quer dizer, funciona se você viabiliza que esses países também aumentem o seu volume de comércio, de tal forma que a integração produtiva se desenvolva. Esse é o único mecanismo sustentável de aprofundamento comercial com os vizinhos, não simplesmente superávit comercial. Então, esse eu diria que é o segundo vetor fundamental da política comercial brasileira. Um vetor seria a integração com os grandes players mundiais, que é o que nós estamos fazendo com a União Europeia, e um segundo, com os vizinhos. Esse eu acho que seria hoje um desafio extremamente importante da economia brasileira, que evidentemente não está desvinculado de aumentar a competitividade da indústria brasileira. Nós temos que ter uma política industrial ativa, aprofundar a política industrial que já está em curso, no sentido de aproveitar as oportunidades de investimento que estão se iniciando no País. Nós vamos ser uma das grandes fronteiras de investimento em infraestrutura do mundo, e essa é uma oportunidade para poucos. Temos oportunidade que poucos países têm. A gente nunca pode esquecer isso. Complexo de vira-lata é a pior coisa para o País. Nós somos um país continental, não podemos esquecer isso. A nossa dimensão coloca desafios muito maiores do que a da grande maioria dos outros países. Nós não somos à toa a sétima economia do mundo. E os desafios estão colocados. O importante é que eles sejam endereçados conjuntamente: setor público, setor privado e Congresso Nacional. Essa parceria, esse consenso nacional é fundamental para a gente enfrentar com sucesso os novos desafios. Muito obrigado. (Palmas.) 35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Obrigado ao Ministro e Professor Mauro Borges. Neste pequeno intervalo da transição da palavra, o Deputado Júlio César está pedindo que agendem o lançamento do livro O Brasil e o Mundo em Dados Comparativos no dia 21 de maio. Cadê o Deputado Júlio César, para dizer o horário? (Pausa.) Ele deve depois mandar o convite com o horário. O lançamento se dará aqui na Casa, no dia 21 de maio. Quero registrar a presença do Prefeito Cido Sério, de Araçatuba, São Paulo. Acho que ele está representando os prefeitos do Brasil, porque é o único que vi aqui. Se mais algum prefeito estiver aqui, que se apresente, para que a gente anuncie a presença. Neste momento, ele está representando os 5.550 prefeitos do Brasil. O Dr. Cartaxo acho que teve que sair. Ele participaria da Mesa conosco. Marcus Vinicius, foi embora o Dr. Cartaxo? (Pausa.) Teve que se retirar. Na linha da indústria, da provocação da fala do Ministro Mauro Borges, vou passar a palavra à Sra. Monica Messenberg Guimarães, Diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria — CNI, que está representando o Presidente Robson Braga de Andrade, que teve de se retirar porque hoje é dia de uma reunião nacional com os Presidentes das Confederações dos Estados. Passo a palavra à Sra. Monica por até 15 minutos. A SRA. MONICA MESSENBERG GUIMARÃES - Bom dia a todos! É um prazer estar aqui. Em nome da CNI, agradeço a oportunidade. Gostaria de cumprimentar o Ministro Mauro Borges; o Deputado Vicente Candido; o Deputado Mário Feitoza; a Senadora Kátia Abreu; o Dr. Trabuco, aqui representando o Presidente da CNF; o Dr. Marcus Vinicius Coêlho, da OAB; e o Dr. Renato Baldini Junior, do BACEN. É com grande prazer que a CNI participa deste evento, que acreditamos ser de importância estratégica neste momento. E, nesse sentido, gostaria de colocar que a prioridade da agenda institucional da CNI é a elevação da competitividade da indústria e, consequentemente, da economia brasileira. Isso motivou a elaboração do relatório Competitividade Brasil: comparação com países selecionados, publicado pela primeira vez em 2010 e, novamente, em 2012 e 2013. 36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O potencial competitivo da economia brasileira foi avaliado em função da posição relativa do Brasil diante de 14 diferentes países com os quais competimos no mercado internacional. Em 2013, ocupamos a 14ª posição entre os 15 países avaliados, ficando à frente apenas da Argentina. Na comparação com o ranking de 2012, a classificação do Brasil é praticamente a mesma. Contudo, em 2013, foi incluída na análise uma nova nação, a Turquia, e a posição brasileira caiu do 13º para o 14º lugar. Entre os oito fatores que fazem com que o Brasil passe a ocupar essa posição, destaca-se a disponibilidade de custo de capital e o ambiente macroeconômico. No primeiro caso, saímos do último para o penúltimo lugar, ultrapassando a Argentina, devido sobretudo à redução da taxa de juros, o que já faz parte de um cenário do passado. No fator ambiente macroeconômico, o Brasil subiu da última para a décima posição, em razão da desvalorização cambial, em que perdemos posições em disponibilidade e custo de mão de obra; infraestrutura e logística; tecnologia e inovação; e ambiente microeconômico. Em resumo, o ambiente é hostil à atividade empreendedora. São problemas já amplamente diagnosticados, mas, nem por isso, resolvidos até então. O que estamos necessitando fazer agora? O Congresso Nacional tem grandes desafios para manter o crescimento econômico e atender aos anseios da sociedade. A cada dia, aumenta a percepção de que o desenvolvimento sustentável depende fundamentalmente da criação de condições favoráveis ao investimento na atividade produtiva. É preciso garantir competitividade às empresas, possibilitando a oferta de produtos e serviços a preços acessíveis ao consumidor, além da geração de mais e melhores empregos. Vale concentrar-se em alguns dos desafios e objetivos que se destacam na agenda maior de nossas preocupações: tributação, ambiente institucional e as relações trabalhistas. Em razão do elevado peso dos impostos e da complexidade do Sistema Tributário Nacional, a indústria rejeita proposta que implique novo aumento da carga tributária ou a criação de tributos, por mais meritórios que sejam os objetivos. Há necessidade de um sistema mais simples, com redução do número de tributos e 37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 ampliação da base contributiva, que diminua o peso excessivo da carga tributária e a burocracia nela embutida. Esse é um dos motivos que fazem com que a CNI apoie o PL nº 6.530, de 2009, em discussão na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, que institui o crédito financeiro de IPI e do PIS/COFINS. A iniciativa é recebida de maneira positiva pelo setor industrial, já que a introdução do crédito financeiro no PIS/COFINS e no IPI corrige uma das principais distorções do Sistema Tributário Nacional. Além do Brasil, apenas o Haiti e a Costa Rica adotam o sistema de crédito físico, no qual não se permite a utilização dos valores recolhidos ao longo da cadeia produtiva referentes à aquisição de bens e serviços que não integrem diretamente o processo produtivo. O sistema de crédito físico gera perda de competitividade das exportações e menor tributação efetiva sobre importações em relação ao produto nacional, bem como aumento de custos na apuração e no recolhimento dos tributos, contribuindo fortemente para o desestímulo ao investimento voltado para a exportação. Deve-se considerar também que a maior complexidade do sistema de crédito físico aumenta os custos com a estrutura responsável pela apuração dos tributos e os riscos de não conformidade no valor recolhido, o que implica elevadas multas. O estudo O Custo de Arrecadação de Tributos Federais, apresentado na Universidade de São Paulo — USP, apontou que, nas empresas de capital aberto, o custo de conformidade para o recolhimento de tributos corresponde, em média, a 0,75% do valor adicionado por elas. O projeto permite, ainda, a compensação de saldos credores de tributos federais com débitos na Previdência Social, equacionando, dessa forma, outro problema enfrentado pelas empresas, notadamente as exportadoras, que é o acúmulo de saldos credores de tributos federais. Vale lembrar que o Governo Federal estima em 19 bilhões de reais o estoque de créditos tributários federais mantidos pelas empresas. Considerando a taxa de juros para capital de giro em 24,4% ao ano, o custo de manutenção desse saldo credor é de 4,6 bilhões de reais por ano para as empresas. 38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Quanto ao ambiente institucional, destaco o Projeto de Lei Complementar nº 381, de 2014, que foi recentemente aprovado no Senado Federal. O projeto uniformiza em todo o Território Nacional, no âmbito das administrações tributárias da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, normas gerais sobre o processo administrativo fiscal. A proposição é muito similar ao Decreto nº 70.235, de 1972, que rege atualmente o processo administrativo fiscal federal e ainda traz para a lei algumas normatizações constantes do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais — CARF, com a possibilidade de emissão de súmulas de entendimentos consolidadas. A justificativa do projeto é elucidativa e destaca o objetivo principal da proposta: instituir normas gerais para o processo administrativo fiscal, de modo a disciplinar a garantia constitucionalmente assegurada aos litigantes nesses processos ao contraditório e à ampla defesa e a assegurar uniformidade de procedimentos e prazos com todas as Unidades da Federação. Conforme salientado pelo autor da proposta, Senador Vital do Rêgo, do PMDB da Paraíba, existe atualmente uma grande distorção entre as diversas legislações existentes no âmbito dos entes federativos, especialmente no que diz respeito a diferentes recursos postos à disposição do sujeito passivo, prazos diversamente estabelecidos e adoção de critérios diferenciados. A existência de várias normas regulando a matéria prejudica o andamento das demandas e acarreta custo adicional para os contribuintes, notadamente as empresas. Elas precisam manter equipes jurídicas especializadas, orientadas para cada um dos diversos ritos esparsamente distribuídos por União, Estados, Municípios e Distrito Federal, ampliando as seguranças jurídicas das empresas nacionais. Finalmente, outra matéria importante em tramitação no Congresso Nacional para assegurar a competitividade da indústria brasileira agora se refere à questão trabalhista. É o PDC nº 1.408, de 2013, de autoria do Deputado Silvio Costa, que susta os efeitos da NR-12, editada pelo Ministério do Trabalho e Emprego — MTE. O objetivo da última alteração da NR-12, ocorrida em 2010, foi alinhar o padrão brasileiro de segurança em máquinas e equipamentos adotados nos países europeus — perfeito. O resultado, infelizmente, foi uma norma com grau de exigência superior a de seus paradigmas, com a inserção de regras para a 39 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 fabricação de máquinas e equipamentos, e além disso apresentando alto grau de subjetividade, o que possibilita diversas interpretações, criando ambiente de instabilidade. A NR-12 não faz distinção entre a empresa que utiliza e o fabricante da máquina, obrigando o usuário a observar as mesmas exigências impostas aos fabricantes nacionais e aos importadores. Nesse aspecto, destaca-se a cautela adotada pela União Europeia, que possui dois regulamentos distintos, para tratar da segurança dos trabalhadores no uso das máquinas e equipamentos e para tratar da produção desses equipamentos. O regulamento denominado Diretivas de Máquinas traz obrigações específicas para fabricantes e comerciantes, e o segundo, Diretivas de Equipamentos de Trabalho, estabelece obrigações para a empresa usuária da máquina. No cenário mundial, nenhuma outra técnica institui obrigações para máquinas ou equipamentos já instalados, como no caso brasileiro, que, como consequência, fez com que as empresas nacionais entrassem na ilegalidade sem terem feito absolutamente nada. Não foi estabelecida uma linha de corte temporal para atendimento à nova regulamentação, criando um ambiente de insegurança jurídica e elevadíssimos custos para adaptação do maquinário existente ou mesmo a alteração dos projetos das máquinas novas. O impacto nas micros e pequenas empresas não foi observado, imputando a esse segmento pena difícil de suportar, decorrente dos altos custos de adaptação tanto para as máquinas existentes como para as máquinas novas. A normatização aplicada a maquinas ou equipamentos já instalados em seu parque industrial é prejudicial ao setor produtivo, pois desconsidera o estado da técnica e a data da fabricação. Merece, portanto, apoio o PDC 1.408, de 2013, haja vista que a sustentação dos efeitos da NR-12 encontra amparo na Constituição Federal. O texto constitucional estabelece expressamente a possibilidade de o Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa. Senhoras e senhores, as oportunidades brasileiras ainda são grandes. Avançamos muito pouco, por exemplo, nas reformas estruturais, que configuram 40 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 enorme e importante espaço para a ação. Algumas delas são imprescindíveis, em especial a tributária e a trabalhista. Precisamos edificar, passo a passo, o nosso futuro. Escolhas feitas agora terão impacto profundo nesta e nas próximas gerações. Reiteramos a importância da aprovação das proposições legislativas aqui citadas e da observância da agenda legislativa na indústria de 2014, uma bússola para a construção de economia moderna, dinâmica e competitiva. Agradeço aos Deputados Presidentes das Comissões que promoveram este evento: Deputado Mário Feitoza, da Comissão de Finanças e Tributação; Deputado Vicente Candido, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, Deputado Augusto Coutinho, da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Deputado Arthur Oliveira Maia, da Comissão Especial do Código Comercial. Este evento permite análise aprofundada de temas que podem melhorar o ambiente de negócios no Brasil, medida essencial para atingirmos o pleno desenvolvimento econômico e social do País. A indústria confia na capacidade e no empenho do Congresso Nacional, legítimo representante da sociedade e de seus anseios de vencer os desafios postos no caminho da iniciativa privada e do setor público do País. O apoio do Congresso Nacional nunca nos faltou e nunca nos faltará. Neste seminário, a CNI reforça seu compromisso de atuar com as Sras. e Srs. Deputados e Senadores na construção de um Brasil mais rico próspero, educado, saudável, socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Muito obrigada a todos. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Obrigado, Monica, pela exposição. Todos estamos percebendo que a primeira Mesa é mais robusta. Haverá atraso porque a Senadora Kátia Abreu, que estaria na seguinte, pediu para participar desta Mesa. Então, para darmos celeridade, informo que a Mesa seguinte será mais curta, de maneira que consigamos ainda salvar horário para o lanche. Deputado Mário Feitoza, não somos de ferro e precisamos nos abastecer durante o dia. Passamos a palavra à Senadora Kátia Abreu, Presidente da Cooperação Nacional da Agricultura e Agropecuária, por até 15 minutos 41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 A SRA. SENADORA KÁTIA ABREU - Obrigada, Deputado Vicente Candido, pelo convite. Parabenizo V.Exa. pela iniciativa maravilhosa de propor este grande seminário. Cumprimento todos os colegas da Mesa, em nome do Ministro Mauro Borges, do MDIC. Cumprimento também a Sra. Monica por suas palavras. Rapidamente, sobre uma questão administrativa, a CNA tem um convênio com a Câmara dos Deputados e com o Senado Federal, pelo qual acompanhamos cem por cento dos projetos protocolados no Congresso Nacional. Nós, então, fazemos uma seleção dos projetos que interessam ao setor. Digo “interessam” porque podemos ser a favor deles ou contrários a eles também. Nós fazemos análise dos que somos a favor, destacando os que têm forte necessidade de aprovação; dos contrários e daqueles que têm impacto mais forte dos pontos de vista negativo e positivo. Só para ter uma ideia, em 2012 foram protocolados 3.900 projetos aqui e 394 deles diziam respeito ao setor agropecuário. E 394 são 10%. Em 2014, até agora existem 627 projetos, e 143 deles nos interessam. Uma curiosidade: nos anos anteriores a 2012, se nós fizéssemos uma seleção por área, trabalhista, de meio ambiente, fundiária, enfim, todas as áreas, verificaríamos que tínhamos concentração enorme de projetos na área ambiental. Depois da votação da Código Florestal pelo Congresso Nacional, tivemos redução nessas iniciativas e continuamos a ter exorbitância na questão trabalhista e previdenciária. Hoje, se somarmos todos os projetos desses 3 anos — de 2012, 2013 e 2014 —, verificamos que temos 170 projetos que falam e tratam da questão trabalhista no campo, não nas cidades: que é positivo, que é negativo, que onera, que traz custo, que reduz autonomia, que interfere demais na relação entre patrões e empregados. Temos projetos importantes que foram aprovados e, por isso, gostaríamos de ressaltar o trabalho importantíssimo da bancada da agropecuária brasileira, os que defendem o agronegócio. Todo o Congresso Nacional nas matérias mais complexas votou quase por unanimidade a favor dessas mudanças, como, repito, o Código Florestal brasileiro, que foi votado, graças a Deus; o projeto de lei que trata das competências ambientais, o que é do Estado, o que é do Município, o que é da União, quem pode multar, quem pode fiscalizar, que, na minha opinião, foi tão 42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 importante quanto o Código Florestal, e às vezes pouca gente dá fé desta lei. Aprovamos no Congresso o Fundo de Catástrofe; aprovamos uma iniciativa do Governo Federal, que é a ANATER — Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, extinta alguns anos atrás, que veio trazer um benefício enorme para que nós possamos disseminar a tecnologia e a inovação nas pequenas propriedades, para termos também uma grande classe média rural, a exemplo da urbana, uma vez que hoje no campo a realidade não é a mesma da cidade; e uma lei que dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação, institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Nós tivemos avanços também com a aprovação de medidas provisórias. Eu destaco uma entre todas, a MP dos Portos. Eu tive um trabalho pessoal, por mais de 7 anos, em favor da abertura dos portos no Brasil. Para mim, foi uma satisfação enorme, uma realização profunda nós termos retornado à lei anterior, que, aprovada pelo Congresso, tinha sido desvirtuada por uma regulamentação e um decreto. O Governo Federal enviou essa MP — hoje nós temos quase 50 empresários que já registraram a intenção de ter um porto privado misto no Brasil —, devido à contenção e à exclusividade dos portos públicos, que faziam um lobby enorme para que os portos não pudessem ser aumentados, não pudessem ter a participação da iniciativa privada. Nós temos projetos de muita relevância e nós estamos lutando com os Deputados e os Senadores por sua aprovação. Para economizar as minhas palavras, eu destaco apenas dois ou três, os principais, de questões mais graves, que hoje nos atrapalham. Nós vivemos um mundo muito interessante no campo brasileiro. Nós temos a fama — e é verdadeira a nossa fama — de inovadores, de ter usado tecnologia e, por isso, avançado enormemente na capacidade de produção, e somos admirados pelo mundo inteiro como um dos grandes produtores de alimento. Então, estamos com a nossa cabeça e os nossos braços como se estivessem no próximo século, e as nossas pernas e os nossos pés fincados no século passado, ainda guerreando por terras: ora sem-terra, que legitimamente querem suas terras; ora questão indígena; ora questão quilombola, que vem afetar o Estado de Direito e trazer intranquilidade. 43 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Num país enorme como o nosso — eu não acho outra palavra a não ser “cafona” —, é uma coisa muita atrasada, muito caipira, nós ainda ficarmos brigando por terras. Se a terra é indígena, é indígena; se não é indígena, não é indígena. Os instrumentos tecnológicos são claríssimos. Não há dúvida de quem estava na terra em 5 de outubro de 1988 e quem não estava. A Constituição fala isso com muita categoria. Então, a falta de decisão e o vaivém nessa decisão é que acabam estimulando alguns segmentos a se atreverem nessas invasões, trazendo insegurança jurídica. Não estou discutindo o mérito, o desejo de ampliarem suas terras, o desejo de terem terras. Quem somos nós, produtores rurais, que amamos a terra, para discutir se alguém quer ou não a própria terra. É a forma, a condução do problema. Isso nos traz bastante dificuldade. Ainda com os pés no passado, nós, esse grande setor inovador, moderno, admirado por todo o mundo, ainda somos acusados de praticar trabalho escravo. Quer dizer, as coisas não combinam. Aquele quadro da sinhazinha, do coronel, dos escravos na senzala, na colheita de café, cuidando do gado, isso não existe mais no País, ficou apenas para a novela das 6 horas, para que nós possamos rememorar esse tempo, não praticá-lo e abominá-lo para sempre. Então, essa é uma pecha que ataca, agride de morte um setor que vem sustentando a balança comercial e que é responsável pelos mais de 350 milhões de reais de superávit, que traz uma folga enorme para o Brasil com relação às suas dívidas. O que o Brasil tem de reservas é infinitamente maior do que deve. É por isso que o Brasil é um país sólido e eu às vezes me contraponho a algumas ideias pessimistas que vejo por aí. Então, a definição de trabalho escravo para nós é fundamental. É um direito que nós temos. A Constituição diz que as leis precisam ser claríssimas na sua execução. Quando chega às nossas propriedades rurais, o fiscal do trabalho tem a condição de fazer a sua análise se aquilo é análogo a escravo ou não. Na verdade, eu não sei o que é análogo a um homem, análogo a uma mulher, análogo a um prédio. Então, de análogo a escravo, sem nenhum deboche, nós queremos uma definição clara para que nós possamos absolver aqueles que não o praticam e condenar aqueles que realmente maltratam os seus trabalhadores, que não fazem parte da representação da CNA. 44 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Nós não queremos defender aquele que descumpre a Convenção 29 da OIT, que de fato faz com que as pessoas trabalhem sob armas, segura o seu salário, faz com que as pessoas trabalhem onde não queiram. Nisso, de fato, nós concordamos com a OIT, somos signatários, mas o plus, na lei aprovada no Brasil, coloca jornada exaustiva e trabalho degradante. Isso, junto, faz com que vire análogo ao escravo. E isso hoje é crime e dá cadeia. Mas, antes mesmo de nós provarmos ou não a inocência, o nosso nome, da nossa propriedade, já vai para um site público do Ministério do Trabalho, e nós ficamos impedidos de vender produtos, se for álcool, se for soja, se for carne. As indústrias, por pressão internacional e nacional, deixam de comprar, mesmo sem o processo ter transitado em julgado. Nós costumamos chamar essa lista suja do Ministério do Trabalho de transitado em julgado administrativo. É uma jabuticaba, brasileira, do Ministério do Trabalho. Então, nós estamos com uma ADI no Supremo Tribunal, já a renovamos duas vezes, para que nós possamos ter o direito à ampla defesa, como diz a Constituição, mas infelizmente isso não é levado a sério, não é levado no cumprimento. Outro ponto importante relaciona-se à terceirização. O Brasil inteiro pratica terceirização de mão de obra. Na PETROBRAS e na Vale do Rio Doce, as duas maiores empresas nacionais, entre 70% e 80% dos trabalhadores são terceirizados. Em todas as empresas de energia elétrica, os trabalhadores são terceirizados; em todas as empresas de telefonia, são terceirizados; em todas as empresas que atendem os hospitais com médicos e equipamentos, são terceirizados; a maioria dos apresentadores da Rede Globo e do SBT são PJ, terceirizados; os call centers, tudo é terceirizado. Então, essa é uma estrutura de eficiência — o mundo evoluiu e cada um quer ser especialista em determinada coisa —, mas no Brasil a terceirização da atividade-fim é proibida. Se tiver 500 hectares apenas de soja, ou 200 hectares, o produtor rural tem que comprar sua colheitadeira e tem que ter o piloto dela contratado e com carteira registrada. Ele não pode terceirizar esse trabalho. Por último, há menos de 2 meses, as três maiores empresas de suco de laranja, ressalto, uma delas das maiores do mundo, que fornecem 60% do suco de laranja do mundo, foram multadas, as três juntas, em 595 milhões de reais, por um simples motivo. O que é agroindústria? Eu tive o privilégio de relatar e definir essa matéria quando Deputada Federal. Agroindústria é aquela empresa que tem 45 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 produção própria ou produção própria e de terceiros; tem que ter as duas coisas ou só produção própria. Então, a Cutrale tem os próprios pés de laranja, assim como a Louis Dreyfus e a outra, de que eu me esqueci o nome. Todas elas têm produção própria e colhem e compram laranja de laranjais do José, da Maria, do João, e também produzem suco de laranja. A multa foi por isso. A multa caiu para 100 milhões de reais esta semana, mais 1 milhão de reais/dia se não pararem imediatamente de comprar laranja dos terceirizados, desses produtores que têm sua laranja. Daqui a pouco, vão ter os frigoríficos que pagar o vaqueiro das nossas fazendas e as empresas que contratar toda a finalização dos seus produtos. Hoje, é permitido na fazenda apenas cozinheira, caseiro, e mais nada. O restante, tudo é considerado atividade-fim. Então, essa dubiedade de entendimento por alguns juízes e outros não está trazendo o caos para o empresariado brasileiro, e eu tenho certeza de que o Congresso Nacional não vai se furtar a regulamentar o que já existe. Nos Estados Unidos, as boas práticas transformam-se em lei, e não o contrário, como muitas vezes acontece no Brasil. Então, a terceirização é uma boa prática mundial, e não só uma boa prática brasileira. Ainda gostaria de falar sobre a hora in itinere, as diferenças de tratamento entre os brasileiros do campo e os brasileiros da cidade. Quando um trabalhador sai do ABC Paulista e anda 2, 3 horas de ônibus para chegar até a fábrica que ele trabalha, isso não é contabilizado. Agora para nós, produtores rurais, o tempo que nós levamos para buscar o trabalhador e chegar até a fazenda é contado como carga horária trabalhada. Então, em 8 horas, se o trabalhador levou 2 horas para chegar à fazenda, vai ter apenas 6 horas de trabalho — e nós estamos falando de produtividade. Então, nós vamos protocolar um projeto para ampliar também para as cidades o mesmo tratamento que se dá ao campo, que a hora in itinere, em todos os Estados, em todas as cidades, também possa ser cobrada, porque os brasileiros do campo não são diferentes dos brasileiros da cidade, nós somos todos iguais. Mas esses tratamentos são, de fato, bastantes complicados. Com relação à infraestrutura, nós temos um projeto inteligente, do ponto de vista de muitos Parlamentares, mas temos uma resistência muito forte do setor 46 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 elétrico, que é a obviedade de se construir uma hidrelétrica junto com uma eclusa. O que a CNA tem com isso? Hoje agronegócio não é mais grãos, agronegócio é logística. Quem a tem fica, quem não a tem vai sair do ramo. Então, para nós a hidrovia custa 24 dólares 1 tonelada por mil quilômetros; na ferrovia, 36 dólares; na rodovia, 42 dólares. Então, para nós a hidrovia é essencial. E Deus nos deu — eu estou falando rápido por causa do tempo —, felizmente, vários Mississippis, ao contrário dos Estados Unidos, que têm o Mississippi mais dois rios. Neles transitam o equivalente a 100% da soja brasileira; aqui, 70% dela é transitada em rodovias. A construção da eclusa junto com a hidrelétrica sofre resistência do setor elétrico, e o Governo agora decidiu encampar, com o Ministério dos Transportes e a Casa Civil, essa posição. Está disposto a definitivamente não permitir a construção, por um simples fato: a eclusa construída depois do lago cheio só custa o dobro; construída simultaneamente, vai custar a metade. Eles dizem por aí que nem todos os rios em que faremos hidrelétricas cabem uma eclusa. Mas o Brasil é inteligente o suficiente para entender quais são os rios prioritários para transporte. Nós temos a Agência Nacional da Água, que tem estudo perfeito de todas as bacias do Brasil e que pode embasar os Parlamentares, embasar os membros do Governo, na verdade. Por último, vital para o setor, depois do Código Florestal, é a questão dos agroquímicos, dos defensivos. Nós não podemos mais suportar esta vida que nós estamos levando com relação aos registros de agroquímicos. Nós, a CNA, enviamos uma missão aos Estados Unidos e ao Canadá, apesar de que as empresas já nos informaram. Para se ter uma ideia, há uma empresa que registrou o mesmo produto nos Estados Unidos há 5 anos e está tentando registrar há 6 no Brasil, e não consegue. É burocracia, falta de pessoal e outras coisas que não são republicanas também. Nós ouvimos todos os dias que isso acontece. Todo cartório, todo cartório que existe no mundo facilita a corrupção. Então, nós queremos uma forma honesta, clara, transparente dos registros de produto pronto, de produto novo, de produto genérico. O produto genérico humano no Brasil não leva mais do que 6 meses para ser registrado; o genérico agroquímico leva até 6 anos para ser registrado e custa alguns milhões de dólares. 47 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O mais crítico de tudo isso: quando nós passamos agora por aquela praga da helicoverpa, e tivemos que quase fazer um mutirão de joelho na porta desta ANVISA para liberar dois produtos para combater essa praga, que baixou a produtividade da nossa soja. Felizmente — e a ANVISA não cumpriu o pedido —, a Presidente fez um decreto e permitiu que nós importássemos esse produto para combater a helicoverpa na soja brasileira. Por fim, eu quero dizer a todos que todas as verduras e frutas que vocês comem no Brasil têm uma excelente qualidade, só que todas, praticamente 99%, usam defensivo irregular. Não fazem o registro porque querem. Mas, como a capacidade de consumo é pequena, e o custo para registrar é muito alto, os empresários não se atrevem a registrar produtos para os minor crops, como nós chamamos as culturas de verduras e frutas, porque custa caríssimo e, na hora de vender, o plano de negócio não fecha. Então, o que acaba acontecendo com esses produtores, que eu chamo de coitados, batalhadores, escravos de uma decisão? Eles procuram produtos similares e os utilizam nas suas verduras e frutas, para que possa haver produtividade. Imagino que isso aconteça na hora da exportação. São raríssimos os produtos que nós conseguimos exportar e que estão de acordo com a norma técnica. Finalizo dizendo que precisamos ter produtos para aplicação. Isso é da maior importância para termos competitividade. Eu agradeço, mais uma vez, ao nosso Deputado e digo que, para mim, o maior mal do País, hoje, em alguns setores, é a falta de inovação, de produtividade, de busca do conhecimento. O “agro” está onde está porque fez o seu dever de casa, não só a agropecuária, mas o agronegócio. Por isso, desempenha; por isso, progride; por isso, cresce. Infelizmente, há alguns setores, não são todos, que às vezes preferem outra forma de sobrevivência com os incentivos, incentivos eternos, e isso tira toda a capacidade de inovação e de progresso do empresariado brasileiro. Os incentivos escolhidos para determinados setores são altamente nocivos ao empresariado. Às vezes, no primeiro momento, pode parecer uma boa coisa, mas nós sabemos que no futuro isso traz consequências, e está trazendo. Com a abertura da União Europeia ao MERCOSUL, essas empresas vão saber o que custam os incentivos que contradizem a busca da inovação e da tecnologia. E a 48 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 burocracia precisa acabar. Não há mais como nós brasileiros vivermos com o nível de burocracia em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Muito obrigada. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Obrigado, Senadora Kátia Abreu. Nós vamos ter um desfalque aqui na Mesa, por culpa dos atrasos: o Ministro Mauro Borges vai ter que se retirar. Eu vou passar a palavra a S.Exa. para as despedidas. Em seguida, continuamos o debate. O SR. MINISTRO MAURO BORGES LEMOS - Gostaria apenas de agradecer o convite e dar os parabéns aos organizadores. Esta é uma iniciativa extremamente positiva. Este é um caminho que a gente deve continuar praticando. É este tipo de debate que faz com que a gente consiga amadurecer soluções para esses enormes desafios. O Brasil é um país de grandes desafios, do tamanho do seu potencial. Se fosse um país de pequenos desafios, certamente o nosso potencial seria baixo. Por exemplo, para economias maduras, muitas vezes o desafio é pequeno, mas as oportunidades e o potencial também já foram reduzidos. Também há países pequenos não desenvolvidos onde os desafios são relativamente pequenos, mas o potencial também é muito baixo. Nós, não; nós temos enormes desafios e um potencial monumental. Cabe a nós, como brasileiros, enfrentá-los. Nós temos que enfrentá-los. O Governo está aqui, o Congresso Nacional está aqui, os empresários estão aqui. Nós temos todos os meios; o Brasil tem um tecido empresarial excepcional. Pegando do setor bancário até o vendedor ambulante, nós temos uma vitalidade empreendedora fantástica. A gente sabe que a nossa criatividade é muito grande. A Senadora Kátia deu o exemplo aqui de algo bem-sucedido, o agronegócio. Então, a mensagem que eu vou deixar aqui, Deputado Vicente, é que este desafio é para todos nós. Ele é muito grande, é do tamanho do País, portanto nós temos que enfrentá-lo. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Prefeito Cido Sério, V.Exa. perdeu a primazia de ser o único representante dos Prefeitos do Brasil, vai 49 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 dividi-la agora com o Gustavo, que é Prefeito de Gavião Peixoto. Obrigado pela presença, Sr. Gustavo. Quero chamar o nosso Presidente da OAB, para que a gente faça aqui uma fotografia mais perfeita da nossa Mesa. Passo agora a palavra ao guardião da moeda nacional, Renato Baldini Junior, Consultor do Departamento Econômico do Banco Central do Brasil, que disporá de até 15 minutos, a quem agradeço pela presença. O SR. RENATO BALDINI JUNIOR - Muito obrigado, Deputado. Agradeço a oportunidade de participar desta Mesa e deste interessante seminário; e cumprimento a todos, senhoras e senhores e membros da Mesa. A minha ideia é apresentar, de início, uma rápida visão geral da economia brasileira; em seguida, vou entrar um pouco mais em duas áreas que são de atuação mais direta do Banco Central: o Sistema Financeiro Nacional e o mercado de crédito. E basicamente a principal ideia, sobretudo dessa visão geral da economia brasileira, é que, apesar dos desafios que enfrentamos, que são desafios importantes, a nossa economia se sustenta sobre bases sólidas e mantém bons fundamentos macroeconômicos. É importante observar que a solidez e a estabilidade do sistema financeiro são condições indispensáveis para o crescimento econômico. E, olhando com mais detalhe o mercado de crédito, é importante sempre lembrar que esse mercado se desenvolveu muito nos últimos 10 anos, passando a desempenhar um papel mais importante e condizente com o nosso desenvolvimento econômico. Começando pelo PIB, que é um indicador que sintetiza o tema desse seminário, assim como nos indica os desafios que temos pela frente, o objetivo final que todos procuramos é assegurar o crescimento em bases sustentáveis em ritmo que possibilite o encaminhamento das principais questões econômicas e sociais do País. Eu tenho a apresentar a seguir um eslaide — que, na verdade, é um gráfico quase idêntico ao que foi apresentado pelo Ministro Mantega — que nos mostra que, a despeito das dificuldades e do arrefecimento do nível de atividade econômica, o Brasil cresceu, desde a crise internacional, em ritmo bastante razoável, sobretudo 50 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 comparativamente a outras economias, ainda mais considerando a dimensão da crise internacional. (Segue-se exibição de imagens.) Olhando para o mercado de trabalho, como sabemos, a despeito também de tantas dificuldades, da retração da demanda externa, de inúmeros fatores de risco e incerteza, a taxa de desemprego vem apresentando um declínio constante e muito significativo, e, com isso, a taxa de desemprego situa-se atualmente no patamar mais baixo da série histórica, tendo alcançado 4,8% agora em março. Essa redução do desemprego vem acompanhada de um aumento do grau de formalização do trabalho, que, além de inúmeros benefícios sociais que isso representa, também contribuiu decisivamente para a ampliação do acesso ao crédito e, em consequência, para a sustentação dos gastos de consumo e, de forma mais ampla, da demanda doméstica. Olhando um pouco para a inflação — evidentemente tem-se aqui um desafio importante em que nossa economia tem enfrentado uma sequência de choques desfavoráveis, os mais recentes e agora prementes relacionados a preço de alimentos e à seca que nos atinge em algumas regiões do País —, o Banco Central tem atuado com o objetivo de mantê-la dentro do intervalo da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional buscando a convergência gradual para o centro da meta. Aqui, temos a taxa real de juros, que, embora, no final, apresente uma pequena elevação na margem, vem descrevendo, num prazo mais longo, uma trajetória declinante, convergindo aos poucos para patamares mais próximos aos que se verificam em outras economias. E esse é um indicador robusto da consolidação macroeconômica que viemos alcançando e também um fator que contribui para o desenvolvimento econômico à medida que representa menores custos para o financiamento das atividades produtivas. Olhando rapidamente para as finanças públicas, vemos aqui a dívida líquida do setor público, que também é um indicador sintético que permite avaliar quanto se avançou nessa área. Desde 2002, a dívida líquida do setor público recuou 26,7% relativamente ao PIB. Não é pouco, é quase metade do nível em que se encontrava anteriormente, e agora se encontra num nível muito mais favorável. 51 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Passando para o setor externo, temos aqui a série histórica dos investimentos estrangeiros diretos, que, como se pode ver, têm-se mantido em níveis elevados e relativamente estáveis desde 2010. Isso tudo a despeito de toda a complexidade que a gente sabe que existe no cenário internacional. Aqui, eu vou trazer outra informação que o Ministro Mantega também ressaltou antes. A gente pode observar que o Brasil se mantém como um dos principais destinos do investimento estrangeiro direto e do investimento produtivo em escala global, atrás apenas de gigantes econômicos, como a China e os Estados Unidos, de forma geral. As reservas internacionais, por sua vez, constituem um dos elementos fundamentais de contenção de choques externos, e sua evolução nos últimos 10 anos permitiu que alcançássemos um volume de reservas que, até pouco tempo atrás, era inimaginável para uma economia como a nossa, que, por tantas décadas, sofreu com as incertezas e as intempéries do cenário internacional. Temos hoje quase 400 bilhões de dólares de reservas, e isso representa uma importante linha de defesa frente aos choques externos juntamente com a flexibilidade do regime cambial. Por fim, nessa visão geral da economia, a gente olha aqui um indicador social muito importante, que é um quadro excepcional de mobilidade social, um avanço, uma ampliação, muito grande, da classe média que representou tanto a redução dos índices de pobreza como o acesso também de parcelas importantes da população a melhores condições de vida. Em termos econômicos mais estritamente, isso representou maior acesso ao consumo de bens duráveis e habitação, o que foi, por sua vez, favorecido pelo desenvolvimento do crédito, com o apoio de políticas importantes, como o programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo. Passando para o Sistema Financeiro Nacional, a gente observa que esse sistema mantém condições de solidez e estabilidade, que são indispensáveis para o equilíbrio da economia, e essas condições, é importante lembrar, contribuíram muito para que o Brasil tenha podido superar o impacto inicial da crise econômica internacional e a custos muito baixos, se comparados àqueles que foram incorridos por outras economias que tiveram de empregar grandes volumes de recurso para 52 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 resgatar suas instituições financeiras com graves consequências sobre as finanças públicas. Aqui, a gente pode ver o índice de capitalização dos bancos brasileiros, que é um indicador importante. A gente observa que os bancos brasileiros mantêm índices elevados, superiores aos 11% requeridos pela regulação oficial — que é a linha amarela — e que, por sua vez, é superior ao padrão definido pelo Comitê de Basileia, que é um índice de capitalização de 8% — a linha vermelha. Em nosso sistema, todas as instituições financeiras são reguladas e supervisionadas. A regulação prudencial é rigorosa e conservadora, o que se evidencia por aquele quadro anterior de capitalização do sistema bancário, que, como vimos, se mantém acima inclusive do requerido pelo Banco Central. Isso indica não só o rigor da regulação mas também o comportamento prudente das instituições financeiras que voluntariamente se mantêm acima dos percentuais requeridos de capitalização. Destaco aqui um aspecto da supervisão do Banco Central. Para essa manutenção de um sistema financeiro estável e sólido, além de uma estrutura regulatória, tem contribuído também a rigorosa supervisão do Banco Central. Um dos principais trunfos, uma das principais ferramentas de que dispõe a supervisão do Banco Central é o Sistema de Informações de Crédito, que nós chamamos de SCR, que é um grande banco de dados que tem informações detalhadas sobre todas as operações de crédito com valor acima de mil reais. Isso compreende 279 milhões de operações referentes a 45 milhões de devedores e cobre 99% do mercado de crédito bancário. O 1% restante não significa que não esteja no sistema. Ele está, porém, lá não estão detalhadas uma a uma cada operação como estão essas acima de mil reais. Então, esse é um sistema que permite a elaboração de análises detalhadas em diversas dimensões sobre a segurança e a solidez dos sistemas bancário e financeiro. Outro aspecto importante do nosso Sistema Financeiro e que tem avançado nos últimos anos é a inclusão financeira. A inclusão financeira pode ser avaliada em inúmeras dimensões, e uma delas é a dimensão geográfica. E o que esse eslaide nos mostra é que, em 2010, 94% dos Municípios dispunham de mais de 5 pontos de 53 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 atendimento bancário para cada 10 mil habitantes. Ou seja, a cobertura de fato é bastante ampla em escala nacional. Olhando com mais detalhe agora o mercado de crédito, evidentemente houve um avanço muito significativo nos últimos 10 anos, houve a superação de restrições importantes que restringiam o avanço, o pleno desenvolvimento, do mercado de crédito, e esse avanço, que já foi muito discutido, foi beneficiado por uma série de fatores, tais como os ganhos de renda, os avanços em termos de emprego, a consolidação da estabilidade macroeconômica, que representou a redução de incertezas, além de importantes avanços institucionais, tais como, por exemplo, o crédito consignado e o instituto da alienação fiduciária em alguns financiamentos. A gente vê nesse gráfico quanto passou a representar o crédito como um todo em relação à nossa economia. Atualmente, o crédito supera os 55% do PIB, e essa proporção é mais ou menos o dobro do que existia há 10 anos. E, ao mesmo tempo, é importante inferir desse gráfico que não só é natural como é desejável e saudável que, daqui para frente, o crescimento do crédito seja um pouco mais moderado do que foi até aqui. Por quê? Entre outras razões, talvez principalmente, porque hoje o crescimento do crédito se dá sobre uma base muito mais expressiva. Então, querer voltar a crescer, a dobrar essa participação do PIB, não é algo tão simples, tão razoável. Vamos olhar aqui com mais detalhe. O crédito às pessoas físicas — e aqui a gente pode ver uma interessante evolução também —, acho que provavelmente o crescimento mais interessante aqui, além do... Temos aqui representado o crédito consignado — a faixa em amarelo —, algo que foi instituído basicamente no início de 2004, ocupou um espaço importante na economia, sustentando o consumo e tudo o mais. Mas o que há de mais relevante é o aumento da participação do crédito imobiliário — a faixa verde, no alto. Hoje, o crédito imobiliário responde por 33% do volume de crédito das famílias, e esse crescimento deu-se em detrimento principalmente do crédito rotativo — aquela faixa vermelha —, cuja participação vem-se reduzindo ao longo dos anos. Houve também uma redução da parcela — mais abaixo — do crédito pessoal não consignado. Em suma, tem-se um aumento da participação de modalidades de crédito de custo mais baixo, de prazo mais longo, que contribuem mais diretamente para o 54 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 bem-estar das famílias, não só momentaneamente, mas a longo prazo, e menor recurso para modalidades de crédito de curtíssimo prazo, que tem um caráter emergencial e, portanto, custos muito mais elevados, como o caso do crédito rotativo. Aqui a gente olha um pouco mais o caso do crédito imobiliário. Essa é uma comparação internacional. O Brasil é um dos que tem a menor participação do crédito imobiliário em relação ao PIB nessa comparação. Esse percentual atualmente é de 8,4% do PIB, mas foi de 1,5% do PIB por volta de 10 anos atrás. Então, foi um crescimento muito significativo e importante, não só para as famílias como para o nível de atividade econômica. Mas esse gráfico mostra claramente que há um grande caminho a ser percorrido, há um potencial muito grande de desenvolvimento adicional desse mercado. É isso o que se espera para os próximos anos. Para que o crédito se desenvolva de forma segura, é importante que ele mantenha bons indicadores de qualidade, dos quais o mais básico é a taxa de inadimplência. A inadimplência, sobretudo no que diz respeito às pessoas físicas, cresceu marcadamente entre 2010 e 2012. Esse crescimento esteve associado, entre outros fatores, à ampliação do acesso ao crédito, à maior bancalização, mais um aumento rápido do número de tomadores, o acesso de diversas classes sociais ao crédito, e isso ensejou um processo de ajuste também por parte das instituições financeiras. Porém, a partir de 2010, o Banco Central instituiu medidas macroprudenciais que contiveram algumas imperfeições, exageros, algo que precisava ser ajustado nas condições de oferta de crédito. As instituições financeiras evidentemente cumpriram um papel muito importante, também avançando o seu processo de “originação” de crédito, sobretudo, e isso permitiu a redução contínua da inadimplência para os patamares que a gente verifica hoje. Essas duas linhas aqui se referem às modalidades de crédito com recursos livres no sistema financeiro. Aqui a gente tem o crédito com recursos direcionados que compreende as operações do BNDES basicamente, para as empresas sobretudo, o crédito rural e o crédito imobiliário. Então, além de a gente ver que os níveis de inadimplência nesse segmento de crédito são muito mais baixos, chamo a atenção, em particular, para as pessoas físicas, porque nesse conjunto estão os 55 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 financiamentos imobiliários. O problema da crise que enfrentamos teve início no sistema de crédito imobiliário nos Estados Unidos, mas aqui o mercado de crédito imobiliário é muito seguro e tem condições sólidas e sustentáveis. Esse indicador é uma mostra disso. Por fim, o último indicador que eu trago aqui é o do endividamento das famílias e também o comprometimento de renda — deixe-me só olhar aqui para não pular nenhum ponto. Aqui — a linha vermelha — é o endividamento. O que se mostra é um aumento contínuo do grau de endividamento das famílias, mas isso precisa ser visto simplesmente como um reflexo do aumento do crédito. Quer dizer, há anos, o volume de crédito que existia na economia era muito baixo, as famílias passaram a ter acesso ao crédito e a ampliação desse acesso nada mais é do que o que está refletido nesse aumento do endividamento. A gente observa — nesta linha do meio, a verde — que esse endividamento tem evoluído de maneira que o seu crescimento atualmente se deve quase exclusivamente ao crédito imobiliário. Ou seja, se excluirmos o crédito imobiliário — teremos essa linha verde —, o que se observa, primeiro, uma estabilização; e mais recentemente até há um declínio no nível de endividamento das famílias, o que é bastante saudável. Por fim, o comprometimento de renda — é a linha de baixo —, é possível fazer diversas inferências a partir desse indicador. Primeiro que, apesar da expansão do endividamento, do aumento do endividamento ao longo dos anos, o comprometimento de renda não cresceu na mesma proporção. Ou seja, o comprometimento de renda é o quanto as pessoas estão empregando da sua renda corrente, disponível, no pagamento das prestações de crédito junto ao sistema financeiro. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Dr. Renato, mais quantos minutos, por favor? O SR. RENATO BALDINI JUNIOR - Passarei ao último eslaide. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - O.k.. O SR. RENATO BALDINI JUNIOR - Então, esse crescimento mais moderado do comprometimento de renda, se comparado ao que ocorreu com o endividamento, deve-se a uma série de fatores: primeiro, evidentemente, a renda cresceu em 56 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 proporção semelhante ou às vezes até maior do que o crescimento do crédito, e isso fez com que o comprometimento não subisse muito, pelo menos. Além disso, existe uma tendência histórica de declínio das taxas de juros. Se olharmos as taxas de juros que eram praticadas há 10 anos, elas eram muito mais altas do que as de hoje. Então, isso contribuiu para a contenção do comprometimento de renda, além da extensão dos prazos. Não quer dizer que em cada tipo de linha de crédito os prazos que estão sendo contratados são cada vez maiores, mas o que existe é uma substituição de linhas de crédito emergenciais de curtíssimo prazo, dando lugar a créditos de mais longo prazo, sobretudo crédito imobiliário. Então, isso reflete aquela mudança no perfil do endividamento das famílias, que vimos lá atrás, e possibilita que o crescimento do comprometimento de renda não seja significativo. Pelo contrário, é relativamente estável. De forma geral, esses indicadores reforçam a nossa percepção de que o crédito se desenvolve de forma segura em nosso País. Aqui, então, a conclusão. A nossa economia mantém sólidos os fundamentos macroeconômicos, o sistema financeiro é sólido e contribui para a resiliência da economia brasileira frente a choques, e o mercado de crédito segue evoluindo de forma equilibrada, com segurança, posicionando-se como um elemento fundamental de sustentação do crescimento econômico. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Queremos registrar a presença do Prefeito de Madalena, no Ceará, Coronel Zarlul. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Muito obrigado, Renato Baldini Junior pela exposição. Vamos passar a palavra ao Luiz Carlos Trabuco Cappi, Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras — CNF. Em seguida, vamos encerrar esta Mesa com o comentário do nosso Presidente da OAB, Dr. Marcus Vinicius. Com a palavra o Dr. Luiz Carlos Trabuco. O SR. LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI - Boa tarde a todos. Primeiro, quero agradecer ao Deputado Vicente Candido, que preside esta Mesa, e saudá-lo. Destaco também os colegas presentes: a Senadora Kátia Abreu; a nossa Mônica, da CNI; o Marcus Coêlho, da OAB; e o Renato Baldini, do Banco Central. Destaco 57 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 ainda o trabalho feito pelo Deputado Mário Feitoza no sentido de viabilizar esse encontro tão importante. A gente queria colocar à disposição o nosso trabalho da CNF. Estão logo na porta a agenda legislativa que a CNF estabeleceu, bem como o trabalho que o José Ricardo, Vice-Presidente da CNF, no sentido da sistematização de 24 temas selecionados pelo diretor financeiro e requerem um sentido, um senso de urgência na agenda legislativa. Eu não vou me ater aos pontos e aos projetos, porque muito do que a nossa Mônica e a Senado Kátia Abreu vocalizaram pelos setores da indústria, da agricultura e da Confederação Nacional do Comércio acabam nos alinhando no mesmo sentido. Agora, para não ser repetitivo, já quase no final desta sessão, eu acho que nós somos pelo Brasil. Queremos que o Brasil caminhe, evolua e tenha mais produção. Acho que a grande lição que temos é que a virtude está no centro, é a nossa capacidade de não privilegiar setores e, sim, entender que um trabalho de equilíbrio, de equidistância faz com que o Brasil possa crescer. Nós temos questões históricas, mas não vamos renovar os ciclos históricos da economia brasileira. Nós já fomos e talvez sejamos ainda um País de contrastes; nós ainda somos dois Brasis; nós ainda somos um País do futuro. Alguns, na mídia internacional, dizem que o futuro no Brasil nunca chega, e eles são muito áridos nessa observação, mas, pela nossa perspectiva do sistema financeiro, em contato com investidores, com pessoas, o Brasil é um País de possibilidades. Nós não podemos perder o avanço que tivemos na estabilização da moeda, na redistribuição de renda, na revisão do modelo social. Temos que avançar, porque, se assim não o fizermos, nós poderemos perder os bônus que o País tem. O investidor estrangeiro, quando olha a favor obviamente do Brasil, vê que aqui tem um bônus do agronegócio, um bônus de energia, um bônus demográfico precioso, que tem prazo para praticamente inverter. Reformas, adequações, ajustes e modelos são importantes porque nós precisamos fazer sempre um pacto de geração, visando criar mais empregos. O cenário, às vezes, é meio turvo, o mercado financeiro internacional é, às vezes, duro para com o Brasil, mas nós temos a convicção: nós não estamos em rota de colapso. O Brasil tem possibilidade de inverter um pouco aquilo que se fala. 58 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Mesmo na apresentação do Ministro Mantega e em outras, falou-se em gargalos de infraestrutura. Eu nem gosto desta palavra, prefiro chamar bônus da infraestrutura. Se nós somos capazes, através das parcerias público-privadas, de um programa agressivo de concessões, nós conseguiremos fazer do Brasil um enorme canteiro de obras que visa transformar aquilo que é gargalo em oportunidade de geração e emprego. A classe média, como já foi até descrita pela Mesa, é uma coisa formidável. Classe média entende-se por classe emergente, classe afluente. Toda vez que nós transformamos pobre em consumidor, muitas coisas boas acontecem no País. Só que a classe média lá dos anos 60 estava satisfeita com a educação pública; estava satisfeita com a saúde pública, com os antigos IAPs; estava satisfeita com aquilo que a mobilidade urbana pudesse dar. Hoje a classe média é mais exigente. Por isso que os desafios que nós temos é sentido como urgentes. Temas macroeconômicos são importantes, gerar trabalho e renda é fundamental. Os gráficos do Baldini, do Banco Central, sinalizaram: nós crescemos o crédito e não comprometemos a renda, o que é um lado saudável da expansão de crédito no Brasil, o que significa que nós temos margem para o crescimento do crédito. Essa agenda nacional que se mistura com educação, saúde e mobilidade urbana é crucial para dar conforto para essa classe emergente que hoje está nos grandes centros. Por isso que as questões de políticas públicas sempre têm de ser endereçadas. O Legislativo, na sua agenda, está muito atilado para essa discussão, para se comunicar com a sociedade. Existe uma agenda de reformas e de revisões, e as questões macro às vezes são muito difíceis de ser endereçadas, mas nós devemos avaliar todas as oportunidades que possamos ter para avançar. O sistema financeiro é otimista com relação ao Brasil, o crédito cresceu 50% do PIB, mas ele ainda tem um espaço muito forte. Vimos, pelo gráfico, que imaginar um crédito imobiliário a 60% do PIB talvez não seja saudável, mas ter 8% de crédito imobiliário do PIB é um bom começo. Aí nós temos uma trajetória que na agenda microeconômica é a discussão do crédito enquanto alavancagem de sonho, o que é importante. Agora, uma mensagem final. Quando nós damos crédito para uma pessoa, nós só o fazemos para dois objetivos na vida: para pagar dívida ou para financiar um 59 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 sonho: o da casa própria, o sonho do carro novo, o sonho da sua empresa ou da modernização da sua fazenda. Então, se eu dou crédito para financiar sonhos e para financiar pessoas quitando dívidas, talvez nos pareça ser um pouco exagerado. Da carga tributária brasileira, que é 36% do PIB, o custo, o tributo da intermediação financeira responde com 16% do PIB. É o Imposto de Renda, é a Contribuição Social, é o PIS, é o COFINS, é o IOF, é o ISS. Em alguns países, como o Canadá, está proibida a tributação sobre intermediação financeira. Então, são questões de pauta que devem ser discutidas dentro de uma pauta a favor do Brasil, a favor da difusão do crédito cada vez mais barato. Obrigado, Deputado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (João) - Queremos registrar a presença do Deputado Luiz Carlos Hauly. O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Se fosse uma Mesa de candidatos, o Trabuco ia ser o campeão de votos, porque só falou 8 minutos. É um bom teste para as urnas depois, Sr. Presidente. Nós vamos ouvir agora o comentário do nosso Presidente da OAB, com a incumbência de interpretar o sentimento do Plenário e também aqui uma provocação sobre o que ele ouviu das exposições. Então é uma responsabilidade bastante nobre para V.Exa. Com a palavra o Sr. Marcus Vinicius Coêlho. O SR. MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO - Obrigado, Deputado Vicente Candido. Vou tentar ser eleito, nessa competição com o Luiz Carlos Trabuco, e ser breve, até para possibilitar a todos o intervalo para o almoço. Eu, quando convidado pelo Deputado Vicente Candido para aqui me encontrar, não tive dúvidas em aceitar e vir pessoalmente, por três razões: primeiro, por apreciar o trabalho do Deputado Vicente Candido à frente, agora, da Comissão de Constituição e Justiça, como também do Deputado Mário Feitoza à frente da Presidência da Comissão de Finanças e Tributação. Em segundo lugar, aceitei o convite por considerar que este é um momento ímpar do diálogo da sociedade civil com o Congresso Nacional. Portanto, é uma mensagem muito positiva do Congresso Nacional ao apresentar ao País esta oitiva 60 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 que faz às lideranças da sociedade civil brasileira em todos os setores. Isso me parece uma prática muito saudável, muito salutar, digna de elogios por parte de todos. Em terceiro lugar, vim pessoalmente por se tratar de um tema absolutamente relevante da agenda nacional. Vejam o subtítulo do Seminário Brasil Novo — Discussões para a construção de uma agenda positiva no Congresso Nacional. Então é disto que se cuida: de uma agenda positiva para o Parlamento brasileiro. Vimos, nas exposições que nos antecederam, diversas pautas de agendas importantes para destravar o desenvolvimento nacional. E penso que a premissa que há de nos unir é a necessidade de termos segurança jurídica para os negócios em nosso País, termos marcos regulatórios claros. Vimos nas exposições essa necessidade justamente de que um ambiente de negócios em nosso País somente é possível com esta união de esforços pela segurança jurídica, pela proteção à confiança legítima de todos que investem em nosso País. Tenho conversado com a Dra. Karem, Conselheira do CARF e também advogada, sobre investidores no Brasil. E ela disse-me que uma das grandes questões de quem quer investir no Brasil é saber, com clareza, qual o marco legal do nosso País. O marco legal trabalhista, o marco legal tributário, que foram temas muito tratados nas exposições que me antecederam. E o Congresso Nacional faz, portanto, a partir deste evento, uma união de esforços, um trabalho concentrado para ir ao encontro dessa necessidade de marcos regulatórios claros. E já destaco que o Congresso aprovou recentemente o novo Código de Processo Civil. Para quem não sabe, o novo Código traz uma importante medida no sentido da segurança jurídica. O Código obriga o Judiciário brasileiro, ao mudar a sua jurisprudência, a modular os efeitos da nova interpretação. O novo CPC diz o seguinte: se a pessoa — jurídica ou física — se comportou de acordo com o padrão normativo, de acordo com a interpretação que os tribunais estavam a aduzir para aquele tema, esse cidadão não pode ser surpreendido, a pessoa não pode ser surpreendida posteriormente com a mudança de entendimento dos tribunais. Então, isso é óbvio do princípio da não surpresa, da proteção à confiança legítima que na Comunidade Europeia hoje é um dos princípios mais importantes para criar um ambiente de negócios e de segurança jurídica. O novo CPC, portanto, 61 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 aprovado há duas semanas pela Câmara dos Deputados, vai nesse sentido. E é hora de, nessa mesma linha, discutirmos o novo código comercial dentro desse viés, de termos regras claras para as empresas em nosso País. O Projeto de Lei nº 1.572, de autoria do Deputado Vicente Candido, há de ser destacado como prioridade nesse esforço. O terceiro ponto que eu gostaria de destacar é a necessidade de diminuição da carga tributária em nosso País. E bem disse o Presidente da Confederação das Instituições Financeiras que o Brasil é um dos países que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Nós temos a segunda maior carga tributária da América Latina, a maior carga tributária dos países dos BRICS, por exemplo. É preciso ter esse esforço de diminuição da carga tributária. E, dentro dessa medida, a desoneração da folha de salário é algo importante. Por isso a OAB apoia o Projeto de Lei nº 6.094, também de autoria do Deputado Vicente Candido e de outros Deputados, que corrige a tabela de isenção de Imposto de Renda de acordo com a inflação. Ingressamos inclusive com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, por compreender que é justamente necessário manter o valor da moeda na correção da faixa de isentos e nas demais faixas tributárias em nosso País. É algo absolutamente importante este projeto, ainda que adaptado, mas, nesse núcleo que trata da redução do Imposto de Renda para incidente sobre a folha de salário é uma pauta importante. Eu também gostaria de destacar o Projeto de Lei Complementar nº 381, de 2014, já aprovado no Senado Federal, de autoria do Senador Vital do Rêgo, que institui normas gerais sobre o processo administrativo fiscal no Brasil. Isso é muito importante, porque ouvimos o Ministro da Fazenda, e eu creio que o Ministro de Indústria e Comércio, falar sobre litigiosidade. Este é um item que aumenta o Custo Brasil, o excesso de litigiosidade. O CARF, Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, e os conselhos de contribuintes são importantes instrumentos para conter a litigiosidade, para que, antes que se ingresse em juízo, se tenha uma instância administrativa para 62 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 justamente, com equilíbrio entre Fazenda e contribuintes, ter uma decisão que seja mais próxima da decisão jurídica e que não estimule demandas judiciais. Eventos ou instituições como o CARF poderiam existir em outros setores. Talvez, a própria questão do conflito entre índios e a necessidade de demarcação e proprietários de terras ocorra porque hoje nós não temos um órgão paritário, um órgão composto por representantes do Governo e por representantes de proprietários para criar-se uma jurisprudência, um entendimento objetivo sobre o que é terra indígena e o que não é. Como não há clareza no tema, a única possibilidade é o conflito. Estimula-se o conflito, a litigiosidade, inclusive na Justiça, por ausência de órgãos administrativos que busquem a conciliação. Esse, portanto, é um outro tema que eu gostaria de destacar, já aprovado no Senado Federal e que se encontra na Câmara dos Deputados, o projeto que trata da conciliação e da arbitragem em nosso País. Temos que apostar nesse tipo de resolução alternativa de demandas, não levando todas as demandas para o Judiciário. O Judiciário não pode ser a porta de entrada de todas as questões. Temos que ter outros instrumentos, outras instâncias antes de judicializar a matéria. Hoje está em pauta no plenário da Câmara dos Deputados importante matéria. Espero que haja aprovação, que é a instituição, o alargamento do SIMPLES a diversos outros setores da economia dos atualmente existentes, inclusive a todos os profissionais liberais, como jornalistas, economistas, advogados, médicos. Por que é importante? A Constituição Federal diz que a micro e pequena empresa devem ter tratamento diferenciado. Então, se a atividade econômica se situa naquele rol de micro e pequena empresa, deve ter o tratamento diferenciado. Não pode haver discriminação porque é esta ou aquela atividade econômica. E, hoje, a Câmara dos Deputados, em aprovando este projeto do SIMPLES, irá dar um grande passo no sentido de proteger esse setor econômico que mais gera empregos em nosso País, que é a pequena e a média empresa. Temos que também priorizar a discussão, a elaboração e a aprovação de um código de defesa do contribuinte em nosso País. Temos aqui a Senadora Kátia Abreu, autora do projeto. São vários projetos tramitando, mas ela é Relatora de um 63 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 dos projetos. Temos que discutir com seriedade este tema, porque é algo importante para o destravamento da economia em nosso País. Finalizando, gostaria de agradecer ao Renato Baldini Júnior, do Banco Central; à Senadora Kátia Abreu, Presidente da Confederação da Agricultura; à Mônica Guimarães, da Confederação Nacional da Indústria; ao Luiz Carlos Nabuco, da Confederação das Instituições Financeiras; ao Deputado Vicente Candido e ao Deputado Mário Feitoza pelo convite generoso. Gostaria de dizer sobre um último tema que parece não ter relação direta com a economia. Mas o próprio Ministro Mantega, quando trouxe o gráfico do investimento em educação, nos deu a senha de que questões sociais, o tratamento que se dá à capacitação da população brasileira é fundamental para a economia, como também o tratamento que se dá à saúde da população. Por isso a OAB junto com a CNBB e diversas outras entidades apresentamos o projeto de lei de iniciativa popular, que tramita na Câmara, que denominamos Saúde+10, que quer induzir, obrigar o Governo Federal a investir 10% do Orçamento da União em saúde em nosso País. Com isso, nós iríamos nos aproximar dos gastos em saúde que outras nações do mundo investem. É importante verificarmos a dimensão, a relevância da aprovação deste projeto para o nosso País, como também a Lei de Defesa do Usuário de Serviços Públicos. Há 15 anos, a Emenda Constitucional nº 19 fez previsão na Constituição Federal de que se faz necessária uma lei de proteção de defesa dos usuários de serviços públicos, para que quem precise de serviço público tenha um tratamento respeitoso, uma proteção legal, como alguém que é consumidor de serviços privados. E é esta justamente a matéria, que está em tramitação na Câmara, que também gostaríamos de colocar como central, porque vai ao encontro da proteção do cidadão, vai ao encontro de uma população sadia, preparada, com dignidade suficiente para ajudar no desenvolvimento econômico sustentável, no desenvolvimento que não pode ser só crescimento econômico, mas tem que se aliar também a um tratamento social digno para o nosso povo. Quero mais uma vez parabenizar o Congresso Nacional, os Deputados que promoveram este encontro. É digno realmente dos maiores elogios a oitiva que se 64 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 faz neste momento da sociedade civil brasileira para colher as suas sugestões de uma pauta positiva para o Congresso Nacional. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Vicente Candido) - Encerrando aqui esta primeira Mesa, estava previsto, depois da fala do comentarista, um retorno aos membros da Mesa para uma despedida, uma fala final. Mas, pelo horário e pela próxima Mesa que a gente deve aproveitar a presença e a gentileza dos comentaristas e palestrantes, nós vamos dar por encerrado aqui. Eu chamo de imediato o Deputado Luiz Carlos Hauly para vir presidir a próxima Mesa. Vamos tirar uma foto porque, segundo Mário Feitoza, o melhor produto da política é a notícia. Uma foto para ser anunciada. Muito obrigado a todos. O SR. APRESENTADOR (João) - Pedimos a todos que permaneçam em seus lugares para a próxima Mesa. Que as autoridades se sintam à vontade para os seus compromissos. (Pausa.) Já se encontra na mesa dos trabalhos o Deputado Luiz Carlos Hauly, da Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, o qual presidirá e conduzirá os trabalhos. Para tanto, convidamos para tomar seus assentos e compor a segunda Mesa deste Seminário o Sr. Cleber Ubiratan de Oliveira, Subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional; Sr. Claudemir Rodrigues Malaquias, Chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros — CETAD, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, e o Sr. Luiz Fernando Figueiredo, economista e Diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais — ANBIMA. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Hauly) - Com muita satisfação, recebemos o honroso convite de presidir este painel dentro do Seminário Brasil Novo — discussões para a construção de uma agenda positiva no Congresso Nacional. Com as entidades participantes, o Seminário é uma realização da Comissão de Finanças e Tributação, da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, da Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania e da Comissão Especial do novo Código Comercial. 65 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Nesse painel teremos expositores e um comentarista, iniciando pelo primeiro expositor, que falará em nome da Secretaria do Tesouro Nacional, o Subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional, Cleber Ubiratan de Oliveira. É um momento importante das discussões num ano eleitoral, num ano de compromissos de mudanças, de reformas que prenunciam para um Brasil novo que devemos ter a partir de 2015. Sem dúvida alguma, os temas aqui abordados são da maior importância e relevância para o desenvolvimento brasileiro. A reforma tributária, a reforma previdenciária, a reforma trabalhista, a reforma política, enfim a reforma do Estado brasileiro, são parte da agenda que está hoje sendo enfocada pelos expositores e pelos comentaristas deste Seminário Brasil Novo. Registro também aqui, para quem não conhece, o magnífico trabalho do Deputado Júlio Cesar, um dos mais competentes Parlamentares desta Casa e membro da Comissão de Finanças e Tributação, O Brasil e o mundo em dados comparativos. É um livro tão importante que faz inveja ao IBGE e ao IPEA pela qualidade da informação e da facilidade de acesso aos dados comparativos federativos. Esse é um grande tema também que devemos abordar em breve, a questão do novo pacto federativo brasileiro. Com a palavra, então, o Dr. Cleber Ubiratan de Oliveira, pela Secretaria do Tesouro Nacional. O SR. CLEBER UBIRATAN DE OLIVEIRA - Muito obrigado ao Deputado Hauly. Cumprimento o Deputado, cumprimento também o Dr. Luiz Fernando Figueiredo, o Dr. Claudemir Malaquias, colega nosso da Receita Federal. Gostaria, inicialmente, de agradecer o convite formulado à Secretaria do Tesouro Nacional para participar do evento. Quero cumprimentar também o Deputado Mário Feitoza pela iniciativa de tão oportuna discussão. Infelizmente o Secretário do Tesouro não pôde estar aqui presente como gostaria e, da mesma forma, eu estendo aqui a todos os cumprimentos do Secretário e também os votos de que este Seminário seja uma oportunidade de se discutir temas de grande relevância para o País e, em especial, para as questões associadas e discutidas no Congresso Nacional. 66 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Eu vou basear a minha apresentação em aspectos que eu acho que são importantes tanto em termos de conquistas quanto em termos de desafios da política fiscal no Brasil, colocando alguns aspectos que eu acho que já foram sublinhados em algumas apresentações anteriores, mas que têm uma linha de aspectos positivos, e alguns desafios que se colocam para a política fiscal e para o equilíbrio macroeconômico do País como um todo. Eu gostaria de iniciar, primeiramente, com um quadro específico que já foi colocado aqui por um colega nosso do Banco Central, que é exatamente a evolução de indicadores específicos do endividamento. Então, enquanto os colegas colocam a lâmina ali, acho que é importante a gente dar o destaque, efetivamente, no comportamento do endividamento público brasileiro nos anos recentes. Um dos aspectos importantes em relação a isso se refere ao fato de que, no início deste século, a nossa dívida líquida estava em torno de 60% do PIB e hoje está em torno de 33% do PIB, caindo de uma forma bem positiva. Ao mesmo tempo, a nossa dívida bruta também tem um comportamento um pouco oscilante aí no período de crise, em 2009/2010, mas voltando agora a um processo de redução também em função de aspectos relacionados com a gestão da política fiscal no período. O que eu gostaria de destacar, inicialmente, é que a melhoria do endividamento brasileiro do setor público passa, nesse período, por uma série de avanços que são tanto institucionais quanto legais. Então, se nós pegarmos o endividamento do Brasil no início da década dos anos 2000, e virmos hoje esse endividamento, ressalta-se não apenas a evolução favorável, mas também, por trás de tudo isso, um conjunto significativo de avanços. Então, basta que mencionemos, por um lado, a expressiva colaboração a uma importância fundamental da Lei de Responsabilidade Fiscal, com seus mecanismos específicos para a boa gestão da condução das questões públicas. E, paralelamente a isso, nós tivemos, neste período também, a evolução favorável da melhoria de todo um processo orçamentário concluído pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, pela Lei do Orçamento de cada um dos entes da Federação e da União como um todo. Então esses aspectos evoluíram favoravelmente, significando que houve um ganho positivo em termos de gestão. 67 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Na esfera de Estados e Municípios, nós tivemos a Lei nº 9.496 e, a partir de 1997, as renegociações mais de longo prazo para os entes da Federação. Então a maior parte dos Estados, exceto dois Estados, tiveram programas com a União e foram, com esses programas também, beneficiados de um processo de melhoria de gestão, que estava associado tanto aos programas quanto aos arcabouços que vieram a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Do ponto de vista dos indicadores, também, eu acho que significativos ganhos ocorreram nesse período, e as nossas trajetórias, hoje, não só no endividamento, mas também em outros indicadores fiscais são extremamente favoráveis. Por um lado, nós temos hoje, para ficar apenas na despesa corrente, uma despesa de pessoal em um patamar que é bastante constante. Isso foi atingido a partir do momento em que houve um processo de discussão e de renegociação que trabalhasse com todas as carreiras do setor público e fizesse com que, no âmbito federal, os avanços fossem expressivos. Então os nossos gastos hoje com despesa de pessoal estão significativamente contidos em um patamar bastante confortável em termos de PIB. Bom, essa é uma variável importante porque, por um lado, permite que os recursos também sejam alocados para as prioridades do setor público, que são os investimentos. Então, ao longo desse período, mais recentemente, as prioridades de governo foram: manter a sustentabilidade do investimento; promover, como já foi destacado aqui, grandes esforços na linha de estimular o crescimento de despesas para dar apoio a gastos sociais, notadamente a programas de sustentação de renda e a programas relacionados também à educação e à saúde. Um outro indicador que eu acho bastante relevante, em termos de economia brasileira, é a evolução também favorável dos gastos previdenciários, das despesas, do resultado previdenciário. E, nesse caso, acho que uma das variáveis importantes, recentemente, tem sido a questão do emprego e a questão da formalização. Isso, de fato, também tem contribuído para que um gasto de custeio tão relevante quanto são os gastos de benefícios possa ter também uma sustentação e um patamar compatível com o crescimento da economia, com o grau de formalização e de nível de emprego da economia como um todo. 68 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Do ponto de vista ainda dos gastos correntes, há uma expressiva melhora também naquilo que se menciona em termos de gastos efetivos com despesas financeiras. Ou seja, nossa despesa com juros líquidos, que, no início de 2013 estava em 8,5% do PIB, este ano está apontando para algo próximo de 4,7% do PIB. Então acho que também refletiram nesse comportamento os fundamentos da economia e os efeitos positivos da gestão macroeconômica do País. Do ponto de vista de investimento, há um indicador bastante relevante. Se nós pegarmos os dados de investimentos pagos pelo Governo Central, aquilo que no início da década dos anos 2000 era de 6 bilhões, hoje, em 2014, nós já estamos estimando gastos em torno de 74 bilhões de valores pagos de investimento. Esses são os valores, efetivamente, que se chega ao final do processo de investimento, e a gente sabe que é um processo que demanda tempo. Um investimento é uma variável fundamental, mas é uma variável que também tem seus condicionantes de diversas naturezas, às vezes climáticas, às vezes legais, e este número que eu menciono aqui para os senhores, este crescimento significativo, refere-se ao valor efetivamente pago, ou seja, à obra medida, à obra concluída, à ordem bancária emitida pelo órgão e essa ordem bancária também sacada à conta única. Paralelamente a todo esse processo também, um aspecto específico do Governo tem sido a redução de passivos contingentes. Eu tinha colocado aqui um exemplo específico. Eu vou tentar mencioná-lo para os senhores, enquanto não conseguimos a projeção. No início da década dos anos 2000, o Governo teve a iniciativa de atacar um dos grandes problemas específicos em relação ao setor público, que eram questões relacionadas com suas principais instituições financeiras federais. Naquela oportunidade, ocorreu a criação de uma empresa que se chama EMGEA. Quando a EMGEA foi criada, ela absorveu contratos e passivos da ordem de 26 a 27 bilhões de reais, o que representava, naquela oportunidade, algo em torno de 2% do PIB. Este passivo, ao longo do tempo, foi sendo reduzido. A contrapartida da redução desse passivo também foi o efeito primário dessas despesas, no âmbito das empresas estatais, das quais a EMGEA é componente. Apesar de todo projeto de se estruturar a reorganização do passivo nessa magnitude, em 2% do PIB, naquele período, ao longo do tempo, nós tivemos a 69 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 redução do mesmo, e hoje ele representa apenas 0,1% do PIB. Isto significa que, ao longo do tempo, também, o equacionamento desse passivo foi se dando na forma de resultado primário negativo. Não obstante todo esse desenho, nós mantivemos, ao longo do período, uma trajetória declinante da dívida, suportando inclusive resultados primários decorrentes desses reconhecimentos. (Segue-se exibição de imagens.) Na sequência, há outro conjunto de dívidas que também nós colocamos. Aqui está como um agrupamento da própria estatística do Banco Central, que pega tanto as dívidas vencidas e renegociadas, que são débitos de empresas estatais, débitos de dívidas renegociadas pelo Governo, mediante securitização, quanto os Títulos da Dívida Agrícola — TDA. Isso, de fato, também mostra um comportamento bastante positivo. Então, se pegarmos o mesmo período, iniciando em 2002, essas dívidas representavam 1,6% do PIB, e hoje elas representam 0,2% do PIB. Eu gostaria de falar um pouco da parte de Estados e Municípios, porque eu acho que a trajetória também foi bastante positiva nesse período. Como destacado, a Lei de Responsabilidade Fiscal e os contratos e programas com os Estados e Municípios tiveram um papel fundamental para a melhoria da gestão daquelas esferas de Governo. Aqui eu coloquei apenas dois indicadores para que os senhores possam perceber a evolução bastante favorável. O primeiro deles é um indicador da Lei de Responsabilidade Fiscal, que menciona a relação da dívida consolidada líquida com a receita corrente líquida. Se nós considerarmos o horizonte de tempo que está colocado aqui, tivemos uma redução de 50% da relação entre a dívida corrente líquida e a receita corrente líquida. Ou seja, essa relação, que era o dobro em 2002, hoje é de uma vez a receita corrente líquida. Aqui são dados de relatórios da gestão fiscal. Eles estão agrupados também pela média dos Estados. O número de Estados que, até 2006 e 2007, estavam acima ou mais próximo de dois do que de um hoje é bastante reduzido. Outro aspecto que eu gostaria de mencionar, também no mesmo conceito, que atesta uma melhora expressiva das dívidas dos Estados e Municípios, é o próprio conceito da estatística oficial: a dívida líquida dos Governos estaduais em 70 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 proporção do PIB. Então, para o mesmo período, em 2002, havia uma dívida de 20% do PIB. Hoje essa dívida está em 10,5%. Acho que é importante destacar que durante todo esse período houve melhora significativa na gestão tanto de Estados quanto de Municípios. Muitos dos Estados também obtiveram a capacidade de gerir as suas finanças com o apoio de contratações de operações de crédito, que vieram a dar respaldo e sustentação ao investimento. O próprio Governo Federal, num momento de crise, criou linhas específicas para sustentar os investimentos, como, por exemplo, à época em que o Governo fez as linhas específicas, em 2008 e 2009. Isso também teve um efeito macroeconômico importante e contribuiu para uma menor queda da atividade econômica, e também pelo fato de ser um dos elementos que se associa à explicação de por que o Brasil foi um dos países que saiu da crise com um menor nível de custo fiscal. O que nós temos para os próximos anos? É a continuidade de todo o processo de consolidação fiscal. E aqui eu menciono o projeto da nossa Lei de Diretrizes Orçamentárias, que está hoje no Congresso, estabelecendo uma meta de 2,5% do PIB para 2015, 2016 e 2017, o que, associado à meta desse exercício, de 1,9%, vai contribuir para que tenhamos uma trajetória nos mesmos moldes da trajetória que já havíamos observado. Então, a nossa perspectiva, do ponto de vista de consolidação fiscal, é que o projeto de lei que está hoje no Congresso trata significativamente e de forma bem consistente para que tenhamos uma meta fiscal que seja compatível com o equilíbrio macroeconômico, compatível com a trajetória declinante da dívida e compatível, também, com o papel positivo da política fiscal para a política macroeconômica como um todo, para a política monetária. Esse, sim, será de fato um desafio para os próximos 3 anos. O Governo enviou o projeto para cá, no último dia 15. Ele traz inovações em relação ao projeto anterior, mas ele persegue exatamente a mesma lógica e a mesma orientação dos projetos recentemente encaminhados ao Congresso, com a perspectiva de crescimento econômico sustentando o crescimento do nível de receitas e também com a perspectiva de que o Governo sempre olhe com cuidado e com carinho o lado da despesa. Como eu mencionei, do nosso ponto de vista, três 71 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 principais despesas — pessoal, previdenciária e despesas com juros — têm contribuído de forma positiva. Era isso o que eu queria trazer aqui e agradeço uma vez mais o convite. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Hauly) - Eu agradeço ao nosso expositor, Cleber Ubiratan de Oliveira, Subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional, que acabou de fazer o seu pronunciamento. Eu, sendo municipalista, e também como defensor dos Estados, lamento não ter as condições que a União tem. Os Estados e Municípios passam por uma grave crise financeira, provocada principalmente pelas renúncias fiscais. O Tribunal de Contas da União acabou de exarar um parecer que mostra que de 2008 a 2012 a renúncia do IPI e do Imposto de Renda na parte dos Municípios chegou a um montante de 190 bilhões. Estou aqui Estou aqui no portal do Tribunal de Contas da União, que mostra essa estatística terrível para Estados e Municípios. Isso nos leva a um novo tema: a repactuação federativa, um novo pacto federativo, tendo em vista o avanço da União nesses últimos 30 anos nas receitas dos Estados e Municípios e o empobrecimento fiscal dos Estados e Municípios, perdendo a sua capacidade de poupança e a sua capacidade de investimento. Eles estão totalmente de mãos atadas, manipulados pelo Governo central. E vemos claramente, nitidamente, o esforço que os Estados fizeram, de 2002 a 2012, ou 2013, diminuindo as suas dívidas pela metade do PIB, de duas vezes a receita líquida para uma vez. Então, é um belíssimo desempenho, apesar de tantas restrições, de tantas vinculações. Acredito eu que seja uma ofensa grave, gravíssima ao federalismo brasileiro, do ponto de vista do que está acontecendo nesses últimos anos. Meu querido Deputado Mário Feitoza, Presidente da Comissão de Finanças e Tributação, grande Presidente, grande homem público, minhas homenagens pelo seminário. Quero dizer que nós precisamos fazer agora uma discussão sobre o pacto federativo, sobre as questões de Estados e Municípios e sobre as consequências do que tem acontecido com a invasão do ICMS pelo IPI, pelo PIS, pelo COFINS e pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Mas este é outro tema. 72 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Como um de nossos convidados precisa sair, com a sua permissão, Claudemir, nós poderíamos ouvi-lo antes. Ele, que é o comentarista desta Mesa, deveria ser o último a falar, mas, dado o tempo que demandaram os outros painéis, ele terá que sair em poucos minutos. Com a palavra o Sr. Luiz Fernando Figueiredo, economista e Diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais — ANBIMA. O SR. LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO - É uma honra enorme estar aqui. Eu peço desculpas pela indelicadeza de não poder ficar muito mais tempo. Quero agradecer muito ao Deputado Presidente desta Casa pelo convite, a todos os membros da Mesa e aos presentes. Eu gostaria de tecer três diferentes comentários sobre o que está acontecendo com o Brasil hoje, sobre a situação que estamos vivendo, etc. O Brasil tem sido muito criticado: saiu daquele país que é uma maravilha, que todos querem, que todos acham que é um espetáculo, para um país que só piora, só piora. E é aquela história: nem é um País maravilhoso de um lado, que não tem nenhum tipo de problema, nem é um País que, muitas vezes, as pessoas acabam pintando como se só tivesse problemas, e por aí vai. (Segue-se exibição de imagens.) Eu gosto de comentar baseado nesses três pontos, porque acho que esclarecem um pouco esse meu raciocínio. O primeiro ponto é com relação aos fundamentos. Os fundamentos do Brasil, afinal de contas, são bons ou são ruins? Os fundamentos do Brasil são bons. Está certo que até a alguns anos atrás eles eram melhores, mas hoje eles são muito bons fundamentos. Já se falou aqui algumas vezes sobre a nossa dívida, a dívida com relação ao nosso PIB. A dívida com relação ao nosso PIB, em qualquer um dos conceitos, não tem crescido de maneira explosiva. Pelo contrário, em alguns conceitos, continua caindo. O conceito hoje que talvez seja o melhor de se usar, que é o das reservas brutas, descontando as reservas, tem estado bastante estável nos últimos anos. Então, do ponto de vista de endividamento, o País está bem, apesar de crescer 73 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 menos. Apesar desse mal-estar com relação ao Brasil, o nosso endividamento está bem. Com relação às nossas contas externas, as contas externas do Brasil vinham numa acumulação muito grande de reservas. Hoje temos 380 bilhões de dólares de reservas, ou seja, um abundante fluxo de dinheiro vindo para o País, para contas externas que são bastante razoáveis. Hoje o Brasil não oferece uma enorme fragilidade. O que nós tínhamos era uma trajetória que poderia nos levar, em algum momento, a uma situação de fragilidade, sim. A conta corrente externa brasileira é da ordem de 3,6% do PIB. A partir dos 3 últimos anos de depreciação cambial, o que acabou acontecendo foi que, gradualmente — é um processo mais lento —, as contas que tinham uma trajetória de piora constante passaram a uma situação de estabilidade e até de uma gradual melhora. Então, como o número ainda não é relevante — ou seja, primeiro, não é um número que nos deixa com fragilidade; segundo, a trajetória daqui para frente passa a ser de estabilidade ou de uma pequena redução —, realmente não nos parece que as nossas contas vão nos trazer grandes problemas pela frente, até porque as contas externas brasileiras são muito bem financiadas, como já foi falado aqui, basicamente por investimento direto. Quer dizer, 70% dessas contas, anualmente, são financiadas por investimento direto, que é o dinheiro de mais longo prazo que pode querer um país receber. Outro aspecto é com relação ao (ininteligível) local: se o País tem alavancagem, se as famílias estão muito alavancadas e se os bancos oferecem algum risco. Isso, no Brasil, graças a Deus, não existe. Foi feito um trabalho muito grande pelo próprio Banco Central nos últimos anos, uma regulamentação dura, mas muito eficiente, para que o sistema pudesse se expandir do jeito que se expandiu. O crédito, por exemplo, expandiu-se nos últimos anos, sem que isso gerasse um problema de alavancagem, como a gente viu em tantos outros lugares do mundo. O Brasil, muitas vezes, foi chamado de país muito regulado, mas a regulação que o Brasil tem não atrapalhou o crescimento e o desenvolvimento do sistema e, graças a Deus, inibiu o Brasil de ter pontos de fragilidade por conta de uma regulação frágil. 74 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 O segundo ponto é relativo a questões mais estruturais. Quer dizer, ter bons fundamentos não quer dizer que a gente consiga correr uma maratona do jeito que deveria correr. Nesse sentido, o Brasil tem muitos problemas estruturais, vários deles estão atrasados ou deixaram de ser atacados, e, sem mudanças importantes nessas questões, o Brasil vai estar fadado a crescer pouco. Por quê? Porque, embora com muita saúde, o Brasil não tem o treino suficiente para poder correr como os outros países mais treinados têm, vamos dizer assim. Eu colocaria alguns pontos. O primeiro é uma falta enorme de competitividade da nossa economia frente a outras economias parecidas com a brasileira. Para dar uma ideia, as empresas brasileiras, hoje, pagam, em média, 50% a mais de imposto do que os seus pares em países parecidos com o Brasil. É muito peso para carregar. Com um peso desses, você tem que ser muito melhor do que o outro, e há uma hora que você cansa. Então, o Brasil precisa trabalhar muito na sua competitividade. Há coisas que atrapalham muito a própria competitividade. A primeira delas, como eu já falei, é a carga tributária, que é muito elevada. De novo, com esse nível de carga tributária, na essência, é difícil que a economia brasileira seja competitiva. A segunda, que começou a ser atacada para valer a partir do final do segundo semestre do ano passado, é a questão da infraestrutura. Ou seja, muitas empresas fizeram um enorme dever de casa interno, mas, da porta da fábrica para fora elas não têm muito o que fazer, e, muitas vezes, isso dobra ou, às vezes, triplica o custo daquela mercadoria que vai ser vendida. Então, a infraestrutura é uma coisa muito importante. Como o próprio Trabuco comentou aqui, a gente tem que olhar isso como uma oportunidade. Realmente, é um problema sério hoje, mas, pensando que isso é uma oportunidade, ajuda no processo de fazer isso avançar. Se a gente realmente avançar, em 3 ou 5 anos, nós poderemos falar de uma coisa diferente. Aconteceu até uma coisa interessante. Eu venho com frequência a Brasília. Cheguei ontem aqui e, no aeroporto, falei: “Acho que eu errei o voo”, porque eu entrei num negócio completamente diferente, completamente moderno, com aquelas esteiras rolantes. Eu falei: “Eu nunca vi isso! Pelo menos nunca no Brasil.” Então, se avançarmos 75 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 nesse processo, em pouco tempo teremos, realmente, quase uma revolução, o que melhora muito o que a gente chama de Custo Brasil, custo de competitividade, etc. Há uma outra questão relevante que a gente não vai sentindo porque é uma coisa que vem vindo aos poucos. O Brasil fez um trabalho enorme para conseguir acabar com aquela inflação de 10% ou 20% ao mês, e por aí vai. Para acabar com isso, um dos ingredientes muito importantes foi acabar com a indexação da nossa economia ou reduzi-la muito. Isso foi feito e ajudou muito o processo. Estamos num país que tem uma inflação mais perto de um país normal, em comparação ao que nós tínhamos naquela época — muito mais, na verdade. Havia uma situação absolutamente caótica naquela época. A questão é que, de lá para cá, uma série de instrumentos de indexação foram criados e vêm sendo criados ao longo do tempo. A gente não sente isso e diz assim: “Não, isso aqui precisa ser indexado, porque, afinal de contas, houve inflação.” Quando você vai juntando, vai criando uma inércia inflacionária. A gente brigou por décadas para que ela fosse corrigida lá atrás, e está sendo formada de novo. Então, se a gente não tiver um trabalho realmente abrangente com o objetivo de reduzir drasticamente a indexação, a gente vai estar fadado sempre a pagar um custo muitíssimo mais alto para conseguir ter a nossa inflação dentro de uma coisa razoável, dentro de uma coisa que o mundo hoje tem. O terceiro ponto é a situação atual. Eu diria que é o ponto que mais tem gerado apreensão em todos, com uma certa razão. É uma questão mais cíclica, o que não quer dizer que não pode se tornar uma questão muito aguda. O Brasil foi muito bom em criar e ampliar a demanda por produtos na sua economia. Nós trouxemos uma nova classe média, trouxemos um aumento importante do mercado de crédito e criamos um mercado consumidor muito grande aqui dentro. Acontece que, infelizmente, nós não conseguimos aumentar ou ampliar a oferta de produtos nessa mesma economia. Em geral, quando eu faço apresentações, gosto de mostrar este gráfico: as vendas no varejo ou vendas de serviços contra a oferta de produtos industrializados. É impressionante a diferença do comportamento de 2006/2007 para cá. Foi muito grande o quanto mais a gente tirou de demanda, o quanto a gente trouxe de oferta. O resultado disso é muito simples: a inflação. Eu tinha 100 de demanda, 100 de 76 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 oferta, a inflação estava o.k. Hoje eu tenho 200 de demanda e só 100 produtos para ofertar. O resultado disso é a inflação, não tem jeito. O que a gente precisa fazer é trabalhar para que esse desequilíbrio — uma coisa cíclica, mas que pode se tornar crônica — se reduza e seja eliminado. Como é que se faz isso? Há duas possibilidades. A melhor possibilidade é dar um boost nos investimentos, ampliá-los bem. Com isso, você amplia a oferta de produtos e alcança aquela demanda que é muito maior. Então, você produz, hoje, 100, passa a produzir 120, 130 ou 150 e chega aos 200, que a nossa economia consome. Infelizmente, não é o que está acontecendo. O que está acontecendo hoje é a segunda solução, aquela não ótima, a pior solução para resolver esse problema, que acontece através da redução da demanda. Na prática, o que a gente vê ainda é uma queda muito... É uma moderação, eu diria, da demanda por produtos. Ao longo do tempo, a não ser que a gente amplie a oferta de produtos, ela terá que ser uma queda mais severa de demandas de produtos na nossa economia. É uma coisa simples, não é uma discussão de políticas. A gente hoje demanda mais do que a gente tem capacidade de entregar. Então, o resultado disso, infelizmente, é a inflação. Como é que nós fazemos para conseguir ampliar essa oferta de produtos, que é o grande problema? A primeira coisa é que nós tenhamos uma política fiscal com um horizonte de mais longo prazo e percebida como uma política fiscal robusta. Nós tivemos, durante muitos anos, não só uma política fiscal robusta como uma percepção de que a nossa política fiscal era muito boa. Isso gera muita confiança. O que existe hoje? Hoje existe uma falta de confiança com relação a nossa política fiscal. Essa falta de confiança piora as expectativas de uma maneira geral, tanto das empresas quanto dos investidores, dos consumidores. E isso, claro, atrapalha a nossa economia a crescer. A segunda coisa é que a gente precisa ajustar rapidamente os nossos preços públicos que estão hoje defasados. Por que isso? Por que a gente precisa ajustálos? Por que a gente não deveria ajustá-los gradualmente? Porque, toda vez que a gente deixa para frente um ajuste a fazer, as pessoas melhoram a situação atual, a percepção do que está acontecendo hoje, mas pioram a perspectiva sobre o futuro. 77 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, isso bate de frente com as expectativas e a confiança. Não é à toa que nós temos hoje uma confiança tanto de empresários quanto de consumidores num nível muito, muito baixo, o que há muito tempo nós não víamos, porque todos sabem que o ano que vem vai ter que ser um ano de ajuste. Então, como eu não estou ajustando hoje, estou ajustando lá na frente, tenho que acalmar a minha expectativa para ver o que vai acontecer no ano que vem. Quando eu faço o ajuste assim que tenho o problema, eu pago o custo desse ajuste, mas tenho, por outro lado, uma perspectiva muito melhor à frente. Eu falo: “Está duro hoje, mas lá na frente vai estar melhor.” Infelizmente hoje a gente não tem essa lógica. Todos sabem que, se conversarem com qualquer analista, com qualquer consumidor, com qualquer empresário, eles vão dizer: “Não, o ano que vem vai ser um ano duríssimo”! Bom, se o ano que vem vai ser duríssimo, eu não vou investir hoje. Mas se falarem: “Agora está duro, mas o ano que vem vai ser bom”, posso dizer que vou voltar a investir. E a gente sabe que, se não houver investimento, é simples, a gente não amplia a oferta; se a gente não amplia a oferta, a gente vai continuar tendo uma inflação mais elevada. Eu quis fazer comentários muito breves sobre esses três pontos, porque acho que são muito importantes. Primeiro, os fundamentos do Brasil continuam muito bons. Olhando para outros países do mundo, enfim, o Brasil está muito tranquilo. O Brasil hoje é credor líquido externo, ele não é mais devedor líquido. Portanto, está numa posição muito, muito confortável. Segundo, temos várias questões estruturais que podem ajudar a nossa economia a andar melhor e mais competitiva, para que possa crescer mais. E, terceiro, por outro lado, nós temos questões de curto prazo que têm que ser atacadas. Caso elas não sejam atacadas, esse processo vai ser mais lento e mais difícil para todos nós. Então, eu vou ficar por aqui. Agradeço muito, mais uma vez, pela gentileza e pelo convite. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Hauly) - Nós é que agradecemos as palavras do Sr. Luiz Fernando Figueiredo, economista e Diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais — ANBIMA, porque realmente, em poucos minutos, nos deu uma visão otimista mas também com muito peso de responsabilidade do que está acontecendo no Brasil de hoje e do 78 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Brasil que queremos, com todas as nossas dificuldades: os fundamentos são bons; as contas externas têm problemas, porque nós estamos com um déficit anual grande das contas correntes; a balança comercial está quase empatada; o crescimento da importação aumentou muito nesses últimos anos para atender a essa demanda reprimida; ainda continuamos sendo grandes exportadores de commodities; temos muitos problemas estruturais e uma agenda pesadíssima pela frente. Eu agradeço, portanto, a sua participação. Acredito que eu e todos aqui pudemos ter uma percepção muito melhor, resumidamente, claro, dada a urgência da sua partida para pegar o voo para São Paulo. O Brasil é um país complexo. Esta Casa tem feito a sua parte. A Câmara dos Deputados tem iniciativas, como o SIMPLES e o Super-SIMPLES — são todas iniciativas da Casa. Enquanto não sai a reforma tributária, nós trabalhamos uma agenda aqui dentro da Câmara dos Deputados. Hoje mesmo é o dia de votação ou do encaminhamento da ampliação do Super-SIMPLES, que foi, nesses 18 anos, o maior acontecimento tributário. Oitenta por cento dos novos empregos do País estão vindo das empresas do MEI e do Super-SIMPLES. É pouco! Precisamos de reformas profundas para que haja crescimento robusto de Tigre Asiático. Temos todas as condições: matéria-prima, produção agrícola. Eu acho que a sua exposição foi importante, em meio aos dados e informações fiscais que acabamos de receber do Cleber. Ouviremos também agora o Claudemir Malaquias, Chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, a quem eu agradeço. Já libero imediatamente para ir agradecendo em nome da Casa e do Feitosa. Tiraremos uma foto antes aqui para os registros. (Pausa.) O SR. CLAUDEMIR RODRIGUES MALAQUIAS - Deputado Luiz Carlos Hauly, muito boa tarde! Cumprimento também os colegas Cleber e Luiz Fernando, que já está deixando esta Mesa. Gostaria de agradecer pelo convite feito à Receita Federal para participar deste seminário, na pessoa do Deputado Mário Feitoza. Igualmente, eu gostaria de agradecer também aos Deputados Vicente Candido, Augusto Coutinho e Arthur Oliveira Maia, que tiveram essa brilhante iniciativa de promover este seminário. Nós sabemos que a questão tributária tangencia todos os temas e todos os fóruns de todos os Governos do Planeta, do mundo todo. Eu acredito que, quando 79 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 falamos da questão tributária, quando tocamos no assunto tributário, estamos tocando nas questões fundamentais, nos principais fundamentos de todo o País. Eu fiz aqui algumas anotações. Tive a felicidade de ficar por último para falar. Fui privilegiado nesse sentido. Fiz algumas anotações a respeito de algumas palavras-chaves que começaram a se repetir. Tudo que a gente ouviu aqui girava em torno de produtividade, competitividade, melhoria do ambiente de negócios no País, preservação de empregos, formas de melhorar e atrair novos investimentos, redução de impostos, burocracia, litigiosidade, redução dos custos de conformidade. Ou seja, todos esses sistemas que estão dentro da agenda econômica têm um ponto de contato com a questão tributária. Por isso, a gente agradece a participação da Receita. Como é a nossa participação dentro deste fórum de discussão? Desde que nós chegamos ao Centro de Estudos, recebemos as diretrizes do Secretário Barreto, no sentido de tentar construir uma agenda conjunta, uma agenda positiva com todas as confederações e agora com as Casas Legislativas, sobretudo com essas iniciativas da Comissão. Qual o objetivo disso? Nós focarmos nas discussões. Se nós fôssemos fazer um inventário do quantitativo de projetos que têm matéria tributária ou conotação tributária que tramita nas duas Casas, chegaremos a um número de milhares, o que é praticamente impossível nós conciliarmos essas discussões e chegarmos a conclusões. Na verdade, existem várias discussões iniciadas e poucas conclusões em termos de modificação. Diante desse cenário, nós gostaríamos aqui de trazer o posicionamento da nossa Casa, da Receita Federal, no sentido de que há uma abertura para a discussão e para a construção de soluções que visem aperfeiçoar o nosso modelo. Eu começo a falar rapidamente sobre a questão da redução dos custos de conformidade. Essa é uma preocupação mundial. Os fiscos, em todo o mundo, tendem a elaborar normas, não que visem diretamente dificultar a situação do contribuinte, mas normas que visem ao maior controle, ao maior combate às fraudes. Só que nesse mister de procurar uma fórmula de se combater a elisão e a evasão tributárias evidentemente que há uma produção, talvez exagerada, de 80 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 normas que acabam por sobrecarregar a vida dos contribuintes. Paralelamente a isso, há uma previsão no mundo todo, inclusive no nosso Fisco, de reduzir os custos de conformidade ou os custos de adimplemento das contribuições tributárias. Nesse sentido, eu não vou entrar em detalhes, mas nós podíamos citar aqui três grandes projetos. O primeiro deles é o SPED, Sistema Público de Escrituração Digital, um grande projeto assumido entre todos os entes tributantes com diversas entidades, com parcerias com grandes contribuintes na fase de elaboração, na fase de concepção. O SPED visa justamente reduzir o número de informações que saem dos contribuintes e chegam a todos os Fiscos. Essas informações, na maioria das vezes, são repetidas, mas com o SPED vai haver uma simplificação muito grande nesse sentido. O outro grande projeto de simplificação na área das obrigações sociais e trabalhistas é o Portal eSocial, que, da mesma forma, irá consolidar numa única ferramenta, numa única prestação de informações, num único canal de informação, todas as informações que interessam aos diversos órgãos governamentais. Por último, lançado na semana passada, a gente gostaria de lembrar da criação do Portal Único de Comércio Exterior, que, da mesma forma, irá simplificar toda a tramitação dos exportadores e importadores, trazendo uma redução significativa no custo de realização da burocracia ou da regulamentação e da tramitação das exportações e importações do comércio exterior. A Receita faz parte desses três grandes projetos e em todos eles assume papel preponderante, porque toda questão envolve modificações dos nossos sistemas. Então, a Receita tem papel preponderante nesses projetos. Todos esses projetos estão dentro dessa diretriz e alinhados com essa premissa, com esse propósito de reduzir o custo de conformidade aqui no Brasil. Pois bem, eu trago aqui alguns números da REDESIM também, que é uma grande simplificação, que é uma integração dos Fiscos também. Eu trago aqui alguns números e não gostaria de enfastiá-los com esses números tão pequeninhos. Não é para enxergar mesmo, é só para ver os quadros, mas está mais ou menos em linha. (Segue-se exibição de imagens.) 81 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Aqui, na verdade, é uma foto dos quadros que vocês tiveram oportunidade de verificar, desde a apresentação do Sr. Ministro, de como a evolução da economia ou como o cenário econômico, ao longos desses últimos anos, reflete-se dentro da questão tributária. Então, aqui estão alguns números que nós consideramos na análise, no acompanhamento da questão tributária. Só para mostrar para vocês que há uma curva nitidamente ascendente no sentido de que nós temos um crescimento da receita bruta; nós temos um crescimento um pouco mais lento no número de empresas, na quantidade de empresas; depois nós temos também um crescimento na quantidade de empregados registrados formalmente — isso se reflete também na questão tributária; e temos também um crescimento da massa salarial, o que nós reputamos como uma questão bastante interessante. Nesse outro quadro aqui também a gente vê o crescimento da arrecadação por tributo e a arrecadação conforme o regime de tributação. Em todos eles, é facilmente identificável a curva ascendente ao longo dos últimos anos. A questão tributária é sensível evidentemente à questão econômica. Se nós temos uma economia com um determinado comportamento, isso é refletido diretamente na questão tributária. Em seguida, eu trago aqui alguns números que o Deputado Hauly comentava justamente sobre a situação dos Municípios. Aqui a gente traz uma estratificação da composição da carga tributária. Nos anos de 2011 a 2012, houve uma distribuição, uma pequena, uma ligeira alteração, mas isso, para nós, é ponto de reflexão. Quando o Deputado colocou aquelas questões, eu falei assim: “Eu acho que ele viu a minha planilha aqui.” Realmente, o sistema tributário tem que — nós lidamos com isso no dia a dia — se pautar em alguns princípios. Os dois grandes princípios da questão tributária são o da eficiência e o da equidade. Ou seja, a questão tributária muito ajuda quando não atrapalha a economia. Dessa forma, a questão da eficiência e da neutralidade, dentro da medida do possível, é buscada e tem que ser buscada em todas as discussões, em todas as modificações que nós propusemos. Nesse sentido, essa vertente, esse princípio, quando é levado com seriedade, evita que nós criemos assimetrias e distorções, o que vem prejudicar o próprio sistema. 82 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Hoje nós temos um sistema tributário que, como foi dito aqui, é complexo e traz um quantitativo enorme de tributos. Isso foi criado e instituído de acordo com a história econômica do País. Como é que nós, que estamos vivendo no momento presente, lidamos com isso? Nós temos que nos debruçar em cima desse problema, dessa situação, desse cenário e tentar trazer o aperfeiçoamento, que vem com a obediência a esses princípios. Também temos o que chamamos de quadrinômio: ao lado da eficiência e da equidade, nós temos a produtividade e o crescimento. Ou seja, quando nós estamos discutindo a eficiência do sistema tributário, nós estamos falando em distribuição isonômica da carga tributária e nós estamos falando também de produtividade e crescimento na economia. Pior do que uma carga tributária elevada é uma carga tributária mal distribuída. A nossa função é criar um modelo tributário que faça com que a distribuição do peso dos tributos seja suportado conforme a capacidade de cada um. Esse é o nosso desafio. Sempre que o sistema apresenta anomalias, assimetrias, nós percebemos as distorções, que afetam diretamente a economia. Foi dito aqui também — está entre as minhas anotações — que, quando os empregados perdem, os trabalhadores perdem, as empresas perdem, o Governo perde, a economia perde, todos perdem. Aí temos que estar sempre atentos à questão tributária. No quadro seguinte, eu trago uma decomposição da carga tributária. Eu peço desculpas, porque nós estamos com o número de 2012, mas já vou logo justificando. Alguns dados para a composição das nossas análises precisam ser dados definitivos dos diversos institutos de estatística e pesquisa. Então, é por isso que os consolidados efetivos são só de 2012. Nós estamos finalizando ainda as nossas estatísticas de 2013 e alguns dados ainda não estão consolidados ou confirmados pelas prévias, razão por que trago aqui dados de 2012. Nós temos uma composição aqui que já demonstra como é o modelo tributário brasileiro. Ou seja, como o modelo tributário brasileiro compõe ou supre o Estado dos recursos de que ele necessita. A distribuição que nós temos, em percentual, em relação ao PIB, é esta: os tributos sobre a renda ocupam 6,40%. Ou seja, dos 35% da carga tributária, 6,4% são relativos à tributação sobre a renda; a 83 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 folha de salários, 9,5%; a propriedade, 1,38%; o consumo, 17,83%; transações financeiras, 0,70%; e demais, 0,03%. Essa composição sempre deve ser refletida e deve ser bem analisada quando nós estamos discutindo uma modificação legislativa. Acredito que um dos propósitos deste seminário deve ser justamente esse. Se nós tivéssemos que reduzir as diretrizes para a política tributária no Brasil, nós as reduziríamos em cinco linhas? Nessas cinco linhas, olhando para esta tabela, o que nós faríamos? Vamos diminuir o consumo? Vamos tributar mais a renda? Vamos tributar mais a propriedade? Ou seja, que caminho vamos seguir? Que diretrizes vamos estabelecer? Acredito que o papel dessas grandes discussões com diversas áreas da sociedade serviria para finalizar esses pontos. Fechados esses pontos, nós partimos para discutir as medidas, porque o que nós vemos hoje é um grande número de medidas tributárias tentando resolver parte dos problemas. Talvez, se nós olhássemos para o modelo como um todo, nós alcançaríamos um grau de efetividade muito maior na discussão e na implementação das medidas. No próximo quadro, eu trago a carga tributária comparada, de 2012 ainda, que são os dados disponíveis internacionalmente. A carga tributária no Brasil é elevada, conforme a gente ouviu aqui. Nós não consideramos que a carga tributária seja elevada nesse patamar de se falar que se paga muito imposto. Talvez todos queiram dizer assim: “Não, a carga tributária está mal distribuída”. Talvez este seria o ponto mais interessante. Temos de cuidar para que o nosso modelo tenha sempre uma distribuição adequada da carga tributária. Se nós formos analisar esses percentuais aqui, a nossa carga tributária estaria compatível com o resto do mundo. Como está a distribuição da receita bruta em relação ao quantitativo de empresas? Nesse próximo quadro, a gente traz aqui a distribuição pelo lucro real, lucro presumido e as empresas tributadas pelo SIMPLES. Vocês veem que é uma curva inversamente proporcional. Nós temos 151 mil empresas que são tributadas pelo lucro real, ou seja, são aquelas empresas que têm contabilidade completa, que têm um maior número de obrigações acessórias para serem cumpridas, sofrem um maior custo, têm obviamente um custo maior para fazer o adimplemento das suas obrigações tributárias, elas representam quase 80% da receita bruta total. 84 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Em comparação, no SIMPLES, que são as empresas que têm uma tributação mais favorecida, nós temos — aqui não estão incluídos os microempreendedores individuais — 3 milhões e meio de empresas, que são a grande parte das empresas no País, mas representam apenas 8,69% de toda a receita bruta. No quadro seguinte, para vocês terem conhecimento também, nós trazemos uma informação muito interessante. Como a arrecadação se comporta com a variação do PIB? Não é uma relação direta. Até nesta semana, nós estávamos na coletiva de imprensa, divulgando os números da arrecadação. É uma preocupação dos economistas, pelo menos dos jornalistas que estavam acompanhando a coletiva, saber se o comportamento da arrecadação vai ser refletido e de que maneira vai ser refletido no PIB. Não há uma relação direta. Esses dois períodos que estão destacados aí, 2009 e 2012, representam os períodos atípicos, mas em 2008, por exemplo, a arrecadação foi superior ao crescimento do PIB. Em 2009, a queda na arrecadação foi superior à queda no PIB, ou seja, a arrecadação foi muito mais sensível à queda no PIB do que o próprio PIB, o percentual do PIB. Em 2010, a situação se inverte. Aí nós temos um crescimento de 7,53% no PIB e na arrecadação, em compensação, 10,3%. Em 2011, nós temos essa diferença bastante grande, que foi a explicação do REFIS. O REFIS provocou um salto na arrecadação em 2011 que não foi acompanhado, evidentemente, pelo PIB. Em 2012 a situação foi um pouco diferente. O PIB cresceu, mas a arrecadação não cresceu no mesmo percentual. Foi nesse período em que nós ingressamos mais fortemente nas desonerações tributárias, que eu vou mostrar um pouquinho mais adiante com os outros números. Ou seja, existe uma tendência a nós equalizarmos melhor esse modelo tributário. Isso começou em 2012. Em 2013, o PIB teve esse desempenho, estima-se em 2,28%, e a arrecadação, 4,36%, também por conta do REFIS no final do ano. No gráfico seguinte, eu trago uma afirmação interessante que nós costumamos utilizar também para a discussão do modelo tributário. É a quantificação e a mensuração dos gastos tributários. O que são gastos tributários? O que nós poderíamos chamar de gastos tributários? São todos aqueles gastos 85 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 indiretos vinculados, realizados por intermédio do sistema tributário. Eles visam atender a interesses econômicos ou a necessidades econômicas e sociais. Esses gastos tributários estão lá dispostos na norma do tributo e significam o quê? Uma arrecadação a menor em determinado tributo, em determinada situação, e um aumento equivalente na disponibilidade econômica do contribuinte. O gasto tributário pode ter duas naturezas. Ele pode ter o caráter compensatório, ou seja, naquelas situações em que o Estado, o Governo não consegue, com a sua política pública, alcançar ou satisfazer toda a necessidade social. Então, nós reduzimos a tributação para que seja aumentada a disponibilidade econômica para o contribuinte, para que ele complemente a ação que o Estado não consegue atingir naquele nível. Então, o gasto tributário tem natureza compensatória e também pode ter natureza de incentivo, ou seja, você reduz a tributação para aquelas atividades que necessitam de um incentivo para uma alavancagem, ou porque estão numa situação difícil frente ao mercado internacional, por uma questão de competitividade, ou porque aquele setor é de interesse para a satisfação das necessidades da sociedade e tem uma carga tributária mais favorecida. Esse gráfico mostra que, desde 2011, nós temos ainda um patamar e uma curva bastante ascendente em relação aos gastos tributários. Se nós pudéssemos abusar do português, poderíamos dizer que isso é a “destributação”. Ou seja: se, ao passo que nós estamos vivenciando aumentos reais de arrecadação, por outro lado, estamos aumentando o gasto tributário. O que significa isso? Em termos gerais, significa eficiência não só do modelo tributário, mas também da arrecadação. Está se cobrando mais por quê? Atividades em que se estava cobrando menos passaram a contribuir. Ou seja: você vê nitidamente um alargamento da base e, ao mesmo tempo, um aumento dos gastos tributários, um aumento da renúncia fiscal, um aumento das desonerações. Significa o quê? Que o modelo está se adequando. A se perpetuar esse comportamento, teremos o diagnóstico de que o modelo tributário vai se aperfeiçoando. É claro que nós gostaríamos que a velocidade desse aperfeiçoamento fosse mais instantânea, que pudéssemos coletar os resultados de uma maneira mais imediata, mas as questões tributárias que implicam modificações 86 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 legislativas não são simples e não se resolvem em questões muito rápidas. O que conseguimos apurar e determinar é que o movimento é satisfatório e positivo. Aqui, só para vocês terem uma ideia, há a distribuição, por Região, dos gastos tributários. Evidentemente, destacamos a Região Norte. Por quê? Onde nós precisamos ter mais gastos tributários? Na Região que está menos desenvolvida. Então, evidentemente, aí há uma complementação. Mas, nas outras Regiões, sempre o gasto tributário é menor em relação à proporção do PIB. Em seguida, trago uma decomposição dos principais gastos tributários, só a fim de exemplificação de como estão sendo distribuídas todas as nossas desonerações. Eram essas as informações que nós tínhamos. Agradeço, mais uma vez, a oportunidade que deram à Receita Federal de participar. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Hauly) - Muito bem! Muito bom! O nosso agradecimento, em nome da Câmara dos Deputados, da Comissão de Finanças e Tributação e das Comissões que compõem este evento — a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio —, que fazem parte deste trabalho. Uma consideração, como Presidente da Mesa, agradecendo ao Mário Feitoza pela honra de presidi-la: o problema brasileiro, o nó górdio é a tributação sobre a base de consumo. Indiscutivelmente — já estudei isso dezenas, centenas de vezes, em palestras —, a tributação da base de consumo indireta no Brasil é a mais alta do mundo, o que torna o País um sistema mais complexo. A tributação direta brasileira é baixíssima. A base consumo, base propriedade, base renda têm uma tributação baixa. Eu calculei aqui, por cima do seu quadro, e vi que a base consumo — metade da folha, que é base consumo — mais as transações financeiras resultam em 64,7% da arrecadação nacional, contra uma média dos países da OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, de 32% e, dos Estados Unidos, de 16%. Na tributação direta versus tributação indireta está a essência da nova reforma. O Brasil precisa ter coragem de enfrentar essa questão de tributar 87 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 diretamente e diminuir a tributação indireta, que afeta os mais pobres e faz com que, segundo o IPEA — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a FIPE-São Paulo — Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e a Professora Maria Helena Zucon, quem ganhe até dois salários mínimos tenha uma carga tributária de 53,9% e quem ganhe acima de 30 salários mínimos, 29%. Os 10% mais ricos pagam 22% de tributo e os 10% mais pobres pagam 32% em média. Essa infelicitação do sistema tributário brasileiro não quer ser encarada nem pelo Congresso Nacional, nem pelo Executivo, nem pela sociedade e nem pelas corporações. A injustiça, e estou falando da injustiça fiscal, só vai diminuir — não é que vai acabar; só vai diminuir — no dia em que nós enfrentarmos a questão da tributação direta. Por muitos anos — não é, Roberto? —, trabalhamos, debatemos a questão da tributação direta e indireta. É claro: nós não temos uma cultura para dobrar a tributação da renda. Se você dobrar o IPTU — Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, a população entra na Câmara e mata todos os Vereadores e o Prefeito. Não há espaço. Mas, nas transações, há: na inter vivos e na causa mortis, há espaço. Aqui, equivocadamente, vêm com conversa de tributação de fortuna. A grande tributação de fluxo — não estou falando de estoque — vem exatamente do Imposto de Renda. Então, é a reforma que precisamos fazer. Se não tivéssemos a informática hoje, dificilmente essa complexidade poderia ser detectada como está analisada. Até a renúncia fiscal, hoje, que tem o belo nome de “gastos tributários”, se for medida nos Estados e Municípios, vai dar um total e um percentual do PIB maior do que a renúncia federal. Somente a União e poucos Estados têm feito esse quadro de gastos tributários. A guerra fiscal dos Estados é uma imbecilidade, uma ignorância de um País que fica se lamentando porque não cresce, porque não impõe uma tributação sobre empresas. Cada vez que se tributa mais a empresa dessa forma, a diferença vai para o preço. É claro, é óbvio; o empresário não paga o tributo. Só que a complexidade que afeta a sua empresa destrói o seu negócio, e é por isso que o sudeste asiático invadiu o Brasil. 88 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Então, há uma demanda de consumo. O povo quer consumir porque evoluiu. Milhões de pessoas saíram das classes D e E e passaram para a C. Houve uma evolução. Há uma demanda reprimida das massas brasileiras, que querem mais consumo. E, para as nossas empresas, infelizmente, é preferível importar. Eu cito um homem lá de Curitiba que tinha uma fábrica de árvores de Natal. Passava o ano inteiro produzindo e estocando para vendê-las. Quando chegava o fim do ano, houve uma invasão de árvores da China. O que ele fez? Demitiu os empregados e passou a ser importador e vendedor de árvores de Natal. Compra nos meses de setembro e outubro, estoca e vende, em novembro e dezembro, as suas árvores de Natal. É o que está acontecendo com o Brasil, pela complexidade da sua legislação tributária e das outras legislações que infelicitam a Nação brasileira. Sem reformas — e a mãe das reformas é a tributária: pode vir com reforma política, pode vir com as outras reformas; a tributária é a mãe, a segunda é a previdenciária —, enquanto o setor público não fizer igualar os seus funcionários com o INSS, não haverá justiça previdenciária no Brasil. A partir de dez salários, os funcionários públicos municipais, estaduais e federais poderão ter os seus fundos de previdência. Fica muito claro isso. Quem toma essa diretriz? É o Executivo nacional e o Congresso Nacional. E há a reforma trabalhista, para também ter uma imposição mais rápida, mais fácil. Os mecanismos, o SPED — Sistema Público de Escrituração Digital, todos os mecanismos construídos facilitam pela tecnologia. No Brasil e no mundo, em 7 mil anos de história, o que evoluiu foi a tecnologia. Os problemas, o bem e o mal, a sonegação e a elisão vão se ajeitando, mas, mesmo com toda a tecnologia, você não faz um ambiente necessário. Além da infraestrutura, que foi reclamada, como é que há competitividade? Então, encerro este painel agradecendo aos três, dois da área pública e um da área privada, que tem uma visão mais macro e também positiva da economia brasileira, dizendo que os fundamentos são bons: é gerência. O Governo do Brasil tem um monte de ferramentas, só que esse armário, essa despensa, acaba. Daqui a pouco não tem mais como gastar os produtos que estão dentro dessa despensa, e nós vamos naufragar. 89 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Finanças e Tributação Número: 0440/14 COM REDAÇÃO FINAL 29/04/2014 Sem dúvida alguma, temos todas as condições para um Brasil novo, meu caro Mário Feitoza. Esta é que era a sua intenção: reforma, reforma, reforma. É do que o Brasil precisa. Dou por encerrada a reunião. O nosso Presidente marca para as 15 horas a próxima reunião, dando menos de 1 hora para o almoço, quando todos voltaremos. Muito obrigado. Que Deus abençoe a todos! 90