SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
ELIANE GUEDES ROLIM
LÚCIA DE FÁTIMA DE PAIVA GADELHA
MARIA VÂNIA CARTAXO LEITE SOARES
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR NO CUIDADO EM UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA
JOÃO PESSOA – PB
2010
ELIANE GUEDES ROLIM
LÚCIA DE FÁTIMA DE PAIVA GADELHA
MARIA VÂNIA CARTAXO LEITE SOARES
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR NO CUIDADO EM UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação Profissionalizante da
Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Terapia Intensiva.
Linha de pesquisa: Humanização na Unidade de
Terapia Intensiva.
ORIENTADORA
Profª. Dra. Valderez Araújo
JOÃO PESSOA – PB
2010
ELIANE GUEDES ROLIM
LÚCIA DE FÁTIMA DE PAIVA GADELHA
MARIA VÂNIA CARTAXO LEITE SOARES
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR NO CUIDADO EM UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA PEDIÁTRICA
Dissertação submetida à banca examinadora como requisito para
obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva, no Programa de PósGraduação Profissionalizante da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
Aprovado em: __________/____________/_________.
BANCA EXAMINADORA
Professor (a): _______________________ Instituição: _________________
Julgamento: ________________________ Assinatura: ________________
Professor (a): _______________________ Instituição: _________________
Julgamento: ________________________ Assinatura: ________________
Professor (a): _______________________ Instituição: _________________
Julgamento: ________________________ Assinatura: ________________
A nossa contínua formação como profissionais não poderia ter sido
concretizada sem a ajuda de nossos amáveis companheiros, filhas (os),
pais, avós, familiares, orientador (a) e amigos, que no decorrer de nossas
vidas, proporcionaram-nos, além de extenso carinho e amor, os
conhecimentos da integridade, da perseverança e de procurarmos sempre em
Deus à força maior para o nosso desenvolvimento como seres humanos. Por
essa razão, gostaríamos de dicarmos e reconhecermos a vocês, a nossa
imensa gratidão e sempre amor.
A Deus dedicamos o nosso agradecimento maior, porque têm sido tudo
em nossas vidas, e quando algumas vezes, sentindo-nos desacreditadas e
perdidas nos nossos objetivos e ideais, nos deixou fortalecidas para
vivenciarmos a delícia da vitória, lutamos muito para conquistar este Título
de Mestre.
A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência
egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos
também a felicidade.
(Carlos Drummond de Andrade).
Gadelha, L. F. P.; Rolim, E. G.; Soares, M. V. C. L. Humanização hospitalar no
cuidado em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica [dissertação]. João Pessoa:
Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva, Sociedade Brasileira de Terapia
Intensiva, 2010.
RESUMO
Na busca frente às constantes mudanças e incentivos para assistência humanizada na
Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica, as quais são destinadas ao atendimento de
crianças em estado grave e que necessitam de assistência ininterrupta, bem como de
monitorização constante por parte da equipe multiprofissional esta pesquisa de
natureza qualitativa do tipo bibliográfica teve como objetivo identificar na literatura no
período de 2000 a 2010, ações de saúde que contribuem para uma assistência
humanizada em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Os resultados demonstram
que as ações de saúde com vistas à humanização em UTIP devem pautar-se na
construção do cuidado singular, na integralidade e no respeito à vida. Assim, exige-se
da equipe da UTIP, uma maior integração no que concerne à humanização da
assistência e ao envolvimento com a família e a criança, o qual ultrapasse os limites
técnicos. A presença efetiva da equipe de saúde com escuta sensível é tão importante
quanto o procedimento técnico, uma vez que nem sempre os conhecimentos técnicos
funcionam tão bem diante das situações de estresse. Somente vendo, escutando e
sentindo a criança e a família como um todo, estaremos atendendo e compreendendo
a essência do cuidar humano. É oportuno destacar a responsabilidade que a equipe
multiprofissional possui de envolver os familiares, centrado na figura dos pais, no
cuidado direto aos seus filhos. Métodos e intervenções devem ser implementados,
com a finalidade de propiciar a participação dos mesmos no cuidado de tais crianças,
com o auxílio de procedimentos estritamente necessários a sua evolução,
minimizando condutas agressivas e estressantes.
Palavras-chave: Humanização da Assistência; Profissionais de Saúde em UTIP;
Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.
Gadelha, L. F. P.; Rolim, E. G.; Soares, M. V. C. L.. Humanizing hospital care in the
Pediatric Intensive Care Unit [dissertation]. João Pessoa: Professional Master's Degree
in Intensive Care, Brazilian Society of Intensive Care, 2010.
ABSTRACT
In seeking the face of constant changes and incentives for humanized care in the
Pediatric Intensive Care Unit, which are designed to serve children in critical condition
and in need of continued assistance as well as constant monitoring by the
multidisciplinary team nature of this research qualitative type of literature aimed at
identifying the literature from 2000 to 2010, health actions that contribute to a
humanized in Pediatric Intensive Care Unit. The results show that health actions aimed
at the humanization of PICU should be guided in the construction of the meticulous
care, in full and on respect for life. Thus, it requires staff from the PICU, further
integration with respect to the humanization of the assistance and involvement with the
family and child, which exceeds the technical limits. The effective presence of the
healthcare team with sensitive listening is as important as the technical procedure,
since the expertise is not always work as well in situations of stress. Just seeing,
hearing and feeling the child and family as a whole, we view and understand the
essence of human caring. It should highlight the responsibility that the multidisciplinary
team has to involve the family, centered on the figure of the parents, direct care for
their children. Methods and interventions should be implemented, with the objective of
promoting their participation in the care of such children, with the help of procedures
strictly necessary to its development, aggressive behavior and minimizing stress.
Key-words: Humanization of Assistance; Health Professionals in the PICU, Pediatric
Intensive Care Unit.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 08
1.1 Humanização em Saúde e suas Perspectivas Históricas...........................
08
1.2 Humanização da Assistência na Unidade de Terapia Intensiva Pediá1
trica..................................................................................................................
10
1.3 Ética na Humanização Hospitalar.................................................................... 14
1.4 A Política Nacional de Humanização no Setor Hospitalar............................ 15
1.5 O Ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.............................
19
1.6 Os Profissionais de Saúde e a Família como Agente Facilitador no Processo de Humanização Hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica...........................................................................................................................
20
2 OBJETIVOS...........................................................................................................
23
3 PROCEDIMENTOS METOGOLÓGICOS.............................................................
24
4 COMPREENSÃO E DISCUSSÃO.........................................................................
26
4.1 O Ambiente da UTIP e a Humanização do Cuidado.......................................
26
4.2 A Equipe de Saúde como Agente Facilitador no Processo de
Humanização e o Vínculo Afetivo entre Família e Criança................................. 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................
31
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 35
2
INTRODUÇÃO
2.1 HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE E SUAS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS
A humanização é um tema que está sendo amplamente discutido nos dias de
hoje, em todos os aspectos da área da saúde, tendo em vista que as pessoas despertaram
para a importância do cuidado humanizado, que vai além do físico, porque envolve
também aspectos psicológicos e emocionais.
Segundo Mezomo (2002), a humanização é difícil de ser definida, é algo que se
percebe, que se sente, tanto quando está presente como quando está ausente, mas que é
difícil de traduzir em palavras.
Quanto ao conceito e definição de humanização, o referido autor (2002, p.276), destaca
que: “a humanização, de fato, não é apenas um conceito. É uma filosofia de ação
solidária. É uma presença. É a mão estendida. É o silêncio que comunica. É o sorriso
que apóia. É a dúvida desfeita. É a confiança restabelecida. É a informação que
esclarece. É o conforto na despedida.”
É através da humanização que se faz a assistência, sendo ela um beneficio valioso que
se deve oferecer ao paciente hospitalizado. Para Mezomo (2002), um hospital
humanizado: “é aquele que em sua estrutura física, tecnológica, humana e
administrativa valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço da mesma,
garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade.”
Segundo Deslandes (2004), esse tema vem sendo discutido desde a década de
1950, por diversos campos da saúde. Nesse período, já se tinha conhecimento de um
conjunto de práticas, lógicas e interações que poderiam ser reconhecidas como fatores
de desumanização, o que demonstrava que a humanização dos serviços de saúde tem
raízes e fundamentação teórica bastante sólida.
Apesar de a história da saúde pública brasileira datar seus primórdios na
república, o Ministério da Saúde (MS) do Brasil só veio ser instituído na década de
1960. A partir da sua criação, o MS caminha em conjunto com a formulação da Política
Nacional de Saúde (PNS). Esse fato se tornou um marco na história devido às
constantes modificações que houve com o fim de melhorar a assistência à saúde e
garantir um atendimento calcado em seus princípios da universalidade, integralidade,
equidade e da participação social do usuário, enfatizando a criação de espaços de
trabalho que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário (BRASIL, 2004).
Nesse sentido, a PNS convoca todos os gestores, trabalhadores e usuários a se
comprometerem com o processo de humanização, visto que o próprio Ministério
identificou um número crescente de queixas dos usuários, em relação à falta de
acolhimento, de acesso e de condições de trabalho (BRASIL, 2004).
São necessárias novas estratégias que propiciem soluções para a grave questão
existente nas instituições de saúde do Brasil, ou seja, para a massificação do
atendimento ao ser humano. Alguns sinais positivos já começaram a surgir no contexto
hospitalar. Foi criado em 2001, no âmbito Programa Nacional de Humanização da
Hospitalar (PNHAH), através da Portaria N° 881, de 19 de junho 2001. O PNHAH
fornece bases para a implantação de um conjunto de integradas que visam a modificar
substancialmente os serviços prestados aos usuários dos hospitais públicos brasileiros,
melhorando sua qualidade e eficiência. Para tanto, busca aprimorar as relações dos
profissionais de saúde com os pacientes e também com os médicos, enfermeiros e
demais funcionários entre si, tanto nos hospitais como nas comunidades em que
trabalham e que deles dependem.
A Política Nacional de Humanização em Assistência Hospitalar (PNHAH)
propõe um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de
assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, para melhorar a qualidade e a
eficácia dos serviços prestados por essas instituições. A humanização, em um ambiente
hospitalar, requer comprometimento e envolvimento por parte de todos os profissionais
da equipe. Essa transformação somente é possível se houver sensibilização dos
trabalhadores quanto às atitudes e aos comportamentos que envolvem o ser e o fazer
profissional.
Convém enfatizar que a humanização do ambiente hospitalar e da assistência à
saúde não se concretiza se estiver centrada unicamente em fatores motivacionais
externos ou somente no usuário. O hospital humanizado é aquele que contempla; em
sua estrutura física, tecnológica, humana e administrativa, a valoração e o respeito à
dignidade do ser humano, seja ele paciente, familiar ou o próprio profissional que nele
trabalha, garantindo condições para um atendimento de qualidade. Como o ser humano
faz parte de um processo de relações e não só de contatos, ele não apenas está no
mundo, mas com o mundo, o que resulta de sua abertura à realidade, da
problematização de sua condição na realidade do trabalho e de sua contribuição para a
construção dessa mesma realidade (FREIRE, 2006).
Humanizar, muito mais do que um artifício, uma técnica ou apenas uma
intervenção, significa estreitar relações interprofissionais, que possibilitem aos
trabalhadores reconhece-rem a interdependência e a complementaridade de suas ações,
permitindo que o coração, junto com a razão, manifeste-se nas relações de trabalho do
dia a dia.
O profissional de fisioterapia também assume um importante papel na
implantação de práticas do programa nacional de humanização em ambientes
hospitalares. Isso implica a reflexão crítica e dialógica acerca dos princípios e valores
que norteiam as diretrizes desse Programa. No campo da saúde, ele amplia o seu objeto
de estudo, no que diz respeito à prevenção, ao tratamento e à reabilitação para, assim,
promover o bem-estar individual e coletivo do ser humano. Isto é, ser capaz de prevenir
e tratar os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistema do corpo
humano, gerados por alterações genéticas, traumas e doenças adquiridas, exercendo,
assim, um papel importante na reabilitação do paciente e na sua na inclusão social.
Apesar do aumento do número de publicações sobre as políticas de humanização
que atuam em conjunto com as práticas dos profissionais de saúde e da criação de
programas político-sociais, que visam à humanização entre os programas de assistência
em saúde.
O distanciamento existente entre o profissional e o paciente pode ser o ponto inicial que
desencadeia a desumanização da assistência. A situação das instituições tem piorado,
acarretando em um descontrolado aumento do tempo de espera nas filas, nas
emergências, levando ao desespero a população que busca atendimento. Neste sentido, o
referido autor acima citado também ressalta as características de um hospital
desumanizado:
Desorganização e confusão constante dentro da instituição; pacientes mal recebidos
desde sua admissão até sua alta, indiferença no relacionamento com o paciente;
prescrições mal feitas ou mal executadas; maneira grosseira no trato com familiares e
visitantes; desrespeito ou ausência de hierarquia; falta de organização burocrática e
administrativa; atritos frequentes entre pessoal médico e para-médico; serviço de apoio
falhando constantemente; tensões e atritos entre funcionários ou grupos; imagem da
instituição desgastada na comunidade.
Por essa razão, qualquer discussão sobre a humanização da assistência deve levar em
consideração dois temas indissociáveis: qualidade e humanização. Segundo Souza et aI.
(2003), qualidade e humanização caminham juntas, numa filosofia de ação solidária que
deve estar sempre presente em qualquer empresa, inclusive no hospital.
1.2 Humanização da Assistência na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
A Humanização nos últimos tempos tem sido alvo de discussões no campo da saúde,
enaltecendo práticas de qualidade, integrando a tecnologia científica e social. O
processo de implantação de ações humanizadas ainda caminha a passos lentos em
virtude do modelo cartesiano, dicotômico, fragmentado e reducionista que ainda
prevalece. O desejo de poder atingir um perfil interdisciplinar e holístico, ainda é difícil
de ser uma realidade (BARCKES; LUNARDI, 2006).
Atualmente, no momento histórico em que vivemos, observamos que se discute com
muita ênfase a evolução da ciência, o progresso tecnológico, a liberdade, a autonomia
profissional, o desenvolvimento de novas competências profissionais, a modernização e
a necessidade de refletirmos sobre o cuidar que dizemos oferecer aos pacientes
hospitalizados (WALDOW, 2004).
Nas Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica é possível observar cenas de grande
solidariedade, mas também de profunda desvalorização do ser humano que, muitas
vezes, não passa de um número, caso clínico, órgão ou peça anatômica. Nem sempre o
paciente é respeitado em sua privacidade, sendo desnecessariamente exposto aos olhares
curiosos dos que querem ou precisam aprender com o seu problema ou enfermidade.
Falta mais sensibilidade, e esse dado é reforçado pela rotina de trabalho massificante
enfrentada pelos profissionais de saúde.
Esse cenário sempre nos levou a refletir sobre o fato de que, muitas vezes, a criança é
assistida com pouca dignidade e bastante inserção tecnológica, submetida a
procedimentos de ponta, cheia de agulhas, cateteres, tubos e diante de um grupo de
profissionais que lhe oferece os últimos avanços tecnológicos e conhecimentos.
É oportuno ressaltar, que a presença marcante da tecnologia é um fator importante para
o tratamento da saúde e manutenção da vida. Mas não se pode ignorar o fato de que à
medida que a prestação de serviço do sistema de saúde se tornou cada vez mais
dependente da tecnologia, as práticas humanistas, como manifestações de afeto
expressas diretamente entre o profissional e o paciente, como o toque, o olhar, o sorriso
e a relação solidária dos profissionais de saúde com os doentes não são mais colocados
como questões prioritárias (PIVA et al., 2002).
Segundo PIVA et al. (2002), nem sempre é possível dar o melhor atendimento à criança
que se encontra na UTIP. Uma boa estrutura para atender às necessidades da criança
deve envolver profissionais em número suficiente, e especialmente treinados para
fornecer assistência específica e observação contínua, além de equipamentos especiais,
manutenção constante e uma organização administrativa preocupada em manter padrões
de assistência e programas de educação permanente.
Vale salientar que, na UTIP, a criança tem privação sensorial, barreiras corpóreas para
tocar o próprio corpo e não tem o mesmo contato diário com a família, que
normalmente nem toca na criança por não saber se pode, deve e como tocá-Ia. As
barreiras para comunicação verbal (entubação, traqueostomia, cateter nasal), geralmente
alteram sua auto estima e sua auto-imagem (PIVA et al., 2002).
A hospitalização gera na criança diferentes reações que vão se manifestar de acordo
com diversos fatores, entre eles: o grau de separação dos familiares (total ou parcial), a
idade da criança, o seu estado clínico aliado aos cuidados imediatos que serão
necessários, a duração da permanência da criança no hospital e o tipo de relacionamento
entre a criança e o seu familiar acompanhante.
Ademais, a UTIP geralmente é vista como um ambiente frio, desgastante e tenso cheio
de equipamentos, com uma equipe muito preparada tecnicamente. No entanto, muitas
vezes há dificuldades em prestar uma assistência humanizada à criança.
A humanização da assistência em UTIP está interligada à presença dos pais no ambiente
de cuidado, sendo de fundamental importância no restabelecimento do estado clínico da
criança. Os familiares também passam por momentos de ansiedade, muitas vezes
gerados pela separação física, sendo necessário que a equipe de saúde busque meios
para prestar uma assistência holística, como, por exemplo, facilitando a adaptação ao
ambiente hospitalar e flexibilizando os horários de visitas. Para Piva et al. (2002)., o
papel da família na promoção e manutenção da saúde tem sido pouco explorado. Suas
reações e potencialidades na assistência à criança hospitalizada merecem ser
consideradas.
A humanização da assistência também diz respeito ao gerenciamento dos profissionais
de saúde. Segundo Malik (2000), a humanização ganha espaço e cor se você conseguir
administrar os funcionários de forma a que eles se preocupem mais com o doente.
A equipe deve ser: organizada e dinâmica, atuando de forma interdisciplinar. O autor
acima ainda ressalta que, a atuação da equipe de saúde em uma unidade de terapia
intensiva pode ser comparada a uma orquestra onde os músicos necessitam de um
desempenho harmonioso. Tal cooperação depende do médico, da equipe de enfermagem
e de todo pessoal envolvido. Assim, a humanização da assistência à criança deve
revestir-se de atenção, solidariedade e respeito.
Para Malik (2000), cuidar é uma arte e implica em "amar o seu semelhante, suavizando
o seu sofrimento, utilizando seus conhecimentos técnico-científicos, crendo nele,
facilitando um melhor viver ou morrer com dignidade".
Por outro lado, para prestar uma assistência humanizada a pacientes em estado grave, os
profissionais também necessitam de estar preparados quanto às suas necessidades
biopsicossociais e espirituais. Segundo Oliveira (2004), os profissionais de saúde
também sofrem impactos e se vêem diante de questionamentos sobre vida, morte e o
que fazer além dos procedimentos técnicos que, embora com muitos aparatos
tecnológicos, não alcançam as necessidades psicossociais e espirituais.
Vale salientar que os profissionais de saúde que atuam na UTIP trazem sobre si a
responsabilidade de interpretar as mudanças bruscas nos sinais físicos das crianças,
conhecendo o funcionamento dos equipamentos e iniciando medidas de emergência, o
que conduz a trabalhar sob muita tensão.
Desse modo, no que se refere à humanização do atendimento às crianças hospitalizadas,
Reichert e Costa (2000), afirmam que vem sendo observada uma mudança de
consciência dos profissionais de saúde quanto à importância de uma assistência mais
humanizada.
Neste contexto, a humanização na UTIP, considera a essência do ser, o respeito à
individualidade e a necessidade da construção de um espaço concreto que legitime o
humano dos profissionais envolvidos. A atenção com qualidade e humanização depende
da provisão dos recursos necessários, da organização de rotinas com procedimentos
comprovadamente benéficos, evitando-se intervenções desnecessárias, garantindo-se
privacidade e autonomia e compartilhando-se com a família as decisões sobre as
condutas a serem adotadas (REICHERT; COSTA, 2000).
Para Piva et al. (2002), trabalhar na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica requer
senso de prioridade, senso ético e moral, liderança, boa interação com a criança, família
e equipe, capacitação técnica e busca de novos conhecimentos.
Humanizar não é uma técnica ou artifício, é um processo vivencial que permeia toda a
atividade das pessoas que assistem o paciente, procurando realizar e oferecer o
tratamento que ele merece como ser humano, dentro das circunstâncias peculiares que
se encontra em cada momento da hospitalização.
Para um melhor entendimento sobre o processo do cuidar humanizado, procuramos
demonstrar algumas visões sobre humanização.
A política de humanização deve ser tratada como um elemento
de transversalidade para o SUS, estando presente desde a
recepção e acolhimento do usuário no sistema de saúde, até o
planejamento e gestão das ações e estratégias, sejam elas de
promoção, prevenção ou reabilitação. Sendo assim, quando se
considera o cenário hospitalar é necessário entender que a
humanização precisa estar voltada não só ao paciente internado
e aos seus familiares, mas também à própria equipe de saúde,
uma vez que será pela inter-relação efetiva e afetiva existente
entre eles que o cuidado poderá ser desenvolvido de maneira
mais humana, ética e solidária (COSTA et al., 2009, p. 573).
Deste modo, a humanização pode ser representada por um conjunto de iniciativas que
visa a produção de cuidados em saúde, capaz de conciliar a melhor tecnologia
disponível com promoção de acolhimento e respeito ético e cultural ao paciente, de
espaços de trabalhos favoráveis ao bom exercício técnico além de satisfação dos
profissionais de saúde e usuários (LAMEGO et al., 2005).
Sendo assim, quando se considera o cenário hospitalar é necessário entender que a
humanização precisa estar voltada não só ao paciente internado e aos seus familiares,
mas também à própria equipe de saúde, uma vez que será pela inter-relação efetiva e
afetiva existente entre eles que o cuidado poderá ser desenvolvido de maneira mais
humana, ética e solidária (COSTA et. al., 2009).
Desse modo, é importante conhecer o hospital em seu desenvolvimento e suas funções
como prestador de serviços no campo assistencial, desempenhando um papel em prol da
restauração da saúde.
A humanização da assistência em UTIP também requer a utilização de referenciais
teóricos para nortear a prática, constituindo-se em importante ferramenta para a
qualidade deste serviço.
Ademais, a humanização será fortalecida quando os profissionais de saúde souberem
agir e possuir habilidade de contornar os conflitos, conhecer e reconhecer as diferenças
existentes entre as pessoas, respeitando, na medida do possível, as vontades, os desejos,
valores, hábitos e costumes do ser humano.
Diante disso, sentimos a necessidade de aprofundar nossos conhecimentos, visando
poder proporcionar uma assistência humanizada às crianças que se encontram nessa
situação, e este trabalho reflete uma necessidade de mudança da prática da assistência
no que diz respeito à humanização do tratamento dispensado na UTIP. Como caminho,
recorremos à literatura, a fim de buscar formas ou possibilidades de abordagem sobre
humanizar o cuidado intensivo em Pediatria.
1.3 Ética na Humanização Hospitalar
A ética é à parte da filosofia que aborda o comportamento humano, seus anseios,
desejos, vontades, e as normas que ao longo dos tempos foram sendo instituídas por
grupos e comunidades. Ética provém do adjetivo grego ethikós, ón, que significa
“conforme aos costumes”, derivação, por sua vez, do substantivo éthos, eos, “uso,
costume”, a palavra foi assimilada à língua portuguesa por intermédio do latim. O
primeiro registro de seu uso é do século XV (MASIP, 2002).
Um dos aspectos importantes para o profissional de saúde cumprir é a questão da ética
no contexto hospitalar, nesse sentido é necessário que a equipe multiprofissional tenha o
conhecimento mínimo do código, discussão ampla de situações nas quais é possível
defrontar-se, o exercício imperioso não pensar em ética como um livro de normas que
governe a conduta profissional, mas a expressão de hipóteses que permeiam as relações
em primeira instância. Contudo, e não excludente, as reflexões éticas para a prática em
Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica devem ser mais especulativas e muito mais
amplas. A área da saúde está em contínua evolução e com mudanças, visões e ações
novas que exigem posturas velozes frente a elas. E para efetivo, um código de ética
deve estar constantemente sendo revisto e atualizado (DAVIS, 2003).
Humanizar significa particularizar, atender as circunstância e necessidades individuais.
Mas não se trata de qualidade do serviço prestado. Humanização é obrigação, é
exigência do consumidor, é revitalização de preceitos éticos. E tem dois enfoques:
refere-se às condições de trabalho, de responsabilidade da administração superior e da
política de recursos humanos; na dispensação de cuidados ao cliente, tarefa de todos
(SOUZA, 2003).
Os trabalhos de humanização, em algumas instituições de saúde, vêm sendo
desenvolvido de forma crescente atualmente nas instituições de saúde no intuito de se
construir um ambiente mais harmonioso e composto de trocas de saberes e vivências
que contribuam para o crescimento do contexto hospitalar, favorecendo toda a equipe,
pacientes e familiares do hospital. Apesar das questões problemáticas que o contexto da
saúde vem enfrentando, alguns profissionais de saúde utilizam-se de meios criativos e
humanizados na instituição. Os meios criativos que podemos citar são os trabalhos
voluntários, programas de humanização, bem como continuidade de projetos
humanizantes na instituição hospitalar.
A humanização é definida em sua abrangência como uma valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e
gestores; fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos; aumento do grau de
co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos; estabelecimento de vínculos
solidários e de participação coletiva no processo de gestão; identificação das
necessidades de saúde; mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de
trabalho tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde;
compromissos com a ambiência, melhoria das condições de trabalho e de atendimento
(MS, 2004).
Ademais, a humanização se fundamenta em considerar as necessidades, desejos e
interesses dos diferentes atores do campo da saúde. Destaca o aspecto subjetivo presente
em qualquer ação humana: olhar cada sujeito em sua história de vida e, como sujeito de
um coletivo, sujeito da história de muitas vidas (BRASIL, 2003).
1.4 A Política Nacional de Humanização no Setor Hospitalar
A política de humanização deve ser tratada como um elemento de transversalidade para
o SUS, estando presente desde a recepção e acolhimento do usuário no sistema de
saúde, até o planejamento e gestão das ações e estratégias, sejam elas de promoção,
prevenção ou reabilitação.
O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH). Foi criado
em 2001, pela Secretária da Assistência à saúde do Ministério da Saúde. Em agosto de
2003, o Ministério da Saúde fez importantes modificações no que diz respeito à
Humanização, instituído, em lugar do Programa de Humanização, passou a ser Política
Nacional de Humanização (PNH), que propõe a humanização como eixo norteador das
práticas de saúde em todas as instâncias do Sistema Único de Saúde (SUS) (MS, 2004).
Outro projeto é o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (Portaria
569/GM, 1/06/2000), cujo objetivo é assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da
qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e ao puerpério. Entre as
suas diretrizes, preconiza que as autoridades sanitárias dos âmbitos federal, estadual e
municipal são responsáveis pela garantia dos direitos das gestantes e dos recémnascidos, de forma humanizada e segura.
A humanização, como política do SUS, está também reconhecida no Pacto pela Saúde,
conforme a Portaria n.° 39 de 22/02/2006 do Ministério da Saúde, evidenciando dois
pressupostos básicos da PNH, que são a promoção da humanização no atendimento e
nas relações de trabalho. Para muitos, significa um novo momento, em que as interrelações de responsabilidade se redesenham, o olhar sobre a eficiência em saúde se volta
para os resultados, e os gestores incluem, em seus vocabulários, termos como
solidariedade e compartilhamento (MS, 2004).
O movimento de humanização nos hospitais é voltado para o processo de educação e de
treinamento dos profissionais de saúde, mas também para intervenções estruturais que
façam a experiência da hospitalização ser mais confortável para o paciente. De acordo
com a Constituição Brasileira de 1988, é direito de todo cidadão receber um
atendimento público de qualidade na área da saúde. Para garantir esse direito, é preciso
empreender um esforço coletivo de melhoria do Sistema de Saúde do Brasil, uma ação
com potencial para disseminar uma nova cultura de atendimento humanizado.
Para isso, o Ministério da Saúde lançou o PNHAH, que propõe um conjunto de ações
integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos
hospitais públicos do Brasil, para melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços que
hoje são prestados por essas instituições. Ao valorizar a dimensão humana e subjetiva,
presente em todo ato de assistência à saúde, o programa aponta para uma requalificação
dos hospitais públicos, que poderão tornar-se organizações mais modernas, dinâmicas e
solidárias, em condições de atender às expectativas de seus gestores e da comunidade
(MS, 2007).
O autor acima destaca que, em cada hospital, o trabalho foi desenvolvido por dois
profissionais, com o acompanhamento de uma equipe de supervisores, coordenado pelo
Comitê de Humanização. Os principais objetivos desse projeto-piloto foram: a)
Deflagrar um processo de humanização dos serviços, de forma vigorosa e profunda,
destinado a provocar mudanças progressivas, sólidas e permanentes na cultura de
atendimento à saúde, em benefício tanto dos usuários-clientes quanto dos profissionais;
e b) Produzir um conhecimento específico acerca dessas instituições, sob a ótica da
humanização do atendimento, de forma a colher subsídios que favoreçam a
disseminação da experiência para os demais hospitais que integram o serviço de saúde
pública no país.
A proposta de humanização da assistência à saúde visa à melhoria da qualidade de
atendimento ao usuário e das condições de trabalho para os profissionais. Portanto,
visando, também, ao alinhamento com as políticas mundiais de saúde e à redução dos
custos excessivos e desnecessários, decorrentes da ignorância, do descaso e do
despreparo que ainda permeiam as relações de saúde em todas as instâncias (MS, 2005),
o PNHAH propõe um conjunto de ações integradas, que objetivam mudar
substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil,
melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços hoje prestados por essas instituições.
Segundo o Ministério da Saúde (2004), a humanização é vista não como programa, mas
como política que atravessa as diferentes ações e instâncias gestoras do Sistema Único
de Saúde (SUS), implica: traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos
diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde; construir trocas solidárias e
comprometidas com a dupla tarefa produção de saúde e produção de sujeitos; oferecer
um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas
presente; contagiar por atitudes e ações humanizadas à rede SUS, incluindo gestores
trabalhadores da saúde e usuários.
Atualmente, os princípios básicos da Política de Humanização são: valorização da
dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS,
fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às
questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios,
quilombolas, ribeirinhos, assentados; fortalecimento de trabalho em equipe
multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade; apoio à construção de
redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a
produção de sujeitos; construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos
implicados na rede do SUS; co-responsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão
e atenção; fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as
instâncias do SUS; compromisso com a democratização das relações de trabalho e
valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos e educação permanente
(MS, 2002).
A implementação do trabalho da Política Nacional de Humanização
(PNH), é feito para consolidar quatro marcas específicas:
Serão reduzidas as filas e o tempo de espera com ampliação do acesso
e atendimento acolhedor e resolutivo baseados em critérios de risco;
Todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de
sua saúde e os serviços de saúde se responsabilização por sua
referência territorial;
As unidades de saúde garantirão as informações ao usuário, o
acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha) e os
direitos do código dos usuários do SUS;
As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus
trabalhadores e permanente aos trabalhadores (MS, 2002).
Podemos dizer que, a humanização em saúde é uma construção permanente de
laços de cidadania, trata-se, portanto, de olhar cada sujeito em sua especificidade, sua
história de vida, mas também de olhá-lo como sujeito de um coletivo.
Para a Legislação Brasileira em vigor, a humanização nas Unidades de Terapia
Intensiva Pediátrica compreende: climatização, iluminação natural, divisória entre os
leitos, relógios visíveis para todos os leitos, garantia de visita dos familiares à beira do
leito e informações diárias sobre a evolução dos pacientes aos seus familiares. Em
suma, a humanização tem por objetivo evitar que o paciente e os seus familiares se
tornem mais agitados ou deprimidos (PRESTO; PRESTO 2006). Pinto (2008) aborda a
importância da humanização quando diz que, o indivíduo se recupera melhor estando
em um ambiente agradável, onde se sinta valorizado e bem cuidado.
Nesse contexto, Masetti (2003) relata que as pesquisas realizadas em hospitais mostram
que, quando se trabalha com humanização, a maioria do ambiente hospitalar traz
benefícios como redução do tempo de internação, aumento do bem-estar geral dos
pacientes e dos funcionários e diminuição das faltas de trabalho na equipe de saúde.
Como consequência, o hospital também reduz seus gastos, e isso traz benefícios para
todos.
No que se refere ao contexto hospitalar, o brincar tem sido reconhecido pela sua função
terapêutica, que atua na modificação do ambiente, do comportamento e, principalmente,
da estrutura psicológica da criança, no transcurso de seu tratamento, dependendo das
condições clínicas do paciente, auxiliam na recuperação e amenizam o trauma
psicológico da hospitalização através de atividades lúdicas e da musicoterapia
(CARVALHO, 2006).
Pode-se utilizar de paredes decoradas com adesivos de personagens infantis. No acervo,
além de jogos e brinquedos, podem existir livros e televisão. A brinquedoteca é um
espaço de animação sociocultural, que é encarregado de transmitir a cultura infantil e
desenvolver a socialização, a integração social e as construções das representações
infantis. Com o trabalho lúdico, a criança pode aceitar melhor o processo de internação
e o de recuperação (BUSSOTT et al., 2009).
São pesquisas como esta que nos mostram como é nítida a percepção de muitas
instituições quanto à necessidade de incorporarem diretrizes e projetos de humanização
para funcionários e pacientes, principalmente na melhoria do ambiente hospitalar.
1.5 O Ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
A UTIP é um ambiente hospitalar destinado ao cuidado de crianças em estado crítico ou
potencialmente crítico, de ambos os sexos e com diversos tipos de patologias clínicas ou
cirúrgicas, caracterizando assim uma UTIP geral (PIVA et al., 2002).
Na década de 1970, as UTIP foram implantadas no Brasil, proporcionando uma melhora
no atendimento a pacientes graves, antes realizado nas enfermarias, com área física
inadequada e escassez de recursos tecnológicos e humanos (ACUNA et al., 2007).
As Unidades de Tratamento Intensivo Pediátrico (UTIP) são áreas hospitalares que dão
suporte a pacientes graves com risco de vida. A assistência é realizada de forma
ininterrupta, com uma equipe especializada, composta de: médico, enfermeiro, técnicos
de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistente social,
psicólogo, dentre outros. Esta dispõe de recursos tecnológicos que facilitam o
diagnóstico e terapêutica (PRESTO, PRESTO, 2006).
Todos os hospitais de nível terciário contendo mais de 100 leitos devem possuir, pelo
menos, 6% do total dos leitos destinados a UTI. Segundo a Portaria 466, de 4 de Junho
de 1998, a UTI pode estar ligada a uma Unidade de Tratamento Semi-Intensivo (UTSI).
As Unidades podem ser agrupadas de acordo com a faixa etária em neonatal (pacientes
com 0 a 28 dias de vida), pediátrica (29 dias a 18 anos incompletos), adulta (idade
acima de 14 anos) e especializada, sendo esta última caracterizada por receber paciente
de uma especialidade médica específica ou de um grupo específico de patologias dentre
as quais podem compreender: cardiológica, coronariana, neurológica, respiratória,
trauma, queimados, dentre outras. Segundo o Ministério da Saúde, as UTI são
classificadas em três tipos tomando por base a Portaria 3.432 de agosto de 1998,
levando em consideração o espaço físico, a tecnologia e os recursos humanos
disponíveis (MS, 2009).
Essas unidades contam hoje em dia com uma atuação multiprofissional, com a equipe,
sendo composta por médicos, enfermeiros, técnica de enfermagem, fisioterapeutas,
nutricionistas, assistente social, psicólogo, dentre outros, a fim de proporcionar a
descentralização de funções e possibilitando um suporte mais seguro ao paciente e
visando minimizar os erros e a sobrecarga de trabalho (PRESTO, PRESTO, 2006).
A equipe de saúde da UTIP também sofre, pois se apegam muito as crianças, sendo
difícil realizar procedimentos dolorosos ou enfrentar a morte de um neonato. Por isso, é
imprescindível dentro de uma unidade de cuidados intensivos, uma equipe bem treinada
que consiga cuidar da criança e dar apoio aos pais. O trabalho da equipe
multiprofissional de uma UTIP é um desafio constante, pois exige habilidade,
sensibilidade, atenção, flexibilidade e amor, porque a criança é extremamente
vulnerável e dependente da equipe que lhe está prestando assistência.
Dentro da UTIP deve existir uma interação entre os profissionais da equipe de saúde e
destes com a família, propiciando assim, uma UTIP humanizada, onde a criança
receberá toda atenção e carinho da equipe. O ideal seria que o atendimento
multiprofissional dispensado a criança fosse estendido aos seus pais, pois estes
expressariam sentimentos que muitas vezes não conseguem superar sozinhos, levandoos frequentemente à insegurança e à angústia diante de uma situação delicada.
1.6 Os Profissionais de Saúde e a Família como Agente Facilitador no Processo de
Humanização Hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
O fator mais importante em todo este contexto da internação em UTIP, além de um
atendimento humanizado é a participação da família, mas, para que ocorra o sucesso
dessa relação, torna-se imprescindível despertar na equipe de saúde a preocupação
quanto a necessidade de uma boa interação com a família, fornecendo informações
adequadas nos momentos próprios, isso leva a um processo interativo no qual, a partir
do momento em que a família sentir segurança, a equipe de saúde deve abrir mais
espaço, deixando paulatinamente os cuidados que vinham desenvolvendo até então, e
funcionando basicamente como suporte e orientação; partindo dessa primícia a
Assistência Humanizada à criança na UTI Pediátrica e a Integração com a família terá
êxito.
Contudo, segundo alguns estudos previamente publicados, não é só a mãe que
estabelece vínculo com a criança, o pai também é muito importante nessa fase, pois
além de oferecer apoio à mãe, pode dispensar cuidados a criança, como afirma Avery
(2002) recentemente foi dado uma importância maior ao papel do pai e da mãe no
cuidado real da criança, um pai envolvido emocionalmente com o bem estar da mãe e da
criança, e que é competente para auxiliar e cuidar deles, pode ser muito útil na situação
de cuidado posterior, a mesma análise psicológica do prazer que a mãe obtém por ser
eficaz em desencadear resposta do seu filho, aplica-se ao pai. Também são aplicáveis os
prazeres da participação com a criança nos contatos pele a pele, olho no olho ou sorriso.
Acredita-se que para humanizar é preciso individualizar o atendimento, para tanto é
necessário à criação de vínculo entre o profissional e a família-criança, no sentido de
perceber suas necessidades, bem como a capacidade da mãe de lidar com seu filho. Para
a formação deste vínculo se faz necessário o estabelecimento de relações menos
autoritário. Na medida em que o profissional, em lugar de assumir o comando da
situação passa a adotar condutas que trazem bem estar, garantindo segurança à família e
a criança.
Nessa perspectiva, a unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP) é um local destinado
a receber crianças que necessitam de cuidados especiais. Para fornecer esses cuidados, a
UTIP deve dispor de uma equipe capacitada, espaço físico adequado, materiais e
equipamentos sempre disponíveis e em funcionamento.
O ambiente da UTIP, frequentemente, assusta os pais, pelo fato de ser um local de
acesso restrito, onde se realizam alguns procedimentos invasivos, ficando a criança
ligada a fios e aparelhos e rodeado por pessoas desconhecidas que dispensam alguns
cuidados específicos que deveriam ser realizados pelos pais. Isso gera desconforto,
ansiedade e insegurança nos pais e na própria criança. Segundo Miura e Procianoy
(2002), a unidade de tratamento intensiva pediátrica (UTIP) é um local de conservação e
recuperação do bem estar e de garantia de sobrevida, assim como um sítio gerador de
desconforto, desgaste físico e emocional intensos.
Porém, de acordo com estudos realizados de funcionários que trabalham com crianças
graves, a presença dos pais dentro da UTIP é de extrema importância para a recuperação
das mesmas. Segundo eles, o bebê se acalma ao ser tocado pelos pais. Às vezes até pára
de chorar quando escuta a voz da mãe. Já foi comprovado que crianças graves que
convivem com seus pais dentro da UTIP se recuperam mais rápido do que aqueles que
recebem a visita dos pais por apenas 30 minutos diários. Santana (2003) em seu estudo
sobre crianças graves relata que alguns funcionários não se importam com a presença
dos pais e que eles além de ajudar no tratamento da criança, facilitam o trabalho dentro
da UTIP, realizando algumas tarefas, quando a situação da criança assim permite, como:
banho, troca de fraldas e alimentação.
Miura e Procianoy (2002) acreditam que manter e incentivar a continuidade do vínculo
da criança com seus pais e sua família ajudará a preservar o ambiente de afeto
necessário ao seu desenvolvimento harmônico. Segundo Ministério da Saúde (2002), o
apoio recebido por parte da equipe de saúde é fundamental para facilitar que os pais
possam ver e tocar sua criança logo após o nascimento, caso as condições de saúde
deste o permitam.
Assim sendo, devemos pensar em uma UTIP humanizada com o objetivo de ajudar a
família, a criança e a equipe de saúde. De acordo com Naganuma (2004), humanizar a
assistência é atender, de maneira individualizada, as necessidades da criança e de sua
família, visando à ótima qualidade de assistência. Independentemente do resultado, a
sobrevida ou a morte do recém-nascido, a assistência humanizada deve ser capaz de
transmitir aos pais o sentimento de solidariedade e de respeito à sua dor.
2 OBJETIVOS
√ Elaborar um estudo na literatura científica, no período compreendido entre
2000 a 2010, em que possa contribuir para a qualificação de uma assistência
humanizada em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.
√ Identificar a participação do atendimento humanizado entre profissionais de
saúde e a família no processo do cuidar em Unidade de Terapia Intensiva
Pediátrica, identificando a importância de um atendimento humanizado.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização desta pesquisa optamos pela abordagem de natureza qualitativa, uma
vez que esta permite entrar em profundidade na essência do tema proposto. A pesquisa
qualitativa permite compreender as representações de um determinado grupo e entender
o valor cultural que estes atribuem a determinados temas. O estudo escolhido para a
mesma foi bibliográfico, pois foi desenvolvido com base em material já elaborado,
constituída de livros e artigos científicos (MINAYO, 2006).
Ao delimitarmos o tema da pesquisa, realizamos um estudo exploratório a fim de nos
aproximarmos dos conceitos que envolvem a humanização na Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica, buscando trabalhos de natureza teórica capazes de proporcionar
explicações a respeito do tema proposto, bem como de pesquisas que abordavam o
assunto.
Para tanto, realizamos um levantamento bibliográfico sobre o tema nos bancos de dados
informatizados Medline, Lilacs, Scielo e consulta manual em periódicos da área,
dissertações e livros. A busca dos artigos deu-se por meio do uso das palavras-chave,
humanização da assistência; profissionais de saúde em UTIP; Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica, dentre outras. Realizamos pesquisa na literatura nacional publicada
no período entre 2000 a 2010, procurando diversificar para alcançar um número maior
de publicações que abordassem o tema em questão. De posse do material realizamos
uma leitura do tipo exploratória que tem por objetivo verificar, em que medida o obra
consultada interessa à pesquisa. Nesse momento, obtivemos maior familiaridade com o
tema da investigação. A leitura exploratória é feita mediante o exame da folha de rosto
ou resumo, dos índices da bibliografia e das notas de rodapé. Com esses elementos, é
possível ter uma visão global do texto, bem como sua utilidade para a pesquisa (GIL,
2002).
A próxima etapa constituiu-se da determinação do material de interesse à pesquisa.
Nesse momento, realizamos a leitura seletiva a qual é mais profunda que a exploratória,
visto que ainda não é definitiva, pois possibilita a retomada do mesmo material com
propósitos diferentes (GIL, 2002).
Posteriormente, procedemos à leitura do tipo analítica que é feita com base nos textos
selecionados. Essa etapa tem por finalidade ordenar e sumarizar as informações contidas
nas fontes, de forma que estas possibilitem a obtenção de respostas ao problema da
pesquisa (GIL, 2002). Assim, os textos foram lidos várias vezes a fim de identificarmos
sua relação com o objeto da pesquisa, constituindo-se como critério de inclusão de
textos aqueles que abordaram a temática em estudo.
Por fim, realizamos a leitura interpretativa que tem por objetivo relacionar o que o autor
afirma como problema para o qual se propõe uma solução. Dessa forma, foi possível
elencar o material, extrair dos textos temas de interesse nesta pesquisa e interpretá-los a
partir do objetivo proposto.
Assim, a partir das leituras do material selecionado, surgiram os seguintes temas: o
ambiente da UTIP e a humanização do cuidado; a equipe de saúde como agente
facilitador no processo de humanização e o vínculo afetivo entre família e criança.
Os trabalhos selecionados e analisados na presente pesquisa reuniram um total de 36
documentos, sendo 11 artigos, 23 livros e 01 dissertação e 01 monografia, conforme
pode ser observado nas Referências.
Para a interpretação dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo “expressão
genérica que designa o tratamento dos dados qualitativos. Trata-se de um conceito
historicamente construído para dar respostas teóricas metodológicas e que se diferencia
de outras abordagens” (MINAYO, 2006, p. 304).
4 COMPREENSÃO E DISCUSSÃO
4.1 O ambiente da UTIP e a humanização do cuidado
A UTIP é um ambiente hospitalar onde são utilizados técnicas e procedimentos
sofisticados, que podem propiciar condições para a reversão dos distúrbios que
ameaçam a vida dos bebês em situação de alto risco.
A hospitalização em UTIP introduz a criança em um ambiente inóspito, onde há
exposição intensa a estímulos nociceptivos, como o estresse e a dor que são frequentes
(LIMA, 2004). Ruídos, luz intensa e contínua, bem como procedimentos clínicos
invasivos e dolorosos são constantes nessa rotina.
O local é, em geral, repleto de equipamentos e rico em tecnologia. As crianças de risco
convivem com inúmeras terapias agressivas, estressantes e dolorosas, advindas dos
avanços tecnológicos da assistência, as quais produzem desorganização fisiológica e
comportamental nos neonatos, refletindo negativamente nos cuidados aos mesmos.
Nesse sentido, devemos enfatizar a humanização do processo de prestar assistência por
meio de reconhecimento e tratamento adequado dos agentes estressores para criança e a
família.
Para a implantação da metodologia da humanização hospitalar no cuidado em Unidade
de Terapia Intensiva Pediátrica, faz-se necessário que seja realizado treinamento e
sensibilização da equipe multiprofissional, para que todos saibam da importância e dos
benefícios que trará a criança, principalmente na prática diária.
Agrupar procedimentos de forma coesa respeitando os períodos de sono da criança, só
interrompendo se houver uma real necessidade; inserir nas rotinas a analgesia antes de
procedimentos dolorosos; realizar reuniões semanais com os familiares para esclarecer
dúvidas; justificar junto à mãe os procedimentos realizados com a criança; propiciar
ambiente com pouca luminosidade, sem ruídos e baixo tom de voz.
Portanto, é preciso enfatizar a importância de sensibilizar as unidades de terapia
intensiva pediátrica frente ao paradigma da humanização, desenvolver metas no sentido
de que as formações dos novos profissionais sejam realizadas, não só nos termos de
competência técnica, mas também ética, moral e política.
A humanização envolve todos os aspectos dos serviços de uma Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica.
A equipe de saúde é responsável pela execução e planejamento da assistência
humanizada e para tanto deve ostentar qualidades e qualificações mínimas como:
educação, formação profissional, personalidade, espírito de trabalho, iniciativa,
imaginação, habilidade de execução, capacidade de entender a natureza humana,
diplomacia, coragem, paciência, lealdade, liderança, estabilidade emocional, senso de
humor, de justiça, boa vontade em aceitar críticas e só assim poderá ser humanizado
(MEZZONO, 2002).
Para humanizar, a assistência deve ter à integração de todos os profissionais que
compõem a equipe. Este processo ocorre de forma gradativa e lenta, uma vez que
depende do comportamento de cada indivíduo visando a melhoria do relacionamento
interpessoal (ZAGONEL, 2006).
O mínimo ideal é que o atendimento adequado seja o mais próximo possível de
procedimentos humanizados, objetivando maior vínculo, incentivo ao aleitamento
materno, melhor desenvolvimento e segurança, inclusive quanto ao manuseio e ao
relacionamento familiar.
O cuidado humanizado com as manipulações na criança, postura, som, luz, amenizando
o estresse e a dor, trarão tranquilidade e bem estar tanto ao paciente quanto ao
profissional de saúde. A rotina de avaliações de sinais vitais, alimentação por sonda
(gavagem), higiene e administração de medicamentos terá o mesmo roteiro, mas
certamente não será a mesma, pois em complemento as técnicas estarão um ser humano
capacitado no processo do cuidar. Uma questão que também é necessário que seja
comentada é o uso de analgesia para a realização de procedimentos dolorosos tais como:
punção venosa, monitoramento da glicemia, coleta de gasometria, teste do pezinho,
punção lombar, troca de curativo, aspiração endotraqueal e rotinas laboratoriais
(BRASIL, 2002).
A assistência deverá ser integral, restauradora, dinâmica e ágil respeitando a
individualidade da criança bem como satisfazendo suas necessidades básicas. A
preparação de um ambiente adequado, com pouca luminosidade, sem ruídos, analgesia
para procedimentos dolorosos, diminuição de manipulações seqüenciais prolongadas e
não planejadas é de fundamental importância para a recuperação do mesmo.
Conforme leitura de relatos dos integrantes da equipe de saúde, concluiu-se que é
necessário permanecer alguns minutos ao lado do recém-nascido após o término dos
procedimentos; acalmando-o, confortando-o e promovendo sua organização o que é de
grande valia para reduzir o estresse da criança (COSTA et al., 2009).
Para a criança é fundamental que a família esteja presente neste contexto, e é neste
momento em que o profissional de saúde efetua seu diagnóstico, estabelecendo junto
com a família os objetivos e estratégias comuns a serem postas em prática. Nessa etapa
começa o desafio para a família da criança; a interação com os cuidados realizados com
seu filho, num ambiente totalmente novo, equipamentos desconhecidos, alarmes soando
a todo instante e, é nesse ambiente desconhecido e assustador, que está sua criança,
parecendo tão pequeno, frágil e desprotegido, tão diferente da imagem idealizada pelos
pais, uma criança forte e saudável.
Este é um desafio para a equipe de saúde que deve adaptar-se e integrar-se a esta
família, respondendo a tantas perguntas, e às vezes até injustamente incompreendido,
recebem da família cobranças nas suas limitações. Mas tanto a equipe como a família
tem um único objetivo: a recuperação da saúde e o bem estar da criança.
Tem início assim à integração de ambos, equipe multiprofissional e familiares
participando no atendimento da criança: um com assistência profissional e o outro com
o carinho e cuidados básicos (troca de fraldas, controle de temperatura e amamentação).
Todas estas atividades devem ser desenvolvidas com a supervisão da equipe de saúde e,
em seguida realizar treinamento para a família, para que a mesma possa agir com
segurança em suas ações do cuidado com o pequeno ser.
Um dos maiores recursos do paciente não se encontra apenas nas suas próprias forças,
mas também em toda equipe multiprofissional, familiares, e comunidade que se
preocupa com sua integridade física, moral e psicológica (TAMEZ, 2002).
Dessa forma, é necessário investir na formação e sensibilização dos profissionais de
saúde das UTIPs, promovendo não somente a capacitação técnica, mas, também,
sensibilizando-os para que planejam a assistência pautada nos fundamentos da
humanização e da integralidade do cuidado, a fim de proporcionar ao bebê e sua família
um ambiente tranquilo e acolhedor, apesar da situação de hospitalização vivenciada
(LIMA, 2004).
4.2 A equipe de saúde como agente facilitador no processo de humanização e o
vínculo afetivo entre família e criança
A UTIP é, por excelência, o ambiente destinado ao atendimento de crianças de alto risco
e, para tanto, exige de toda a equipe um preparo que sustente a complexidade das
atividades desenvolvidas.
O conhecimento científico e a habilidade técnica são características imprescindíveis
para o rigoroso controle das funções vitais na tentativa de reduzir a mortalidade e de
garantir a sobrevivência das crianças de risco. Assim, destacamos a importância do
acompanha-mento e da atualização dos avanços terapêuticos e tecnológicos nessa área.
Nesse processo, e no mesmo patamar de importância, colocamos a crucial necessidade
em compreender os fatores que produzem estresse na UTIP a fim de elaborarmos um
planejamento das intervenções que o minimizem ao máximo. São muitos os fatores
considerados como causadores de estresse para as crianças, família e equipe.
Para que a assistência a criança seja de qualidade, é fundamental atender às
necessidades de repouso, calor, nutrição, higiene, observação e atendimento contínuo
das crianças. Porém, vale ressaltar que não deve deter apenas ao atendimento das
necessidades biológicas, mas envolver suas necessidades emocionais, apreendendo-o de
forma holística (LIMA, 2004).
Nesse contexto, é imperativo ressaltar a importância da atenção e do cuidado aos
familiares nesse processo, em particular aos pais. Atualmente, observamos que a
atenção aos pais, muitas vezes, limita-se a informações voltadas a questionamentos
sobre a rotina hospitalar e sobre a situação da criança, não havendo preocupação, na
maioria dos casos, com os aspectos emocionais desses familiares (NASCIMENTO;
MARTINS, 2000).
Os autores acima citados afirmam que as características peculiares desse papel
incluem a habilidade de reconhecer e conviver com a família na situação de doença,
incluindo-a no planejamento dos cuidados da criança, bem como respeitando suas
decisões em relação ao tratamento. Além disso, acreditamos que ao valorizar a presença
da família, sobretudo dos pais, durante o tratamento da criança, o enfermeiro e toda sua
equipe desempenham um papel singular no cuidado as crianças.
Ainda neste contexto, identificamos que a literatura aponta para as condições
insatisfatórias de trabalho relacionadas à precariedade de recursos humanos, acarretando
sobrecarga emocional e de trabalho, contribuindo para que a assistência direta ao
paciente não seja assumida como prioritária pelo profissional. Diante das ansiedades
que envolvem o trabalho na UTIP, a equipe de saúde utiliza mecanismos defensivos,
como o distanciamento do paciente, negando, assim, os aspectos psicológicos dos
mesmos e seus próprios sentimentos e desejos (LIMA, 2004).
O preparo dos pais para verem suas crianças pela primeira vez constitui uma
responsabilidade da equipe multiprofissional. Antes da primeira visita os pais ou outros
familiares devem ser preparados quanto ao aspecto da criança, o equipamento que está
conectado ao mesmo e alguma informação acerca da atmosfera geral da unidade.
É importante que esses profissionais, implementem suas ações no fortalecimento
de relações interpessoais que envolvam a criança e seus pais, possibilitando reflexões e
fornecendo apoio necessário acerca de seus conhecimentos, ansiedades e expectativas.
Tal conduta é prioritária, em se tratando de UTIP, pois neste setor a capacidade técnica
é fundamental para a sobrevida da criança, porém priorização das questões relacionadas
às necessidades psicoafetivas dos bebês e de seus familiares não deve ser deixada de
lado (NASCIMENTO; MARTINS, 2000).
A comunicação é necessária ao relacionamento interpessoal profissional de
saúde e familiares. A equipe deve demonstrar sensibilidade à comunicação verbal e
não-verbal, capacidade de ouvir atentamente, saber o que falar e quando falar e utilizar
uma linguagem clara e acessível (LIMA, 2004).
A literatura pesquisada aponta que humanizar a assistência à família e a criança
implica oferecer um cuidado integral e singular a ambos, dando ênfase às suas crenças,
valores, individualidades e personalidade, uma vez que cada ser é único, porém,
envolvido em um contexto familiar, que possui uma história de vida, e por isso, deve ser
respeitado para que se possa manter a dignidade desse grupo durante a hospitalização.
Assim sendo, comprova-se que o profissional de saúde qualificado que pretenda aliar
didática e humanização terá sob sua supervisão uma equipe ideal para atuar
principalmente com os pequenos pacientes que se encontram nas Unidades de Terapias
Intensivas pediátrica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Soares, M. V. C. L., o estudo possibilita uma compreensão do significado
da humanização da equipe que trabalha em unidades de terapia intensiva pediátrica,
onde foi possível identificar que a equipe multiprofissional revela suas formas de
desenvolver ações humanizadas, compreender a importância da família, de expressar as
dificuldades e de reconhecer a importância da equipe que cuida.
Através disso percebe-se o quanto a equipe multidisciplinar influencia na recuperação
do paciente, devendo trabalhar juntos visando o bem seu estar físico, psicológico e
social. No entanto, para desenvolver essas habilidades, basta construir um real espírito
de equipe, demonstrando que o traço comum entre seus componentes é o
relacionamento baseado na afetividade, no respeito mútuo e na compreensão, surgindo
assim a capacidade de doar-se, trazendo benefícios à assistência.
O trabalho de uma equipe de Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica é um desafio
constante, pois exige habilidade, sensibilidade, atenção, flexibilidade e amor, porque a
criança é extremamente vulnerável e dependente do profissional que lhe está prestando
assistência.
Assim, a assistência deverá ser integral, restauradora, dinâmica e ágil respeitando a
individualidade da criança bem como satisfazendo suas necessidades básicas. A
preparação de um ambiente adequado, com pouca luminosidade, sem ruídos, analgesia
para procedimentos dolorosos, diminuição de manipulações sequenciais prolongadas e
não planejadas é de fundamental importância para a recuperação da mesma.
É notório que os profissionais de saúde necessitam se especializar para monitorizar com
eficiência os novos equipamentos e a terapia medicamentosa assegurando dessa forma
uma assistência qualificada ao paciente em estado crítico.
Por isso se faz necessário a aplicação urgente de medidas que possam mudar o perfil
dos profissionais que atuam diretamente na assistência através de processos dinâmicos e
revolucionários, para que tenhamos no futuro equipes multidisciplinares capacitadas
humanisticamente e que o atendimento seja voltado ao paciente.
Este estudo contribuiu para ampliar os conhecimentos pessoais sobre o assunto,
promovendo, assim, um novo enfoque sobre a referida temática. Proporcionou, além
disso, um repensar profissional, o que certamente subsidiará novos estudos nessa linha
de pesquisa.
Segundo Rolim, E. G., sintetizando a idéia principal dessa análise, constata que a
família busca obter informações sobre a criança, e coloca-se a disposição da equipe
multidisciplinar para que possa auxiliar no que seja necessário. É neste momento de
necessidades mútuas entre equipe e família, que surge uma interação natural para as
comunicações terapêuticas e interações educativas, ocasião esta para estabelecer um elo
de confiança e humanização com o grupo familiar.
Este é um desafio para a equipe multiprofissional que deve adaptar-se e integrar-se a
família. Tem início assim a integração bilateral, equipe de saúde em UTIP e familiares
participando no atendimento da criança: um com assistência profissional humanizada e
o outro com o carinho e cuidados básicos, tais como troca de fraldas, controle de
temperatura e amamentação.
O vínculo entre pais e filhos inicia-se desde o momento da concepção e se fortalece
após o nascimento, assim para a família a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica é um
local de conservação e recuperação do seu bem estar e de garantia de sobrevida, tanto
quanto um sítio gerador de desconforto, desgaste físico e emocional intensos.
As crianças são capazes de ver, ouvir, cheirar e responder ao toque. Ao serem
estimulados, respondem ao manuseio e mostram-se tranquilas quando alguém conversa
com elas. Percebe-se também que a presença dos pais é de fundamental importância
para manutenção do equilíbrio da mesma.
As pessoas não vêm ao hospital para brincar, mas isso não quer dizer que a criança não
possa brincar no hospital. Assim sendo, as atividades envolvendo musicoterapia,
recreação e entretenimentos devem fazer parte dos planejamentos da assistência
humanizada, tendo em vista que é o profissional de saúde que compartilha diretamente
dos problemas pertinentes a esse grupo especial de cliente, bem como dos seus
acompanhantes.
Todas estas atividades devem ser desenvolvidas com a supervisão da equipe
multiprofissional. Um dos maiores recursos na recuperação do paciente não se encontra
apenas nas suas próprias forças, mas também em toda equipe multiprofissional,
familiares que se preocupam com sua integridade física, moral e psicológica.
O livre acesso dos pais dentro da UTIP é algo novo, sendo adotado por poucas
maternidades, visando à humanização hospitalar. Deste modo, cabe à equipe da UTIP
propiciar um ambiente acolhedor e seguro aos pais, para que estes possam através do
contato constante, estabelecer um vínculo com seu filho, garantindo assim uma
recuperação rápida e até mesmo alta antecipada da unidade.
Mesmo considerando importante sua presença na UTIP, alguns pais têm medo de
participar até mesmo pelo fato de não saberem até onde podem ir e até quando estarão
ajudando ou atrapalhando. Eles têm medo de tocar em algo e prejudicar a criança, pois
diante de tantos fios, tubos, sondas e aparelhos, eles não se sentem à vontade para tocar
o filho. Por fim, têm receio do desconhecido, ou seja, não sabem ou, às vezes, temem
em saber o que realmente irá acontecer ao fim de todo aquele sofrimento. Todas estas
incertezas podem permear o pensamento dos pais que se sentem inseguros e
frequentemente despreparados para participar do tratamento, necessitando assim, de
auxílio da equipe de saúde.
Gadelha, L. F. P., tendo em vista os objetivos delimitados no processo de
realização desta pesquisa, ressalta a importância da família e dos profissionais na
construção desse novo ambiente, pautado na comunicação, apoio e suporte emocional,
na representação da UTIP como um cenário gerador de estresse e isolamento que
necessita ser modificado para a implementação dos cuidados paliativos. Ainda destaca
que a assistência e o cuidado dos profissionais de saúde devem ser considerados como a
mola propulsora para humanizar o ambiente em UTIP.
A UTIP é uma unidade de alta complexidade, onde o viver e o morrer estão mais
presentes na imaginação das famílias. Sendo assim os profissionais de saúde devem
aliar técnica e cuidado humanitário ao conhecimento, oferecendo cuidado integral a
todos os seres humanos inseridos nesse contexto.
O local é, em geral, repleto de equipamentos e rico em tecnologia. As crianças de risco
convivem com inúmeras terapias agressivas, estressantes e dolorosas, advindas dos
avanços tecnológicos da assistência, as quais produzem desorganização fisiológica e
comportamental nos neonatos, refletindo negativamente nos cuidados aos mesmos.
Humanizar a UTIP depende de um grupo de trabalho intra-hospitalar. Não é tão
difícil e nem tão caro quanto parece. Vimos que é de fundamental importância uma
equipe interdisciplinar envolvida na assistência à criança e família, desempenhando sua
função com sensibilidade, boa vontade, criatividade e eficiência, sempre buscando fazer
o melhor.
Assim, a palavra humanização deve ser entendida como a maneira de ver e considerar o
ser humano a partir de uma visão global, buscando superar a fragmentação da
assistência. Tendo em vista que, uma das características do processo de trabalho em
saúde é fazermos a diferença no modo como lidamos com o outro, tratando-o com
dignidade e respeito, valorizando seus medos, pensamentos, sentimentos, valores e
crenças, estabelecendo momento de fala e de escuta.
Portanto, pode-se afirmar que a humanização da assistência implica em uma
prática administrativa integrada e permanentemente, envolvendo toda a equipe de saúde.
Vale ressaltar a importância da implantação do PNHAH que, em seus pressupostos,
valoriza a dimensão humana, sempre presente em todo ato de assistência à saúde.
Assim conclui-se que devemos pensar em uma UTIP humanizada com o objetivo de
ajudar a família, a criança e a equipe de saúde, onde humanizar a assistência pediátrica
significa atender, de maneira individualizada, as necessidades da criança e de sua
família, visando à ótima qualidade de assistência. Independentemente do resultado, a
sobrevida ou a morte do paciente, a assistência humanizada deve ser capaz de transmitir
aos pais o sentimento de solidariedade e de respeito à sua dor.
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