Belo Horizonte –MG n° 1 outubro de 2008 INFORMATIVO AFIPE (Associação de Filósofos, Professores e Estudantes de Filosofia da Região Metropolitana de BH) Editorial “Em julho de 2006 a imprensa brasileira noticiava: ‘Uma vitória da luz’ - foi como o sociólogo César Callegari definiu a decisão do ministro Fernando Haddad de homologar, nesta sextafeira [7 de julho de 2006] , o parecer 38/2006 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que torna obrigatório o ensino de filosofia e sociologia no ensino médio de todas as escolas públicas e privadas do país. O relator do processo, o próprio Callegari declarou naquela ocasião: ‘Quem ganha com a decisão é o Brasil e os jovens que terão a oportunidade de serem sujeitos de sua própria história’” (IDEA, Portal de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Jornais, sites, revistas especializadas também deram a notícia que aparentemente poria fim a uma longa história de muitas discussões, infinitas controvérsias e querelas de interpretações acerca do art. 36 do texto da LDB 9394/96, em vigor no país. Garantida a obrigatoriedade das referidas disciplinas, saiu-se daquele território brumoso e delimitou-se com clareza seu lugar. No entanto, há a exigência de cuidadosa atenção com sua inserção, pois sabemos dos inúmeros obstáculos que ainda devem ser superados, se não quisermos que a Filosofia seja apenas aquele espaço escolar do ‘valetudo’. Enfim, em 02 de junho o Congresso Nacional sanciona a lei 11.684, que inclui a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. Como se vê, temos muito chão pela frente. Há muito o que fazer, muito em que pensar, refletir e debater. Desde a contratação de 1 professores habilitados (e não profissionais de outras áreas!), sua preparação para adequação dos conteúdos em realidades diferenciadas até o aprimoramento de formação pelas várias IES: como a filosofia pode contribuir para a formação intelectual e moral das crianças e dos adolescentes? Quais as formas de inserção escolar que a Filosofia pode assumir? Qual o perfil profissional (real e desejado) dos educadores envolvidos em projetos de ensino da Filosofia nas escolas? Que tipo de formação profissional deve ser oferecido nas instituições formadoras de professores? Ou mais especificamente, que tipo de formação profissional deve ser oferecida aos licenciandos em Filosofia? Frente às novas perspectivas e adversidades, inclusive o de compatibilizar conteúdo e carga horária, devemos reiterar a necessidade imperiosa de a Filosofia ocupar o espaço que lhe é devido, tal como afirmou o filósofo Richard Bernstein, em recente artigo ‘Does philosophy matter? “A filosofia luta para manter vivo o perguntar/pôr em discussão/pensar que nos obriga a refletir sobre o que fazemos e como vivemos. Atualmente quando existe tanta ambigüidade, confusão, ansiedade e falta de certeza sobre o que podemos fazer e como viver, a tarefa filosófica de perguntar, pôr em discussão e pensar tem mais importância do que nunca” (Thinking, v. 9, nº 4, p. 2-4.) Nesse sentido, a Associação de Filósofos, Professores e Estudantes de Filosofia da Região Metropolitana de Belo Horizonte AFIPE, através deste Informativo, quer ser efetivo espaço de atuação, colaboração e discussão acerca da formação e prática educativa para que professores de Filosofia, emancipados, tornem-se educadores. Artigo/Texto filosófico [...] A educação não é a chave, a alavanca, o instrumento para transformação social. Ela não o é, precisamente porque poderia ser. E é exatamente essa contradição que explicita, que ilumina, que desvela a eficácia limitada da educação. O que quero dizer é que a educação é limitada, a educação sofre limites. Aliás, isso não é privilégio da Belo Horizonte –MG n° 1 outubro de 2008 educação, não há prática humana que não esteja submetida a limites, que são históricos, políticos, ideológicos, culturais, econômicos, sociais, limites de competência do sujeito ou dos sujeitos, limite de sanidade do sujeito; há limites que fazem parte da natureza da prática e há limites que estão implícitos na natureza finita dos sujeitos da prática. É exatamente porque a educação se submete a limites que ela é eficaz. Vamos então entender esta contradição: se a educação pudesse tudo, e essa é a ingenuidade de muita gente ainda – tenho ouvido de muita gente, neste país e em outros, mas sobretudo neste, que o grande problema deste país é a educação –, como se a educação, a partir de cima, pudesse rearrumar a sociedade que está aí. Não sendo, é; precisamente porque não é. É porque não é, que é; porque é limitada, é eficaz. Se a educação pudesse tudo, voltando à reflexão, não havia porque falar nos limites dela, porque poderia tudo. Mas constata-se, historicamente, que a educação não pode tudo. Mas se ela não pudesse nada, não havia porque falar nos limites da educação. Mas é, exatamente, porque não podendo tudo, pode “alguma coisa”, que neste poder alguma coisa se encontra a eficácia da educação. A questão que se coloca ao educador é saber qual é este poder ser da educação, que é histórico, social, político. O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode; é reconhecer os limites que sua prática impõe. É perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática social de que ele faz parte. É reconhecer que a educação, não sendo a chave, a alavanca da transformação social, como tanto se vem afirmando, é, porém, indispensável à transformação social. É reconhecer que há espaços possíveis que são políticos, há espaços institucionais e extra-institucionais a serem ocupados pelas educadoras e pelos educadores cujo sonho é transformar a realidade injusta que aí está, para que os direitos possam começar a ser conquistados e não doados. [...] eu diria que é preciso que não nos deixemos cair, de um lado, na ingenuidade de uma educação todo-poderosa; de outro, noutra ingenuidade, que é a de negar a potencialidade da educação. Não. A educação, não podendo tudo, pode alguma coisa. Temos o 2 dever, politicamente, de descobrir os espaços para a ação, de nos organizarmos nos espaços. Eu até uso, às vezes, uma linguagem que reconheço um pouco agressiva. Eu até diria da necessidade e da sabedoria que devemos ter para invadir os espaços. [...] Paulo FREIRE. Direitos humanos e educação libertadora. In: FREIRE, Paulo; FREIRE, Ana Maria Araújo (org.). Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora UNESP, 2001, p. 98-9, 100-1. Espaço do leitor Este é o espaço destinado ao leitor para compartilhar dúvidas, dar sugestões e fazer críticas. Sugestão: Como está a filosofia na sua escola? Faça um breve relato de sua experiência e envie para o e-mail [email protected] Notícias Mesa-redonda da AFIPE O ofício do professor de filosofia Ricardo Fenati (FAJE) Quarta, 12 de novembro, 19:15h PUC-Coração Eucarístico, prédio 4, auditório 1 Contato: [email protected] Equipe de elaboração: GT de Comunicação (Lívia Campos, Rodrigo Marcos, Sérgio Murilo e Sílvia Contaldo)