Entrevista: Paulo Caramelli - Avanços no combate ao Alzheimer

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Entrevista: Paulo Caramelli - Avanços no combate ao
Alzheimer
Pesquisadores discutem evolução no tratamento e drogas que atuam na redução de
sintomas
Saúde Plena ( MG ) - 19/12/07
Médico neurologista, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e
coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do
Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, Paulo Caramelli foi um
dos organizadores da 6ª Reunião de Pesquisadores em Doença de Alzheimer e
Desordens Relacionadas, em Ouro Preto, no início deste mês. Em entrevista ao
caderno Bem Viver, ele apresenta as conclusões do encontro, fala sobre a
incidência de Alzheimer no Brasil e formas de tratamento da doença.
Quais foram as principais discussões do congresso em Ouro Preto?
No evento, foram apresentados 210 trabalhos, representando um aumento de
45% do número de inscritos em relação à edição anterior, realizada em
novembro de 2005. Os estudos seguiram linhas de pesquisa básica (nas áreas
de genética e biologia molecular) e clínica (nas áreas de epidemiologia,
patologia, diagnóstico e tratamento). O mais interessante da reunião foi o rico
diálogo e troca de experiências que ocorreu entre pesquisadores de
orientações variadas, de alunos de iniciação científica a pesquisadores
sêniores. Os temas apresentados foram bastante variados. Talvez possa
destacar dois estudos, premiados como os melhores trabalhos de pesquisa
básica e clínica. O prêmio de melhor pesquisa básica foi para Letícia Forny
Germano, do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), que apresentou dados sobre os efeitos da infusão de
fragmentos da protéina beta-amilóide em camundongos. Essa proteína é uma
das substâncias anormais que se acumulam no cérebro dos pacientes com a
doença de Alzheimer. O grupo mostrou que os elementos iniciais que formarão
posteriormente a proteína tóxica já exercem efeitos deletérios sobre o cérebro
e sobre o comportamento dos animais, reforçando o conceito de que a doença
se inicia muitos anos antes do estabelecimento das chamadas lesões
características (ou maduras). O estudo que venceu na categoria de pesquisa
clínica foi apresentado por Sônia Maria Dozzi Brucki, do Departamento de
Neurologia da Universidade de São Paulo (USP). Foram descritos os dados de
uma nova escala para determinação do grau de alfabetização funcional
(especificamente relacionado à área da saúde). Essa medida pode tornar-se
um instrumento adicional (além do número de anos de educação formal) para
a caracterização do nível cultural de um determinado paciente com suspeita de
demência. A variável educacional é de extrema importância também na prática
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clínica, uma vez que os testes diagnósticos usados para a avaliação de
memória e de outras funções relacionadas sofrem significativa influência da
escolaridade.
Como definir as principais demências que afetam o ser humano? Qual
é a incidência delas?
Demência é o termo médico usado para definir uma condição em que ocorre
declínio do funcionamento cognitivo (intelectual) de uma pessoa, de
intensidade suficiente para prejudicá-la na realização de atividades
profissionais, sociais ou de lazer. As demências afetam entre 5% e 10% das
pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. Há um claro avanço dessa
freqüência com o aumento da idade: a cada cinco anos, a freqüência de
demência aproximadamente dobra de valor. Essa é uma questão
extremamente importante em um país como o nosso, em que o número
absoluto e relativo de idosos vem aumentando rapidamente. Cerca de 100
doenças podem causar demência. As duas causas mais comuns são a doença
de Alzheimer e a demência vascular. As duas são responsáveis – isoladamente
ou em associação – por cerca de três quartos de todas as demências que
incidem nos idosos, sendo a doença de Alzheimer a mais freqüente delas (de
55% a 60% dos casos).
O idoso é bem assistido na rede pública de saúde, no que se refere às
doenças mentais?
Embora o governo tenha definido, há alguns anos, a criação de centros de
referência para o atendimento ao idoso, ainda há muitas regiões sem esse tipo
de assistência especializada, sobretudo no interior. Assim, há necessidade de
maiores investimentos na área, aparelhando novos centros e qualificando
maior número de profissionais de saúde para o atendimento de pacientes
idosos com transtornos neuropsiquiátricos.
Quais são os principais sintomas do mal de Alzheimer? A doença é
inerente apenas ao idoso?
A doença de Alzheimer é a principal causa de demência na população com
idade acima de 60 anos. Embora possa também ocorrer em indivíduos mais
jovens, é uma condição extremamente rara de se iniciar antes dos 50 anos.
Nesses casos de início mais precoce, deve-se investigar uma causa genética.
Trata-se de uma doença degenerativa, que acarreta perda progressiva de
células nervosas cerebrais (neurônios), afetando regiões relacionadas ao
controle de inúmeras funções cognitivas (como memória, linguagem,
capacidade de planejamento, julgamento) e também áreas que controlam o
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comportamento. Dessa forma, os sintomas da doença incluem perda de
memória (geralmente o primeiro sintoma, afetando a memória para fatos
recentes), dificuldades de orientação espacial (o paciente pode perder-se na
rua), dificuldade para encontrar palavras, para fazer cálculos. Esses déficits
interferem no desempenho da pessoa nas suas atividades diárias, seja no
trabalho, em casa ou nos relacionamentos pessoais e ela passa a precisar de
crescente supervisão para a realização dessas tarefas. Alterações de
comportamento também ocorrem com freqüência na doença, desde apatia
(desinteresse e falta de iniciativa) até delírios (por exemplo, acreditar que
alguém quer fazer-lhe mal ou roubou-lhe algo), alucinações visuais, agitação e
agressividade. Os sintomas comportamentais são fonte de grande sobrecarga
para familiares e cuidadores.
Como é feito o diagnóstico? Os médicos são qualificados o bastante
para reconhecer o quadro do paciente?
O diagnóstico clínico da doença de Alzheimer ainda é feito com base na
exclusão de outras causas de demência. Ou seja, não há – pelo menos até o
momento – nenhum exame que isoladamente defina a doença. São
necessários exames laboratoriais (de sangue) e tomografia computadorizada
ou ressonância magnética, que têm a finalidade de excluir doenças clínicas e
neurológicas, outras que podem causar demência. O diagnóstico é seguro
desde que siga um roteiro apropriado e pode ser feito por médicos com
experiência clínica e conhecimento da área.
Houve evolução no tratamento da doença ao longo dos anos?
O tratamento da doença de Alzheimer disponível atualmente ainda é apenas de
natureza sintomática. Embora sua eficácia seja modesta e varie caso a caso,
há benefícios para os pacientes, tanto no que diz respeito aos sintomas
cognitivos e comportamentais, quanto em relação às dificuldades para
execução de tarefas do dia-a-dia. Da mesma forma, estudos revelam que há
modificações do curso clínico da doença, fazendo com que sua evolução seja
usualmente um pouco mais lenta, naqueles pacientes que tomam os
medicamentos aprovados para o tratamento.
Como estão as pesquisas no Brasil com relação ao resto do mundo?
O Brasil tem atualmente diversos grupos de pesquisa que são bastante ativos
nesse campo. Prova disso é a evolução do número de trabalhos apresentados
nas diferentes reuniões de pesquisadores: de 52 em 1997 para 210 este ano.
Da mesma forma, um número crescente de pesquisadores brasileiros tem
participado da Conferência Internacional sobre Doença de Alzheimer e
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Desordens Relacionadas. Em 1994, eram apenas dois brasileiros; em 2006, na
última edição, em Madrid, eram cerca de 100, com mais de 60 trabalhos
apresentados. O direcionamento clínico das pesquisas é predominante, mas há
grupos com estudos originais em áreas básicas, trabalhando com modelos
animais e pesquisando sobre as alterações moleculares que caracterizam a
doença.
Como deve comportar-se a família diante de um idoso com Alzheimer?
Os familiares devem receber algum treinamento ou acompanhamento
médico?
O convívio com a pessoa que recebe esse diagnóstico não é simples, pois
haverá uma dependência crescente do familiar ou do cuidador. Há
particularidades desse cuidado que merecem atenção especial e, por essa
razão, se recomenda aos profissionais de saúde que orientem os familiares e
cuidadores, para que tenham acesso a materiais educativos e informações
práticas sobre o tema e que participem de reuniões de associações
relacionadas. Alguns cursos para capacitação de cuidadores também vêm
surgindo e podem ser muito úteis.
Atualmente, quais são os tratamentos mais indicados?
O tratamento medicamentoso inclui o uso de remédios que atuam no cérebro,
aumentando a quantidade do neurotransmissor acetilcolina, que se encontra
reduzido na doença. Três medicamentos fazem parte desse grupo: donepezila,
galantamina e rivastigmina. Todos têm indicação terapêutica aprovada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da doença
de Alzheimer leve a moderada (estágios inicial e intermediário). Há também
uma segunda medicação, a memantina, que atua sobre outro
neurotransmissor cerebral, o glutamato. Ela é indicada para o tratamento da
doença em suas fases moderada a grave (estágios intermediário e avançado).
A memantina pode ser combinada a qualquer uma das outras três medicações
citadas anteriormente (donepezila, galantamina e rivastigmina) em pessoas
com doença de Alzheimer em fase moderada. Essas medicações podem
apresentar efeitos adversos, razão pela qual devem ser iniciadas em baixas
doses, seguidas de incremento gradual. É importante salientar que se deve
sempre buscar a dose máxima tolerada dentro da chamada faixa terapêutica,
caso contrário pode não haver nenhuma resposta clínica.
Ellen Cristie
http://www.saudeplena.com.br/noticias/index_html?opcao=07-1612-03
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