1 ENC 250 - ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADULTO E DO IDOSO EM CUIDADOS CRÍTICOS Leitura dirigida – Insuficiência respiratória aguda Caro estudante, o texto que você vai ler a seguir reúne trechos (na íntegra) de 2 artigos: Pinheiro BV, Pinheiro GSM, Mendes MM. Entendendo melhor a Insuficiência Respiratória Aguda. Pulmão RJ 2015;24(3):3-8 (a partir do qual foram feitas transcrições literais) e Serrano DAR, Llano MC, Franco JI, Rodríguez ED. Insuficiência respiratória aguda. Medicine. 2014;11(63):3727-34 (que foi traduzido livremente e trechos foram transcritos). Além disso, o conteúdo foi complementado com base no livro Silva LCC, Hetzel JL. Felicetti JC, Moreira JS, Camargo JJ, Porto N. Pneumologia: princípios e práticas. Porto Alegre: Artmed, 2012. Ao final desta leitura, você deverá ser capaz de: 1) Definir insuficiência respiratória aguda (IRpA) 2) Classificar e reconhecer as características que distinguem os tipos de IRpA 3) Discorrer sobre os mecanismos fisiopatológicos envolvidos no desenvolvimento da IRpA 4) Identificar as causas da IRpA e reconhecer a importância dos dados da anamnese e exame físico na identificação da etiologia 5) Descrever as manifestações clínicas da IRpA 6) Conhecer e interpretar os exames complementares fundamentais para o diagnóstico da IRpA 7) Implementar medidas de monitoramento e terapêuticas (independente ou de forma colaborativa com outros profissionais) adequadas 2 INTRODUÇÃO A manutenção de níveis adequados de oxigênio (O2) no sangue arterial é fundamental para o bom funcionamento celular, visto que o O2 é essencial para fosforilação oxidativa e geração de energia sob a forma de ATP. Para que isto ocorra, há a necessidade do funcionamento adequado e integrado de diferentes sistemas: o neurológico, o pulmonar, o cardiovascular, o músculoesquelético e o hematológico. A quebra no funcionamento desta cadeia implicará em comprometimento da oferta de O2 aos tecidos, com prejuízo no funcionamento dos mesmos, e caracteriza a insuficiência respiratória. Este mesmo sistema envolvido na manutenção da oxigenação, participa na manutenção de níveis adequados de gás carbônico (CO2) e, consequentemente, na regulação do pH sanguíneo, importante na homeostase do organismo1. FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO3 Podemos dividir o sistema respiratório em quatro componentes básicos que enumeramos a seguir. Sistema nervoso É o sistema de controle e compreende diversas estruturas do sistema nervoso central e periférico. Parede torácica/musculatura O diafragma é o principal músculo inspiratório, mas os músculos acessórios também contribuem no processo, incluindo os intercostais internos, supraesternais e esternocleidomastoideo. Durante a inspiração, esses músculos provocam uma diminuição da pressão no 1 Pinheiro BV, Pinheiro GSM, Mendes MM. Entendendo melhor a Insuficiência Respiratória Aguda. Pulmão RJ 2015;24(3):3-8 espaço pleural entre a caixa torácica e o pulmão, estabelecendo um gradiente de pressão entre a abertura da via aérea e o compartimento alveolar. Em condições normais, a expiração é passiva e requer somente o retrocesso elástico de todas as estruturas. Vias aéreas São constituídas pelas vias aéreas superiores, traqueia, brônquios, e bronquíolos terminais. Sua função é conduzir o ar do meio ambiente até os alvéolos. Os pulmões e a circulação sanguínea Consideramos como zona respiratória os bronquíolos respiratórios, condutos alveolares e alvéolos. É a área de contato entre a zona respiratória e a rede capilar, com uma membrana fina que os separa, e proporciona uma troca rápida e eficiente de O2 e CO2. O transporte de O2 é o produto do débito cardíaco e da quantidade deste gás no sangue. Neste, mais de 97% das moléculas de O2 estão ligadas de forma reversível à hemoglobina, sendo mínima a quantidade dissolvida no plasma; é a quantidade de O2 dissolvida no plasma que determina a pressão parcial do O2 no sangue. Com relação ao CO2, uma parte está ligada reversivelmente a hemoglobina; no entanto, a maior parte das moléculas está dissolvida no plasma ou envolvida no equilíbrio ácido-básico. Este equilíbrio explica as relações entre a PaCO2 e o pH sanguíneo. O aumento da PaCO2 (CO2 dissolvido no plasma) desvia este equilíbrio para a direita e aumenta a concentração de H+, diminuindo o pH. 3 O ar atmosférico tem de forma constante uma concentração de O2 de 21% quando chega ao alvéolo; devido à saturação de vapor d’água e a mistura com o ar que está na via aérea, a pressão parcial de O2 no alvéolo é inferior a do meio ambiente. Podemos classificar a IRpA de várias formas: 1. Segundo o critério clínico evolutivo: aguda, crônica ou crônica agudizada3. 2. Segundo o mecanismo fisiopatológico subjacente: diminuição da fração inspirada de O2 (FiO2), hipoventilação alveolar, alteração da difusão, alteração da relação ventilaçãoperfusão (V/Q), efeito de shunt direitoesquerdo3. Ainda que a difusão seja passiva, existe uma diferença entre a pressão alveolar de O2 (PAO2) e a PaO2, o que é chamado de gradiente alvéolo-arterial de O2 (PO2 Aa). Em condições normais, oscila entre 3 e 15 mmHg, aumentando com a idade. DEFINIÇÃO 3. Segundo as características gasométricas: hipoxêmica [ou tipo I] e/ou hipercápnica [ou tipo II]3. A insuficiência respiratória aguda (IRpA) é definida como a incapacidade do sistema respiratório, desenvolvida agudamente, em promover adequadamente as trocas gasosas, ou seja, promover oxigenação e eliminação de gás carbônico. Do ponto de vista de parâmetros gasométricos, a IRpA é definida pela presença de1: Apesar desta classificação didática da IRpA, não é raro a ocorrência simultânea de mais de um dos mecanismos descritos em uma mesma condição clínica. Por exemplo, na DPOC, a obstrução difusa das vias aéreas e a hiperinsuflação que reduz a eficiência de contratilidade do diafragma determinam hipoventilação. Ao mesmo tempo, algumas vias aéreas podem estar completamente obstruídas, sobretudo por secreções, o que determinará baixa ou não ventilação das unidades alveolares correspondentes, caracterizando baixa V/Q. Outro exemplo compreende as diferentes causas de IRpA pulmonar, nas quais, para tentar compensar a hipoxemia, o paciente hiperventila. A depender da intensidade da hiperventilação necessária e do tempo em que ela permanece, poderá haver fadiga do diafragma, acrescentando um problema ventilatório à IRpA. Podemos ter ainda doenças simultâneas que podem levar a IRpA por mecanismos diferentes, como a presença de acidente vascular - pressão arterial de O2 (PaO2) ≤ 50 mmHg com saturação de O2 < 90%2 Que pode estar ou não associada a: - PaCO2 > 50 mmHg ou aumento maior do que 10 mmHg sobre a PaCO2 basal, com pH < 7,30 nas situações de envolvimento respiratório crônico prévio2. Embora arbitrária, tal definição tem utilidade clínica, pois denota uma anormalidade funcional grave que acarreta risco à vida e exige intervenção imediata2. Caso o paciente já esteja recebendo suplementação de O2, a definição gasométrica da IRpA passa a ser dada pela relação PaO2/FIO2, a qual deverá ser <300 mmHg1. CLASSIFICAÇÃO 2 Silva LCC, Hetzel JL. Felicetti JC, Moreira JS, Camargo JJ, Porto N. Pneumologia: princípios e práticas. Porto Alegre: Artmed, 2012. 3 Serrano DAR, Llano MC, Franco JI, Rodríguez ED. Insuficiência respiratória aguda. Medicine. 2014;11(63):3727-34 4 encefálico (possível causa extrapulmonar) em conjunto com pneumonia ou atelectasia (possíveis causas pulmonares). Alguns autores classificam essas condições como IRpA mista1. APRESENTAÇÃO GASOMÉTRICA DA IRpA1 Como as alterações nas trocas gasosas são a consequência principal da IRpA, inclusive constituindo sua definição, a gasometria arterial é o principal instrumento de avaliação desta síndrome. Na IRpA pulmonar (tipo I), em que os mecanismos fisiopatológicos são as alterações V/Q e o distúrbio de difusão, a alteração gasométrica encontrada é a hipoxemia. Em relação ao CO2, ele tende a estar baixo (hipocapnia) em função da hiperventilação compensatória, elevando-se apenas em formas graves e/ou avançadas. Na IRpA extra-pulmonar (tipo II), a gasometria mostra tanto hipoxemia quanto hipercapnia, visto que sua causa é a hipoventilação. Dessa forma, a hipoxemia é comum a todas as formas de IRpA, sendo a PaCO2 um dado importante na avaliação da etiologia da síndrome. A presença de níveis baixos ou normais de PaCO2 indicará que a IRpA é pulmonar, ao passo que níveis elevados de PaCO2 devem levar a suspeita de causas extrapulmonares, embora formas pulmonares avançadas ou IRpA mista também sejam possíveis. Um parâmetro que pode ser derivado da gasometria arterial e que auxilia na caracterização da origem da IRpA é a diferença alvéolo arterial de oxigênio (PAO2 – PaO2 ou P(A-a)O2). Ao calcular a diferença de pressão parcial de oxigênio entre o ar alveolar e o sangue arterial, ela estima a eficácia da troca gasosa pela membrana alvéolo-capilar. Em condições normais, espera-se uma pequena P(Aa)O2, decorrente de umas poucas áreas de baixa V/Q normalmente presentes. Entretanto, uma P(A-a)O2 aumentada (alargada) indica uma ineficácia nas trocas gasosas, ou por comprometimento de difusão ou por alteração V/Q. Assim, na presença de hipoxemia e P(A-a) O2 normal, podemos inferir que o distúrbio presente é a hipoventilação, ou seja, toda a hipoxemia presente decorre da menor pressão de oxigênio no ar alveolar e não por comprometimento da troca através da membrana alvéolo capilar. Por outro lado, a presença de P(Aa)O2 alargada indica que pelo menos parte da hipoxemia decorre de componente pulmonar. A PAO2 pode ser calculada pela seguinte fórmula: A tabela 1 mostra o comportamento da PaO2, PaCO2 e P(A-a)O2 nas diferentes condições de IRpA. FISIOPATOLOGIA DA IRpA1 A IRpA pode ocorrer por diferentes mecanismos fisiopatológicos, basicamente: hipoventilação, distúrbios de difusão, distúrbios na relação ventilação/perfusão, inalação de gás com baixa concentração de oxigênio. 5 A hipoventilação é caracterizada pela renovação ineficaz do ar alveolar, por movimentação de quantidades inadequadas do ar atmosférico até os alvéolos. Como o sangue venoso continua chegando aos pulmões com baixas concentrações de O2 e elevadas concentrações de CO2, resultado do metabolismo celular, os níveis alveolares destes gases tornam-se progressivamente mais baixos (para o O2) e mais altos (para o CO2). Em algum momento na evolução desta condição, que será mais rápido ou tardio em função de sua intensidade, o indivíduo apresentará hipoxemia e hipercapnia. Nos distúrbios de difusão, há espessamento da membrana alvéolocapilar, dificultando a difusão passiva de O2 e CO2. Como há grande reserva funcional na capacidade de difusão, ela não é comum como causa isolada de IRpA. Além disso, o CO2 é muito mais difusível pela membrana alvéolo-capilar do que para o O2, fazendo com que os distúrbios de difusão gerem hipoxemia sem hipercapnia. Na verdade, como tentativa de compensar a hipoxemia decorrente do distúrbio de difusão, o indivíduo passa a hiperventilar, aumentando os níveis de alveolares de O2 e reduzindo os de CO2, ocasionando, assim, hipocapnia. Somente em fases mais avançadas pode-se encontrar normocapnia e, finalmente, hipercapnia. As causas mais comuns de IRpA são as que cursam com alteração na V/Q, sobretudo baixa V/Q. Na baixa V/Q, parte do sangue que chega aos pulmões passa por alvéolos pouco ventilados (ou não ventilados), portanto com níveis baixos de O2, o que ocasiona oxigenação insuficiente. A depender da fração do sangue que passa por estas regiões, o resultado final será a hipoxemia. Aqui também, a hiperventilação decorrente da hipoxemia e a maior capacidade de difusão do CO2 farão com que não haja hipercapnia, exceto em formas mais avançadas e/ou graves. Outro mecanismo compensatório é a vasoconstrição hipóxica, caracterizada pela vasoconstrição na circulação para os alvéolos com baixa tensão de oxigênio, na tentativa de desviar o sangue para capilares cujos alvéolos estão ventilados, melhorando a V/Q. Este mecanismo, entretanto, pode vir a ser deletério quando as áreas de baixa V/Q são extensas, pois a vasoconstrição será intensa na circulação pulmonar, gerando hipertensão pulmonar, comprometendo a ejeção do ventrículo direito, caracterizando o ‘cor pulmonale agudo. Convencionalmente, chamamos de shunt as situações em que o sangue passa por alvéolos não ventilados (V/Q = 0) e de efeito shunt aquelas em que o sangue passa por alvéolos mal ventilados (V/Q baixa). A outra alteração V/Q ocorre no sentido inverso, com áreas alveolares ventiladas adequadamente, porém mal perfundidas (ou não perfundidas). Quando isso ocorre em grandes extensões, funciona como hipoventilação, pois a ventilação alveolar está sendo “perdida” para áreas onde não há trocas gasosas, com consequente hipoxemia e hipercapnia. Convencionalmente, chamamos de espaço-morto as situações em que a ventilação ocorre em alvéolos não perfundidos e de efeito espaço-morto aquelas em que a ventilação ocorre em alvéolos mal perfundidos (V/Q alta). Por fim, a IRpA pode ocorrer por inalação de ar com baixos níveis de O2, como ocorre nas intoxicações por outros gases, como o monóxido de carbono (CO). 6 ETIOLOGIA DA IRpA1 As doenças e lesões que prejudicam uma ou mais das três etapas da troca gasosa (ventilação alveolar, difusão e adequada relação ventilação-perfusão) irão desencadear os mecanismos fisiopatológicos responsáveis pelo desenvolvimento da IRpA. Pelo fato de serem muitas as causas de IRpA, podemos dividi-las didaticamente de acordo com cada etapa da troca gasosa prejudicada. A seguir citaremos alguns exemplos, mas tendo em mente que várias outras etiologias são possíveis. Além disso, algumas etiologias são capazes de causar IRpA por mais de um mecanismo. Causas de hipoventilação • Lesões que respiratório: acometem o centro - acidente vascular encefálico, neoplasia, infecção, drogas depressoras do SNC. • Lesões medulares: - trauma raqui-medular, infecção, infarto, hemorragia, poliomielite, Guillain-Barré, mielite transversa, esclerose lateral amiotrófica. • Doenças neurológicas periféricas: doenças com liberação de neurotoxinas (tétano, botulismo, difteria), miastenia gravis, paralisia diafragmática bilateral, intoxicação por organofosforado, manifestações paraneoplásicas (EatonLambert). • Doenças neuromusculares: - distrofias musculares, polimiosite, hipotiroidismo, distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalcemia, hipomagnesemia, hipopotassemia ou hipofosfatemia), fadiga da musculatura respiratória, menor eficácia da contração diafragmática por hiperinsuflação. • Doenças da parede torácica: - tórax instável, cifoescoliose, espondilite anquilosante, toracoplastia, fibrotórax, obesidade. • Doenças de vias aéreas superiores: - epiglotite, aspiração de corpo estranho, edema de glote, tumores, paralisia bilateral de cordas vocais, estenose de traquéia, traqueomalácia. • Doenças inferiores: difusas de - DPOC, asma, fibrose cística. vias aéreas 7 Causas de comprometimento da difusão • Doenças que acometem o interstício e assim espessam a membrana alvéolocapilar Infecciosas: tuberculose miliar, pneumonias virais, pneumocistose, histoplasmose. - Neoplasia: linfangite carcinomatosa; - Doenças inflamatórias: pneumoconioses, pneumonia de hipersensibilidade, sarcoidose, fibrose pulmonar idiopática. As diferentes manifestações clínicas da IRpA (sinais e sintomas) podem ser divididas em dois grandes grupos, as dependentes da diminuição da PaO2 e as dependentes da elevação da PaCO2 (tabela 2). As dependentes da hipoxemia afetam o SNC e o sistema cardiocirculatório; as dependentes da hipercapnia afetam fundamentalmente o SNC. Causas de baixa V/Q • Doenças com preenchimento alveolar: - pneumonia, edema agudo de pulmão, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), hemorragia alveolar, contusão pulmonar. • Doenças com colapso alveolar: - atelectasias, grandes derrames pleurais ou pneumotórax comprimindo o parênquima pulmonar; • Doenças com obstrução completa ou colapso de pequenas vias aéreas: - DPOC e asma. Causas de alta V/Q • Embolia pulmonar (a alta V/Q é encontrada na embolia pulmonar, mas nem sempre se expressa clinicamente, pois há simultaneamente áreas de baixa V/Q, em função de substâncias broncoconstritoras liberadas pelo êmbolo). • Choque circulatório • Emprego de elevadas pressões inspiratórias e/ou expiratórias durante a ventilação mecânica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS3 DIAGNÓSTICO3 O diagnóstico de IRpA parte da suspeita clínica, e sua confirmação se baseia na análise da gasometria arterial. Resumidamente, poderíamos dizer que devemos avaliar a oxigenação (determinação da PaO2 na gasometria ou na oximetria de pulso) e a ventilação (determinação da PaCO2 na gasometria ou pelo registro contínuo do CO2 expirado medido por um capnógrafo). Clínica A manifestação clínica da IRpA depende da etiologia e das respostas que ocorrem em função da hipoxemia e hipercapnia. A história clínica e o exame físico são importantes para estabelecer a etiologia da IRpA. Mediante os dados da anamnese podemos conhecer o tempo de evolução da hipoxemia, os antecedentes do 8 paciente, etc. Também pode fornecer informações sobre a causa da IRpA como, por exemplo, pacientes com dor torácica e antecedentes de fatores de risco cardiovascular, etc. quatro elementos básicos: campos pulmonares claros, opacidade pulmonar difusa ou localizada e comprometimento extrapulmonar. O exame físico nos ajuda a reconhecer os sinais de gravidade tais como o aumento progressivo da frequência respiratória, uso de musculatura acessória, etc. A TC de tórax identifica com maior precisão as estruturas anatômicas e opacidades descritas na RX de tórax. Os sinais obtidos no exame físico podem nos orientar sobre a etiologia da IRpA. Na presença de febre podemos suspeita de infecções, TEP e atelectasias. O ingurgitamento jugular está presente na insuficiência cardíaca congestiva (ICC), pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco. Na ausculta pulmonar, a sibilância ou a diminuição do murmúrio vesicular sugerem asma ou obstrução de vias aéreas, os estertores estão presentes na pneumonia ou na ICC, a ausência dos murmúrios vesiculares sugere pneumotórax. Os sopros cardíacos podem nos orientar para o diagnóstico de valvopatias. Gasometria arterial3 Como foi mencionado anteriormente, a gasometria arterial confirma a suspeita de IRpA, por isso, sua realização é imprescindível. Oximetria de pulso3 É o método não invasivo para medir a saturação de O2 (SaO2). Um valor de 90% equivale a uma PaO2 de 60mmHg. É um bom método para monitorização contínua e avaliação da resposta imediata à oxigenoterapia. Radiografia de tórax3 Identifica as doenças da parede torácica, pleura e parênquima pulmonar. É imprescindível para orientar o diagnóstico etiológico. Pode-se identificar um desses Tomografia computadorizada3 PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO DA IRpA1,3 A IRpA é uma síndrome clínica que tem, como vimos anteriormente, etiologias diversas. Sua resolução, portanto, depende da resolução da doença que a determinou. Entretanto, até que a resolução, ou pelo menos a compensação, da doença causadora ocorra, algumas medidas são necessárias para a manutenção dos gases arteriais em níveis adequados. A correção da hipoxemia é o objetivo mais importante, visto que ela é uma condição ameaçadora da vida. A depender do nível de gravidade, pode-se ofertar oxigênio por meio de sistemas de baixos fluxos (ex. cateter nasal) ou de altos fluxos (ex. máscara de Venturi, e, mais recentemente, sistemas de altos fluxos administrados por prongas nasais). Em situações em que a hipoxemia não é corrigida por meio da oferta de O2 por estes dispositivos, está indicada a intubação traqueal e ventilação mecânica, que permitirá o emprego de FIO2 mais elevadas (até 100%) e aplicação de pressões positivas que poderão melhorar a relação V/Q. Paralelamente, deve-se estar atento para a oferta de O2 aos tecidos, o que pode ser otimizado com a manutenção do débito cardíaco e de níveis adequados de hemoglobina. Em relação ao gás carbônico, sua normalização não é necessária, visto que a hipercapnia, até determinados níveis, é 9 bem tolerada. Sendo assim, monitoramos a PaCO2 em conjunto com pH e com parâmetros clínicos da ventilação, como a frequência respiratória, o esforço do paciente e a utilização de musculatura acessória. A elevação da PaCO2 com acidose respiratória e/ou desconforto clínico indica a necessidade de suporte ventilatório, que poderá ser não invasivo (com emprego de máscaras como interface entre o paciente e o ventilador) ou invasivo (com intubação traqueal). obstrução pela língua, eliminar secreções respiratórias por meio da drenagem postural, tosse ou aspiração). O nível de consciência deve ser avaliado, já que se o paciente está inconsciente, empregam-se manobras manuais (elevação da mandíbula com estabilização da coluna vertebral nos politraumatizados). Se o objetivo é a permeabilidade da via aérea, utilizam-se dispositivos para evitar que a língua volte a obstruir a via aérea (cânula orofaríngea). A atenção a estes pacientes tem diferentes níveis: o pré-hospitalar e hospitalar (que poderá ser em serviços de emergência, enfermarias ou na UTI). 3. Administrar O2 (FiO2 50%) Determinar a queixa principal 4. Verificar o estado da ventilação para observar se um suporte ventilatório é necessário (inicialmente poderá ser utilizada bolsa-valva-máscara para depois, se necessário, uma via aérea definitiva). Investigar há quanto tempo os sintomas surgiram ou pioraram 5. Instalação de uma via endovenosa periférica. Anamnese Investigar a presença de outros sintomas Investigar a presença de comorbidades Investigar os medicamentos em uso Exame físico Avaliar nível de consciência Avaliar SSVV Avaliar padrão respiratório Avaliar utilização de musculatura acessória Avaliar características da pele Realizar ausculta pulmonar Atenção pré-hospitalar A atenção inicial começa com o primeiro contato com o paciente (no domicílio, na UBS, transporte em ambulância, etc). As medidas iniciais pré-hospitalares para o manejo da IRpA devem incluir: 1. Avaliação inicial dirigida 2. Assegurar e manter uma via aérea pérvia (retirar corpos estranhos, evitar 6. Monitorização, se factível, da saturação de O2, por meio da oximetria de pulso, pressão arterial não invasiva e monitorização cardíaca contínua. 7. Avaliar o nível de consciência ou se o paciente está intubado; inserir uma sonda nasogástrica, se houver distensão gástrica. 8. Providenciar hospital. transporte a um Atenção hospitalar Medidas gerais: 1. Avaliação inicial dirigida 2. Posição semisentada. 3. Assegurar e verificar a permeabilidade da via aérea e a necessidade de intubar o paciente (sinais de gravidade). 4. Administrar oxigênio por uma máscara de Venturi com FiO2 50%. 10 5. etc). Monitorização contínua (oximetria, 6. Obter acesso venoso. 7. Cateterismo vesical para medir a diurese. 8. Providenciar complementares. os exames 9. Provideniar inalação com betaagonistas (como salbutamol) se houver broncoespasmo. 10. Considerar o início da profilaxia para tromboembolismo venoso e proteção gástrica. 11. Considerar o início da terapia específica para a causa da falência respiratória. 12. Determinar a necessidade internação em um hospital ou UTI. de Tratamento da causa Tendo-se iniciado o manejo da via aérea, deve-se iniciar a terapêutica dirigida para a resolução do processo causal (início do tratamento antibiótico no caso de pneumonia, broncodilatores em uma crise asmática, etc). Oxigenoterapia A hipoxemia é potencialmente fatal e, portanto, sua correção deve ser prioritária quando se trata a IRpA. O objetivo é aumentar a saturação de O2 para mais de 90%, para uma adequada oxigenação dos tecidos. O aporte de O2 para os tecidos depende de cinco elementos que condicionam o aparecimento da hipóxia tecidual: o oxigênio unido à hemoglobina (saturação de O2), o O2 dissolvido no plasma (PaO2), a quantidade de hemoglobina (em situações de anemia se reduz o aporte de O2 aos tecidos), o débito cardíaco e a capacidade dos tecidos de extrair o O2 da hemoglobina (em determinadas intoxicações, os tecidos não conseguem extrair o O2 da hemoglobina). Por outro lado, é necessário reduzir a demanda de O2. A febre e a agitação podem aumentar de forma importante a demanda de oxigênio. Sistemas de administração de O2. São classificados em sistemas de baixo fluxo ou de alto fluxo em função do fluxo e da mistura gasosa que chega ao paciente (fluxo de saída do sistema). Um fluxo de 30L/min é considerado o pico de fluxo máximo inspiratório que um paciente pode ter e, por esta medida, se estabelece a diferença entre baixo e alto fluxo. Quando os fluxos de saída do sistema são inferiores a 30L/min falamos em sistemas de baixo fluxo. Sistemas de baixo fluxo. São as cânulas nasais, as máscaras simples de O2 e as máscaras com reservatório. Caracterizamse pelo fato de não oferecerem ao paciente todo o ar que ele necessita para 11 respirar. Como dito anteriormente, ao se oferecer um fluxo inferior à demanda de fluxo inspiratório, o paciente tem de acrescentar ar ambiente em uma quantidade variável para satisfazer sua demanda de fluxo. Devido a isso, os sistemas não asseguram níveis estáveis de FiO2, já que o ar que o paciente respira é uma mistura de O2 a 100% e ar ambiente. A FiO2 muda com o tamanho do reservatório de O2, com o fluxo de O2 selecionado e com o padrão respiratório do paciente. Sistemas de alto fluxo. São as máscaras de Venturi e os sistemas de alto fluxo e umidificação ativa. Esses sistemas oferecem um aporte de todo o ar que é respirado, fornecem níveis constantes de FiO2, a FiO2 não é afetada por mudanças no padrão respiratório do paciente e é possível controlar a temperatura e a umidade. As máscaras de Venturi apresentam um orifício regulável que controlam a mistura do O2 com o ar ambiente. Com o orifício aberto, a FiO2 que se obtém é de 24% e, se este se mantém totalmente fechado, pode-se conseguir uma FiO2 de 50%. A evolução clínica, a oximetria e a gasometria serão os meios pelos quais se avalia a eficácia da terapêutica. Os gases sanguíneos arteriais são indispensáveis para o diagnóstico e controle evolutivo da IRpA. É preferível a realização da gasometria com o paciente em ar ambiente; no entanto, em certas ocasiões isso não é possível (transporte do paciente para o hospital já com oxigenoterapia, situação clínica que não permite esperar para utilização da oxigenoterapia). Por isso, a relação entre a PaO2/FiO2 fornecerá importantes informações. Resumidamente, diremos que o objetivo geral que devemos conseguir é garantir um aporte adequado de O2 aos tecidos. Para tanto, nos pacientes com IRpA, o objetivo é manter uma saturação de O2 de 94% a 98%.; nos pacientes com risco de desenvolver hipercapnia, o objetivo é alcançar e manter uma saturação de O2 entre 88% e 92%, estando sempre atentos aos níveis de PaCO2. Uma vez iniciado o tratamento, devemos avaliar a resposta a ele; se apesar de nosso tratamento não conseguimos os objetivos desejados (PaO2 > 60 mmHg) ou existe uma piora clínica ou gasométrica (pH < 7,30 ou aumento progressivo da PaCO2) devemos pensar em alterar o manejo terapêutico, considerando a ventilação não invasiva ou invasiva. Riscos e precauções2 O metabolismo do oxigênio resulta predominantemente em gás carbônico e água. No entanto, são gerados metabólitos intermediários caracterizados por espécimes químicos reativos com grande potência oxidante. Essas substâncias podem danificar as vias aéreas, os alvéolos, bem como outros tecidos, iniciando respostas inflamatórias e fibrose. O organismo sintetiza substâncias antioxidantes como catalase e superóxido dismutase para neutralizar os espécimes reativos de oxigênio. Entretanto, uma FiO2 acima de 50% supera essa proteção e danifica rapidamente o epitélio das vias aéreas, provocando traqueobronquite, dano alveolar difuso e displasia broncopulmonar. 12