EXECUÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS POR OSCIPs: o Caso do Centro Infantojuvenil Zona Sul RESUMO O Terceiro Setor é constituído por organizações privadas, sem fins lucrativos, que geram bens, serviços públicos e privados. As organizações do Terceiro Setor exercem atividades relevantes para a sociedade, mobilizam pessoas, geram empregos e recursos significativos. Todas essas organizações visam ao desenvolvimento político, econômico, social e cultural do meio em que atuam. Esta pesquisa se propõe a identificar os ganhos que a Administração Pública e a sociedade obtiveram com a celebração do Termo de Parceria com o Terceiro Setor para a execução dos serviços do Centro Infantojuvenil Zona Sul. A pesquisa tem como questão norteadora: quais foram os ganhos que a Administração Pública e a sociedade alcançaram por meio da celebração de parceria com as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs -, no caso do Centro Infantojuvenil Zona Sul? A pesquisa utilizou o método de abordagem qualitativa. Quanto aos seus objetivos, ela é considerada descritiva. No que diz respeito às técnicas de coleta e análise de dados, é do tipo “estudo de caso”. Foi realizado um levantamento de dados relativos às atividades desenvolvidas pelo Centro Infantojuvenil Zona Sul antes e depois da parceria, o que possibilitou uma comparação entre os desempenhos nos diferentes momentos. Concluiu-se que a execução dos serviços do Centro Infantojuvenil Zonal Sul por meio da parceria significou um ganho para a sociedade e para a Administração Pública, a qual passou a desembolsar um percentual menor de recursos e a contar com uma maior oferta de serviços. Palavras-chave: Administração Pública. Terceiro Setor. Parceria. OSCIPs. PUBLIC SERVICES CARRIED OUT BY OSCIPs: the case of Zona Sul Children’s Center ABSTRACT The Third Sector is comprised of non-profit-making private organizations that produce goods and provide public and private services. Such non-profit organizations carry out relevant activities for the people, mobilize individuals, generate jobs as well as significant financial resources. All these organizations aim at the political, economical, social and cultural development of the environment where they operate.This piece of research aims at identifying the gains that both the Public Sector and the people obtained through the Partnership Agreement they signed with a Third Sector organization for the accomplishment of tasks in the “Centro Infantojuvenil Zona Sul” (Zona Sul Children’s Center).The research has the following guiding question: how much did the Public Sector and the people gain through the Partnership Agreement they signed with the OSCIPs (Public Interest Organizations for Civil Society) – in the case of the Zona Sul Children’s Center? The research used the qualitative approach method. As to its objectives, it is considered as descriptive. Regarding the techniques of data gathering and analysis, it falls into the case study category. Data related to the activities developed by the Zona Sul Children’s Center were surveyed before and after the partnership, which enabled a comparison between the performances in the two different opportunities. It was concluded that the undertakings in the Zona Sul Children’s Center through the partnership meant a gain for the people and for the Public Sector, as it started to expend a smaller percentage of financial resources and to count upon a larger supply of services. Keywords: Public Sector. Third Sector. Partnership. OSCIPs. 1 1 INTRODUÇÃO As organizações do Terceiro Setor, tanto no Brasil quanto pelo mundo afora, exercem atividades relevantes à sociedade, mobilizam uma grande quantidade de pessoas, geram empregos e recursos significativos. O Terceiro Setor é constituído por organizações privadas, sem fins lucrativos, que geram bens, serviços públicos e privados. Todas essas organizações têm como objetivo o desenvolvimento político, econômico, social e cultural do meio em que atuam. No Brasil, em 1995, o Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado – MARE elaborou o chamado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que tinha como objetivo reorganizar as estruturas da Administração Pública Federal, no intuito de tornála eficiente e com seu foco voltado para os resultados. Esse processo foi denominado Reforma Gerencial e teve como princípios o ajuste fiscal, a liberalização comercial e os programas de privatização e de “publicização”. O programa de “publicização” consiste na transferência da gestão e da execução de serviços públicos não exclusivos para organizações do Terceiro Setor, ou seja, consiste em tornar pública a gestão. Consegue-se, com isso, transferir para o setor público não estatal a produção dos serviços competitivos que não são exclusivos do Estado, estabelecendo-se, assim, um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e controle. Nestas circunstâncias, o Estado abandona o papel de executor ou prestador direto de serviços e fica no papel de regulador e provedor ou promotor destes, especialmente dos serviços sociais, como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento e envolvem investimento em capital humano. Como promotor desses serviços o Estado continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade (BRASIL, 2010). Seguindo essa lógica, o Governo Federal instituiu duas novas figuras jurídicas: as Organizações Sociais (OS) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs). No Estado do Rio Grande do Sul a matéria foi regulamentada em 2008 pela Lei Estadual n. 12.901, de 11/01/2008 (Rio Grande do Sul, 2010), que dispõe sobre a qualificação da pessoa jurídica de direito privado como organização da sociedade civil de interesse público, institui o Termo de Parceria e dá outras providências. A regulamentação da referida lei ocorreu em 14/03/2008, por meio do Decreto Estadual n. 45.541 (Rio Grande do Sul, 2 2010). A legislação gaúcha instituiu somente as OSCIPs, não havendo, portanto, previsão legal para o estabelecimento de contrato de gestão com as OS. Di Pietro (2010) conceitua as OSCIPs como uma qualificação jurídica dada a pessoas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de particulares para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado, com incentivo e fiscalização pelo Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de Termo de Parceria. A partir da aprovação do marco legal gaúcho, o Governo definiu três áreas estratégicas onde o processo de estabelecimento de termos de parceria deveria ser iniciado: desenvolvimento e assistência social, esportes e lazer, e capacitação de apenados. Neste contexto, a pesquisa se propõe a identificar os ganhos que a Administração Pública e a sociedade obtiveram com a celebração do Termo de Parceria com o Terceiro Setor para a execução dos serviços do Centro Infantojuvenil Zona Sul. Esta pesquisa tem como questão norteadora: quais foram os ganhos que a Administração Pública e a sociedade alcançaram por meio da celebração da parceria com as OSCIPs, no caso do Centro Infantojuvenil Zona Sul? A trajetória metodológica divide-se em três fases, sendo que na primeira, “Fundamentação Teórica”, os temas abordados são: Terceiro Setor, OS e OSCIPs no Estado do Rio Grande do Sul. Na segunda fase apresenta-se a “Análise dos Resultados”, na qual é feito um breve histórico da entidade estudada e apresenta-se a situação encontrada a partir da celebração do Termo de Parceria com a Administração Pública. Na terceira e última fase apresenta-se um “Estudo Comparativo” em que são relatadas as informações registradas antes e depois da parceria com a Administração Pública. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Terceiro Setor As organizações que compõem o chamado Terceiro Setor caracterizam-se por serem entidades de natureza privada, sem fins lucrativos, que realizam ações com fins públicos. Possuem, portanto, características do Primeiro Setor (Governo) e do Segundo Setor (Mercado) concomitantemente. Por isso, são também chamadas de organizações não governamentais. [...] o Terceiro Setor é visto como derivado de uma conjugação entre as finalidades do Primeiro Setor e a metodologia do Segundo, ou seja, composto por organizações que visam a benefícios coletivos (embora não sejam integrantes do governo) e de natureza privada (embora não objetivem auferir lucros) (SILVA, 2010, p. 23). 3 Uma das diferenças do trabalho desenvolvido pelo Terceiro Setor e as atividades do Estado é o público-alvo da prestação dos serviços. As organizações não governamentais, embora visem beneficiar o coletivo, normalmente se dedicam a grupos específicos. Já o Estado busca beneficiar a sociedade como um todo. Cardoso (apud SILVA, 2010, p. 25) afirma que “Estamos vendo o surgimento de uma esfera pública não estatal e de iniciativas privadas com sentido público. Isso enriquece e [complexifica] a dinâmica social”. As organizações classificadas como pertencentes ao Terceiro Setor são, normalmente, associações compostas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos, e fundações privadas, que são instituições criadas com finalidade religiosa, moral, cultural ou assistencial. 2.2 OS e OSCIP A intenção de repassar os serviços públicos não exclusivos a entidades do Terceiro Setor gerou as Organizações Sociais – OS, criadas por meio da Lei Federal n. 9.637, de 15 de maio de 1988 (BRASIL, 2010), e as Organizações Sociais de Interesse Público - OSCIPs, instituídas pela Lei Federal n. 9.790, de 23 de março de 1999 (BRASIL, 2010). O foco em resultados torna o planejamento transparente para a sociedade, quando prevê nos programas de trabalho constantes dos instrumentos os indicadores de desempenho e metas a serem atingidas. [...] Os termos de parceria entre governo e OSCIP representam um avanço também na área de obtenção de recursos, pois permitem a realização de projetos com enfoque cooperativo, desburocratizado, descentralizado e mais flexível, instituindo a prestação de contas com foco nos resultados e com maior transparência (VILHENA, 2006, p. 10). Embora as OS e as OSCIPs sejam semelhantes em diversos aspectos, elas possuem diferenças. Alexandrino e Paulo (2009, p. 152) realizaram uma comparação entre as duas legislações federais, a qual é apresentada no Quadro 1. Quadro 1: Comparação entre OS – Lei n. 9.637/1988 e OSCIP – Lei n. 9.790/1999 OS – Lei n. 9.637/1988 OSCIP – Lei n. 9.790/1999 Pessoa privada, não integrante da administração Pessoa privada, não integrante da administração pública. pública. Atuação em áreas de interesse social, especificadas Atuação em áreas de interesse social, especificadas na lei na lei respectiva. Não são delegatárias de serviços respectiva. Não são delegatárias de serviços públicos. públicos. Vedada finalidade de lucro. Foram idealizadas para Vedada finalidade de lucro. substituir órgãos e Não foram idealizadas para substituir órgãos ou entidades 4 entidades da administração pública, que seriam da administração pública. extintos e teriam suas atividades “absorvidas” pela OS. Formaliza parceria com o poder público mediante Formaliza parceria com o poder público mediante termo contrato de gestão, condição indispensável para a de parceria, condição indispensável para a entidade fazer entidade fazer jus ao fomento a suas atividades. jus ao fomento a suas atividades. Qualificação é ato discricionário. Qualificação é ato vinculado. Qualificação depende de aprovação pelo Ministro Qualificação concedida pelo Ministério da Justiça. de Estado ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao objeto social da OS. Uma entidade não pode ser qualificada Uma entidade não pode ser concomitantemente como OS e OSCIP. concomitantemente como OS e OSCIP. A lei exige que a OS possua um conselho de administração, do qual participem representantes do poder público; não exige que a OS tenha conselho fiscal. qualificada A lei exige que a OSCIP tenha um conselho fiscal; não exige que a OSCIP tenha conselho de administração. Não há exigência de que existam representantes do poder público em algum órgão da entidade. Há hipótese de dispensa de licitação na contratação Não existe hipótese legal específica de dispensa de de OS pelo poder público, para que prestem ao licitação para a contratação de OSCIP pelo poder público. poder público serviços contemplados no contrato de gestão. Quando a OS for contratante e o contrato relativo a obras, compras, serviços e alienações envolver recursos repassados a ela pela União, deverá ser realizada licitação formal pela OS. Em caso de aquisição de bens e serviços comuns, será obrigatória a modalidade pregão. Quando a OSCIP for contratante e o contrato relativo a obras, compras, serviços e alienações envolver recursos repassados a ela pela União, deverá ser realizada licitação formal pela OSCIP. Em caso de bens e serviços comuns, será obrigatória a modalidade pregão. O Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade como organização social quando constatado o descumprimento das disposições contidas no contrato de gestão. Necessário processo administrativo, assegurado o contraditório e ampla defesa. Fonte: Alexandrino e Paulo (2009, p. 152). A entidade perderá a qualificação de OSCIP quando descumprir as normas estabelecidas na lei, mediante decisão em processo administrativo ou judicial, de iniciativa popular ou do Ministério Público, assegurado o contraditório e ampla defesa. Percebe-se, portanto, que uma das diferenças entre os dois modelos está no instrumento utilizado para celebrar o vínculo com o Estado. As OS assinam o chamado contrato de gestão (denominação também utilizada para o pacto de metas entre a Administração Pública e suas entidades vinculadas). No caso das OSCIPs, o instrumento utilizado para fazer contrato com a Administração Pública é o Termo de Parceria. Meirelles (2005) entende que tanto os contratos de gestão com as OS, quanto os termos de parceria com as OSCIPs são, na verdade, um termo de cooperação, pois não poderiam ser entendidos como um contrato, uma vez que não há a presença de interesses contraditórios, mas sim convergentes. Di Pietro (2010) também aponta esta falta de contraposição de interesses entre as partes contratantes e afirma que essa característica faz com que esses instrumentos se assemelhem a convênios. 5 Outra diferenciação está no fato de que as OS foram idealizadas para substituir órgãos e entidades da Administração Pública, absorvendo atividades que eram executadas diretamente, enquanto as OSCIPs não foram criadas para substituir órgãos ou entidades da Administração Pública. 2.3 OSCIPs no Estado do Rio Grande do Sul Segundo o marco regulatório estadual, pode-se qualificar como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público a pessoa jurídica sem fins lucrativos, constituída há pelo menos dois anos e em atividade, cujos objetivos sociais e normas estatutárias atendam a determinados requisitos estabelecidos na própria lei. Essa qualificação é solicitada à Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social do Estado do Rio Grande do Sul e para que seja concedida é necessário que a organização atue em pelo menos uma das seguintes áreas: I - assistência social; II - cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III - educação; IV - saúde; V - segurança alimentar e nutricional; VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente, gestão de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável; VII - trabalho voluntário; VIII - desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; X - defesa da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; XI - fomento ao esporte; XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos voltados às atividades citadas nos itens anteriores. Essas instituições devem, obrigatoriamente, prever em seus estatutos a observância aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da economicidade, da razoabilidade e da eficiência na aplicação dos recursos públicos e na 6 gestão dos bens públicos. Da mesma forma, devem prever a finalidade não lucrativa da entidade, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades. A perda da qualificação poderá ocorrer se a entidade dispuser de forma irregular dos recursos públicos, incorrer em irregularidade fiscal ou trabalhista ou descumprir o disposto na legislação e no Termo de Parceria firmado com o Poder Executivo estadual. O instrumento utilizado para a celebração do vínculo de cooperação é o Termo de Parceria. Nesse documento são destinados os recursos orçamentários e, em alguns casos, a permissão de uso de bens públicos necessários à execução das atividades. Além disso, fica acordado o plano de trabalho a ser desenvolvido pela OSCIP, bem como as metas a serem alcançadas e os indicadores que serão utilizados para acompanhamento. A escolha da OSCIP que poderá parceirizar com o Estado é realizada por meio de edital de seleção pública. Uma Comissão Julgadora - composta por dois profissionais de notória especialização e conhecimento sobre o assunto, dois representantes da Secretaria à qual está vinculada a execução do objeto do Termo de Parceria e um representante da Secretaria de Planejamento e Gestão - determina qual projeto apresentado será o mais adequado ao desenvolvimento das atividades que serão objeto da parceirização. O acompanhamento e a fiscalização do Termo de Parceria são realizados pelo órgão de controle interno do estado e pela Assembleia Legislativa. Os resultados atingidos com a execução do termo são analisados no mínimo a cada seis meses por uma comissão de avaliação designada pelo Governador do Estado e composta por um profissional de notória especialização e conhecimento sobre o assunto, um servidor da Secretaria à qual está vinculada a execução do objeto da parceria e um servidor da Secretaria de Planejamento e Gestão. Sobre os procedimentos para a realização de compras e contratações, no caso do Estado do Rio Grande do Sul não há previsão de realização de processo licitatório pelas OSCIPs contratualizadas com o Estado. O que o Decreto Estadual n. 45.541 (RIO GRANDE DO SUL, 2010) determina é que a OSCIP, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da assinatura do Termo de Parceria, elaborará regulamento próprio contendo os procedimentos a serem adotados para a contratação de obras e serviços, bem como para compras com o emprego de recursos provenientes do Poder Público, observados os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da economicidade, da razoabilidade e da eficiência. 7 Mello (2010) vê com certa reserva a execução de serviços públicos por meio de termos de parceria e especialmente de contratos de gestão com organizações sociais. Aponta, entre outros fatores, a não utilização de licitação no processo de escolha do parceiro privado. Segundo o renomado jurista, isso contraria o art. 175 da Constituição Federal, que estabelece: “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.” Por outro lado, Gasparini (2009) entende que os atos praticados pelas OSCIPs são de direito privado e que seus contratos são, em tese, celebrados independentemente de licitação, e que, na verdade, sequer precisam seguir os princípios licitatórios. O autor entende que, embora o Decreto Federal n. 5.504, de 5 de agosto de 2005 (BRASIL, 2010), determine que as OSCIPs qualificadas pelo Ministério da Justiça utilizem o pregão quando forem utilizados recursos repassados pela União via Termo de Parceria, essa legislação não atinge Estados, Distrito Federal ou Municípios. Analisando as características das OS e das OSCIPs federais, nota-se que embora o Estado do Rio Grande do Sul tenha optado por instituir a qualificação de organizações do Terceiro Setor como OSCIP, há na legislação características comuns a ambos os modelos, o que, de certa forma, pode representar algumas dificuldades para o estabelecimento de parcerias. Por um lado, a legislação gaúcha veda a celebração de termos de parceria que impliquem criação, extinção, fusão, incorporação ou cisão de qualquer entidade da administração indireta, o que é efetivamente uma característica de OSCIP. Por outro lado, as OSCIPs no Rio Grande do Sul são utilizadas para gerir e executar serviços públicos que estavam sendo prestados diretamente pelo Estado, que é o princípio da OS. 3 METODOLOGIA Esta pesquisa utiliza o método de abordagem qualitativa, uma vez que visa descrever detalhadamente uma situação, no caso, os resultados que a Administração Pública e a sociedade alcançaram através do Termo de Parceria celebrado entre o Estado do Rio Grande do Sul e o Terceiro Setor para a execução dos serviços desenvolvidos no Centro Infantojuvenil Zona Sul. Conforme Sacramento (2008, p. 39), “O método qualitativo originou-se na Antropologia e objetiva a descoberta, a identificação, a descrição detalhada e aprofundada da realidade ou de um fenômeno”. Quanto a seus objetivos, a pesquisa é descritiva, pois busca descrever o fenômeno, conforme ele se apresenta. Zanella (2009) afirma que esse é um tipo de estudo utilizado em 8 Administração Pública, já que se presta a descrever as características de um determinado fato ou fenômeno. No que diz respeito às técnicas de coleta e análise de dados, a pesquisa é do tipo “estudo de caso”, pois investiga especificamente o desempenho do Centro Infantojuvenil Zona Sul a partir da celebração do Termo de Parceria. Yin (apud ZANELLA, 2009, p. 86) afirma que “O estudo de caso é utilizado quando o pesquisador investiga uma questão do tipo ‘como’ e ‘por que’ sobre um conjunto contemporâneo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle”. A pesquisa guia-se pela seguinte questão norteadora: quais foram os ganhos que a Administração Pública e a sociedade alcançaram por meio da celebração da parceria com as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs, no caso do presente estudo, o Centro Infantojuvenil Zona Sul? Portanto, seu objetivo principal é identificar tais ganhos. Como objetivos específicos - que contribuem para responder à questão formulada e ao objetivo geral -, apresentam-se a necessidade de realizar um levantamento de dados relativos às atividades desenvolvidas pelo Centro Infantojuvenil Zona Sul antes e também depois da parceirização, para que se possa comparar os desempenhos dos dois momentos, considerando a parceirização como referência. A trajetória metodológica pode ser destacada em três momentos: primeiro, foram buscados os fundamentos teóricos, contemplando os temas relacionados ao assunto pesquisado, tais como: Terceiro Setor, as OS e as OSCIPs no Estado do Rio Grande do Sul. Num segundo momento são apresentadas as análises dos dados. Primeiramente, faz-se um breve histórico do Centro Infantojuvenil Zona Sul através da verificação in loco e da realização de entrevistas com funcionários da OSCIP, bem como com servidores da Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social, responsáveis pelo acompanhamento do Termo de Parceria. Apresenta-se, assim, a situação encontrada a partir da celebração da parceria com a Administração Pública. O período de análise dos dados referentes aos resultados alcançados pela OSCIP, no que diz respeito à execução da parceria, compreende o ano de 2010. O desempenho é verificado com base nos compromissos, indicadores e metas pactuados por meio do Termo de Parceria celebrado entre o Estado e a OSCIP. Na terceira e última parte apresenta-se um estudo comparativo, no qual são relatadas e comparadas as informações obtidas antes e depois da parceria com a Administração Pública. Essa comparação permite a identificação dos ganhos obtidos tanto pelo Estado como pela Sociedade com a parceirização dos serviços no Centro Infantojuvenil Zona Sul. 9 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Breve histórico do Centro Infantojuvenil Zona Sul/RS O espaço ocupado pelo Centro Infantojuvenil Zona Sul (CIJZS) foi construído para abrigar menores infratores recolhidos à Fundação do Bem Estar do Menor (FEBEM). O Estado optou por transformar o local em um Centro para prestação de serviços de proteção social a crianças e adolescentes em situação de risco, moradores da Vila Cruzeiro, Porto Alegre. Essa alteração na prestação dos serviços enfrentou resistência por parte do públicoalvo, pois as crianças e os adolescentes da região se sentiam constrangidos a frequentar um local que anteriormente era visto como um “presídio”. O atendimento dado às crianças e aos adolescentes era realizado diretamente pelo Estado e enfrentava dificuldades, sendo que a falta de servidores era a maior delas. Os usuários dos serviços eram então atendidos por funcionários da Fundação de Proteção Especial (FPE), ligada à Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social. Essa falta de pessoal impossibilitava o desenvolvimento de um trabalho qualificado, com foco no desenvolvimento pedagógico, na preparação para o trabalho e na recreação. Apesar da dedicação demonstrada pelos servidores do Estado que atuavam no Centro, seu reduzido número tornava impossível a realização de determinadas atividades e a ampliação do número de atendidos, que em 2009 era de aproximadamente 100 crianças e adolescentes. A ampliação do número de servidores só poderia ocorrer por meio de realocação de pessoas que estivessem trabalhando em outros locais ligados à Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social, que já possui um quadro extremamente enxuto, ou por meio de concurso público. O concurso público foi descartado, pois, além de sua demora, há uma discussão em torno da competência do estado para executar atividades em turno inverso ao escolar (contraturno) quando se trata de crianças e adolescentes. Essa obrigação seria do município e não do estado. Além disso, as compras realizadas pelo Centro, inclusive de alimentos para os frequentadores, seguiam os trâmites burocráticos do processo licitatório. Diante desse quadro, o estabelecimento do Termo de Parceria com uma OSCIP surgiu como uma possibilidade de ampliar e qualificar os serviços prestados à sociedade. 4.2 Celebração do Termo de Parceria com a Administração Pública 10 Foram realizadas pela Secretaria do Planejamento e Gestão – SEPLAG e pela Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social – SJDS diversas ações de prospecção de órgãos públicos e de organizações sem fins lucrativos que pudessem celebrar termos de parceria. Entre elas estão: i) a confecção e a disponibilização de um manual com os procedimentos necessários para o estabelecimento de termos de parceria com as OSCIPs; ii) a realização de workshops com gestores públicos e entidades do Terceiro Setor, e iii) o encaminhamento de um ofício às 500 entidades que possuíam qualificação como OSCIP federal e tinham sede no Estado do Rio Grande do Sul, incentivando-as a se qualificarem como OSCIPs estaduais. Em julho de 2009, o Estado lançou seu primeiro edital para celebração de Termo de Parceria. O objeto da parceirização foi o repasse dos serviços executados no Centro Infantojuvenil Zona Sul (CIJZS), em Porto Alegre. Durante o período previsto para a apresentação de projetos, nenhuma entidade demonstrou interesse. Após duas prorrogações de prazo do edital, dois projetos foram apresentados e a OSCIP vencedora foi selecionada. O Termo de Parceria foi assinado em dezembro de 2009, com vigência até o final do ano de 2010. Em 24 de dezembro de 2010 foi publicada no Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul a celebração do Primeiro Termo Aditivo ao Termo de Parceria n. 001/2010, que prorrogou sua vigência por mais 12 meses. Em dezembro de 2009 foi assinado o Termo de Parceria n. 001/2010 que prevê a contratualização da OSCIP ESTADUAL – FUNDAÇÃO PENSAMENTO DIGITAL para gerenciar o CENTRO INFANTOJUVENIL ZONA SUL no Bairro Cruzeiro do Sul em Porto Alegre/RS e, em dezembro de 2010 foi assinada a renovação deste Termo de Parceria n. 001/2010 para o ano de 2011. O Centro Infantojuvenil Zona Sul está situado no bairro Cruzeiro do Sul e tem como objetivo prestar atendimento gratuito a 200 adolescentes entre 12 a 18 anos, provenientes de núcleos familiares de baixa renda e, ainda em situação de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre/RS, prioritariamente do Bairro Cruzeiro (FUNDAÇÃO PENSAMENTO DIGITAL, 2011). A regulamentação das Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIPs) foi instituída pelo Estado do Rio Grande do Sul em janeiro de 2008. O primeiro edital para seleção de uma OSCIP foi lançado em julho de 2009 e, a partir dessa data, o Governo do Estado publicou mais 15 editais. Apenas o primeiro certame resultou na celebração de um Termo de Parceria, pois nos outros 14 ocorreu algum tipo de dificuldade que impediu a parceria. Há, portanto, pouca experiência do estado com relação à execução dos serviços públicos por meio de parceria. As OSCIPs, por serem entidades de direito privado, não estão sujeitas à burocracia 11 da gestão pública, não precisam licitar nem realizar concurso público para contratação de funcionários. São entidades do Terceiro Setor e, consequentemente, estão habituadas a trabalhar com voluntários. Possuem experiência na elaboração de projetos para captação de recursos junto à iniciativa privada e aos próprios órgãos públicos. O instrumento de parceria entre a Administração Pública e uma OSCIP possui obrigações a serem cumpridas e metas a serem alcançadas. Além disso, o parceiro público realiza um monitoramento constante da execução do Termo de Parceria. A celebração da parceria com uma OSCIP representa uma alternativa de modernização na prestação dos serviços públicos, na qual o Estado permanece estabelecendo as diretrizes e fiscalizando o desempenho, mas não precisa se dedicar à execução. O Estado do Rio Grande do Sul instituiu a possibilidade de estabelecimento de parcerias com OSCIPs por meio de marco legal aprovado em 2008, mas apenas um Termo de Parceria foi celebrado até o presente. 4.3 Estudo comparativo entre o período pré e pós-celebração da parceria O trabalho desenvolvido diretamente pelo estado na prestação de serviços ao Centro Infantojuvenil consistia em atender aproximadamente 100 crianças em turno inverso ao escolar. Não era possível desenvolver atividades orientadas, com foco no desenvolvimento pedagógico das crianças, pois o número de profissionais era insuficiente. A Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social (SJDS) elaborou o edital de seleção de projetos e o publicou em 23/07/2009. O objeto da parceria seria o atendimento a 200 crianças e adolescentes, de 12 a 18 anos, em turno inverso ao da escola, em atividades de apoio pedagógico, iniciação profissional e formação geral. Essas crianças e adolescentes também receberiam vale transporte e refeições. O valor dos recursos orçamentários a serem repassados pelo estado para a execução do projeto durante o ano de 2010 foi definido em até R$ 969.999,20 (novecentos e sessenta e nove mil, novecentos e noventa e nove reais e vinte centavos), a ser disponibilizado de acordo com o cronograma de desembolso pré-estabelecido no edital. Três OSCIPs apresentaram suas propostas de trabalho. A Comissão Julgadora selecionou a OSCIP Fundação Pensamento Digital para firmar o Termo de Parceria. Não houve recursos administrativos ou judiciais. A assinatura do Termo ocorreu em dezembro de 2009 e o prazo de vigência contratualizado foi de um ano, com possibilidade de renovação. 12 A Fundação Pensamento Digital é fruto da mobilização de voluntários, empresas e universidades para a promoção de projetos educacionais através do uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação. A Fundação mobiliza uma rede de parceiros para promover a utilização de computadores e Internet em comunidades de baixa renda, potencializando as ações de desenvolvimento das organizações comunitárias e estimulando a aprendizagem continuada de suas equipes e beneficiados (FUNDAÇÃO PENSAMENTO DIGITAL, 2011). Nos meses de janeiro e fevereiro do ano de 2010, a OSCIP executou as tarefas necessárias ao início das atividades, que incluíram reforma da estrutura física, pintura externa e interna do prédio, contratação e treinamento de recursos humanos e entrevistas de candidatos à matrícula. O acompanhamento e a fiscalização de cada um dos termos de parceria, conforme determina o Decreto n. 45.541/08 (RIO GRANDE DO SUL, 2010), devem ser realizados por uma Comissão de Avaliação composta por três membros: 1 (um) profissional com especialização e conhecimento sobre o assunto, 1 (um) servidor da Secretaria à qual está vinculada a execução do objeto da parceria, indicado pelo titular da respectiva Pasta, e 1 (um) servidor da Secretaria de Planejamento e Gestão, também indicado pelo Titular da respectiva Pasta. Na parceria em questão, este profissional com especialização e conhecimento sobre o assunto deveria ser escolhido entre os servidores que atuavam no CIJZS antes da parceirização. A dificuldade enfrentada durante a execução da parceria do CIJZS com o Governo foi a realização da atividade de acompanhamento e de avaliação do projeto. No Estado do Rio Grande do Sul não há servidores exercendo exclusivamente a atividade de fiscalizadores de termos de parceira com OSCIPs, como ocorre, por exemplo, no Estado de São Paulo, onde o quadro das secretarias inclui supervisores de contratos de gestão celebrados com as OS. No caso do Rio Grande do Sul, ao contrário, os servidores que já atuavam na SJDS - e tinham diversas atividades sob sua responsabilidade - absorveram mais esta, o que causou excesso de carga de trabalho para alguns deles. A OSCIP selecionada não possuía experiência no tipo de serviço parceirizado, visto que seu foco principal eram ações de inclusão digital. O fato de ser um processo novo fez com que durante a execução do projeto surgissem dúvidas diárias e os servidores da SJDS, responsáveis pelo acompanhamento da parceria, precisaram dedicar muito tempo a essa atividade. Além disso, esses servidores também se sentiram inseguros para resolver os questionamentos, pois não foram ministrados cursos sobre os conhecimentos necessários ao 13 acompanhamento dos termos de parceria, como por exemplo, contabilidade de organizações do Terceiro Setor. Outra questão importante é que o processo não teve seu fluxo mapeado, o que certamente propiciaria a identificação de desconexões e gargalos, além da necessidade de padronização de algumas atividades. Essa inexistência do fluxo mapeado também ocasionou dificuldades em relação à atribuição de responsabilidades para cada uma das etapas de acompanhamento do projeto. Entre as metas pactuadas e os resultados atingidos destacam-se: a) Manter a frequência de, no mínimo, 200 participantes, de segunda à sexta-feira, nas atividades previstas no turno inverso ao da escola. Indicador: acompanhamento e registro da presença diária (relação de presença e diário de aula). Resultados esperados: participação efetiva dos jovens nas oficinas oferecidas, cumprindo os objetivos do projeto. Resultados alcançados: Quadro 2 Quadro 2: Número de participantes durante o ano de 2010 Março Abril Maio Junho Julho 210 204 199 188 184 Fonte: Fundação Pensamento Digital (2011) Agosto 185 Setembro 186 Outubro 175 Novembro 161 Dezembro 137 A meta anual pactuada prevê a frequência de, no mínimo, 200 participantes. Ocorreram 64 desistências durante o ano: 17 adolescentes saíram para ingressar em outras atividades ou cursos que ofereciam alguma remuneração e 36 saíram por não se adaptarem à rotina, ou por falta de interesse. Segundo a Fundação Pensamento Digital (2011), durante o ano de 2010 o ingresso de novos participantes foi constante como meio de diminuir o percentual de evasão, beneficiando os adolescentes e a comunidade. Dentro desta perspectiva, no total foram selecionados 264 adolescentes durante o ano. Este número configura o número beneficiado, porém ele não é demonstrado no Quadro 2 porque, à medida em que os participantes iam saindo, eles iam sendo substituídos pelos que se encontravam na lista de espera. b) Desenvolver anualmente, no mínimo, 02 cursos de iniciação ao trabalho para adolescentes com faixa etária entre 16 e 18 anos. Inclusão de 40% dos participantes no mercado de trabalho. Indicadores: número de adolescentes participantes dos cursos com, no mínimo, 80% de frequência. Número de adolescentes encaminhados ao mercado de trabalho. 14 Resultados esperados: maioria dos jovens com formação necessária para inserção no mercado de trabalho. Resultados alcançados: foram ministrados os seguintes cursos de iniciação ao trabalho: Arte da Costura, Tecnologias para o Trabalho e Manutenção e Configuração de Computadores. Quanto ao ingresso no mercado de trabalho, 17 adolescentes conseguiram colocação profissional durante o ano de 2010, sendo que 02 no primeiro semestre e 15 no segundo. Embora a OSCIP realize diversas ações no sentido de ampliar a empregabilidade dos adolescentes, a baixa escolaridade dificulta seu encaminhamento às vagas disponíveis. c) 100% de participantes matriculados e frequentando a rede de ensino. Indicador: acompanhamento mensal do rendimento e frequência escolar dos participantes. Resultados esperados: todos os jovens atendidos por esse projeto estarão estudando na rede pública de ensino. Resultados alcançados: no momento da inscrição, no início do ano, foi obrigatória a comprovação da matrícula na rede de ensino. No decorrer do segundo semestre, a pedagoga da Fundação Pensamento Digital visitou as escolas que os participantes frequentavam e estabeleceu contatos telefônicos, na busca de informações sobre o desempenho e a frequência escolar. Durante o ano, 20 adolescentes apresentaram irregularidades na frequência escolar, sendo que 19 retornaram à escola e 01 foi encaminhado ao Conselho Tutelar. No encerramento do ano, todos estavam frequentando a escola regularmente. d) Oferecer 04 horas de atendimento qualificado aos participantes, nas áreas objeto do presente projeto, com apoio pedagógico, cursos que estimulem o desenvolvimento de competências, bem como inclusão social e digital. Indicador: número de oficinas realizadas e acompanhamento do desempenho dos educandos no ambiente virtual de aprendizagem disponibilizado para o projeto. Resultados esperados: desenvolvimento das oficinas com qualidade e participação efetiva dos educandos. Resultados alcançados: foram oferecidas 03 (três) oficinas complementares: Desenvolvimento Acadêmico (Português e Matemática), Iniciação ao Trabalho (Tecnologias para o Trabalho, Manutenção e Configuração de Computadores, Arte da Costura) e Oficinas Complementares (Tecnologias para a Vida, Educação Digital, Atividades Esportivas e Dança, Artes, Tecnologias para o Trabalho, Manutenção e 15 Configuração de Computadores, Arte da Costura). No reforço escolar foram oferecidas aulas no laboratório de informática, com utilização do software Scratch (noções de programação, raciocínio lógico e matemática). e) Promover em 12 meses a educação digital para 100% dos participantes. Indicador: quantidade de educandos participantes das oficinas de educação digital. Resultados esperados: que todos os jovens participantes do projeto desenvolvam suas atividades utilizando as tecnologias digitais. Resultados alcançados: todos os participantes desenvolveram suas atividades utilizando as tecnologias digitais e participando de 01 a 02 oficinas de informática. f) Realização de 02 palestras mensais com temas sobre saúde, educação, cidadania e outros. Indicadores: número de palestras realizadas. Questionário para os participantes avaliarem os conteúdos abordados, visando quantificar o nível de satisfação. Resultados esperados: qualificação e complementação das oficinas desenvolvidas, para um melhor aproveitamento dos educandos. Resultados alcançados: Quadro 3 Quadro 3: Número de palestras realizadas durante o ano de 2010 Mês Maio Maio Junho Junho Agosto Agosto Setembro Outubro Outubro Novembro Tema Cidadania Cidadania Educação Cidadania Educação Saúde Educação Educação Educação Educação Novembro Saúde Dezembro Cidadania Dezembro Cidadania Dezembro Cidadania Dezembro Cidadania Dezembro Cidadania Dezembro Saúde Dezembro Saúde Fonte: Fundação Pensamento Digital (2011) Título Juízo Pedofilia Economia familiar e pessoal Drogas Bullying Transtornos alimentares Sexualidade Culinária Liderança “Sentir, Pensar e Agir” (Orientação Profissional) Saúde da mulher Consciência negra Religião “Catolicismo” Religião “Evangélica” Religião “Umbanda” Religião “Espiritismo” Higiene pessoal Alimentação saudável Foram realizadas 04 palestras no primeiro semestre e 14 no segundo, totalizando 18 palestras no ano de 2010. g) Realização de 04 visitas orientadas, por ano, em espaços culturais. Indicador: parecer (redações/relatos/trabalhos artísticos) das experiências vivenciadas. 16 Resultados esperados: enriquecer o conhecimento e a cultura dos educandos, bem como a convivência em grupo. Resultados alcançados: Quadro 4 Quadro 4: Número de visitas orientadas realizadas durante o ano de 2010 Mês Junho Agosto Setembro Outubro Fonte: Fundação Pensamento Digital (2011) Visita Santander Cultural Cinema “Meu Malvado Favorito” Museu de Tecnologias da PUC-RS Parque Germânia h) Realização de, no mínimo, 02 avaliações sociais por ano, por participante. Encaminhamento das demandas dos participantes e/ou familiares para a Rede Local de Programas e Serviços. Indicadores: preenchimento da ficha socioeconômica sob a coordenação do serviço social. Análise dos dados da situação socioeconômica dos familiares. Número de familiares encaminhados para a Rede. Resultados esperados: totalidade dos jovens atendidos, assistidos por programas sociais, melhorando, assim, suas condições de vida. Resultados alcançados: todos os participantes preencheram a ficha socioeconômica sob a coordenação do serviço social e da psicóloga, no primeiro semestre. Durante o ano, a assistente social identificou alguns adolescentes com necessidade de algum tipo de acompanhamento e os encaminhou ao atendimento especializado na rede pública. i) Desenvolver, no mínimo, 02 oficinas por mês com atividades artísticas, culturais, lúdicas e esportivas para cada participante. Indicador: número de oficinas artísticas, culturais, lúdicas e atividades esportivas. Resultados esperados: ampliar perspectivas de vida e laborativas dos jovens, bem como melhorar seus vínculos familiares e comunitários. Resultados alcançados: foram desenvolvidas atividades recreativas, de dança, basquete, futebol, vôlei, artes e teatro, com o intuito de fomentar o convívio social dos participantes. j) Servir, diariamente, para cada participante do projeto, café, lanche e almoço. Indicador: quantidade de almoços/lanches/cafés aos beneficiários do projeto. Resultados esperados: que todos os jovens atendidos pelo projeto tenham alimentação garantida. Resultados alcançados: participantes que realizaram as refeições no Centro: café da manhã – 36, lanche da manhã – 39, almoço da turma da manhã – 68, almoço da turma 17 da tarde– 132, lanche da tarde – 58. Os participantes questionavam, no momento da inscrição, onde fariam as refeições: no CIJZS, em casa ou na escola. As refeições foram planejadas por uma nutricionista. k) Avaliação nutricional mensal sobre o cumprimento do cardápio. Avaliação semestral do nível de satisfação dos beneficiários com a alimentação recebida, a ser realizada pela nutricionista. Indicadores: elaboração de dieta com cardápio definido. Elaboração de questionário sobre a satisfação com a qualidade da alimentação servida, pelos beneficiários do programa. Resultados esperados: qualidade e alimentação saudável. Resultados alcançados: a avaliação nutricional realizada pela nutricionista sobre o cumprimento do cardápio teve resultados satisfatórios, segundo os próprios adolescentes atendidos. Os participantes sugeriram algumas alterações no cardápio, a saber: mais sucos, saladas, repetição do prato e inclusão de batata frita, hambúrguer e doces. As sugestões seriam analisadas pela nutricionista em 2011. l) 3% de captação de recursos, no mínimo, cumulativamente, do valor total repassado a cada ano, a partir do segundo ano, no caso de sua renovação. Indicador: receitas próprias captadas pela OSCIP. Resultados esperados: captação de recursos na iniciativa privada. Resultados alcançados: Quadro 5 Quadro 5: Recursos economizados ou recebidos no ano de 2010 Mês Abril Agosto Outubro Agosto Setembro Novembro e Ação PROCEMPA instalou internet para 83 computadores no CIJZS, cedeu, em comodato, equipamentos para receber a conexão internet e custeou as mensalidades da mesma, que não foram cobradas durante o ano. Recebimento de doação do MESA BRASIL (240 quilos de feijão, 300 quilos de arroz e 500 quilos de leite em pó). Recebimento de doações de móveis, tintas e livros dos Voluntários da Empresa Souza Cruz, através do projeto “Biblioteca Vila Cruzeiro”, para melhoria do espaço e aquisição de livros com literatura atualizada voltada para os adolescentes. Recebimento de doações da Empresa Souza Cruz: uma TV 29’, uma mesa para TV, material de escritório e pedagógico. Captação de recursos, em conjunto com a Associação de Basquete de Porto Alegre – ABPA, junto ao Serviço Social da Indústria – SESI, por meio do projeto “Passa a Bola meu Filho”, para construção da quadra de basquete e compra de uniformes esportivos para aulas. Valores Economia de R$ 3.000,00. Economia de R$ 7.690,60. Captação de R$ 6.500,00. Economia de R$ 2.798,14. Captação de R$ 27.947,80. 18 Fonte: Fundação Pensamento Digital (2011) O CIJZS contou com o trabalho de 22 voluntários durante o ano de 2010. A prestação de serviços ocorreu na reforma da biblioteca e nas aulas de basquete e artes, na oficina de inglês e no apoio à nutrição. Além disso, foram estabelecidas diversas parcerias com entidades públicas e privadas, que proporcionaram isenção de passagens de ônibus aos participantes do Centro, atendimento de emergências médicas e aulas de basquete. Até o final do ano de 2010 foram realizadas 02 avaliações semestrais e 01 anual, que apontaram para um ganho na qualidade dos serviços prestados pelo CIJZS. Tendo por base essas avaliações, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul prorrogou o termo de parceria por mais 12 meses. 5 CONCLUSÃO O estabelecimento da parceirização para execução dos serviços prestados pelo Centro Infantojuvenil Vila Cruzeiro possibilitou a ampliação do número de crianças e adolescentes atendidos, bem como o oferecimento de novos serviços. Essa melhoria se deve à flexibilidade com que uma organização privada pode gerenciar seus recursos. A contratação de pessoas é feita de forma direta e as aquisições não passam por processo licitatório. Além disso, as organizações do Terceiro Setor contam com o trabalho de voluntários. Quanto ao desembolso financeiro do estado, embora a captação de recursos ainda não estivesse constando como uma obrigação do primeiro ano do termo, a OSCIP conseguiu captar R$34.447,80 (trinta e quatro mil, quatrocentos e quarenta e sete reais e oitenta centavos) e contou com o auxílio de diversos parceiros e voluntários. As organizações do Terceiro Setor têm mais facilidade de angariar doações, estabelecer parcerias e contar com voluntariado do que as instituições governamentais. Considerando que o trabalho desenvolvido pela Fundação Pensamento Digital alcançou resultados superiores aos que eram atingidos quando os serviços eram feitos por meio direto, conclui-se que, no caso estudado, a parceria foi positiva, tanto para o estado do Rio Grande do Sul, quanto para o público alvo do Centro Social. Um dos aspectos determinantes da parceria foi a percepção da necessidade de ampliar e qualificar os serviços prestados à sociedade. Pelos dados apresentados, fica evidente que a parceria entre Governo e OSCIP representa um avanço também na área de captação de recursos, pois foi possível a realização de projetos com enfoque cooperativo, mais desburocratizados, mais descentralizados e mais flexíveis, instituindo a prestação de contas 19 com foco nos resultados e com maior transparência, assim confirmando a perspectiva de Vilhena (2006). Experiências como esta permitem a identificação do surgimento de uma esfera pública que não é estatal e, sim, da iniciativa privada, mas com sentido público. Isso enriquece a dinâmica social e torna-se uma possibilidade para a busca de maior eficiência no atendimento dos anseios da sociedade. O estudo permite considerar que as parcerias público-privadas podem se tornar um meio eficaz para a obtenção de recursos junto à iniciativa privada, destinados a serviços públicos. Experiências como esta também comprovam a eficácia da atuação da iniciativa privada nas políticas públicas, com vantagens não somente econômicas, mas também práticas, em que o particular contratado detém condições de prestar um serviço público mais qualificado. Interessa também à sociedade a aproximação do Estado com a iniciativa privada, por ser ela diretamente beneficiada. Evidentemente novos estudos são necessários para analisar outras experiências e outros termos de parceria que venham a ser celebrados no estado, para que seja possível estender os resultados obtidos e apontados neste caso a outros processos de parceria. REFERÊNCIAS ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2009. BRASIL. Lei n. 9.637, de 15 de maio de 1998. Dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos e entidades que menciona e a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9637.htm>. Acesso em 12 jul. 2010. BRASIL. Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9790.htm>. Acesso em 12 jul. 2010. BRASIL. Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. Plano diretor da reforma do aparelho do Estado. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/publi_04/colecao/plandi.htm>. Acesso em 13 jul. 2010. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2010. FUNDAÇÃO PENSAMENTO DIGITAL. Centro Infanto Juvenil Zona Sul. Disponível em: <http://www.pensamentodigital.org.br/?q=node/1211>. Acesso em 03 jun 2011. 20 FUNDAÇÃO PENSAMENTO DIGITAL. Relatório técnico semestral referente ao Termo de Parceria n. 01/2010 entre Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social e Fundação Pensamento Digital. Disponível em: < http://www.pensamentodigital.org.br/files/Relat%C3%B3rio%20Semestral%2020102%C2%BA.pdf >. Acesso em 03 jun 2011. GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2009. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2010. RIO GRANDE DO SUL. Decreto n. 45.541 de 13 de março de 2008. Regulamenta a Lei n. 12.901, de 11 de janeiro de 2008, que dispõe sobre a qualificação de pessoa jurídica de direito privado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, institui o Termo de Parceria e dá outras providências. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/Legis/M010/M0100018.asp?Hid_IdNorma=51488&Texto=>. Acesso em 12 jul. 2010. RIO GRANDE DO SUL. Lei n. 12.901, de 11 de janeiro de 2008. Dispõe sobre a qualificação de pessoa jurídica de direito privado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, institui o Termo de Parceria e dá outras providências. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/Legis/M010/M0100018.asp?Hid_IdNorma=51341&Texto=>. Acesso em 12 jul. 2010. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria do Planejamento e Gestão. Manual de procedimentos para celebração e monitoramento de termos de parceria com OSCIPs. Disponível em: <http://www.seplag.rs.gov.br/conteudo_puro.asp?ta=3&cod_banner=41>. Acesso em: 20 mai. 2011. SACRAMENTO, Weverton Pereira do. 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