Comunicação e Profissão TRABALHO Ficha de Caracterização do Trabalho Título: Gestão de Conflitos: Das Causas às Soluções Resumo: Apresenta-se a problemática do conflito nas organizações actuais. Descrevem-se os diferentes tipos de conflitos que podem surgir, bem como as razões para a sua ocorrência. Sugerem-se ainda diversos tipos de solução com os respectivos prós e contras. No final, apresentam os passos básicos para reagir de forma eficiente a um conflito emergente. Este conhecimento é de vital importância para o gestor de projectos, uma vez que se estima que 20% do seu horário de trabalho é preenchido com esta problemática. Um conhecimento, previsão e resolução de conflitos eficiente pode resultar num aumento da capacidade produtiva duma organização em cerca 25 a 30%. URL: student.dei.uc.pt/~bnazare/cp/artigo1.doc Data: 19-10-2003 Esforço: 18h Motivação: Curiosidade sobre as relações humanas numa empresa e sobre como resolver situações difíceis de conflito. Aprendizagem: Conteúdos: Variadas formas de resolver conflitos. As suas fontes. Processos: Como redigir um artigo. Como resumir bastante informação para duas páginas. Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra 2003/2004 Licenciatura em Engenharia Informática COMUNICAÇÃO & PROFISSÃO GESTÃO DE CONFLITOS: DAS CAUSAS ÀS SOLUÇÕES por Bruno Gonçalo Nazaré Gonçalves Sumário: Apresenta-se a problemática dos conflitos nas organizações actuais. Descrevem-se os diferentes tipos de conflitos que podem surgir, bem como as razões para a sua ocorrência. Sugerem-se ainda diversos tipos de solução com os respectivos prós e contras. No final, apresentam os passos básicos para reagir de forma eficiente a um conflito emergente. Este conhecimento é de vital importância para o gestor de projectos, uma vez que se estima que 20% do seu horário de trabalho é preenchido com esta problemática. Um conhecimento, previsão e resolução de conflitos eficiente pode resultar num aumento da capacidade produtiva duma organização em cerca 25 a 30%. Palavras chave. gestão, conflitos, resolução, metodologias. 1. Introdução O objectivo por detrás deste artigo é o de criar no leitor, enquanto futuro gestor de projectos e equipas, uma sensibilidade para a problemática dos conflitos nas organizações actuais. A melhor forma de começar uma artigo sobre o conflito, talvez seja descrevê-lo. Segundo autores da actualidade, conflito é definido como o comportamento de um indivíduo, grupo, ou organização que impede ou prejudica (pelo menos temporariamente) outro grupo na concretização dos seus objectivos. A característica mais prejudicial do conflito, é a tendência dos conflituosos para pôr os seus objectivos à frente dos da organização. Sacrificando assim tempo e eficácia, enquanto omitem informação e se degladiam por uma posição superior. Mais, os conflituosos envolvem-se de tal forma no conflito que chegam a prejudicar a própria saúde, física e psicológica. O conflito tem ainda a característica pérfida de alastrar para além dos limites da organização: clientes, administradores e até as famílias são afectadas por este flagelo. Por estas razões, durante largos anos, considerou-se o conflito como algo nocivo. No entanto, actualmente considera o conflito, desde que tomado com moderação, como um elemento para aumento de produção e até de evolução da organização. Esta opinião é baseada no debate positivo de ideias que, regra geral, se desenvolve durante ou após o conflito e que elimina a estagnação mental que a falta de discussão pode trazer. Durante este artigo, vou descrever os diversos tipos de conflito que podem ocorrer, bem como as razões mais comuns para essas ocorrências. Após isso, irei enumerar algumas soluções, para evitar ou sanar conflitos e sugerir alguns passos básicos para uma resolução de conflitos eficiente. 2. Tipos de conflito No início de qualquer análise sobre conflitos tornam-se evidentes três tipos diferentes: os conflitos pessoais, interpessoais e organizacionais, que passo a descrever. Conflitos pessoais são conflitos centrados num único indivíduo. Casos de ordens divergentes ou ambíguas são casos clássicos. É comum darem-se casos de ordens divergentes nas fileiras militares, em que um praça recebe ordens de um sargento e de um capitão, mas obedecer a uma implica desobedecer a outra. Ordens ambíguas são casos em que o indivíduo fica sem saber exactamente o que fazer. Finalmente, este tipo de conflito pode dar-se também quando uma directiva superior obriga o indivíduo a violar os seus próprios valores ou sentido de justiça. No geral, este tipos de conflito podem parecer simples e de fácil resolução mas, o stress que causam pode afectar gravemente a moral e a eficácia de qualquer indivíduo e consequentemente da organização. Se os conflitos ocorrerem entre indivíduos ou entre indivíduos e grupos, então classificam-se como conflitos interpessoais. Nestes casos, é comum que o motivo do conflito sejam razões legítimas, por exemplo objectivos diferentes. No entanto, existem casos em que o conflito resulta de problemas pessoais e choques de personalidade. Nestes casos, tanto grau de intensidade do conflito como a probabilidade de ele acontecer dependem apenas dos intervenientes, e como tal, são tão diferentes da caso para caso, como as pessoas umas das outras. Finalmente, existem os conflitos organizacionais, também conhecidos como intergrupais. Esta classe de conflitos, refere-se às animosidades entre diferentes departamentos ou secções dentro duma mesma organização. Por exemplo, o departamento de produção pode discordar das especificações para o produto XYZ do departamento de desenvolvimento. Estes conflitos são extremamente comuns no panorama organizacional do futuro próximo, uma vez que as organizações tendem para um modelo sem limites rígidos. Nesta situação, é necessário ser extremamente eficaz na resolução deste tipo de conflitos, sob pena de se perder a carruagem do desenvolvimento para organizações concorrentes. 3. Razões dos conflitos As razões para a ocorrência de conflitos organizacionais são mais que muitas. No entanto, as pesquisas revelam que as quatro mais recorrentes são: interdependências e partilha de recursos, diferenças Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra 2003/2004 Licenciatura em Engenharia Informática nos objectivos, valores ou conhecimentos, autoridade inconsistente, e ambiguidades. A mais importante destas causas, talvez seja a primeira. Assim, departamentos que não tenham dependências ou compitam por recursos, raramente geram conflitos deste género. O contrário, claro, é o dia-a-dia de muitas organizações actuais. Do mesmo modo, problemas com objectivos, valores ou conhecimentos só se dão quando os diferentes grupos estão numa posição de desacordo. Nesses casos, é comum gerarem-se divisões entre planos a longo e a curto prazo, ou entre resultados teóricos e resultados práticos ou ainda entre os objectivos de uns e as necessidades de outros. É também conhecido o efeito da chamada “diferenciação organizacional”. Este termo refere-se à diferenciação do funcionamento entre diversos departamentos numa mesma organização. Assim, é possível que um departamento crie visões a longo prazo e funcione mais democraticamente, enquanto outro funciona mais a curto prazo e num regime autocrático. Segundo alguns autores quanto maior for esta diferenciação, maior o potencial para conflitos será. Depois vem o problema de autoridade inconsistente. Nestes casos um grupo não respeita a autoridade de um outro grupo, superior hierarquicamente, simplesmente porque a sua autoridade não é compatível com o seu estatuto. Assim, é possível que o grupo inferior desperdice tempo e capital tentando contradizer ou apanhar desprevenido o grupo superior. Como última das razões temos a ambiguidade. Esta ambiguidade difere da referida nos conflitos pessoais, pois prende-se com a questão quem e não com a questão quê. A ambiguidade gera conflitos quando os trabalhos, objectivos e responsabilidades estão mal definidos. Já na antiga Roma se sabia que a glória era um prémio difícil partilhar. A culpa, no entanto, é bem mais fácil de oferecer. Assim, quando existem problemas de ambiguidade é comum encontrem-se departamentos a exigir os créditos de um determinado trabalho. Da mesma forma, é frequente encontrarem-se departamentos a “empurrar” as culpas de uma avaria ou derrapagem para outro. 4. Técnicas para a resolução de conflitos Agora que estão expostos os tipos de conflitos, bem como as razões pelas quais ocorrem, posso agora debruçar-me sobre a sua resolução. Os aspectos nocivos dos conflitos podem ser minimizados se o gestor poder antecipá-los e compreendê-los. O gestor preparado pode recorrer a três técnicas de resolução de conflitos, de maneira a saná-los eficazmente: objectivos de alto-nível, resoluções estruturais, e estilos de resolução de conflitos. Uma das maneiras mais comuns de resolver conflitos é encontrar objectivos comuns a todos os COMUNICAÇÃO & PROFISSÃO conflituosos. A partir daí pode começar a construir-se uma solução benéfica para todos. Este método é utilizado por diversos ditadores quando acusam outros países de prepararem um ataque ao seu para assim unirem os seus cidadãos num objectivo comum, maior que cada um deles. Outra maneira de utilizar objectivos de alto-nível para resolver a questão dos conflitos é ao nível do planeamento de projectos. Para evitar conflitos é imperativo comunicar os objectivos a todo o pessoal. Se a informação for ambígua, podem dar-se diversas interpretações. Pode dar-se um conflito. Para que isso não aconteça, os objectivos devem ser: Específicos, por oposição a generalizados Pouco complexos Mensuráveis, fazíveis e verificáveis De nível adequado mas, desafiantes Realísticos e atingíveis Estabelecidos de acordo com os recursos disponíveis Consistentes com os recursos disponíveis ou antecipados Consistentes com os planos, políticas e procedimentos da organização Apesar de tudo, tais características podem não ser evidentes. Especialmente em projectos de pesquisa e desenvolvimento. Nestes casos, os objectivos são redefinidos ao longo do tempo, pois podem ser infazíveis. Podem também alterar-se devido ao escalamento dos custos. Importante também é permitir que os trabalhadores tenham uma palavra a dizer na definição dos seus objectivos e subobjectivos. Outros métodos baseiam-se na utilização ou modificação da estrutura da organização para sanar os conflitos. Neste tipo de resolução é comum levar-se o conflito até um superior para resolver o problema. Se o superior imediato não o conseguir resolver continua a subir-se na hierarquia até se chegar a uma solução. Apesar de eficaz, esta solução pode fazer com que uma das partes saia prejudicada. Mais, se dois departamentos entram em conflito frequentemente e os seus gestores se dirigem ao superior a maior parte das vezes, dão a entender que não conseguem resolver os seus problemas sozinhos, o que pode colocar os seus lugares em risco. Outros tipo de resoluções passam por tentar responder à primeira causa de conflitos organizacionais referida. Assim, a solução passa por tentar diminuir as interdependências e a competição por recursos entre departamentos. Por vezes, as soluções são tão simples como separar os departamentos fisicamente ou simplesmente aumentar os recursos disponíveis. Noutros casos, no entanto, a solução pode passar pela criação de um “subdepartamento” entre os dois departamentos conflituosos, que medeie a interacção entre ambos e divida os recursos. Qualquer destas soluções funciona, apesar disso, a escolha de uma ou várias Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra 2003/2004 Licenciatura em Engenharia Informática recai sobre o gestor, que deve escolher a mais adequada ao problema e às capacidades da organização. 4.1. Estilos de resolução Perante um conflito, abrem-se diante do gestor diversas possibilidades de acção. Deve utilizar uma atitude mais agressiva e colocar os dois conflituosos frente-a-frente, ou minorar o problema e ignora-lo? Bom, na verdade não existe uma solução tipo para cada tipo de problema. Existem diversos estilos de resolução e uns são melhores que outros em diferentes situações. Neste artigo vou enumerar os sete mais conhecidos. No entanto, cabe ao gestor escolher aquele ou aqueles que mais se adequar à situação e à personalidade dos conflituosos. É também possível utilizar estes métodos quando se é um dos conflituosos, no entanto, é mais complicado manter-se fiel ao modo de resolução que se escolhe quando se estão a defender os próprios interesses. Evasão – Evitar ou recusar-se a discutir a questão que levou ao conflito; Atenuação – Minorar a importância do problema; Acomodar – “Render-se” ao oponente, numa tentativa de acabar com o conflito; Competição – Estilo que implica uma situação de vitória/derrota no final da resolução Compromisso – As partes chegam a um acordo porque cada uma cede um pouco Colaboração – Ambas as partes trabalham activamente de forma a chegarem a um acordo Superioridade – Um método directo e polémico, em que um dos conflituosos usa uma posição de superioridade COMUNICAÇÃO & PROFISSÃO estilo de resolução quando a solução pode ser alcançada de forma racional e civilizada. Finalmente, os métodos mais agressivos. Ao utilizar um destes métodos, uma das partes sai prejudicada. No estilo Competição, ambas as partes competem com ideias para um mesmo fim. No final, apenas uma delas é utilizada. É útil em situações em que não importa quem vence, desde que o conflito seja resolvido e os interesses da organização cumpridos. No entanto, podem gerar-se sentimentos pouco saudáveis. Superioridade, implica também que alguém vença a discussão. No entanto, o vencedor será sempre aquele que tem posição de superioridade. É eficaz e rápida, no entanto, se a parte vencida poder desistir do negócio é provável que o faça. Mais, o utilizar excessivo deste estilo ou seja, estilo ditador, pode causar um enorme sentimento de revolta no níveis hierárquicos mais baixos. 5. A gestão Por esta altura, o leitor já deve ter percebido que os conflitos num ambiente de projecto são inevitáveis. Por essa razão, um gestor inteligente deve estar preparado para lidar com eles. No entanto, há que ter cuidado ao interferir sob pena de o tornar ainda pior. No caso de ocorrer um conflito é necessário observar os seguintes 3 passo básicos: 1. Estudar o problema e compilar toda a informação relevante 2. Desenvolver uma aproximação ou metodologia adequada à situação 3. Criar um clima apropriado. Neste passo o gestor tem que fomentar a vontade de participar, a sua e dos conflituosos. Durante o encontro, o gestor deve procurar legitimar o encontro e dar-lhe credibilidade 6. Apesar de ser difícil recomendar algum destes métodos, alguns resultados são evidentes. Assim, estilos mais defensivos como Evasão, Atenuação ou Acomodar podem afastar os efeitos nocivos dos conflitos mas na realidade, não os resolvem. Conflitos menores, que tendam a desaparecer por si, podem ser resolvidos com este método. No entanto, podem gerar-se maus sentimentos entre os intervenientes. Depois destes temos métodos mais diplomáticos. Compromisso e Colaboração são métodos que implicam que ambas as partes se sentem a uma mesa e resolvam o conflito. No primeiro as pessoas cedem um pouco da sua posição, de forma a chegarem a um acordo. Apesar de funcionar bem e resolver bastantes conflitos, as partes podem ficar com o sentimento de que não regatearam o suficiente. Este método é comparável à discussão de um contrato em que cada parte vai retirando cláusulas, na tentativa de chegar a um acordo. No segundo, as pessoas negoceiam através das suas diferenças. Com as mesmas vantagens do anterior, mas sem o mesmo tipo de desvantagens, este é, provavelmente, o melhor Conclusão Ao longo de todo o artigo descrevi os conflitos e apontei as razões que os causam. Com essa informação em mente, é possível concluir que os conflitos, num ambiente de projecto, são inevitáveis. Apesar disso, um gestor preparado pode prevê-los e planear a sua resolução. Alguns problemas passam por características pessoais e choques de personalidade, nesses casos existem poucos métodos para os resolver. Outros derivam de ambiguidades nos objectivos e responsabilidades dos diversos grupos, aqui a melhor estratégia a adoptar é esclarecer todos os objectivos em alto nível e definir claramente as responsabilidades de cada grupo. Para resolver estes e outros conflitos é também possível utilizar diversos estilos de resolução. Neste artigo descrevi sete deles, sendo que nenhum deles é absolutamente melhor que os outros. Apesar de tudo, o mais eficaz dos sete talvez seja o Colaboração, estilo em que se colocam ambas as partes à mesa para trabalharem as suas diferenças. Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra 2003/2004 Licenciatura em Engenharia Informática COMUNICAÇÃO & PROFISSÃO Referências 1. Dessler, G. Management: Leading People and Organization in the 21 st Century, 2nd edition, Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall pp. 441-449. 2. Kerzner, H. Project Management: A systems approach to planning …………, 6 th edition, Wiley Editions, pp.373413 3. Henriques, J. P. and Santos, P. S. “A Gestão de http://student.dei.uc.pt/~jpdias/gestao/Stress (current Out. 19, 2003) Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra Conflitos e Gestão de Stress”, 2003/2004