Cardiologia - Endocardite Infecciosa ENDOCARDITE INFECCIOSA 1.0 - INTRODUÇÃO É o acometimento infeccioso do endocárdio, causado por bactérias (>95% da vezes) ou fungos. Normalmente a infecção se dá sobre o endocárdio valvar, mas pode acometer outras estruturas, como o endocárdio das comunicações interventriculares, a aorta com coarctação e próteses valvares. A maior parte dos doentes que sofrem de endocardite possuem alguma condição cardíaca que é considerada de risco para desenvolvimento da endocardite. O endotélio próximo a fluxos de alta pressão (ex: orifícios de CIV, regurgitações valvares, pontos estenóticos) sofre lesão, onde se depositam plaquetas e fatores de coagulação, formando um pequeno trombo. Esse local é propício ao desenvolvimento de bactérias que eventualmente consigam entrar na corrente sanguínea. Várias são as condições que podem causar uma bacteremia (ver em Profilaxia), como procedimentos cirúrgicos, extrações dentárias e manipulações do trato urinário, que podem então levar a infecção do endocárdio exposto à lesão. O uso de drogas injetáveis endovenosas e o acesso endovenoso prolongado, como cateter venoso central, podem ser condições de risco em especial, mesmo para corações normais. A endocardite infecciosa é uma doença de alta morbimortalidade, mesmo com as condições atuais de abordagem. A mortalidade varia de acordo com o organismo infectante, sendo ainda maior quando envolve portadores de próteses valvares ou associa-se a complicações como insuficiência cardíaca, formação de abcessos, estes considerados embolizantes podem predispor a fenômenos embólicos sistêmicos e cerebrais. Nas últimas três décadas, documenta-se uma redução da mortalidade geral de 25-30% para 1020%. Especificamente, nos casos de endocardite infecciosa por Staphylococcus aureus, a redução foi de 50-60% para 15-30%, o que certamente relaciona-se à moderna abordagem cirúrgica precoce durante a endocardite infecciosa ativa. Devido à relativa raridade dos casos de endocardite infecciosa e sua variável apresentação clínica, o diagnóstico dessa condição é sempre desafiador e frequentemente necessita de alto grau de suspeta clínica. A incidência da endocardite infecciosa é relativamente incerta, variando de 1,9 a 6,2 casos anuais por 100 mil indivíduos. Especialmente nos países onde a febre reumática apresenta baixa incidência, a endocardite infecciosa é mais rara nos pacientes pediátricos. 2.0 FISIOPATOLOGIA A lesão característica da endocardite infecciosa é a vegetação, que se constitui em uma estrutura básica de fibrina, contendo eritrócitos, células inflamatórias, plaquetas e microorganismos. Profa. Sandra Nísia 1 Cardiologia - Endocardite Infecciosa Geralmente, essa vegetação se desenvolve em regiões em que o endotélio foi lesado expondo tecido colágeno, o que desencadeia uma sucessão de eventos fisiopatológicos: - formação de um trombo de fibrina, inicialmente asséptico, que tem função de reparar o endotélio; - a eventual colonização desse trombo durante um episódio de bacteremia por microorganismos patológicos; - o início de um processo infeccioso nesse local, criando condições para maior adesão plaquetária, mais deposição de fibrina, e eritrócitos e células inflamatórias com o crescimento da vegetação. Deve-se registrar que a ausência de vegetações detectáveis não afasta o diagnóstico de endocardite infecciosa. A lesão endotelial inicial geralmente ocorre devido a jatos anormais de sangue que se formam quando este passa das câmaras de alta pressão para as câmaras de menor pressão, produzindo um afeito jato que exerce ação abrasiva sobre a superfície endotelial provocando desgaste, como por exemplo, em lesões valvares do tipo estenose e insuficiência. Os principais agentes envolvidos na patogenia da endocardite infecciosa são: Staphylococcus Aureus, bactérias do grupo HACECK (Haemophylus sp, Actinobacillus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella kingae, Chlamydia, Bartonella, Tropheryma whippelii e fungos, incluindo Cândida, Histoplasma, Aspergillus sp. e Torulopsis glabrata. 3.0 CLASSIFICAÇÃO E PATOGÊNESE A classificação da endocardite infecciosa procura avaliar a doença de modo mais amplo, considerando-se a atividade da doença e sua recorrência, o status do diagnóstico, a patogênese, a localização anatômica; os aspectos microbiológicos e o tipo de paciente envolvido. Em relação à atividade da doença, o conceito de endocardite ativa ou cicatrizada diz respeito especificamente aos pacientes submetidos à cirurgia. Considera-se ativa se hemoculturas positivas e febre estão presentes quando o paciente é operado. Atualmente, recomenda-se catalogar endocardite infecciosa como ativa se o diagnóstico for estabelecido dois meses ou menos antes da cirurgia. Endocardite infecciosa recorrente é aquela que se desenvolve após a erradicação de um episódio prévio de endocardite infecciosa, enquanto a persistente é aquela que nunca foi totalmente erradicada. Quanto ao status diagnóstico, a endocardite infecciosa tem seu diagnóstico como definitivo, se durante uma septicemia ou infecção sistêmica for possível comprovar envolvimento endocárdico por ecocardiograma. Se a hipótese clínica de endocardite infecciosa for muito forte e não houver possibilidade de se comprovar o envolvimento endocárdico, classifica-se a endocardite infecciosa como suspeita, mas se o Profa. Sandra Nísia 2 Cardiologia - Endocardite Infecciosa diagnóstico é apenas um dos diagnósticos diferenciais em um paciente febril, ou seja, se a suspeição é menos intensa, classifica-se como possível. Quanto à patogênese, classifica-se em endocardite infecciosa de valva nativa, em prótese valvar e em adido a drogas endovenosas (ADEV). Entre os portadores de próteses, diferenciam-se aqueles que se infectaram no perioperatório, e, portanto adquiriram agentes etiológicos hospitalares (endocardite infecciosa precoce em prótese), e aqueles que se infectaram tardiamente adquirindo agentes etiológicos comunitários (endocardite infecciosa tardia em prótese). Também deve ser relatado na classificação se a endocardite infecciosa afeta as estruturas do coração direito ou esquerdo, e se possível identificar especificamente a estrutura acometida (valva mitral, aórtica, tricúspide, ou comprometimento mural, etc). Os aspectos microbiológicos, resultados de culturas e de testes sorológicos, histológicos e métodos de biologia molecular devem ser relatados na classificação, caracterizando-os como positivos ou negativos e citando o agente etiológico responsável. Deve-se ainda referir o tipo de paciente envolvido, como por exemplo, adido à drogas EV, portador de cardiopatia congênita, neonato, idoso, criança, portador de infecção hospitalar, que compreende 5-29% de todos os casos de endocardite infecciosa e têm mortalidade de 40-56%. DIAGNÓSTICO O quadro clínico da endocardite infecciosa é bastante variável, expressando-se com sinais e sintomas de baixa especificidade, sendo influenciado pelas características do agente etiológico envolvido (virulência e capacidade destrutiva), e pela resposta do hospedeiro, bem como depende do local envolvido na infecção, além da eventual associação de manifestações embólicas e imunológicas. Os principais elementos que devem despertar o médico para a suspeita de endocardite infecciosa dividem-se em: Alto grau de suspeita clínica: nova lesão valvar ou novo sopro regurgitante; sepse e eventos embólicos de origem desconhecida; hematúria, glomerulnefrite e suspeita de infarto renal; febre associada a próteses intracardíacas, condições cardíacas predisponentes, novas arritmias ventriculares ou distúrbios de condução, primeira manifestação de ICC, manifestações cutâneas e oftalmológicas, velamentos pulmonares múltiplos, abcessos perinéfricos eprocedimentos intervencionistas diagnósticos e/ou terapêuticos que predisponham ou resultem em bacteremia significativa. Baixo grau de suspeita clínica: febre sem nenhuma das condições anteriores. Isoladamente nenhum sinal ou sintoma é capaz de permitir certeza no diagnóstico de endocardite infecciosa. A manifestação mais prevalente é a febre, que está presente na maioria dos casos. O padrão da febre varia desde casos com febre elevada associada a calafrios e intensa toxemia, Profa. Sandra Nísia 3 Cardiologia - Endocardite Infecciosa passando por quadros de febre baixa remitente, prolongando-se por meses, até a total ausência de hipertermia, principalmente em idosos e pacientes debilitados portadores de doenças crônicas associadas. O período de latência entre a bacteremia e o início dos sintomas na endocardite em valva nativa é de aproximadamente 2 semanas na grande maioria dos casos. Nas valvas protéticas infectadas em período peri / pós-operatório esse período pode ser maior que 2 meses. O sintoma mais comum é a febre (até 85%), podendo estar ausento nos idosos e nos pacientes crônicos, severamente debilitados. O sopro cardíaco está presente em 80~85% dos casos e é marca da lesão predisponente à endocardite. Endocardite tricúspide pode ocorrer sem presença de sopros. Na endocardite por S. aureus o sopro pode não ser audível inicialmente (incidência de até 45% apenas na 1º avaliação), surgindo apenas depois de algum tempo. O sopro novo ou com padrão alterado é infreqüente na endocardite subaguda, sendo mais prevalente na endocardite em próteses. Esplenomegalia ocorre em até 50% dos casos, preferencialmente na endocardite subaguda de longa duração. Os sinais periféricos clássicos hoje em dia são mais raros e estão ausentes na endocardite tricúspide: a) Petéquias - O mais comum desses sinais; ocorrem na conjuntiva, mucosa oral, palato e extremidades, mas não são específicos de endocardite. b) Hemorragias subungueais - ocorrem nos dedos das mãos e pés, manchas vermelho-escuras sobre as unhas; c) Nódulos de Osler - Nódulos subcutâneos pequenos, que se desenvolvem nas polpas digitais e partes proximais dos dedos. d) Lesões de Janeway - hemorragias maculares, nas palmas das mãos e pés, conseqüentes a fenômenos embólicos sépticos. e) Manchas de Roth - Hemorragias retinianas, ovais com parte central pálida. Apesar de sugestivos de endocardite nenhuma dessas lesões é patognomônica de endocardite. A embolia sistêmica é comum e freqüentemente subclínica, ocorrendo em 40% dos pacientes. Sua freqüência se reduz com a antibioticoterapia eficaz. Infarto esplênico embólico pode causar dor abdominal e dor em ombro esquerdo. Êmbolos renais podem ser assintomáticos ou cursar com dor nos flancos e hematúria e raramente levam a insuficiência renal. AVE embólico ocorre em até 20% dos casos de endocardite. Êmbolos coronários são achados comuns em autopsia mas dificilmente levam ao infarto agudo do miocárdio. Sintomas neurológicos ocorrem de 30 a 40 % dos pacientes, especialmente na endocardite por S.aureus e traduz um prognóstico ruim. O AVE embólico é a manifestação neurológica mais comum e a hemorragia cerebral ocorre em 5% dos pacientes. Insuficiência cardíaca é resultado normalmente da destruição do aparelho valvar. A sua presença possui uma relação muito alta com mortalidade. Profa. Sandra Nísia 4 Cardiologia - Endocardite Infecciosa Insuficiência renal por glomerulonefrite mediada por imunocomplexos ocorre em 15% dos casos. Diante da suspeita clínica devem ser realizados testes diagnósticos que visem comprovar o envolvimento do endocárdio pelos agentes infecciosos como: isolamento e identificação do agente etiológico através de hemoculturas; exame de tecidos excisados cirurgicamente ou mesmo por meio de testes sorológicos; ecocardiografia para identificar e acompanhar vegetações e diagnosticar complicações. O diagnóstico pode ser obtido considerando os critérios de Duke, que classificam os casos suspeitos de endocardite infecciosa como definidos, possíveis e rejeitados baseando-se em critérios patológicos comprovados e em critérios ecocardiográficos e clínicos distribuídos como: I. Critérios maiores: Hemocultura positiva – resultados persistentemente positivos em culturas colhidas com intervalos maiores de 12 horas ou a maioria de pelo menos 4 amostras de hemoculturas colhidas em uma hora; II. Evidências ecocardiográficas – imagem sugestiva de vegetação sem explicação alternativa ou presença de abscesso ou detecção de deiscência nova em prótese; III. Nova regurgitação valvar . Critérios menores: I. Condição cardíaca predisponente ou história de uso de drogas EV; II. Febre maior ou igual a 38 ºC; III. Fenômenos vasculares (incluindo embolia arterial, aneurismas micóticos, hemorragias conjuntivais, lesões de Janeway); IV. Fenômenos imunológicos (glomerulonefrite, nódulos de Osler, manchas de Roth, fator reumatóide); V. Evidências microbiológicas que não preencham os critérios maiores ou presença de evidências sorológicas de organismos causadores de endocardite infecciosa; VI. Ecocardiograma que mostre lesões sugestivas de vegetações que não preencham os requisitos como critérios maiores. Recentemente foi proposta a inclusão dos seguintes sinais clínicos nos critérios menores de Duke: aparecimento de nova esplenomegalia, elevação de marcadores inflamatórios, hematúria e presença de cateteres venosos centrais ou periféricos. Entre os critérios de Duke modificados, aceita-se o diagnóstico da endocardite infecciosa como definido com base apenas na positividade de 1 critério maior e 1 critério menor ou na positividade de 3 critérios menores. Uma vez diante da suspeita clínica de endocardite infecciosa, após minucioso exame clínico com ausculta cardíaca cuidadosa, inspeção cutânea, mucosa detalhada e palpação abdominal atentando Profa. Sandra Nísia 5 Cardiologia - Endocardite Infecciosa para avaliação detalhada do baço e do fígado, inicia-se a coleta de exames visando confirmar ou afastar essa hipótese diagnóstica. Devem ser solicitados: Hemograma com leucograma, análise de urina e provas de atividade inflamatória (PCR, VHS). Caso o quadro clínico sugira alterações pulmonares ou mesmo disfunção cardíaca, deve-se solicitar exame radiológico do tórax. A solicitação de hemocultura é sempre obrigatória e idealmente devem ser colhidas ao menos três amostras. Também são de utilidade para o diagnóstico da endocardite infecciosa o ecocardiograma transtorácico (ETT) e o ecocardiograma transesofágico (ETE). O ETT identifica vegetações em cerca de 50% ou 70% dos casos com suspeita clínica de endocardite infecciosa. Os fatores que influenciam a detecção das vegetações são: a qualidade das imagens obtidas no exame, o tamanho, a ecogenicidade e a localização das vegetações, a presença de lesões valvares preexistentes reumáticas ou degenerativas, material protéico implantado e, principalmente, a experiência do ecocardiografista. Nos portadores de próteses valvares, o ETE é obrigatório. A sensibilidade do ETE varia entre 88100% e a especificidade, entre 91-100%. O ETE negativo tem importante impacto clínico no diagnóstico, com um valor preditivo negativo de 68-97%. A abordagem transesofágica apresenta acurácia superior no detalhamento das lesões valvares que resultam em jatos regurgitantes, permitindo estudar quais fenômenos levam à disfunção valvar. Também as lesões perivalvares, tais como abscessos e fístulas, são mais bem avaliadas pelo ETE. Dessa forma, toda abordagem pré-cirúrgica em processos de endocardite infecciosa ativa deve ser precedida por u... 4.0 TRATAMENTO O tratamento da endocardite infecciosa visa a erradicação da infecção e ao controle das complicações detectadas, devendo ser norteado pelas características microbiológicas do agente infeccioso isolado, pelo antibiograma e pelas condições clínicas do caso em questão. O sucesso do tratamento depende do estabelecimento, o mais precocemente possível, de um diagnóstico clínico preciso da administração imediata dos antibióticos adequados e do uso criterioso da abordagem cirúrgica, que, quando indicada, não deve ser protelada (vide abordagem cirúrgica no tratamento a seguir). TRATAMENTO CLÍNICO Antibioticoterapia para Streptococos viridans / bovis Esquema 1 - Penicilina G 12 a 20 milhões U / 24 horas em 6 doses 4/4 horas por 4 semanas Esquema 2 - Ceftriaxona 2 g/dia dose única diária 4 semanas Profa. Sandra Nísia 6 Cardiologia - Endocardite Infecciosa Esquema 3 - Penicilina G - dose igual ao esquema 1 + Gentamicina 1mg/Kg 8/8h por 2 semanas. Este esquema de curta duração é exclusivo para doença de prognóstico favorável, em valva nativa, sem sinal de complicação ou de resistência ao antibiótico. Esquema 4 - Vancomicina 30mg/Kg nas 24 h. divididas em 2 doses, não excedendo 2g/dia, salvo monitorização de níveis séricos - por 4 semanas. Este esquema é alternativo para os pacientes alérgicos a penicilinas e cefalosporinas. Esquema para germes relativamente resistentes a penicilina - CIM > 0,1 e < 0,5µg/ml - Penicilina cristalina 18.000.000 U/dia por 4 semanas + gentamicina na dose já descrita nas primeiras 2 semanas. Antibioticoterapia para estafilococos em valvas nativas Oxacilina ou Naficilina 2g EV 4/4 h. por 4 a 6 semanas + Gentamicina 1mg/Kg EV 8/8 h. por 3 a 5 dias apenas, para acelerar o processo de esterilização. Períodos maiores não são úteis e levam a nefrotoxicidade. Alternativa: Cefazolina (ou outra Cefalosporina de 1º geração em dose equivalente) 2g EV 8/8 h. por 4 a 6 semanas + gentamicina conforme o esquema já descrito. 3º alternativa ou nos casos de Estafilococos resistentes a meticilina: Vancomicina 30mg/kg nas 24 horas divididas em 2 doses, não excedendo 2g/24h, por 4 a 6 semanas, nesse caso droga única. Antibioticoterapia para estafilococos em valvas protéticas Deve ser tratada com combinação antibiótica. A rifampicina tem uma excelente ação antiestafilocócica nesses casos, no entanto seu uso isolado leva a rápida resistência. Nos germes sensíveis a meticilina o esquema é de Oxacilina 2g EV 4/4 H + Rifampicina 300mg VO 8/8H + Gentamicina 1 mg/Kg IM ou EV 8/8H - por 6 semanas, sendo a gentamicina suspensa após a 2º semana. Nos germes resistentes a meticilina, a Oxacilina deve ser substituída por Vancomicina 30mg/Kg ao dia divididos em 2 doses, não excedendo 2g/24H, a não ser que haja monitorização de níveis séricos da droga. Mantem-se a Rifampicina e Gentamicina conforme descrito acima. O autor da referência sugere que a Rifampicina seja iniciada após as primeiras doses da Gentamicina e Oxacilina ou Vancomicina, para evitar o aparecimento de resistência a Rifampicina. Antibioticoterapia para enterococos Penicilina Cristalina 18 a 30 x 106 U/ 24h EV em infusão continua ou de 4/4 horas + Gentamicina 1mg/Kg 8/8h por 4 a 6 semanas. Profa. Sandra Nísia 7 Cardiologia - Endocardite Infecciosa Alternativa: Ampicilina 12g/24h divididas em 6 doses de 4 /4h + Gentamicina na mesma dose. Nos casos de alergia a penicilina a cefalosporina não é substituto eficaz. Deve ser feito então Vancomicina 30mg/kg a cada 24h, divididas em duas doses com dose máxima de 2 g/dia + Gentamicina na mesma dose descrita por 4 a 6 semanas. Gentamicina pode ser substituída por Etreptomicina 9,5mg/kg IM ou IV 12/12h caso o organismo seja sensível. Fungos Anfotericina em doses máximas, seguida de tratamento cirúrgico. Endocardite de etiologia desconhecida - cultura negativa A não ser que os dados clínicos e epidemiológicos sugiram uma etiologia específica o tratamento empírico recomendado para endocardites em valvas nativas é Ampicilina + Gentamicina, conforme o regime standart para enterococos. Se a valva for protética esse esquema é feito com o acréscimo de vancomicina. ABORDAGEM CIRÚRGICA A indicação e precoce de cirurgia no tratamento da endocardite infecciosa, principalmente na fase aguda ou ativa, representa um dos principais avanços, com impacto de redução da mortalidade global. O tratamento cirúrgico na fase ativa da endocardite infecciosa deve ser considerado nas seguintes situações: insuficiência cardíaca grave refratária ao tratamento clínico, habitualmente dependente de disfunção valvar causada ou agravada pela infecção e incluindo a formação de fístula intracardíaca; falha do controle da infecção com o uso adequado de antibióticos, incluindo a presença de abscesso perivalvar; etiologia fúngica; mais de um episódio de embolia séptica sistêmica; insuficiência renal associada à glomerulonefrite. A cirurgia torna-se obrigatória em pelo menos 30% dos casos de endocardite infecciosa ativa e em torno de 20-40% dos casos de endocardite infecciosa após tratamento clínico e cicatrização do processo infeccioso. Na fase aguda, os objetivos da cirurgia são: ajudar a debelar o foco infeccioso com debridamento todo o tecido infectado e os tecidos necrosados; reconstrução das estruturas cardíacas morfofuncionais lesadas; substituição às valvas nativas por próteses. Superada a fase aguda, geralmente com a endocardite infecciosa sob controle com vegetações e lesões já cicatrizadas, a cirurgia visa apenas reparar as estruturas lesadas ou substituí-las por próteses. Profa. Sandra Nísia 8 Cardiologia - Endocardite Infecciosa A indicação cirúrgica, embora mais agressiva, deve basear-se solidamente em avaliação clínica cuidadosa, nos testes microbiológicos e nas informações anatômicas e funcionais obtidas nos estudos Doppler ecocardiográficos, principalmente por meio da abordagem transesofágica. 5.0 PROFILAXIA A profilaxia para a EI vem sendo revista ultimamente nos últimos anos, porém é necessário uma consideração nos embasamentos anteriores, dependendo de cada situação de evolução do paciente, e principalmente das seguintes classificações da EI: Classificação do Risco Clássica do Paciente Risco Relativo das lesões cardiacas pré-existentes Apesar da antibioticoprofilaxia ainda não estar sustentada por evidências sólidas, ela é aceita consensualmente como forma de prevenção da endocardite infecciosa. A aplicação de medidas de profilaxia da endocardite infecciosa é recomendada fundamentalmente para os portadores de valvopatia adquirida, prótese valvar e cardiopatia congênita. Ela deve ser considerada em qualquer situação passível de acarretar bacteriemia transitória ou contaminação direta de estrutura endocárdica. Classificam-se os fatores predisponentes para endocardite infecciosa em faixas de risco alto, médio e baixo, muito baixo e risco intermediário, recomendando-se sempre a profilaxia para endocardite infecciosa para as situações de alto e médio riscos: Risco Relativo das lesões cardíacas pré-existentes Baixo risco · Comunicação interatrial tipo ostium secundum; · Cirurgia de revascularização miocárdica; · Instalação de stents; · Infarto do miocárdio sem lesão valvar associada; · Após 6 meses da cirurgia de fechamento de PCA e CIV; · Comunicação interventricular; · Portadores de sopros com ecocardiograma normal; · Prolapso mitral sem degeneração valvar nem regurgitação mitral relevante; · Portadores de marcapassos e desfibriladores automáticos implantáveis. Risco médio: · São condições em que a profilaxia está indicada. Profa. Sandra Nísia 9 Cardiologia - Endocardite Infecciosa · Prolapso mitral com degeneração valvar e regurgitação relevante; · Valvopatias adquiridas; · Cardiopatias congênitas acianóticas, exceto CIA do tipo ostium secundum; · Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva. Risco Alto: Condições em que existe alto risco de endocardite. Apenas os pacientes marcados com "*" possuem risco mais elevado e são contemplados pelo atual guideline. Os demais não teriam indicação de receber profilaxia pela nova orientação. * Valvas protéticas * Endocardite bacteriana prévia * Doença congenita cianótica * Shunts Sistêmico-pulmonares construídos cirurgicamente (Ex: Blalock) · Ducto arterioso patente · Regurgitação Aórtica · Estenose Aórtica · Regurgitação Mitral · Dupla lesão mitral · Comunicações interventriculares · Coarctação da aorta · Lesões intracardíacas reparadas cirurgicamente, que tenham anormalidade hemodinâmica residual · Portadores de próteses valvares; · História prévia de endocardite infecciosa; · Cardiopatias congênitas complexas cianóticas; Portadores de shunts cirúrgicos sistêmico-pulmonares. Pacientes portadores de fatores predisponentes deverão receber profilaxia quando expostos a situações que provoquem bacteremia, ou a procedimentos diagnósticos intervencionistas ou terapêuticos específicos obedecendo aos seguintes esquemas: Procedimentos odontológicos, respiratórios e do trato digestivo alto: não alérgicos à penicilina: profilaxia oral com amoxicilina 2g, 1 hora antes do procedimento (crianças, 50 mg/kg); não alérgicos à penicilina impossibilitados de tomar medicação VO: amoxicilina ou ampicilina 2g EV 30 minutos a 1 hora antes do procedimento; alérgicos a penicilina: profilaxia oral com clindamicina 600mg (crianças, 20mg/kg), ou azitromicina/claritromicina 500 mg (crianças, 15 mg/kg) 1 hora antes do procedimento. Profa. Sandra Nísia 10 Cardiologia - Endocardite Infecciosa Procedimentos genito-urinários e do trato gastrintestinal: · não alérgicos à penicilina/grupo de alto risco: ampicilina ou amoxicilina 2g EV + gentamicina 1,5 mg/kg IM ou EV 30 minutos ou 1 hora antes do procedimento; ampicilina ou amoxicilina 1 g VO, 6 horas depois; · não alérgicos à penicilina/grupo de alto risco: ampicilina ou amoxicilina 2g EV + gentamicina 1,5 mg/kg IM ou EV 30 minutos ou 1 hora antes do procedimento; ou amoxicilina 2 g VO, 1 hora antes do procedimento; · alérgicos à penicilina/grupo de alto risco: vancomicina 1g (crianças, 20mg/kg), 1 a 2 horas antes do procedimento + gentamicina 1,5mg/kg EV ou IM; Grupo de risco moderado: vancomicina 1g (crianças, 20mg/kg), 1 a 2 horas antes do procedimento, sem gentamicina. Risco Muito baixo: São condições em que a profilaxia da endocardite não é necessária e não é recomendável desde o guideline 1997. · Prolapso da valva Mitral, sem regurgitação · Regurgitação valvar mínima (ex: escape mitral) sem anormalidade estrutural visivel ao ECO · Defeitos do septo atrial isolados (fossa oval) · Doença coronariana · Placas ateroscleróticas · Marca passos e desfibriladores automáticos implantados · Cirurgia de revascularização miocardica prévia · Correção cirúrgica com mais de 6 meses de lesão intra cardiaca, com mínima ou nenhuma alteração hemodinâmica residual. · Passado de D. Kawasaki ou D. Reumática sem comprometimento valvar. Risco intermediário São condições em que a profilaxia estava indicada no guideline 1997 e que deixaram de ter esta recomendação pelo guideline 2007. · Prolapso da valva Mitral, com regurgitação · Estenose mitral pura · Doença valvar tricuspide · Estenose pulmonar Profa. Sandra Nísia 11 Cardiologia - Endocardite Infecciosa · Hipertrofia Septal assimétrica · Aorta bicúspide ou esclerose com calcificação Ao, com anormalidades hemodinâmicas mínimas · Doença valvar degenerativa do idoso · Lesão intracardíaca com reparo cirúrgico há menos de 6 meses, mesmo sem alterações hemodinâmicas residuais. Regimes antibióticos para profilaxia da endocardite bacteriana I - Regime "standart"de profilaxia Indicado para todos os casos de profilaxia que envolvam procedimentos dentários, orais e trato respiratório superior. Pacientes de alto risco podem usar esse esquema, mas casos selecionados de risco maior devem usar esquema mais vigoroso. Casos de pacientes de baixo risco em procedimentos tambem de baixo risco do trato gastrointestinal ou genitourinário podem usar esse esquema desde que selecionados devidamente. Amoxacilina, 2,0 g VO (adultos) 50mg/Kg (crianças) em dose única. Droga alternativa no caso de hipersensibilidade Cefalexina, 2,0 g VO (adultos) 50mg/Kg (crianças) em dose única. Clindamicina 600mg VO (adultos) 20mg/Kg (crianças) em dose única Azitromicina ou Claritromicina 500mg VO (adultos) 15mg/Kg (crianças) em dose única 1 hora antes do procedimento. Em qualquer caso, independente da escolha do antibiótico a administração da dose deve ser feita a partir de 2 horas antes do procedimento, sendo ideal entre 30 minutos e 1 hora de antecedência. A dose profilática pode ser administrada até 2 horas após o procedimento, mas apenas no caso em que o paciente inadvertidamente não fez uso da medicação. II - Regime de profilaxia "standart" parenteral Indicado quando a via oral não é disponível, pela impossibilidade do paciente ingerir, seja qual for o motivo. O horário ideal de administração é o mesmo do caso anterior, de 30 min. a 1 hora antes do procedimento. Ampicilina, 2g EV ou IM Droga alternativa no caso de hipersensibilidade Clindamicina 600mg EV 30 minutos a 1 hora antes do procedimento Cefazolina ou Ceftriaxone 1g IM ou IV. Profa. Sandra Nísia 12