Teatro Romano: origens Na mesma época em que Aristóteles falava sobre a tragédia grega, Roma começava a ver os primeiros jogos cênicos. É claro que tanto nas características dramáticas quanto nas arquitetônicas o teatro romano é herdeiro do grego. O teatro latino originou-se dos ritos religiosos, de vários elementos autóctones, de imitações do teatro helênico, festas urbanas, jogos seculares, matronais. Dizem que nas matronais, uma vez por ano, toda mãe surrava uma escrava como represália pelos malfeitos do ano todo. Esses e outros elementos deram a Roma o início das tentativas dramáticas que, como veremos, não pararam por aí. Dessas festas surgiu um gênero muito popular em Roma, a sátira, que na sua origem nada mais quer dizer do que “uma improvisação livre que se joga contra um vizinho”. Era realizada após a colheita do trigo, transformando em versos dialogados os sarcasmos rústicos. Os camponeses improvisavam uma briga, bombardeando-se com frases. A música por sua vez permitiu que o elemento teatral se separasse do ensaio, trazendo tocadores de flauta que davam uma nuance às frases instintivas presentes nos versos. A partir disso começaram a ser traduzidas as peças gregas. Com isso, as peças satíricas perderam forças. Então num outro caminho, as invenções satíricas misturaramse aos Oscos de Atella. Atella era uma pequena cidade de Cápus, onde eram representadas as peças. As fábulas atelanas, também chamadas de oscos, eram representadas em excelente latim, sendo comédias de caráter, com tipos invariáveis personificados por máscaras, dentre eles o Bucco, o parasita, Maccus, entre outros. Aos poucos as peças passaram do improviso para a escrita, trazendo principalmente acontecimentos do dia-a-dia e intrigas políticas. As atelanas permaneceram por muito tempo, até refugiarem-se na província, representadas ao ar livre, sendo mais tarde suplantadas pelos mimos. O mimo utilizava-se da máscara, representando com o corpo, fazendo vários papéis, exprimindo idades, caracteres e personagens diferentes. O primeiro introdutor do teatro grego em Roma foi Livius Andronicus. Destacamos depois dele Plauto, Nevius e Terêncio. Livius Andronicus era um escravo que havia sido aprisionado pelas Legiões Romanas que tinham invadido a Grécia. Escreveu comédias e também tragédias, embora somente três títulos chegaram até nós: O Punhal, O Histrião e A Virgem. Diz se que foi Livius quem inventou a mímica como forma de espetáculo. Tendo uma dor de 1 garganta na véspera do espetáculo, pediu que um ator falasse o texto enquanto ele fazia a mímica. Nevius trabalhava em seus textos episódios curiosos de uma comédia que se transformava em outra. Plauto é o autor de quem mais se conhece a obra e menos a vida. Tudo é muito incerto com respeito à vida dele. Entre suas peças estão: Nome de homem, A comédia dos asnos, A marmita, Os cativos, Nome de mulher, A cesta, O soldado fanfarrão, Anfitrião, entre outras. Segundo alguns historiadores, Plauto declarava que se limitava apenas a traduzir os gregos. De qualquer modo, o que ele permitia e fazia era atingir o público. Escreveu comédias de costumes, de intrigas, dramas burgueses e peças lacrimejantes. Seus personagens são escravos velhacos, cortesãs, alcoviteiras, parasitas, soldados fanfarrões e apaixonados. Terêncio nasceu em 184 e morreu em 159 a.C. Como a de Plauto, sua vida também é bastante ignorada. Sabe-se que ele aristocratizou o teatro, provocando a ternura. Dele só restam umas poucas comédias, e todas elas imitadas dos gregos: A andriana; A hecyra; O Eunuco; O formion e Os Adelfos. Ele se contentava com a trama sentimental, onde deixava correr a emoção e a melancolia. Dizia ele “porque estes personagens enternecidos pela intriga sentimental têm uma virtude que os salva, que os guarda do bolor das comédias lacrimejantes: são verdadeiros”. Podemos citar como os primeiros trágicos romanos Ennius e Pacuvius, Atius e Sêneca, sabendo que é pelas obras desse último que se julga a tragédia latina. O coro tão importante na tragédia grega perde a importância na latina, embora continuasse subsistindo. Na época houve uma grande mobilização de tragédias escritas para leitura pública, deixando os textos de Sêneca sem representação. Tais leituras ganharam espaço principalmente entre os literatos, que faziam leituras para ouvintes seletos. Os teatros e casas de espetáculos As casas de espetáculos romanas estavam por toda parte além da Itália: Gália, Ibéria, África do Norte, Danúbio, etc. Como na Grécia, os teatros eram construídos aos pés de uma colina. Num primeiro momento o público ficava em pé, passando com o tempo a sentar-se nos degraus desmontáveis. Os cenários foram rudimentares por muito tempo, até ultrapassarem os modelos gregos pela riqueza e complicação. 2 Existiam dois panos: o grande (áulea) e o pequeno (siparium). O primeiro subia no começo do espetáculo, descendo no fim, enquanto o segundo era puxado para os lados, e diante dele, representavam os interlúdios e divertimento final. Os odeons eram teatros cobertos próprios para audições musicais. Quando tinham seu espaço muito reduzido também davam lugar para leituras públicas. A presidência dos jogos cênicos era uma função das mais onerosas. Era necessário não somente comprar a peça, mas também pagar os atores, fornecer os cenários e os figurinos, custear os prêmios. Além disso, antes da construção do teatro de pedra, faziam um edifício de madeira. Segundo Hermilo Borba, “quem queria se dirigia a um chefe de companhia, que também trabalhava como o ator principal e combinava o preço com ele. As apresentações eram pela manhã, e os arautos anunciavam-na durante os dias que precediam o espetáculo. Antes de cada apresentação o prólogo anunciava o título da peça e o nome dos autores. Mulheres, crianças e escravos assistiam as representações, mas não os estrangeiros. As pessoas de qualidade e os padres tinham lugares reservados. Os prêmios eram atribuídos por um doador e o público se manifestava como sempre: palmas, assobios, gritos, lançamentos de projéteis” (1969, p. 23). Figurinos e máscaras Tanto a tragédia como a comédia eram representadas segundo o figurino do teatro grego. Era usado sapato alto, como coturnos nas tragédias. Os velhos da comédia usavam um hábito branco, os jovens um colorido; os escravos usavam uma espécie de tanga; os parasitas um tecido enrolado; os personagens felizes usavam branco; os infelizes, farrapos; os ricos, a cor púrpura; os pobres, o vermelho comum; os soldados, a clâmide púrpura; as moças vestiam-se à moda estrangeira; as prostitutas tinham um tecido mosqueado; a cortesã vestia-se de amarelo. A máscara foi usada muito tarde por que era privilégio dos jovens romanos que representavam as atelanas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Nélson de. História do Teatro. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1991. BORBA, Hermilo. História do Espetáculo. Rio de Janeiro: Edições Cruzeiro, 1969. 3