Uma breve excursão pela história da educação Que tal um breve passeio para conhecermos um pouco das práticas educacionais ao longo da história do Homem? Como? Bem, digamos que eu tomei emprestado aquela máquina do tempo de um colega... o H.G. Wells... conhece? Pois é... convido você a entrar comigo nessa máquina que nos levará por esse breve passeio pelo passado... Pronto? Ok. Então vamos lá! Zapt! Estamos em algum momento da pré-história, observando uma comunidade primitiva. Vemos adultos conversando com uma criança enquanto preparam o alimento. Aqui, nos interessa observar os atores no processo de ensino-aprendizagem. Vemos que a aprendizagem ocorre de uma forma difusa, espontânea e integrada às atividades do dia-a-dia. É bem verdade que determinados rituais e determinadas atividades – como a caça, a pesca, a coleta etc. – são mais propícios à transmissão de certos conhecimentos, mas, em geral, não há uma rotina, um local ou um grupo organizado responsável por todo o aprendizado do clã. Os chefes, os guerreiros, os curandeiros, as mulheres e os mais idosos representam a memória da comunidade. A transmissão dos conhecimentos é basicamente oral e o aprendizado é in loco e vivencial, isto é, se aprende fazendo. Zapt! (desculpe o avanço de supetão... é que temos um longo caminho pela frente...) Passamos agora rapidamente pelas primeiras grandes civilizações da humanidade no Egito, no Oriente Médio, na Índia e na China (5.000 a.C. a 1.000 a.C.), onde observamos que, com o advento da escrita, o saber passa a ser registrado externamente – na pedra, na madeira, no tecido, no papiro e, posteriormente, no papel – e guardado – nos templos, nos palácios, nas bibliotecas. Seu acesso é, muitas vezes, restrito aos sacerdotes, aos sábios e às classes dominantes. Essas novas memórias coletivas trazem certa estabilidade na transmissão dos saberes. Avançando no tempo, chegamos na Antigüidade e nos deparamos com uma aprendizagem – das elites – mais disciplinada, tendo hora e local certos para ocorrer. Na China de Confúcio (551-479 a.C.), assim como para os Hindus e os Hebreus dessa época, o ensino é rígido e dogmático. O professor é a autoridade, o aluno, obediente e subserviente, e a base do processo educativo é a repetição de memorização das escrituras. Na Grécia de Sócrates e de Platão (século V a.C.), vemos significativas mudanças na relação professor-aluno, bem como na relação destes com saber. Permanece a hierarquia mestre-discípulo, mas a base do processo educativo é dialógica e argumentativa. O saber é visto como libertador e alimenta-se a idéia de uma educação que integra corpo, mente e espírito, por meio do ensino da ginástica, da filosofia, da moral, da política e das artes. Mesmo com a proliferação das escrituras em papiro, a transmissão de conhecimentos ainda permanece basicamente oral, mediada pelo mestre – professor – e limitada a certos espaços – templos, bibliotecas, academias etc. 1 Zapt! Tivemos que passar batidos pela Idade Média... – dado o pouco tempo que temos, muita coisa terá de ser deixada de lado. Estamos agora em plena Era Renascentista. Chegamos aqui para testemunhar um acontecimento importantíssimo! Essa tecnologia revolucionária chamada livro, que Guttenberg acaba de criar, viabilizará a difusão do saber por sua facilidade de reprodução, comercialização e transporte. O conhecimento, cada vez mais portátil, possibilitará uma aprendizagem que não precisa ser mediada pelo professor, nem ficar restrita a um número reduzido de ilhas de saber – monastérios medievais, bibliotecas e universidades. A tecnologia do livro torna possível a educação de massas tão almejada pelos ideais iluministas que já vão despontando no horizonte. Sim, este é um momento importante em que vemos Comênio (1592-1670) defendendo uma educação não religiosa, Rousseau (1712-1778) propondo uma educação mais livre das amarras sociais, e os idealistas da Revolução Francesa pregando uma escola pública, laica e gratuita. Mas, a concretização desses ideais só virá com a Revolução Francesa e com o advento da sociedade industrial, a partir do século XVIII. E chega a revolução industrial... Como se estruturará essa escola, aqui entendida em um sentido amplo, incluindo a universidade, moldada por essa sociedade emergente? Avancemos em nossa máquina do tempo para os séculos XIX e XX para responder a essa questão... Zapt! Vemos que essa escola cresce e se estrutura dentro de um paradigma positivista e de uma concepção burguesa e laica de Educação. Uma escola que, paulatinamente, irá privilegiar o saber científico em detrimento dos outros saberes – a filosofia e as artes, por exemplo –, e que, em última instância, passará a formar o indivíduo para o trabalho. A Educação também não escapará ao modelo taylorista-fordista de produção. Tal qual a linha de montagem, os alunos são organizados em lotes bem definidos – turmas, salas de aula, carteiras, filas – e vão percorrendo várias séries e disciplinas, onde professores lhes transmitem – depositam diria o educador Paulo Freire...– saberes acabados. Há todo um aparato burocrático, formado por administradores, supervisores e inspetores, que organiza e controla as atividades dos alunos. Temos aqui o retrato típico da sala de aula tradicional da escola moderna. Não são poucas as críticas feitas a esse modelo, e surgirão inúmeras propostas bastante interessantes de uma Educação – presencial – mais libertária, vivencial, participativa e centrada no aluno. Mas, mesmo com toda a eficácia comprovada dessas abordagens, o modelo tradicional segue presente até os dias de hoje. Sim, já retornamos ao nosso tempo! Contudo, as forças que vêm configurando um novo modelo de sociedade – a chamada sociedade pós-industrial ou sociedade da informação (as denominações são diversas) – , no campo ideológico, político-econômico, sociocultural, técnico-científico e ambiental, têm evidenciado a obsolescência desse modelo tradicional de Educação. Hoje, a convergência das tecnologias de informação e de comunicação (TIC) têm possibilitado a descentralização geográfica e a dessincronização dos processos de ensino-aprendizagem e do trabalho colaborativo, dando prosseguimento ao que a 2 tecnologia do papel e do livro tornaram possível de forma mais limitada. Essas novas tecnologias possibilitam também a descentralização do conteúdo, que agora pode dispor dessa imensa memória coletiva que é a Internet. A aprendizagem on-line, dentro de uma perspectiva de educação centrada no aluno, pode liberar o professor do papel de (re)transmissor de conteúdos, assim como permitir dividir com os alunos a organização, o controle e a avaliação do seu processo de aprendizagem. Mas essas possibilidades só poderão ser plenamente realizadas caso haja mudanças da mentalidade de professores e estudantes que lhes permitam assumir novos papéis... Referências... 1. DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Brasília: UnB, 1999. 2. FRANCO, Bernardo de B.; MONTEIRO, Mariana R.; LADEIRA, André. Papel do facilitador na instrução baseada na web. Disponível em: http://anauel.cead.puc-rio.br/aulanet2/. Acesso em: 15 mar. 2002, 12:52:23. 3. GADOTTI, Moacir. História da idéias pedagógicas. São Paulo: Áica, 1988. 4. LUCENA, Carlos J.P. IBW e a sala de aula tradicional. Disponível em: http://anauel.cead.puc-rio.br/aulanet2/. Acesso em 15 mar. 2002, 13:46:33. Fonte TRACTEMBERG, Leonel. Uma breve excursão pela história da educação. [S.l.: s.n.], [200-]. 3