Decifrando as cores Imagine sua surpresa se você acordasse, um dia, e percebesse que não distinguia mais as cores, apenas alguns matizes borrados de cinza. As rosas não eram mais vermelhas, as violetas não eram mais azuis e até a tonalidade dos tomates tinha sido retirada. O arcoíris fora destituído de sua glória e a noite seguia-se ao dia não com a explosão de um crepúsculo, mas sim com um gemido de cinza. Neste capitulo será estudado a forma como distinguimos as cores e de que maneira nosso cérebro reage ao fato de não ser mais possível visualizar diferentes cores. Será que nosso cérebro é capaz de “imaginar” o objeto colorido novamente? Alguns desenhos interessantes e simples são capazes de simular a construção das cores em nosso cérebro. Analisemos um dos desenhos que mais ilustra esta análise, a minhoca néon: À esquerda, há uma seqüência de linhas curtas azuis. À direita, está a mesma seqüência acrescida de linhas pretas. Observe atentamente que a direita nós construímos algo mais: uma minhoca azul brilhante com limites subjetivos claros. Não apenas as linhas são azuis, mas também o espaço entre elas. É quase como olhar um letreiro em luz neon. Quando continuamos olhando essa figura, o efeito é mais espantoso: vemos as linhas todas pretas, embaixo de uma película azul transparente. Se medirmos a cor entre as linhas com um fotômetro, não encontraremos azul algum. A cor que vemos entre as linhas é construção nossa. Um fotômetro simplesmente não consegue criar o que nós conseguimos. Vamos começar nossa análise visual pelos triângulos subjetivos Em cada figura vemos um triângulo branco que fica por cima de discos e linhas. Cada triângulo tem um limite nítido e é mais brilhante do que o branco do fundo. Mas esses triângulos, que são evidentes para nós, são invisíveis para objetos capazes de medir a intensidade da luz, como fotômetros ou para um scanner de imagem. Com essas informações chegamos a seguinte conclusão: Nós construímos esses triângulos devido a nossa inteligência visual. Façamos um teste: Cubra os círculos negros e observe a figura novamente. Será que os triângulos brancos ainda estão presentes? Vejamos outro exemplo deste interessante fato: Na figura da esquerda estão algumas linhas vermelhas. À direita, estão as mesmas linhas, mas com linhas pretas acopladas. À direita, além das linhas vermelhas, conseguimos ver um disco vermelho com limite nítido. Por que será que vemos este disco vermelho se um fotômetro não é capaz de identificar tal coloração? A resposta vem com mais um exemplo. À esquerda está um conjunto de 47 quadrados, cada um com uma mistura diferente de tinta, dispostos de forma que você vê uma transição suave de cores. À direita, o mesmo numero de quadrados, com as mesmas tintas, estão embaralhados aleatoriamente. Observe que vemos cores diferentes à direita, comparadas às da esquerda. A figura da direita tem, por exemplo, alguns tons de marrons e cinzas que não aparecem na da esquerda. As diferenças são tão grandes, que é difícil encontrar quadrados correspondentes entre a esquerda e a direita. Foram marcados dois deles. Os dois quadrados assinalados com um 1 possuem tinta idêntica, da mesma forma que os dois marcados com 2. Observe como os quadrados correspondentes parecem diferentes, mesmo que suas tintas sejam idênticas. Por que isso ocorre? A cor que vemos em um ponto não depende, em geral, apenas da luz neste ponto. Em vez disso, quando construímos a cor nós usamos uma área mais ampla do nosso campo visual para determinar a cor em cada ponto.