A HIGIENE E EDUCAÇÃO SANITARIA NOS CONTEÚDOS DE CIÊNCIAS: COMO TEMPO E LUGAR DA EDUCAÇÃO DO CORPO NO CURRICULO MUNICIPAL DE CASCAVEL José Carlos dos Santos1 Marcia Regina Ristow Introdução Esta proposta de pesquisa busca analisar a construção dos conteúdos de ciências e suas abordagens com os temas da educação sanitária e os preceitos de saúde e higiene do currículo para as séries iniciais do Ensino Fundamental do município de Cascavel, Paraná. O currículo como documento norteador do ensino e da aprendizagem deve estar em constante construção/reestruturação, para se adequar as novas metodologias, teorias e técnicas didáticas, mantendo-se como espaço de democratização do ensino. Justificase, portanto, as inúmeras pesquisas sobre esse assunto, revelando as falhas, fragilidades, limites e possibilidades dos currículos escolares em suas diversas instâncias. O presente trabalho busca analisar como está sendo pensada e trabalhada essas temáticas dentro desta proposta curricular evidenciando como ocorreu a construção do Currículo para Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel e sinalizando para outros trabalhos, um rico campo de pesquisas, uma vez que o currículo citado é novo, e está em vigor desde 2008. A metodologia de pesquisa utilizada será a análise documental e 1 Prof. Dr. José Carlos dos Santos Doutor em História Social pela Universidade Federal do Paraná UFPR, Atua nos curso de Pós Graduação Mestrado e Doutorado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE. [email protected] 2 pesquisa de campo. Estamos buscando com essa analise um documento denso que forneça uma ampla base teórica para o trabalho em sala de aula. A Educação Sanitária se realiza na Rede de Ensino Público pela modalidade Formal, através da atuação curricular como tema transversal, tendo como referência pedagógica os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB). E também recebe um espaço bastante significativo na grade curricular do ensino fundamental de nove anos no município de Cascavel Pr. Contudo se observa uma grande fragilidade relacionada em especifico ao item Educação e Saúde como podemos destacar no próprio texto do currículo: “o ensino de Ciências tem superficializado os conteúdos de saúde”. Muitas vezes, a forma como são trabalhados os conceitos científicos, não possibilita que se estabeleçam relações concretas entre o objeto de estudo e o sujeito, e deste com as do mundo orgânico e social. O educador deve sempre relacionar o conhecimento científico ao desenvolvimento da tecnologia, às mudanças da sociedade e aos fatores econômicos de cada época. O currículo escolar é um instrumento de grande importância, pois seus princípios ordenadores estão fortemente ancorados em problemáticas da sociedade contemporânea, como a construção da identidade, a análise das relações sociais geradas no e pelo trabalho e a valorização deste, a preservação do meio ambiente e da saúde, o conhecimento e o respeito à diversidade das expressões culturais e a condenação de quaisquer formas de discriminação observada por (BARRETO, 2000). Portanto o currículo escolar nas suas diversas esferas/níveis (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, etc.) deve ser um intenso foco de pesquisas, debates, construções e reestruturações, para que essa importância não se finde no decorrer das décadas. Segundo Xavier et al. (1997), os teóricos da linha educacional crítica concebem o currículo como um espaço político privilegiado nas lutas pela democratização da sociedade e sob esta abordagem, o trabalho proposto pela escola deve permitir ao aluno uma melhor compreensão de si, do outro, do mundo natural e social, da arte, da cultura, da tecnologia e dos sistemas de produção da sociedade contemporânea. Para tanto, a presente proposta justifica-se numa investigação de como o currículo de ciências, aborda as questões de educação sanitária e práticas profiláticas de saúde publica para as séries iniciais do ensino fundamental concebido na cidade de Cascavel no Paraná. Sabe-se que este foi um trabalho árduo encetado em 2004, como iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de Cascavel (SEMED) em conjunto com a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), mas que em 2006 o Município sentiu a necessidade de construir um currículo próprio, abandonando a parceria com a AMOP. Para a execução dessa proposta será realizada uma abordagem qualitativa de pesquisa, tendo como instrumento de coleta de dados a análise documental (Lüdke; e André,1986). A análise documental, segundo esses autores, pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um dado tema ou problema. Para Bardin (1977) a análise de documentos é um método de efetuar a exploração total dos dados e buscar representar o conteúdo do documento de maneira diferente da original, a fim de apresentar de outra forma a informação e facilitar ao observador a obtenção máxima de informações. O documento que será analisado é Currículo para Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel com ênfase no currículo de ciências, que aborda as questões de educação sanitária e práticas profiláticas de saúde publica para as séries iniciais do ensino fundamental (Cascavel, 2008). Sobre a origem dos currículos, (Barreto, 2000) afirma que coube no decorrer da história aos diferentes sistemas estaduais de ensino elaborar e implementar orientações curriculares às suas redes de escolas, a partir de diretrizes e normas gerais provenientes da instância federal. Estes guias ou propostas curriculares têm servido como referência às escolas estaduais, municipais e particulares de cada estado e embora sejam oficiais, essas orientações não implicam num caráter de obrigatoriedade restando à escola alguma margem de autonomia em adoção e interpretação. Barreto (2000), alega ainda que os municípios que mantêm escolas próprias, como é o caso do município de Cascavel Paraná, possa também, como entes federativos, oferecer orientações curriculares específicas à sua rede de ensino. Os municípios mais desenvolvidos e com recursos humanos mais qualificados têm também aprimorado a capacidade de sistematizar suas orientações sobre currículo. Uma possibilidade desta dessa capacidade de aprimoramento das orientações curriculares se da por meio de um estudo eficaz das relações dos conteúdos de ciências com as práticas da Educação Sanitária é primordial no âmbito da Escola. Há também, direcionamentos que partem da instrução escolar e de outras instituições educativas Secretarias da Saúde e Bem Estar, Meio Ambiente, de Defesa Sanitária - para as famílias e suas residências. A finalidade é a de congregar esforços para promover hábitos higiênicos necessários à manutenção da saúde e do bem estar. São justamente estes esforços que definem, a partir de leituras cientificas e praticas profissionais, o que se pode entender por hábito saudável, o comportamento ou cuidado com a higiene que se deve repetir periodicamente na vida de uma pessoa ou grupo. É importante destacar que historicamente Estado do Paraná sempre esteve na vanguarda das questões ligadas a saúde publica por meio da escolarização. Conforme Ristow, (2011). Foi o primeiro estado brasileiro ainda em 1921 a inaugurar o Serviço de Profilaxia e Inspeção Medica Escolar, com trabalhos específicos de acompanhamentos de alunos e elaboração de programas de ensino voltados para a saúde coletiva da população, alicerçadas nas práticas pedagógicas. Os Educadores bem como os médicos insistiam: “de nada valem a compulsão, as leis, as multas... inculquemos!”. Tratava-se de estabelecer uma sólida educação sanitária e, para isso, nada melhor do que iniciar pela educação escolar, desde a mais tenra idade. Conforme observamos em Sá (1925), nas primeiras décadas do século XX tornara-se ponto pacífico em pedagogia sanitária a eficácia do ensino quando ministrado às crianças e não os adultos. Segundo a discursividade médica, somente a difusão do ensino de higiene nas escolas primárias poderia “criar a desejada e indispensável consciência sanitária.” (Larbeck, 1934, p.5). Algumas campanhas e ações profiláticas do poder público teriam fracassado por não se ter levado em conta a imprescindível adesão da população. Por isso, o maior esforço sanitário deveria concentrar-se em resolver a grande questão educacional sob o ponto de vista médico higiênico. Além disso, ao contrário do conceito de saúde do homem comum, para os médicos a saúde só se construía mediante a educação. Nesse sentido, a higiene escolar, que tinha por fim manter e melhorar as condições de saúde das crianças nas escolas precisava tornar-se essencialmente educativo e integrar-se no próprio programa escolar e não apenas em atividades isoladas e informais. A escola primária era o lugar apropriado para que as crianças desenvolvessem regimes higiênicos de modo a garantirem a própria saúde. Para isso, os preceitos mais importantes de medicina preventiva e higiene deviam ser ensinados (Clark,1930). Identificamos diante destas analises com relação a temática a necessidade de repensar a metodologia os recursos didáticos para o ensino do Programa de Saúde e Saneamento Básico de maneira contextualizada globalística e critica, pois no formato em que se apresenta nos currículos atuais, pouco contribui para que o estudante adquira uma compressão diferente daquela encontrada fora do ambiente escolar. A escola contemporânea, criada aos moldes do higienismo do século XIX, não é indiferente á educação sanitária, pois é um local de mediação cultural cujo aprendizado deve traduzir a Ciência para o aluno e a comunidade permitindo que os mesmos possam fazer uma compressão melhor da realidade do seu cotidiano. A prevenção visa empregar medidas de profilaxia a fim de impedir que os indivíduos sadios venham a adquirir doenças. O controle visa baixar a incidência das doenças a níveis mínimos. A erradicação, depois de implantadas medidas de prevenção, consiste na não ocorrência da doença, mesmo em ausência de qualquer medida de controle. Isto significa a permanência da incidência zero ao fator da doença. O discurso contemporâneo envolve o educando e a educação formal como corresponsáveis na condução de um modelo civil protegido de perigos epidêmicos. Historicamente há evidencias que demonstra que a Escola tem papel primordial na difusão da Educação Sanitária e dos preceitos de higiene entre os alunos, as suas famílias. Isto, sem se limitar a fornecer somente informações, mas construindo uma verdadeira consciência da importância da saúde e do seu valor ético e social. Já foi validado por diversas experiências em inúmeras localidades do Brasil que o ensino de Ciências nas suas mais amplas configurações que são desenvolvidas na Escola é um adequado instrumento para se desenvolver um processo ativo e contínuo onde se deseja promover mudanças de conhecimento, atitudes e comportamento de dos alunos e suas famílias. Enquanto método, a presente proposta será direcionada a uma analise do Currículo de Cascavel em contra partida com as diretrizes curriculares nacionais procurando estabelecer avanços e retrocessos dentro deste recorte temático, visualizando e tendo por finalidade perceber como ocorre articulação entre ciência e controle do modo de vida do escolar e da família. Inferir sobre a presença de discurso ético, racial, e a função interventiva do educador para criar hábitos saudáveis no educando. A analise do discurso a partir de diversas vertentes teóricas foucaltianas e certonianas serão preconizados enquanto metodologia. Quanto ao material, os Currículos, planos de aula e livros didáticos bem como a produção historiográfica e os discursos intersticiais sobre o tema serão analisados, catalogados e fichados. Analisando como essas construções sociais e politicas interferem diretamente ou não na vida dos indivíduos. Prevenir, controlar e/ou erradicar enfermidades implica necessariamente em ações sanitárias que relevem da estrutura adequada dos serviços e de base técnica bem fundamentada. Entretanto, o sucesso das ações de políticas públicas em sanidade, seja ela humana ou animal, não pode prescindir do apoio popular para atingir seu êxito. Desse modo, é imperativo que a população se sinta identificada, comprometida, corresponsável e partícipe dos trabalhos desenvolvidos em sanidade, com apoio das instituições educacionais e sob a coordenação da esfera pública. O processo de sensibilização dos parceiros (especialmente dos alunos, professores e funcionários da Escola) será realizado com a função de despertar o interesse destes, visando fomentar as ações de mobilização que possam contribuir para a aceitação e envolvimento das ações propostas. Essa sensibilização se dará com a atuação direta das produções da proposta de pesquisa, bem como do trabalho, composto por professores e comunidade, auxiliados pelas interlocuções com as produções teóricas dos cursos de Pedagogia, Ciências Biológicas, Enfermagem, As atividades propostas visam deixar claro para todos que esse estudo visa fomentar e naturalizar o caráter transversal e interdisciplinar dos conteúdos de ciências dentro da proposta curricular do município de Cascavel Pr, conforme define os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o que faz necessário a utilização de mecanismos, métodos e técnicas que gerem a participação ativa dos atores envolvidos, valorizando a ação pedagógica e a abordagem de temas voltados para a realização de problemas vivenciados pela comunidade. professor Com esse entendimento, o poderá abordar de diferentes maneiras os problemas sanitários vividos pela comunidade local. É certo que o repasse deste conhecimento voltado para a saúde pública, bem como o acesso da população a informação, traz relevantes benefícios tais como o estímulo à organização e participação na busca das resoluções dos problemas vivenciados cotidianamente, além de claramente adicionar o componente da mudança de atitudes e comportamentos, de maneira pro-ativa em favor de melhorias nas condições de saúde, qualidade de vida e reflexos positivos no ambiente onde vivem e seu entorno.. Assim sendo, é fora de dúvida que a estratégia da prevenção tem forte conotação ética e que, como consequência, também é válido no que respeita à Educação Sanitária das coletividades, como complemento indispensável à prevenção das doenças. Esperamos oportunizar uma flexibilidade para novas propostas que vinham contribuir positivamente com a comunidade escolar. Efetivar ainda uma real e concreta mudança nos método de ensino dos conteúdos dos programas de Saúde, pois eles se apresentam na maioria das vezes ultrapassados, apenas livrescos, quadro e giz, não permitindo a aproximação de aluno com práticas sociais e efetivas, disponibilizando apenas o texto (OFICIAL) que simboliza autoridade que emana do conhecimento. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. 1977 BARRETO, E. S. de S. Tendências Recentes do Currículo do Ensino Fundamental no Brasil. In: Barreto, E. S. de S. (Org.) Os currículos do Ensino Fundamental para as Escolas Brasileiras. São Paulo: Fundação Carlos Chagas. 2008. Cascavel Parana. (2008). Secretaria Municipal de Educação. Currículo para Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel. Cascavel, PR: Ed. Progressiva. CHARTIER, Roger.. De leitura. São Paulo: Estação Liberdade.1996. CUNHA, A. M. O. Cicillini, G. A. Considerações sobre o ensino de Ciências para a escola fundamental. In: Veiga, I. P. 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