Os seis testes da economia em 2001 MARTIN WOLF DO FINANCIAL TIMES Para os puristas, este é o primeiro ano do terceiro milênio. Como seria de esperar em um ano assim, teremos um tempo de desafios para a economia mundial. O primeiro teste é para Alan Greenspan. As opiniões sobre o chairman do Federal Reserve Board (Fed, o banco central dos EUA) recaem em dois campos. A opinião majoritária é que a instituição que ele comanda domina a arte da sintonia fina macroeconômica. A minoritária é que ele ajudou a criar uma bolha econômica. Se o crescimento na demanda dos EUA cair suavemente para em torno de 3%, sem grandes declínios nas Bolsas e com depreciação modesta do dólar, o primeiro grupo terá razão. Se não, o segundo grupo estará certo. O segundo teste é o da "nova economia". Não muito tempo atrás, as pessoas acreditavam que o ciclo de negócios estava morto, que lucros eram irrelevantes para empresas de tecnologia e que os EUA estavam em meio a uma revolução tecnológica sem paralelos. O ano 2000 desmentiu as duas primeiras proposições. Mas até que ponto a terceira é plausível? Até mesmo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) aceita que o ritmo potencial de crescimento estável da economia norte-americana seja de 4%. Se a teoria for verdadeira, o crescimento da produtividade deve se manter até mesmo na desaceleração sentida durante este ano. O terceiro teste envolve o mercado de ações dos Estados Unidos. Aqueles que acreditam que o milagre norte-americano é apenas mais uma bolha econômica apontam para as avaliações extraordinárias das ações nas Bolsas. Eles insistem em que elas geraram níveis insustentavelmente altos de investimento por parte do setor privado e taxas insustentavelmente baixas de poupança para esse mesmo setor. Cotados em menos 11,6%, os retornos totais sobre as ações norte-americanas no ano passado (considerando reinvestimento de dividendos) foram os mais baixos desde 1974. No entanto, isso não passou de modesta compensação negativa pelos 270% de retorno cumulativo ao longo dos cinco anos anteriores. Se a bolha econômica for real, o retorno negativo do ano passado será seguido por mais alguns anos miseráveis. Se não for, os retornos em breve sairão do vermelho, ainda que de volta a níveis mais modestos do que os da segunda metade dos anos 90. O que acontecer em 2001 indicará para onde vamos. O quarto teste é para o euro. Lançado em meio a uma onda de otimismo, o euro passou a maior parte de seus dois primeiros anos afundando de maneira abjeta diante de uma moeda que seus fundadores pretendiam suplantar. Por fim, no final de 2000, o euro começou a mostrar algum vigor à medida que a economia norte-americana se debilitava. O ano de 2001 indicará se essa reviravolta será duradoura ou apenas uma pausa temporária. Se o primeiro caso se confirmar, os defensores do euro se sentirão muito aliviados. O Banco Central Europeu (BCE) desfrutaria também de maior liberdade de manobra em resposta a uma queda acentuada na cotação cambial, coisa que não aconteceria se o euro se mantivesse em baixa. Um quinto teste envolve o desemprego na zona do euro. Depois de anos de desemprego alto e ascendente, a tendência começou a se inverter em 1997. De lá para cá, o nível de desemprego caiu de um pico de 11,7% em 1997 na zona do euro como um todo para 8,9% em outubro de 2000. O teste para a economia européia será determinar se ela pode seguir gerando empregos e um desemprego mais baixo. Isso depende em parte do sucesso do BCE na estabilização da economia, mas também da capacidade de sustentar o ritmo de crescimento no nível de emprego. O sexto teste envolve o Japão. Aqui, de novo, há visões polarizadas: uma é que a economia está finalmente melhorando; a outra é que permanece em estado crítico, com aparência de vitalidade sustentada unicamente por transfusões fiscais que não poderão ser mantidas indefinidamente. A visão otimista sobre o Japão depende de recuperação esperada no nível de consumo, além de investimento cada vez mais alto conduzido por adoção de tecnologia da informação e pela necessidade de substituir capital antiquado. Isso mais que compensará a debilitação das contas externas causadas pela queda da atividade econômica nos EUA. Enquanto isso, o déficit fiscal deve ficar inalterado: a OCDE prevê que o déficit financeiro geral do governo japonês fique em cerca de 6% do PIB nos próximos dois anos. A alternativa oposta envolve, em parte, o fato de que o setor financeiro japonês continua muito fraco. Pior: da mesma forma que a inflação faz com que a lucratividade das empresas que são devedoras em termos líquidos pareça ainda pior, a deflação a tornará aparentemente melhor. A Smithers & Co, assessoria de investimentos sediada em Londres, estima que o retorno real sobre o capital não financeiro das corporações japonesas foi de 2,7% no ano fiscal de 2000, e não os 6,5% divulgados, o que dificilmente seria considerado a situação ideal para a alta de investimentos necessária. O desafio implícito continua a ser o de equilibrar a procura e a oferta potencial. Uma volta da recessão este ano poderia forçar as autoridades a tentar alguma coisa radicalmente nova. O sétimo teste é para as economias de mercado emergente. A Rússia é um caso particularmente curioso. A Goldman Sachs estima que o crescimento econômico do país no ano passado foi de 7%, depois de 3,2% em 1999. É verdade que se trata de uma recuperação modesta dado o enorme declínio de 44% no PIB entre 1989 e 1998. No entanto, é pelo menos um sinal de que o país chegou ao fundo do poço e começou a subir. Também importante este ano será determinar se a Turquia mantém sua âncora cambial, como a América Latina, especialmente o México, enfrenta a queda na economia dos EUA, e se as economias do Leste Asiático que dependem do mercado norte-americano serão capazes de manter sua recuperação da crise de 1997/ 1998. A capacidade das economias emergentes de sobreviver a desaceleração econômica nos EUA será o mais claro teste quanto à força que elas ganharam após as crises financeiras dos anos 90. Meu teste final é para o Reino Unido. Aqui, tudo parece saudável, com forte posição fiscal, moeda robusta, baixa inflação, desemprego modesto e déficit em conta corrente administrável. Um 2001 turbulento poderia demonstrar se a economia britânica realmente se transformou ou não. No entanto, 2001 será acima e além de tudo o ano do teste para os Estados Unidos. Será que o mundo está prestes a testemunhar o estouro de uma bolha econômica ou um suave ajuste de superaquecimento temporário para crescimento rápido e sustentado? Se, depois de nove anos de expansão e de uma de modesta desaceleração, os EUA voltarem a decolar, poderemos concluir, de maneira bastante razoável, que a idéia de uma nova economia é mais do que ouro de tolo.