1 OS EFEITOS DA PRIVATIZAÇÃO NO DESEMPENHO ECONÔMICO DA CIA VALE DO RIO DOCE Diego Leite Paulino (G-UEM) Heverthon Alexandre Bariano (G-UEM) Jacqueline Galuch Rodrigues da Silva (G-UEM) José Braz Hercos Junior (UEM) RESUMO A presente pesquisa teve como objetivo identificar os efeitos da privatização no desempenho econômico da Vale. Com base em seus objetivos, o estudo caracterizou-se como sendo descritivo. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica. Foi enquadrado como estudo de caso. Os relatórios publicados pela empresa foram disponibilizados via site: www.cvm.gov.br, abrangendo o período de 1995 até 1997, período antes da privatização e, de 1998 até 2007, período pós-privatização. Para avaliar o desempenho econômico da Companhia Vale, foram selecionados previamente alguns indicadores, os quais foram extraídos dos referidos relatórios. Também foram disponibilizados via site www.ipea.gov.br, indicadores de natureza macroeconômica abrangendo o período da análise. Chegou-se a conclusão de que, nos últimos anos, a expressiva expansão da Vale, aliado ao excelente desempenho econômico, em termos de lucratividade e rentabilidade, foram justificados tanto pelos fatores externos, que foram favoráveis, como pela privatização. Palavras-Chave: Vale, Privatização, Fatores macroeconômicos, Desempenho Econômico. 1 INTRODUÇÃO O maior desafio de uma empresa é manter-se competitiva, especialmente no contexto de globalização, em que a concorrência é acirrada, o ambiente é imprevisível e as inovações são constantes. Eficiência e agilidade nas decisões são cruciais, para que as empresas sobrevivam e ampliem suas fatias de mercado. É consenso no mercado, que uma empresa ao ser transferida do Estado para a iniciativa privada deixa de ser um instrumento de política econômica, manobrado pelo governo, para se tornar o que todo negócio deve ser — um gerador de lucro para seus acionistas. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a influência do instrumento de privatização no desempenho econômico da Vale. 2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA E DE SEU SETOR DE ATUAÇÃO A história da Vale está intimamente ligada à construção da Estrada de Ferro VitóriaMinas, durante a qual os engenheiros ingleses envolvidos em seu projeto tomaram conhecimento da existência de uma grande reserva de minério de ferro naquela região. A Vale foi criada pelo governo brasileiro como Companhia do Vale do Rio Doce, em 1942, e depois de 55 anos, em 1997, foi privatizada. Hoje ela é uma empresa que atua nos cinco continentes, possui mais de 100 mil empregados, entre próprios e terceirizados, que transformam recursos minerais em riqueza e desenvolvimento sustentável. O minério mais produzido e consumido no planeta é a principal matéria-prima produzida pela Vale. Suas principais aplicações são na 2 construção civil, indústrias automotivas, produção de eletrodomésticos, construção naval entre outros. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos maiores detentores de reservas de minério de ferro, atrás da Ucrânia, Rússia, China e Austrália. Esta atividade é bastante concentrada em alguns países, sendo que os sete maiores produtores respondem por 87% das ocorrências totais. No que se refere à produção do mineral, o Brasil pode ser considerado como o maior produtor mundial. Como a produção nacional é bastante superior à demanda interna, o setor é fortemente voltado para o mercado internacional, que absorve cerca de 80% do volume total produzido. Cerca de 99% do minério de ferro é utilizado como insumo pela indústria siderúrgica. O minério de ferro é a única fonte primária de ferro, sendo substituído, em alguns processos, pela sucata de aço. A tendência de aumento da produção siderúrgica e, conseqüentemente, no consumo de minério de ferro, está sendo pautada na forte expansão da economia chinesa que passa por um processo de urbanização. As condições atuais de mercado, que combinam limitação de capacidade de produção e forte crescimento da demanda, foram determinantes para os sucessivos aumentos de preços nos últimos anos. O aspecto negativo para o setor é o atual quadro de valorização do real, tendo em vista que 80% do faturamento das mineradoras têm origem no exterior, enquanto que em torno de 30% à 40% dos seus custos são em dólares. 3 ASPECTOS CONCEITUAIS 3.1 FATORES DE NATUREZA MACROECONÔMICA 3.1.1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) De acordo com Mankiw (1998), o PIB é um indicador econômico que reflete o valor da produção total de mercadorias e serviços de uma nação num determinado período de tempo e serve como indicador de crescimento (ou retração) da economia. A sua comparação, em termos temporais e espaciais, revela o comportamento da economia de uma forma agregada, representando um dos mais importantes indicadores para a formulação de políticas e tomada de decisão, por parte dos agentes econômicos. Em toda economia existe uma cadeia de produção com as empresas dependendo umas das outras para produzirem. Por exemplo, empresas fornecedoras de insumos são ligadas as empresas que consomem esses insumos para a fabricação de seus produtos, que se ligam a empresas distribuidoras de seus produtos e assim por diante até chegar ao consumidor final. Dessa forma, o aumento do PIB significa que as empresas estão produzindo mais devido ao 3 aumento da demanda, representando um crescimento econômico do país. Por outro lado, a redução do PIB reflete o declínio dos gastos dos consumidores e, conseqüentemente, a diminuição da demanda pela produção das empresas. Desse modo, a disponibilidade de informações macroeconômicas, a exemplo do PIB, torna-se relevante, na medida em que antecipa para a sociedade tendências que só eram percebidas dentro do ciclo mais longo das atividades econômicas. Assim, os agentes econômicos, particularmente as empresas, estão mais aptas às tomadas de decisões de aumentar ou diminuir sua produção de acordo com as tendências conjunturais apresentadas. 3.1.2 TAXA DE JUROS A taxa de juros pode ser definida como sendo um prêmio pago pela renúncia à liquidez. (KEYNES,1996). Quanto mais forte for a preferência pela liquidez, mais alta será a taxa de juros, pois, como a produção de mais moeda não é algo imediato, há uma tendência natural para a elevação da taxa de juros. Por outro lado, quanto maior for a quantidade de dinheiro, mais baixa será a taxa de juros, pois, sendo a quantidade de moeda em circulação maior do que a demanda por ela, haverá a tendência de queda da taxa de juros. Assim, tanto as pessoas como as empresas, tomam suas decisões em razão das expectativas. A taxa de juros entra nesta questão das expectativas de uma forma decisiva. Quanto maior a taxa de juros cobrada, tanto na aquisição de produtos quanto no crédito pessoal, menor a capacidade de consumo das pessoas, como também menor a expectativa de vendas das empresas. Os consumidores tendem a consumir menos, pois a altas taxas é preferível aplicar o recurso disponível, em vez de consumi-lo, ou seja, o custo de oportunidade de consumir a alta taxas de juros é maior. Conseqüentemente cai o nível de consumo, as empresas vendem menos e há uma retração da economia. Este círculo vicioso continua, pois quanto menor as vendas, menor a necessidade de funcionários e, assim, com o desemprego, diminui-se a renda da população que contrai as vendas e sucessivamente este círculo se realimenta até que haja uma quebra desse paradigma. Entretanto, taxas de juros mais baixas levam as empresas a um maior gasto de capital e a fusões e aquisições. Neste caso, os consumidores tendem a consumir mais, pois baixas taxas de juros incentivam o consumo, e conseqüentemente o aumento da produção, levando ao crescimento do PIB. 3.1.3 Taxas de Inflação Para Rosseti (2000, p.695), a inflação é tratada como: 4 “Variação do valor da moeda. Trata-se de um fenômeno universal, comum praticamente a todos os países. Correspondem a uma alta generalizada de preços dos bens e serviços, expressos pelo padrão monetário corrente. A alta, que varia de intensidade de país para país e de época para época, implica desvalorização da moeda em relação aos demais ativos.” A inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado no nível de preços (MANKIW, 1998). Isto é, os movimentos inflacionários representam elevações em todos os bens produzidos pela economia e não meramente o aumento de um determinado preço. Outro aspecto fundamental refere-se ao fato de que o fenômeno inflacionário exige a elevação contínua dos preços durante um período de tempo, e não meramente uma elevação esporádica dos preços. Como a inflação representa uma elevação dos preços monetários, ela significa que o valor real da moeda é depreciado pelo processo inflacionário. Assim, altas taxas resultam em restrições para as organizações empresariais. Por exemplo, como a inflação provoca a redução relativa do poder aquisitivo das classes que dependem de rendimentos fixos, os quais possuem prazos legais de reajustes, essas classes, com o passar do tempo, vão ficando com seus orçamentos cada vez mais achatados, até a chegada de um novo reajuste restringindo o poder de consumo desses consumidores (LUQUE e VASCONCELLOS, 1998). Outra distorção ocorre quando as elevadas taxas de inflação são superiores ao aumento de preços internacionais, resultando no encarecimento do produto nacional relativamente ao produzido externamente. Dessa forma, tendem a provocar um estímulo às importações e desestímulo às exportações (LUQUE e VASCONCELLOS, 1998). Nesse caso, as empresas exportadoras são extremamente prejudicadas, pois com o preço dos seus produtos mais elevados do que dos concorrentes internacionais, essas empresas perdem competitividade e, conseqüentemente, seus clientes buscam outros fornecedores que ofereçam preços mais vantajosos. Outro problema causado por elevadas taxas de inflação refere-se à formação de expectativas em relação ao futuro. Num período de elevadas taxas de inflação, o empresário encontra-se numa posição de relativa instabilidade e imprevisibilidade de seus lucros, e dificilmente aumentará seus investimentos na expansão da sua capacidade produtiva (LUQUE e VASCONCELLOS, 1998). Dessa forma, o próprio processo inflacionário provoca diminuição da capacidade de produção futura e, conseqüentemente, do nível de emprego. Portanto, um processo inflacionário pode levar muitas empresas a passarem por períodos difíceis, pois, como foi relatado, esse processo desarticula todo o sistema econômico causando distorções que geram outras distorções, dificultando o bom desempenho do setor 5 empresarial. 3.1.4 Taxa de Câmbio Segundo Rosseti (2000, p. 895): “A taxa de câmbio é o preço, em moeda corrente nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. É a relação entre o valor de duas unidades monetárias, indicando o preço, em termos monetários nacionais, da divisa estrangeira correspondente.” A taxa de câmbio é o valor que uma moeda nacional possui em termos da moeda de um outro país, ou seja, é a taxa pela qual duas moedas de países diferentes podem ser trocadas (cambiadas) (GREMAUND, VASCONCELOS e TONETO, 2002). Em alguns países, essa taxa é expressa como o preço de uma unidade de moeda estrangeira em termos de moeda nacional, como é o caso do Brasil, em que se expressa a taxa de câmbio considerando-se quantos reais valem um dólar. Em outros países, define-se a taxa de câmbio como o preço de uma unidade de moeda nacional em termos de moeda estrangeira, como é o caso das EUA. Resumidamente, a taxa de câmbio é a medida pela qual a moeda de um país qualquer pode ser convertida em moeda de outro país, ou seja, é precisamente o preço de uma moeda em relação a outra. Assim, como qualquer outro preço, a taxa de câmbio, é influenciada pela oferta e pela demanda de divisas, ou seja, pela oferta e demanda por moeda estrangeira num determinado país. Os ofertantes de divisas são os exportadores que, em troca de suas mercadorias, recebem moedas estrangeiras. Como essas moedas não podem ser utilizadas nas transações desse país, os exportadores necessitam trocá-las por moeda nacional. Também são considerados ofertantes de divisas as empresas que obtiveram empréstimos em moeda estrangeira e precisam convertê-la em moeda nacional para poder utilizá-los. A demanda por divisas é constituída pelos importadores que necessitam de moedas estrangeiras para realizar suas compras em outros países e pelos devedores em moeda estrangeira que precisam de divisas para saldar as suas dívidas. É importante ressaltar que, como qualquer curva de oferta e demanda, ambas representam o comportamento dos exportadores e importadores em relação a taxa de câmbio e ao montante de moedas estrangeiras que desejam comprar e vender. Se a taxa de câmbio for muito elevada, muitos produtores e muitas firmas desejarão exportar, e a oferta de dólares será muito grande (SAYAD E SILBER, 1998). Por exemplo, supondo que a taxa de câmbio seja de R$/US$ 2,00 e um quilo de soja valha US$ 0,5 o exportador receberá R$ 1,00 por quilo do seu produto. Caso a taxa de câmbio aumente para R$/US$ 3,00 o exportador receberá R$ 1,50 pela mesma quantidade e, dessa forma, desejará exportar mais do que quando a taxa de câmbio era de R$/US$ 2,00. Já no caso 6 da importação, se o mesmo quilo de soja vale US$ 0,5 quando a taxa de câmbio é de R$/US$ 3,00, o importador pagará R$ 1,50 por quilo e desejará, portanto, importar menos do que quando a taxa de câmbio é de R$/US$ 2,00, pagando apenas R$ 1,00 por quilo. Essa situação pode ser melhor observada no Quadro 1. Taxa de Preço do Preço do câmbio kg da soja kg da soja Exportação Importação R$ por em dólar em reais dólar 2 0,5 1 Desejam exportar menos Desejam importar mais 3 0,5 1,5 Desejam exportar mais Desejam importar menos Quadro 1 - Demonstração dos impactos do câmbio sobre a exportação e importação Fonte: elaborado pelos autores. Pode-se concluir, portanto, que quanto maior a taxa de câmbio, maior a quantidade de bens e serviços que as empresas desejam exportar e quanto menor a taxa de câmbio, menor o volume que as empresas desejam exportar. Com relação às importações, a situação se inverte, pois quanto maior a taxa de câmbio menor a quantidade de bens e serviços que as empresas desejam importar e quanto menor a taxa de câmbio, maior a quantidade que as firmas desejam importar. O câmbio, portanto, representa uma variável econômica importantíssima a ser observada pelos gestores das empresas, principalmente, as empresas que dependem de produtos importados e as que trabalham com mercados externos. Assim, tanto os exportadores como os importadores devem ficar bem atentos às variações do câmbio para não perderem com transações desvantajosas. 3.1.5 Risco-país O risco-país é um conceito econômico-financeiro que diz respeito à possibilidade de que mudanças no ambiente de negócios de um determinado país possam impactar negativamente o valor dos ativos de indivíduos ou empresas estrangeiras naquele país e os lucros ou dividendos que esperam obter dos investimentos que lá fizeram. 3.2 TÉCNICAS DE ANÁLISE 3.2.1 Análise através de índices Índice é a relação entre contas ou grupo de contas das Demonstrações Contábeis, que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira de uma empresa. (Matarazzo, 2003, p. 154) A característica fundamental dos índices é fornecer visão ampla da situação econômica 7 ou financeira da empresa. a) Margem Líquida Fórmula: Lucro Líquido Vendas Líquidas Indica: quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 vendidos Interpretação: quanto maior, melhor. Das receitas obtidas em cada período, após deduzidos todos os sacrifícios necessários para obtê-las, apura-se a sobra final, denominada de Margem Líquida (Lucro líquido/Receita Líquida). É esta sobra final que é distribuída aos proprietários (ou acionistas), na forma de dividendos, ou reinvestida na própria empresa. A margem líquida serve para medir a eficiência e viabilidade do negócio. b) Rentabilidade do PL Fórmula: Lucro Líquido x 100 PL Indica: quanto a empresa obteve de lucro para cada R$ 100 de Capital Próprio investido. Interpretação: quanto maior, melhor. Para Matarazzo (2003, p. 181), O papel do índice de Rentabilidade do Patrimônio Líquido é mostrar qual a taxa de rendimento do Capital Próprio. Essa taxa pode ser comparada com a de outros rendimentos alternativos no mercado, como Caderneta de Poupança, CDBs, Letras de Câmbio, Ações, Aluguéis, Fundos de investimentos, etc. Como isso se pode avaliar se a empresa oferece rentabilidade superior ou inferior a essas opções. 3 METODOLOGIA Com base em seus objetivos, o estudo caracterizou-se como sendo descritivo, por haver descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. (GIL, 2002) Com base nos procedimentos técnicos utilizados, foram realizadas simultaneamente: Pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos e internet; Estudo de caso, por estar circunscrito a uma empresa e ter caráter de profundidade e detalhamento. Os relatórios publicados pela empresa foram disponibilizados via site: 8 www.cvm.gov.br , abrangendo o período de 1995 até 1997, período antes da privatização e, de 1998 até 2007, período pós-privatização, Para avaliar o desempenho econômico da Companhia Vale, foram selecionados previamente alguns indicadores, os quais foram extraídos dos referidos relatórios. Também foram disponibilizados via site www.ipea.gov.br, indicadores de natureza macroeconômica abrangendo o período da análise. 4 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS Durante a década de 1990, os esforços das autoridades econômicas no Brasil, foram voltados prioritariamente para a estabilização da economia, ficando em segundo plano, o crescimento. Os primeiros anos da década de 2000, no Brasil, ainda são marcados por baixos índices de crescimento, conforme evidenciado na figura 8. Os esforços para estabilização da economia continuam. Porém, o ano de 2002 foi caracterizado por eleições e, pela primeira vez na história do Brasil, foi eleito para Presidente da República um candidato da “esquerda” e oriundo do Partido dos Trabalhadores-PT. Isto colocou dúvidas no mercado sobre como seria o comportamento deste partido (o PT), na condução das políticas econômicas e se continuaria honrando os compromissos assumidos até então pelo país (dívidas internas e externas). E as dúvidas transformaram-se em instabilidades (câmbio, juros e risco-país), com forte volatilidade dos indicadores econômicos (figs. 2, 3 e 5), inviabilizando dessa maneira operações (compras de matérias-primas, produção, vendas …) cotidianas das empresas. Conforme o mercado percebe que as políticas continuam a ser conduzidas de forma responsável, os indicadores econômicos respondem de forma positiva. As taxas de inflação perdem força e caem de forma consistente a partir de 2002, conforme evidenciado na figura 1. Isto se reflete em maior confiança dos agentes econômicos na moeda local. E com moeda estável, amplia-se o grau de previsibilidade em relação ao futuro. As empresas ganham motivação para investirem na expansão de sua capacidade produtiva, o que significa mais empregos, mais renda, mais consumo e, naturalmente, maior demanda de produtos. 9 2500 25,00 22,41 2000 Em % 20,00 1500 15,00 12,53 9,56 10,00 1000 9,30 8,94 7,67 7,60 5,97 5,22 5,69 5,00 3,14 4,46 500 1,66 jan/05 jan/04 jan/03 jan/02 jan/01 jan/00 jan/99 jan/98 jan/97 jan/95 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 Figura 1 – Inflação no Brasil, medida pelo IPCA. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. jan/96 0 0,00 Figura 2 – Risco-país – Brasil (em pontos) Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. De acordo com a figura 3, há valorização consistente, no período de 2002 a 2006, do Real em relação ao Dólar. Isto amplia significativamente o poder de compra do consumidor brasileiro para aqueles produtos cujos componentes sejam em sua maioria importados. Amplia também o poder de compra das empresas estabelecidas no território brasileiro, que podem trazer do exterior tecnologias, equipamentos e bens de consumo a preços mais acessíveis. Além disso, induzem as empresas brasileiras a terem uma atuação mais global, participando do capital social de empreendimentos estabelecidos no exterior. 4,50 50,0 44,7 4,00 40,0 40,0 3,50 33,6 13,1 10,0 Figura 3 – Cotação Real/dólar. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. 2007 2006 2005 2004 2,7 2003 -10,0 -3,5 -5,6 -6,8 -6,6 -1,2 -0,7 2002 0,0 2001 jan/08 jan/07 jan/06 jan/05 jan/04 jan/03 jan/02 jan/01 jan/00 jan/99 jan/98 jan/97 jan/96 jan/95 0,00 2000 0,50 20,0 1999 1,00 1998 1,50 24,8 1997 2,00 30,0 1996 2,50 1995 Em R$ bilhões 3,00 Em R$ 46,5 Figura 4 – Balança Comercial – Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. Porém, existe também o lado negativo da expressiva valorização do real em relação ao dólar. Para as empresas que tenham suas vendas voltadas para o mercado externo, há significativa redução em suas receitas, quando convertidas para a moeda local. Conforme evidenciado na figura 5, mesmo com algumas oscilações para cima, a taxa de juros praticada pelo Banco Central no Brasil tem tendência de queda ao longo dos anos, 10 mesmo que lentamente. Já, a taxa de juros paga pelo consumidor, a partir de 2003, cai de forma mais rápida, em função de medidas pontuais baixadas pelo governo brasileiro, como possibilidade de consignação de créditos em folha de pagamento e em benefícios dos aposentados, além das parcerias estabelecidas entre instituições financeiras e grandes redes de varejo que trazem para o sistema bancário uma parte expressiva da população. 250,0 90 80 195,2 200,0 70 Em $ bilhões 60 50 40 30 180,3 150,0 85,8 100,0 53,8 20 50,0 10 0,0 jan/08 jan/07 jan/06 jan/05 jan/04 jan/03 jan/02 jan/01 jan/00 jan/99 jan/98 jan/97 jan/96 jan/95 0 Figura 5 – Taxa de juros-selic praticada pelo Banco Central do Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. 2005 2006 2007 2008 Figura 6 – Reserva cambial – Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. Tudo isto induz ao aumento das vendas a crédito, o que gera, naturalmente, maior renda à disposição do consumidor. Assim, de um lado, amplia-se o consumo, com maior demanda por produtos disponibilizados pelas empresas e, de outro lado, as empresas investem objetivando ampliar capacidade de produção. Com relação ao comportamento do risco-país, evidenciado na figura 2, há queda consistente de 2002 a 2006. Isto é reflexo dos indicadores favoráveis constantes das figuras 4 e 6; que evidenciam que o país ampliou, em muito, nos últimos anos sua capacidade em gerar divisas estrangeiras (dólar, euro), acumular poupança internacional e reduzir significativamente o endividamento externo. O crescimento consistente da economia mundial, a partir de 2001, evidenciado na figura 7, também contribui para a queda no risco-pais, visto favorecer simultaneamente o incremento nas exportações de produtos brasileiros e, também, a maior disponibilidade internacional de capitais. Tudo isto amplia a confiança dos agentes econômicos na economia brasileira, beneficiando o país, com maior acesso a capitais internacionais a menores taxas de juros, maiores prazos, dentre outros. O crescimento da economia mundial também inclui anualmente milhões de pessoas no consumo, o que, naturalmente, amplia a demanda de produtos, e induz às empresas a 11 investirem na ampliação de sua capacidade produtiva. 6,00 6 Em % 4 4,9 4,7 4,1 4,2 3 4,42 2,8 2,7 2,2 3,75 3,16 3,38 3,00 2,66 2,15 2,00 1,31 1,00 1 5,42 4,31 4,00 3,6 2 5,71 5,33 5,00 4,4 3,8 3,7 4,9 Em % 5 5 1,15 0,25 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1997 1996 1995 1994 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1998 0,04 0,00 0 ano Ano Figura 7 – PIB mundial. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. Figura 8 – PIB Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site www.ipea.gov.br. 5 ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONÔMICO DA VALE Amparado nos sinais positivos dados pelas economias local e global, a Vale adotou ao longo da década de 2000, estratégia expansionista, investindo significativamente na aquisição de novas unidades produtivas (fig. 11) e na compra de empresas (fig. 9). Nos anos de 2006 e 2007 a Vale consolidou seu processo de globalização, adquirindo 75,66% das ações ordinárias da empresa INCO canadense, por dezoito bilhões de dólares. 4,0 2,0 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 Figura 9 – Valor da conta investimento da Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. 1,0 0,7 1,5 1,1 2007 2006 1999 1998 1997 1996 0,0 1995 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 0,0 2005 13,0 9,9 11,2 7,1 8,3 3,8 2004 3,7 3,8 3,8 3,8 3,7 5,5 6,0 2003 17,8 8,0 2001 30,0 9,3 10,0 2002 Em R$ bilhões Em R$ bilhões 40,0 20,0 11,4 12,0 54,6 50,0 10,0 14,0 62,7 60,0 2000 70,0 Figura 10 – Resultado da Equivalência patrimonial obtido na Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. Esta estratégia foi bem sucedida. Com ampliação das unidades produtivas, as receitas brutas tiveram forte crescimento ao longo dos anos (fig. 12). E a compra de empresas proporcionou retornos expressivos, via conta resultado da equivalência patrimonial (fig. 10). 12 30,0 28,1 25,0 23,0 25,7 20,0 15,2 15,0 10,0 12,4 7,0 7,1 7,1 7,0 6,6 7,6 6,0 19,9 20,0 20,8 Em R$ bilhões Em R$ bilhões 25,0 8,7 5,0 18,1 13,8 15,0 10,4 8,6 10,0 5,0 3,4 2,4 2,9 3,2 4,4 5,2 6,6 Figura 11 – Valor da conta Imobilizado na Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 0,0 1995 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 0,0 Figura 12 – Receita bruta obtida pela Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. Tanto a margem líquida (fig. 13), como o retorno do capital próprio investido, tiveram crescimento consistente ao longo dos anos (fig. 14), premiando assim os acionistas da empresa. 50% 45% 80% 40% 30% 49% 31% 10% 10% 5% Figura 13 – Margem líquida obtida na Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. 3% 5% 8% 10% 12% 0% 1995 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 0% 1995 16% 15% 2001 19% 2000 20% 14% 20% 20% 25% 1999 30% 26% 25% 2007 45% 1998 40% 48% 1997 43% 1996 50% 34% 35% 30% 2006 60% 36% 35% 2005 71% 61% 2002 71% 66% 70% 43% 2004 92% 90% 2003 100% Figura 14 – Retorno do capital próprio investido na Vale. Fonte: Elaborado pelo autor, com dados extraídos de relatórios publicados pela empresa. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível perceber através dos gráficos, que o melhor desempenho da Vale, tanto em termos de expansão, como de rentabilidade, ocorreu na década de 2000, especialmente a partir do ano 2003. Os fatores externos, todos favoráveis, também a partir de 2003, tiveram grande contribuição no desempenho da Vale. Porém, a privatização também tem a sua parcela de contribuição. Houve um choque de eficiência sofrido pela empresa ao ser transferida o Estado para a iniciativa privada. Assim, como aconteceu com companhias como Embraer, Usiminas e Telebrás, a Vale deixou de ser um instrumento de política econômica, manobrado pelo governo federal, para se tornar o que todo negócio deve ser — um gerador de lucro para seus acionistas. E, não podemos nos esquecer, que as crescentes riquezas geradas pela empresa são 13 distribuídas para diversos segmentos da sociedade, inclusive o próprio governo, que abocanha a maior parte, na forma de impostos. A privatização foi muito controversa, por não terem levado em conta o valor potencial das reservas de ferro em possessão da companhia na época, apenas o valor de sua infra-estrutura. Os contrários à privatização alegam que o Estado brasileiro vendeu para grupos multinacionais, patrimônio público por um valor muito inferior ao real, dando a esses grupos privilégios e a oportunidade de realizar lucros extraordinários. Muitos defendem as privatizações, por entenderem que não cabe ao Estado exercer atividades econômicas. Após a privatização, e em conseqüência do substancial aumento dos preços do minério de ferro, a Vale pôde arcar com pesados investimentos, que até o momento somam a quantia de 16,5 bilhões de dólares, fazendo seu lucro anual subir de cerca de 500 milhões de dólares em 1996 para aproximadamente 12 bilhões de dólares em 2006. O enorme ganho de lucratividade deve-se, sobretudo, ao grande aumento no preço do minério de ferro, que subiu 123,5% entre 2005 e 2006, tal feito que não era previsível em 1997, graças ao aumento da procura mundial, sobretudo pela China, o que permitiu à Vale, a maior detentora de reservas de minério de ferro do mundo, fazer pesados investimentos e implementar controles de gestão, tornando-se ainda mais competitiva para atender, assim, às novas necessidades chinesas e, conseqüentemente, manter sua posição de maior exportadora de minério de ferro do mundo. Verifica-se também que a privatização levou a Vale efetuar investimentos nunca antes visto, pois antes os seus recursos eram partilhados com os cofres da União. Neste trabalho não coube discutir se o valor definido pelo governo quando da venda da Vale para a iniciativa privatizada tenha sido justo; porém, é possível dizer que as empresas geridas por particulares normalmente tem maior rapidez em suas decisões, o que possibilita, em termos de desempenho, a otimização dos fatores externos, que foram favoráveis nos últimos anos. REFERÊNCIAS GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GREMAUND, Amaury P.; VASCONCELOS Marco A. S. de; TONETO, Rudinei J. Economia brasileira contemporânea. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. KEYNES, John M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Col. Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1996. 14 LUQUE, Carlos A.; VASCONCELLOS, Marco A. S. de. Considerações sobre o problema da inflação. In: PINHO, Diva B.; VASCONCELLOS; Marco A. S. de (Coords). Manual de economia. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1998. MANKIW, Gregory N. Macroeconomia. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1998. MATARAZZO, Dante C. Análise financeira de balanços – abordagem básica e gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução a Economia. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SAYAD, João; SILBER, Simão D. Comércio internacional. In: PINHO, Diva B.; VASCONCELLOS; Marco A. S. de. Manual de economia. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1998.