Corpo Docente: Doutora Ana Paula Matos, Mestre Paula Castilho, Mestre Cláudia Ferreira Programa: 1. Estudo e classificação do comportamento anormal e da perturbação mental. 2. Os principais sistemas de classificação diagnóstica. 2.1.Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. 2.2. Classificação Internacional das Doenças. 3. Apresentação dos quadros psicopatológicos no que concerne à descrição clínica, classificação, diagnóstico, epidemiologia, comorbilidade, diagnóstico diferencial, etiologia e noções gerais de tratamento; apresentação e discussão de casos clínicos. 3.1. Perturbações de ansiedade (i.e. perturbação de pânico, agorafobia, fobia social, fobias específicas, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação de ansiedade generalizada) 3.2. Perturbações do humor (i.e. depressão unipolar e bipolar) 3.3. Perturbações do Comportamento Alimentar (i.e. anorexia, bulimia) 3.4. Perturbações relacionadas com substâncias (i.e. alcoolismo Aula Teórica nº1: 8/3/07 Avaliação e bibliografia: semelhante ao 1ºsemestre Trabalho prático: quadro clínico de um doente real Perturbações: Afectividade: ansiedade + fobia social+perturbações de pânico+perturbação obsessivocompulsivo Humor: Depressão Major + Doença Bipolar Uso de substâncias: alcoolismo Alimentares: anorexia + Bulimia (Práticas) No exame Mental falamos nas funções do psiquismo humano, como por exemplo: Alterações da percepção (Esquizofrenia) Alterações da memória (demências e esquizofrenia) Alterações da consciência (alcoolismo) Alterações do pensamento (esquizofrenia) Alterações da inteligência (deficiência mental) Alterações da linguagem (afasias) – perda total/parcial da fala Alterações da psicomotricidade (tiques) Alterações com a da relação com o corpo (alimentares: anorexia e bulimia e também a perturbação que está relacionada com a somatização, como sendo a dor, gastrointestinais e sexuais). Alterações da afectividade (ansiedade e o Humor) Alterações da personalidade – tem 3 grandes grupos situados no Eixo II da DSM: Medrosos, ansiosos podem ser: evitantes (quadro clínico mais grave da fobia); dependentes e obsessivo-compulsivo. Bizarros/Excêntricos podem ser: esquizotípica, paranóide e esquizóide. Dramáticos e emotivos podem ser: borderline (sentimento de vazio, personalidade estado-limite, auto-mutiliação, consumo de drogas, bulimia); narcísica; histriónica; anti-social. O objectivo desta disciplina é fazer uma conceptualização científica, não baseada no Senso Comum, que dá instrumentos para efectuarmos uma análise diferente, com rigor destes fenómenos. Temos que ter para isso uma atitude humilde de constante questionamento. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 1 Devemos reconhecer que há um conjunto de limitações neste campo e desafios que levam ao fascínio que está por detrás desta área. A psicopatologia vai debruçar-se sobre a natureza e desenvolvimento dos distúrbios mentais (o que é a psicopatologia, o que é um síndrome – slide). Sendo assim, a psicopatologia é a ciência que estuda e descreve os estados psíquicos anormais e os seus sintomas. Através de conceitos gerais que orientarão para que os ditos fenómenos possam ser ordenados em seu grupo e classificados. Dá um nome aos fenómenos psíquicos descrevendo-os de forma que haja comunicação, a mais objectiva possível, entre as pessoas. Embora a interpretação possa divergir. A síndrome é um agrupamento característico de sintomas. A complexidade da mente humana oferece poucas respostas e muitas questões levantadas são ambíguas e subjectivas. Por isso é importante o estudo da psicopatologia, pois é necessário sermos objectivos no estudo desta. No entanto, garantirmos a total objectividade é difícil, porque não devemos esquecer que nós somos pessoas e o comportamento anormal aparece em nós próprios muitas vezes ou em alguém muito próximo de nós. Por isso o comportamento anormal é algo difícil de compreender e é difícil de ajudar, porque estamos muito próximos do objecto de estudo (doença mental), daí tornar fascinante esta área. Psicopatologia Fenomenológica É a descrição objectiva dos estados anormais da mente duma forma que evita, na medida do possível, teorias preconcebidas. Para isso define as qualidades essenciais das experiências mentais mórbidas e compreende o que o doente está a experienciar. Jasper (1963) descreve a fenomenologia como sendo o trabalho preliminar de representar, definir e classificar os fenómenos psíquicos, como uma actividade independente. Por outro lado, a psicopatologia dinâmica vai para além da descrição e procura explicar as causas dos acontecimentos mentais anormais, por exemplo, postulando processos mentais inconscientes. Na psicopatologia existem sintomas primários e secundários: Significado temporal: primário significa antecedente; secundário significa subsequente. Significado causal: primário significa expressão directa do processo psicopatológico; secundário significa uma reacção aos sintomas primários. Os dois significados estão frequentemente relacionados, sendo que os sintomas que aparecem primeiro são frequentemente expressões directas do processo patológico. A proximidade do objecto de estudo (familiaridade) também traz desvantagens: Ao longo do nosso desenvolvimento vamos adquirindo palavras, preconceitos (mundo que permite o acesso à realidade), certas formas de estar, de falar, atribuímos conceitos que levamos como legítimos e identificamo-nos com eles. Por isso é necessário que nos desliguemos desses conceitos do senso comum. Por exemplo se nós dissermos que o Manuel teve um ataque de pânico, estou a referir que ele esteve, por exemplo em locais em que se envolveu abruptamente e atingiu um pico de intensidade tendo sintomas: palpitações, sensação de sufoco, formigueiro, aperto no peito, sensação que vai morrer, suores, dormências, falta de ar, náuseas, etc. Ele teve quatro destes sintomas, como ficou com muito medo das consequências dos ataques, o seu comportamento começou a ser influenciado pelos ataques de pânico. Isto porque, ele não colocou mais os pés, onde teve os ataques de pânico, ou seja, ele tinha medo que a situação voltasse acontecer, por exemplo num centro comercial, num cinema, etc. O Manuel tinha ataques de pânico em locais em que André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 2 não podia fugir e a ajuda pode ser difícil nesses locais por isso desenvolveu uma perturbação de pânico com agorafobia. Temos que de facto tentar usar rótulos que estejam livres das concepções habituais e utilizamos quadros de referência diferentes das que utilizamos sem ser ao nível profissional. No desempenho das nossas profissões afastamo-nos destes rótulos. Por exemplo: a Maria assustou-se no concerto. Há dois termos que nós temos que saber distanciar: anormal e louco. O termo anormal é considerado um insulto, aplica-se a quem não se gosta. No entanto não existe uma definição exacta do que consiste ser anormal. Pois, existe uma série de manuais que se dedicam à classificação do comportamento anormal (DSM-IV). O termo louco é usado para quem não têm a consciência, mas não é absoluto. Estes eram muito maltratados (aprisionados, mortos), porque temos muita dificuldade em lidar com os nossos receios. Uma das angústias do ser humano é de enlouquecer. Por exemplo: ter um filho que aos 17 anos tem esquizofrenia. A loucura, a doença mental, assusta-nos a todos nós, imenso. Normalmente, os nossos doentes quando nos procuram estão cheios de medo, porque sentem que estão a vivenciar algo de anormal. Com alguns doentes é necessário trabalhar o medo da loucura. Temos ideias preconcebidas acerca da loucura: “loucos são os outros”. Loucos são muito poucos, o que acontece a nós é que sofremos variações quantitativas do funcionamento normal que leva a essa disfunção. Estes sujeitos passam por uma experiencia de descontrolo, sentem-se diferentes, estigmatizados e tentam a todo o custo superar esse descontrolo (controlar a situação). Nosologia e Classificação do comportamento anormal: DSM – IV: é um conto de fadas que nos dá muito jeitinho. Não representa a realidade, mas na prática vimos por exemplo, o autismo infantil (década 40) e só são descritos 40 anos depois, na década de 80. As normas e os valores culturais não aparecem nos manuais, houve uma enorme mudança. Pois, hoje em dia, as pessoas procuram mais frequentemente a ajuda de psicólogos e psiquiatras. Isto leva a que haja cada vez mais doentes que conduz a uma identificação de novos síndromes. Os manuais de classificação baseiam-se em definições de perturbações mentais. Segundo DSM-IV, o distúrbio mental corresponde a um conjunto clinicamente significativo de sintomas que podem ser comportamentais ou psicológicos que se associam a uma disfunção biológica e que causam mal-estar e incapacidade. Críticas à definição de DM Nenhuma definição distúrbio mental da DSM-IV é completa e exacta é uma tentativa de compreender algo complexo. Tem uma classificação técnica, não conseguindo distinguir esquizofrenia de diabetes, há um procedimento perturbado subjacente: é difícil distinguir distúrbio de não distúrbio. Existe uma imensa comorbilidade, ou seja, uma colecção enorme de várias perturbações na mesma pessoa. Por isso muitas vezes pode surgir um problema em que diagnosticamos por excesso e não por defeito (falsos positivos). O movimento anti-psiquiatria é uma perspectiva crítica da psicopatologia. Refere que “não há realmente distúrbio mental, mas só comportamentos socialmente desaprovados ou problemas de viver”. Para além disso, refere “o uso indevido de psicodiagnósticos pode servir propósitos de controlo social”. Os manuais de classificação percebem que em alguns pontos temos de ter muito cuidado, os clínicos têm de ter em conta e estar alerta para (está na DSM-IV): Os distúrbios mentais que descrevem processos de doença e não pessoas. Ao darmos um rótulo na psicopatologia, não devemos pensar que duas pessoas com a mesma doença André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 3 têm necessariamente os mesmos sintomas, porque são pessoas diferentes. Por exemplo: o Manuel e o Jaquim têm a mesma perturbação de pânico, no entanto, não significa que tenham os mesmos sintomas, rigorosamente. Por exemplo: o Manuel tem medo de morrer e o Jaquim de enlouquecer. Isto porque diferem na sua personalidade. Não devemos assumir fronteiras nítidas entre distúrbios e entre distúrbios e normalidade. Por exemplo: não existe fronteiras bem delimitadas entre uma bulimia e anorexia (distúrbios) e entre o alcoolismo (distúrbio) e uma borracheira (normalidade). O DSM-IV segue o modelo médico de doença mas não quer dizer que recomende psicofármacos. Estudos efectuados referem que estes doentes têm em comum um conjunto de sinais e um curso típico de surgimento de sintomas (períodos). CID-10 (classificação internacional das doenças) Aula Prática nº1: 8/3/07 No caso prático, do trabalho de 26 de Abril sobre a perturbação obsessivo-compulsiva temos de referir várias áreas: Apresentação dos dados biográficos: nome, idade, onde vive, etc. Motivo da consulta: nem sempre pedem ajuda para um problema que têm. Por exemplo: um sujeito que tem uma perturbação de pânico pensa que tem um problema físico grave, que foi para ali, porque o médico mandou, mas ele acha que não é o melhor loca. Inicio das dificuldades actuais: quais as dificuldades que tem, pois tem que provocar sofrimento ao sujeito. O que é que ele deixou de fazer, o que deixou de gostar de fazer e como se iniciou. Por exemplo: pode-se ter iniciado quando a mulher dele bazou de casa. Formulação: porque é que a pessoa tem fobia social? Vamos à DSM – IV, ver os critérios do diagnóstico. Temos de ir às frases do caso e procurar sintomas para comprovar, por exemplo que o doente tem fobia social. Por exemplo: o sujeito quando lhe é perguntado qualquer coisa começa a gaguejar, acha o sitio ridículo, sente as pernas começarem a tremer. Portanto temos que fazer a verbalização do critério. Na próxima aula a professora vai fazer um modelo de apresentação. Aula Teórica nº2: 15/3/07 Classificação-1 Todos nós em quanto seres humanos temos a tendência natural para categorizar, classificar, simplificar e organizar, porque de facto o nosso cérebro funciona assim, para nos permitir a adaptação ao meio. Por exemplo, é importante sabermos que o machado corta. A ampla gama de fenómenos observáveis e de experiências com que nos confrontamos facilitando a compreensão e a sua predição. Quer isto dizer que para além de compreendemos pretendemos prever (importante para todos nós). Muito da psicopatologia é uma tentativa de controlarmos e prever o que não é previsível. Por exemplo, perturbação com agorofobia sente-se crises de pânico (ansiedade elevada), então se colocarmos um doente com esta perturbação num cinema é previsível que ele possa ter esses problemas, porque é propício para tal. Relativamente a esta tendência natural dos sujeitos verifica-se que já não vem de agora. Nós temos os sistemas de classificação da doença: DSM, CID, que dizem respeito à história de classificação psiquiátrica. No entanto, muitas das perturbações André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 4 que hoje em dia acontecem já aconteciam na Antiguidade. Por exemplo: 3000 A.C no Egipto existia a demência senil, num príncipe. Objectivos dum sistema de classificação O objectivo mais importante deste sistema é permitir aos clínicos e aos investigadores comunicarem eficazmente uns com os outros, estabelecendo códigos convenientes para descrever as perturbações mentais (PM). Portanto, não são só utilizados na prática clínica. Por exemplo: um sujeito que apresenta depressão major. Ao referirmos isto estamos a dar várias informações sobre o sujeito. Uma delas refere que o sujeito pode ter falta de interesse enorme ou um humor depressivo. Depois pode ter ideação suicida, alterações do sono, apetite, actividade motora. Estas alterações podem ser no sentido do aumento/diminuição. Ao nível, por exemplo do peso, do sono, agitação ou inibição psicomotora, fadiga, perda da energia, sentimento de culpa ou desvalia, diminuição da forma de pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. (4 destes sintomas). Para além disso, referimos 4 daqueles sintomas devem estar presentes pelo menos durante 2 semanas (critério de emergência e temporal que estão implícitos). Estamos a dizer que descartamos a possibilidade de ser uma doença orgânica ou consumo de substâncias, como também a história de haver episódios maníacos ou hipermaníacos. Facilitar a identificação e o lidar com as perturbações mentais, no contexto clínico e de investigação: Poder preditivo da maior parte dos rótulos diagnósticos. Por exemplo: diagnóstico de uma perturbação afectiva-bipolar vai sugerir-me a escolha de alguma opções terapêuticas. É provável, certo, segundo a professora que o sujeito vá para uma terapia e vão-lhe ser receitados estabilizadores de humor. Também é provável que o curso da perturbação seja recorrente e permanente, tendo episódios de mania e depressão. Para além disso permite saber se existe no âmbito familiar (aumento da probabilidade de ocorrer também em familiares). Definindo grupos +-homogéneos para estudo e promove também os esforços de compreensão da etiologia das PM. Os clínicos vão tentar saber os processos, mecanismos que podem levar ao aparecimento da doença identificada, individualizada. Vão tentar ver se existe causas comuns que podem levar ao aparecimento da patologia. Por exemplo: bulimia. Desempenhar um papel relevante no ensino, ou seja, organização das perturbações em classes principais, assim, o sistema oferece uma estrutura para ensinar fenomenologia e diagnóstico diferencial. Quer isto dizer, que permite estruturar o que fenomenologicamente é importante e dar uma ideia mais fácil de diagnóstico diferencial. Ser útil na psico-educação (componente educacional que trabalha com os nossos doentes). Começa a dar uma ideia ao doente do que se passa com ele que faz com que diminuam o susto da loucura e confusão e a vergonha que atravessam. Os doentes vêm com uma interpretação muito confusa do que se passa com ele. Vêm muito assustados, preocupados, não conhecem ninguém que estejam como eles, têm vergonha de partilhar o que sentem, sentem-se vítimas do que sentem. É algo que não compreendem e não conseguem ultrapassar. Isto permite mostrar ao doente que o seu padrão de sintomas que não é misterioso e único, mas pode ser identificado, estudado e explicado. Ao dizermos qual o problema (nome da perturbação) ao doente muitas vezes é melhor, para ele se perceber melhor e à doença e orienta-nos para a intervenção. Duas abordagens fundamentais à formulação de sistemas de classificação psiquiátrica: André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 5 Abordagem Etiológica: organiza as categorias de acordo com os processos patogénicos, de forma que as perturbações que correspondem a uma determinada categoria partilham da mesma causa subjacente. Abordagem Descritiva: tenta renunciar as teorias etiológicas específicas, baseando-se na descrição clínica dos sintomas apresentados. Nosologia: é uma disciplina que se ocupa da descrição, estrutura, diferenciação e classificação das doenças. Uma classificação é uma lista sistemática, uma representação codificada do processo diagnóstico, logo sem diagnóstico não há classificação. O diagnóstico é um processo que, com base numa observação cuidadosa das características clínicas dum doente e na recolha duma série de informações relevantes, procedentes de várias fontes, permite etiquetar a situação clínica (pôr um nome à doença) e formular hipóteses em torno da sua etiologia e patogenia, orientando na adopção dum tratamento adequado e possibilitando um prognóstico. Na psiquiatria a caracterização e conhecimento de um quadro clínico baseia-se na observação de comportamentos e descrição/classificação de sintomas. Enquanto que noutras áreas recorre-se a exame sofisticados, o sentido clínico é menos importante, quer isto dizer que a psiquiatra ao contrário destas áreas, para fazer um diagnóstico não se faz exames laboratoriais que apelem ao último grito da tecnologia. Assim, a observação torna-se fundamental no conhecimento de um determinado quadro clínico. História do estudo da classificação dos comportamentos ditos anormais Esta história revela um pouco da trajectória que tem seguido o estudo da psicopatologia desde o início até ao momento, que permite ver que existiu a lgumas modificações e os resultados não são assim tão bons. Classificação Internacional das Doenças (CID) CID-8 (1968): elaborado pela Organização Mundial de Saúde. Começamos a estudar a partir da 5ºedição, porque foi esta a importante para a psiquiatria e saúde mental. Assim, com a iniciativa da OMS constituíram-se grupos de países europeus e também EUA, asiáticos, africanos que organizaram-se e apresentaram os seus resultados sobre sugestões para melhorar a secção 5º, que trata das DM. A OMS refere que deveria ser revista periodicamente, a CID, de 7 em 7 anos. CID-9 (1979): tentou melhorar a edição anterior. Melhorou, em certa medida, a descrição e a ordenação das entidades clínicas, deixando de ser um mero catálogo de rótulos, +técnicos. O objectivo foi o de uniformizar o sistema, expandindo-o e tornando-o mais útil e prático. A nomenclatura incluída na anterior e nesta reflectiu em maior grau o trabalho de figuras e grupos importantes da psiquiatria europeia. CID-10: foi trabalhada desde os anos 80. O trabalho de actualização destes manuais é influenciado pelo trabalho da DSM (rivalidade). O capítulo 5º é designado pela letra F. Aqui surgem 11 secções com várias perturbações: Orgânicas (demências) Devidas ao consumo de substâncias psicoactivas Esquizofrénicas e esquizotípicas Afectivas (perturbação do sono e da ansiedade) Neuróticas (aparece aqui, mas não na DSM) e relacionadas com o stress Associadas com transtornos fisiológicos e factores físicos André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 6 Da personalidade Atraso Mental Do desempenho psicológico Do início na infância e adolescência Não especificadas A CID-10 inclui também um conjunto de diversas categorias diagnósticas principais que por sua vez estas agrupam um maior número de entidades clínicas individuais. São 100 categorias diagnósticas principais e 329 entidades clínicas individuais. As perturbações narcísicas foram remetidas para um anexo 1. Temos outro anexo, o anexo 2 que inclui as perturbações específicas de determinadas culturas. Estas foram incluídas em anexo, porque os autores da CID consideram que era necessário investigar mais para concluir a sua inclusão num diagnóstico claro e preciso. Códigos alfanuméricos: são códigos com uma letra a que se segue um número. Exemplo: A69, que pode ter 2 números decimais; F 41.1 (perturbação de ansiedade generalizada): estão eternamente preocupados. A sua estrutura inclui, para cada transtorno a descrição das características principais e associadas, por exemplo, uma perturbação de comportamento que aparece na infância, têm baixado a auto-estima. E para além disso engloba directrizes diagnósticas propriamente ditas (DSM fala em critérios diagnósticos). TPC: o que é que quer dizer AMOK e KORO A filosofia básica é descritiva e não conotada teoricamente. Reagrupam-se categorias de acordo com as suas semelhanças clínicas: acrescentando algumas categorias e eliminando outras (homossexualidade a partir de 1993 deixou de ser uma doença; deixou de se utilizar o termo psicossomático) e possibilita a realização de diagnósticos múltiplos. DSM Surge só em 1952, a sua primeira edição. Nos EUA, a história da nosologia psiquiátrica é muito recente. É o manual diagnóstico e estatístico das PM. Sofre influências freudiana e meyerianas, contendo as suas descrições um elevado grau de subjectividade. Não utilizavam critérios de diagnóstico operativos e revelam tendência para interpretar os comportamentos na perspectiva psicanalítica. Apesar de todos estas fragilidades, os técnicos consideravam que este manual facilitava o processo de comunicação profissional. DSMII apareceu 16 anos depois, mais concretamente em 1968. DSMIII apareceu em 1980: houve aqui um salto qualitativo importante. É uma abordagem diagnóstica e nosológica mais objectiva, neutra, pragmática e eficaz que as suas precedentes. A filosofia de base tenta ser não conotada teoricamente (ateórica), ou seja, pretende ser descritiva sem ter correntes teóricas por detrás. Duração, gravidade e as características das perturbações tornou-se mais possível de analisar, devido à sua abordagem ser fenomenologica-descritiva e utilizar critérios diagnósticos operativos. Têm uma estrutura categorial. Desaparecem as “neuroses”como entidades nosológicas, ocorrendo assim, o enfraquecimento dos conceitos psicanalíticos. Consagra uma abordagem psicossocial das doenças psiquiátricas: para além das entidades primárias ou dominantes, esta abordagem tem em conta o tipo de personalidade, perturbações físicas concomitantes, situações de stress elevado, nível de funcionamento do doente. Existem 5 eixos para se fazer isto. Começa-se a dar importância, às perturbações psicológicas. DSM-III R (revista): foi publicada em 1987, teve um enorme impacto a nível mundial. Surge a definição de PM (existência de aspectos psicológicos e comportamentos tem uma disfunção subjacente que em conjunto vão provocar mal-estar e perturbação ao doente). André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 7 Reconhecimento da existência de etiologias multifactoriais (existem muitos factores subjacentes, como os culturais, individuais) e de subjectividade no processo diagnóstico. Preponderância do formato politético: é necessário ter um determinado número de sintomas de uma lista de sintomas mas não é necessário tê-los todos. Por exemplo: depressão major são apenas 5, ataque de pânico são 4, de 13 sintomas. Assim, permite uma maior flexibilidade no diagnóstico e também permite que indivíduos com a mesma perturbação possam ter diferentes sintomas. O formato monotético requer todos os sintomas. Ocorreu a modificação do eixo V (nível de funcionamento do doente) que se passa a chamar de avaliação global do funcionamento do sujeito; deixa de estar limitado ao ano anterior ao diagnóstico tendo em conta uma escala de medição própria. Por fim, existe uma precaução relativa à utilização da DSM em diferentes culturas. Isto porque, temos que ter em conta as diferenças de valores, linguagem quando os sujeitos exprimem mal-estar. DSM-IV: foi publicada em 1994, com participação de diferentes profissionais, psicólogos e psiquiatras. Têm uma abordagem ateórica (não levanta hipóteses relativamente à etologia da maioria dos distúrbios, sendo muito elogiada por uns, criticada por outros). Recomendações para a sua utilização: Foi descoberto um maior número de distúrbios, mas também existem muitos que ainda estão à espera de serem descobertos (o facto de se omitir um distúrbio não significa que ele não exista). Possuem mais do que 120 condições clínicas do que a anterior edição. Ter uma lista de critério não substitui o treino profissional e muitas outras aptidões que um clínico mental necessita de ter. Maioria das vezes foi aplicada somente na cultura americana e canadiana, o que pode não ser fácil a transmissão desta para outras culturas. Devemos ter em conta a cultura dos sujeitos (pode não ser uniforme/aplicável a todas as culturas). Não pudemos descrever rótulos diagnósticos nestes casos. O DSM-IV e aspectos legais, como por exemplo, um sujeito tem um distúrbio mental que é diagnosticado pela DSM-IV, não o torna inimputável (ausente de responsabilidade legal). Aula Prática nº2:15/3/07 Fobia Social É o mais frequente distúrbio ansioso, sendo o terceiro distúrbio psiquiátrico mais comum. É uma perturbação da ansiedade, um grau extremo de ansiedade. A ansiedade não é tudo ou nada. Ninguém tem ansiedade 0, toda a gente tem ansiedade, difere é de grau. Existe uma ansiedade normal que dizemos que é uma resposta adaptativa que permite adaptar o sujeito ao meio ambiente. Por exemplo: responder mais rápido a estímulos. Tem um efeito positivo no comportamento humano e é essencial para o desempenho social. É graças à ansiedade que temos uma resposta eficaz. Por exemplo: se aproxima um carro ou um animal de nós, a ansiedade permite que nós tenhamos uma resposta que ajuda a resolver os problemas nestas situações. Há perturbações que em determinados contextos geram altos níveis de ansiedade e então esta deixa de ser adaptativa e passa a ser prejudicial para a pessoa (intervêm na qualidade do funcionamento da pessoa), vai ser dado com mais detalhe na aula teórica. Portanto, a experiencia de graus ligeiros de ansiedade em situações sociais é um fenómeno frequente. Eu estou muito/pouco ansioso. A ansiedade patológica (fobia social) surge em situações sociais que interferem com o funcionamento social do indivíduo (o sujeito sentese sempre avaliado). Por exemplo: em conferências, quando quer perguntar numa aula qualquer cena, na rua, estar no café, conhecer uma pessoa, ou seja, do mais/menos banal de André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 8 uma situação social em que o sujeito se apercebe avaliado pelos outros. Nestes casos, o sujeito tem receio de ser avaliado negativamente, parecer ridículo, tolo, desajustado, não estar altura da situação e ver o seu estatuto pessoal diminuído desperta graus tão elevados de descontentamento e medo, ficando a vida diária severamente limitada. A fobia social é uma ansiedade tão grande que vai influenciar o funcionamento do sujeito. Por exemplo: pode levar a que o sujeito evite ir a exames, a orais. O seu valor como pessoa é espelhado por aquele desempenho nas determinadas situações sociais. Por exemplo: se chumbo numa unidade curricular fico condenado para outros anos, porque ele vai achar que sou completamento burro. Por isso as pessoas evitam, fogem a essas situações. O modelo da fobia social: Situação social Processamento Antecipatório Activação de suposição Autópsia Comportamento de segurança Percepção de perigo social EU como objecto social Sintomas somáticos e cognitivos Existe uma situação social, por exemplo, uma apresentação em público, concurso da televisão, o que é importante é que eu activo uma suposição acerca de mim próprio e essa tem a ver com o não conseguir fazer isto, vou parecer ridículo, vai ser uma vergonha, uma humilhação, eu não tenho competências, por isso vai ser vergonhoso. Isto acarreta a percepção de perigo social. Por exemplo: vou ser gozado pelos outros, vou ser rejeitado, vão me achar desinteressante, diminuo assim o meu estatuto social. Quando há a percepção de perigo social existe uma resposta fisiológica. Esta faz com que haja uma sintomatologia somática de ansiedade, tais como: tremores, suores, aceleração do batimento cardíaco, tonturas, náuseas, vómitos, aperto do peito, secura na boca, sensação de dificuldade em respirar, e corar. Gera-se um ciclo que se chama de sintomatologia cognitiva ansiosa. Esta tem a ver com o conteúdo dos pensamentos quando estou a ser confrontado com uma situação social. Estes pensamentos tem a ver com: fracassos (sou sempre a mesma coisa), falta de competências para originar uma impressão positiva, preocupação com a aparência e com a possibilidade de ser avaliado negativamente. O medo de avaliação negativo é que leva à rejeição do outro. Por exemplo: a Ana tem uma fobia social em que evita ir a jantares de cursos, porque acha que não tem conversas interessantes, acha que não tem competências para saber estar nesses sítios, situações. Quando há jantares de curso ela dá sempre uma desculpa para não ir. Esta resposta comportamental é uma resposta de evitamento. Mas, houve um dia que decidiu ir, no entanto, ela pensou que se ia sentir mal, porque já sabia como era, então tem que se proteger (processamento antecipatório). Quer isto dizer que por antecipação está a imaginar a situação e o tipo de comportamento que vai ter. O processamento antecipatório faz com que o problema se mantenha. Então, ela imaginava que o melhor era sentar-se na ponta, de cabeça para baixo, porque assim dá menos nas vistas e não dá uma impressão tão negativa. Teve o maior do tempo de cabeça baixa para não lhe fazerem perguntas. Em situações que ela não evita o perigo social utiliza um comportamento de segurança que tem como objectivo proteger-se dos seus receios. No sentido de tentar disfarçar ou diminuir a visibilidade dos sintomas físicos da ansiedade André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 9 desenvolvem um conjunto de comportamentos destinado a disfarçá-los. Estes comportamentos constituem um factor importante na manutenção da fobia social. Os comportamentos de segurança têm um efeito paradoxal e serve para manter o distúrbio. Por exemplo: ela está com um conjunto de amigos e quer beber um café, mas ela não quer que os seus amigos vejam ela a tremer das mãos quando bebe o café. Então ela vai apertar com tanta força na chávena que acaba por tremer (efeito contrário). Isto comprova que nós não controlamos os sintomas vegetativos da ansiedade, é um sistema automático e por isso para não termos problemas devemos aprender a lidar com isso e não focarmos apenas num problema/situação, mas num todo. Quando sentimos ansiedade achamos que os outros a vêm. No dia-a-dia este tipo de sintomas não é muito visível. Como é que os sujeitos vêm que eu me sinto ansioso? Quando eu me sinto ansioso é tão forte que parece que os outros sentem. Pode ser tão forte para mim, mas os outros não vêm, por isso se mantêm a fobia social. Quando acaba a situação ele utiliza outro mecanismo: autopsia da situação. Como me comportei? O que é que eu fiz? O que é que eu disse? Como não consigo processar a informação toda, vão entrar algumas coisas, que vão ser filtradas. Na situação social o sujeito vai estar atento aos seus fracassos e fenómenos de rejeição, porque é o que é importante para ele. Ele só vê as coisas negativas, logo acha-se ridículo. Nós temos 1000 comportamentos, expressões e ele vai fazer um processamento enviesado que confirma sempre a mesma ideia. Por isso é um ciclo vicioso que mantêm sempre a mesma ideia. Fotocópias da DSM-IV acerca dos critérios da fobia social. Aula Teórica nº3: 22/3/07 Avaliação Multi-axial da DSM-IV Eixo I: perturbações clínicas e outras situações clínicas que podem ser foco de atenção médica Eixo II: perturbações da personalidade e deficiência mental Eixo III: estado físico geral Eixo IV: problemas psicossociais e ambientais Eixo V: avaliação global do funcionamento O objectivo dos eixos é facilitar a avaliação, fazendo com que ela seja o mais possível completa e sistemática. Permite melhorar a organização da informação clínica e dos profissionais. Tem em conta o sujeito como um todo biopsicossocial: aborda as patologias nas mais diversas vertentes: biológicas, psicológicas e do âmbito social. As avaliações podem ser multiaxiais, ou seja, incluem perturbações de vários eixos ou várias perturbações do mesmo eixo. Nas avaliações há códigos específicos alfanuméricos que indicam os diagnósticos realizados (falta de informação; sem diagnóstico; perturbação do eixo I/II…) Eixo I: perturbações clínicas e outras situações clínicas que podem ser foco de atenção médica Perturbações que aparecem, habitualmente, na primeira e na segunda infâncias ou na adolescência (excluindo deficiência mental que é diagnostica no eixo II) Delirium, demência e perturbações mnésicas e outras perturbações cognitivas Perturbações mentais secundárias e um estado físico geral Perturbações relacionadas com substâncias Esquizofrenia e outras perturbações psicóticas Perturbações do humor André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 10 Perturbações da ansiedade Perturbações Somatoformes: são de somatização (dor, sintomas sexuais, pseudoneurológicos) Perturbações factícias Perturbações dissociativas Perturbações de identidade de género Perturbações do comportamento alimentar Perturbações do sono Perturbações do controlo dos impulsos SOE Perturbações de adaptação. Problemas psicossociais Problemas relacionados com abuso físico e sexual Problemas relacionados com a profissão e académicos Problemas relacionais (conflito entre adolescentes e pais). Pode não haver psicopatologia nos 2, mas podemos acompanhar à mesma a situação. Mas pode acontecer que um dos parceiros tenha uma perturbação deste eixo ou ter um quadro psicopatológico relacionado com o conflito. Por exemplo: uma depressão associada a problemas conjugais ou relação entre pais e filhos. Uma situação muito frequente é a situação de luto em que o sujeito procura ajuda para alguns sintomas que são característicos de uma depressão major, que acontece depois de morrer alguém que lhe é querido. Considera que o seu estado de humor é normal para a circunstância. Se não passaram 2 meses após o falecimento, não pudemos dizer que é uma depressão major, para além disso há critérios para fazer o diagnóstico. Um critério para diagnosticar para além do temporal é o do sentimento de culpa (podia ter feito qualquer coisa para evitar a morte dele), ideias de morte (eu devo morrer), ideias de desvalorização, lentificação psicomotora, acaba por ocorrer uma diminuição substanciada do seu nível de funcionamento e podemos ter algumas experiências alucinatórias (vê a imagem do falecido). O luto patológico pode ser alvo de estudo médico como sendo uma reacção normal de luto que pode ser alvo de estudo e pertence ao eixo I. Distimia: perturbação do humor que se arrasta durante 2 anos. O diagnóstico principal/razão da consulta é a distimia e a depressão major. Outras situações clínicas que podem ser foco de atenção médica: factores psicológicos afectam o estado físico geral (doença orgânica). Por exemplo, uma depressão pode ser mais lentamente recuperada se ocorrer um enfarte do miocárdio. Aqui estão incluídas as PM todas excepto as da personalidade que são incluídas no eixo II. O sujeito pode ter uma PM do eixo I e outra do II, o diagnóstico principal é do eixo I. Se o terapeuta não tiver de acordo deve enunciar isso. Caso não haja nenhuma perturbação, põe-se o código Z03.2. Pode também acontecer o diagnóstico estar em suspenso então põe-se um código especial. Eixo II: Perturbações da personalidade e Deficiência Mental Perturbação Paranóide da Personalidade Perturbação Esquizóide da Personalidade Perturbação Esquizotípica da Personalidade Perturbação Anti-Social da Personalidade Perturbação Estado-limite da Personalidade Perturbação Histriónica da Personalidade Perturbação Narcísica da Personalidade Perturbação Evitante da Personalidade André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 11 Perturbação Dependente da Personalidade Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade Perturbação da Personalidade em outra especificação Deficiência Mental Mecanismos de defesa ou estilos de coping: Negação: o sujeito enfrenta conflitos emocionais ou factores de stress internos ou externos recusando-se a reconhecer alguns aspectos dolorosos da realidade externa ou das experiências subjectivas que são manifestas para os outros. O termo negação psicótica emprega-se quando há um défice grave do teste da realidade. Idealização: atribuir qualidades positivas excessivamente aos outros, os pais como pessoas perfeitas. Intelectualização: uso excessivo de pensamento abstracto, generalização, para tentar controlar o impacto devastador das emoções que causam mal-estar. Projecção: atribuir aos outros os nossos próprios sentimentos. Racionalização: escondendo as verdadeiras motivações dos seus pensamentos, acções ou sentimentos, através da elaboração de explicações que respondem às suas necessidade e são tranquilizadoras, mas incorrectas. Repressão: expulsa da sua consciência ou faz-se desentendido cognitivamente dos desejos, pensamentos ou experiências que lhe causam mal-estar. A componente afectiva pode manter-se activa na consciência, desprendida das ideias que lhe estão associadas. Auto-afirmação: é possível estudar isto na fobia social, isto porque, expressa directamente os seus sentimentos ou pensamentos, de forma não coerciva nem manipuladora. Sublimação: canaliza os sentimentos/impulsos potencialmente desadaptativos para comportamentos socialmente aceites (por exemplo, desporto de contacto para canalizar impulsos agressivos). Supressão: evita intencionalmente pensar em problemas, desejos, sentimentos ou experiências que lhe provocam mal-estar. O sujeito pode ter mais do que uma perturbação/deficiência, pode haver vários diagnósticos. Eixo III: Estado físico geral (com códigos ICD-10) Certas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) Neoplasias (C00-D48) Doenças Hemáticas e dos Órgãos Hematopoiéticos e algumas doenças imunitárias (D50D89) Doenças endocrinológicas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) Doenças do Sistema Nervoso (G00-G99) Doenças do Olho e dos Anexos (H00-H59) Doenças do Ouvido e da Apófise Mastoideia (H60-H95) Doenças do Sistema Circulatório (I00-I99) Doenças do Sistema Respiratório (J00-J99) Doenças do Sistema Digestivo (K00-K93) Doenças da Pele e dos Tecidos Subcutâneos (L00-L99) Doenças do Sistema Muscular esquelético e do Tecido Conjuntivo (M00-M99) Doenças do Sistema Geniturinário (N00-N99) Gravidez, parto e puerpério (O00-O99) Certas situações com origem no período perinatal (P00-P96) André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 12 Malformações congénitas, Deformações e Anomalias Cromossómicas (O00-O99) Sintomas, Sinais e Dados Clínicos e Laboratoriais Anormais, SOE (R00-R99) Traumatismo, Intoxicação e outras consequências de factores externos (S00-T98) Causas Externas de Morbilidade e de Mortalidade (V01-Y98) Factores que influenciam o estado de saúde e o recurso aos serviços de saúde (Z00-Z99) Inclui uma série de situações orgânicas, porque a sua existência pode ser importante para a compreensão das PM. A relação entre a doença física e as PM é diversificada: as PM podem estar relacionadas com um estado físico, mas um estado físico pode, por sua vez relacionar-se com uma PM. Por exemplo: a anorexia que tem como factor responsável do desenvolvimento um problema orgânico a PM. Outro exemplo: o sujeito possuir hipertiroidismo com características depressivas e por causa disso ter uma perturbação do humor. Assim, quando existe uma relação etiológica entre estado físico e mental isso deve ser referido no diagnóstico. Quando na relação é o estado mental que desencadeia o estado físico representa-se no diagnóstico a perturbação no eixo I/II e a doença física no eixo III. Quando não existe uma relação clara entre PM e doença orgânica não pudemos falar de PM devido a uma doença orgânica. Assim, pode haver uma situação que uma perturbação do eixo I é uma reacção do eixo IV. Por exemplo: uma reacção ontológica (doença crónica) sem problemas depressivos. Pode acontecer que existe uma doença orgânica, mas que não está relacionada com PM do sujeito. Mas, de qualquer forma ele tem que tomar em conta a doença orgânica na terapia. Por exemplo: se o sujeito tem arritmia e depressão major. Ele tem que saber disso para saber que medicamentos pode, por exemplo, receitar. Se não houver diagnóstico ou este for suspenso o código é o mesmo. Eixo IV: Problemas Psicossociais e ambientais Podem afectar: O diagnóstico A terapêutica O prognóstico das PM (eixos I e II) Há factores de stress que podem ser chamados de positivos. Por exemplo: promoção na carreira; nascimento de um filho. Mas se constituir um problema para a pessoa não pudemos codifica-lo neste eixo. Há um quadro clínico no qual, por exemplo, o nascimento de um filho pode ser entendido como um factor de stress. Quando está relacionado com uma perturbação obsessivo-compulsiva. Isto aparece por causa do tema da responsabilidade. A promoção na carreira também está relacionada com responsabilidade. Para além dos obsessivos também com o diagnóstico de uma fobia social (medo da avaliação negativa fica ampliado), será que os outros acham-me interessante? Desempenhei bem a tarefa? É preciso nós percebermos outra coisa importante é que estes problemas podem-se desenvolver no início de uma perturbação e também em indivíduos com psicopatologia, como os sujeitos com perturbações do comportamento vão ter problemas relacionais, familiares. A identificação dos problemas acontece no ano em que aconteceu a avaliação ou mais antigos que são alvo da atenção do clínico. Por exemplo, o stress pós traumático, situações de combate pode ser um problema que se arraste por 30,40 ou mais anos, que pode ser relevante para o momento presente, pode contribuir para a perturbação. É como a situação de abuso, pode já ter acontecido há muito tempo, mas é alvo de tratamento. Estão agrupadas em grandes categorias pedagógicas – rendimento escolar. Eixo V: Escala de Avaliação Global de Funcionamento (AGF) André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 13 Planear a terapêutica e ver o impacto desta. Permite ter uma ideia em termos globais recorrendo a uma única medida. Esta escala serve para avaliar o funcionamento: social, psicológico e ocupacional havendo um contínuo funcionamento. Tendo em conta a ideia de que as perturbações fazem parte de um continuum hipotético de 0-100, sendo o 100 o nível impossível de atingir (está tudo bem, não há qualquer problema) e o 0 (nível mais baixo que corresponde à ideia do doente mental clássico). Não se inclui deficiências ao nível físico e ambiental. Pode ser feita no momento do diagnóstico (admissão) ou no momento em que se dá a alta ao doente. Aula Prática nº3: 22/3/07 História Clínica: Fobia Social Formulação: articulação dos dados repetidos. Vamos dizer o porquê do sujeito ter desenvolvido uma psicopatologia utilizando os dados recolhidos. Predisponentes; mais distantes Precipitantes: antes da perturbação Manutenção: mantêm a perturbação Motivo da Consulta: como chegou à consulta? Foi sugerido pelo director de turma e uma psicóloga da escola, precisa de uma ajuda especializada. Sempre que possível utilizar as verbalizações do doente:”Muito, muito introvertido, não é muito social nem comunicativo”, “Sempre fui muito tímido”. A mãe considera que ele só tem um amigo e fala o mínimo indispensável com a família e parece que anda de lado na rua (cabeça no chão). 1. Dificuldades actuais: descrição do doente – ansiedade e timidez que se nota numa postura tensa e retraída, dificuldades em falar (tom baixo, esquecer-se do que ia dizer, atrapalhava-se com as palavras, evitar contacto directo e apresenta manuseamentos), foi considerado um caso ansioso. 2. Identificação das áreas de dificuldades: tem praticamente em todas as situações sociais. Na área de bom funcionamento: jogar computador, gosta de estudar, ter boas notas, mas aqui melhoria se conseguisse participar e tirar dúvidas. As suas dificuldades centram-se quando tem que ter contacto com o outro “não me sinto à vontade com as pessoas”. Fez uma hierarquização das pessoas: Falar com os colegas. Participar nas aulas Pedir informação na rua Ir lojas, cafés ou outros locais públicos. Sente um desconforto significativo quando atende o telefone, demora muito tempo a responder mesmo que a resposta seja básica: “a tua mãe está ou não esta”, não é que ele não saiba, mas com a ansiedade atrapalha-se. Tem medo de andar de autocarro:”medo de pisar os outros”, evita WC público, porque tem medo que as outras pessoas pensem que é um tarado que só vai ao WC para ver as pilinhas dos outros rapazes. Quando tem mesmo que ir, Lourenço, tenta chegar lá e despachar-se o mais rápido, de forma a verem que ele precisava mesmo de ir lá. A ansiedade dificulta e atrasa a sua própria urina. Em vez de ser mais rápido é mais lento o que faz com que existe uma maior probabilidade de entrar alguém e perguntarlhe o que é que ele está ali a fazer. Na rua sente mal-estar quando está atrás de alguém devido ao medo que pensem que é louco e que os anda a seguir. No contexto escolar, não participa com medo de ser avaliado pelos outros como: “tontinho, burro, imbecil”. Fica no lugar mais ao fundo possível e quando sente que atenção lhe é dirigida “faço de conta que não é nada comigo, concentro-me muito numa coisa, e desvia o olhar”. Quando vai almoçar ao BAR André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 14 preocupa-se em pedir algo que sabe que existe para evitar falar ou mostrar sinais de indecisão. Para falar o mínimo possível e o mais rápido possível pede sempre o que se vê, porque assim tem a certeza que existe. Muitas vezes fica na aula ou vai para a sala de estudo para dar tempo que o BAR esvazie ou acaba por ir às máquinas. Lourenço diz que não tem amigos e acha que não tem interesse as suas conversas. Falam de “futebol, raparigas, saídas à noite, música, filmes e eu não sei falar disso”. Então ele foge a isso. Tem dificuldades em manter o contacto visual com os outros (não sabe qual o olhar certo). Tem muito medo, sente-se desajeitado a olhar para o outro. Tem medo de olhar de uma forma intrusiva, “começo a olhar que estou a olhar há tempo demais e fico com medo”. 3. Interferências nas várias áreas da vida Sente que estas dificuldades em interagir perturbam e interferem na vida diária. Considera que a área afectada pelas suas dificuldades é a das suas relações familiares, mas acredita que se sentiria melhor caso conseguisse expressar a sua opinião e “ter um papel mais activo nos assuntos lá de casa, principalmente com o meu pai”. 4. Inicio e desenvolvimento das dificuldades Ele não convivia, mas achava que não era problema dele. Considera que actualmente se preocupa mais com as opiniões dos outros, mas nem sempre foi assim, esta preocupação é recente. 5. História e desenvolvimento e aprendizagem previa É fruto de uma gravidez sem qualquer complicação, tudo nascido a tempo normal. Durante a sua própria infância não se regista algum problema de saúde relevante ou qualquer dificuldade no seu desenvolvimento psicomotor. Na infância sempre se sentiu que os pais o super protegiam “principalmente o meu pai que só me deixava andar livremente dentro de casa”. Descreve o pai como sendo extremamente exigente e critico “achava que se podia fazer sempre melhor”. Por exemplo: tirei 20 pai, só? Os olhos do pai iam sempre para o erro. Nunca fazia o suficiente para o pai estar completamente satisfeito com ele “eu sei que esta ideia de que tenho de fazer tudo bem e que faço o que fizer podia sempre ter feito melhor vem do meu pai”. “Temos que estar atentos ao nosso comportamento para não incomodar os outros e para que eles não nos caiam em cima”. O que mais perturba o Lourenço são os erros sistemáticos do pai “ podias fazer melhor”, “tem cuidado com os outros”, isto é mais perturbante do que ser atacado por um cão. A ideia que tenho de mim é a ideia que o meu pai tem de mim. Por exemplo: gosto do teu desenho é diferente do que dizer que tens que desenhar mais, esforçar-te mais, isto ainda não está bem. Portanto, estas SMS são muito importantes. “Eu sinto que ele me inibiu e diminui a minha autoconfiança”.”Sei que muitas das minhas dificuldades se devem à super protecção deles, porque nunca me deixam desenrascar sozinho”. Em relação à mãe, é mais atenciosa, carinhosa e dedicada. Ela exige, mas não exige mais do que ele pode dar. È controladora: “sai do computador”. “Porque não sais com os teus amigos?”Em relação ao irmão mais novo, tem uma relação distante, fala muito pouco “as conversas não vão muito além das discussões sobre que vai para o computador”. Os pais não convivem muito com outras pessoas, só em ocasiões especiais. 6. Formulação: preenche todos os critérios para o diagnóstico da fobia social. Critério A: tem medo intenso e persiste em várias situações sociais. Está relacionado com o comportar-se de modo humilhante ou embaraçador. Critério B: quando exposto a uma situação social sente quase sempre ansiedade extrema. Critério C: Medo é excessivo ou irracional. Critério D: situações fóbicas são evitadas ou quando não são evitadas geram ansiedade ou mal-estar. Critério E: evitamento, antecipações ansiosas ou mal-estar nas situações sociais ou de desempenho interferem na sua vida. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 15 Tem o subtipo generalizado uma vez que receia ser humilhado e avaliado negativamente num amplo espectro de situações de interacção social e de desempenho. Identificação de factores: Predisponententes (factores mais distantes): traço de inibição comportamental (traço de personalidade) – “sempre fui uma criança tímida, introvertida e pouco sociável”, com poucos amigos. Para além de ser inatas, fica clara a influência de factores familiares na predisposição desta psicopatologia. Os nossos comportamentos aprendemos por imitação (modelação). Evidencia-se num ambiente familiar pouco promotor de experiências sociais que poderão ter impedido desenvolver uma série de aptidões e competências para lidar com situações de interacção social. Destacamos, as atitudes educativas por parte do pai que promoveram experiencia de isolamento e vivências de sentimentos de diferença, inadequação e inferioridade. A figura paterna terá provavelmente transmitido que o seu esforço nunca será suficiente. Por mais que fizesse não seria suficiente o que fez com que ele se sentisse desadequado. Por outro lado o controlo paterno e a super protecção pode ter ajudado a desenvolver a percepção de si como dependente e incapaz, assim como o desenvolvimento de expectativas de autoeficácia baixas. Devido a todos estes factores hipoteticamente desenvolveram-se crenças nucleares (modelos internos sobre nós próprios) baseadas em temas de inferioridade e incompetência, tais como: “sou inferior”; “só faço asneiras”; “sou desinteressante”; “os outros são muito críticos e exigentes”. As crenças de ineficácia e de incompetência para lidar com situações sociais, conjugadas com uma aumento de vulnerabilidade à avaliação dos outros levam a um processamento selectivo das situações sociais como de AMEAÇA, porque não se considera CAPAZ DE PROVOCAR UMA IMPRESSÃO POSITIVA nos outros. Estas crenças vão modificar o nosso processamento da informação. Não pudemos processar toda a informação, então tem que haver uma selecção. Muitas vezes esta selecção é o que é fundamental para nós. Por exemplo, eu sou despistado mas nunca me esqueci de uma data de um exame. Esta selecção começa por um processo de atenção selectiva (dá-se importância a alguns tipos de informação que são importantes). Eu só posso reter, memorizar o que estou atento. Vou estar especialmente atento a sinais de incompetência (crenças nucleares). Por exemplo: um desgraçadinho, que os pais o abandonaram aos 3 anos de idade, forma uma crença de eu ser desinteressante, só faço asneiras e de que me vão abandonar. O doente está sempre à procura de factos que comprovem a sua crença, por exemplo, o sujeito pode interpretar situações como formas depreciativas da sua pessoa – depressão. A pessoa só se lembra de coisas más. Têm uma atenção selectiva para as coisas más. As minhas crenças criam profecias e depois interpretam tudo negativamente. Ele afasta-se, porque tem as crenças disso e acredita que vai acontecer, então faz isso e confirma assim as suas profecias. Identifica um acontecimento como precipitante de uma fobia social, um episódio em que recebe um telefonema de uma amiga da sua mãe que, num momento de silêncio prolongado terá comentado:”O filho da Antónia deve ser doidinho”. Posteriormente esta situação, Lourenço começa pela primeira vez a preocupar-se e começa a manifestar essa preocupação e ansiedade com a avaliação dos outros. Modelo Cognitivo de Clark e Wells: por exemplo uma conferência difícil, em que penso que não vou ser capaz disto, gera-se um sinal de perigo não físico, mas inibição de estatuto, humilhação. Se há perigo começa a bater forte o coração, começa a gaguejar e ninguém me percebe. Então que depois faço? Fujo à situação ou enfrento-a, mas com precauções. Autofocus: monitorização e observação detalhada (“estou a corar”, “você acha isto anormal”). É uma espécie de uma lupa que vai ampliar. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 16 TPC: registar na nossa cabeça durante 3 minutos para ver o que se está a passar no nosso dedo do pé e depois contamos à professora. Aula Teórica nº4: 29/3/07 A ansiedade é uma emoção +-forte que todos nós podemos sentir. Medo O medo é um estado mental, processo cognitivo que corresponderá avaliação de um perigo actual ou potencial numa dada situação. É activado quando uma pessoa é exposta física ou psicologicamente a uma situação que considera ameaçadora ou quando pensa ou fala dessa situação. É muito comum nos indivíduos que têm uma fobia específica, a fobia a sargue. Basta ouvirem a descrição de um acidente que começam a ficar ansiosos. Podem apresentar a sensação de desmaio, transpiração que leva aos sujeitos a retirarem-se da situação. Por exemplo: fobia de desempenho, bastar pensar numa oral, que o sujeito tenta antecipar mentalmente a situação para sentir-se ansioso (apreensivo, tenso, angustioso). Não é preciso o confronto real com a situação, nós antecipamos as situações, reagimos a elas quando estão na nossa mente não precisa do confronto físico. Ansiedade É uma resposta emocional à avaliação envolvida no medo. Quando intensa é vivida como uma resposta desagradável, dependendo da perturbação pode ser vivida também como ameaçadora, para o bem-estar, sobrevivência física (pânico). Nesta, a resposta ansiosa é avaliada como uma ameaça à sua integridade física e mental (estou-me a sentir assim é porque vou ter ataque cardíaco ou enlouquecer). Circuito psicobiológico: um estado mental que pode originar sintomas físicos que podem ser de várias formas: sudação, que pode potenciar uma experiencia subjectiva, psicológica de agitação. E também um estado físico pode originar um estado psicológico. Por exemplo: um sujeito que vai a uma velocidade dentro dos limites permitidos ouve uma sirene, a resposta imediata do sujeito pode ser de procurar um ambulância. Outra pessoa que vai a 180Km/h o primeiro sentimento é da polícia (“estou frito”) e tem uma experiência subjectiva de medo. Ocorre uma avaliação cognitiva diferente em relação à ameaça para o próprio, que vai conduzir a respostas biológicas (sintomas físicos) diferentes. A ansiedade pode ser uma resposta psicológica com poucas manifestações somáticas, mas também pode ter muitas manifestações somáticas. Por exemplo: a ansiedade em exames, pode ter sintomas gastrointestinais com bastante frequência e outro pode não sentir isso, ou seja, têm uma experiência subjectiva diferente. Pode ocorrer +-intensa fisicamente. Há uma predisposição biológica para sentir mais manifestações biológicas mais intensas da sintomatologia da ansiedade. Sintomas Cardiopulmonares A manifestação destes sintomas físicos da ansiedade e não da doença. Tais como: Palpitações Taquicardia Dispneia (desconforto em respirar, sensação de respiração incompleta) Sensação de sufocamento Dor no peito (..) Sintomas gastrointestinais André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 17 Depois de uma experiência de engasgamento, o sujeito ficou com medo de se engasgar. Ficou com muito medo de comer, começa a tentar controlar a forma como engolia o que levou a uma grande complicação. Primeiro com líquidos, depois sem líquidos, só comia papas. Sentia que é extremamente difícil, que as coisas não passam para baixo. O que a nós é um acto automático, nada impede a passagem do alimento (bolo esofágico). Sensação de peso Dor Náusea Diarreia Sintomas genito-urinários Micção frequente Retenção urinária… Sintomas neurológicos Cefaleias Vertigens Tremores Parestesias Visão turva Instabilidade na postura erecta e na marcha. Crise pseudo-epilépticas: dificuldades em ir ao supermercado e não andava direito nos corredores. Como não vou a direito corto as curvas, os cantos não consigo contornar. Pareço que vou meio a cair. Sintomas Gerais Fogachos de calor Sudação Sensação de desmaio (…) Todas as pessoas experimentam ansiedade, é partilhada por todos nós. Pode ser positiva, por exemplo, motivadora. Se não tivéssemos alguma ansiedade provavelmente não nos mobilizaríamos para o estudo, por exemplo, talvez estudar não fosse uma prioridade. Eu estudo muito melhor sob pressão. Estas pessoas sentem que se tiverem a 3 semanas do exame, lembram-se que têm de ir comer (tendência para acção). Depois, lembram-se que têm que pôr a loiça na máquina, estender a roupa, etc. Tudo parece mais importante, sedutor do que estar a estudar. Nas vésperas de exame, o estudo é maior e o sujeito diz que consegue estar a estudar durante 10horas. Esta função motivadora da ansiedade é uma função comum a todos nós. Tem também a vantagem de aumentar a atenção. 3 Semanas antes não me concentro tanto, mas se for nas vésperas tenho atenção concentrada no estudo, pode aumentar atenção. Pode criar um estado óptimo de vigilância mental e estado óptimo de tensão motora. Cria um estado óptimo de tensão motora que pode ser essencial para determinados desempenhos. Por exemplo: 100 metros, os músculos tem que estar no ponto determinado de tensão. Enquanto reacção normal em quantidade moderada pode servir para motivar e mobilizar o indivíduo. É normal e adequando quando é desencadeado por uma interpretação de um perigo real e se dissipa após o perigo ter passado. Por exemplo: na Austrália existem muitos tubarões então quando as pessoas estão no mar os níveis de ansiedade são intensos e são considerados anormais, quando não há um perigo real, por exemplo, quando temos pé e sabemos nadar bem. Quando é desadaptativo não está André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 18 relacionado com características da situação, é independente da situação. É constante, não passa quando passa o perigo, a ansiedade permanece. Ocorre uma alteração da atenção (redução da atenção) para menos, hiperactividade do SN, já o contrário na reacção normal. Ansiedade enquanto resposta humana comum com uma função adaptativa e protectora É uma vantagem evolutiva que deve ter contribuído para adaptação a um meio hostil, preparando-nos para fugir ou nos defendermos das ameaças. O problema residente na nossa sociedade prende-se com o facto das nossas ameaças mudarem. Por exemplo: estamos num beco escuro, ouvimos um barulho pensamos logo que é um ladrão. As ameaças são de outro género. Em termos de luta e fuga já não nos traz essas vantagens. Ansiedade Como alerta para a possibilidade de o indivíduo se ferir induzindo-o a parar qualquer actividade “imprudente” ou a defender-se. Por exemplo: as crianças vão aprendendo que podem subir para um muro do tamanho deles, mas vão começando a aprender a ter medo de alturas excessivas. Experienciar ansiedade faz parte de um mecanismo primitivo e automático de alarme e protecção. Esta é uma função protectora adaptativa da ansiedade que faz com que nos alerte para actividades de determinado risco. Cannon (1929) – paradigma da “reacção luta-fuga”. Cannon (1929-1935) Estudou os processos fisiológicos envolvidos na manutenção da homeostase. Resposta de luta-fuga: quando o indivíduo percebe que está a ser ameaçado, luta ou foge. Fisiologicamente envolve uma série de acontecimentos que começam com a estimulação do SN e do SE. Libertação da epinefrina (adrenalina) e da norepinefrina (noradrenalina) no sangue, aumento do ritmo cardíaco da tensão arterial (TA), no nível de açúcar no sangue, da respiração. Cannon: resposta de luta-fuga Nalgumas circunstâncias a resposta de luta-fuga pode ser adaptativa, porque o organismo é preparado para ter uma resposta rápida às ameaças físicas. Mas, esta mobilização rápida tem custos, pois perturba o funcionamento normal, e, quando é mantida por muito tempo, pode levar ao esgotamento das reservas de energia e potencialmente resultar em problemas de saúde. As ameaças com uma certa magnitude (níveis de stress críticos) perturbam a homeostase normal. Ansiedade enquanto problema cardíaco Enquanto que em níveis baixos ou moderados, a ansiedade é adaptativa, ajudando-nos na preparação para um desafio, por exemplo, para um teste escolar. Em níveis demasiados elevados de ansiedade, a concentração e o desempenho são prejudicados e o indivíduo começa a experienciar vários graus de invalidação no seu quotidiano. Por exemplo: fobia a exames pode levar ao facto de o sujeito ser incapaz de André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 19 estudar no período de preparação para exames. Invalida a sua vida, levando mesmo ao sujeito a não ir aos exames e muitas vezes a não entrar na faculdade. Ansiedade O pensamento do doente ansioso é dominado por temas de perigo, antecipando para si ou para pessoas próximas ameaças físicas, psicológicas ou sociais. Nós não nos preocupamos só connosco, mas também com os outros. Por exemplo: temos uma história clássica de 4 pessoas que viveram a mesma situação, que foi pisar “merda”. A primeira pessoa disse: vou já para casa, porque o resto do dia vai-me correr mal. A segunda pessoa disse: se volto para casa já não chego a tempo ao emprego, mas também, se for assim o que é que eles vão pensar de mim. Se chego tarde ainda me despedem, mas se for assim também não vão gostar. Que hei-de eu fazer? A terceira pessoa disse: se eu apanho o responsável de ter feito isto vai ter que se a ver comigo. A última pessoa disse: ainda bem, que não consegui calçar os sapatos (psicoterapeuta). Qual destas 4 pessoas manifesta o sentimento ansioso? A segunda pessoa. Pois, a primeira tem o sentimento de desvalorização e é uma pessoa deprimida (só se sente bem na cama). A segunda pessoa é ansiosa, porque antecipa a situação e é uma pessoa indecisa. Nas perturbações de ansiedade pudemos ter sujeitos que pensam, por exemplo, que se vou para casa vou empestar a casa com o cheiro (obsessivo-compulsivo) e se vou para o emprego eles vão dizer que eu sou um porco (fobia social). Assim, o indivíduo pode preencher os critérios para um ou mais distúrbios de ansiedade, dependendo do foco de apreensão ansiosa e dos componentes cognitivos e comportamentais da ansiedade. Perturbações de ansiedade Medo intencional e irracional. Desejo intenso de evitar ou abandonar a situação temida. Por exemplo: fobia escolar. Ansiedade intensa se exposto a ela. Percepção de alto risco numa situação relativamente inócua. Resumo O distúrbio de ansiedade é então uma reacção excessiva de mecanismos primitivos de defesa que foram úteis em termos evolutivos para a espécie humana, mas que actualmente podem ser mal-adaptativos. Ataque de pânico Individuo vai experienciar um conjunto de sintomas somáticos ou cognitivos (4 ou mais). Ocorre num período discreto que se inicia de modo súbito e aumenta rapidamente atingindo um pico (em geral em 10 minutos) acompanhado de intensa apreensão, medo ou terror, frequentemente associados com sentimentos de catástrofe iminente e um anseio por escapar. Durante esses ataques, estão presentes 13 sintomas cognitivos ou somáticos que são: Sensação de falta de ar ou sufocamento. Palpitações. Dor ou desconforto torácico. Medo de "ficar louco" ou de perder o controle. Sudorese. Tremores ou abalos. Sensação de asfixia. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 20 Náusea ou desconforto abdominal. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de si mesmo). Medo de morrer. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). Calafrios ou ondas de calor. Perturbação de pânico sem agorafobia É caracterizado por ataques de pânico inesperados e recorrentes ou que ocorreram pelo menos um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de uma (ou mais) das seguintes características: (a) Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais. O primeiro foi assustador e intenso e tem medo de ter mais. Por exemplo, tive um ataque de pânico quando fui às compras, então tenho medo que aconteça outra vez e então não posso ir sozinho. (b) Preocupação acerca das implicações do ataque ou as suas consequências (por exemplo, perder o controle, ter um ataque cardíaco, "ficar louco"). Por exemplo, se no caso de o ataque de pânico levar a uma queda e ter que se fazer exame à cabeça. (c) Uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques. Por exemplo, tenho que estar sempre contactável por isso não vou a um concerto; tudo o que possa representar alguma coisa grave na sua saúde ela não faz. Assim por exemplo, não vai de férias com a sua filha, porque tem que estar perto do hospital. Ausência de Agorafobia. Os Ataques de Pânico não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por exemplo, droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por exemplo, hipertiroidismo). Os Ataques de Pânico não são melhor explicados por outro transtorno mental, como: Fobia Social (por ex., ocorrendo quando da exposição a situações sociais temidas). Fobia Específica (por ex., ocorrendo quando da exposição a uma situação fóbica específica). Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., quando da exposição à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Stress Pós-Traumático (por ex., em resposta a estímulos associados a um estressor severo). Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., em resposta a estar afastado do lar ou de parentes queridos). Agorafobia Ansiedade acerca de estar em locais ou situações de onde possa ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível, na eventualidade de ter um Ataque de Pânico inesperado ou predisposto pela situação, ou sintomas tipo pânico. Os temores agorafóbicos tipicamente envolvem agrupamentos característicos de situações, que incluem: estar fora de casa desacompanhado; estar em meio a uma multidão ou permanecer em uma fila; estar em uma ponte; viajar de ônibus, trem ou automóvel. As situações são evitadas (por ex., viagens são restringidas) ou suportadas com acentuado sofrimento ou com ansiedade acerca de ter um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico, ou exigem companhia. Ansiedade ou esquiva agorafóbica não é melhor explicada por um outro transtorno mental, como: André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 21 Fobia Social (por ex., a esquiva se limita a situações sociais pelo medo do embaraço). Fobia Específica (por ex., a esquiva se limita a uma única situação, como elevadores). Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., esquiva à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação). Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., esquiva de estímulos associados com um estressor severo). Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., esquiva a afastar-se do lar ou de parentes). Transtorno de Pânico Com Agorafobia É caracterizado por ataques de pânico inesperados e recorrentes e que ocorreram pelo menos um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de uma (ou mais) das seguintes características: (a) Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais. O primeiro foi assustador e intenso e tem medo de ter mais. (b) Preocupação acerca das implicações do ataque ou as suas consequências (por exemplo, perder o controle, ter um ataque cardíaco, "ficar louco"). (c) Uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques. Presença de Agorafobia. Os Ataques de Pânico não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por exemplo, droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por exemplo, hipertiroidismo). Os Ataques de Pânico não são melhor explicados por outro transtorno mental, como: o Fobia Social (por ex., ocorrendo quando da exposição a situações sociais temidas). o Fobia Específica (por ex., ocorrendo quando da exposição a uma situação fóbica específica). o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., quando da exposição à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação), o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., em resposta a estímulos associados a um estressor severo). o Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., em resposta a estar afastado do lar ou de parentes queridos). Fobia Específica Medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objecto ou situação fóbica (por ex., voar, alturas, animais, tomar uma injecção, ver sangue). A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressada por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento aderente. O indivíduo reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. A situação fóbica (ou situações) é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 22 A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação temida (ou situações) interfere significativamente na rotina normal do indivíduo, em seu funcionamento ocupacional (ou académico) ou em actividades ou relacionamentos sociais, ou existe acentuado sofrimento acerca de ter a fobia. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de 6 meses. A ansiedade, os Ataques de Pânico ou a esquiva fóbica associados com o objecto ou situação específica não são melhor explicados por outro transtorno mental, como: Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., medo de sujeira em alguém com uma obsessão de contaminação) Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., esquiva de estímulos associados a um estressor severo) Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., esquiva da escola), Fobia Social (por ex., esquiva de situações sociais em vista do medo do embaraço) Transtorno de Pânico Com Agorafobia ou Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico. Especificar tipo: Tipo Animal. Tipo Ambiente Natural (por ex., alturas, tempestades, água). Tipo Sangue-Injecção-Ferimentos. Tipo Situacional (por ex., aviões, elevadores, locais fechados). Outro Tipo (por ex., esquiva fóbica de situações que podem levar a asfixia, vómitos ou a contrair uma doença; em crianças, esquiva de sons altos ou personagens vestidos com trajes de fantasia). Obsessivo-Compulsivo A. Obsessões, definidas por: 1) Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos (pessoas não querem ter), e inadequados, como por exemplo, estar à espera do comboio e ver uma pessoa ao pé da linha do caminho de ferro e pensar “Só me apetecia chegar ao pé da pessoa e empurra-la e ela cair dali abaixo”; “Dizer tudo o que queremos”e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. As pessoas que não possuem essa perturbação ao surgir um desses tipos de pensamentos não os consideram importantes, significativos. O que se verifica é que um sujeito com POC confunde pensamento e acção, surge pensamentos do tipo”Se eu tenho pensamentos homossexuais, então é porque na verdade o sou”; “Se tenho pensamentos em que violo pessoas, é porque na verdade sou um violador”. Eles querem evitar pensar nisso, no entanto é impossível nós controlarmos os nossos pensamentos assim como as nossas emoções. A única coisa que temos controlo são os nossos comportamentos. “Não vou pensar mais nisto”; “Não pense em girafa” e nós acabamos logo por pensar naquilo, estamos a manter o pensamento. Isto porque, ao proibir uma pessoa de pensar nisso, aumenta a probabilidade de pensar nessa mesma coisa. As obsessões podem ter várias temáticas: Agressão Sexualidade Sujidade e contaminação Somáticos Necessidade de simetria e exactidão Blasfémias (2) Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 23 (3) A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou acção. As obsessões geram muita ansiedade, então o sujeito procura diminui-la através das compulsões (comportamentos repetitivos) (4) A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos). A. Compulsões, definidas por: (1) Comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos 50 vezes, para ter a certeza que não tem sujidade, organizar, verificar) ou actos mentais (por ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. (2) Os comportamentos ou actos mentais visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida. Por exemplo: um pai ao ter o filho ao colo ocorre imagens sexuais que o leva a ter um conjunto de rituais, como rituais de lavagem, para tentar livrar-se desses pensamentos. Outro exemplo, que terá acontecido à minha mãe para ela estar a demorar muito tempo? O facto de dizer para uma pessoa para ela morrer, para eles aumenta a probabilidade de acontecer, então para evitar isso fazem uma compulsão, como por exemplo, bater na madeira. No entanto, esses comportamentos ou actos mentais não têm uma conexão realista com o que visam a neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. B. Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. Nota: Isso não se aplica a crianças. C. As obsessões ou compulsões causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de 1 hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, funcionamento ocupacional (ou académico), actividades ou relacionamentos sociais habituais do indivíduo. D. Se um outro transtorno do Eixo I está presente, o conteúdo das obsessões ou compulsões não está restrito a ele (por ex., preocupação com alimentos na presença de um Transtorno Alimentar; puxar os cabelos na presença de Tricotilomania; preocupação com a aparência na presença de Transtorno Dismórfico Corporal; preocupação com drogas na presença de um Transtorno por Uso de Substância; preocupação com ter uma doença grave na presença de Hipocondria; preocupação com anseios ou fantasias sexuais na presença de uma Parafilia; ruminações de culpa na presença de um Transtorno Depressivo Maior). E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral. No entanto, nalguns casos o consumo de drogas pode levar à diminuição da ansiedade. Especificar se com Insight Pobre: a maioria dos autores tem demonstrado que as pessoas que sofrem da POC, na maior parte do tempo durante o episódio actual, o indivíduo não reconhece que as obsessões e compulsões são excessivas ou irracionais. O mesmo doente pode alternar em períodos de maior insight (reconheceu que os sintomas são excessivos) e outros momentos que existe uma crença mais forte dos seus sintomas. Em contextos diferentes, pode ter também estes dois momentos. Pode acontecer que com o terapeuta pode reconhecer que são excessivos, mas depois ao ser confrontado com estímulos que provocam as obsessões diminuem o insight. Há variações nos vários contextos de trabalho. Transtorno de Stress Pós-Traumático A. Exposição a um evento traumático no qual os seguintes requisitos estiveram presentes: (1) A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros. Por exemplo: guerras. (2) A resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 24 Nota: Em crianças, isto pode ser expressado por um comportamento desorganizado ou agitado. B. O evento traumático é persistentemente revivido em uma (ou mais) das seguintes maneiras: (1) Recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas do evento, incluindo imagens, pensamentos ou percepções. Nota: Em crianças pequenas, podem ocorrer jogos repetitivos, com expressão de temas ou aspectos do trauma; (2) Sonhos aflitivos e recorrentes com o evento. Nota: Em crianças podem ocorrer sonhos amedrontadores sem um conteúdo identificável; (3) Agir ou sentir como se o evento traumático estivesse ocorrendo novamente (inclui um sentimento de revivência da experiência, ilusões, alucinações e episódios de flashbacks dissociativos, inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxicado). Nota: Em crianças pequenas pode ocorrer reencenação específica do trauma; (4) Sofrimento psicológico intenso quando da exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático; (5) Reactividade fisiológica na exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático. C. Esquiva persistente de estímulos associados com o trauma e entorpecimento da responsividade geral (não presente antes do trauma), indicados por três (ou mais) dos seguintes quesitos: (1) Esforços no sentido de evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas com o trauma; (2) Esforços no sentido de evitar actividades, locais ou pessoas que activem recordações do trauma; (3) Incapacidade de recordar algum aspecto importante do trauma; (4) Redução acentuada do interesse ou da participação em actividades significativas; (5) Sensação de distanciamento ou afastamento em relação a outras pessoas; (6) Faixa de afecto restrita (por ex., incapacidade de ter sentimentos de carinho); (7) Sentimento de um futuro abreviado (por ex., não espera ter uma carreira profissional, casamento, filhos ou um período normal de vida). D. Sintomas persistentes de excitabilidade aumentada (não presentes antes do trauma), indicados por dois (ou mais) dos seguintes requisitos: (1) Dificuldade em conciliar ou manter o sono (2) Irritabilidade ou surtos de raiva (3) Dificuldade em concentrar-se (4) Hipervigilância (5) Resposta de sobressalto exagerada. E. A duração da perturbação (sintomas dos Critérios B, C e D) é superior a 1 mês. F. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Especificar se: Agudo: se a duração dos sintomas é inferior a 3 meses. Crónico: se a duração dos sintomas é de 3 meses ou mais. Com Início Tardio: se o início dos sintomas ocorre pelo menos 6 meses após o estressor. Pode acontecer situações em que existe um período de sintomas e depois haver um período em que não existe sintomas e depois aparecerem novamente. A duração dos sintomas vai de 2-4 semanas. A perturbação de adaptação é diferente da perturbação de stress Pós-Traumático, pois o padrão de resposta não é igual. A resposta pode ser de ansiedade, depressiva, alteração do André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 25 comportamento, pode ser mista. O stress pode ser de qualquer gravidade. Em termos de critérios temporais ocorre 3 meses após o factor de stress ter acontecido. Terminam as consequências do stress, 6 meses depois do trauma. Perturbação de adaptação Resposta que se pode dever a comportamentos depressivos, por exemplo. Nalguns casos os sintomas podem desaparecer e em outras pessoas podem permanecer. Aula Prática nº4:29/3/07 Conclusão da aula anterior. Aula Teórica nº5: 12/4/07 Perturbação de ansiedade generalizada A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos 6 meses, com diversos eventos ou actividades (tais como desempenho escolar ou profissional, família, finanças). Quer isto dizer que, pode ser por múltiplas preocupações. B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos 6 meses). Nota: Apenas um item é exigido para crianças. (1) Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele (agitação) (2) Fatigabilidade (3) Dificuldade em concentrar-se ou sensações de "branco"na mente (4) Irritabilidade (5) Tensão muscular (6) Perturbação do sono (dificuldades em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto) – dificuldade em adormecer e manter a dormir. D. O foco da ansiedade ou preocupação não está confinado a aspectos de um transtorno do Eixo I; por ex., a ansiedade ou preocupação não se refere a ter um Ataque de Pânico (como no Transtorno de Pânico), ser embaraçado em público (como na Fobia Social), ser contaminado (como no Transtorno Obsessivo-Compulsivo), ficar afastado de casa ou de parentes próximos (como no Transtorno de Ansiedade de Separação), ganhar peso (como na Anorexia Nervosa), ter múltiplas queixas físicas (como no Transtorno de Somatização) ou ter uma doença grave (como na Hipocondria), e a ansiedade ou preocupação não ocorre exclusivamente durante o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. E. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. F. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo) nem ocorre exclusivamente durante um Transtorno do Humor, Transtorno Psicótico ou Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Os indivíduos com Perturbação de Ansiedade Generalizada também experimentam sintomas somáticos (por ex., mãos frias e pegajosas; boca seca; sudorese; náusea e diarreia; frequência urinária; dificuldade para engolir ou "nó na garganta", tiróide, respiratórios, metabólicos, André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 26 cardiovasculares, neuronais, etc.) e uma resposta de sobressalto exagerada. Os sintomas depressivos também são comuns. O Transtorno de Ansiedade Generalizada que ocorre com muita frequência com Transtornos do Humor (por ex., Transtorno Depressivo Major ou Transtorno Distímico), com outros Transtornos de Ansiedade (por ex., Transtorno de Pânico, Fobia Social, Fobia Específica) e com Transtornos Relacionados a Substâncias (por ex., Dependência ou Abuso de Álcool ou de Sedativos, Hipnóticos ou Ansiolíticos). Outras condições associadas ao estresse (por ex., síndrome do cólon irritável, cefaleias). Em contextos clínicos, o transtorno é diagnosticado com uma frequência um pouco maior em mulheres do que em homens (cerca de 55-60% dos indivíduos que se apresentam com o transtorno são mulheres). Em estudos epidemiológicos, a proporção entre os sexos é de aproximadamente dois terços de mulheres. Inclui Transtorno de Excesso de Ansiedade da Infância. Perturbação de ansiedade provocada por um estado físico geral São sintomas de ansiedade proeminentes que são considerados como consequência fisiológica directa de um estado físico geral. Não há referência desta perturbação na DSMIV. Perturbação de ansiedade induzida por substâncias Os sintomas derivados desta perturbação são considerados como sintomas de ansiedade proeminentes que são consequência fisiológica directa de um abuso de drogas, medicamentos ou exposição a tóxicos. Que pudemos especificar se a ansiedade é generalizada, com ataques de pânico, obsessivo-compulsivos ou fóbicos A. Ansiedade proeminente, Ataques de Pânico, obsessões ou compulsões predominam no quadro clínico. B. Existem evidências, a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais, de (1/2): (1) os sintomas no Critério A desenvolveram-se durante ou dentro de um mês após a Intoxicação ou Abstinência de Substância (2) o uso de um medicamento está etiologicamente relacionado com o distúrbio. C. O distúrbio não é melhor explicado por um Transtorno de Ansiedade não induzido por substância. As evidências de que os sintomas são melhor explicados por um Transtorno de Ansiedade não induzido por substância podem incluir as seguintes: os sintomas precedem o início do uso da substância (ou medicamento); os sintomas persistem por um período substancial de tempo (por ex., cerca de 1 mês) após a cessação da abstinência aguda ou severa intoxicação ou excedem substancialmente os que seriam esperados, tendo em vista o tipo ou a quantidade da substância usada ou a duração de seu uso; ou existem outras evidências sugerindo a existência de um Transtorno de Ansiedade independente, não induzido por substância (por ex., uma história de episódios recorrentes não relacionados à substância). D. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante o curso de um delirium. E. O distúrbio causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Nota: Este diagnóstico deve ser feito ao invés de um diagnóstico de Intoxicação com Substância ou Abstinência de Substância apenas quando os sintomas de ansiedade excedem os habitualmente associados com a síndrome de intoxicação ou abstinência, e quando os André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 27 sintomas de ansiedade são suficientemente severos para indicar uma atenção clínica independente. Codificar Transtorno de Ansiedade Induzido por [Substância Específica] (F10.8 - 291.8 Álcool; F15.8 – 292.89 Anfetamina (ou Substância Tipo Anfetamina); F15.8 – 292.89 Cafeína; F12.8 – 292.89 Cannabis; F14.8 – 292.89 Cocaína; F16.8 – 292.89 Alucinógeno; F18.8 – 292.89 Inalante; F19.8 – 292.89 Fenciclidina (ou Substância Tipo Fenciclidina); F13.8 – 292.89 Sedativos, Hipnóticos ou Ansiolíticos; F19.8 – 292.89 Outra Substância [ou Substância Desconhecida]). Especificar se: Com Ansiedade Generalizada: se houver predomínio de ansiedade ou preocupação excessivas acerca de diversos eventos ou actividades na apresentação clínica. Com Ataques de Pânico: se houver predomínio de Ataques de Pânico na apresentação clínica. Com Sintomas Obsessivo-Compulsivos: se houver predomínio de obsessões ou compulsões na apresentação clínica. Com Sintomas Fóbicos: se houver predomínio de sintomas fóbicos na apresentação clínica. Especificar se (aplicabilidade por substância): Com Início Durante Intoxicação: se são satisfeitos os critérios para Intoxicação com a substância e se os sintomas se desenvolvem durante a síndrome de intoxicação. Com Início Durante Abstinência: se são satisfeitos os critérios para Abstinência da substância e se os sintomas se desenvolvem durante ou logo após uma síndrome de abstinência. Perturbação da ansiedade sem outra especificação É incluída para codificar as perturbações de ansiedade ou evitamento fóbico proeminentes que não preenchem os critérios de nenhuma perturbação de ansiedade específica. Exemplos: 1. Transtorno ansioso-depressivo misto: sintomas clinicamente significativos de ansiedade e depressão, porém não são satisfeitos os critérios para um Transtorno do Humor ou um Transtorno de Ansiedade específicos. 2. Sintomas de fobia social clinicamente significativos, relacionados ao impacto social de ter uma condição médica geral ou um transtorno mental (por ex., doença de Parkinson, condições dermatológicas, Tartamudez, Anorexia Nervosa, Transtorno Dismórfico Corporal). 3. Situações nas quais o clínico concluiu pela presença de um Transtorno de Ansiedade, mas é incapaz de determinar se este é primário, devido a uma condição médica geral ou induzido por substância. Perturbação por ansiedade de separação Ansiedade relacionada com a separação de figuras parentais que habitualmente se desenvolve na infância: “perturbações que aparecem habitualmente na primeira e na segunda infâncias ou adolescência”. Não está incluída na DSM-IV André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 28 Fobia Social Costuma-se dar como exemplo clássico, o autor de seu nome Virgílio que escreveu a “Eneida”. O Virgílio tirou o curso de advogado que na altura era uma profissão muito prestigiada, de grande mérito, que ainda hoje o é. O que acontece é que na primeira vez que se apresentou ao tribunal para defender um caso seu, foi inibido por ser um homem pouco competente no seu desempenho. Na interacção com os outros, ele isolava-se, fugia do contacto social, escondia-se quando sai da rua e via alguém que conhecia. Passava a maior parte do seu tempo isolado e longe de toda a gente. Este exemplo mostra que alguém que escreve obras que são apreciadas e reconhecidas por muitos, no entanto ao exercer a profissão de advogado que exigia contacto com o outro era inapto. Pois, é inevitável o confronto e a interacção com o outro e por isso para muitos de nós pode ser desconfortável e patológico. Esta situação clínica é já conhecida há muito tempo, já Hipócrates falava no tempo da Grécia Antiga (séc.IV a.C.), da fobia social como sendo uma “reacção ansiosa desproporcionada na presença de outras pessoas”. Não é a ansiedade perante um estímulo que o justifique. É desproporcionada, temos um medo exagerado ao pé de uma pessoa. No século XIX, início do século XX surgiram descrições mais rigorosas e compreensivas e denominava-se a fobia social por antropofobia. Pierre Janet em 1903 já fala de “Phobie des situations sociales”, que consiste no receio de falar, tocar piano (típico da época) ou escrever na presença de outras pessoas. Refere-se portanto ao que hoje denominamos por fobia social específica. Em 1980, a fobia social foi incluída na DSM III.O que se tem passado com a fobia social já é conhecido há muito tempo, porque tem a ver com a nossa interacção com os outros. Verificou-se que durante muitos anos, a fobia social foi muito negligenciada ao nível da investigação, sendo o distúrbio de ansiedade mais esquecido, menos compreendido e também menos estudado. Mas nos dias de hoje houve um “boom” no estudo da fobia social e ela tem sido objecto de várias investigações, havendo uma série de modelos teóricos que permitem compreender a fobia social. Embora seja bem estudada, investigada e compreendida, ainda continua a ser muito pouco tratada (há tratamentos eficazes, mas para factores que vamos ver mais há frente é pouco tratada). A fobia social começa a ser estudada nos adultos primeiramente e só depois nas crianças (infância). Actualmente têm sido realizados esforços para a estudar melhor na infância. Os modelos dos adultos são adaptados às crianças. Há pelo menos 2 teses da nossa faculdade que falam sobre a fobia social. Continuum de gravidade: pode ir da timidez até à perturbação de ansiedade evitante. As experiências de ansiedade social são universais (nas várias culturas encontramos este fenómeno, ou seja, o receio de nos relacionarmos com os outros). Praticamente toda a gente experiencia AS, pelo menos ocasionalmente. É um quadro que normalmente nos identificamos bem. Por exemplo, a ansiedade de falar em público é frequente, cerca de 20%, mas há autores que até encontram até percentagens mais elevadas. Para além disso, pode sentir-se ansiedade numa grande variedade de situações sociais. Outras situações que nos pode ser indutora de ansiedade, como uma entrevista para o emprego, festa em que não conhecemos ninguém, falar com uma pessoas que está numa posição hierárquica superior. Então a ansiedade pode ir de ligeira a muito elevada. A ansiedade pode ser ligeira: pessoa não tem tanto prazer quanto poderia ter nessa situação – ansiedade normal. A ansiedade pode ser tão elevada que a pessoa fica incapaz de funcionar adequadamente, podendo mesmo fugir da situação – fóbico social. Por exemplo, um fóbico social ao ir a uma festa em que foi convidado. Em primeiro lugar tem vergonha em ter ansiedade e não fala dela a ninguém. Ou arranjava uma desculpa para não ir (evitamentos) ou então se fosse André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 29 punha-se a um canto, para ninguém reparar nele e ao pegar no copo, devido à enorme ansiedade que teria, começaria a tremer. Não sabia se devia ir para algum sítio, não sabia se deveria ir ter com alguém e passado 10 minutos iria embora, sem se despedir de ninguém. Não quer dar nas vistas e a maior parte das vezes faz evitamentos. Pudemos referir diferenças relativamente aos fóbicos sociais e aos indivíduos que possuem uma ansiedade considerada normal, nomeadamente: Frequência com que se sentem ansiosos nas situações sociais. O fóbico social acha-se ansioso com a família. Desvaloriza os sítios e actividades por onde passa, porque tem níveis elevados de ansiedade. Grau de desconforto experienciado (sintomas vegetativos). Frequência com que utiliza comportamentos mal-adaptativos para lidar com essas situações. Utiliza evitamentos que mantêm o problema, tem comportamentos de segurança, utiliza estratégias que de facto são mal adaptativas para tratar o problema, e é aqui que o terapeuta deve investir para resolver o problema. Fobia Social A. Medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais e de desempenho nas quais o sujeito está exposto a pessoas desconhecidas ou à possível observação de outras. O sujeito teme poder vir a comportar-se de modo humilhante ou embaraçador (ou mostrar mais sinais de ansiedade). Em crianças tem de existir evidência da capacidade para estabelecer relações sociais apropriadas para a idade com pessoas conhecidas e a ansiedade deve ocorrer com as crianças da sua idade e não somente nas interacções com adultos. B. A exposição à situação social temida provoca quase sempre ansiedade. Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por: Choros Birras Imobilidade Ou receio, nas situações sociais com pessoas desconhecidas. C. A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Em crianças esta característica pode estar ausente. D. A (s) situação (ões) fóbica (s) é (são) evitada (s) ou enfrentada (s) com intensa ansiedade ou mal-estar. E. O evitamento, antecipação ansiosa ou mal-estar, na (s) situação (ões) sociais ou de desempenho, interferem significativamente com as rotinas normais da pessoa, funcionamento ocupacional (ou académico), relacionamentos ou actividades sociais ou mal-estar acentuado por ter a fobia. Este critério tem gerado algumas críticas, porque também aparece noutras perturbações, pois é muito geral, devia estar mais claramente especificado. F. Em sujeitos com idade inferior a 18 anos, a duração é pelo menos de seis meses. G. O medo ou o evitamento não são provocados por efeitos fisiológicos directos de uma substância (drogas, medicação) ou um estado físico geral e não são melhor explicados por outra perturbação mental: Perturbação de Pânico com e sem Agorafobia Perturbação de ansiedade de separação Perturbação disfórmica corporal Perturbação global do desenvolvimento Ou perturbação esquizóide da personalidade André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 30 H. Se um estado físico geral ou outra perturbação mental estiverem presentes, o medo do critério A não está relacionado com ele. O medo não é de gaguejar, de tremer na doença de Parkinson ou de exibir um comportamento alimentar anormal na Anorexia ou Bulimia Nervosa. Especifique se: Generalizada (se os medos incluem todas as situações). Especifica: tem ansiedade numa ou outra situação. Considerar o diagnóstico adicional da perturbação evitante da personalidade. Perturbação evitante da personalidade (eixo II) Ainda é mais grave do que a fobia social generalizada. Tem as seguintes características: Padrão global de inibição social. Sentimentos de inadequação Hipersensibilidade à avaliação negativa Evitamento de situações interpessoais. É muito definidor do nome da perturbação. Critérios diagnósticos (4 ou mais): 1. Evitamento de ocupações que envolvam contactos interpessoais, por medo de críticas, desaprovação ou rejeição. 2. Pouca determinação no envolvimento com pessoas, a não ser com a certeza de ser apreciado. 3. Reserva nas relações intimas por medo do ridículo/ou de ser envergonhado. 4. Preocupações em ser criticado ou rejeitado em situações sociais. 5. Inibição em novas situações interpessoais por sentimentos de inadequação. 6. O indivíduo vê-se como inapto socialmente, sem encanto pessoal ou inferior aos outros. 7. Relutância em assumir riscos pessoais ou envolver-se em novas actividades porque podem ser embaraçosas. Algumas características clínicas relevantes num fóbico social: Medo de não causar uma impressão positiva ou de ser avaliado negativamente pelos outros em situações sociais. É frequente este tipo de doentes terem “esquemas de defeito”. Estão sempre à espera de “serem apanhados com as calças na mão”. “Vou dar barraca”. Preocupam-se a propósito do embaraço e do medo que os outros os julguem como ansiosos, fracos, “loucos” ou estúpidos. Acontece até com pessoas que tem bons desempenhos. Por exemplo: aconteceu com um professor universitário que era um bom professor, que todos gostavam dele tanto como professor como enquanto pessoa. Já dava aulas há muitos anos e tinha capacidades acima da média. No entanto, o professor achava que eles iam descobrir que era uma fraude e tinha a sensação que ia causar uma impressão que não vai ser boa por muito que ele se esforce. Ele pensa que vai causar uma impressão negativa por ser uma fraude. O que os outros vão pensar ao verem que ele está embaraçado: vão ver que sou inseguro, ansioso. Tinha uma série de sintomas a nível gastro-intestinal. Isto porque ele tinha receio de ter que abandonar a aula para ir à casa de banho e estava à espera que isso acontecesse e que todos os alunos o gozassem. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 31 Situações mais receadas Pudemos dizer que são muitas as situações receadas, mas as mais temidas e evitadas são: As situações de interacção com pessoas e familiares. Por exemplo: o professor que foi falado anteriormente não temia tanto o número, mas mais o facto de serem pessoas desconhecidas. No final dos anos tinham contacto mais especifico com alguns, porque já os conhecia e eles ao professor. Situações em que se sentem expostos a um possível escrutínio pelos outros (estão constantemente a ser avaliados pelos outros): “ Eles estão só a olhar para mim. Eles não estão a olhar uns para os outros”. “Mas, eles não estão olhar para o caderno”. “Devemos fazer muitos ou poucos gestos”? “Se fizermos muitos ou poucos a nós não importa, mas falar mais depressa já importa. O fóbico social sente que os outros o passam a pente fino. Alguns sintomas de ansiedade: Palpitações (característica da fobia social especifica) Tremores * * vêm-se Suores * Desconforto gastrointestinal Diarreia Tensão muscular * Rubor * Confusão Quanto mais medo tenho de tremer, mais tremo. Quanto mais medo tenho de suar, mais eu suo. Por exemplo: uma mulher que era fóbica social, tinha preocupação de andar com um lenço, para limpar as mãos, porque achava que transpirava muito das mãos e tinha vergonha de cumprimentar os outros com as mãos molhadas. Mas, tinha vergonha de mostras os lenços. Normalmente o fóbico social tem mais medo de transpirar da cara, porque é o nosso cartão de visita. O fóbico social ao sentir a cara transpirar começa logo a preocupar-se com as manchas que têm na roupa. Começa a pensar “já devo ter a camisa colada às costas”; “Estou-me a desvairar em água”. Em relação ao rubor, normalmente, preocupa-se muito com o corar, quanto mais se preocupa mais cora. “Eu começo a sentir que estou a ficar corada e quando noto fico que nem um semáforo”. Em relação à tensão muscular, quando saem de uma situação social ficam muito tensos. Por fim nas palpitações, é mais típico das apresentações em grupo (ansiedade especifica). Desconforto gastrointestinal: não é visível, mas pode originar algo que se pode ver e que pode ser apercebido pelos outros. Nível cognitivo Pensamentos caracterizados por temas de fracasso, incompetência para causar uma impressão positiva, preocupações com a aparência (dificuldades com o outro por causa de evitar expor-se, por exemplo, a dançar, porque não sabe o que fazer com o braço, com a perna, ou seja, sente-se inibido e preocupado. Preocupa-se muito em ter um aspecto asseado, a forma como se veste, de ter ou não roupa de marca, se é ou não adequada para as circunstâncias) e com a possibilidade de ser avaliado negativamente. Atenção auto-focada André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 32 Aumento da consciência de si mesmo que amplifica a percepção da sua ansiedade e diminui a atenção que dá aos estímulos exteriores. Por exemplo, o professor está concentrado nele mesmo, em ver o seu desempenho, se estava a tremer, se estava a ser claro. As suas manifestações somáticas e cognitivas são habitualmente vistas como fonte de ameaças. Eu estou a tremer é uma ameaça, porque me vão considerar ansioso (“os outros apercebem-se e vão humilhar-me, avaliar-me negativamente”). Na fobia social há uma ansiedade antecipatória: são doentes que sofrem antes do tempo. Por exemplo: ainda não estamos na reunião e já estão aflitos. Tentam prever as perguntas que lhe vão fazer. Tentam antecipar tudo, prever tudo, antecipar o pior e vão para a reunião cheio de apontamentos. Então, os doentes utilizam um conjunto de comportamentos de segurança, ou seja, um conjunto de comportamentos destinados a diminuir a visibilidade dos sintomas. Para se protegerem daquilo que eles receiam para disfarçar, desta forma, os sintomas. Características associadas à fobia social: Hipersensibilidade à critica, avaliação negativa ou rejeição. Dificuldade em ser afirmativo. São muitas vezes submissos. Baixa auto-estima ou sentimentos de inferioridade. Temem frequentemente a avaliação indirecta dos outros. Podem manifestar défices de aptidões sociais. Por exemplo, incapacidade de olhar nos olhos. Nem todos os fóbicos tem défices de competências sociais, pode ser apenas situacional e alguns têm até mesmo boas competências sociais. Os indivíduos com perturbação evitante de personalidade têm um défice de aptidão social. Estes indivíduos enquanto pessoas submissas podem ser no sentido da manipulação e agressão. É um tipo de pessoas que quando se lhe pede um favor, mesmo não lhe dando jeito para o fazer, não conseguem dizer que não. São capazes de fazer aquilo que não lhe compete fazer, só faz para agradar os outros. Manifesta-se em várias situações sociais, como por exemplo, alguém que tenha comportamentos manipulativos e agressivos, mas no emprego é submisso. Características especificas da cultura Em certas culturas (Japão, Coreia), os sujeitos com fobia social podem desenvolver medos excessivos e persistentes de ofender os outros em situações sociais, através do contacto visual ou o odor corporal sejam ofensivos para os outros em vez do medo de ficar embaraçados. Taijin Kyofusho: sintomas de medo expresso em situações sociais que implica o contacto face a face. Têm medo de embaraçar ou ofender os outros através do rubor, odores. A questão cultural é interessante porque leva-nos a pensar porque é que isto ocorre desta forma. Percebemos melhor estas diferenças se nos lembrarmos que na base da fobia social está o próprio eu (nuclear na fobia social) que está a ser ameaçado socialmente. A forma como o nosso sentido de identidade é construído e se vai desenvolvendo difere de cultura para cultura. Na cultura ocidental há a construção do eu individualista, que valoriza sentimentos de autonomia, independência em relação aos outros. Um aspecto curioso é que na nossa cultura, os autores chama a atenção que é valorizado um determinado indivíduo em detrimento de outros sujeitos que são menos prezados (em detrimento do grupo). Nas culturas asiáticas o “eu” é André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 33 definido pela pertença ao grupo e quer o sucesso, quer o fracasso são atribuídos e afectam o grupo e por isto a ansiedade social se manifesta pelo medo de embaraçar os outros. As diferentes formas de construir a identidade, dão uma mera diferença para ver a ansiedade social. Situações nas quais os fóbicos sociais sentem mal-estar e que podem evitar: Comer em público; Ir a uma festa; Beber em público; Urinar numa WC público; Trabalhar enquanto se está a ser observado; Falar ou representar perante uma audiência; Entrar numa sala onde os outros já estão todos sentados; Expressar desacordo ou reprovar alguém; Falar com alguém que não conhece bem; Falar com uma figura de autoridade; Participar numa actividade de grupo; Escrever em público (tremores, fazer mal uma letra, …) Apresentar oralmente um trabalho; Aceitar um elogio; Pedir um favor a outra pessoa. Há diferenças de género e cultura nos receios a cada uma das diferentes situações causadoras de ansiedade. Porque é que o fóbico social tem medo de beber e comer em público? Medo de engasgar, tremer. Nalgumas destas situações são próprias de ansiedade específica. Escrever em público, por exemplo, é porque a atenção é focada na mão, de fazer uma letra mal feita, de bloquear e não conseguir escrever, por exemplo, um doente tinha sempre os cheques preenchidos por causa do receio em se enganar. Em termos de género existem diferenças. Quem evita mais ir a uma festa? Mulheres. Reclamar quando vai fazer compras? Homens têm mais medo. Os homens ficam mais atrapalhados em situações que envolvam aspectos profissionais. Há a noção que quando sai de casa para ganhar a vida para a família. Em aspectos de aproximação do sexo oposto; namoros; encontros, há a noção que tem uma postura muito activa. Os fóbicos sociais são solteiros, divorciados e separados; dificuldades em estabelecer romances, compromissos. Houve um doente que se recusou casar, porque toda a gente ia olhar para ele. As mulheres em termos profissionais, em caso de fobia social são mais graves, acabam por sair da profissão, é mais aceite do que para o homem. Por exemplo, uma fóbica social, não trabalhava, não tinha filhos, só tinha um marido, mas tinha dado aulas, tinha dificuldades e começou a só fazer trabalho em casa, começa a ter dificuldades em contacto com os outros (prof, técnicos, empresários). Então foi o seu marido que começou a fazer o trabalho por ela, deixando esta de trabalhar. Nas mulheres acontece isso com bastante frequência. Porque é que um fóbico social tem medo de urinar numa WC pública? Acontece geralmente nos homens, porque podem ser observados no WC, origina desconforto. E também o facto de ser escutado, ouvido. Para alguns fóbicos sociais é um drama urinar em WC públicos. Por exemplo, uma senhora ficava atenta para ver se vinha alguém e depois urinava muito devagarinho para ver se ninguém a ouvia. É o medo de poder ser observado ou poder ser escutado enquanto urina. Este medo tem um nome que vamos ter que descobrir para a próxima aula. Mais exemplos de situações que os fóbicos sociais tentam evitarem: Olhar directamente nos olhos de alguém que não se conhece muito bem. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 34 Apresentar oralmente um trabalho. Desenvolver um artigo e apresentá-lo verbalmente. Resistir à pressão elevada de um vendedor. Ir a uma entrevista para arranjar emprego. Dançar Pedir uma informação a uma pessoa desconhecida. Tipos de pensamento de um fóbico social, que são pensamentos automáticos negativos: “Não vou dizer nada de jeito”. “Estou a ser chato”. “Vou ficar embaraçado”. “Vão achar-me pouco atraente”. “Tenho que prestar atenção ao que digo”. “Vão pensar que sou um idiota”. “Tenho de causar boa impressão”. “Vou fazer figura de parvo”. “Não estou a ser natural”. “Vou fazer uma figura ridícula”. “Vou bloquear”. “Vão notar que estou nervoso”. “Tenho de dizer alguma coisa de interessante”. “Vão notar que estou contraído/tenso”. “É melhor calar-me antes que diga asneira”. “A minha voz está a tremer”. “Vou ser o centro da atenção”. “Está toda a gente a olhar para mim”. “Vão achar que só digo banalidades”. “Vão reparar que não percebo nada deste assunto”. “Não sei que hei-de fazer”. NOTA: os aspectos cognitivos da fobia social são os pensamentos automáticos negativos. Aula Prática nº5: 12/4/07 Trabalho: Formulação: parte mais exigida e mais valorizada, temos que investir mais, é a parte em que se levanta hipóteses. Tempo para apresentar: 20 minutos. Perspectiva cognitivo-comportamental para os distúrbios ansiosos 1. Os distúrbios ansiosos são medidos pela ansiedade. 2. A ansiedade representa um padrão complexo de respostas que envolve alterações cognitivas, afectivas, fisiológicas, comportamentais e motivacionais, 3. A percepção de ameaça é um acontecimento cognitivo da ansiedade. A ameaça pode ser física ou psicológica (sentimento de humilhação, vergonha), real ou imaginária. 4. A ansiedade representa um lugar evolucionário e a sua importância para a adaptação e sobrevivência não deve ser subestimada. A ansiedade não é em si patológica é uma forma evolucionária que nos permite sobreviver nestes séculos. Por exemplo, quando um carro vai a uma grande velocidade e passo por nós pertinho, nós André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 35 damos um salto, estamos a transformarmo-nos. Se não existe o sistema de ansiedade teríamos que estar a fazer cálculos para ver as cenas. Quando é percebida uma ameaça ocorre uma resposta imediata. A maioria das respostas são de fuga, mas podem também ser de evitamento e congelamento (fica quieto sem dizer nada). Entre o normal e o patológico existe uma diferença no grau. O patológico tem um grau elevadíssimo, por outro lado, existe uma percepção enviesada. Por exemplo, fobia a pássaros, estas pessoas na presença de pássaros, eles vêm-os como ameaçadores. 5. Existe uma continuidade entre ansiedade normal e patológica, sendo a diferença de grau do tipo, dado o papel vital que a ansiedade desempenha na sobrevivência do individuo. 6. Na ansiedade patológica há uma percepção enviesada e sobrevalorizada de uma ameaça ou perigo, enquanto que o normal é uma correspondência entre a avaliação das ameaças e os perigos objectivos do meio ambiente. 7. Nos distúrbios ansiosos existe um enviesamento selectivo no processamento, na informação ao nível da atenção, interpretação e memória. Um ataque de pânico, a maioria das pessoas já teve. É diferente de ter uma perturbação de pânico. Acontece a muitas pessoas darem é nomes diferentes, como congestão, quebranto, etc. Os ataques de pânico são sólidos, intensos, rápidos e causam medo e mal-estar. Por exemplo, a nossa prof ia na rua e começou a ter enormes tonturas que se pareciam com vertigens, sentia que ia cair, tentou aguentar-se até chamar um táxi. Não é uma síndrome vertiginosa, ao contrário do que ela pensava e deve ter sido um ataque ou semi-ataque de pânico. Os ataques de pânico também podem ser nocturnos. Um ataque de pânico é um período discreto no qual se inicia de modo súbito uma intensa apreensão, medo ou horror, frequentemente associados com sensações de catástrofe iminente. Perante estes ataques, sintomas como faltas de ar, palpitações, descontrolo ou dor no peito, sensações de sufoco e medo de “enlouquecer” ou de perder o controlo estão presentes. A sensação é assustadora. Para dizermos que houve um ataque de pânico tem que haver 4 dos 13 sintomas (evolução rápida e atinge o pico num período de 10 minutos) – ver critérios que estão algures acima. Existem 3 tipos característicos de ataques de pânico com diferentes relações entre o início e a presença ou ausência de desencadeadores situacionais: Ataques de pânico inesperados, como por exemplo, à noite, estava descontraído, a rir, e brincar com os colegas e de repente apareceu um ataque de pânico. Ocorre espontaneamente sem nenhum motivo aparente. Ataques de pânico situacionais: ocorre quase invariavelmente logo após a exposição ou a antecipação, a um desencadeador ou a um estímulo situacional. Por exemplo, fobia a galinhas, se nos pusermos dentro de um galinheiro. Ataques de pânico situacionalmente prováveis: mais probabilidade durante a exposição a um desencadeador ou um estimulo situacional de acontecer um ataque de pânico. Os ataques de pânico estão também presentes na fobia social, especifica, POC, perturbação de stress pós traumático. Um doente que tem um ataque de pânico é diferente de ter uma perturbação de pânico. Um ataque de pânico não é um diagnóstico. Temos que ver o tipo de ataques de pânico, se estes forem: Inesperados e recorrentes, no início da evolução da perturbação, é um critério seguido para o diagnóstico de uma perturbação de pânico. Por exemplo, no ambiente familiar e de repente aparece um ataque de pânico e também noutras situações. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 36 Pelo contrário no caso da fobia social e específica ocorrem situacionalmente. Tem a ver com o medo da perturbação. Na especifica com objectos ou situações que é fóbico. Na POC: exposição a um objecto de uma obsessão. Por exemplo, obsessão de contaminação, a pessoa é confrontada com algo que a faz vomitar e desencadeia um ataque de pânico. Perturbação de stress pós traumático: desencadeados por estímulos que recordam o stress. Aula Teórica nº6: 19/4/07 Comportamentos de segurança na fobia social Corresponde a um conjunto de comportamentos para se protegerem do que receiam. Temos vários: Usar óculos escuros para evitar contacto visual. Desviar ou evitar o olhar das pessoas com que está a interagir. Verificar mentalmente e controlar o que se disse ou o que se vai dizer (se comete ou não erros). Acelerar o discurso, falando rapidamente e sem pausas. Encurtar o discurso, reduzindo ao mínimo o que se tem para dizer. Evitar atrair as atenções. Segurar firmemente nos objectos para evitar qualquer tensão. Está a olhar para baixo, o que implica uma linguagem verbal e não verbal (contacto visual, expressão facial) é pobre. Não é apenas o conteúdo verbal que é pobre mas também o não verbal que está empobrecido. Ficar sentado no lugar mais escondido ou mais atrás possível. Fingir desinteresse ou distanciamento do que se está a passar. Está sempre acompanhado duma pessoa amiga de inteira confiança. Fingir que não se viu uma pessoa (os outros pensam que se passa alguma coisa com ele, tem o nariz empinado, pensa que é mais que os outros, mas na verdade não é isto que se passa com ele, é precisamente o contrário. No entanto, não é essa a ideia que fica às pessoas que interagem com ele). Andar a olhar para o chão. Pôr as mãos nos bolsos. Para de fazer o que estava a fazer quando se sente observado. Fobia social Limitação grave no funcionamento social, escolar e profissional (nas varias áreas da vida sobretudo nas que implicam avaliação) ao nível dos sujeitos que têm FS (fobia social). Cerca de 2/3 dos FS não recebem tratamento, ou seja, não é tratado para a sua FS. Somente cerca de 10 a 15 anos após o inicio do distúrbio é que FS procuram tratamento. A FS inicia-se sobretudo na infância e na adolescência, mas apenas pedem ajuda na idade adulta, ou nem chegam a pedi-la. O que leva um FS a uma consulta não são os seus problemas da FS, mas eles queixam-se de outros problemas, como por exemplo, sintomatologia depressiva, pânico, abuso de substâncias, de drogas, álcool. A dificuldade em falar se prende com a dificuldade em estar em publico. O FS não atribui não a uma doença os sintomas que tem que pode ser tratado, mas a tudo que sempre teve (características da personalidade). Isto pode acontecer com os próprios médicos, estando no estrangeiro mostram que muitos André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 37 clínicos gerais desconhecem eles próprios o quadro da FS como uma perturbação da ansiedade. Um estudo feito na França, diziam que se não houvesse depressão não é reconhecido como um problema psicológico. Aspectos epidemiológicos Prevalência de 3 a 13%. Pinto Gouveia e colaboradores encontraram uma prevalência de 13,6% numa amostra de 177 indivíduos da população em geral. Prevalência em função do sexo Há aqui uma maior discrepância das mulheres em relação aos homens, na população em geral. Nas amostras clínicas, ambos os sexos estão igualmente representados ou a maioria são homens. Fobia Social Idade de inicio: desenvolve-se habitualmente antes ou durante a adolescência. Os sujeitos isolam-se, brincam sozinhos, etc. Influência familiar: o risco de desenvolvimento de uma FS é cerca de 3x maior se familiares directos dos FS do que nos controlos normais. Contribuição relativa dos factores genéticos e ambientais para o desenvolvimento da FS Factores genéticos: estudos com gémeos homozigóticos e heterozigóticos surgem que a contribuição genética para a FS é moderada, cerca de 30%. Factores de aprendizagem: Modelamento: aprendemos com os outros, observando-os, imitando-os. É importante na FS, quando observamos outras pessoas que são significativas (pais, cuidadores pessoais) que estamos mais ligados. Pudemos aprender através da observação de comportamentos ansiosos em situações sociais podem levar à aprendizagem que essas situações implicam ameaça e devem ser receadas, temidas, porque tem qualquer tipo de ameaça. Por exemplo, uma mãe tinha fobia a preparar festas de aniversário, isto vai ser aprendido pela criança, o que acontece é que esta pode ter modelos a funcionar de forma diferente. Protecção excessiva (inibe o desenvolvimento do comportamento de exploração e autonomia): mecanismo do elástico (aproximarmo-nos dos comportamentos das figuras de vinculação para protecção e depois afastamo-nos para fazermos a nossa independência). A exploração do Mundo, consiste em chegar junto das outras pessoas, nos relacionarmos com os outros, ensaiarmos a forma de lidar com os outros, tudo isto pode ficar inibido. Nos FS observa-se muitas vezes que um dos progenitores é bastante super protector e outro é especialmente crítico. Por exemplo, jovem universitário que fazia cábulas, mas tinha uma particularidade que era a mãe que as fazia. E o que aconteceu é que chegou ao 4ºano da faculdade e deixou de estudar, para ganhar independência da mãe, mas não era assim que ela ia resolver o seu problema. Outro quadro clínico em que isto está presente é na perturbação de pânico. Neste acontece em divórcios, separações. Punições ou críticas repetidas (diminuem a auto-estima e originam sentimentos de vulnerabilidade do eu perante os outros): vivemos numa cultura que educa muito pela crítica, os pais e professores tem tendência a ser críticos, em vez de apontar os André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 38 aspectos positivos, elogiando e pegando nos aspectos que fizeram mal tentando melhorá-los. Todos nós precisamos que nos digam que fizemos algo mal feito, mas tem de ser feito com cuidado, se não leva à diminuição da auto-estima do sujeito e vai sentir-se ameaçado perante os outros. Também pode haver a possibilidade de experiência de humilhação. Evolução Por vezes emerge de uma história infantil de inibição social e timidez. O início pode seguir abruptamente a uma experiência stressante ou humilhante ou pode ser insidioso. A evolução é frequentemente contínua. A perturbação pode ter intensidade atenuada ou remitir durante a idade adulta mas frequentemente dura a vida inteira. A intensidade da deficiência pode flutuar com as exigências ou acontecimentos de vida stressantes. Comorbilidade É um fenómeno real e tem implicações importantes para o tratamento. Quando duas perturbações acontecem simultaneamente, quando se acompanha de outra perturbação pode acontecer que uma delas seja um factor etiológico (desencadeiam a perturbação) ou podem resultar dos mesmos factores predisponentes. Os doentes com condições comórbidas tem uma probabilidade de serem grave e/ou cronicamente doentes e de serem significativamente mais perturbados do que os doentes com distúrbios sem comorbilidade. Os doentes com comorbilidade também são aqueles que mais depressa são alvo de intervenção terapêutica, mas esta nem sempre é a mais apropriada. Nem sempre se faz um bom diagnóstico, nem sempre se tem em conta as várias situações comórbidas e a forma como se relacionam entre si. Quando isto acontece a avaliação, por vezes, não é bem feita, logo o tratamento não é eficaz. Comorbilidade da FS (1) A FS apresenta uma comorbilidade elevada com outros distúrbios do Eixo I e do Eixo II, o que aumenta a sua complexidade e gravidade. Quando se verifica a existência de outros diagnósticos associados à FS, esta pode ser diagnóstico primário ou ser um diagnóstico adicional a outra perturbação primária. Comorbilidade da FS (2) A FS apresenta uma comorbilidade elevada com outros distúrbios de ansiedade, como por exemplo, em alguns casos é difícil de determinar o diagnóstico primário. Turner e colaboradores (1991), numa amostra de FS encontram 43% dos sujeitos prendiam os critérios para outro distúrbio do eixo I. Comorbilidade com distúrbio de ansiedade (1) – não saber de cor Agorafobia: com diagnóstico adicional, os valores de prevalência são de 18,5-44,9%. Fobia Especifica: com diagnóstico adicional, os valores de prevalência vão de 1160%. Quando o diagnóstico primário é de fobia específica, os valores para a FS, como entidade comórbida, são de cerca de 29%. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 39 Distúrbio de pânico: com diagnóstico adicional, os valores de prevalência são de 28%. Quando o diagnostico primário é de FS, como entidade comórbida, os valores vão de 5-17%. Distúrbio de ansiedade generalizada: com diagnóstico adicional, os valores de prevalência são de 11%. Quando o diagnostico primário é de FS, como entidade comórbida, o valor é exactamente 59%. Distúrbio obsessivo-compulsivo: com diagnóstico adicional, os valores de prevalência vão de 26-33%. Quando o diagnostico primário é de FS, como entidade comórbida, o valor de prevalência é de 8%. FS: comorbilidade com estados depressivos A comorbilidade entre os distúrbios de ansiedade e os distúrbios depressivos (major e distimia) é elevada. A major é mais grave e a distimia é mais crónica. Estudos epidemiológicos, nos EUA, encontraram uma taxa de comorbilidade da FS com o distúrbio da depressão major de 28,5% e da distimia de 27,6%. O que acontece é que a FS precede a depressão. Conclusão: a depressão é uma das condições mais frequentemente encontradas em indivíduos com FS. Assim, alguns sujeitos com depressão podem ter um conjunto de sintomas que o individuo se sente desconfortável nas situações sociais e evite situações sociais. Os deprimidos podem ter sentimentos de desvalorização que pode levar a evitamentos. Há também sintomas depressivos que pode levar a problemas no aspecto social. O que os autores referem, para fazer diagnóstico de FS é preciso uma pessoa que apresente sintomas de FS e que não estejam presentes sintomas depressivos. Quando o sujeito apresenta sintomas de FS secundários à depressão, acontece uma remissão (desaparecimento) dos sintomas de FS. Quando acontece uma depressão major em cima de uma FS existente, os sintomas da FS podem aumentar. Quando falamos de depressão enquanto entidade clínica temos valores mais elevados se considerar apenas sintomas depressivos a taxa de prevalência é maior, por ir até 71%. Comorbilidade da FS Prevalência de 13-19% para o abuso de substâncias. Prevalência de 19-36% para o alcoolismo. Se considerarmos somente o uso de substâncias (psicofármacos), e não o abuso ou dependência, estes valores aumentam para 52-95% e para 20-75% para a utilização de bebidas alcoólicas. Em relação aos distúrbios alimentares, a prevalência é cerca de 40% da FS para a anorexia nervosa e de 17% para a bulimia nervosa. A utilização de bebidas alcoólicas do FS depende do contexto e dos aspectos culturais. Por exemplo, FS quando vai disco consome bebidas alcoólicas para se desinibir. Comorbilidade – resumo Comorbilidade elevada em amostras clínicas, mais de 50% dos doentes com FS apresentam outros distúrbios comórbidos quer com eixo I: outros distúrbios ansiosos, como por exemplo, fobia simples, agorafobia, distúrbio de ansiedade generalizada, distúrbio obsessivocompulsivo, distúrbio de stress Pós-Traumático. Também distúrbios depressivos e abuso de substâncias. Em relação ao eixo II, em amostras clínicas, a perturbação evitante da personalidade está frequentemente presente nos sujeitos com fobia social generalizada. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 40 Problemas das fronteiras diagnósticas da FS com outras situações clínicas Sobreposição frequente do diagnóstico de FS generalizada e perturbação evitante da personalidade. Problemas do diagnóstico diferencial com outras perturbações ansiosas, como a perturbação de pânico e a perturbação de ansiedade generalizada. São pouco claras as fronteiras da FS com ansiedade em exames e a timidez. FS Diagnóstico diferencial – 1 Agorafobia: ambos representam reacções de medo e evitamento em situações sociais, mas o evitamento agorafóbico centra-se no receio de ter um ataque de pânico (na perturbação de pânico com agorafobia) ou de perder o controlo em situações sociais das quais pode ser difícil ou impossível sair ou obter ajuda. Perturbação de Pânico: existem ataques de pânico inesperados e não limitados a situações sociais. Perturbação de ansiedade generalizada ou fobia simples: o medo de embaraço ou humilhação não é o receio mais importante. O indivíduo tem outro tipo de preocupações, fazer evitamentos e não tem o medo de avaliação negativa por parte dos outros. FS Diagnóstico diferencial – 2 (crianças) Perturbação de ansiedade de separação: habitualmente a criança está à vontade em contextos sociais, por exemplo, em casa. Perturbação global do desenvolvimento: as situações sociais são evitadas por falta de interesse no relacionamento, por exemplo, autismo. Não partilham prazeres como os outros, tem a incapacidade para ter relações com os pares. Timidez e FS Zimbardo (1977): 40% dos sujeitos consideram-se tímidos; 90% descrevem-se como tímidos em determinada altura da vida. Lazarus (1982): 38% das crianças consideram-se tímidas. Zimbardo e colaboradores (1978): 70% dos sujeitos não gostam de ser tímidos; 63% referem a sua timidez como um problema real; 50% gostariam de procurar ajuda terapêutica. Consequências negativas da timidez (Zimbardo e colaboradores, 1975) Dificuldade em fazer novos amigos; Depressão; Solidão; Não consegue expressar opiniões próprias e ser auto-afirmativo; Dificuldade em se concentrar nas situações sociais; Preocupação consigo próprio; Projecção de imagens pessoais pobres nos outros; As outras pessoas ao terem uma percepção adequada acerca das verdadeiras qualidades do sujeito. As outras pessoas ficaram com uma ideia mais pobre deles e do seu desempenho (não se aperceberam das verdadeiras qualidades e competências). André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 41 Ansiedade do desempenho Habitualmente é conceptualizado como um processo que é o antes, durante e depois da situação de desempenho. Por exemplo: exame. Possui duas dimensões: Cognitiva (preocupação) Activação emocional Os indivíduos avaliam a situação como bastante difícil, vem-se menos capazes e mesmo incapazes de lidar com o teste. Começaram a antecipar consequências negativas. Tem pensamentos de auto-desvalorização enquanto realizam a tarefa que interfere com o seu desempenho e estão sempre antecipar o fracasso, a comprometer a sua auto-estima. Pode ser considerada uma fobia social específica, de acordo com a DSM-IV, se conduzir a uma invalidação significativa na vida do sujeito e lhe causar um grande sofrimento. Foram efectuados vários estudos com estudantes de psicologia na amostra recolhida pelo prof, 11% já deixaram de fazer um teste por medo. 44%, menciona que o medo que sentem impede de obter melhores resultados. Enquanto que 20,90% afirma que já alguma vez consultaram um psiquiatra ou psicólogo. A ansiedade interfere com a média escolar (mais ansiedade, menor rendimento), mais ansiedade em exames, mais depressão, menos apoio social. Aula Prática nº6: 19/4/07 Perturbação de pânico (1ºgrupo) Motivo da consulta: sinto que a minha vida está condicionada, porque tenho medo de andar de avião, de transportes públicos (não anda em nada de transportes públicos). Tudo isso condiciona a vida do sujeito. Diz que “faço tudo a pé, sente-se dependente das pessoas, sente que tem que estar muito próximo das pessoas”. Dificuldades: ao nível cognitivo, de sentir medo de morrer, enlouquecer ou perder o controlo. A nível emocional, tem uma baixa auto-estima, acha-se inferior às outras pessoas. Acontece quando se encontra em situações que lhe causam ansiedade e que não pode fugir. Tem ataques de pânico. Ao sair da situação sente-se aliviada e a ansiedade desaparece. Tenta sair o mais rápido possível do local ansiógeno. Manifesta estas dificuldades no plano familiar, profissional, passatempos, cinema, concertos, ou seja, em grandes plateias, sente-se limitada a na medida que não consegue viajar nem ir a locais públicos. Se o problema desaparecesse seria menos limitado. Teve o primeiro ataque de pânico quando ia fazer ma apresentação oral. Teve um novo ataque após ter fumado haxixe. O facto de ver filmes de aviões despoleta logo ansiedade. Nunca teve uma relação estável com o pai e namorado da mãe. O desempenho é afectado mediante a exposição a um público. Começa a ter um ciclo menor de amigos. Em relação à história de saúde, os pais ficaram muito preocupados com a saúde em geral. Considera-se inferior às outras pessoas, inseguro e muito dependente dos outros. Gostaria de ser independente e autónomo. Tudo indica que tem uma perturbação de pânico com agorafobia (andar de avião, expresso). Factores predisponentes: dependente da mãe até aos 11 anos, super-protecção, foi abandonado numa situação endógena aos 3 anos de idade e a má relação que tinha com namorado da mãe. Factores precipitantes: separação espacial da figura materna, necessidade de estar sempre na presença de alguém. Factores de manutenção: evita locais ou meios de transporte que sabe que lhe provocam ansiedade, comportamentos de segurança (se eu evito estar em sítios com muita gente, e então estou a dar ao meu cérebro a desconfirmação, porque nunca tenho forma de André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 42 provar). Há uma crença e ao fugir faz com que ela esteja sempre presente e estou confirmar a minha crença. Isto reduz a sua qualidade de vida e não lhe permite ultrapassar o medo. Perturbação de Pânico (2ºgrupo) Motivo: medo de estar em aviões que acaba por afectar a sua qualidade de vida. Dificuldades actuais: ansiedade e desconforto, medo intenso de morrer, enlouquecer ou perder o controlo. Acontece quando está em locais de fuga difícil ou embaraçosa, menciona os passatempos e actividades que gosta e tenciona realizar, que vai interferir no seu quotidiano. Estamos perante um ataque de pânico situacionalmente provável, sentiu ansiedade antes e durante uma situação que tinha medo da avaliação dos outros (1ºataque de pânico). Tinha medo de voltar a sentir aquilo e acaba por surgir inseguranças noutros campos. O ataque de pânico depois de ter fumado haxixe e no expresso são ambos ataques de pânico inesperados. Achava-se sempre feia e gorda. Formulação: perturbação de pânico com agorafobia. Possui ansiedade em locais que não pode ter ajuda num ataque de pânico, como por exemplo, elevadores. Ela achava-se burra, apesar de ter boas notas, no entanto, sempre ouviu dizer desde pequenina que precisa de trabalhar muito. Ela acredita que é menos inteligente em comparação com irmãos e processa todas as informações com base nessa informação. Uma mãe super protectora transmite a falta de segurança, tudo é perigoso e não se consegue proteger. O facto de ser muito criticado, transmite traços de controlo, necessidade de perceber porque as coisas acontecem. Aula Teórica nº7: 26/4/07 História dos conceitos de pânico e agorafobia Pan: Deus grego da fertilidade (apreciado e temido): era apresentado como uma pessoa alegre e a nível físico tinha um péssimo hábito quando estava de mau humor aparecia nos viajantes e assustava-os. Agora: termo grego que significa lugares de ajuntamento público. Hipócrates: pai da Medicina que oferecem uma descrição mais antiga conhecida de um doente agorafóbico. O termo agorafobia foi usado pela primeira vez por Westphal em 1871 para descrever um medo específico de espaços grande e abertos. A perturbação de pânico aparece pela primeira vez na DSM III e reaparece novamente na DSM III-R e continua a ser descrito na DSM IV. Perturbação de pânico: “Problema de saúde publica” Muitos autores vêm a perturbação de pânico como um problema de saúde pública. Apontam para uma série de argumentos para afirmar isto, tais como: Estudos epidemiológicos: 10% da população geral experimentou alguma vez um ataque de pânico. É partilhado por uma boa % das pessoas na população geral. Sem tratamento adequado, tem um mau prognóstico. Consequências bastante negativas que perturbação de pânico tem para a qualidade de vida do doente: sofrimento muito acentuado, limitação na vida do doente, incapacidade em diferentes áreas de vida do doente. Numa tentativa de reduzir/minimizar o sofrimento esta acompanha-se de doenças como o alcoolismo, a depressão. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 43 Os doentes com PP procuram com mais frequência ajuda terapêutica, enquanto um fóbico não. Manifestações somáticas muito intensas, ou seja, manifestações clínicas que tem um grau tão intenso de somatização (sintomas físicos) que muitas vezes os doentes ficam convencidos que têm uma doença orgânica. Então recorrem constantemente aos serviços de saúde. Têm um medo excessivo de morrer e de ficar loucos, percepcionaram esta ameaça de morrer e de ficar louco de uma forma iminente, muito forte. Têm um elevado grau de preocupação somática e de convicção que podem estar doentes. Há uma probabilidade elevada no curso da PP aparecer uma hipocondria (perturbação psicológica grave, resistente ao tratamento), consomem os produtos de saúde (médica, exames clínicos, gastam muito dinheiro) e nunca se chegam a tranquilizar que não sofrem nenhum problema orgânico. Tem que se diagnosticar a tempo e tratar também. Percepção subjectiva de descontrolo (relacionado com o carácter espontâneo do ataque de pânico). Tem pouco controlo da situação e o carácter inesperado e espontâneo dos ataques de pânico. Não sabe a onde atribuir os ataques de pânico, é apanhado inesperadamente. É importante para todos nós saber quando estamos num determinado estado. Por exemplo, saber que estamos tontos, porque não comemos nada antes de vir para a aula. Um doente com FS é fácil de perceber porque se sente assim, de ter um ataque de pânico (ver um cão ou alturas, por exemplo). Mesmo com agorafóbico, há lugares que o fazem sentir assim. Na PP, eles não sabem porque estão assim, tem uma reacção descontrolada perante as manifestações somáticas. Têm tonturas e não conseguem controlar a reacção somática e o próprio problema. Esta percepção de descontrolo é importante na PP, tem implicações importantes no tratamento. Nestes doentes ao dar uma explicação (racional) depois da história clínica e formulação vai promover o controlo ou vai levar a uma atitude diferente não no sentido de eu controlar tudo, mas no sentido de não controlar nada? 2ºopçao é a correcta. Tem sido muito investigada e tem surgido vários modelos teóricos (modelos médicos até aos mais psicológicos) e abordagens terapêuticas eficazes. Há muitíssimos estudos que apontam no sentido que a abordagem cognitivo-comportamental é a mais eficaz para o pânico. Pois, elimina o pânico em 80% dos doentes e conseguem resultados melhores a longo prazo do que algumas intervenções farmacológicas. Ataque de pânico Temos 3 tipos de ataques de pânico que está relacionado com diferentes relações entre o início do ataque e a presença ou ausência de desencadeadores situacionais: Ataques de pânico inesperados: o início não é desencadeado por algo situacional, aparecem subitamente, espontaneamente sem um motivo aparente. Procuram tratamento relatando um medo intenso, súbito e a sensação que vão morrer, perder controlo, ataque cardíaco, de enlouquecer, colapso qualquer, AVC, desejo muito grande de fugir onde AP está a ocorrer. Ataques de pânico situacionais: ocorre quase invariavelmente aquando da exposição a uma desencadeador situacional ou pela antecipação a um estímulo situacional exposto. Por exemplo: ver um cão. Ataques de pânico situacionalmente prováveis: AP ocorre com maior probabilidade durante a exposição a um desencadeador ou estímulo situacional, mas não está relacionado invariavelmente com o estímulo e não ocorre logo após a exposição. Por exemplo, estar a conduzir e passados 3 minutos, 1 hora, ter um ataque de pânico, não é necessariamente no início da viagem. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 44 Pode acontecer que o sujeito tenha apenas 4 sintomas da PP, os seus ataques denominam-se de ataques de sintomas limitados. Não é considerado uma perturbação específica codificável. Ocorrem no contexto de outras perturbações (FS, FE, PS Pós-Traumático) e que o contexto em que ocorrem pode ser importante para fazer o diagnóstico diferencial. A especificação dos tipos de AP e problemas na realização do diagnóstico diferencial com outras perturbações de ansiedade (fobia social e especifica), PP. Em relação à 2 primeiras perturbações temos ataques situacionais e situacionalmente prováveis. Enquanto que em relação ao terceiro inicialmente são inesperados e algumas vezes situacionalmente prováveis. Espontaneidade dos AP: importante para a identificação, compreensão e tratamento da PP. Os doentes descrevem-nos como uma ansiedade que provoca um medo intenso que aparece do nada, que é espontânea, actualmente acha-se que não é assim, pensa-se que há determinados estímulos internos que vão desencadear esta ansiedade elevada. Que conduz a alterações corporais (tonturas, palpitações) que depois na cabeça do indivíduo são associados a uma ideia de catástrofe iminente (morrer, louco, AVC). Por fim, problemas na relação do diagnóstico diferencial com outras perturbações de ansiedade. Os estudos tem demonstrado também que são desencadeados por determinadas actividades, por exemplo, mudar subitamente de posição, fazer exercício físico, beber café. Todos nós pudemos ter este tipo de sensação. Os doentes com FS são sensíveis à campainha. Estas actividades levam a sensações que fazem uma atribuição de catástrofe que é problemático e estão na base dos problemas dos doentes. Eles sentem que vão ter um AP não só quando o coração bate mais rápido, mas qualquer sintoma físico secundário da medicação é antecipado como um resultado catastrófico. Por exemplo, doer a cabeça é capaz de ser um temor cerebral. Se o psiquiatra receita medicação são menos tolerantes aos efeitos secundários da medicação. O médico tem que tranquilizá-los para ele manterem a medicação. No entanto, muitas vezes o doente sente mais tranquilo em tomar a medicação na sala de espera, onde pode ter ajuda do psiquiatra, psicólogo e funcionário. São consumidores dos serviços de saúde. Comorbilidade da PP Alteram o seu comportamento com os ataques de pânico. Tem dificuldades em ter as suas rotinas, faltam ao emprego, escola, para ir ao médico, pode fazer com que leve a consequências graves na vida do indivíduo que pode levar ao desemprego. Por exemplo, um jovem de 16 anos com PP, já tinha deixado de ir à escola. Estava numa altura determinante onde ele ia escolher o curso para onde queria ir. Ele que se via como médico, e agora nem às aulas ia. Muitas das vezes, no início ou na exacerbação, acontece aos sujeitos acontecimentos de perda, como por exemplo, divórcios, saída de casa para estudar para fora, problema na relação inter-pessoal. Relativamente à comorbilidade, a P. Depressiva major ocorre frequentemente em indivíduos com perturbação de pânico (50-65%), em 1/3 dos casos a depressão ocorre primeiro do que a perturbação de pânico, em 2/3 surgem em simultâneo. Comorbilidade com P. Ansiedade: Fobia Social: 15-30% dos indivíduos com perturbação de pânico POC: 8-10% FE: 10-20% P. Ansiedade Generalizada: 25% P. Ansiedade de separação na infância também se associa à perturbação de pânico. Alguns indivíduos com PP podem desenvolver algo como consequência de substâncias, porque tratam o seu problema com álcool. As substâncias servem para reduzir a ansiedade. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 45 Prevalência Vários estudos feitos em vários países do Mundo verificaram que de forma consiste a PP ao longo da vida tem uma prevalência com/sem agorafobia que varia entre 1,53,5%. Estudos com amostras comunitárias demonstram que aproximadamente 1/3-1/2 dos indivíduos diagnosticados com PP têm agorafobia. Em amostras comunitárias e em amostras clínicas esta taxa de agorafobia é muito mais elevada. A P.P é mais prevalente nas mulheres (com agorafobia, 3x mais frequente nas mulheres e sem agorafobia 2x mais). A idade de início pode variar, mas situa-se tipicamente no fim da adolescência até aos 30 anos referem muitos autores que existe uma referência bimodal (pico no fim da adolescência que é maior e o outro no meio dos 30 anos). Depois dos 45 é pouco habitual, assim como no início da infância. A evolução habitual é crónica com altos e baixos. Podem ter episódios com anos de remissão entre eles, enquanto outros manifestam sintomatologia intensa e mais frequente. Para com agorafobia pode-se desenvolver em qualquer altura da P.P, mas geralmente aparece no 1ºano. Há um padrão familiar, os familiares biológicos em 1ºgrau em indivíduos com P.P têm uma taxa de 4-7x mais elevados de ter uma P.P, contudo em amostras clínicas ½3/4 dos indivíduos com P.P não têm um familiar biológico de 1ºgrau afectado, o que mostra que o relacionamento não é assim tão evidente. Estudos congénitos indicam que pode haver uma relação genética para o desenvolvimento da P.P. Diagnóstico Diferencial A presença de um problema orgânico não exclui necessariamente a possibilidade de um doente ter uma P.P, pelo contrário, é frequente que se estabeleça uma interacção entre ambos. Os problemas orgânicos que podem causar A.P: Consequência fisiológica directa provocada por um estado físico geral. Hipoglicémia Hipertiroidismo: palpitações e taquicardia. Hipoparatiroidismo Frocronocitoma Prolapso de válvula mitral Disfunções do sistema audiovestibular Epilepsia do lobo temporal Situações cardíacas Intoxicação por cafeína, cocaína, cannabis Hiperventilação: ansiedade sobe até atingir um patamar e depois desce. Abstinência de determinadas substâncias, como o álcool Se os AP continuarem a ocorrer fora do contexto do uso de determinada substância deve ser considerada a hipótese de se fazer diagnóstico da A.P, embora a abstinência e consumo da substância possam desencadear uma P.P. No diagnóstico diferencial com outras P.A há que ter em conta: O conteúdo do medo: centrado na própria reacção fisiológica nos doentes de P.P. O tipo de ataques de pânico: inesperados acontecem nas P.P e situacionais acontecem nos fóbicos. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 46 O número de situações evitadas: os doentes com PP e Agorafobia evitam um maior número de situações. O grau de ansiedade contínua ou generalizada é elevada nos doentes. Na P.A generalizada, a preocupação gira entre as crises, o medo de ter novos ataques de pânico. Aqui a preocupação pode estar relacionada com as temáticas: saúde, dinheiro, família. Na POC e na P. de stress Pós-Traumático existem ataques situacionalmente determinados que estão associados à exposição a um determinado objecto que vão provocar obsessões ou a exposição a determinados estímulos que recordam acontecimentos marcantes (stress Pós-Traumático). Fobia Simples Fobia Social O doente hipocondríaco preocupa-se com um maior número de sintomas e tem sintomas que não estão relacionados com o ataque. O carácter de ameaça percebida nos doentes com PP é imediato e iminente. Enquanto no hipocondríaco é mais a médio/longo prazo. Na depressão major é possível acontecer um ataque de pânico, mas para se diferenciarem é importante que o doente preencha todos os critérios para uma P.P, para ter ambas. Problema de entidade nosológica da P.P não está resolvido, porque: Os ataques de pânicos podem estar presentes em muitas outras perturbações. Os limites entre o pânico e uma ansiedade intensa continuam a não ser muito claros. O critério quantitativo de ter pelo menos 4 dos 13 sintomas para o diagnóstico de P.P é um pouco arbitrário (porquê 4 e não 5/6/7?) Alguns autores têm salientado que as bases para estabelecer os diagnósticos diferenciais da P.P e da P.A Generalizada são insatisfatórios. Há quem afirme que os AP são simplesmente um índice de gravidade de uma PA. Há autores que consideram que todos os AP conduzem a um certo “evitamento” e que pode ser difícil identificar o ponto em que este evitamento é suficiente para que uma pessoa deixe de ter o diagnóstico de PP sem agorafobia e passe a ter um PP com agorafobia. Causas da PP: Causas genéticas: influencia de factores hereditários e os gémeos monozigóticos têm uma prevalência maior, entre si, de PP do que os gémeos homozigóticos. Causas bioquímicas: há um aumento das actividades dos sistemas transmissores noradrenérgico e serotoninérgico. Causas relacionadas com acontecimentos de vida: encontra-se um maior número de acontecimentos perturbadores (essencialmente de perda ou Ameaça) em indivíduos com PP do que em indivíduos normais. Os doentes com PP são mais perturbados pelos acontecimentos de vida do que as outras pessoas, considerando-os como mais indesejáveis e incontroláveis que por sua vez leva a uma diminuição substancial da auto-estima. Os doentes com PP são por natureza muito controladores. Aula Prática nº7:26/4/07 POC André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 47 É um quadro psicopatológico mediado pela ansiedade, caracterizado pela presença de obsessões e compulsões que consomem bastante tempo (mais de uma hora por dia), ou causam desconforto significativo e ansiedade (querem-se livrar delas), interferindo no funcionamento global do sujeito. Exemplo: muitos dos sujeitos saem mesmo dos locais de trabalhos. Pode afectar as actividades sociais, relações interpessoais com os familiares e amigos que podem ser envolvidos em todo o processo da perturbação. Um exemplo de um doente com esta perturbação, lavava bem a banheira antes de entrar nela, passava 4 vezes o sabonete pelo corpo (compulsão), segundo uma certa ordem, para ter a certeza que ficou bem limpo. Tem sempre o mesmo procedimento todas as vezes que toma banho, tornando-se num carácter ritualista. Tinha 5 toalhas para limpar as diferentes partes do corpo. Há um ritual depois de sair do banho. Os doentes com POC funcionam com muitas possibilidades, então se é possível acontecer, mesmo que seja pouco provável, pode acontecer. Para isso utilizam estratégias para se tranquilizarem. Por exemplo, toalhetes que passam pelo corpo para verificar se estão sujos. No entanto, como todos sabemos vai sempre aparecer uma certa sujidade no toalhete, que os fazem colocar a questão: “Se estou limpo, porque é que o toalhete está sujo”? Estes comportamentos servem para manter as dificuldades e não para as atenuar. Pode num primeiro instante levar à diminuição da ansiedade, mas depois a ansiedade aumenta logo a seguir, porque começam a surgir duvidas novamente: “será que estou sujo?”; “porque é que eles estão a olhar para mim?”Confrontam-se com o ridículo, com o inaceitável. Eles percepcionam que aquilo é estúpido, mas a ansiedade que as obsessões possuem faz com que eles as façam. A tranquilização dura pouco tempo. Para tratar doentes com POC apenas pudemos interferir nas compulsões e não nas obsessões (porque ninguém interfere no seu pensamento). Os traços de personalidade de doentes com POC são no sentido da responsabilidade e de controlo. Esquema da POC 1. Experiências anteriores 2. Formação de crenças disfuncionais, nucleares e condicionais 3. Incidente critico 4. Activação das crenças disfuncionais 5. Obsessões 6. Pensamentos automáticos negativos 7. Compulsões e neutralizações 1. Experiências precoces, como por exemplo, os pais serem inseguros que não conseguem transmitir uma boa vinculação. Não lhe dão uma boa base de vinculação, ao ficarem em casa sozinhos com 3 anos de idade responsáveis por uma criança de 6 meses. Houve uma vez um incidente em casa, ela fugiu de casa e o irmão morre. E a mãe durante toda a vida a culpa de o ter morto. Estas experiências levam a crenças: 2. Nucleares: “Eu não posso errar”, cada um tem consequências graves. Sou responsável por mim e pelos outros, então tenho o sentimento de irresponsabilidade e inferiorização. Crenças condicionais começa com se e acaba com então. 3. Tem a ver com controlo e maior responsabilidade é um factor precipitante. Teve um filho cedo vou ser capaz ou não de cuidar dele. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 48 4. 5. 6. 7. Activação destas crenças leva à construção Obsessões que leva PAN Compulsões e neutralizações Aula Teórica nº8: 3/5/07 POC Tem uma longa história: tem havido uma evolução na sua caracterização e conceptualização. Esta perturbação era vista como muito resistente ao tratamento. Existem dificuldades no tratamento. Obsessões e rituais de lavagem em torno da temática da culpa – personagem de Lady Macbeth de Shakespeare. Nesta altura, encontravam-se doentes com obsessões sobre as temáticas da sexualidade, blasfémia. Ao longo do tempo foram identificados doentes com estes problemas que eram tratados conforme a época. Evolução na conceptualização da POC: Perspectiva religiosa: doente possuídos pelo demónio tratados pelo exorcismo. Perspectiva médica: ainda actualmente existe. Foi reabilitada e actualmente tem havido alguns progressos quer ao nível da cirurgia do SL, estudo cerebral, quer ao nível do visionamento cerebral (TAC, termografia de intrusão de positrões, etc) que se fazem actualmente. Há um conjunto de teorias que falam da existência de uma disfunção do lobo frontal e dos gânglios basais que permitem encontrar novas formas para tratar estes doentes, através de psicofármacos e psicoterapia. Foram descritas pela primeira vez em 1838 por Esquirol como momentos de depressão e melancolia. Perspectiva psicológica: No início do século XX, Jenet começou a desenvolver tratamentos que se aproximavam das actuais técnicas comportamentais. Freud publicou casos que eram resultado do conflito inconsciente. Através da concepção analítica não obtiveram grandes resultados. Na década de 50 começou a ser aplicada a perspectiva comportamentalista que permitiu obter resultados eficazes no tratamento da POC. Nos anos 60/70 surgiram tratamentos mais eficazes da POC. Perspectiva integradora de Rachman e Hodgson: perspectiva mais integradora que tentou integrar a perspectiva médica (aspectos biológicos) e refere que é importante nos aspectos da aprendizagem, psicológicos, do humor, para o desenvolvimento e manutenção da POC. Evolução na classificação da POC: não só na conceptualização da POC tem havido evolução, também no conteúdo das obsessões e rituais, isto é explicado por factores culturais. De facto, em termos históricos, tem havido mudanças ao longo do tempo. Nos primeiros casos, eles tinham receio de pragas, epidemias, que eram mortais e dizimavam muitas pessoas que dominavam na época. Depois, tinham medo da sífilis, que estava muito na moda na altura, então para evitar isso fazem um conjunto de rituais. Na altura da professora, tentavam não entrar em contacto com o cancro (doença oncológica). Agora estes doentes têm medo de contrair a SIDA. Assim, os factores contextuais e culturais têm mudado o conteúdo das obsessões e compulsões. A nível do nome tem evoluído, desde a primeira edição da DSM, mas nas duas primeiras edições a definição de POC era breve e não muito específica. Enquanto que na DSM III já tinha critérios especificados. Todos nós somos obsessivos em termos sintomatológicos, pois temos algo em comum com os obsessivos. Existem pensamentos intrusivos que são comuns na população geral, cerca de 90%. Só que ao contrário dos obsessivos estes desaparecem André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 49 muito facilmente e rapidamente (entram e saem). Em termos de conteúdo são semelhantes aos dos obsessivos, mas os dos obsessivos provocam muito mais ansiedade e não desaparecem tão facilmente. A maior parte de nós faz também verificações. Quem de nós já não saiu de casa e voltou para verificar se fechou a porta? No entanto, isto não faz de nós obsessivos. Exemplos de “obsessões normais” Impulso para agredir ou fazer mal a alguém. Impulso para dizer coisas inapropriadas. Por exemplo, numa reunião o chefe está a dar-me uma descompostura e surgir um pensamento em que me apetece dizer-lhe isto e aquilo. Impulso para atacar alguém física ou verbalmente. Pensamentos relacionados com violência sexual. Pensamentos relacionados com o medo que ocorra um acidente a um ente querido. Por exemplo, os pais estarem a fazer uma viagem e ocorrer o pensamento de eles terem um acidente. DOC Para se fazer um diagnóstico de DOC é necessário que os pensamentos obsessivos se tornem tão frequentes ou intensos ou os rituais tão extensos que interfiram com o funcionamento diário. O DOC é um distúrbio de ansiedade: o factor central parece ser a ansiedade que acompanha os pensamentos obsessivos e é eliminada ou atenuada pelas compulsões. Lentidão obsessivo-compulsiva primária (Rachman e Hodgson, 1980) O sujeito executa as suas actividades diárias de forma muito meticulosa, demorando várias horas e exigindo um grande esforço. O tempo dispendido não tem a ver com a repetição das actividades ou realização de rituais, mas sim com a lentidão com que a tarefa é executada. Não lhe está associada ansiedade, sentem que “tudo deve ficar perfeito”. Por exemplo, um jovem adulto empregado de café, demora muito tempo a realizar as tarefas, mas como era filho do dono do café, tinha sorte. Não conseguia servir um cliente em tempo útil. Existe uma controvérsia se esta LOP deve ser incluída no âmbito da POC. Os autores consideram uma forma atípica da POC. Fazem tudo isto lentamente para tudo ficar na perfeição. Conteúdos mais comuns de obsessões Habitualmente relacionam-se com tópicos pessoalmente inaceitáveis e repugnantes: Sujidade ou contaminação: muitos recusam-se a dar um aperto de mão e muitos usam mesmo uma luva. Dúvidas repetidas: se executaram ou não um determinado acto. Por exemplo, desliguei ou não o fogão? Ficam a ruminar se feriram ou não num acidente alguém. Necessidade de simetria e exactidão: tem necessidade de fazer as coisas de acordo com uma ordem particular. Sentem desconforto quando os objectos não estão simétricos. Por exemplo, a prof arruma os livros de acordo com uma ordem, cores, formato e tamanho. Agressivos: por exemplo uma mãe que é muito dedicada ao seu filho tem obsessões de fazer mal ao seu filho, por exemplo, pôr o ferro na cara do seu filho. Jovem que tem pensamentos de agressividade em relação à mãe e ao pai, com 19 anos, tinha uma André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 50 imagem de uma lâmina que chegava junto aos pais e os cortava de alto a baixo. Frequente que os impulsos agressivos sejam experimentados em relação às pessoas que ele acha que é querido. Religiosos: por exemplo, um padre ter pensamentos de blasfémia, com conteúdo sexual com figuras religiosas, causa um sofrimento intenso. Sexuais: imagem pornográfica com um filho pequeno. Colecção/ poupança Quanto mais inaceitável, repugnante for a obsessão, mais incómodo provoca ao doente. Estas obsessões são relativas às pessoas que mais gostam. As duas primeiras obsessões são as mais frequentes (50% dos doentes referem este tipo de obsessões) que são acompanhadas de rituais de lavagem: mãos, corpo. Evitam as fontes de contaminação, como tocar nas maçanetas das portas, evitam WC públicos. Chega a um ponto que já não tem a razão porque fazem, fazem porque se não algo acontece. Outro exemplo de contaminação: um jovem que comprava todos os dias uma escova de dentes, e utilizava muitas toalhas em cada banho. Compulsões mais comuns Evitamento de uma catástrofe antecipada nos temas das obsessões: Lavagem Limpeza Verificação Contagens Lavagens e rituais de ordenação são particularmente comuns em crianças. Nestas é frequente passar só nas pedras brancas e não nas pretas, Colombo. Evitamento: tentam não pensar nas obsessões, o que faz com que pensam cada vez mais (foca-se no que não quer). É como dizerem-nos “não pense em girafa”. Evitar alguns estímulos que provocam obsessões. Os rituais cobertos muitas vezes substituem os abertos que não podem ser utilizados. É necessário identificar os rituais cobertos. Eles procuram tranquilização e confirmação (tenho as mãos lavadas? Está sol?). Eles coleccionam para si as suas dúvidas. A função de tranquilização e verificação é de transmitir o tema da responsabilidade para outra pessoa de confiança. Ele já me disse assim a responsabilidade é dele. POC Apesar de existirem obsessivos puros (sem compulsões), eles são raros, a maioria dos doentes apresenta obsessões e compulsões. Quanto mais crónico for a POC, mais difícil de curar. Outras características da POC Diversidade no modo como é percebida a racionalidade das obsessões e compulsões. Desejo ou tentativa de resistir à compulsão variáveis. POC Assim que a obsessão ocorre, desencadeada por uma grande variedade de estímulos, é acompanhada por sentimentos de desconforto ou ansiedade e pela necessidade urgente de neutralizar as obsessões (ou as suas consequências) através dos rituais. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 51 Para os doentes com POC, a verificação, que é suficiente para eliminar a incerteza “normal”, contribui para a dúvida obsessiva. Quanto mais verificam mais ficam em dúvida. Evitamento de situações ou objectos que provocam obsessões. Quando, apesar do evitamento, as obsessões ocorrem, resultam os rituais. Não é possível evitar todas as situações e estímulos que causam as obsessões. É mais fácil na fobia, acabando por surgir os rituais como forma de neutralizar. O evitamento previne a exposição aos pensamentos temidos. As compulsões (cobertas ou abertas) terminam a exposição. Ambos previnem o confronto com os pensamentos e situações temidas, mas ao fazê-lo, impedem uma reavaliação. Se o doente cessar estes comportamentos, descobrirá que aquilo que teme pode não ocorrer de facto. Aula Prática nº8: 3/5/07 Apresentação de trabalhos acerca da POC. Aula Teórica nº9: 17/5/07 Prevalência da POC É igualmente frequente em homens e mulheres, mas aparece mais cedo nos rapazes. A prevalência ao longo da vida é de 2,5%. Evolução Inicio habitualmente na adolescência ou no início da idade adulta. Pode também começar na infância. A idade de início da perturbação é entre os 6 e os 15 anos para os homens e entre os 20-29 anos para as mulheres. O início é gradual, mas também pode ocorrer um início agudo, ou seja, começar de repente uma série de sintomas. POC Evolução crónica com aumento e diminuição de sintomas, estando os aumentos dos sintomas relacionados com períodos de stress. Aproximadamente 15% apresentam uma deficiência progressiva no funcionamento social e ocupacional. 50% dos indivíduos com POC apresentam o funcionamento conjugal bastante comprometido. 5% têm uma evolução episódica, fásica ou flutuante (períodos com e outros sem sintomas). Padrão Familiar A concordância na taxa de DOC é mais elevada em gémeos monozigóticos do que em dizigóticos. A taxa de DOC nos familiares biológicos em primeiro grau do sujeito com DOC é mais elevada que a taxa da população em geral. Comorbilidade André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 52 30% dos indivíduos com POC tiveram um episódio de depressão major que é difícil de curar. Fobia Simples (30%) FS (30%) PA (15%) Perturbações alimentares: 33% dos bulímicos tiveram DOC Perturbações de tiques Modelos explicativos da POC Modelo psicodinâmico: obsessões e compulsões são resultado de conflitos inconscientes. É o modelo de Freud. Modelo biológico: Factores neuroquímicos: a importância da serotonina para expressão dos sintomas obsessivo-compulsivos. Esta hipótese é um pouco revelada por dados indirectos que são os sujeitos: medicamentos serotoninérgicos tem revelado eficácia para o tratamento da POC (clomitramina). Os antidepressivos também são muito usados. Nem todos os estudos apontam no mesmo sentido. Factores neuroanatómicos: possível a existência de um défice no lobo frontal, outros autores não encontram, existe alguma controvérsia. Outro indicador, é o défice nos gânglios basais, o aparecimento de uma encefalite são provas um bocadinho indirectas. Modelos comportamentais: obsessões são desencadeadas por estímulos condicionados. Mowrer, nos anos 60, elaborou a teoria dos 2 factores em que pretendia explicar como os indivíduos adquirem o medo e como o comportamento de evitamento ajuda a manter a perturbação, foi aplicado em fobias na POC. É aplicação dos paradigmas do CC a esta perturbação, ou seja, EN que fica associado ao medo, ao ser condicionado a outro estimulo provoca ansiedade, desconforto. Então, através do CC, objectos, imagens, pensamentos adquirem a capacidade de produzir uma resposta ansiosa (1ºfase) – 1ºfactor. Depois, a 2ºfase (2ºfactor), as respostas de fuga ou evitamento para diminuir a ansiedade que é evocada pela obsessões (EC). Então são mantidas por reforço negativo. Teve o seu valor na época. Mas, os modelos de hoje em dia consideram este modelo insuficiente. Modelos cognitivos: avançam com explicações complementares ao anterior. Os doentes com POC têm expectativas negativas elevadas, isto é, sobrevalorizam as consequências negativas duma variedade de actos. Por isso tudo é um pouco castratoficado, ou seja, tendem a aumentar as consequências, mas tendem a desvalorizar a sua capacidade para lidar adequadamente com tais ameaças. O doente considera que os rituais são os únicos métodos disponíveis para lidar com a ameaça. A única forma é fazer os rituais. As obsessões são entidade como são EC. A resposta emocional é associada a pensamentos automáticos negativos (PAN) que ocorrem imediatamente após o pensamento obsessivo. Pensamentos intrusivos são diferentes de PAN. Enquanto que os primeiros são bastante acessíveis (pop-out), os outros têm um acesso mais difícil. Os primeiros são percebidos como irracionais e inconscientes, por outro lado, os segundos são percebidos como racionais e conscientes. Por fim, os PAN são egossintónicos (sintonia interna) e os outros são egodistónicos (luta interna). Os pensamentos característicos da DOC vão ser responsáveis pelo que possa atingir o próprio ou os outros, caso não realizem uma acção ou pensem algo em particular como André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 53 prevenção ou neutralização. A neutralização é frequentemente acompanhada por uma sensação de alívio, porque resulta na diminuição da responsabilidade percebida. Mas, quando ocorre a neutralização, os indivíduos podem acreditar que o mal teria sucedido se não tivessem procedido daquela forma. Estes factores reforçam a crença disfuncional e aumentam a probabilidade de ocorrência de comportamentos neutralizadores subsequentes. As crenças disfuncionais conduzem a percepções de ameaças erróneas que por sua vez, provocam ansiedade. Por exemplo, “a pessoa deve ser completamente competente em tudo”, a noção de extremo. É desmedidamente guloso, quer certezas absolutas. “O fracasso das ideias perfeccionistas deve ser punido” – ambição da perfeição, se não conseguir merece castigo. “Certos rituais mágicos podem prevenir catástrofes”. Atribuem um valor importante e se não tiverem aquilo não tem mais nada para fazer. Se não fizer isto vai ocorrer algo horrível. As experiências de vida levam às crenças disfuncionais que se mantêm inactivas, a não ser que sejam activadas por acontecimentos críticos. Os acontecimentos críticos envolvem habitualmente aumento da responsabilidade. O que se salienta “é que deves ter muito cuidado com o que fazes”. Os jovens vão desde muito cedo ter grandes responsabilidades. Por exemplo, cuidador dos irmãos. Outro exemplo, acontecimentos significativos no desenvolvimento, tinha avó doente quando tinha 8-9 anos, que estava a ser assistida por uma botija de oxigénio, para sobreviver. Os pais decidiram desligar a botija e pediram a criança para o fazer. Salkovskis (1985): suposições disfuncionais dos doentes com DOC: 1. Ter pensamentos acerca duma acção é como desempenhar essa mesma acção. “E se eu me mato”. O pensar para um doente de POC é a mesma coisa de o fazer. Muitas vezes é preciso nas consultas os doentes estar com a faca na mão, para perderem o medo de a inserir neles. É mesmo aconselhado fazê-lo. 2. O fracasso em prevenir ou o fracasso na tentativa de prevenir o mal próprio ou dos outros é o mesmo que ter sido causador desse mal. “Ai é não fazes nada para prevenir isso, estupor, és tu o culpado!!! Quando acorda um doente, por exemplo, mora ao pé de um cemitério e tem obsessões que a mãe vai morrer então tem que fazer um conjunto de rituais para que não seja responsável pela morte da mãe. No entanto, ele nunca experimenta não fazer esses rituais para ver se acontece alguma coisa. 3. A responsabilidade não é atenuada por outros factores, como por exemplo, baixa probabilidade de ocorrência. 4. A não neutralização (ritualização) aquando da ocorrência duma instrução é semelhante ou equivalente a procurar ou desejar que o mal sugerido pela instrução eventualmente ocorra. Se eu não faço nada, eu procuro, eu tenho desejo que ocorra aquilo. Por exemplo, se eu tenho pensamentos em fazer sexo oral com o meu filho, se eu não faço nada para combater isso, então é porque eu quero fazer mesmo. 5. A pessoa deve e pode exercer controlo sobre os seus próprios pensamentos. Todos temos esta ilusão, que aqui dentro somos nós. Os obsessivos vivem nesta ilusão. Os obsessivos tentam controlar o próprio pensamento intrusivo. Modelo de Sukovsky (aula prática) Intervenção terapêutica: um cognitivista ferranho não deixa de utilizar pontos de vista comportamentais (exposição com prevenção de resposta ou ritual). Avaliação Entrevista clínica (muito importante); André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 54 Auto-monitorização; Observação directa (imprescindível na POC). Analisar os: Aspectos cognitivos Aspectos comportamentais Aspectos emocionais Aspectos fisiológicos Outros relativos à avaliação É importante que o terapeuta perceba a experiência subjectiva do doente com obsessões (forma e conteúdo das obsessões). A forma como são os pensamentos, imagens e impulsos? O seu conteúdo? Questões típica que se deve fazer: “Costuma ter imagens ou pensamentos desagradáveis que não os quer ter?”; “É capaz de dizer a última vez que os teve?”; Habitualmente o doente quando os tem causa ansiedade e devemos investigar o que está a pensar. O clínico deve investigar bem se o sujeito não está a fazer nenhum ritual coberto, temos que perceber o que está a passar com ele. Também é importante, ver até que ponto, resiste às obsessões e compulsões, tem a ver com os aspectos emocionais. Alguns obsessivos têm um grau de resistência maior e outros menores (rituais de limpeza). Um aspecto muito importante que temos de os fazer compreender, é que muitos doentes conseguem identificar as vantagens de ter compulsões, por exemplo, uma mulher que limpa muito e tem tudo arrumada, não tem tempo para ser tão arrumada e limpa para si, como o é para casa, não tem tempo para ir a um café, para estar com o marido e os filhos, etc. Os custos dos procedimentos que envolvem (mecanismos obsessivos) são maiores do que os riscos que eles temem. Em termos de comportamentos: identificar quais os comportamentos desencadeadores, prevenir ou terminar com pensamentos obsessivos. Que estímulos desencadeiam para ter pensamentos obsessivos? O que faço para terminar? O que faço para prevenir? È possível identificar alguns, como a duração, frequência que eles fazem os rituais, quanto tempo estão no banho. Tentar identificar os factores que maior ou menor intensidade dão a estes comportamentos (situacionais, afectivo, interpessoais, cognitivos). Em termos emocionais que factores estão associados às mudanças de humor? Ansiedade, desconforto, raiva, repugnância. Aspectos fisiológicos: sensações corporais: por exemplo, contaminação quando estão transpirados vai ter um ritual de lavagem. Outros têm obsessão pela saúde, verificam determinadas áreas corporais fazendo-as muitas vezes inchar. Acabando por perder as suas impressões digitais e levando muitas vezes a problemas de pele, circunstâncias que são típicas do início da perturbação. Aspectos mais gerais: descrever como tudo aconteceu, sobretudo se a POC começou cedo, por exemplo, na adolescência. A que nível interferiu com a socialização do individuo. O envolvimento da família também, os familiares dos doentes estão consciencializados do próprio mecanismo obsessivo, estarem solicitados para colaborar na neutralização do próprio ritual (compreender que todos os dias tem que comprar uma escova de dentes nova para o filho; lavar 7 toalhas; o marido que era mecânico quando chegava a casa tinha que se despir todo); tudo para tranquilizar o doente. Dar uma racional acerca da perturbação (fazer-lhes compreender a perturbação incentiva para o tratamento). André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 55 Estratégias mais motivacionais: imagine que se cura amanha de que modo pensa que a sua vida seria diferente? É preciso fazer testes comportamentais, enfrentar as situações que se tem de frente dos olhos e dizer o que está a sentir, a pensar, o grau de ansiedade e de desconforto. É preciso ter algum cuidado, porque a presença do terapeuta pode reduzir sintomas de ansiedade. É preciso perceber os vários contextos. É preciso vir a casa dos doentes. É preciso auto-monitorização. É preciso incluir em diários, todos os pensamentos obsessivos e rituais. Ver a frequência e o tempo que despende com os rituais. Esta avaliação é comprometida pela vergonha do que fazem e que pensam, porque este tipo de doentes tem medo que vamos contar à polícia os seus pensamentos, têm medo que pensamos que eles são esquizofrénicos, que os fazem sentir embaraçados. Regra de ouro na avaliação: ter sensibilidade e empatia especial, porque estão muito embaraçados com muitas dificuldades. Aula Prática nº9: 17/5/07 Apresentação do último trabalho sobre a POC. No turno 2, deram a parte teórica sobre a depressão major (apontamentos da minha Mariana). Depressão Major O modelo cognitivo da depressão de Aaron Beck, em relação à vulnerabilidade: Baixa auto-estima; Auto criticismo: programados para isso, em vez de elogiarmos; Auto-acusação; Responsabilidade; Sentem-se responsáveis por tudo o que acontece. Possuem realidades diferentes consoante a interpretação (exemplificativa do seu fracasso pessoal). No entanto, todos temos momentos negativos e positivos, mas os deprimidos só valorizam os negativos, processam apenas estes, tendo uma percepção do mundo e dos momentos negativos. Tendência para se sentirem negativos, inferiores, tem uma visão negativa acerca de si, do mundo e do futuro. A vulnerabilidade: estilo cognitivo corresponde a regras inapropriadas porque são demasiado rígidas para a definição da sua conduta, valor ou felicidade. Somos felizes ou infelizes por aquilo que pretendemos atingir. Afecto depressivo: resposta afectiva e normalmente tem a ver com a percepção que temos do acontecimento. Existem sentimentos de tristeza, solidão, humilhação ou culpa sentindo-se incorrecto, inadequado, abandonado, inferior. Alterações motivacionais: se sente que vai falhar, a motivação não é a mesma perda da motivação. Sintomas físicos: lentificação, apatia, agitação paralisante (andar e não fazer nada). A Tríada cognitiva: automaticamente pensa em si (incapacidade, incompetência, falta de atributos físicos), no mundo ou experiências (deprecia tudo, frustração, fracasso, perda), no futuro (continuação do sofrimento actual) de forma negativa. Auto-culpabilização Teoria cognitiva da depressão: quando é activada a tríada, activa o afecto deprimido que tem efeitos motivacionais, físicos. Aula Teórica nº10: 24/5/07 André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 56 Perturbação do humor: de aspectos mais gerais para aspectos mais específicos As perturbações do humor tem sido entendidas como um problema significativo de saída publicado, nem sempre bem tratado e diagnosticado, ou seja, tem uma natureza recorrente, alteram significativamente a vida do indivíduo. Podendo levar a uma menor produtividade, maior morbilidade, maior mortalidade, e um maior recurso aos serviços médicos. Além disto associam-se com outros problemas graves: cerca de 15% destes doentes cometem suicídio. Associam-se também esta perturbação com o consumo de substâncias que pode ter o efeito de auto-medicação. Cerca de ¼ dos doentes deprimidos abusam do álcool ou de substâncias ilegais. Geram incapacidade a vários níveis: Social Relacional Ocupacional Físico Recorrem muitas vezes a serviços de medicina geral. Apesar de 1/3 dos sujeitos com depressão são correctamente tratados e diagnosticados, porque: Muitas vezes no contexto do atendimento da Medicina geral, os doentes apresentam-se com queixas de problemas somáticos, como dores, insónias e não se queixam do estado emocional. Quando um doente vai a um médico vai rotular aquilo que sente de acordo com vários factores: História pessoal de doenças; De acordo com o conceito de doença que os seu familiares, vizinhos, conhecidos aceitam. Isto quer dizer que aquilo que é aceite culturalmente, o seu meio social em que vive é valorizado. Então o deprimido pode pensar que sofre de problemas orgânicos, como do foro abdominal, cardíaco. É difícil distinguir uma perturbação de humor de uma oscilação normal do humor. Normalmente as pessoas têm flutuações no estado de ânimo num determinado período de tempo. São sentimentos que correspondem a respostas emocionais às circunstâncias que estamos (internas, psicossociais). Por exemplo, acontece um sentimento negativo, como o de perca de alguém, ficamos tristes. Algo de positivo (promovidos no emprego) há um período de alegria. São respostas apropriadas às circunstâncias. As flutuações normais do humor distinguem-se das perturbações do estado de ânimo segundo vários critérios: Intensidade do estado de ânimo; A sua duração; A sua associação com outros sinais ou sintomas clínicos; O impacto que têm sobre o funcionamento do sujeito. Existem dificuldades de tratar e diagnosticar a depressão são devido a vários factores: A depressão diminui o limiar de sensibilidade à dor. Então queixam-se de vários tipos de dor, quer ao nível de dores pré-cardiacas (peito), dores epigástricas (na parte de cima do estômago), musculares, abdominais, dores de cabeça que eles referem que não passa com analgésicos. Não se queixam do estado emocional, porque recria um estigma associado à perturbação mental. Podem ter consequências graves da sua depressão, quer ao nível laboral, relacional, físico, emocional, como bater em filos. O deprimido pode estar a sofrer muito, mas não diz nada, porque pensa que é menos capaz, no emprego vão despedi-lo e pensa que não cumpre com os objectivos. A depressão pode associar-se com outras doenças, como o cancro, doenças oncológicas. O médico tende a valorizar essas doenças e não valorizar a perturbação André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 57 de humor que acontece. Estas são as principais razões que os autores tem atribuído para as dificuldades que se tem de diagnosticar e tratar a depressão. A depressão é uma perturbação de humor em que existem alterações do estado de ânimo que vai interferir na vida psíquica e psicopatológica (perturbação psicopatológica significativa) em todo o comportamento do sujeito (Vaz Serra). O estado de ânimo é o estado emocional subjectivo do sujeito. O afecto é a parte observável do estado de ânimo. O humor é um conjunto de emoções que uma pessoa tem num determinado período de tempo. Esta tonalidade emocional no deprimido é limitado, tem emoções intensas por um período de tempo mais longo. É como se houvesse um humor normal relativamente às emoções que o acompanham, que servem para motivar a pessoa, fazer coisas importantes, motiva-os para agir. Mas quando uma emoção se torna predominante (tristeza), persistente e sem utilidade emocional, o sujeito está como que bloqueado, essa emoção fica como que patológica é o que acontece nos indivíduos com perturbação do humor. O humor tem uma grande influência no comportamento interpessoal. O que acontece é que em períodos de humor depressivo, as pessoas acham que é difícil manter relações construtivas com os outros. Está estreitamente ligado à cognição, o humor. Por exemplo, um deprimido vê a realidade como por um fio, com umas lentes, distorce as suas percepções e as suas memórias. Há um autor que refere que existe uma tríada do deprimido, ou seja, este tem uma visão negativa de si, do Mundo e do futuro. Além disso apresenta problemas a nível da sua auto-estima. Apresenta culpa e crítica excessiva a acontecimentos passados, sente-se preocupado e acha que o Mundo tem pouco a oferecer: o que posso esperar da vida? Os deprimidos esperam pouco, a vida tem muito pouco para lhes dar. Muitos querem desistir dela. O indivíduo maníaco não tem auto-estima baixa, bem pelo contrário, o Mundo é um conjunto de estímulos intensos, é uma montanha russa cheia de estimulações. Em termos pedagógicos será importante diferenciar a depressão como sintoma, de síndrome e perturbação (doença). Quando falamos como sintoma, estamos a referir, por exemplo à tristeza. Remetenos para a visão da depressão como um contínuo em que a pessoa se pode situar num dos pontos desse contínuo (+deprimido-). Corresponde a uma perspectiva dimensional da perturbação psiquiátrica. O DSM é uma perspectiva categorial. Quando falamos como perturbação, está mais de acordo com uma aspecto dicotómico (está ou não presente a perturbação). Há ou não há depressão. Esta visão vai influenciar o tipo de instrumentos e estudos para avaliar a depressão. Por exemplo, a realização de estudos epidemiológicos, estudos clínicos que avaliam os resultados terapêuticos tem normalmente a visão da depressão como um continuo e utilizam instrumentos de avaliação que são escalas que avaliam a sintomatologia depressiva. Os estudos epidemiológicos demonstram que os sintomas depressivos são dominantes na população geral. Alguns de nós vamos apresentar valores de 15,70% mas não nos faz deprimidos, mas temos alguns sintomas depressivos. A visão dicotómica, em vez de utilizar escalas, utiliza entrevistas estandardizadas para saber se está presente ou não a depressão, através de um conjunto de critérios, ADIS e a CID são exemplos. A CID2 para saber se tem perturbação psicopatológica do eixo I. Quando falamos como síndrome, refimo-nos a uma constelação de sintomas que ocorrem em conjunto, sendo o episódio depressivo major, um exemplo. Para se fazer o diagnóstico de depressão major é necessário que o indivíduo apresente um episódio depressivo major que é necessário mas não suficiente, porque há outros critérios, como não ter episódios de mania, a situação não é explicada por outras perturbações. Há outras situações como o abuso de drogas, doenças orgânicas que através de efeitos fisiológicos directos podem despoletar um episódio depressivo André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 58 major. Há que considerar determinados acontecimentos, como a perda de um ente querido pode despoletar um EDM. Qual é mais provavelmente o síndrome ou a perturbação? O síndrome. A PDM é entendida clinicamente como uma perturbação especifica que implica que haja por detrás um processo psicopatológico subjacente enquanto que a síndrome não. Tem origens multifactoriais, genéticas e psicossociais. Em relação à visão cognitiva assume que os estados psicopatológicos representam formas excessivas ou extremas do funcionamento normal, tendo assim uma visão mais quantitativa. Perturbações do humor Perturbação Bipolar Perturbação Depressiva P. Bipolar I Perturbação Bipolar P. Bipolar II P. Não especifica P. Ciclotímica Depressão Major Perturbação Depressiva P. Distímica Depressão não especifica Perturbação Bipolar I Mania Depressão Mista Hipomania Perturbação Bipolar II Depressão Único Depressão Major Recorrente Diferenças entre P. Bipolar e P. Depressiva: André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 59 Pelo aparecimento de episódios maníacos e hipomaníacos, pelo menos 1, para além de episódios depressivos. Diferenças entre P. Bipolar I e P. Bipolar II: A primeira tem um episódio maníaco completo, manifesta episódios de mania, depressão majores, estado misto, dependendo da natureza do estado clínico actual. Enquanto que na segunda manifesta-se por episódios recorrentes de depressão major e hipomania. Perturbação Ciclotímica manifesta-se por episódios recorrentes de hipomania sem depressão. Utiliza-se para descrever situações subsindrómicas, o que acontece é episódios de hipomania e depressão, sem acontecer episódios completos de hipomania e de depressão. As P. Depressivas têm uma forma: standard, subsindrómica, atípica. A primeira é uma depressão major que pode ser única ou recorrente (mais frequente). A segunda é uma perturbação distímica que é mais leve, mas dura pelo menos dois anos. A terceira é não específica. Inclui síndromes parciais, como por exemplo, doentes deprimidos mas não possui todos os critérios para se diagnosticar como depressão major ou não dura o tempo suficiente para ser diagnosticado como DM. O Transtorno Depressivo Major se caracteriza por um ou mais Episódios Depressivos Majores (isto é, pelo menos 2 semanas de humor deprimido ou perda de interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas adicionais de depressão). O Transtorno Distímico caracteriza-se por pelo menos 2 anos de humor deprimido na maior parte do tempo, acompanhado por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior. O Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação é incluído para a codificação de transtornos com características depressivas que não satisfazem os critérios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno de Ajustamento com Humor Deprimido ou Transtorno de Ajustamento Misto de Ansiedade e Depressão (ou sintomas depressivos acerca dos quais existem informações inadequadas ou contraditórias). O Transtorno Bipolar I é caracterizado por um ou mais Episódios Maníacos ou Mistos, geralmente acompanhados por Episódios Depressivos Majores. O Transtorno Bipolar II caracteriza-se por um ou mais Episódios Depressivos Majores, acompanhado por pelo menos um Episódio Hipomaníaco. O Transtorno Ciclotímico é caracterizado por pelo menos 2 anos com numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para um Episódio Maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior. O Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação é incluído para a codificação de transtornos com aspectos bipolares que não satisfazem os critérios para qualquer dos Transtornos Bipolares específicos definidos nesta secção (ou sintomas bipolares acerca dos quais há informações inadequadas ou contraditórias). Um Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral é caracterizado por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma consequência fisiológica directa de uma condição médica geral. Um Transtorno do Humor Induzido por Substância caracteriza-se por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma consequência André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 60 fisiológica directa de uma droga de abuso, um medicamento, outro tratamento somático para a depressão ou exposição a uma toxina. O Transtorno do Humor Sem Outra Especificação é incluído para a codificação de transtornos com sintomas de humor que não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno do Humor específico, e nos quais é difícil escolher entre Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação e Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação (por ex., agitação aguda). Critérios para Episódio Depressivo Major A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer. Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor. (1) Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjectivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito). Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável. (2) Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as actividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjectivo ou observação feita por outros). (3) Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados. (4) Insónia ou Hipersonia quase todos os dias. (5) Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjectivas de inquietação ou de estar mais lento). (6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. (7) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente). (8) Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjectivo ou observação feita por outros). (9) Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto. C. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). E. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor. Este tipo de perturbação de humor não é simplesmente um sentimento de tristeza, mas inclui sentimentos de apreensão, helpness (não tem ajuda, não é possível fazer nada), André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 61 desesperança. O que tem sido mais controverso é que os critérios da DSM dão grande valor aos sintomas biológicos/somáticos, não dando grande importância à experiência subjectiva do sujeito. Critérios para Episódio Maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, durando pelo menos 1 semana (ou qualquer duração, se a hospitalização é necessária). B. Durante o período de perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram (quatro, se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes em um grau significativo: (1) Auto-estima inflada ou grandiosidade. (2) Necessidade de sono diminuída (por ex., sente-se repousado depois de apenas 3 horas de sono). (3) Mais loquaz do que o habitual ou pressão por falar. (4) Fuga de ideias ou experiência subjectiva de que os pensamentos estão correndo. (5) Distractibilidade (isto é, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes). (6) Aumento da actividade dirigida a objectivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação psicomotora. (7) Envolvimento excessivo em actividades prazerosas com um alto potencial para consequências dolorosas (por ex., envolvimento em surtos incontidos de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos). C. Os sintomas não satisfazem os critérios para Episódio Misto. D. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar prejuízo acentuado no funcionamento ocupacional, nas actividades sociais ou relacionamentos costumeiros com outros, ou para exigir a hospitalização, como um meio de evitar danos a si mesmo e a outros, ou existem aspectos psicóticos. E. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). Nota: Episódios tipo maníacos nitidamente causados por um tratamento anti depressivo somático (por ex., medicamentos, terapia eletroconvulsiva, fototerapia) não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I. Critérios para Episódio Misto A. Satisfazem-se os critérios tanto para Episódio Maníaco quanto para Episódio Depressivo Major (excepto pela duração), quase todos os dias, durante um período mínimo de 1 semana. B. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar acentuado prejuízo no funcionamento ocupacional, em actividades sociais costumeiras ou relacionamentos com outros, ou para exigir a hospitalização para prevenir danos ao indivíduo e a outros, ou existem aspectos psicóticos. C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). Nota: Episódios tipo mistos causados por um tratamento anti depressivo somático (por ex., medicamento, terapia eletroconvulsiva, fototerapia) não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I. André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 62 Critérios para Episódio Hipomaníaco A. Um período distinto de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável, durando todo o tempo ao longo de pelo menos 4 dias, nitidamente diferente do humor habitual não-deprimido. B. Durante o período da perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram (quatro se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes em um grau significativo: (1) Auto-estima inflada ou grandiosidade. (2) Necessidade de sono diminuída (por ex., sente-se repousado depois de apenas 3 horas de sono). (3) Mais loquaz do que o habitual ou pressão por falar. (4) Fuga de ideias ou experiência subjectiva de que os pensamentos estão correndo (5) distractibilidade (isto é, a atenção é desviada com demasiada facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes) (6) aumento da actividade dirigida a objectivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação psicomotora (7) envolvimento excessivo em actividades prazerosas com alto potencial para consequências dolorosas (por ex., envolver-se em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos) C. O episódio está associado com uma inequívoca alteração no funcionamento, que não é característica da pessoa quando assintomática. D. A perturbação do humor e a alteração no funcionamento são observáveis por outros. E. O episódio não é suficientemente severo para causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou ocupacional, ou para exigir a hospitalização, nem existem aspectos psicóticos. F. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento, ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). Nota: Os episódios tipo hipomaníacos nitidamente causados por um tratamento anti depressivo somático (por ex., medicamentos, terapia eletroconvulsiva e fototerapia) não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar II. Critérios Diagnósticos para F34.1 – 300.4 Transtorno Distímico A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjectivo ou observação feita por outros, por pelo menos 2 anos. Nota.: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, e a duração deve ser de no mínimo 1 ano. B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características: (1) Apetite diminuído ou hiperfagia (2) insónia ou hipersónia (3) baixa energia ou fadiga (4) baixa auto-estima (5) fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões C. Durante o período de 2 anos (1 ano, para crianças ou adolescentes) de perturbação, jamais a pessoa esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de 2 meses a cada vez. D. Ausência de Episódio Depressivo Maior (p. 312) durante os primeiros 2 anos de perturbação (1 ano para crianças e adolescentes); isto é, a perturbação não é melhor André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 63 explicada por um Transtorno Depressivo Maior crónico ou Transtorno Depressivo Maior, Em Remissão Parcial. E. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para Transtorno Ciclotímico. F. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Psicótico crónico, como Esquizofrenia ou Transtorno Delirante. G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Especificar se: Início Precoce: se o início ocorreu antes dos 21 anos. Início Tardio: se o início ocorreu aos 21 anos ou mais. Especificar (para os 2 anos de Transtorno Distímico mais recentes): Com Características Atípicas Critérios Diagnósticos para F30.x – 296.0x para Transtorno Bipolar I, Episódio Maníaco Único A. Presença de apenas um Episódio Maníaco e ausência de qualquer Episódio Depressivo Major no passado. Nota: A recorrência é definida como uma mudança na polaridade a partir da depressão ou um intervalo de pelo menos 2 meses sem sintomas maníacos. B. O Episódio Maníaco não é melhor explicado por Transtorno Esquizoafetivo nem está sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação. Especificar se: Misto: se os sintomas satisfazem os critérios para um Episódio Misto Especificar (para episódio actual ou mais recente): Especificadores de Gravidade/Psicótico/de Remissão. Com Características Catatónicas. Com Início no Pós-Parto Critérios Diagnósticos para F31.8 – 296.89 Transtorno Bipolar II A. Presença (ou história) de um ou mais Episódios Depressivos Majores B. Presença (ou história) de pelo menos um Episódio Hipomaníaco C. Jamais houve um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto D. Os sintomas de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação. E. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Especificar episódio actual ou mais recente: Hipomaníaco: se actualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Hipomaníaco. Depressivo: se actualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Depressivo Maior Especificar (para Episódio Depressivo Maior actual ou mais recente apenas se este for o tipo mais recente de episódio de humor): Especificadores de Gravidade/Psicótico/de Remissão André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 64 Nota: Os códigos do quinto dígito especificados em Critérios para Especificadores de Gravidade / Psicótico / de Remissão para Episódio Depressivo Maior actual não podem ser usados aqui, pois o código para o Transtorno Bipolar II já usa o quinto dígito. Crónico. Com Características Catatónicas. Com Características Melancólicas. Com Características Atípicas. Com Início no Pós-Parto Especificar: Especificadores de Curso Longitudinal (Com ou Sem Recuperação Entre Episódios). Com Padrão Sazonal (aplica-se apenas ao padrão de Episódios Depressivos Maiores). Com Ciclagem Rápida Critérios Diagnósticos para F34.0 - 301.13 Transtorno Ciclotímico A. Por 2 anos, pelo menos, presença de numerosos períodos com sintomas hipomaníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior. Nota: Em crianças e adolescentes, a duração deve ser de pelo menos 1 ano. B. Durante o período de 2 anos estipulado acima (1 ano para crianças e adolescentes), a pessoa não ficou sem os sintomas do Critério A por mais de 2 meses consecutivos. C. Nenhum Episódio Depressivo Major, Episódio Maníaco ou Episódio Misto esteve presente durante os 2 primeiros anos da perturbação. Nota: Após os 2 anos iniciais (1 ano para crianças e adolescentes) do Transtorno Ciclotímico, pode haver sobreposição de Episódios Maníacos ou Mistos (sendo que neste caso Transtorno Bipolar I e Transtorno Ciclotímico podem ser diagnosticados concomitantemente) ou de Episódios Depressivos Maiores (podendo-se, neste caso, diagnosticar tanto Transtorno Bipolar II quanto Transtorno Ciclotímico) D. Os sintomas no Critério A não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação. E. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo). F. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Aula Prática nº10: 24/5/07 Apresentação de trabalhos sobre a depressão Aula Teórica nº11: 31/5/07 História da Mania André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 65 SIM P. Bipolar I NÃO Hipomania P. Bipolar I: Episódio depressivo major; P. Distímica; Sem historia de depressão; Hipomania: Episódio depressivo major: P. Bipolar II Sintomas depressivos: P. Ciclotímica Sem história de depressão: P. Bipolar não especifica Especificadores de intensidade/psicótico (D. Alice) Distúrbio desvio funcional depressivo: alterações do sono, apetite, do peso, da libido e alterações diurnas do humor. Para ilustrar esta ênfase dos sintomas biológicos, disseram que 7 sintomas do critério A correspondem a características motivacionais ou comportamentais da depressão: Diminuição do interesse; Perda de peso; Insónia; Aspectos psicomotores (agitação/inibição); Fadiga; Incapacidade para se concentrar; Suicídio. Problemas colocados ao diagnóstico da depressão major: Só existe assim 2 sintomas subjectivos: humor deprimido e sentimentos de desvalorização. Há algum desacordo acerca da centralidade destes sintomas biológicos da depressão. Se deve haver assim tanta ênfase nos sintomas biológicos no diagnóstico da depressão. Alguns autores referem que estes sintomas somáticos podem ser indicadores do subtipo melancólico ou endógeno. Ou alguns destes sintomas, como a insónia ser indicador de gravidade da depressão. Servia para distinguir a depressão major de outro tipo de depressão (gravidade). Problemas colocados ao diagnóstico da distimia: Autores referem as fronteiras entre a D. Major e a distimia não são muito claras, por isso é difícil fazer um diagnóstico diferencial. Então para isso faz-se depressões duplas, ou seja, uma depressão Major em cima de uma distimia. Para se fazer o diagnóstico de distimia não pode haver nos dois primeiros anos um episódio de depressão Major, mas depois já pode. Então os clínicos fazem dois diagnósticos. Heterogeneidade dentro da própria distimia, porque pode ter vários subtipos. A probabilidade de existirem subtipos dentro da distimia, como por exemplo, subtipo relacionado com a personalidade (resposta pobre à medicação, ausência de sintomas André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 66 melancólicos, abuso de substâncias e altas taxas de alcoolismo familiar). Um outro subtipo tem a ver com aspectos melancólicos, o facto de existir depressões endógenas subclinicas. Os autores têm referido que os aspectos da personalidade têm mais a ver com a distimia. Há autores que questionam se a distimia deveria ser colocada no eixo II. Há estudos de comorbilidade como distúrbios do eixo II em 60% dos casos. Os autores definem a depressão por um conjunto variado de sintomas: abaixamento de humor, perfeccionismo, baixa auto-estima, sentimento de inutilidade, de culpa, de inadequação, de indignidade, de raiva, de anedonia (falta de capacidade de sentir prazer), sentimentos de opressão, sentimentos de ansiedade, astenia (falta de forças), abulia (alteração da vontade, indecisão). Aspectos Epidemiológicos A depressão é das perturbações mais prevalentes, segundo os dados da OMS. Vaz Serra e alguns autores referem que a depressão primária de humor é a mais comum no âmbito da Psiquiatria. Há uma proporção de 3 mulheres para 2 homens. Em relação à P. Bipolar I e II também é semelhante. Comorbilidade Estados depressivos puros, são bastante raros, mais de 75% dos doentes apresentam comorbilidade com outras perturbações psiquiátricas. A comorbilidade mais estudada é entre a ansiedade e a depressão. +- 50% dos doentes clinicamente deprimidos/ansiosos apresentam uma perturbação ansiosa ou depressiva em comorbilidade. As perturbações de ansiedade mais relacionadas com a depressão são: FS PP P. Ansiedade Generalizada Clark e colaboradores falam de uma dimensão geral que é a afecto negativa. Desenvolvem um modelo tripartido que sublinha a diferença entre a ansiedade e a depressão. Há essencialmente 3 grupos de sintomas em relação ao afecto negativo: Depressão: anedonia e ausência de aspectos emocionais positivos. Ansiedade: sintomas de activação fisiológica (manifestações somáticas de tensão, agitação, como dificuldades em respirar, palpitações). Sintomas não específicos: são experienciados tanto por um como por outro grupo. São sintomas de distress (sofrimento psicológico que incluem preocupação, nervosismos, hostilidade). Evolução/curso da depressão Ideia do senso comum que os indivíduos que têm episódios agudos de um episódio depressivo major podem recuperar com ou sem tratamento, esta ideia é verdadeira. O E. D. Major dura cerca de 3 a 11 meses, apesar de 60% recuperar nos 6 meses após o inicio da depressão. O que acontece a maioria das vezes é que ocorrem recaídas. 68% têm um distúrbio recorrente mesmo nos indivíduos tratados. 25% têm uma recaída nas primeiras 12 semanas após a recuperação. 25% experimentam 6 ou mais episódios durante a vida. Diagnóstico diferencial André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 67 È preciso fazer com outras perturbações do eixo I (esquizofrenia, ansiedade, abuso de substâncias, doenças orgânicas, como as oncológicas, endócrinas, infecciosas). Segunda Vaz Serra há sujeitos que tem sintomas prodrómicos, ou seja, são sintomas que aparecem antes da doença oncológica, pressentem que vão ter. Por exemplo, antes de ser detectado cancro, eles pressentem que têm cancro e por isso ficam deprimidos. Aula Prática nº11: 31/5/07 Anorexia nervosa É uma doença psiquiátrica grave não é um capricho, uma teimosia, ou uma mania das dietas. Tem pouco a ver com os novos padrões de beleza: estes influenciam e agem como factor de risco, mas eles não são a única causa de um todo bem mais complexo. Doença com consequências muito severas com uma taxa de mortalidade entre os 5-10%. O tratamento dura em média de 2-6 anos e exige uma multidisciplinar (psicóloga, psiquiatra, endocrinologista, …) Não é uma doença moderna, mas data já da idade média e diversos estudos relatam que a anorexia não aumentou muito. A anorexia tem mais a ver com uma questão de personalidade do que com os padrões de beleza culturais. A anorexia é uma reconstrução de identidade é a expressão visível (magreza) do invisível (os traços e características da personalidade). Elysio de Moura (1947): “a anorexia nervosa é um conjunto de sintomas muito específicos com maior predominância no sexo feminino, no período da adolescência. A anorexia tem quase um começo imperceptível. A alimentação vai sendo reduzida gradativamente dissimulada com auxílio dos mais variados estratagemas”. O valor pessoal está dependente da capacidade de fazer dietas e de perder peso. Dois tipos de anorexia: Restritiva: as doentes perdem peso através do cumprimento de um direito alimentar, jejum e exercício físico. Purgativa: tem momentos de descontrolo, caracterizados pela ocorrência de crise bulímicas (mas não necessariamente de uma quantidade excessiva de alimentos). E induzem comportamentos de purga (laxantes, diuréticos, vómito, clisteres). Os comportamentos de purga são quase ineficazes. Diagnóstico Diferencial: na depressão também há perda de peso, mas ao contrário das anorécticas isto é visto como sintoma negativo e eles pretendem recuperar o peso. Na fobia social, os fóbicos quando não comem à frente dos outros e comem sozinhos fazem uma alimentação normal, ao contrário dos anorécticos. POC e anorexia nervosa partilham diversas características clínicas. As anorécticas, no entanto não encaram os pensamentos intrusivos, persistentes e recorrentes como absurdos e não tentam pôr-lhe resistência para mostrarem elevados níveis de ansiedade para que não se deixem ceder aos convites para comer. As compulsões não são reconhecidas como absurdas ou excessivas pelo indivíduo. Factores predisponentes: Culturais Desenvolvimentais Familiares Individuais Factores precipitantes: André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 68 Insatisfação Corporal com a imagem corporal que leva a dieta como meio de valorização pessoal. Factores de Manutenção: Reforço positivo Reforço negativo Processamento esquemático Efeitos da fome Funções da Anorexia Nervosa Aula Teórica nº12:14/6/07 André Moreira, 2ºano, Psicologia, ano lectivo: 2006/2007, Psicopatologia II 69