O ensino gramatical nas escolas: a perspectiva de alunos de 8ª série

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O ensino gramatical nas escolas: a perspectiva de alunos de 8ª série
Teaching grammar in schools: the perspective of students in 8th grade
Resumo
O corrente questionamento em relação ao objetivo do ensino de gramática nas escolas é a causa
frequente de discussões e debates entre gramáticos e linguístas nas academias e universidades
brasileiras. Visando essa questão como algo formador na carreira acadêmica de letrados, este
trabalho mostra a visão do aluno formando de ensino fundamental em relação ao objetivo e a
importância do ensino de gramáticas mediado pelos professores. É de suma consideração revelar
que tais discussões entre especialistas advêm desde a segunda metade do século passado.
Palavras-chave: Gramáticas. Metodologia. Língua Materna. Aluno.
Abstract
The current challenge in relation to the goal of teaching grammar in schools is a frequent cause of
discussion and debate among grammarians and linguists in the academies and universities. Aiming
at this issue as something the teacher's academic career scholars, this work shows the view of forming student elementary school for the purpose and importance of teaching grammar mediated by
teachers. It is of paramount consideration shows that such discussions between experts come from
the second half of last century.
Keywords: Grammar. Methodology. Mother Tongue. Student.
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Introdução
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Brasil, é possível identificar uma corrente discussão acerca da importância de ensinar
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gramática nas escolas brasileiras atuais. Presencia-se nesse questionamento gramáticos e
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linguístas que servem de referência nacional quando o assunto é o ensinar gramática em
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escolas de ensino fundamental e médio. Dentre os nomes conhecidos Mario A. Perini e Sírio
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Possenti são os mais discutidos em academias e universidades brasileiras. Ambos adotam uma
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política de controvérsia à exigência do uso regular da norma culta na linguagem quotidiana e
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é de acordo com este pensamento que os debates surgem: por que ensinar gramática na escola
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se boa parte da nossa comunicação diária é feita através de o modo não-verbal?
Ao estudar teorias atuais sobre o ensino gramatical, necessariamente do ensino no
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Recentemente, em revistas e jornais de circulação nacional e internacional, são
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publicados artigos sobre a importância de saber a norma culta no dia-a-dia. Acontece, porém,
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que a norma culta apresenta incoerências se a considerarmos como o correto da língua
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portuguesa. Ademais, se a norma é culta, por que ela sofre modificações? São questões como
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essas que fazem o ensino de gramática gerar dúvidas quanto ao seu objetivo, tanto por parte
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de especialistas e professores da língua materna quanto pelos próprios alunos de educação
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básica.
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Em uma pesquisa, de onde este artigo se baseia, realizada por alunos do curso de
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Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal de
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Santa Catarina, no ano de 2008, revelou-se que em sua maioria os alunos consideram a
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gramática um meio para “falar e escrever certo”, conforme os estudos de gramáticos e
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linguístas brasileiros.
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Na presente pesquisa, acompanhou-se um questionário de três perguntas abertas
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destinado a alunos de 8ª série (9º ano) de ensino fundamental em uma escola pública estadual.
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Em suma, a pesquisa teve como objetivo identificar a concepção que os alunos têm sobre
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gramática e os métodos de aprendizagem e também a concepção gramatical perpassados aos
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estudantes pelo professor da disciplina de Língua Portuguesa. Enfim, este trabalho pretende
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propor um diálogo entre as problemáticas que POSSENTI (2003), PERINI (2002) e BRITTO
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(2002) discutem e os resultados obtidos através da pesquisa realizada.
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AS CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA: UMA CONFUSÃO NA SALA DE AULA
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O que é gramática? A questão vem sendo pensada há anos e encontra diversos
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conceitos que muitas vezes se opõem. Segundo gramáticos, como BRITTO (p. 30, 2002), em
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somente um livro didático de Português pode-se encontrar aproximadamente treze tipos de
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gramáticas diferentes com as mais diversas orientações teóricas que geram uma confusão na
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aprendizagem do aluno de ensino fundamental, por exemplo.
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Mas, com maior ocorrência em livros didáticos e nas práticas de aprendizagem do
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professor, pode-se dizer que são três tipos de gramáticas presentes em todo o ensino escolar
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dos alunos: a gramática normativa, a descritiva e a internalizada (POSSENTI, 2003)1. Seus
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diferentes conceitos e modos de aplicação dos professores no ensino influenciam diretamente
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no aproveitamento/rendimento dos alunos em sala de aula em relação ao ensino de gramática.
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A gramática normativa, ou tradicional, seria aquela em que o aluno estaria mais
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habituado desde sua iniciação escolar e que permaneceria até os anos finais do Ensino Médio.
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Esse tipo de gramática é constituído, basicamente, de regras (normas) que o estudante deve
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seguir (POSSENTI, 2003) (BRITTO, 2002) e decorá-las através de exercícios propostos pelo
1
Conforme seu livro Por que (não) ensinar gramática na escola, no qual se encontram os mais variados
assuntos em relação ao estudo e aplicação da gramática na sala de aula.
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professor de gramática, não refletindo a importância dessa memorização ou qual seu objetivo.
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Atualmente, no Brasil, esse tipo de gramática encontra-se num conjunto sintético de regras
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que, sendo transcrita e facilitada, aplica-se no ensino de Língua Portuguesa nas escolas de
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ensino fundamental e médio. Trata-se, portanto, da Gramática Normativa Brasileira – NGB.
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A gramática descritiva é aquela onde o linguista descreve ou tenta explicar como as
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línguas se orientam numa determinada sociedade (BRITTO, 2002) (POSSENTI, 2003). Sua
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característica difere da gramática normativa pelo fato na qual, de acordo com a NGB, as
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regras devem ser seguidas, não importando se os usuários da língua estão habituados a utilizá-
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la, enquanto na gramática descritiva os falantes seguem um determinado tipo de regra comum
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sem ser exigência, tornando-se normalidade numa língua. Porém, segundo POSSENTI (2003)
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e a maioria dos linguistas, pode haver mudança na língua (o que é muito comum e natural) e
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os falantes persistirem nessa mutação, mesmo enquanto as gramáticas normativas ainda
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proporem normas que os usuários da língua não seguem ou veem algo não necessário nesse
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tipo de proposta.
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A outra definição de gramática estaria no conceito da gramática internalizada que,
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conforme POSSENTI (2003), seria um “conjunto de regras que o falante domina”, próximo
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ao idioleto, e de onde habilitaria a produção de frases concisas e objetivas de acordo com
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essas regras (não no sentido normativo, mas no sentido de uso comum) que o usuário da
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língua internaliza e domina. Esse tipo de gramática condiz, em parte, com o número de
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palavras que uma pessoa possui em seu vocabulário e de onde se gera o mito da ascensão
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social pelo mesmo, segundo reportagens de periódicos2.
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Enfim, o questionamento sobre o que seja gramática, em sala de aula, talvez não possa
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ser considerado o mais importante. Uma prática pedagógica diferente da atual, em que se
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ensina somente a norma e não sua aplicação, seu objetivo ou importância, é, sem dúvida, a
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melhor forma de mostrar aos alunos de ensino fundamental e médio que gramática não é um
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conteúdo em que se aprende somente para aprender Português, mas sim para se aprender e
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refletir como acontece com as outras disciplinas escolares existentes.
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A GRAMÁTICA COMO ASCENDENTE – SERÁ?
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2
Alusão à reportagem A Riqueza da Língua, publicada na revista semanal Veja, de 12 de setembro de 2007.
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109
A discussão sobre o verdadeiro papel da gramática na escola está presente
110
constantemente em debates sobre o ensino de português e até mesmo nos mais diversos meios
111
de comunicação brasileiros. Com a reforma da gramática do idioma Português, as questões
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relacionadas ao estudo de então é cada vez mais discutida, porém, o ensino gramatical
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continua o mesmo.
114
Recentemente, a revista Veja, numa edição de setembro de 2007, demonstra, sob o
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título A Riqueza da Língua, todo esse processo de reforma em que o idioma se encontra, a
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possível ascensão social diante de um culto e extenso vocabulário e a opinião de especialistas,
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brasileiros e estrangeiros, sobre esses assuntos publicados durante toda a reportagem do
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periódico semanal. Segundo o jornalista responsável, Jerônimo Teixeira (2007), “o bom uso
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da língua influi na carreira” e afirma ainda: “a chance de ascensão profissional está
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diretamente ligada ao vocabulário que a pessoa domina”, isto é, quanto mais culta for a
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gramática internalizada de uma pessoa, mais prestígio social ela obterá.
122
Essa afirmação de Jerônimo vai à contrapartida dos estudos de BRITTO (1997, p.36-
123
37) onde declara que “este conceito... corresponde apenas a variedade supostamente usada
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pelas pessoas cultas, a qual é chamada de língua padrão ou norma culta, de modo que as
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outras variedades são consideradas erradas”. E acrescenta:
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[...] caracterizar um dialeto como sendo de prestígio é impingir-lhe
um estigma consequente de uma atitude populista, não estabelece
relação entre ‘a porção da sociedade detentora da cultura superior’
(BECHARA, apud BRITTO, 1997, p. 37) com classe dominante, vê
‘as pessoas menos favorecidas como pertencente a comunidades
minoritárias’ (IDEM) (!) (sic) e vincula o falar popular – ‘errado e
pobre’ (IDEM) – ao conceito de código restrito de Berstein3 [...].
135
Essas discussões são freqüentes desde a segunda metade do século anterior e
136
permanecem constantes no âmbito escolar, visto que, a partir dessa instituição – a escola – se
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espera um diferente modo de política, de sociedade e de, sobretudo, educação.
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140
A QUESTÃO GRAMATICAL IN LOCO: A VISÃO DE ALUNOS FORMANDOS DE
141
ENSINO FUNDAMENTAL
3
Alusão à noção de código restrito de BERSTEIN onde afirmava que quanto mais pobre e errado,
linguisticamente, fosse o socioleto de uma comunidade, mais inculta culturalmente ela seria, referindo-se às
comunidades negras dos EUA. Essa teoria foi extremamente rejeitada por lingüistas e psicólogos na década de
1970.
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Através de discussões, vê-se que a questão atual da gramática nas escolas de ensino
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fundamental e médio está muito além de um simples plano de aula destinado às aulas de
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português pelo professor, e que há discordâncias (comumente gera-se preconceitos e foca-se
146
esse assunto como debate) na busca pelo próprio tema Gramática: o que é? Para que serve?
147
E qual sua importância para o dia-a-dia?
148
PERINI (2002), além de mostrar no próprio título uma questão ambígua – sofrendo a
149
gramática/a gramática sofrendo, revela também alguns fatores, conhecidos e não resolvidos,
150
que influenciam na desagradável rejeição de gramática. Segundo o autor (PERINI, 2002, p.
151
49) ”o ensino de gramática tem três defeitos, enquanto disciplina: primeiro, seus objetivos
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estão mal colocados; segundo, a metodologia adotada é seriamente inadequada; e, terceiro, a
153
própria matéria carece de organização lógica”.
154
Sendo assim, tentou-se discutir como estaria o ensino de gramática nas escolas locais
155
próximos à região de Florianópolis. Escolheu-se uma, necessariamente, e trabalhou-se um
156
questionário, para respostas abertas e discursivas, com alguns alunos das turmas formandas de
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ensino fundamental.
158
Os resultados obtidos pela pesquisa são concomitantes às afirmações de PERINI e
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revelaram, através de respostas, a insatisfação dos próprios alunos em relação ao ensino
160
gramatical recebido através do professor de língua portuguesa. Concordando com as objeções
161
de Mario A. Perini (2002) acerca dos defeitos que a gramática possui no seu ensino,
162
aproximadamente 58,34 % dos alunos não apoiavam a metodologia inadequada do professor,
163
conforme algumas das seguintes respostas:
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165
“A maioria dos alunos não gostam de aulas [de gramática], e comigo não é diferente!
166
Eu não gosto muito das aulas de gramática, porque com o meu professor não anima ter
167
aula[..].”.
T.N.
168
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“[...] o ensino de Português que eu tenho é dos piores, não tenho matéria no
170
caderno... O professor não quer nada com nada, se der aula ou não der para ele não faz
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diferença [...]”.
I.B.M.
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175
“O professor não dá aula então não tem como dizer se eu gosto ou não [...]”.
L.N.
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“[...] o professor M. falta as aulas e não tem como a gente aprender mais coisas
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sobre o português . Mas quando ele vem ele só manda a gente ler texto e responder
178
perguntas,
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ele nem dá trabalho, aí depois os alunos vam com nota baixa na matéria.”.
180
E.S.C.
181
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Outra deficiência que faz da gramática uma disciplina rejeitada nas salas de
183
aula e discutida por especialistas seriam os objetivos mal colocados, isto é, necessita-se
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refletir sobre o verdadeiro papel da gramática na escola. Segundo PERINI (2002, p. 49)
185
“muitos professores dizem (e acreditam) que o estudo da gramática é um dos instrumentos
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que levarão o aluno a ler e a escrever a um domínio adequado da linguagem padrão escrita” e
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é devido a isso que os próprios alunos começam a ter a mesma concepção do que seja
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gramática.
189
Confirmando isso, a presente pesquisa revela que aproximadamente 54,17% dos
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alunos também se revelaram nessa linha de pensamento onde a gramática se torna necessária
191
somente para escrever e falar corretamente, isto é, dominar a norma culta da língua, mesmo
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vendo, de acordo com algumas das respostas abaixo, que isto não ocorre:
193
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“Ensinar a falar melhor fazer uma leitura melhor, aprender os sinais. Varias coisas”.
195
T.G.S.
196
197
“Para ajudar as pessoas analfabetas a lerem e escrever, ajudam as crianças e outros,
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assim não teremos tantas pessoas analfabetas [...] ela também nos ajuda falar o português
199
direito [...]”.
200
E.S.C.
201
202
203
“Para ensina o povo a falar serto e escreve serto”.
L.L.
204
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206
“Para aprendermos a escrever direito, e escrever e falar palavras certas”.
R.S.J.
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“A gramática é saber escrever corretamente as palavras, a falar certo, na verdade um
Português correto seria uma boa gramática”.
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I.B.M.
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Essas afirmações revelam estar em acordo com os estudos de PERINI (2002) e
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mostram como o ensino de gramática nas escolas brasileiras se encontra, num estado onde
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não se torna útil nem agradável. Segundo PERINI (2002, p. 49) o que está errado é o ensino
215
gramatical e o necessário seria mudá-lo relacionando com a necessidade de aprendizagem dos
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próprios alunos e “possibilitando a eles estudar gramática sem esse sentimento de frustração,
217
inutilidade e finalmente ódio que tantos experimentam” (PERINI, 2002, p. 49).
218
Enfim, nessa discussão sobre o ensino da gramática na escola, vê-se que tem de
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considerar o ensino de gramática como algo para ser acrescido no conhecimento dos alunos
220
semelhante ao que acontece às outras disciplinas. Segundo PERINI (2002, p. 55) “deve-se
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estudar gramática para saber mais sobre o mundo; não para aplicá-la à solução de problemas
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práticos”.
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A pesquisa revelou que alguns alunos também possuem essa visão acerca do papel da
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gramática no dia-a-dia deles próprios. Aproximadamente 37,50 % responderam que o
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conhecimento geral sobre gramática é muito mais relevante do que um ensino imposto da
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disciplina para sua possível melhoria no ler e no escrever, conforme algumas das respostas
227
dos alunos:
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“Para aprendermos mais em Português [...]”.
M.A.C.
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232
233
“Serve para melhorar nosso conhecimento em Português[...]”.
E.R.
234
235
236
“Para um melhor estudo da Língua Portuguesa”.
M.P.S.
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241
“Serve para melhora o ensino de Português. Ou seja, para melhorar o nosso
ensinamento e serve para o nosso conhecimento”.
J.M.M.
8
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Assim, vê-se que, mesmo tendo diversas opiniões sobre o ensino de gramática, os
243
próprios alunos já estão começando a discutir e a se habituar à questão, conquanto, ainda
244
esteja em estado inicial a reformulação do ensino gramatical nas escolas.
245
246
247
CONCLUSÃO
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O corrente questionamento sobre o objetivo de ensinar gramática nas escolas revela o
250
quão importante é o conteúdo na grade curricular e que, devido a isto, a disciplina está em
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uma constante discussão e reformulação pedagógica.
252
Propor uma nova prática pedagógica em sala de aula seria o bom começo para essa
253
questão em que se encontra a disciplina de gramática, afinal, existem inúmeros pontos que,
254
segundo os gramáticos aqui explanados, devem ser verificados e repensados de acordo com as
255
novas tendências para o novo século, um século de muita informação e, segundo o próprio
256
Wanderlei Geraldi, em uma de suas inúmeras palestras, com pouca reflexão acerca dessas
257
informações obtidas.
258
Assim, como os professores que desejam uma maior reflexão por parte de seus alunos
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sobre os conteúdos mediados em sala de aula, também os próprios alunos pensam no porquê
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de estudar algo que não os beneficia no seu cotidiano.
261
Portanto, cabe, então, aos professores reconsiderar que o estudo de gramática já não
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funciona mais se for somente baseado na teoria sem ter uma aproximação do porquê de sua
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utilidade. E, também, se destina aos alunos repensar se devem considerá-la como uma matéria
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fútil no currículo escolar ou como um conteúdo semelhante às outras disciplinas da grade
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escolar: algo interessante e que, não vendo algo útil para o dia-a-dia, aprende-se somente por
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curiosidade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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271
272
273
274
BRITTO, L. P. L. Gramática: noções básicas e inflação conceitual. In: ______. A Sombra do
Caos. Ensino e língua X Tradição gramatical. Campinas/São Paulo: Mercado de
Letras/ALB, 1997. p. 29-48.
275
276
PERINI, M.A. Sofrendo a gramática (a matéria que ninguém aprende). In: ______.Sofrendo
a gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 47-56.
9
277
278
279
280
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas/São Paulo: Mercado
de Letras, 1996/2003.
281
TEIXEIRA, J. A riqueza da língua. Veja, São Paulo, v. 40, n. 36, p. 88-96, set. 2007.
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