SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva Conduta no Tromboembolismo Pulmonar em Terapia Intensiva José Maria da Rocha Pita João Pessoa 2014 2 José Maria da Rocha Pita Conduta no Tromboembolismo Pulmonar em Terapia Intensiva Trabalho apresentado como um dos requisitos para conclusão do Mestrado Profissionalizante do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva - Santo André - SP IBRATI - SOBRATI Orientadora: Drª. Roberta Alves João Pessoa 2014 3 José Maria da Rocha Pita CONDUTA NO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EM TERAPIA INTENSIVA Aprovado em: ___________ Banca Examinadora _____________________ Examinador(a) Nota:__________ _____________________ Examinador(a) Nota:__________ _____________________ Examinador(a) Nota:__________ 4 A todos que acreditam que a Educação é o único caminho Para a transformação social. 5 AGRADECIMENTOS A todos os professores que contribuíram com seus valorosos ensinamentos. Aos colegas de mestrado pela amizade. A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho. 6 “Se não estamos aprendendo e ensinando não estamos despertos e vivos. O aprendizado não é apenas como a saúde. É a saúde.” FERGUSON, 1992, p. 267 7 RESUMO A embolia pulmonar e a trombose venosa profunda respondem por centenas de milhares de internações, anualmente, afligindo milhões de indivíduos no mundo todo. O futuro possui grandes promessas com os avanços na biologia molecular, nos estudos de imagem e na terapêutica com heparina de baixo peso molecular. Mesmo com os avanços na detecção precoce e no tratamento, as taxas de mortalidade e a recorrência de embolia pulmonar permanecem elevadas. Conforme a população envelhece, a tromboembolia venosa se torna mais prevalente porque a incidência de embolia pulmonar aumenta com a idade. Os poucos estudos sobre prevenção de tromboembolismo venoso em pacientes graves sugerem que a profilaxia medicamentosa é eficaz. Tendo em vista o alto risco de eventos tromboembólicos, o impacto na evolução clínica e extensas evidências de benefício em populações distintas, como trauma, cirurgia e ortopedia, justifica-se a implementação de medidas de prevenção. Os efeitos fisiopatológicos da embolia pulmonar podem ser descritos como aumento da resistência vascular pulmonar, prejuízo das trocas gasosas, hiperventilação alveolar, aumento da resistência das vias aéreas e decréscimo na complacência pulmonar. O diagnóstico de embolia pulmonar é mais difícil que o tratamento ou prevenção. O maior risco para o paciente com embolia pulmonar, precede o estabelecimento do diagnóstico correto. Abordagens diagnósticas não invasivas confiáveis têm se tornado crescentemente disponíveis, particularmente ultrassom venoso, dímero D plasmático determinado por ELISA, tomografia computadorizada de tórax e ecocardiografia, complementado com técnicas mais bem determinadas de mapeamento e angiografia pulmonar. Este trabalho tem como objetivo versar sobre a importância, a fisiopatologia, os meios diagnósticos e a terapêutica disponível para o tratamento da embolia pulmonar. Palavras-chave: Terapia Intensiva, Embolia Pulmonar, Fisiopatologia, Técnicas diagnósticas. 8 ABSTRACT Pulmonary embolism and deep venous thrombosis account for hundreds of thousands of hospitalizations annually, afflicting millions of individuals worldwide. The future has great promise with the advances in molecular biology, imaging studies and treatment with low molecular weight heparin. Despite advances in early detection and treatment, mortality rates and recurrent pulmonary embolism remain high. As the population ages, the venous thromboembolism is more prevalent because the incidence of pulmonary embolism increases with age. The few studies on prevention of venous thromboembolism in critically ill patients suggest that chemoprophylaxis is effective. Given the high risk of thromboembolic events, the impact on clinical course and extensive evidence of benefit in different populations, such as trauma, surgery and orthopedics, justifies the implementation of preventive measures. The pathophysiological effects of pulmonary embolism can be described as increased pulmonary vascular resistance, impaired gas exchange, alveolar hyperventilation, increased airway resistance and decreased pulmonary compliance. The diagnosis of pulmonary embolism is more difficult than the treatment or prevention. The biggest risk to the patient with pulmonary embolism, preceding the correct diagnosis. Reliable non-invasive diagnostic approaches have become increasingly available, particularly ultrasound venous D-dimer plasma determined by ELISA, computed tomography and echocardiography, complete with very specific techniques for mapping and pulmonary angiography. This work aims to relate to the importance, pathophysiology, diagnostic tools and treatment available for the treatment of pulmonary embolism. Key Words: Critical Care Therapy, Pulmonary embolism, Pathophysiology, Diagnostic techniques. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................11 2 DEFINIÇÃO.................................................................................................................12 3 EPIDEMIOLOGIA......................................................................................................13 4 PATOGÊNESE............................................................................................................15 5 FISIOPATOLOGIA....................................................................................................17 6 QUADRO CLÍNICO...................................................................................................22 7 DIAGNÓSTICO..........................................................................................................25 7.1 D-DÍMERO.............................................................................................................26 7.2 RADIOGRAFIA DE TÓRAX................................................................................27 7.3 ELETROCARDIOGRAMA...................................................................................27 7.4 ECOCARDIOGRAMA..........................................................................................27 7.5 GASOMETRIA ARTERIAL.................................................................................28 7.6 CINTILOGRAFIA PULMONAR..........................................................................28 7.7 AVALIAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES.....................................................29 7.8 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA HELICOIDAL...................................30 7.9 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA...........................................................................30 7.10 ANGIOGRAFIA PULMONAR...........................................................................31 7.11 MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA..............................................31 7.12 DUPLEX-SCAN VENOSO.................................................................................31 8 TRATAMENTO.........................................................................................................32 8.1 SUPORTE HEMODINÂMICO............................................................................32 8.2 ANTICOAGULAÇÃO........................................................................................33 8.2.1 Heparina não fracionada (HNF)..................................................................33 8.2.2 Heparina de baixo peso molecular (HBPM)...............................................34 8.2.3 Fondaparinux.............................................................................................. 35 8.3 ANTICOAGULANTES ORAIS...........................................................................36 8.4 TROMBOLÍTICOS...............................................................................................37 8.5 ANTITROMBÍNICOS..........................................................................................37 8.6 EBOLECTOMIA PULMONAR CIRÚRGICA....................................................38 8.7 EMBOLECTOMIA POR CATÉTER PERCUTÂNEO E FRAGMENTAÇÃO..39 10 8.8 FILTRO DE VEIA CAVA.................................................................................... 39 8.9 TRATAMENTO DA EMBOLIA PULMONAR NA GRAVIDEZ.......................39 8.10 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO............................................................39 8 PREVENÇÃO.............................................................................................................41 9 PROGNÓSTICO.........................................................................................................43 10 CONCLUSÃO...........................................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................45 11 1 INTRODUÇÃO A doença embólica para os pulmões encontra-se entre as desordens mais frequentemente identificadas em pacientes hospitalizados em unidades clínicas e cirúrgicas.¹ A despeito dos inumeráveis avanços tanto no diagnóstico como no tratamento, permanece subdiagnosticada e com alta letalidade.³ Essa patologia é ainda uma das maiores causas de mortalidade intra-hospitalar e sua incidência, apesar da crescente preocupação com a profilaxia, continua elevada e preocupante. A embolia pulmonar é uma emergência cardiovascular relativamente comum. Por ocluir o leito arterial pulmonar, pode provocar falência ventricular direita aguda e com risco de vida, mas potencialmente reversível. O diagnóstico de embolia pulmonar é difícil e pode ser falhado devido a uma apresentação clínica inespecífica. É por isso fundamental um diagnóstico precoce, uma vez que o tratamento imediato é bastante eficaz. Dependendo da apresentação clínica, a terapêutica inicial é dirigida primordialmente quer para a restauração imediata do fluxo sanguíneo nas artérias pulmonares ocluídas, quer para a prevenção de recidivas precoces potencialmente fatais. Tanto a terapêutica inicial como a anticoagulação a longo prazo que é necessária para a prevenção secundária devem ser justificadas para cada doente pelos resultados de uma estratégia diagnóstica devidamente validada.5 Antigamente, a presença de fatores de risco, como obesidade, pós-operatório, restrição ao leito, uso de contraceptivos etc. eram as únicas condições associadas a uma maior predisposição a trombose em veias profundas dos membros e, consequentemente, nos vasos pulmonares. Nos dias de hoje, distúrbios hereditários da coagulação, que chamamos de trombofilias, estão sendo cada vez mais identificados tanto em episódios não vinculados a fatores de risco clássicos, como naqueles indubitavelmente associados.¹ Um outro desafio, desta vez na terapêutica da embolia pulmonar, consiste no emprego correto de trombolíticos e mais recentemente, no emprego de heparina de baixo peso molecular.¹ Em pacientes clínicos, com fatores de risco para tromboembolismo venoso, o uso de heparina reduz em 58% o risco de tromboembolismo pulmonar e em 53% o de tromboembolismo venoso profundo.² 12 2 DEFINIÇÃO A embolia pulmonar é conceituada, genericamente, como a impactação de qualquer material (biológico ou artificial) no leito arterial pulmonar.4 Predominam entre os êmbolos os coágulos sanguíneos, seguidos, menos frequentemente, por células neoplásicas, gotículas de gordura, bolhas de ar, material exógeno, como talco, e cateteres venosos.4 É consenso entre os autores que a embolia pulmonar, quase na totalidade dos casos, representa não uma doença em si, mas, fundamentalmente, uma complicação da trombose venosa profunda dos membros inferiores.4 A trombose venosa aguda profunda dos membros inferiores surge como consequência da interação de três fatores: estase venosa, lesão intimal e hipercoagulabilidade sanguínea. Essa tríade consagrada desde sua descrição inicial por Rudolf Wirchow, pode ser encontrada em inúmeras situações clínicas, constituindo os chamados fatores predisponentes ou de risco. Na atualidade, considera-se sua valorização indispensável para um encaminhamento diagnóstico adequado.6 A trombose inicial instalada no nível das veias das panturrilhas raramente determina embolia pulmonar. Entretanto, em 5 a 20% dos casos pode haver propagação para as veias femorais, que constituem fatores tromboembolígenas expressivas, desencadeando quadros clínicos de tromboembolismo pulmonar em até 50% dos casos.6 13 3 EPIDEMIOLOGIA A embolia pulmonar situa-se entre as principais causas de morbidade e mortalidade hospitalar, sendo responsável por 10 a 20% dos casos de morte hospitalar e 15% das mortes em pós-operatório, segundo estudos de necropsias. Estima-se que um terço dos episódios seja fatal, e que 75 a 90% das mortes ocorram nas primeiras horas. Mais ainda, dos 89% dos pacientes sobreviventes à primeira hora, apenas 29% são diagnosticados e tratados, com mortalidade em torno de 8%. Os pacientes não diagnosticados apresentam mortalidade em torno de 30%. Pouco se conseguiu na redução da mortalidade nas primeiras horas do episódio agudo, devido à escassez de tempo para o diagnóstico e o tratamento adequados.4 A epidemiologia do tromboembolismo venoso foi recentemente revista. Embora a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar sejam manifestações de uma única doença, a embolia pulmonar tem características que são distintas da trombose venosa profunda. O risco de morte relacionado com o episódio agudo inicial ou com a embolia pulmonar recorrente é maior em doentes cuja apresentação é a embolia pulmonar do que naqueles cuja apresentação é a trombose venosa profunda.5 A prevalência da embolia pulmonar entre doentes hospitalizados nos Estados Unidos, de acordo com dados colhidos entre 1979 e 1999, foi de 0,4%. Apesar de apenas 40-53 em cada 100.000 pessoas serem diagnosticadas com EP por ano, a incidência anual nos Estados Unidos foi estimada em 600.000 casos. Os números correspondentes para a Europa não estão disponíveis. Em registros regionais, uma análise de 2356 autopsias realizadas em 1987 em 79% de todos os habitantes falecidos na cidade de Malmö na Suécia, com uma população de 230.000, revelou tromboembolismo venoso em 595 (25%), enquanto a embolia pulmonar foi encontrada em 431 (18,3%) da totalidade dos casos. Em 308 autópsias (13,1%), a embolia pulmonar foi considerada a causa principal ou contribuindo para a morte. A incidência da embolia pulmonar, diagnosticada por cintilografia pulmonar, no mesmo período de tempo e na mesma população, foi apenas de 48 (2%) casos em toda a região de Malmö. A partir dos resultados das autópsias, flebografias e cintilografias pulmonares, os autores estimaram a incidência do tromboembolismo venoso na cidade de Malmö em 42,5/10.000 habitantes/ano. Um novo cálculo dos mesmos dados indicou que a incidência da embolia pulmonar seria de 20,8/10.000 habitantes/ano. Num mais recente estudo baseado na comunidade, envolvendo 342.000 habitantes da Bretanha, França, as incidências de tromboembolismo venoso e 14 embolia pulmonar foram de 18,3 e 6,0/10.000 habitantes/ano, respectivamente. No entanto, os dados das autópsias não estavam disponíveis. A verdadeira incidência da embolia pulmonar é assim difícil de avaliar, tendo em vista a sua apresentação clínica pouco específica.5 A incidência de embolia pulmonar durante a gravidez varia entre 0,3 e 1 por cada 1000 partos.76 Sendo a causa principal de morte materna relacionada com a gravidez nos países desenvolvidos.77 O risco de embolia pulmonar é maior no período pós-parto, particularmente após cesariana. 15 4 PATOGÊNESE Embora a embolia pulmonar possa ocorrer em doentes sem qualquer fator predisponente identificável, um ou mais fatores são habitualmente identificados (embolia pulmonar secundária). A proporção de doentes com embolia pulmonar idiopática ou não provocada foi de cerca de 20% no International Cooperative Pulmonary Embolism Registry (ICOPER).7 O tromboembolismo venoso é atualmente encarado como o resultado da interação entre fatores de risco relacionados com o doente e fatores de risco relacionados com a situação.8,9 Os fatores predisponentes relacionados com o doente são habitualmente permanentes, enquanto os relacionados com a situação são mais frequentemente temporários (Quadro 4-1). Os fatores predisponentes relacionados com o doente incluem a idade, a história de tromboembolismo venoso prévio, cancro ativo, doença neurológica com paresia das extremidades, condições médicas que provoquem acamamento prolongado, como insuficiência cardíaca ou respiratória aguda, e trombofilias congênitas ou adquiridas, terapêutica hormonal de substituição e terapêutica contraceptiva oral. Não há dúvida de que a idade é um importante fator de risco, em qualquer tipo de população que se analise. A incidência de trombose venosa profunda e de embolia pulmonar aumenta na razão direta da idade. Nos pacientes na faixa etária de 60 anos, a incidência pode oscilar em torno de 30 a 35%, enquanto nos pacientes acima de 70 anos gira ao redor de 50 a 70%, quando não se submetem a qualquer tipo de tratamento profilático. Na prótese total do quadril a incidência é superior a 70%, na ausência de tratamento profilático10. Foi recentemente reportada uma associação entre a embolia pulmonar idiopática e eventos cardiovasculares, incluindo o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral.11,12 Relatos de um risco elevado de embolia pulmonar em indivíduos obesos, fumadores e doentes com hipertensão arterial sistêmica ou síndrome metabólica têm renovado o interesse na ligação entre o tromboembolismo arterial e o tromboembolismo venoso. Os mecanismos patogênicos da trombose venosa profunda decorre da desordem dos mecanismos que presidem o equilíbrio entre fatores estimulantes e inibidores da coagulação. São estimulantes as alterações endoteliais, estase e diluição hemática. São inibidores a integridade do endotélio, antitrombina III, heparina e fibrinólise. A formação do trombo 16 ocorre com facilidade, no pós-operatório, no nível das cúspides valvulares, das veias profundas, principalmente dos membros inferiores.10 Quadro 4-1. Fatores predisponentes para a embolia pulmonar Estado de hipercoagulabilidade hereditária . Mutação do gene do fator V (fator V de Leiden) . Resistência à proteína C ativada . Mutação da proteína C . Mutação genética da protrombina . Deficiência da proteína S . Hiper-homocisteinemia . Anticorpo antifosfolipídico Estado de hipercoagulabilidade adquirida . Cirurgias . Imobilidade . Obesidade . Idade avançada . Tabagismo . Hipertensão arterial sistêmica . Gravidez/uso de anticoncepcionais/pós-parto . Câncer (quimioterapia) . AVC/traumatismo raquimedular . Cateter de longa permanência . Insuficiência venosa crônica 17 5 FISIOPATOLOGIA A embolia pulmonar é a mais grave consequência da trombose venosa profunda e em algumas ocasiões pode ser sua primeira manifestação. É causada pela liberação de um trombo já existente numa veia profunda, na corrente sanguínea, levada ao coração direito e daí, a uma artéria pulmonar, onde provoca sua obstrução, parcial ou total. Os trombos estão localizados, principalmente, no sistema venoso profundo (81%), sendo que as veias proximais dos membros inferiores (ilíacas e femorais) estão relacionadas com maior risco de embolia pulmonar. As cavidades cardíacas direitas contribuem com cerca de 19% dos êmbolos, relacionando-se, principalmente, com as cardiopatias dilatadas e isquêmicas e com as arritmias16,17,18. A sintomatologia depende do tamanho do trombo, do local afetado e de antecedentes de doenças cardiorrespiratórias. As primeiras alterações são: hipoxemia, aumento do espaço morto, aumento do trabalho ventilatório e pneumoconstrição.10 O ponto inicial da cascata fisiopatológica foi postulado por Wirchow, que estabeleceu uma tríade de fatores: trauma local, hipercoagulabilidade e estase, que desencadeiam o processo de coagulação intravascular. Portanto, condições que possibilitam estase venosa ou dano endotelial em pacientes com estados de hipercoagulabilidade definidos ou subclínicos precipitam a trombose venosa, que é a fonte emboligênica mais comum.3 Êmbolos pulmonares não trombóticos são raros e têm diferentes consequências fisiopatológicas e características clínicas.13 Os vários exemplos de condições clínicas, predisponentes ao desenvolvimento de tromboembolismo venoso estão relacionados no Quadro 5.1. As principais consequências de um episódio tromboembólico pulmonar são hemodinâmicas.13 Êmbolos de grandes dimensões e/ou múltiplos podem aumentar abruptamente a resistência vascular pulmonar a um nível de pós-carga que não consegue ser igualada pelo ventrículo direito. Pode ocorrer morte súbita, usualmente sob a forma de dissociação eletromecânica.14 O doente pode apresentar-se com síncope e/ou hipotensão sistêmica, que pode progredir para choque e morte devido a falência aguda do ventrículo direito (Fig. 5-1). Na embolia pulmonar aguda, a ventilação-minuto aumenta agudamente, levando à taquipneia; a hipoxemia se desenvolve na maioria dos pacientes. Quando não há doença cardiopulmonar concomitante, a obstrução do fluxo sanguíneo cria o espaço morto alveolar com regiões onde a relação ventilação-perfusão é alta, bem como o shunt devido a perfusão 18 de áreas atelectasias. Este desequilíbrio parece ser a principal explicação para a hipoxemia na embolia pulmonar aguda (Fig. 5-2).15 Quadro 5-1. Fatores de risco para tromboembolismo venoso Fatores maiores de risco (risco relativo 5 a 20) Cirurgia abdominal ou pélvica Prótese de joelho ou quadril Necessidade pós-operatória de UTI Gravidez tardia Obstétricos Parto cesárea, pré-eclampsia, multiparidade Puerpério Fratura Membros inferiores Varizes Abdominal ou pélvica Neoplasias malignas Avançada ou metastática Hospitalização Diminuição da mobilidade Institucionalização Episódio prévio de tromboembolismo Outros venoso Fatores menores de risco (risco relativo 2 a 4) Cirurgias Cardiovascular Estrógenos Outros Insuficiência cardíaca congestiva Doenças cardíacas congênitas Hipertensão arterial sistêmica Trombose venosa superficial Cateter venoso central Contraceptivo oral Terapia de reposição hormonal Doença pulmonar obstrutiva crônica Incapacidades de origem neurológica Tumores ocultos Doenças trombóticas Viagens de longa distância Obesidade Doença intestinal inflamatória Síndrome nefrótica Diálise Doenças mieloproliferativas Hemoglobinúria paroxística noturna Doença de Behçet Tardiamente, após 18 horas, ocorre redução da produção de surfactante, com tendência ao colapso alveolar e edema pulmonar, aumento da resistência de vias aéreas e diminuição da complacência pulmonar, distúrbio difusional, distúrbios VA/Q, hipoxemia e taquipneia (Fig. 5-3)21. 19 OBSTRUÇÃO SÚBITA DE RAMO DA ARTÉRIA PULMONAR Interrupção ou diminuição do fluxo distal Perfusão coronariana Mediadores das plaquetas do trombo Conseqüências hemodinâmicas Tensão intraluminal VD Hipoxemia Obstrução do leito vascular pulmonar Dilatação VD Adelgaçamento da parede VD Consumo de O2 Pós-carga VD Trabalho VD Resistência vascular Vasoconstrição Pressão da artéria pulmonar VMC taquicardia Isquemia Obstrução mecânica Função contrátil VD Acentuação da dilatação VD Cor pulmonale Falência VD Débito VE Disfunção VE Prejuízo enchimento VE Choque circulatório Fig. 5-1 – Fisiopatologia do tromboembolismo pulmonar e consequências hemodinâmicas Êmbolos pequenos e distais, podem provocar zonas de hemorragia alveolar pulmonar, resultando em hemoptises, dor pleurítica e derrame pleural.13 Exames para diagnóstico de trombofilia (hereditária ou adquirida) são capazes de detectar alterações (principalmente, a síndrome do anticorpo antifosfolípide e deficiências de antitrombina, fator V de Leiden, proteína C ou proteína S) em 25 –50% dos pacientes com tromboembolismo venoso19. Geralmente, essas alterações precisam se associar com fatores de risco adquiridos, para causarem trombose20. 20 OBSTRUÇÃO SÚBITA DE RAMO DA ARTÉRIA PULMONAR Interrupção ou diminuição do fluxo distal Conseqüências respiratórias imediatas Efeito espaço morto(alveolar) Edema Liberação de mediadores Intersticial Vias aéreas Constrição de vias aéreas e ductos alveolares Pneumoconstrição o Distúrbio funcional Resistência das vias aéreas Resistência pulmonar Complacência estática e dinâmica Dispnéia Estímulo de receptores Hipoxemia arterial Distúrbio VA/Q (efeito shunt) Shunts intrapulmonares Shunt intracardíaco Saturação venosa VMC Fig. 5-2 – Fisiopatologia do tromboembolismo pulmonar e consequências respiratórias imediatas A correlação clínico-patológica entre o número de episódios clínicos e o de êmbolos é muito imperfeita, indicando claramente que muitos êmbolos são silenciosos, sugerindo que, algumas das manifestações clínicas são consequentes aos reflexos originários de veias inflamadas ou de artérias onde os êmbolos estão alojados. Estes reflexos envolvem a vasculatura pulmonar, os brônquios, o diafragma, as artérias coronárias, o mecanismo neurogênico do coração e o sistema vascular periférico.22 21 OBSTRUÇÃO SÚBITA DE RAMO DA ARTÉRIA PULMONAR PULMONAR Interrupção ou diminuição do fluxo distal Conseqüências respiratórias (após 18 h) Alterações acentuadas da permeaabilidade capilar Redução do surfactante olapso alveolar Atelectasia Edema alveolar Colapso alveolar Atelectasia hemorrágica Distúrbio difusional Distúrbio VA/Q Shunts Hipoxemia arterial ↑ resistência pulmonar ↓ complacência estática e dinâmica Dispnéia Fig. 5-3 – Fisiopatologia do tromboembolismo e consequências respiratórias (após 18 horas) A apresentação de um coágulo numa artéria pulmonar, portanto, produz perturbações locais na circulação pulmonar, hipertensão pulmonar, diminuição da pressão arterial sistêmica, reflexos anormais e anóxia. Esses elementos fornecem a base para todos os fenômenos observados na embolia pulmonar. As alterações funcionais e estruturais que seguem a embolia pulmonar dependem do papel proporcional desses elementos, que são intimamente relacionados, e mediante os seguintes fatores: o calibre dos vasos ocluídos, a extensão da propagação dos êmbolos no interior dos vasos e o estado pré-embólicos do coração, pulmões e circulação.22 22 6 QUADRO CLÍNICO O tromboembolismo pulmonar pode apresentar-se, clinicamente, de várias maneiras e com grande frequência, de forma silenciosa. A sintomatologia clínica pode ser atípica sem sinais evidentes, porém algumas vezes o paciente se queixa de dores intensas na região comprometida, com edema difuso, cianose local e impotência funcional.10 Avaliar a possibilidade de embolia pulmonar num doente de acordo com a apresentação clínica é da maior importância na interpretação dos resultados dos testes diagnósticos e na escolha de uma estratégia diagnóstica apropriada. Em 90% dos casos, a suspeita é levantada por sintomas como dispneia, dor torácica e síncope, querem isoladas quer em combinação. No estudo PIOPED (Prospective Investigators of Pulmonary Embolism Diagnosis) a dispneia esteve presente em 73% e a dor torácica tipo pleurítica, em 66% dos pacientes.23 A síncope é uma forma de apresentação rara, mas importante, uma vez que pode indicar uma reserva hemodinâmica gravemente reduzida. Nos casos mais graves, hipotensão arterial e choque podem estar presentes. A dor pleurítica, combinada ou não com dispneia, é uma das mais frequentes apresentações da embolia pulmonar. A dor é habitualmente causada por irritação da pleura devido a êmbolos distais que causam o chamado infarto pulmonar, uma hemorragia alveolar, por vezes acompanhada de hemoptises.24 A dispneia isolada de início súbito é geralmente devida a embolia pulmonar mais centrais, causando consequências hemodinâmicas mais graves que a síndrome do infarto pulmonar. Pode estar associada a dor retroesternal do tipo anginoso, que pode refletir isquemia ventricular direita. Ocasionalmente, o início da dispneia pode ser progressivo ao longo de várias semanas, e o diagnóstico surge pela ausência de outras causas clássicas de dispneia progressiva. Em doentes com insuficiência cardíaca ou doença pulmonar pré-existente, a dispneia em agravamento pode ser o único sintoma indicativo dessa patologia (Quadro 6-1). A febre, geralmente, nunca superior a 38.5oC está presente em 18 a 50% dos casos de tromboembolismo pulmonar com infarto pulmonar. Os achados de exame físico são poucos ou inespecíficos. Achados cardíacos, como B2 hiperfonética, B3 de ventrículo direito e íctus de ventrículo direito, só ocorrem em embolias maciças, o que não é o mais frequente. No exame do aparelho respiratório, sibilos focais e estertores podem ser auscultados, sem serem diagnosticados.21 23 Quadro 6-1. Prevalência de sinais e sintomas em doentes com suspeita de embolia pulmonar, de acordo com o diagnóstico final25,26 S EP confirmada EP excluída (n=219) (n=546) Sintomas Dispnéia Dor torácica (pleurítica) Dor torácica (retroesternal) Tosse Hemoptise Síncope 80% 52% 12% 20% 11% 19% 59% 43% 8% 25% 7% 11% Sinais Sinais Taquipneia (≥20/min) Taquicardia (≥100/min) Sinais de TVP Febre (˃38,5oC) Cianose 70% 26% 15% 7% 11% 68% 23% 10% 17% 9% EP = embolia pulmonar TVP = trombose venosa profunda O Task Force on Pulmonary Embolism, da Sociedade Europeia de Cardiologia, classificou clinicamente a embolia pulmonar em três grupos.27 A embolia pulmonar maciça se manifesta com quadro de choque ou hipotensão arterial, definida como a pressão arterial sistólica < que 90mmHg ou queda da pressão arterial ≥ que 40mmHg por mais de 15min, não sendo causada por arritmia, hipovolemia ou sepsis. O diagnóstico de embolia pulmonar nãomaciça é estabelecido na ausência dos sinais de embolia pulmonar maciça. Entre os pacientes com embolia pulmonar não-maciça existem aqueles com sinais ecocardiográficos de disfunção do ventrículo direito que são classificados como embolia pulmonar submaciça.27 Ocorrem ainda embolias pequenas (submaciças). Achados clínicos nas embolias pequenas (submaciças): dor torácica, dor pleurítica, dispneia, taquipneia, tosse, hemoptise / hemoptoicos, taquicardia, febre, cianose. Achados clínicos nas embolias grandes (maciças): Síncope, hipotensão arterial / choque, taquicardia, dispneia, cianose. Com o objetivo de facilitar a avaliação de probabilidade na prática clínica, podendo guiar a tomada de decisão têm sido desenvolvidos critérios, sendo o mais citado os descritos como “escore de Wells” (Quadro 6-2). 24 Quadro 6-2. Probabilidade clínica de embolia pulmonar: escore de Wells. Critérios Pontos Suspeita de tromboembolismo venoso Alternativa menos provável de embolia pulmonar Frequência cardíaca ˃100bpm Imobilização ou cirurgia nas quatro semana anteriores Tromboembolismo venoso ou embolia pulmonar prévia Hemoptise Malignidade Escore 0-2 pontos 3-6 pontos ˃ 6 pontos Probabilidade de embolia % 3.6 20.5 66.7 3,0 3,0 1,5 1,5 1,5 1,0 1,0 Interpretação do risco Baixa Moderada Alta 25 7 DIAGNÓSTICO O diagnóstico de embolia pulmonar aguda requer a integração de uma história cuidadosa e exame físico com testes laboratoriais e exames de imagem adequada.28 Nenhum teste diagnóstico não invasivo é absolutamente específico e sensível no diagnóstico de embolia pulmonar. Alguns são bons excludentes, outros confirmativos. No entanto, o diagnóstico deve ser estabelecido obedecendo a algoritmos de orientação (Fig. 7-1).3 Suspeita de embolia pulmonar aguda Sem EP Normal Se probabilidade clínica for baixa, considerar D-dímero* Alta probabilidade Tratar EP Não-diagnóstica Positiva TC em espiral N Tratar EP Negativa EP improvável mas possível+! Cintilografia V/Q Outros testes necessários (várias possibilidades)# Não-diagnóstica Angiografia pulmonar * Se a suspeita clínica for baixa e o D-dímero for negativo nenhum exame de imagem é necessário. Ultra-sonografia de Membros inferiores ou Positiva Negativa Positiva Negativa Tratar EP Sem EP Se a TC for não diagnóstica e D-dímero estiver subsequentente negativo, e se a suspeita clínica também for baixa, não há necessidade de outros exames. A arteriografia pulmonar ou um exame dos membros inferiores deve ser considerado se a suspeita for alta. + ! Embora as embolias subsequentes não possam ser excluídas, êmbolos maiores não são prováveis. Um estudo recente sugere que a TC tem uma sensibidade de apenas 70% para EP aguda. Tratar EP presumida TVP ainda pode estar presente Considerar ultra-sonografia seriada TVP proximal diagnosticada Trombose da veia da panturrilha diagnosticada # Se a cintilografia V/Q for de probalidade muito baixa, nenhum outro estudo geralmente é necessário. Se a V/Q for baixa ou de probalidade baixa ou intermediária e a suspeita clínica for alta, outros exames são necessários. O exame do D-dímero pode ser considerado especialmente quando a suspeita for baixa. Tratar Considerar fortemente o tratamento Fig. 7-1 – Algoritmo para abordagem diagsnóstica de suspeita de embolia pulmonar aguda: TC = tomografia computadorizada; EP = embolia pulmonar; V/Q = ventilação perfusão; ELISA = imunoensaio enzimático. É grande o número de patologias que promovem o diagnóstico diferencial de embolia pulmonar (Quadro 7-1). Os sinais, sintomas e as circunstâncias clínicas servem como 26 elementos de apoio para a decisão de que sejam solicitados exames complementares que confirmarão ou afastarão o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar.4 As abordagens diagnósticas não invasivas confiáveis têm se tornado crescentemente disponíveis, particularmente ultrassom venoso, dímero-D plasmático determinado por ELISA, tomografia computadorizada de tórax e ecocardiografia e, o complemento de técnicas mais bem determinadas de mapeamento e angiografia pulmonar.29 7.1 D-DÍMERO O d-dímero, um produto de degradação da fibrina, pode ser realizado através de várias técnicas, sendo o ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) considerado o de melhor acurácia com sensibilidade de 97% e especificidade de 42%. O método de avaliação semiquantitativo pela técnica do látex é o mais utilizado, porém com níveis de acurácia inferiores aos realizados pelo método do ELISA: sensibilidade de 70% e especificidade de 76%. Ginsberg e cols. Evidenciaram alto valor preditivo negativo do d-dímero, demonstrando a sua utilidade para a exclusão do diagnóstico.30 Quadro 7-1. Diagnóstico diferencial de embolia pulmonar aguda .Infarto do miocárdio .Pericardite .Insuficiência cardíaca congestiva .Pneumonia .Asma .Doença pulmonar obstrutiva crônica .Pneumotórax .Pleurodinia .Pleurite da colagenose vascular .Herpes zoster torácico (cobreiro) .Fratura de costela .Dor músculo-esquelética .Câncer intratorácico primário ou metastático .Processos infradiafragmáticos (colecistite aguda, infarto esplênico) .Síndrome de hiperventilação 27 7.2 RADIOGRAFIA DE TÓRAX As principais alterações correlacionadas com a embolia são áreas de hipoperfusão pulmonar (sinal de Westmark), imagens cuneiformes (sinal de Hampton), dilatação da artéria pulmonar (sinal de Palla), atelectasia, derrame pleural e elevação da hemicúpula diafragmática. Entre as alterações descritas, a identificação de áreas de hipoperfusão é a mais específica. A radiografia de tórax é fundamental no subgrupo de pacientes a serem submetidos à cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão, ajudando a definir a probabilidade diagnóstica.23 7.3 ELETROCARDIOGRAMA As alterações eletrocardiográficas mais específicas na embolia pulmonar são aquelas em que estão presentes sinais da sobrecarga aguda do ventrículo direito. O bloqueio do ramo direito, o desvio do eixo elétrico para a direita, o padrão S1Q3T3 e a inversão da onda “T” nas derivações precordiais de V1 a V4 são as principais anormalidades eletrocardiográficas correlacionadas com a embolia pulmonar, que foram identificadas em 50% dos pacientes avaliados por Ferrari e cols., que também demonstraram que a inversão de onda “T” de V1 a V4 foi a mais frequente das anormalidades, ocorrendo em 68% dos casos analisados.31 7.4 ECOCARDIOGRAMA O ecocardiograma bidimensional transtorácico não possui boa acurácia para a visibilização do trombo na artéria pulmonar, sendo, entretanto, importante para a avaliação da função do ventrículo direito. O ecocardiograma transtorácico pode diagnosticar a presença de trombo nas cavidades cardíacas direitas, em 17% dos pacientes com embolia pulmonar.32 A disfunção do ventrículo direito foi detectada em 40% dos pacientes avaliados no estudo ICOPER, e a sua presença determinou um aumento de duas vezes na incidência de trombos em 14 dias, e uma vez e meia em três meses de seguimento.7 O ecocardiograma 28 transesofágico possui acurácia diagnóstica superior ao transtorácico para a visibilização do trombo na artéria pulmonar. Nos trombos de localização central, ou seja, no tronco da artéria pulmonar ou nos ramos principais, o ecocardiograma transesofágico possui sensibilidade de 98% e especificidade de 86%.33 Pela possibilidade de ser realizado à beira do leito, o método está indicado para os pacientes clinicamente instáveis, nos quais é maior a possibilidade de trombos de localização central. A prevalência do foramen oval patente na população geral varia entre 20 e 35%, na maioria dos estudos de necropsia,34 entretanto a incidência de embolia paradoxal é baixa.35 7.5 GASOMETRIA ARTERIAL A gasometria arterial é de baixa especificidade e moderada sensibilidade para o diagnóstico de embolia pulmonar.36 A presença de hipoxemia e da hipocapnia possui valor preditivo negativo entre 65 e 68%, considerado insuficiente para afastar o diagnóstico de embolia pulmonar.37 A gasometria deve orientar a necessidade de oxigenioterapia suplementar e de ventilação mecânica em pacientes instáveis. 7.6 CINTILOGRAFIA PULMONAR Nos pacientes considerados de alta probabilidade, a especificidade da cintilografia foi de 97%, com sensibilidade de 41%. Os pacientes considerados de alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica são diagnosticados como embolia pulmonar, enquanto que, naqueles com baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal, esse diagnóstico é excluído. Nos pacientes com baixa ou intermediária probabilidade, em mais de dois terços dos casos, é necessária a realização de outro método para esclarecimento do diagnóstico.23 29 7.7 AVALIAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES A duplex ultrassonografia é positiva em 10 a 20% dos pacientes sem sinais ou sintomas de trombose venosa profunda, e em aproximadamente 50% nos pacientes com embolia pulmonar confirmado.38 Tem grande papel na investigação de tromboembolismo venoso, pois um resultado positivo, em um paciente com suspeita clínica de embolia pulmonar, que apresente alguma alteração de membro inferior que sugira trombose venosa profunda, é suficiente para a conclusão diagnóstica. Entretanto, um exame normal não exclui o diagnóstico de embolia pulmonar. Por outro lado, um resultado positivo, em um paciente sem sinais ou sintomas de membros inferiores, deve ser interpretado com cautela.39 A presença de um ou mais dos fatores relacionados no Quadro 7-2, aumenta a chance de resultados falsopositivos.38 Assim, a venografia continua sedo o padrão-ouro para a avaliação de membros inferiores e tem importante papel, quando se avalia esse grupo de pacientes.38,40 A flebotomografia tem sido incorporada ao arsenal de exames para o diagnóstico de trombose venosa profunda, porém não de forma independente. Com o paciente mantido na mesma posição e utilizando o mesmo contraste injetado por bomba em veia periférica, visando à pesquisa de embolia pulmonar (angiotomografia pulmonar), são realizados cortes de espessuras variáveis, conforme o protocolo preconizado na instituição, desde a cavidade pélvica até a extremidade distal das pernas. Com a flebotomografia, haveria a vantagem de avaliar pulmões e membros inferiores com um único exame e visualizar sítios de trombose que não estariam no campo de avaliação da ultrassonografia. Assim, tal método tem sido elaborado cada vez mais, com o objetivo de diminuir o tempo do exame e a dose de radiação. Os resultados, na literatura, ainda não são uniformes, porém alguns dados são promissores.55 30 Quadro 7-2. Fatores que diminuem o valor preditivo, positivo, do ultra som de membros inferiores, em pacientes com tromboembolismo pulmonar agudo. .Paciente assintomático para TVP .Anormalidade restrita às veias da .Baixa suspeita clínica de TVP panturrilha .Alteração restrita a um pequeno .Episódio prévio de TVP .Segmento de veia proximal .Resultado negativo de teste sensível para TVP (dosagem de D-dímero) Adaptado de Kearon C et al., 199838. TVP – Trombose venosa profunda 7.8 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA HELICOIDAL A tomografia helicoidal vem sendo amplamente utilizada na investigação de pacientes com suspeita clínica de embolia pulmonar. A boa acurácia, o custo relativamente baixo - se comparado à arteriografia convencional, a possibilidade de investigação de outros diagnósticos diferenciais estão entre as vantagens da tomografia, frente a outras estratégias. Revisão sistemática de nove estudos demonstrou a sensibilidade variando de 53 a 100% e a especificidade entre 81 e 100%,41 sendo o método mais sensível para identificar trombos nos ramos principais, lobares e segmentares.42 A possibilidade de avaliação da trombose venosa profunda através da venografia constitui um outro atrativo para a utilização da tomografia, que tem a possibilidade de avaliar vasos pélvicos e abdominais onde o duplex-scan apresenta limitações.43 Na gravidez a tomografia computadorizada pode ser utilizada sem risco significativo para o feto. 7.9 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A possibilidade da visibilização das artérias pulmonares, sem a necessidade da utilização de contraste iodado e sem exposição à radiação, é a principal vantagem da ressonância magnética. Em um estudo comparativo com a tomografia helicoidal, avaliado por cinco observadores, a ressonância magnética mostrou sensibilidade de 46% e especificidade de 90%.44 31 7.10 ANGIOGRAFIA PULMONAR A arteriografia pulmonar é considerada o método padrão para o diagnóstico da embolia pulmonar com a visibilização da circulação pulmonar, após a injeção de contraste iodado. O uso de cateteres mais finos e flexíveis e a melhor definição da imagem com a incorporação da técnica de subtração digital têm melhorado a acurácia do método.27 As principais complicações do método são a anafilaxia e a nefrotoxicidade induzida pelo contraste, que pode ser minimizada com uma adequada hidratação venosa. 7.11-MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA Os marcadores de necrose miocárdica, creatinoquinase e troponina I podem estar elevados na embolia pulmonar. O infarto do ventrículo direito desencadeado por um episódio de embolia pulmonar , com valores da creatinoquinase MB acima da normalidade, foi demonstrado por Adams e cols. A elevação da troponina I está associada à disfunção do ventrículo direito e à presença de múltiplos defeitos segmentares na cintilografia pulmonar.45 7.12 DUPLEX-SCAN VENOSO O exame é considerado positivo quando da visibilização do trombo ou redução da compressibilidade das veias profundas dos membros inferiores,46 com sensibilidade e especificidade superiores a 90% para a trombose venosa proximal.47 O diagnóstico da trombose venosa profunda pode evitar a realização de exames para identificar o trombo na circulação pulmonar, já que esta possui abordagem terapêutica semelhante à embolia pulmonar. 32 8 TRATAMENTO A abordagem terapêutica inicial tem por objetivo a estabilidade clínica e hemodinâmica oferecendo, se necessário, suporte farmacológico, com agentes inotrópicos e vasoconstritores, e suporte ventilatório. Nos pacientes hipotensos, a administração de cristaloides é a conduta inicial, podendo ser usadas aminas vasopressoras para os pacientes refratários à reposição volêmica. A hipoxemia é tratada com oxigenoterapia, através de máscara facial, e, nos casos mais graves, a intubação orotraqueal e o suporte ventilatório mecânico podem ser necessários.27 Os pacientes instáveis clinicamente devem ser admitidos em unidades de terapia intensiva e aqueles estáveis podem ser tratados em unidades de intermediária complexidade. As opções do tratamento da embolia pulmonar aguda incluem anticoagulação com heparina ou heparina de baixo peso molecular (HBPM), terapia trombolítica e colocação de filtro de veia cava inferior. Ocasionalmente, a embolia pulmonar maciça pode ser tratada com embolectomia cirúrgica. Cada conduta tem indicações específicas, bem como vantagens e desvantagens. 8.1 SUPORTE HEMODINÂMICO O suporte hemodinâmico e respiratório é necessário em doentes com embolia pulmonar suspeita ou confirmada que se apresentem em choque ou com hipotensão. A insuficiência aguda do ventrículo direito tendo como resultado um baixo débito sistêmico é a principal causa de morte em doentes com embolia pulmonar de alto risco. Por isso, o tratamento de suporte é de importância vital nestes doentes. As medidas de suporte consistem na oxigenação adequada do paciente e manutenção da pressão arterial sistêmica, com uso de drogas vasoativas, inotrópicas ou antiarrítmicas, se for o caso. A noradrenalina parece melhorar a função do ventrículo direito por efeito inotrópico positivo direto e também por melhorar a perfusão coronária por estimulação periférica dos receptores vasculares alfa, aumentando a pressão arterial sistêmica. Não há dados clínicos disponíveis sobre os efeitos da noradrenalina na embolia pulmonar, e o seu uso deve ser provavelmente limitado aos doentes hipotensos.48 O uso de dobutamina e/ou dopamina pode ser considerado em doentes com embolia pulmonar, baixo índice cardíaco e pressão arterial 33 normal. A adrenalina combina as propriedades benéficas da noradrenalina e dobutamina sem os efeitos vasodilatadores sistêmicos da segunda droga.49 Em doentes com embolia pulmonar e em choque, a adrenalina pode exercer efeitos benéficos.50 A hipoxemia e a hipocapnia encontram-se frequentemente em doentes com embolia pulmonar, embora sejam de gravidade moderada na maioria dos casos. A hipoxemia é usualmente revertida com oxigênio nasal e a ventilação mecânica raramente é necessária. O consumo de oxigênio deve ser minimizado com medidas para reduzir a febre e a agitação, instituindo ventilação mecânica se o trabalho dos músculos respiratórios for excessivo. Quando a ventilação mecânica é necessária, deve-se tentar limitar os seus efeitos hemodinâmicos adversos. Particularmente, a pressão positiva intratorácica induzida pela ventilação mecânica pode reduzir o retorno venoso e piorar a insuficiência do ventrículo direito em doentes com embolia pulmonar maciça. Assim, a pressão positiva no fim da expiração deve ser usada com cuidado. Baixos volumes correntes (aproximadamente 6ml/kg peso corporal) devem ser usados numa tentativa de manter a pressão de plateau no final da expiração abaixo dos 30mmH2O.51 8.2 ANTICOAGULAÇÃO Os anticoagulantes usados para tratar a embolia pulmonar inclui a heparina não fracionada intravenosa, a heparina de baixo peso molecular subcutânea e o fondaparinux subcutâneo.52 Levando em consideração a elevada taxa de mortalidade nos doentes não tratados, o tratamento anticoagulante deve ser considerado em doentes com suspeita de embolia pulmonar enquanto se aguarda a confirmação do diagnóstico definitivo. 8.2.1 Heparina não fracionada (HNF) A heparina não fracionada plena ou sistêmica, empregada na embolia pulmonar pela via intravenosa ou subcutânea, é um tratamento bastante eficaz no tromboembolismo pulmonar, reduzindo a mortalidade de 30% para 8%, como mostra o famoso estudo PIOPED.1 Ela age impedindo a extensão do trombo, pois sua ligação com a antitrombina III 'inibe a 34 coagulação'. É importante termos em mente que essa droga não dissolve o trombo estabelecido. Graças a ação inibitória da heparina sobre a coagulação, o sistema fibrinolítico é capaz de dissolver o trombo já formado em tempo hábil. A heparina reduz de maneira significativa a mortalidade nos episódios de embolia pulmonar. A dose média diária de heparina não fracionada no tratamento do tromboembolismo venoso varia de 24.000 a 30.000U nas 24h.53 Sob infusão contínua proporciona maior estabilidade nos níveis séricos, com menor ocorrência de sangramentos quando comparada à administração intermitente.54,55 A estratégia recomendada utiliza bolus de 80U/Kg como dose de ataque, seguida da dose de manutenção de 18U/Kg/h, que deverá ser ajustada conforme as variações do TTPa.56 Na administração intermitente, a dose de é de 5000U a cada 4h, devendo o TTPa ser avaliado antes de cada dose, até que se obtenha estabilidade, quando, então, poderá ser avaliado em intervalos maiores (Quadro 8-1). O tempo de tratamento com a heparina não fracionada, em geral, é de cinco a sete dias, coincidindo com o tempo necessário para se alcançar adequada anticoagulação com o uso de anticoagulantes orais, sendo a estratégia considerada efetiva e segura.57 A via subcutânea, quando utilizada, necessita dos mesmos cuidados de controle laboratorial. A dose de heparina não fracionada por via subcutânea é de 17.500U a cada 12h.58 O seu uso requer acompanhamento laboratorial através de avaliações TTPa. O objetivo terapêutico é manter níveis séricos de TTPa entre 1,5 e 2,5 vezes o valor basal do paciente.59 8.2.2 Heparina de baixo peso molecular (HBPM) Estudos recentes têm demonstrado a eficácia e a segurança da heparina de baixo peso molecular no tratamento da embolia pulmonar.60 As heparinas de baixo peso molecular têm a vantagem de simplificar o tratamento e permitir uma internação hospitalar menos prolongada. A ação principal das heparinas de baixo peso molecular se dá no fator Xa, com pouco ou nenhum efeito sobre a trombina.4 A incidência de embolia pulmonar recorrente e hemorragia indica que as apresentações de heparina de baixo peso molecular são tão efetivas e seguras quanto a heparina não fracionada, sendo o risco de trombocitopenia induzida pela heparina muito menor com heparina de baixo peso molecular.15 As heparinas de baixo peso molecular devem ser dadas com cuidado a doentes com insuficiência renal e a sua dose ajustada de acordo com o nível de anti-Xa. A heparina intravenosa não fracionada deve 35 ser o modo preferido de anticoagulação inicial para doentes com insuficiência renal grave (clearance da creatinina <30mL/min), uma vez que não é eliminada pelos rins, e para os doentes com alto risco de hemorragia, porque o seu efeito anticoagulante pode ser revertido rapidamente. Para todos os outros casos de embolia pulmonar aguda, a heparina não fraccionada pode ser substituída por heparina de baixo peso molecular subcutânea em dose ajustada ao peso sem monitorização. A enoxaparina está aprovada tanto para pacientes internados quanto ambulatoriais em uma dose de 1 mg/kg por via subcutânea a cada 12 horas ou 1,5 mg/kg uma vez ao dia para pacientes internado. Quadro 8-1 Ajuste da dose intravenosa de heparina não fracionada com base no tempo de tromboplastina parcial ativada61 Tempo de tromboplastina Parcial ativada Mudança de dose < 35 s (<1,2 vezes o controle) 80 U/kg bolus; aumentar a velocidade de perfusão em 4 U/kg/h 35-45 s (1,2 a 1,5 vezes o controle) 40 U/kg bolus; aumentar a velocidade de perfusão em 2 U/kg/h 46-70 s (1,5 a 2,3 vezes o controle) Sem alterações 71-90 s (2,3 a 3,0 vezes o controle) Reduzir a velocidade de infusão em 2 U/kg/h >90 (>3,0 vezes o controle) Parar a perfusão por uma hora, depois reduzir velocidade em 3 U/kg/h 8.2.3 Fondaparinux O fondaparinux, um inibidor do fator Xa, mostrou ser pelo menos tão efetivo e seguro quanto a heparina não fracionada para o tratamento da embolia pulmonar em pacientes hemodinamicamente estáveis.62 O fondaparinux, é administrado subcutaneamente em doses ajustadas ao peso sem monitorização e é uma alternativa às heparinas de baixo peso molecular. Devido à sua meia-vida de 15-20h, o fondaparinux permite uma única administração diária. O fondaparinux é contraindicado na insuficiência renal grave com clearance da creatinina <20mL/min. O fondaparinux é administrado em dose única diária, por 36 via subcutânea, 5 mg para peso corporal menor que 50 kg, 7,5 mg para peso corporal de 50 a 100 kg e 10 mg para peso corporal maior que 100 kg. 8.3 ANTICOAGULANTES ORAIS Anticoagulantes orais de rápida ação podem substituir os agentes parenterais no tratamento inicial do tromboembolismo venoso. Dispomos de uma ampla variedade de anticoagulantes para profilaxia e tratamento de diversas situações trombóticas em unidades de terapia intensiva. Infelizmente, não dispomos no momento, de um anticoagulante ideal, com farmacocinética, farmacodinâmica previsível, posologia simplificada, reduzida interação medicamentosa, antídoto específico e sem necessidade de monitorização laboratorial. Um grande número de novos anticoagulantes orais, particularmente os inibidores dos fatores Xa e IIa, não requerem monitorização e estão atualmente sob avaliação clínica. Entre os novos anticoagulantes orais, dabigatran, rivaroxaban e apixaban são os que apresentam estudos clínicos em fase mais avançadas e uso na prática clínicas em alguns países. 84 Os cumarínicos são anticoagulantes orais que agem inibindo a síntese de fatores da coagulação dependentes de vitamina K (II,VII, IX e X), além das proteínas anticoagulantes, proteína C e S80. O controle laboratorial da anticoagulação dos pacientes em uso de anticoagulantes orais é realizado, classicamente, através da dosagem do tempo, e da atividade da protrombina.63 O objetivo terapêutico do uso de anticoagulantes orais no tratamento da embolia pulmonar é manter o INR entre 2,0 e 3,0, faixa na qual foi demonstrada boa eficácia antitrombótica com pequena incidência de sangramento.64 A dose inicial de warfarin é de 5mg/dia, podendo ser iniciada concomitantemente à heparina no primeiro dia do tratamento.3 Doses maiores que 5 mg mostraram pequena redução no tempo para se obter o INR adequado, tendo, porém, aumentado significativamente os casos de sangramento.65 Em geral o tempo médio para se obter a anticoagulação adequada com o warfarin é de cinco dias, período no qual o paciente deverá estar em uso concomitante de heparina.66 A duração do tratamento com anticoagulantes orais dependerá, fundamentalmente, dos fatores de risco e da possibilidade de serem removidos. Os pacientes somente com fatores considerados removíveis, como o uso de estrogênio ou com procedimento cirúrgico, poderão ser tratados por três meses, desde que suspensa a exposição a estas situações. A trombose idiopática, em seu primeiro episódio, requer tratamento por, pelo menos, seis meses. Nos pacientes com trombose idiopática 37 recorrente, ou naqueles com fatores de risco não removíveis, o tratamento pode se estender por 12 meses ou mais.3 A estratégia terapêutica para os casos de trombofilia é individualizada de acordo com a situação clínica.67 8.4 TROMBOLÍTICOS Os trombolíticos reduzem de maneira efetiva a quantidade, ou melhor dizendo, a carga de trombos formados. A uroquinase, a estreptoquinase e o t-PA estão liberados para uso. Estas drogas atuam ativando o plasminogênio tecidual. O uso de trombolítico no tratamento da embolia pulmonar tem a sua base racional apoiada no fato desses fármacos serem mais eficazes que a heparina para dissolver os trombos e, consequentemente, propiciarem melhor resultado clínico. Por outro lado, o uso de trombolítico pode induzir a sangramentos, sendo, portanto, sua indicação limitada a subgrupos de pacientes que apresentem maior gravidade clínica. Os pacientes com instabilidade hemodinâmica e disfunção do ventrículo direito, caracterizando a embolia pulmonar maciça, representam o subgrupo de pior prognóstico, tendo indicação para o uso trombolítico.3 Os regimes aprovados de estreptocinase, urocinase e rtPA são mostrados no Quadro 8-2. As contra indicações absolutas e relativas são mostradas no Quadro 8-3. Quadro 8-2 Regimes trombolíticos aprovados para a embolia pulmonar Estreptoquinase 250.000 UI como dose inicial em 30 min., seguidas de 100.000 UI/h por 12-24 horas Regime acelerado: 1,5 milhões UI em 2 horas Uroquinase 4.400 UI/kg como dose inicial em 10 min., seguido de 4.400 UI/kg por 12-24 horas Regime acelerado: 3 milhões UI em 2 horas rtPA 100 mg em 2 horas ou 0,6 mg/kg em 15 min. (dose máxima 50 mg) 8.5 ANTITROMBÍNICOS A hirudina é um inibidor direto da trombina que tem várias vantagens sobre a 38 heparina, inclusive eficácia contra a trombina ligada a coágulos de fibrina. O ximelagatran, um inibidor oral direto da trombina, mostrou ser superior a varfarina com uma prevalência equivalente de sangramento.79 A desvantagem dos inibidores diretos da trombina é a ausência de reversibilidade. O argatroban é um derivado da arginina que interage apenas com o sítio ativo da trombina. É metabolizado no fígado, com meia vida de 45 minutos, prolongada em pacientes com disfunção hepática. A lepirudina é excretada pelos rins, e deve ter sua dosagem reduzida em pacientes com insuficiência renal. 8.6 EMBOLECTOMIA PULMONAR CIRÚRGICA Usualmente, a embolectomia pulmonar tem sido reservada para doentes com embolia pulmonar que podem necessitar de reanimação cardiopulmonar. Também é realizada em doentes com contra indicações ou resposta inadequada à trombólise, e naqueles com foramen ovale permeável e trombos intracardíacos.68,69 O melhor resultado cirúrgico é reservado para os casos de obstrução subtotal do tronco da artéria pulmonar ou dos seus ramos principais.3 A mortalidade dos pacientes submetidos à embolectomia é elevada, principalmente pela gravidade daqueles que realizam tal procedimento.70 Quadro 8-3 Contra indicações para a terapêutica fibrinolítica71 Contra indicações absolutas Acidente vascular cerebral hemorrágico Acidente vascular cerebral isquêmico nos 6 meses anteriores Lesão ou neoplasia do sistema nervoso central Cirurgia / politraumatismo / traumatismo cranioencefálico recente (nas 3 semanas precedentes) Hemorragia gastrointestinal no último mês Hemorragia conhecida Contra indicações relativas Acidente isquêmico transitório nos 6 meses precedentes Terapêutica anticoagulante oral Gravidez ou menos de uma semana pós-parto Feridas não compressíveis Reanimação traumática Hipertensão refratária (pressão arterial sistólica >180 mmHg) Doença hepática avançada 8.7 EMBOLECTOMIA POR CATETERIZAÇÃO PERCUTÂNEA E FRAGMENTAÇÃO Endocardite infecciosa Úlcera péptica ativa 39 8.7 EMBOLECTOMIA POR CATÉTER PERCUTÂNEO E FRAGMENTAÇÃO A embolectomia por cateter ou fragmentação dos trombos arteriais pode ser considerada uma alternativa ao tratamento cirúrgico em doentes proximais com embolia pulmonar de alto risco quando a trombólise é absolutamente contra indicada ou falhou. As técnicas percutâneas que permitem abrir um tronco pulmonar ou artérias pulmonares parcialmente ocluídos pode salvar uma vida em situação crítica numa embolia pulmonar de alto risco.72,73 A melhoria hemodinâmica pode fragmentação de um trombo bem sucedida. As ser bem complicações visível dos de estruturas cardíacas, tamponamento e reações com seguir à procedimentos percutâneos incluem lesão do local de inserção do cateter, geralmente a perfuração a veia o femoral, contraste. 8.8 FILTRO DE VEIA CAVA Os filtros de veia cava estão indicados para a prevenção da embolia pulmonar em pacientes com contra indicação à anticoagulação e naqueles que apresentam recorrência do tromboembolismo venoso a despeito do tratamento anticoagulante.3 Em pacientes com grave disfunção cardíaca ou pulmonar e em situações de alto risco de tromboembolismo, o filtro de veia cava é sugerido por alguns autores,74 bem como naqueles submetidos à embolectomia.75 8.9 TRATAMENTO DA EMBOLIA PULMONAR NA GRAVIDEZ O tratamento da embolia pulmonar na gravidez é baseado essencialmente na heparina, não fracionada ou heparina de baixo peso molecular, que não atravessam a placenta nem são encontradas no leite materno em concentrações significativas. O tratamento com heparina deve orais ser dado durante toda a gravidez. Os anticoagulantes atravessam a placenta e estão associados a uma embriopatia bem definida durante o primeiro trimestre.78 A administração de anticoagulantes orais no terceiro trimestre pode resultar em hemorragia fetal e neonatal assim como em placenta prévia. A varfarina pode 40 estar associada a anomalias do sistema nervoso central em menos qualquer trimestre. A analgesia epidural não pode ser utilizada a que a heparina de baixo peso molecular seja descontinuada pelo menos 12h antes da abordagem epidural. O tratamento pode ser reiniciado 12-24 h após o cateter epidural ter sido retirado. Após o parto, o tratamento com heparina pode ser substituído por anticoagulação orais. com anticoagulantes O tratamento anticoagulante deve ser administrado pelo menos por três meses após o parto. Os anticoagulantes provavelmente outras incidência podem ser dados a mães lactantes. A estreptoquinase (e drogas trombolíticas) não atravessa a placenta. No entanto, a global de hemorragia nas mães é de cerca de 8%, geralmente da genital. Na altura do parto, o tratamento trombolítico não deve ser usado exceto em extremamente graves e se a embolectomia cirúrgica não está As indicações via casos imediatamente disponível. para filtros na veia cava nas mulheres grávidas são similares às dos outros doentes com embolia pulmonar. 9.0 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO A incidência de complicações decorrentes dos efeitos deletérios da imobilidade na unidade de terapia intensiva contribui para o declínio funcional, aumento do tempo de internação e redução da funcionalidade. A fisioterapia é capaz de promover a recuperação e preservação da funcionalidade, podendo minimizar estas complicações através da mobilização precoce. A sobrevida dos pacientes criticamente enfermos tem aumentado em consequência da evolução tecnológica, científica e da interação multidisciplinar. Uma vez que o sistema musculoesquelético é projetado para se manter em movimento, sendo necessários apenas sete dias de repouso no leito para força muscular diminuir em 30%, com uma perda adicional de 20% da força restante a cada semana.86 41 9 PREVENÇÃO A profilaxia é de suma importância porque o tromboembolismo venoso é difícil de se detectar e coloca um fardo excessivo de fatores médicos e econômicos. As práticas mecânicas e farmacológicas são muitas vezes bem sucedidas na prevenção desta complicação. Pacientes com alto risco podem receber uma combinação de modalidades mecânicas e farmacológicas. Meias de compressão graduada e dispositivos de compressão pneumática podem complementar a dose mini-heparina (5000 unidades por via subcutânea, duas ou três vezes por dia, de preferência), heparina de baixo peso molecular, um pentassacarídeo (fondaparinux 2,5 mg por dia), ou a administração de varfarina. Pacientes submetidos a artroplastia total do quadril, a substituição total do joelho, ou cirurgia de câncer irão se beneficiar de profilaxia farmacológica estendida para um total de 4-6 semanas.80 Em pacientes selecionados com alto risco de tromboembolia venosa e hemorragia, a ligadura da veia cava inferior com a colocação de um filtro, é uma opção profilática.85 O quadro 9-1 mostra o risco de embolia pulmonar em paciente cirúrgico. Quadro 9-1 Risco de embolia pulmonar em paciente cirúrgico81 Risco Situação cirúrgica Medidas profiláticas Baixo Cirurgia de pequeno porte em pacientes ˂40 anos sem fatores de risco clínicos Nenhuma medicação profilática específica, além da deambulação precoce Moderado Cirurgia de grande porte em Pacientes ˃40 anos sem outros fatores de risco clínicos Meias elásticas e baixa dose de HNF(cada 12h) ou CPI Alto Cirurgia de grande porte em Pacientes ˃40 anos com fatores de risco adicionais ou infarto do miocárdio Baixa dose de HNF (cada 8h) HBPM ou CPI e meias elásticas Muito alto risco Cirurgia de grande porte em pacientes >40 anos com tromboembolismo anterior ou malignidades CPI mais baixa dose de HNF (cada 8h), HBPM ou varfarina dose ajustada HNF – heparina não fracionada; CPI – compressão pneumática intermitente; HBPM – heparina de baixo peso molecular A alta incidência de tromboembolia também está associada à neurocirurgia eletiva, ferimentos agudos da medula espinhal, e traumas múltiplos. Embora os métodos físicos 42 (compressão pneumática intermitente, meias elásticas) tenham sido usados nos pacientes neurocirúrgicos devido à preocupação acerca da hemorragia intracraniana, a heparina de baixo peso molecular parece ser uma alternativa aceitável. A combinação da compressão pneumática intermitente e heparina de baixo peso molecular pode ser mais eficaz do que ambas isoladamente, nos pacientes de alto risco. Dados limitados apoiam a combinação da compressão pneumática intermitente, meias elásticas e heparina de baixo peso molecular nos ferimentos da medula espinhal ou traumas múltiplos. Para os pacientes de muito alto risco, pode ser necessária a ligadura da veia cava inferior. As condições médicas mais comuns nas quais a profilaxia é indicada são infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Para os pacientes com infarto do miocárdio, a heparina não fracionada é eficaz, e a compressão pneumática intermitente e/ou as meias elásticas podem ser usadas quando os anticoagulantes forem contra indicados. A heparina não fracionada ou a heparina de baixo peso molecular podem ser usadas nos pacientes com acidente vascular cerebral; a compressão pneumática intermitente e/ou meias elásticas podem ser benéficas. As recomendações para algumas outras condições médicas incluem a heparina não fracionada para os pacientes com insuficiência cardíaca; dose ajustada de varfarina (INR 1,3 a 1,9) para aquelas com câncer de mama metastático; e varfarina 1mg ao dia para os pacientes com câncer com cateter venoso central de demora. 43 10 PROGNÓSTICO A mortalidade, em consequência de um evento tromboembólico inicial, varia com a extensão da embolia pulmonar e o estado cardiopulmonar preexistente. Um paciente com função cardiopulmonar acentuadamente comprometida tem maior risco de morrer devido a uma alta embolização significativa (provavelmente > 25%). Entretanto, é improvável que um paciente com estado cardiopulmonar normal morra, a menos que o processo oclusivo exceda 50% do leito vascular pulmonar. Quando o evento embólico inicial é fatal, a morte frequentemente ocorre dentro de 1 a 2h. Se um paciente sobreviver ao evento embólico inicial sem ser tratado, a probabilidade de nova embolia será de cerca de 50%; mais da metade dessas recidivas pode ser fatal. A terapia anticoagulante reduz a taxa de recorrência para cerca de 5%, e somente 20% destas são fatais. As taxas de mortalidade médias em um mês de embolia pulmonar tratadas ou não tratadas foram estimadas em 8% e 30%, respectivamente. Pequena porcentagem de pacientes com embolia pulmonar aguda desenvolvem dispneia crônica ou hipoxemia devida à hipertensão pulmonar tromboembólica crônica, a maioria dos pacientes que sobrevivem ao episódio agudo não apresenta sequelas pulmonar a longo prazo.15 44 11 CONCLUSÃO A embolia pulmonar tem sido amplamente destacada, por ser uma patologia com altos índices de morbidade e mortalidade e melhor conhecimento da sua fisiopatologia e da introdução e compreensão da atuação de vários medicamentos. A presença de múltiplos fatores de risco são mais frequentes em pacientes com idade superior a 40 anos e repouso prolongado no leito.82 O diagnóstico da embolia pulmonar tem seus fundamentos no entendimento clínico da doença. Os exames subsidiários devem ser solicitados de acordo com sua disponibilidade, com o estado hemodinâmico do paciente e de acordo com a presença de doenças cardiovasculares associadas. As medidas profiláticas para os fenômenos tromboembólicos são realmente efetivas, porém cada paciente deve ser individualizado e estratificado quanto ao risco e, assim, submetido à melhor estratégia profilática. O tratamento da embolia pulmonar deve ser definido não só pela instabilidade clínica ou disfunção do ventrículo direito, mas também por variáveis como a idade, presença de trombose venosa profunda proximal e estado cardiorrespiratório prévio. A eficácia comprovada da heparina não fracionada e o baixo risco de sangramentos fazem dessa a estratégia terapêutica mais empregada na embolia pulmonar. A heparina de baixo peso molecular se mostrou tão eficaz quanto a heparina não fracionada no tratamento da embolia pulmonar, além de apresentar vantagens como a via de administração subcutânea e da dispensa do controle laboratorial. Essas características vêm aumentando a utilização dessa estratégia terapêutica na embolia pulmonar. Quanto aos trombolíticos há necessidade de maiores evidências que respaldem sua indicação para os pacientes estáveis clinicamente.83 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MEDCURSO – Tromboembolismo pulmonar – Disponível em: Blogspot.com>. Acessado em 30 de novembro de 2010. <www.versaude. 2. DENTALL, F; DOUKETIS, J. D; GLANNL, M; LIM, W; CROWTHER, M. A. MetaMeta-analysis: anticoagulant prophylaxis to prevent symptomatic venous thromboembolism in hospitalized medical patients. Ann Intern Med 2007; 146:278-88. 3. PÁDUA FILHO, W. C. de; BARBOSA, M. de M; CHULA, E. D. Sociedade Mineira de Cardiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 4. BACCARINI PIRES, M. T; VIEIRA STARLING, S. Manual de Urgências em ProntoSocorro. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 5. ROY, P. M; MEYER, G; VIE LIE, B; LE GALL, C; VERSCHUEREN, F; CARPENTIER, F; et al. Appro-priateness of diagnostic management and outcomes of suspected pulmonary embolism. Ann Intem Med 2006; 144: 157-164. 6. 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