o ensino de filosofia e os desafios de uma escola pública de Maceió

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
RELATO DE EXPERIÊNCIA: o ensino de filosofia e os desafios de uma
escola pública de Maceió
José Anderson de Oliveira Lima
Aluno de Filosofia e do PIBID/UFAL
[email protected]
Orientação: Elizabete Amorim de Almeida Melo
Professora do Centro de Educação/CEDU-UFAL
[email protected]
RESUMO: Pretende-se com este artigo, o relato de experiência proveniente de uma pesquisa de
campo proposta pela disciplina de Estágio Supervisionado em Filosofia 1 da Universidade Federal de
Alagoas. O objetivo do trabalho de campo foi buscar dados importantes sobre a escola, seu
desempenho no IDEB, como também informações dos sujeitos educacionais que formam a escola.
Com base nesta realidade, refletirei sobre a particularidade dos problemas da escola pública
pesquisada, tendo o ensino de filosofia como parte integrante deste desafio. Analisarei, também, a
formação docente e sua importância no desenvolvimento de uma didática e de uma metodologia que
seja específica da filosofia. Ao realizar a pesquisa, houve a oportunidade de voltar à escola onde
estudei toda a minha educação básica e que hoje volta com o objetivo de analisar a escola como futuro
professor. Para isso, utilizei o estudo teórico dado em sala de aula em diferentes disciplinas da área
pedagógica, bem como as pesquisas de cunho pessoal devido ao meu interesse sobre o tema sobre o
ensino de filosofia: LDB (1996), Orientações Curriculares para o Ensino Médio (MEC, 2006),
PCN+EM (2000), Currículo do Estado de São Paulo (2010), Cerlletti (2009), Velloso (2012) e Obiols
(2002).
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Filosofia. Relato de Experiência. Professor de Filosofia. Escola
Pública.
1- INTRODUÇÃO
Sendo parte integrante dos estudos teóricos da disciplina de Estágio Supervisionado em
Filosofia 1 da UFAL, o trabalho de campo teve como proposta, nos primeiros meses de 2013,
visitar uma escola estadual de ensino médio do estado. Para que pudéssemos, como
graduandos em filosofia, partir do contexto teórico da universidade para a coleta de dados do
espaço prático educacional, especificamente, no espaço da disciplina de filosofia, buscando
detectar a realidade desse ensino no contexto concreto de uma escola pública.
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A coleta de informações na escola se deu a partir da experiência de treze (13) anos
como estudante nesta mesma escola. No entanto, esta volta à escola se deu como professor de
filosofia em formação e não mais como aluno da educação básica. Deste modo, vou poder ter
a oportunidade de refletir o passado como estudante dentro de um contexto de
responsabilidade educacional hoje. Ou seja, um sujeito que tinha responsabilidade de aprender
anteriormente, dará lugar a um sujeito que tem a responsabilidade de ensinar.
Este trabalho de campo transparecerá o contexto social que a escola se insere, dados
importantes como os números exatos de estudantes divididos nas turmas em diversificados
horários, como também o número de professores efetivos e servidores que prestam serviços
na escola. Analisarei também a ausência de profissionais importantes no quadro escolar e suas
consequências para o ensino.
Quanto à análise de dados escolar, trarei ainda a situação da escola diante das metas
sugeridas pelo Inep/MEC através do detalhamento que o IDEB - Índice de Desenvolvimento
Educacional Brasileiro - oferece.
“A tarefa do professor é ensinar, mas ensinar é concebido como um ato no qual o
professor introduz os estudantes numa prática na qual é especialista” (Obiols, 2002, p. 97).
Portanto, refletirei a formação docente frente ao rigor que o ensino de filosofia exige, para que
o ensino de filosofia tenha em posse o caráter de disciplina específica, com a responsabilidade
de favorecer ao educando uma formação ética e cidadã.
Assim, a base desse meu relato partirá de um olhar crítico que começará desde o bairro
que circunda a escola até a sala na qual é desenvolvida a aula de filosofia pelo docente
responsável. Que partilhará comigo os desafios de uma escola pública, e sua experiência
como docente que ao longo da carreira vem colhendo, e que teve a maior disponibilidade de
enriquecer esse meu relato de experiência.
2- A ESCOLA: Caracterização e dados importantes
A escola estadual no qual fiz a coleta de dados para a disciplina de Estágio
Supervisionado fica em Maceió, no bairro da Chã de Bebedouro, próximo a minha residência,
área de periferia. Por conhecer o bairro e a escola, conheço também a dificuldade social
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enfrentada por moradores dessa localidade. Não há assistência, como por exemplo, um posto
de saúde que facilite a vida dos moradores do bairro. Não há área de lazer com segurança, os
espaços de lazer que o bairro oferece ficam a mercê da escuridão e do esquecimento,
facilitando o isolamento do local e o incentivo a uso de drogas.
A escola é localizada dentro deste contexto de pobreza, da falta de politicas públicas e
ignorância educacional, no qual, para muitos pais a escola se torna um refugio, uma espécie
de “creche adulta” para seus filhos.
Quando cheguei à primeira vez na escola para recolher os dados, no portão também
chegava junto um professor que foi recebido por uma aluna com as seguintes palavras:
“Professor, o senhor nunca falta?”. Percebe-se nesta abordagem ao professor que a escola vem
perdendo um pouco a verdadeira significação, ou seja, sua função. Ela vem passando de ser
um lugar de incentivo ao conhecimento para um lugar enfadonho, uma prisão de tempo dos
jovens.
As escolas, ou as instituições educativas em geral, são lugares de encontros entre
pessoas, saberes, tradições, pensamentos. Portanto, a dimensão eventual de toda
prática educativa, e da filosófica em especial, constitui o suplemento permanente
(CERLLETTI, 2009, p. 73).
Antes de tudo, é importante salientar que em pleno final do mês de janeiro de 2013,
onde se concluiu a coleta, a escola ainda não tinha terminado o ano letivo de 2012. Assim, a
coleta de informações aconteceu em meio a um processo conturbado, pois a escola passava
em pleno ano letivo por uma reforma que tinha seu término previsto para três meses, mas que
estava já se prolongando por um ano. As aulas estavam acontecendo pela iniciativa dos
diretores da instituição, que cobraram o inicio imediato das aulas por receio de perda do ano
letivo de 2012. A solução encontrada para o retorno das aulas e prosseguimento do ano letivo
foi assumir o risco da continuidade das reformas nos finais de semanas e nos horários de
aulas, sem que afetem o desenvolvimento do ensino, coisa de difícil num contexto de reforma
da arte física da escola que pressupõe: barulho, movimentação de profissionais da construção
e etc.
A escola mudou muito desde a minha conclusão do ensino médio em 2005. O espaço
físico conta com muito mais conforto hoje do que o tempo em que estudava. Componentes
novos como: Sala de informática, quadra de futsal e espaço cultural para apresentações. Há
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uma biblioteca na escola que é um improviso, “algo que nem havia quando eu estudava”, na
verdade, é uma sala de aula que foi desativada para se colocar os livros da escola. Essa sala é
classificada como “sala de leitura”, ou como disse o professor de filosofia, “um lugar para
doentes que precisam de ajuda”. Não tive acesso à biblioteca pelo fato do diretor afirmar que
não tinha nada de mais, a não serem os livros didáticos que a escola recebe. Ou seja, não se
pode encontrar nesta escola livros de pesquisas além dos didáticos que a escola recebe para
distribuição entre os alunos. As salas de aula não têm ventiladores, mas contam com pequenos
espaços acima que facilitam a circulação do ar, mas, não soluciona o problema do calor pelo
fato do PVC das salas serem baixos, facilitando o acúmulo de calor. Enquanto estava na sala
de aula, presenciei alunos se abanando com folhas para se sentirem melhores dentro da sala.
A escola possui 20 computadores que não são utilizados pelos professores. Segundo o
professor de filosofia, a sala de informática geralmente é utilizada pelo tempo integral, que é
um programa criado pelo Ministério da educação (MEC), que tem a meta de ampliar a jornada
escolar para dar mais tempo para os conteúdos escolares, além de incluir atividades
formadoras no campo das artes, do esporte, da saúde e direito humanos. Assim, os alunos do
ensino médio que não participam deste programa, não tem oportunidade de usufruir dos
computadores para uma pesquisa escolar por causa de sua utilização.
A realidade da escola é de estado de “alerta” pelo IDEB - Índice de Desenvolvimento
educacional Brasileiro. “Escola em alerta” é aquela que possui um duplo desafio: Reverter à
tendência de queda e alcançar as metas dos anos seguintes. Vejamos a seguir os dados da
escola pesquisada, segundo o Ideb.
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Fig. 1 – Meta da Escola Pesquisada /gráfico
Como se pode acompanhar no gráfico, o desafio é reverter o quadro que a realidade da
escola dispõe. Ao contrário dos anos de 2007 a 2009 onde se teve um aumento considerável
na meta estabelecida, a escola não alcançou a meta para 2011, e teve uma queda no IDEB em
relação a 2009. É assustador o retroceder que a escola passa na atualidade. Em 2011 a escola
deu passos de volta chegando ao mesmo número de 2005.
Se fizermos a comparação juntos a escolas do estado e também as escolas nacionais,
veremos que a escola pesquisada estar bem abaixo do que se espera para uma instituição de
ensino do estado, e mais ainda, para uma instituição de ensino do país.
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Fig. 2 – A Escola Pesquisada diante das Escolas Estaduais e Nacionais/gráfico
Como se pode observar, a escola pesquisada coloca-se bem abaixo das estatísticas
nacionais e estaduais. Sério problema que tende só a piorar diante de uma reforma inacabada
e sem planejamento proposta pela secretária de educação, sobre caráter de emergência. Claro
que não podemos citar somente a reforma como contribuinte desse péssimo resultado, mas,
vários fatores levam a essa realidade. Fatores como: Superlotação em sala de aula, falta de
professores, biblioteca sem livros de pesquisas, falta de profissionais no quadro da escola,
merendeiro, servidor geral e assim por diante. Podemos acompanhar diante dos fatos que
caráter de emergência não se encontrava somente os espaços físicos das escolas, mas também
a educação alagoana. O diretor da escola pesquisada também nos confiou à transparência do
dinheiro que chega a escola, onde ele classifica como sendo vergonhoso o valor repassado.
Ele afirma que o valor de 6.999,00 reais ao mês para a compra de merenda para os três turnos
não são suficientes, onde são servidos quatro lanches ao dia e um almoço, já que a escola tem
o projeto de tempo integral.
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Com essa perspectiva, é preciso identificar os pontos de partida para construir essa
nova escola, e reconhecer os obstáculos que dificultam sua implementação, para
aprender a contorná-los ou para superá-los. Um ponto de partida é a consciência
crescente da importância da educação, que tem resultado em permanente
crescimento quantitativo, de forma que não mais será preciso trazer o povo para a
escola, mas sim adequar a escola a esse povo. A rede escolar existente, mesmo com
instalações e pessoal ainda insuficientes, também certamente constitui outro ponto
de partida (PCNEM, 2000, pag. 08).
Neste contexto de problemáticas no ambiente educacional, a necessidade de uma
solução precisa ser pensada e trabalhada o mais rápido possível, com caráter de emergência
também, para que não influencie mais ainda o desenvolvimento educacional da escola.
2.1-
OS SUJEITOS EDUCACIONAIS: Problemas e desafios
Diante da coleta, conseguir informações de quem compõe os sujeitos educacionais da
escola, quais as necessidades, e o que fazem num contexto de responsabilidade educacional.
Primeiramente com relação aos professores, a escola pesquisada dispõe no turno da tarde de
seis professores efetivos e mais seis monitores, Ou seja, são doze professores espalhados em
diversas disciplinas. Existem ainda mais no turno da noite cinco professores efetivos e mais
oito professores monitores. Deste modo, o turno da noite contém no quadro funcional da
escola, espalhado em diversas disciplinas do ensino médio, treze professores.
Fig.3 – Números de Professores/tabela
Efetivo
Monitor
Filosofia
01
01
Língua Portuguesa
02
02
Matemática
--04
Física
--02
Química
01
02
História
01
01
Biologia
02
--Geografia
02
--Artes
01
02
Educação Física
01
--TOTAL
11
14
Fonte: informações coletadas na escola pelo aluno/estagiário.
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Notório se observar neste quadro que boa parte da nossa escola estar a cargos de
monitores. Algo bastante preocupante, pois a falta de um concurso público tira a seriedade
dessas contratações. Monitores que na maioria das vezes estão ainda em processo de
formação, que pela necessidade queimam etapas, influenciando o desenvolvimento
consistente de uma educação de qualidade.
A escola no qual pesquisei havia outros importantes funcionários, que exercem
responsabilidades administrativas, de limpeza e portaria, mas infelizmente, também esses
mesmos funcionários exerciam outras funções além das suas, que preocupados na assistência
dos estudantes, assumiam para que a escola não sofresse interferência com a falta de
funcionários. Faltas de profissionais de limpeza, segurança, profissionais necessários como de
assistente social e ajudante de disciplina. É inaceitável saber que em muitos momentos por
falta desses profissionais, são diretores que varem o pátio, são assistentes administrativos
assumindo a responsabilidade da sala de leitura e assim por diante. Talvez, aqui neste ponto,
há uma contribuição enorme para o péssimo desempenho da escola no IDEB. Vale apena
ressaltar que este problema da falta de profissionais não é um caso isolado de uma única
escola em Maceió, mas, de grande parte, ou senão, de toda a rede estadual de ensino em
alagoas. Pois, trazendo também a experiência do PIBID no qual desenvolvo em outra escola
publica em Maceió, percebe-se que estas mesmas faltas acontecem, e que contribui para
péssimo desenvolvimento educativo estadual.
A consequência desses problemas nos leva a ter atenção aos que mais sofrem com essas
faltas, que são os alunos. A falta de funcionários como professores, e dos setores importantes
da escola, é inexplicável. Isso vem se tornando o grande desmotivador dos nossos alunos,
muitos vão à escola e por algumas faltas de profissionais terminam voltando pra casa.
A escola pesquisada possui um bom número de estudantes matriculados. São 985
estudantes matriculados no ano letivo de 2012, espalhados nos diferentes turnos: Manhã, tarde
e noite. O Turno da manhã é o que mais possui alunos com 351, a tarde são 346 alunos e o
turno da noite com 288. Segundo o professor de Filosofia da escola, todas as turmas tem um
número baseado entre 45 a 50 alunos por sala. Esse número excessivo demonstrou
preocupação do professor, deu a entender que há uma dificuldade para se tentar observar os
alunos e suas dificuldades individuais, ou seja, compreender de perto a necessidade da turma.
Tenho certeza que a superlotação contribua diretamente no alcance das metas proposta pelo
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IDEB. Existe até um projeto de Lei Nº 504 de 2011, do Senador Humberto Costa (PT-PE)
que foi aprovado em novembro de 2012 pelo senado, e seguiu para a câmara dos deputados.
Esse projeto de lei altera a Lei nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação - para
assegurar que o número máximo de alunos por turma nas escolas não exceda a vinte e cinco,
na pré-escola e nos dois anos iniciais do ensino fundamental, e trinta e cinco nos anos
subsequentes, do ensino fundamental e no ensino médio.
“SENADO FEDERAL - PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 504, DE 2011 Altera
o parágrafo único do art. 25 da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação), para estabelecer o número máximo de alunos por
turma na pré-escola e no ensino fundamental e médio. Parágrafo único. Cabe ao
respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das características
regionais e locais, estabelecer parâmetros para atendimento do disposto no caput
deste artigo, assegurado que o número máximo de alunos por turma não exceda a: I
– vinte e cinco, na pré-escola e nos dois anos iniciais do ensino fundamental; II –
trinta e cinco nos anos subsequentes do ensino fundamental e no ensino médio.”
(COSTA, HUMBERTO, 2011).
Enquanto isso é apenas proposta, e não se efetiva na teoria e na prática, estaremos
diante de situações lamentáveis de superlotação em escolas públicas em pleno século XXI.
Enquanto essa proposta vive apenas no âmbito teórico, ficamos a mercê dessa realidade, que
interfere diretamente no ensino. Sabemos que caso aconteça essa aprovação, será muito
importante para que algumas escolas, e no caso da escola pesquisada, tenha mais condições de
assumir seu papel educacional na sociedade. “A capacidade de aprender terá de ser trabalhada
não apenas nos alunos, mas na própria escola, como instituição educativa”. (CES, 2010, pag.
10).
3- A FILOSOFIA ENQUANTO DISCIPLINA EM UMA ESCOLA PÚBLICA:
Problemas e desafios num contexto prático
A história da nossa educação é marcada com inúmeras mudanças, através de retiradas e
acréscimos de disciplinas que compõem a formação curricular do ensino básico. Nestas
inconstâncias vividas pela educação, podemos identificar fortes consequências para a difícil e
árdua permanência da filosofia no ensino médio das escolas do País. Depois de uma presença
facultativa assegurada pela Lei de n. 4.024/61 da LDB e ver sua extinção nos currículos do
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ensino básico pela Lei de n. 5.692/71, vigorando num dos momentos políticos mais
conturbados da história diante da ditadura militar, a filosofia tem seu retorno no currículo
escolar como disciplina obrigatória e com a grande obrigação de facilitar o exercício do
direito à cidadania. A aprovação da Lei 11.684 de 2008, que altera o artigo 36 da lei 9394/96:
“Art. 36. Inciso IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias
em todas as séries do ensino médio.” (LDB, 2010, p. 29), traz consigo a “novidade” do ensino
de Filosofia nos três anos do ensino médio. Desde então, as instituições educacionais não tem
o ensino de filosofia a seu cargo como opção, mas tem o dever de oferecer ao educando como
disciplina obrigatória.
Segundo o professor da escola pública no qual fiz a pesquisa “a filosofia trás consigo
inúmeros desafio para o professor hoje”. Ele afirmou que diante de suas turmas, um dos
maiores problemas para que a filosofia aconteça na sala de aula é a falta de prática do aluno
diante do pensamento filosófico. Muitos alunos demonstram preguiça de avaliar determinados
problemas, “a filosofia virou uma tarefa complexa para seu ensinamento” assegurou. A
solução destacada por ele é fazer com que os estudantes hoje reflitam. É mexer com o
pensamento do aluno, é encontrar meios que levem uma disciplina conceitual ganhar atenção
de estudantes voltados a uma realidade prática. No ano de 2012, a escola pesquisada recebeu
mais um reforço na mediação desse saber filosófico, que foi a chegada dos livros didáticos.
Infelizmente o número de livros recebido da secretária de educação de Alagoas não foi o
suficiente para todos os alunos. A solução tomada pelo docente de filosofia da escola foi
deixar os livros apenas com os terceiros anos. Quanto às outras turmas, há um remanejamento
a cada aula, os livros são carregados pelos corredores pelos alunos para sua utilidade na sala
de aula.
Diante de fatos deploráveis como estes, o professor de Filosofia da escola, que ensina há
15 anos, levantou alguns pontos importantes dentro do seu magistério educacional. Ele
nomeou alguns fatos preocupantes que interfere diretamente no seu desenvolvimento do
ensino de filosofia. Entre estes fatos a carga horaria de 60 horas semanais como algo
excessivo para ele. Assegurou que muitas vezes isso influencia o seu desempenho na sala de
aula, sem tempo para preparar uma aula diferente. Além disso, a dificuldade de lidar com
inúmeras disciplinas no qual ele é responsável. Segundo ele, são três disciplinas lecionadas:
sociologia, filosofia e ensino religioso. Isso se torna desgastante para a continuidade de boas
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aulas, além dessas inúmeras disciplinas, ele ensina em outra escola estadual, que segundo o
professor, é desgastante o deslocamento de ambas.
Diante desses fatos, o que se pode fazer para que a disciplina filosófica ganhe a
importância que esperamos no ensino médio? Falar em importância significa atribuir
segurança e relevância, algo que ainda não pudemos identificar quando avaliamos
primeiramente a formação docente nessa área. O que sabemos é que há um relativismo no
Brasil quando se trata do assunto que diz respeito à exigência da formação específica em
filosofia, nos assustamos quando tomamos conhecimento de que: “Dados da Capes de 2009
indicam que há pouco mais de 31 mil professores de filosofia atuando no País. Destes, apenas
25% têm formação específica.” (CEE, 2010, p. 29). Esses dados apenas confirma a realidade,
o professor de filosofia da escola pesquisada também faz parte desse número de não
graduados em filosofia, mas que desempenham o magistério da disciplina.
Não podemos esconder a preocupação do futuro do ensino filosofia, quando a realidade
do país é que grande parte das aulas de filosofia estão sendo ministrada por profissionais que
não tiveram sua formação em Filosofia.
A afirmação da obrigatoriedade, inclusive na forma da lei, torna-se essencial para
qualquer debate interdisciplinar, no qual a Filosofia a nada teria a dizer, não fora
também ela tratada como disciplina, ou seja, como conjunto particular de conteúdos
e técnicas, todos eles amparados em uma história rica de problematização de temas
essenciais e que, por conseguinte, exige formação profissional específica, só
podendo estar a cargo de profissionais da área. Caso contrário, ela se tornaria uma
vulgarização perigosa de boas intenções que só podem conduzir a péssimos
resultados. (Orientações Curriculares Para o Ensino Médio – MEC, 2006, p. 16/17).
Quando afirmamos que a filosofia, por ser uma disciplina obrigatória que detém
conteúdos, temáticas próprias e métodos, há de se pensar que é preciso um especialista
formado neste tipo de conhecimento, o que dará a chance de proporcionar o desenvolvimento
e a socialização do próprio estudo junto ao educando. Mas, se não há uma especificidade na
formação docente no ensino de filosofia, estaremos longe de entender qual é o papel da
filosofia no ensino médio, do docente de filosofia e do curso de licenciatura diante de desafios
e possibilidades, do rigor na qual a atividade filosófica se faz filosofia.
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4- CONSIDERAÇÔES FINAIS
O trabalho de Estágio Supervisionado em Filosofia foi bastante positivo. Oportunizoume balancear o conhecimento acadêmico com a realidade escolar. Foi à possibilidade de
vivenciar dentro da escola todas as possibilidades que futuramente irei encontrar. É como se
estudar algumas respostas para algumas futuras perguntas.
Percebeu-se durante a coleta, uma dificuldade enorme quanto ao interesse dos alunos
com o ensino de filosofia, consequente ao desconhecimento do que seja filosofia. Tive a
chance de conversar com alguns alunos, percebi que eles acham que é uma disciplina
importante, mas, eles não têm uma ideia fixa do que seja o ensino. Afirmaram que “os
professores não deixam claro o que é a disciplina de filosofia, o que ela trata”.
Por ser graduando, aluno em formação, creio que observei os fatos longe do que
realmente é a realidade da escola, pois tenho certeza que aquilo que os professores enfrentam
verdadeiramente no dia-dia é bem mais profundo do que o relatado, pois só eles sabem e
sentem a dificuldade que é os tantos problemas do ensino no estado de Alagoas. Através desse
trabalho, percebi a necessidade de buscarmos na vida acadêmica, caminhos que nos prepare
para a realidade que enfrentaremos, como: a falta de material para uma boa aula, Carga
horaria exaustiva e tantos outros desafios.
É um privilégio conhecer um pouco essa realidade escolar antes de adentrar a sala de
aula. A escola onde coletei os dados foi bastante receptora. Não foi difícil coletar os dados, já
que sou ex-aluno. Foi rico voltar ao lugar onde passei minha infância e adolescência como
estudante, e que teve a oportunidade de voltar como futuro professor. Um ex-aluno que volta
para dizer que foram importantes os anos naquela escola, que lá aprendi a ler e a escrever.
Que por aquela escola, meus passos chegaram a um lugar mais longe, o ensino superior. E que
busca melhorá-la ainda mais, para que outros estudantes consigam driblar também todos os
problemas persistentes.
É preciso assumir a consciência da importância da educação, difundindo-a para todos
envolvidos com a escola como secretária de educação, diretores, professores, servidores
gerais, pais e toda a comunidade onde a escola está inserida. Todos são responsáveis diretos
na construção de uma escola digna de produção de conhecimento e qualidade.
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REFERÊNCIAS:
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações Educacionais Complementares aos
Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e Sua tecnologia. PCN+. Ensino Médio.
Brasília, 2000.
BRASIL. MEC. Orientações Curriculares Para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas
Tecnologias. V. 3. Brasília, 2006.
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível
<<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>>. Acesso em: 07 jun. 2013.
em:
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de lei do senado, nº 504, 2011. Disponível em:
<<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=94976&tp=1>>. Acesso em: 21 de
Maio de 2013.
CERLLETTI, Alejandro. A formação docente: entre professores e filósofos. O Ensino de Filosofia
como Problema Filosófico. Trad. Ingrid Müller Xavier – Belo horizonte: Autêntica Editora, 2009.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Currículo do Estado de São
Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. São Paulo: SEE, 2010.
OBIOLS, Guillermo. “Antecedentes, Práticas e Problemas no Ensino de Filosofia”. In: Uma
Introdução ao Ensino da Filosofia. Trad. Silvio Gallo. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002. (Coleção filosofia e
ensino).
VELLOSO, Renato. Lecionando Filosofia para adolescentes: Práticas pedagógicas para o ensino
médio. Petrópolis, RJ: Editoras Vozes, 2012.
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