Hospital Santana S.A. Protocolo de controle da dor Acadêmico responsável: Janaína Fortes Lino Colaboração: Dr. Givaldo Moura – Anestesista FEVEREIRO DE 2009 Segundo a IASP (International Association for Study of Pain -1979) a dor é definida como “uma experiência emocional e sensorial desagradável associada a dano tecidual real ou potencial ou descrita em termos que sugerem tal dano”. Ainda, a Associação Brasileira para o Estudo da Dor, por acreditar que na definição da IASP falta explicitar que a dor é uma percepção, propôs: “dor é a percepção desagradável e não desejável de uma sensação nociceptiva”. Em psicologia e ciências cognitivas, percepção é definida como um processo de aquisição, interpretação, seleção e organização da informação sensorial. Sendo assim, por ser uma experiência multidimensional, determinada não apenas pelo estímulo gerador da dor, mas também por fatores fisiológicos, psicológicos, e ambientais, trata-se de uma experiência pessoal, sendo difícil de medi-la. Sendo assim, é fundamental um estudo sobre todos os aspectos da dor, com o objetivo de alcançar o tratamento mais adequado para cada paciente. Bases de fisiopatologia da dor A percepção corporal da dor é chamada de nocicepção e os receptores que detectam os estímulos nocivos são nociceptores, que são formados por terminações nervosas livres aferentes que respondem a estímulos dolorosos. Eles são encontrados em todo o corpo, tanto em estruturas somáticas como viscerais. Os axônios nociceptores aferentes primários penetram na medula e fazem sinapse com neurônios do corno dorsal (já as fibras aferentes dos pares cranianos fazem sinapse no tronco encefálico). A sinapse no corno dorsal mostra sua importância ao conduzir os impulsos às vias superiores e ao sofrer modulação de vias descendentes, que controlam a transmissão dos impulsos para as vias superiores. Vários moduladores bioquímicos estão presentes no local, podendo atuar inibindo ou excitando. Após passar pela sinapse, o estímulo gerado nos nociceptores atinge a porção superior do SNC através dos tratos: espinotalâmico, espino-hipotalâmico, espinorreticular e espinopontoamigdaliano. O tálamo recebe a maior parte das fibras aferentes nociceptivas e atua retransmitindo os impulsos para: córtex somatossensorial, que vai atuar na discriminação da localização da dor, e sistema límbico, que vai mandar fibras para as áreas frontal e temporal do córtex, estando associado aos aspectos emocionais e motivacionais da dor, incluindo humor e experiência. O hipotálamo recebe estímulos de todo o corpo, através do trato espino-hipotalâmico, envia então fibras para a hipófise, que vai gerar resposta neuroendócrina à dor. ALGUNS CONCEITOS: a) Sensibilização periférica O nociceptor não apresenta sensibilidade fixa ao estímulo. A sua estimulação prolongada ou a modificação no meio químico da terminação (que é o que ocorre na inflamação), promove modificações na terminação que diminuem o seu limiar para a produção do estímulo. Facilitando a dor. b) Sensibilização central A estimulação continuada dos aferentes nociceptivos gera um ganho de sensibilidade nas sinapses nociceptivas, que ocorre devido à ativação de mecanismos facilitadores descendentes e pelo aumento progressivo da resposta pós-sinaptica aos mediadores. Este ganho de sensibilidade é inicialmente funcional, que pode se consolidar como memória com a permanência do estímulo e em meses, pode gerar a reorganização sináptica, tornando as sinapses permanentemente hipersensíveis, o que caracteriza a perpetuação patológica da dor. 2 c) Modulação da dor Através de estudos, ficou evidente que o SNC envia fibras que modulam a progressão de estímulos nociceptivos na medula e que substâncias como serotonina, noradrenalina e opióides estão envolvidas. d) Alodinia È a dor resultante de um estímulo não nocivo em pele normal, ou seja, o paciente sente dor por um estímulo que normalmente não provoca dor. A intensidade ou qualidade do estímulo provoca uma resposta dolorosa desproporcional ou inesperada. Ex: toque de uma peça de roupa. e) Hiperalgesia É a resposta aumentada a um estímulo que normalmente é doloroso. f) Nocicepção É uma sensação (como a visual, a auditiva e a gustativa) e a dor é a percepção desta sensação. A nocicepção não pode ser percebida se a atenção estiver voltada para outro problema (a atenção é um importante componente da percepção); esportistas, por exemplo, podem sofrer um ferimento doloroso sem sentirem dor durante a competição por estarem com a atenção focada no jogo. CLASSIFICAÇÃO DA DOR POR SEU MECANISMO FISIOPATOLÓGICO A) Dor nociceptiva Compreende as dores somática e visceral e ocorre por estimulação direta de nociceptores, sendo resultado de danos teciduais. A dor somática surge à partir de lesões na pele ou em tecidos mais profundos, geralmente é localizada, já a dor visceral tem origem nas vísceras (abdominais ou torácicas) e é mais difusa, sendo alguma vezes “referida” e pode estar associada a outros sintomas, como náuseas e vômitos. B) Dor neuropática Resulta de lesão direta de um nervo ou de função nervosa anormal em qualquer ponto da via da dor, dos nervos periféricos ao SNC. Pode ser causada por trauma, infecção, isquemia, doença degenerativa, tumor, injúria química ou radiação. É caracterizada por dor com irradiação neurodérmica em queimação. Freqüentemente, a analgesia não é atingida com o uso de opióides e AINES, sendo necessário o uso de drogas adjuvantes. Tipos: - Desaferenciação: dor que ocorre por perda da via nociceptiva aferente, como por exemplo, na avulsão de nervo periférico (dor do membro fantasma) ou nas lesões na medula central. - Neuralgia: é dor lacinante associada a irritação ou lesão nervosa ao longo da distribuição de um único nervo ou nervos. - Central: ocorre por lesão no SNC. Geralmente é dor constante, em queimação, exacerbada por atividade ou alterações climáticas. O paciente geralmente apresenta hiperestesia ou alodinia. C) Dor simpaticomimética É acompanhada por edema, alteração do fluxo sanguíneo para a pele, atividade sudo-motora alterada na região da dor e alterações na sensibilidade à dor. D) Dor aguda É a dor de início súbito, associada a afecções traumáticas, infecciosas ou inflamatórias. Desaparece após intervenção na lesão ou após a cura. Está associada a respostas neurovegetativas, como taquicardia, taquipnéia, aumento da PA, agitação psicomotora e ansiedade. O paciente pode ainda apresentar expressões faciais e postura de proteção. E) Dor crônica Não é apenas o prolongamento da dor aguda, pois os estímulos repetitivos vão provocar várias modificações no SNC. Não se observam respostas neurovegetativas, o paciente apresenta dificuldade 3 para determinar a dor no tempo e espaço e pode ainda apresentar sinais de depressão. Nem sempre observamos expressões faciais e postura de proteção Princípios gerais do controle da dor A Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou alguns princípios que devem ser seguidos para a abordagem da dor: 1) PELA BOCA A via oral deve ser sempre a primeira escolha para a administração da medicação analgésica, pois permite ao paciente maior controle de sua situação e autonomia para o autocuidado (quando em casa). A via oral ainda poupa o paciente do incômodo das injeções. 2) PELO RELÓGIO Pacientes que apresentam dor de moderada a forte devem receber medicação com horário fixo, o que assegura que a próxima dose seja fornecida antes de o efeito da dose anterior acabar, evitando assim que o paciente sinta dor desnecessária. Além disso, o esquema “se necessário” dificulta o acesso do paciente à terapia, visto que muitas vezes as enfermeiras estão sobrecarregadas com o serviço, e demoram para fornecer a medicação para o paciente. 3) PELA ESCADA DA OMS A OMS desenvolveu uma escada analgésica de três degraus para o tratamento da dor de acordo com a sua intensidade: 4) PARA O INDIVÍDUO 4 A escolha da terapia analgésica deve ser feita de acordo com a dor e com o paciente, pois de acordo com a intensidade e característica da dor será definido o analgésico e cada paciente necessitará de uma dose pessoal para controlar a dor e evitar os efeitos colaterais. 5) USO DE ADJUVANTES Os adjuvantes são medicamentos que apresentam efeitos analgésicos secundários, sendo assim, não fornecem alívio imediato para a dor, sendo os seus efeitos percebidos semanas após seu uso. São eles: antidepressivos, anticonvulsivante, anestésicos locais, corticosteróides, antiespasmódicos, dentre outros. 6) ATENÇÃO AOS DETALHES Dar ao paciente e a seus cuidadores informações precisas sobre o nome do remédio, indicação, dosagem, intervalo entre tomadas e possíveis efeitos colaterais. Avaliação do paciente com dor O relato pessoal é a medição mais válida da experiência de dor. A história da dor é fundamental para a sua avaliação e inclui a descrição, pelo paciente, da intensidade (vide quadro), qualidade, localização, freqüência, duração, condições agravantes e atenuantes. O médico deve considerar ainda a personalidade do paciente, cultura, estado psicológico, potencial de ganhos secundários e a possibilidade de comportamento em busca drogas. Vale lembrar ainda, que, muitas vezes, o paciente não consegue distinguir seu sofrimento e suas aflições da dor que está sentindo. Como em qualquer outro caso, o paciente com dor deve ser submetido, então, a exame físico completo. Se o médico chegar a um parecer da causa da dor, o ideal é tratar a causa, que poderá evoluir com o desaparecimento da dor , por exemplo, imobilizar uma fratura. Caso a dor não seja tratável, ou não cesse, o médico deve seguir para a avaliação da intensidade da dor. *AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DA DOR Para facilitar a mensuração da intensidade da dor, foram criadas várias escalas, neste protocolo abordaremos a escala numérica verbal por ser de manuseio prático e de fácil entendimento para o paciente. O paciente deve dar um número de 0 a 10 para a intensidade da sua dor, sendo que 0 é a ausência de dor e 10 é a pior dor possível. A definição da intensidade da dor será então, de acordo com os números: 1, 2 e 3 = DOR LEVE ; 4, 5, 6 e 7 = DOR MODERADA; 8, 9 e 10 = DOR INTENSA. 5 Após a determinação da intensidade da dor do paciente, o médico seguirá à escolha dos analgésicos mais adequados. É importante, então, relembrar alguns conceitos: a) a dor nociceptiva visceral em cólica responde bem aos analgésicos, mas também pode ser aliviada com antiespasmódicos como a hioscina. b) Na dor neuropática freqüentemente a analgesia não é atingida com o uso de opióides e AINES, sendo, muitas vezes necessário o uso de drogas adjuvantes. Terapêutica analgésica Antiinflamatórios não-esteróides (AINES) Após a lesão celular, há a liberação de fosfolípedes de membrana, que são metabolizado pela fosfolipase A2 em ácido aracdônico, que então pode ser quebrado por duas enzimas: ciclooxigenase (COX), com a liberação de prostaglandinas e tromboxanos ou lipooxigenase (LOX), com a liberação de leucotrienos. As prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos atuam mediando o fenômeno inflamatório. Os corticosteróides atuam na inflamação ao bloquear a fosfolipase A2, já os AINES atuam bloqueando a COX, sem portanto, alterar a via da LOX. Existem dois tipos de COX: COX-1 (constituitiva) atua na homeostase e COX-2, que libera substâncias que medeiam a inflamação, a dor e a febre. Na verdade, as prostaglandinas não produzem hiperalgesia, elas atuam sensibilizando os receptores a substâncias como bradicinina, substância P e serotonina. A grande maioria dos AINES não apresenta especificidade para COX-2, o que explica, em Figura 3 parte, os efeitos colaterais. Existem AINES com atividade preferencial para COX-2, mas os únicos agentes com seletividade para esta enzima são os derivados coxib: celecoxib,rafecoxib, dentre outros. Eles são comprovadamente seguros em relação à gastropatia, mas não se sabe a segurança em relação ao sistema urinário e cardiovascular. Como os coxibs não bloqueaiam a síntese de tromboxanos, seu emprego tem sido atribuído ao aumento da incidência de fenômenos trombóticos Efeitos colaterais: - Trato Gastrointestinal – atuam inibindo a produção de fatores protetores da mucosa gástrica, resultando em potencial para causar gastrite e úlcera péptica. Fatores de risco são: idade maior que 60 anos, passado de úlcera péptica, uso prévio de corticóides e múltiplos AINES e etilismo. É hepatotóxico. - Sistema urinário – provocam a redução no fluxo sanguíneo renal, no ritmo de filtração glomerular e na liberação de renina, podendo provocar necrose tubular aguda. Fatores de risco são: hipovolemia, sangramento intenso durante a cirurgia, cardiopatas, hepatopatas e nefropatas. Há ainda retenção de sódio e água, com edema e aumento da pressão arterial. 6 - Sangue – inibem a agregação plaquetária, com aumento do tempo de sangramento. - Vias aéreas – podem causar broncoespasmo. Contra-indicações: - Não devem ser utilizados em gestantes pelo risco de fechamento do canal arterial e conseqüente hipertensão pulmonar neonatal. - Observação: o risco de toxicidade aumenta com a idade. DIPIRONA (metamizol) Apresenta propriedades analgésica, antitérmica, antiespasmódica e antiinflamatória fraca. A dipirona é freqüentemente associada a hipotensão, mas esta afirmativa não apresenta fundamentação científica. Apresentações: - Solução oral: 500mg/ml - Comprimido: 500mg Solução injetável: 5000mg ou 1g Dose recomendada: 500mg a 1g de 6/6h PARACETAMOL (acetaminofen) Apresenta atividade analgésica e antitérmica, praticamente sem atividade antiinflamatória. O seu mecanismo ainda é pouco conhecido, mas apresenta a vantagem de não irritar a mucosa gástrica e não interferir na função plaquetária. Está associado a hepatotoxicidade. Apresentações: - Solução oral: 200mg/ml - Comprimido: 500mg ou 750mg Dose recomendada: 500-750mg V.O. de 6/6h dose máxima: 4g/dia ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO Apresenta atividade analgésica, antitérmica, antiinflamatória, antiplaquetária e inibidora da síntese das prostaglandinas. Apresentações: Comprimido: 100mg ou 500mg Dose recomendada: 500 a 1000mg/dose de 4/4h ou de 6/6h dose máxima: 4g/dia (efeito analgésico e antipirético) DICLOFENACO SÓDICO É analgésico potente. Não é recomendado por via venosa. Apresentações: - Comprimido: 50mg (ou 100mg - retard) - Ampola (3ml): 75mg Dose recomendada: - 50mg V.O. de 8/8h (para o comprimido retard - 100mg V.O. de 12/12h) - 75mg I.M. de 12/12h NIMESULIDA É considerada inibidor preferencial da COX-2. Com efeito analgésico e antitérmico. Apresentação: - Comprimido: 100mg - Gota:50mg/ml Dose recomendada: 50 a 100mg/dose de 12 em 12h OBS: em idosos usar no máximo 100mg/dia e por menor tempo possível. 7 CETOPROFENO É útil como antiinflamatório das doenças reumáticas, analgésico, antidismenorréico e no tratamento da enxaqueca. Apresentação: - Cápsulas: 50mg - Frasco ampola (2ml):100mg - Comprimido revestido:100mg - Comprimido de liberação lenta: 200mg - Gotas: 20mg/mL Dose recomendada: 25-50mg / dose de 12/12h ou de 6/6h dose máxima: 300mg/dia Opióides Os opióides agem nas vias da dor pré-sinapticamente inibindo a liberação de neurotransmissores e pós-sinapticamente inibindo os neurônios provavelmente ao abrir canais de potássio e hiperpolarizando a célula. A administração reduz significativamente a transmissão do impulso nociceptivo. Efeitos dos opióides: - SNC - alteram a resposta do paciente à dor, muitos relatam que ainda sentem dor, mas que se sentem mais confortáveis; podem causar disforia ou euforia, sono e perda da consciência. Podem causar ainda depressão respiratória por ação direta nos centros respiratórios do tronco encefálico, náuseas e vômitos, depressão da tosse, miose, convulsões, queda da temperatura corporal. - EFEITOS NEUROENDÓCRINOS - há evidências de que os opióides suprimem a resposta imune. Atuam também suprimindo os fatores liberadores do hipotálamo, suprimindo assim a liberação de LH, ACTH, FSH, beta endorfina e GH. Essas alterações desaparecem na administração crônica de opióides. - SISTEMA GASTROINTESTINAL - no estômago, há diminuição da motilidade gástrica, retardando o esvaziamento e predispondo ao refluxo. No intestino delgado há diminuição das secreções pancreáticas, intestinais e biliares, retardando a digestão dos alimentos, ainda, no intestino grosso, há diminuição das ondas peristálticas e aumento do tônus intestinal. A água é absorvida e não é raro encontrar pacientes com constipação. No trato biliar há contração do esfíncter de ODDI, sem repercussões clínicas. - SISTEMA CARDIOVASCULAR - há redução dos impulsos simpáticos, com predomínio dos efeitos parassimpáticos. Há redução do consumo de oxigênio, diminuição da pressão arterial, diminuição do trabalho cardíaco. - TOLERÂNCIA - é a necessidade de doses crescentes para se atingir a analgesia. É uma conseqüência provável. - DEPENDÊNCIA - surge quando é necessária uma exposição contínua à droga para evitar abstinência. É uma conseqüência provável. - ADIÇÃO - implica um comportamento social em busca da droga socialmente destrutivo e que surge em indivíduos predispostos. No tratamento da dor aguda e do câncer, o risco de se desenvolver adição é baixo. 8 - RIGIDEZ DA PAREDE TORÁCICA - devido a um mencanismo desconhecido, a injeção rápida de dose grande de opióide potente pode causar o enrijecimento dos músculos do tórax e do abdome. - URETER E BEXIGA - pode provocar retenção urinária,que costuma desaparecer mesmo com a continuação do uso. - PELE - doses terapêuticas de morfina podem provocar vasodilação na pele, que provavelmente ocorre devido à liberação de histamina. Precauções: - Nos pacientes com doenças hepáticas e renais, metabólitos da morfina e da codeína podem se acumular. Já ao administrar meperidina nestes pacientes, pode ocorrer acúmulo de normeperidina, com excitação do SNC, resultando em convulsões ou tremores. Ainda, doses repetidas de norproxifeno pode causar toxicidade cardíaca insensível à naloxona (antagonista opióide). - Deve-se ter cautela ao administrar opióides a pacientes com diminuição reserva pulmonar (enfisema, cifoescoliose, obesidade grave). A liberação de histamina pelos opióides pode causar broncoespasmo em asmáticos. A depressão do reflexo da tosse pode ser deletéria em pacientes com secreções copiosas (pneumonias, bronquiectasias, toracotomia anterior). - No TCE, a depressão respiratória causada pelos opióides pode aumentar o aporte sanguíneo para o cérebro, aumentando a pressão intracraniana. - Reações alérgicas são passíveis de ocorrer. - O efeito sedativo dos opióides pode ser potencializado por outras drogas sedativas como: antihistamínicos, ansiolíticos e antieméticos. Opióides mais utilizados: CODEÍNA - opióide fraco Apresenta 1/10 da potência da morfina. Pode ser usada por vias oral, retal e intramuscular, não devendo ser administrada na forma endovenosa por estar associada a hipotensão. Apresentação: - Comprimido: 30mg e 60mg - Ampola (2ml): 30mg/ml - Solução oral: 5mg/5ml Dose: 30 a 60mg V.O. de 4/4h ou de 6/6h 15 a 30mg I.M. de 4/4h Codeína + Paracetamol (Tylex ®) 300mg + 500mg até de 6/6h Codeína + Diclofenaco (Codaten®) 50mg + 50mg até de 6/6h TRAMADOL - opióide fraco Opióide atípico, pois também apresenta atividade analgésica não opióide ao impedir a recaptação de norepinefrina e serotonina. Apresentação: - Cápsulas 50mg - Comprimido Retard 100mg - Gota: 100mg/ml - Ampola (1 e 2ml): 50mg/ml Dose: 50 a 100mg V.O de 4/4h ou de 6/6h (dose máxima de 400mg/ dia), Cápsulas retard - 100mg/dose de 8/8h ou de 12/12h Tramadol + Paracetamol (Ultracet ®) 37,5mg/ 375mg até de 6 em 6 horas 9 MORFINA - opióide forte É utilizada como padrão e recomendada pela OMS devido ao seu baixo custo e ampla disponibilidade. Pacientes que não estão conseguindo controlar sua dor com opióides fracos devem iniciar com a dose recomandada e a dose deve ser aumentada de acordo com a necessidade, sendo que pacientes terminais podem chegar a mais de180mg/dia. Apresentação: variada entre os laboratórios. Dose: 5 a 10mg V.O. de 4/4h (máximo: 75mg/dose) 2,5 a 5mg/dose EV lento (4-5min) de 4/4h, conforme reposta, aumentar para 10mg/dose e depois para 15mg/dose. Na dor intensa pode-se chegar a 10mg/hora e nos casos com tolerância por uso prolongado até 80mg/hora. FENTANIL - opióide forte É 80 vezes mais potente do que a morfina, sendo muitas vezes usado como anestésico devido à sua meia vida curta. Disponível em adesivo para pacientes com dor crônica em câncer. Indicado também em procedimentos de analgesia e sedação. OXICODONA - opióide forte Apresenta propriedades semelhantes à morfina, porém, causa menos sedação, delírio, vômito e prurido, e mais constipação. A concentração plasmática aumenta 50% na insuficiência renal, causando mais sedação. Apresentação: - Comprimido de liberação prolongada: 10mg ou 20mg ou 40mg Dose: 10 a 40mg/dose de 12/12h Fármacos adjuvantes São drogas desenvolvidas primeiramente com outros objetivos, e não o alívio da dor, mas que apresentam este efeito em certas situações. Também são chamados de co-analgésicos, podendo ser usados em combinação com outros fármacos em todos os degraus da escada analgésica, com atuação especial no caso de dor neuropática, que apresenta difícil controle. Vale ressaltar que o protocolo apresenta objetivo de aprendizado e não apenas de norma técnica, sendo assim, os fármacos adjuvantes serão explicados de forma breve, mesmo em geral não sendo necessário sua introdução nos pacientes do hospital. Para maiores detalhes, consultar bibliografia adequada. ANTIDEPRESSIVOS Não auxiliam no alívio da dor ao reverter a depressão coexistente, visto que o alívio da dor surge com doses menores e antes de atingir o efeito antidepressivo. Muito neurotransmissores envolvidos na dor são afetados pelos antidepressivos tricíclicos, que bloqueiam a recaptação de serotonina e noradrenalina. Também podem melhorar a analgesia ao aumentar os nívéis de morfina plamática. Podem causar efeitos colaterais anticolinérgicos, como boca seca, visão turva, constipação, retenção urinária, hipotensão postural e confusão mental. Ex: Amitriptilina, Citalopran, Sertralina, Imipramina. 10 ANTICONVULSIVANTES São drogas utilizadas em caso de dor neuropática, como neuralgia do trigêmio e pós-herpética, dentre outras. Atuam na dor ao suprimir circuitos hiperativos do córtex cerebral e da medula espinhal, atua ainda estabilizado as descargas neuronais nas membranas das vias aferentes primárias. Ex: Carbamazepina, Gabapentina, Ácido Valpróico, Conazepan, Fenitoína, Lamotrigina. ANESTÉSICOS LOCAIS São medicamentos estabilizadores da membrana, que geralmente aliviam dor neuropática, como a lidocaína aplicada E.V. ou S.C. Usualmente tais drogas são indicadas por especialistas. CORTICOSTERÓIDES São úteis como analgésico, mas sem um mecanismo claro, um efeito periférico pode ocorrer devido à redução da inflamação e um efeito central pode ocorrer devido à alteração dos níveis de neurotransmissores. Além disso, acredita-se que os corticóides atuam diretamente nas membranas celulares, reduzindo a excitabilidade neuronal. São prescritos principalmente para dor resultante de doença reumática e câncer. A prescrição vai depender da relação custo-benefício. Não devem ser associados a AINES. ANTIESPASMÓDICOS Quando o paciente apresenta dor em cólica (por exemplo, obstrução intestinal), a dor pode ser aliviada por drogas que determinam o relaxamento das fibras musculares como a hioscina, aliviando os espasmos intestinais. Hioscina - Butilbrometo de escopolamina: Apresentações: - Drágeas: 10mg - Gotas: 10mg/ml ou 0,5mg/gota - Ampola (1ml): 20mg Dose: 0,4-0,6mg/kg V.O. de 6/6h ou 10-20mg V.O.de 8/8h 20mg E.V. de 8/8h 11 BIBLIOGRAFIA: - Associação portuguesa dos médicos de clínica geral. Recomendações para o tratamento farmacológico da dor. Lisboa: Núcleo de cuidados paliativos; 2007. - Ballantyne J, et al. Massachussets General Hospital: Manual de Controle de dor. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.; 2004. -Gilman GA, Hardman JG, Limbird LE. As Bases Farmacológicas da Terapêutica; 10ª edição; 2006;Phorte Editora . -Guyton, AC, Hall JE. Fundamentos de Guyton: tratado de fisiologia médica,10ª Edição; 2005; Guanabara Koogan S/A. - Hospital Albert Einstein. Rotinas gerenciadas: avaliação da dor e protocolo de tratamento. São Paulo: Hospital Albert Einstein; 2004. - Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Cuidados paliativos oncológicos: controle da dor. Rio de Janeiro: Inca; 2001. - Pedroso ERP, Oliveira RG. Blackbook Clínica Médica. Belo Horizonte: Blackbook Editora; 2007. 12