AFINAL...O QUE É HIPNOSE? Joel Priori Maia Apesar de toda tecnologia utilizada para se tentar esclarecer como ocorre, a falta de registros válidos que possibilitem explicações satisfatórias faz com que o conceito de hipnose seja atualmente objeto de muita discussão. A hipnose constitui-se de um conjunto de fenômenos que vem há séculos despertando a curiosidade dos profissionais das ciências da saúde, especialmente no que diz respeito à explicação de como ocorre. É na verdade um estado particular de consciência, diferente do que se encontra naturalmente na vigília ou no sono. E este estado particular da consciência não nos parece ser único e estável, mas varia de acordo com os indivíduos envolvidos e com as condições da técnica aplicada. Depende, portanto, de quem a aplica e do modo de seu procedimento, pois o paciente recebe estímulos provenientes das mais variadas situações e até mesmo do meio ambiente. E se nos detivermos somente na técnica de sua aplicação, chegaremos à conclusão de que existem tantas técnicas quantos são os que as utilizam. Podemos então considerar esse estado peculiar que ocorre na hipnose como um estado psicofísico, artificialmente induzido, semelhante ao sono fisiológico que aumenta a susceptibilidade e a sugestionabilidade do paciente, desencadeando reações emocionais e parcial dissociação da personalidade”. os fenômenos que ocorrem durante a aplicação da hipnose dependem também da sensibilidade do paciente em relação ao método e às condições em que é induzido, o que de forma consciente ou inconsciente, pode dificultar sua aplicação ou retardar o tratamento. A hipnose quando empregada através dos métodos sugestivos ortodoxos tem área de atuação muito restrita, uma vez que a maioria das sugestões são impositivas. Esta restrição encontrada no emprego da sugestão direta teria sido uma das razões que levou Sigmund Freud a abandoná-la, substituindo pela livre-associação. Isso tem levado muitos autores a preferir os métodos contemporâneos que são mais permissivos, permitindo melhor participação do paciente no processo e abreviando o tempo de aplicação, com melhores resultados. Além dessas limitações, outras podem ser citadas como as de cunho religioso, moral, as crendices e superstições que podem restringir seu emprego no tratamento de somatizações, moléstias psicossomáticas e em algumas reações psicogênicas. Na tentativa de explicar como ocorre o procedimento três estados de consciência são objetivamente definidos com base em parâmetros eletroencefalográficos (EEG), comportamentais e introspectivos. Estes três estados são: a) vigília, na qual a consciência pode se encontrar alerta ou relaxada; b) sono lento, ou não - REM, sem recordações dos sonhos e repousante (regenerador); c) sono rápido ou REM, que é fundamental na regulação da psique e não repousante. Ocorre nesta fase a recordação dos sonhos. O EEG, por sua vez, registra apenas a atividade elétrica em grupos de neurônios das camadas I e II do córtex que se difunde na camada dendrítica, e encontra obstáculos na resistência ôhmica das meninges, crânio e pele , dificultando a caracterização de outros estados de consciência. Por essa razão, é uma técnica de investigação limitada. Moraes Passos, Paulino Longo, Florêncio e Lambert Tsu demonstraram em 1972 que a hipnose não altera o traçado eletroencefalográfico que se manteve igual ao da vigília em repouso, embora alguns estímulos somestésicos não bloqueiem o ritmo alfa, como ocorre fora do estado hipnótico. Por outro lado, este estado também não possui conotações comportamentais com o sono - REM. A hipnose é considerada por Moraes Passos “um estado alterado de consciência produzido artificialmente e semelhante ao sono, mas que dele se diferencia fisiologicamente pelo aparecimento espontâneo ou em resposta a um estímulo débil, monótono e persistente de uma de série de fenômenos (tais como: estreitamento da consciência, regressões, amnésia ou alteração da memória, aumento da susceptibilidade e da sugestionabilidade, alterações motoras e sensoriais, analgesias, maior labilidade do sistema nervoso autônomo) e pelo aparecimento de uma série de idéias e respostas diferentes das que se produziriam se o paciente estivesse em sono ou vigília”. A hipnose é um procedimento no qual o paciente permanece entre a vigília e o sono, induzido através de uma estimulação débil, rítmica, monótona e persistente. Pode ser produzida através da estimulação exteroceptiva, como pode ocorrer através de estímulos provenientes do profissional, das circunstancias e do ambiente ou interoceptiva, como os provenientes do próprio paciente, por exemplo, ritmos do batimento cardíaco ou da respiração. No primeiro caso, trata-se de hétero-indução e no segundo, de auto-indução, que também pode ser obtida através de técnicas de auto-hipnose. Poderíamos aduzir que não se trata simplesmente de um estreitamento ou de um estado alterado de consciência, como era até o pouco tempo considerado. Seria um estado particular de consciência, mantendo o sujeito com a atenção concentrada no estímulo proveniente do hipnotizador ou nos estímulos que percebe do ambiente ou de seu corpo. Esses estímulos geram reações emocionais que facilitam o aprofundamento do estado hipnótico. A falta de registros eletroencefalográficos que caracterizem a hipnose não invalida sua definição como um autêntico estado de consciência, diferente da alteração ou do estreitamento, descritos. Os fenômenos observados na decorrência da hipnose são suficientes para definirem um estado especial e, além disso, demonstra que ocorre a participação de estruturas subcorticais (límbicas) na gênese deste procedimento. O procedimento hipnótico é por essa razão de difícil caracterização, chegando a ser denominado “quarto estado de consciência”, diferenciando-se dos três estados fisiologicamente conhecidos, que são a vigília, o sono lento e o sono REM. Agindo tanto nos campos fisiológicos como nos neuro-psicológicos e nas reações emocionais, o estado hipnótico atuaria ao nível dos sinalizadores visual, auditivo e cinestésico do paciente. Dessa maneira, incorpora estímulos endógenos e exógenos que acometem o indivíduo. Em relação aos estímulos exógenos, propicia condições para a incorporação de sons e ruídos, nos quais se sobressai e palavra, pronunciada de forma débil, rítmica, monótona e persistente, de imagens luminosas, projetadas de modo suave e intermitente sobre as pálpebras cerradas, bem como a temperatura adequada e o toque feito delicadamente sobre a pele. Podemos então questionar se, sob a ação da hipnose, o paciente não produziria, nos recônditos de sua “consciência”, uma “regressão espontânea” aos estágios iniciais de sua vida, relembrando situações do aconchego materno.