DIGA-ME COM QUEM ANDA

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EXTRATO DE
DIGA-ME COM QUEM ANDA...
Título do original: The Nurture Assumption
Autora: Judith Rich Harris
Editora: Objetiva - 1999
“Teus filhos não são teus filhos.
Eles são os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles chegam por teu intermédio mas não de ti,
E embora estejam contigo eles não te pertencem.
Podes lhes dar teu amor mas não teus pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podes abrigar seus corpos mas não suas almas
Pois suas almas habitam a casa do amanhã, que tu não podes visitar, nem sequer
em teus sonhos.
Podes te esforçar para ser como eles, mas não procures fazê-los semelhantes a ti.
Pois a vida não recua nem permanece no ontem.”
Kahlil Gibram
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O que conta, além dos genes, é o grupo formado pelos pares de uma criança.
Sobre isto, Steven Pinker disse “eu sabia ser verdadeiro, mas havia arquivado
naquela pasta mental em que todos nós guardamos as verdades inegáveis que não
se ajustam aos nossos sistemas de crença”.
Nature e Nurture são palavras com aliteração.
A angústia é inevitável e universal; nem mesmo os pais mais conscienciosos
podem evitá-la, embora possam facilmente piorá-la.
Do ponto de vista da criança, a socialização nos primeiros anos consiste
principalmente em aprender que ela não deve se comportar como seus pais se
comportam. (...) Na maioria das sociedades, as crianças que se comportam como
adultos são consideradas impertinentes. (...) Entretanto, todas essas crianças, de
uma maneira ou de outra, aprendem a se comportar como a sociedade em que
vivem espera que se comportem.
Embora a aprendizagem em si cumpra uma finalidade, o conteúdo do que as
crianças aprendem talvez seja irrelevante para o mundo fora do seu lar. Quando
pisam do lado de fora, elas podem abandoná-lo com tanta facilidade quanto
abandonam o casaquinho chato que sua mãe as obrigou a usar.
O consumo de brócolis pode estar relacionado com a situação marital: homens
casados podem comer mais brócolis do que homens solteiros. O fato de que
homens casados vivam, em média, mais do que homens solteiros é uma noção
bastante aceita. Logo, talvez o motivo da vida mais longa dos comedores de
brócolis seja o fato de estarem casados e não o brócolis.
Os pais não fornecem apenas os genes do filho; eles também fornecem o meio ao
filho. O tipo de meio que eles propiciam – tipo de pais que eles são – existe, em
parte, em função dos genes deles. Não há como distinguir os efeitos dos genes
fornecidos por eles dos efeitos do meio propiciado por eles.
De modo geral, a hereditariedade é responsável por aproximadamente 50% da
variação nas amostras dos sujeitos testados, e as influências do meio são
responsáveis pelos outros 50%.
Nos anos 70 a existência de diferenças inatas era considerada incompatível com o
ideal da igualdade humana.
Uma criança medrosa tranquilizamos; uma criança ousada advertimos do perigo;
um bebê risonho, nós o beijamos e brincamos com ele; um bebê in diferente, nós
o alimentamos, trocamos sua fralda e o botamos no berço.
Ser criado no mesmo lar não torna os irmãos parecidos. Se há realmente “pais
tóxicos”, eles não são tóxicos para todos os seus filhos. Ou eles não são tóxicos da
mesma maneira. Ou, se eles são tóxicos da mesma maneira, cada filho reage à
toxicidade de um modo diferente, ainda que sejam gêmeos idênticos.
[Cada cultura valoriza um modo diferente de educar filhos. Umas seguem o
modelo Duro de Mais, outras o Mole Demais; outras o Modo Na Medida Certa. O
resultado geral, no entanto, é igual por todo o mundo. Nenhuma cultura mostrou
obter melhores resultados que as outras.]
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Segundo Douglas Detterman, não há prova convincente de que as pessoas
transfiram espontaneamente o que aprenderam numa situação para uma situação
nova, a menos que a situação nova se pareça muito com a antiga.
Sem dúvida, os bebês estão equipados com um mecanismo de aprendizagem que
traz um rótulo que adverte: o que se aprende num contexto não necessariamente
funcionará em outro. (...) As crianças cujas observações inteligentes causam risos
em casa acabam no gabinete do diretor se não aprenderem a refrear sua língua na
escola.
É difícil ensinar o nosso cachorro a não dormir no sofá quando não estamos por
perto, porque o que estamos de fato lhe ensinando é a ficar longe do sofá quando
estamos por perto. Quando não estamos em casa, o cachorro nunca apanha por
pular no sofá.
A persona modesta da choupana foi abandonada para sempre por Cinderela,
juntamente com a sua vassoura e suas roupas em farrapos.
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“A família moderna é privatizada, nuclear, doméstica e centrada na criança.”
Na Alemanha do século XIX esperava-se que as mães amassem seus filhos, mas
que elas não os deixassem saber que eram amados, porque afeto e atenção em
demasia poderiam ser maus para eles.
Já na segunda metade do século XX, espera-se que a mãe ame o filho com ardor e
o demonstre sem inibições. Se ela não o faz, ou se há uma leve sombra de
“sentimentos negativos inconscientes” toldando o amor dela, é provável que algo
de gravemente errado se passe com o filho. Os conselheiros atuais chegam a
dizer: “Insistam em passar, diariamente, mensagens não-verbais de amor e
aceitação, através do contato visual, do toque e de abraços. Todos os filhos
precisam de expressões físicas do seu amor, não importa a idade que tenham.”
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Nas sociedades tradicionais, os pais elogiam pouco, ou não elogiam nada. Quando
uma criança faz algo errado, eles batem nela (o castigo físico é muito difundido em
todas as sociedades, inclusive na nossa), ou riem dela, ou a amedrontam com
ameaças de fantasmas, gente má ou animais ferozes. Muits vezes, não se dá
nenhema explicação para o castigo, e o que se pune é o resultado do
comportamento da criança – uma tigela quebrada, por exemplo – ao invés das
boas ou más intenções dela.
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Winthrop Kellog, professor de psicologia da Universidade de Indiana, penstou num
experimento: ele propôs criar um macaco num ambiente humano. O resultado foi
publicado em 1933, The Ape and the Child.
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As pessoas com autismo têm tanto problema com a linguagem (mesmo que
aprendam a falar, a comunicação delas é pobre) porque elas não compreendem
que a finalidade da linguagem é pôr pensamentos nas mentes das outras pessoas
e extrair pensamentos das mentes das outras pessoas.
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Socialmente, os chimpanzés se parecem mjuito conosco: eles dividem o mendo em
“nós” e “eles”. Um anima, mesmo que seja conhecido, pode ser atacado se ele não
for mais um de “nós” e tiver se tornado um “deles”.
[A Autora faz a observação de que “talvez seja possível considerar de novo a
hipótese de que os humanos têm um instinto para a guerra e que o herdamos de
nossos ancestrais primatas”. Vejo isso com certa diferença. Não herdamos instinto
para a guerra e sim para a auto-preservação e atacar quem se mostra um
potencial interessado em nos atacar é a velha conhecida técnica de que atacar é a
melhor defesa.]
[E logo a seguir ela mesma vem corroborar minha opinião ao dizer sobre os
chimpanzés que eles “têm todas as pré-adaptações necessárias para permitir o
surgimento de uma guerra, nas quais se incluem a vida em grupo, a
territorialidade, a habilidade para a caça e uma aversçao a estranhos”. Desta
relação eu retiro apenas o item “habilidade para a caça” pois isto não é necessário,
ou seja, sem isso também se faz guerra.]
Ficamos bloqueados com a aparente contradição entre humanos assassinos e
humanos festeiros. Mas Darwin não se incomodava com isso. Ele disse que “os
instintos sociais nunca se estendem a todos os indivíduos da mesma espécie”.
A guerra entre grupos, diz o biólogo evolucionista Jared Diamon, tem sido parte da
nossa herança humana e pré-humana por milhões de anos”. Mais adiante ele diz:
“De todas as nossas características humanas a que provém mais diretamente dos
nossos precursosres animais é o genocídio”.
Mas não somos apenas macacos assassinos: também somos pessoas legais.
Darwin salientou que “um selvagem arriscará a própria vida para salvar a de um
membro da mesma comunicade”.
O escrito Ashley Montagu nos vê como filhos do poder da flor enquanto o escrito
Richard Wrangham nos vê como aqueles que nascem para matar. Tudo depende
se você examina o nosso comportamento com os membros do nosso próprio grupo
ou o nosso comportamento com os membros de outros grupos. Nascemos para
sermos simpáticos com os nossos companheiros de grupo porque por milhões de
anos as nossas vidas e as vidas dos nossos filhos dependeram desses
companheiros. E nascemos para sermos hostis com os membros de outros grupos
porque seis milhões de anos de história nos ensinaram a nos prevenirmos contra
eles.
Uma vez disparado o impulso para obter mais território e mais fêmeas, havia um
novo e melhor motivo par aum indivíduo matar os vizinhos: vamos matá-lo antes
que eles possam nos matar.
151
Os grupos não precisam de motivo para odiar outros grupos; só o fato de
que eles são eles e nós somos nós é em geral suficiente.
Há duas espécies de gafanhotos que coexistem na Europa, se parecem e são
capazes de intercruzar quando em laboratório. Elas são consideradas espécies
diferentes pelo fato de não intercruzarem ao ar livre. E elas não intercruzam
porque emitem sons diferentes. Essa diferença comportamental menor as mantém
distantes.
Nos humanos, a hostilidade entre gurpos leva ao agravamento de quaisquer
diferenças preexistentes entre os grupos, ou à criação de diferenças se de início
não houver nenhuma. Vc pode pensar que seria o contrário – as diferenças
levariam à hostilidade -, mas acredito que o mais provável seja que a hostilidade
leve aas diferenças. Cada grupo está motivado para se distinguir do outro porque,
se não gostamos de alguém, o que queremos é nos diferenciar dele omais
possível. Por isso os dois grupos cultivarão costumes diferentes e padrões
diferentes de beleza masculina e feminina. Eles adotarão formas diferentes de se
vistir e ornamentar, as melhores para que se possam rapidamente distinguir
amigo de inimigo. [Isto é a base do comportamento dos adolescentes. A partir
do momento em que o jovem descobre que ele pertence mais ao grupo de seus
amigos do que ao grupo familiar, é preciso ressaltar as diferenças entre ele e seus
pais, adotar os valores do grupo de amigos, e ressaltar o máximo possível as
diferenças.]
Eibl-Eibesfeldt obsrvou: “Viver em grupos que demarcam os limites entre eles e
outros é um traço básico da natureza humana”.
Quando os exploradores europeus conseguiram entrar no interior da Nova Guiné,
eles descobriram que a regiao era uma verdadeira Torre de Babel. Falavam-se
quase mil línguas diferentes, a maioria delas mutuamente ininteligível, numa área
que era mais ou menos do tamano do Texas. Jared Diamond descreve como era a
ilha antes da chegada do homem branco: “Aventurar-se fora do seu território para
encontrar outros seres humanos, mesmo que eles vivessem a apenas algumas
milhas de distancia, equivalia a se suicidar. (...) Esse isolamento criou uma enorme
diversidade genética. Cada vale da Nova Guiné não só tem sua própria língua e
cultura, mas também suas anormalidades genéticas e doenças locais”
Assim, uma tribo da Nova Guiné tem a mais alta incidência de lepra,
outras têm uma alta freqüência de surdos-mudos ou de hermafroditas
machos ou de envelhecimento prematuro ou de puberdade retardada. As
diferenças genéticas entre as tribo, provavelmente devidas a mutações
em um ou dois genes, constituem a base dessas diferenças. São
diferenças pequens, mas os grupos não estiveram separados por muito
tempo. Com o tempo, os grupos separados tornam-se cada vez mais
diferentes.
O mais provável é que o aparecimento das diferenças tenha sido ajudado pelas
preferências sexuais: a ocorrência das primeiras pessoas de cabelo louro numa
população pode ter se dado por acaso, mas, se leas eram mais procuradas para
cruzamento, seus descendentes teriam proliferado. Esses traços poderiam acabar
servindo como marcas de distinção entre nós e eles.
[Esse tipo de coisa é mais um fator que me leva a pensar que a evolução da
espécie humana está fadada a tomar um rumo absolutamente diverso ou a
estagnar. A questão é que hoje, e cada vez mais, qualquer um nascido com
qualquer conjunto de características, pode “aparentar/simular” as características
que estejam na moda ou as que são importantes para quem se deseja atrair. Isto
vai levar a que pessoas morenas aparentemente louras, venham a ter filhos
morenos, obviamente, neutralizando (ou modificando) o papel do sexo na
evolução.]
[Por que não temos pelos e os macacos sim? Porque em algum momento algum
macaco/hominídeo nasceu com pouco pelo e iniciou uma linhagem de espécimes
de pouco pelo. Aos poucos eles foram se tornando “nós” e os peludos “eles”.
Simples assim]
[Antropologia, Sociologia, Psicologia, Biologia. Uma só ciência.
AnSoPsiBiLobia]
165 – Nós e Eles
William Golding, prêmio Nobel de literatura, como o filósofo ingês Thomas Hobbes,
acreditava que a “vida sem civilização” seria um mundo-cao: salve-se quem puder,
e quem ficar para trás paga o pato. Mntagu, como o filósofo francês Jean-Jacques
Rousseau, acreditava que a vida se assemelharia a uma comunidade hippie bem
administrada: todo mundo participa do trabalho e há muito tempo para se sentir o
cheiro das flores. A meu ver, os quatro estavam errados.
Quem acertou foi Darwin. “As tribos que habitam regiões adjacentes estão quase
sempre em guerra uma com a outa”, observou ele, e no entanto “um selvagem
arriscará a própria vida para salvar a vida de um membro da mesma comunidade.”
(...) Ver os seres humanos como assassinos ou misericordiosos, egoístas ou
altruístas, depende de se estar observando seu comportamento para com os
colegas do grupo ou para com os membros de outros grupos.
[Diversos experimentos científicos, já demonstraram que é muito fácil transformar
grupos coesos em sub-grupos adversários sangrentos. O que está por trás disso é
o que justifica a alemanha nazista, os soldados americanos no Iraque torturando
presos, palestinos e judeus, o que está ocorrendo na Ucrânia, na Romênia etc.
Uma dessas experiências está relatada a partir da página 167 que dividiu garotos
em dois grupos: os “Águias” e os “Cascáveis”. Em um tempo muito curto, diz a
autora, eles tinham passado de xingamentos a paus e pedras.]
Tomemos um grupo de meninos, propiciemos tempo suficiente para que lês
desenvolvam uma identidade de grupo, e então deixemo-los descobrir que há um
outro grupo competidor que reivindica o território considerado por eles como
“nosso”, e o desfecho inevitável será a hostilidade entre os grupos.
O psicólogo social Henri Tajfel deduziu de seus experimentos que
“Aparentemente o mero fato de haver uma divisão em grupos é
suficiente para desencadear um comportamento discriminatório.”
“Quando nomeamso algo”, disse o lingüista S. I. Hayakawa, “estamos
classificando.”
[O tempo todo nós nomeamos, classificarmos, categoriazamos, rotulamos,
dividimos pessoas ou coisas em grupo, independente do nome que damos ao que
estamos fazendo.]
A única coisa de que se precisa pára produzir os efeitos de contraste dos grupos é
dividir as pessoas em dois grupos. [Os grupos, para ganharem identidade,
precisarão descobrir diferenças e potencializá-las para que se tornem marca.]
Se estamos em uma exposição de cachorros fazemos uma classificação de raças,
mas quando as categorias são cães e gatos, vemos os cães como sendo,
basicamente, semelhantes e os nossos pensamentos se detêm precisamente
naquelas características eu os distinguem dos gatos.
O que faz as pessoas favorecerem o grupo delas e se sentirem hostis, pelo menos
por algum tempo, para com outros grupos? E o que as motiva a se diferenciar de
seus companheiros de grupo, a lutar por sucesso e reconhecimento individuais? O
que determina qual destes dois processos contraditórios, a assimilação e a
diferenciação, irá prevalecer?
Assimilação e diferenciação.
O comportamento de um grupo de humanos é muito complexo. As pessoas na
nossa sociedade se identificam (se autocategorizam) com muitos grupos
diferentes.
A primeira reação ao estrangeiro, ou a alguém que está agindo de forma estranha,
é de medo. O medo se transforma em hostilidade porque ter medo é
desagradável.
Nos categorizamos desde “eu, um indivíduo único” até “eu, ser humano”.
187
John Turner, psiocologo social, especificou uma condição necessária para que uma
condição social se saliente: quando uma categoria comparável ou contrastante
esteja simultaneamente presente. Assim, a categoria social adulto não se saliente
quando se está numa sala cheia de adultos, mas assim que algumas crianças
entram na sala ela se torna saliente. Ele chama isso de grupo psicológico ou, um
termo mais antigo, grupo de referência.
229
Segundo Turner, as pessoa às vezes se categorizam como “nós” e às vezes como
“eu”, dependendo do contexto social. Quando é a noção de grupo que se saliente,
elas se vêem como indivíduos únicos, sui generis. Mas a maior parte do tempo,
elas não estão em nenhum desses extremos – a maior parte do tempo elas estão
flutuando (mentalmente) em algum lugar do espaço cinzento entre o “nós” e o
“eu”. Então, a maior parte do tempo elas estão suscetíveis tanto à ancisa de se
conformar quanto à ânsia de ser diferente. A solução mais comum é adaptar-se, a
maioria das vezes, e encontrar algum jeito de ser diferente.
A aversão a estranhos traduz-se com muita facilidade em aversão à estranhez.
237
Crianças criadas numa cultura onde o comportamento agressivo é a norma talvez
sejam recompensadas pelo comportamento agressivo com atenção ou aprovação.
Elas vêem seus pais se comportando agressivamente, elas vêem outros adultos da
sociedade delas se comportando agressivamente, e elas vêem outras crianças se
comportando agressivamente. Enquanto todas essas forças estiverem exercendo
tração conjuntamente, não há como dizer qual delas está fazendo o vagão se
mover. Temos que observar os casos em que as forças estejam exercendo tração
em direções diversas.
No Brooklyn, em Nova York, há judeus ortodoxos que preservam a religião, os
costumes e até os estilos de se vestir e enfeitar que vieram da Europa Ocidental
há muits gerações. E isso acontece porque eles próprios educam os filhos. As
crianças vão para escolas religiosas chamadas yeshivas; elas não se misturam a
crianças de ouytras culturas nem na escola (onde todas as crianças são filhas de
judeus ortodoxos) nem na vizinhança (a maioria dos residentes no bairro é de
judeus ortodoxos).
Quando a cultura de fora de casa difere da cultura de dentro, a cultura
de fora vence.
A autocategorização funciona na base do aquie e agora, é tão difícil para um
adolescente admitir ter sido criança um dia quanto é, para uma criança, acreditar
que um dia ela será adulta.
“O objetivo da educação que se recebe num colégio de eleite”, relatou Sir Anthony
Glyn, cujo pai era um baronete e recebeu educação tradicional da classe alta
britânica, “não é aprender nada de útil ou melhor, nada de nada. É ter o caráter e
a mente treinados, adquirir a imagem social correta e fazer os amigos certos.”
A “circuncisão feminina”, por que passam meninas na África, em partes do Oriente
Médio e em populações muçulmanas de ouros lugares, é realizada sem anestesia e
a menina é informada de que os gritos envergonharão sua família. Às vezes elas
sangran até morrer ou morrem lentamente de tétano ou septicemia. As
complicações de longo prazo podem levar, na idade adulta, à esterilidade ou a
partos difíceis. A relação sexual talvez seja dolorosa e, naturalmente, não deverá
ser prazerosa pois é esse o objetivo da operação. O motivo para os pais agirem
dessa forma terrível com a filha – pondo em risco a vida e a saúde dela, e a
capacidade de ela ter filhos – é todos estarem fazendo o mesmo. Os amigos e
vizinhos deles, os irmãos e primos deles estão agindo da mesma forma com as
filhas deles. Eles arriscam o menosprezo de toda essa gente se não adotarem a
mesma prática. Eles arriscam ficar amarrados a uma filha com quem ninguém vai
querer se casar porque, segundo a cultura deles, as boas meninas não têm clitóris.
[E, acima de tudo, ninguém está disposto a pagar o custo de se não agir
como o grupo.]
Na nossa sociedade, a maioria das cenas reais de sexo e violência ocorre por trás
de ports fechadas. Assim, ao invés de aprender sobre isso olhando os vizinhos, as
crianças de hoje vêem essas cenas na televisão. A televisão tornou-se a janela
delas para a sociedade, a praça da aldeia. Elas tomam o que vêem na tela como
uma indicação do que seja a vida lá fora e incorporam-na às suas culturas infantis.
Os personagens da Vila Sésamo fazem parte da matéria-prima de uma cultura
infantil tanto quanto a língua que essas crianças aprendem no colo da mãe.
Impedir que uma criança veja televisão não pretegeria essa criança contra a
influência desse meio, porque o impacto da televisão não se dá na criança
individualmente – o impacto se dá no grupo.
Ao morar num bairro e não num outro, os pais podem aumentar ou diminuir as
chances de que os filhos venham a cometer crimes, sejam expulsos da escola,
usem drogas ou engravidem.
278
No decorrer do século XX a cultura adulta foi-se tornando cada vez mais
igualitária, mas a infância continua mais sexista do que nunca.
Nem sempre os estereótipos são preciso; eles têm menos probabilidade de ser
precisos quando envolvem grupos que não conhecemos tão bem como
conhecemos os homens e as mulheres. Mas o verdadeiro perigo dos estereótipos
não é tanto a imprecisão quanto à inflexibilidade deles. Podemos estar certos
quando vemos os homens como mais aptos a desempenhar papéis de liderança e
menos hábeis em interpretar os sentimentos das outras pessoas, mas estamos
errados se achamos que todos os homens são assim. Somoa avaliadores bastante
bons das diferenças entre as médias – a diferença entre o membro médio do
grupo X e o membro médio do grupo Y -, mas somos avaliadores fracos da
variabilidade dentro dos grupos. A categorização tende a nos fazer ver os
membros das categorias sociais como mais parecidos do que eles realmente são, e
isso é particularmente válido para a categoria na qual não nos inserimos.
Para as crianças, adultos e crianças pertencem a espécies diferentes; seria assim
como misturar vacas com galinhas e touros com galos. Por eles não terem nenhum
compartimento com o rótulo machos, os meninos se colocam num compartimento
rotulado meninos, e eles talham o comportamento deles pelo comportamento dos
meninos, não dos homens. É por isso que um menino pode ver o próprio pai
trocando fraldas e ainda dizer que mudar a fralda de uma boneca foi a pior coisa
que ele jamis fez na vida. É por isso que uma menina cuja mãe era médica podia
dizer que apenas os meninos podem ser médicos, as meninas têm de ser
enfermeiras. (...) A compreensão de que se é menino ou menina não surge como
um rótulo colado à genitália. Nem é algo que os pais possam dar ao filho, ainda
que o tentem.
As categorias sociais variam em proeminência dependendo do contesto ,
enquantto a cultura permanece mais ou menos a mesma. O modo como nos
categorizamos depende de onde estamos e com quem estamos, e até mesmo uma
criança muito pequena tem opção: ela pode se categorizar ou como criança ou
como menina. Se a categoria idade est´pa mais proeminente, a categoria sexo,
automaticamente, torna-se menos proeminente. Quando um adulto age de forma
escancaradamente arrogante, como o auxiliar da escoa que castigou Don
injustamente, as categorias da idade passa par ao primeiro plano e as do sexo
recuam. Se você oferece às crianças em idade escolar uma outra possiblidade de
se dividirem – em grupos de habilidade de leitura, por exemplo -, o sexo irá se
tornando, gradualmente, menos proeminente e os grupos de leitura, mais
proeminentes. [Se você quer acabar com o poder de uma loura de olhos azuis e
pele rosada, é só levá-la para a Suécia.]
O elo entre a depressão e a baixa auto-estima já foi devidamente estabelecido. O
que ainda não se sabe muito bem é a ordem em que aparecem – qual é a causa e
qual o efeito. [Olhando para o pai, tenho a certeza que a baixa auto-estima
precede a depressão. Esta é um estágio mais avançado daquela..]
[Mas] o distúrbio bipolar ocorre com a mesma freqüência nos dois sexos, mas a
depressao unipolar (os baixos sem os altos), começando no inicio da puberdde, é
mais comum em mulheres. A queda de auto-estima que algumas garotas
vivenciam nessa idade pode ser um sintoma de depressão mais do que a causa
dela.
Quando algo sai errado no cérebro, o mais provável é que os homens tendam a
tomar a direção da ação, e o resultado é a violência. E é provável que as mulheres
tendam mais a tomar a direção oposta, e o resultado é a ansiedade ou a
depressão. A psicose maníaco-depressiva, então, significaria uma instabilidade do
equilíbrio entre os dois tipos de mecanismo.
305
Para as crianças que estão na escola, as pessoas mais importantes da sala de aula
são as outras crianças. Os fãs de uma criança são as outras cirancas na sala. A
professora não é uma fã – ela é um deles, o complemento necessário sem o qual
os pequenos atos de desafio seriam inúteis.
Sem sair da cadeira – sem mover um músculo – uma ciranca de se sete ou oito
anos pode entrar nas várias autocategorizacoes e delas sair. Numa hora, ela pode
pensar em si própria como uma menina da terceira série, numa outra, como uma
aluna da terceira série, e ainda numa outra, como aluna da Escola Marin Luther
King. Ela pode pensar em si como membro do grupo de leitura mais adiantado ou
como uma das garotas mais inteligentes da turma. Ela também pode ir e vir ao
longo do continuum eu e nós: às vezes ela se sente como membro do grupo, às
vezes a sua posição como indivíduo a interessa mais.
Quando os professores dividem as crianças em bons leitores e em leitores não tão
bons, os bons leitores tendem a melhorar e os não tão bons a piorar. É um efeito
de contraste do grupo que está em ação. Os dois grupos geram normas de grupo
diferentes – comportamentos diferentes, atitudes diferentes.
O resultado dos efeitos de contraste do grupo entre os alunos de aprendizagem
rápida e os de aprendizagem lenta é que os lentos adotam normas que os tornam
mais burros – ou, mais precisamente, normas que fazem com que eles evfitem
realizar coisas que poderiam torná-los mais espertos. (...) Esses efeitos são uma
conseqüência da tendência profundamente enraizada na pessoa de ser leal ao seu
próprio grupo. Eu sou um dos nossos, não um ddos deles. Eu não ser como (eca!)
eles.
E, se uma criança muda de um grupo para o outro durante o ano escolar, as
atitudes da criança mudam para poderem combinar com as do novo grupo.
A auto-estima é uma função do status dentro do grupo. As pessoas se julgam
conforme a comparação que fazem com os outros membros do próprio grupo
delas.
Os grupos às vezes, mas não sempre, têm lideres. O líder não é necessariamente
um membro do grupo; os grupos podem sofrer influencias internas ou externas.
Um professor é um líder que pode influenciar um grupo apesar de não ser um
membro deste grupo.
[Penso que aqui a autora esqueceu do que ela mesma elaborou. Um líder é
SEMPRE membro do grupo. Além disso, um líder é líder apenas enquanto a
existência do grupo é necessária. No exemplo que ela cita, o professor só é líder
quando o que está em jogo é a autocategorização “nós, os alunos da turma da
terceira série da escola Martin Luther King.]
Os líderes influenciam os grupos de três maneiras. Primeira, um líder pode
influenciar as normas do grupo – as atitudes que os membros adotam e os
comportamentos que deles consideram adequados. Para isso acontecer, basta
influenciar alguns dos membros dominantes.
Segunda, um líder pode definir as fronteiras do grupo: quem são os nossos e
quem são os deles. Ali´pas, Hitler foi muito bom nisso.
Terceira, um líder pode definir a imagem – o estereótipo uqe um gruo tem de si
mesmo.
Um professor realmente talentoso exerce a liderança dessas três maneiras. Um
professor realmente talentoso pode evitar que uma sala de aula de alunos diversos
se difvida em grupos separados e pode transformar uma turma inteira num grupo
“nós” – nós que nos vemos como estudantes. Nós que nos vemos como gente
capaz e empenhada.
“Para os estudantes negros”, observou a socióloga Janet Schofield, “ter sucesso
acadêmico muitas vezes significa deixar os amigos para trás e se juntar
predominantemente aos grupos de brancos dentro das classes.” As crianças
negras que se saem bem academicamente são pressionadas pelos pares delas
para não trabalharem com tanto empenho. Elas não estão se adequando às
normas do grupo delas: estão “agindo como brancas”.
Um artigo recente do New York Times citou uma professora do Bronx que disse
que alguns de seus alunos negros “preferiam ser algemados dinte das câmeras de
uma rede de televisão do que serem pegos lendo um livro.”
As pessoas se sentem constrangidas de violar as normas de seus grupos.
A sociedade como um todo não distingue entre os afro-americanos cujos pais
vieram da Jamaica e aqueles cujos pais vieram de qualquer outro lugar.
334
Para mim, os adolescentes pertencem à mesma espécie que nós, os outros – e
que, apesar de todas as aparências em contrário, eles são membros prestigiados
da raça humana. Eles são dotados do mesmo tipo de cérebro e se sentem
pressionados e atraídos pelos mesmos corretivos e incentivos. Querem
ser como os outros membros do grupo deles, só que melhores. Não
querem ser como os membros dos outros grupos.
Crianças não copiam os pais quando estes são atípicos.
As crianças não olham para os adultos para saber como se comportar, falar, ou se
vestir porque crianças e adultos pertencem a categorias sociais diferentes que têm
regras diferentes.
A mente humana precisa categoriazer. Nós colocamos as coisas em categorias
mesmo quando elas ocorrem num continuum e não em blocos adequados.
Para se explicar o que ocorre na adolescência, é necessário uma concepção que
considere duas jogadas. A evolução nos propiciou dois motivos para amarmos os
nossos filhos pequenos: eles carregam os nossos genes e são pequenos e
engraçadinhos. A evolução só nos deum um motivo para amarmos nossos filhos
adolescentes: eles carregam os nossos genes.
Quando os únicos grupos etários são os de crianças e de adultos, a hostilidade
entre os grupos é amortecida pela dependendencia, de um lado, e pelos cuidados
dos pais, do ouro. (...) Agora vc pode entender por que os adolescentes se
aborrecem tanto quando os adultos copiam o modo de vestir e de falar deles –
pprque eles se vêem forçados a inventar outros. (...) A grande pergunta da vida
adolescente é: você é um dos nossos ou um deles? Se vc é um dos nossos, prove.
Prove-o mostrando que não liga para as regras deles. Prove-o fazendo algo – uma
tautagem seria bom, um furo atravessando o nariz até melhor – que irá marcá-lo
definitivamente como um dos nossos.
Uma vez que os palavrões perderam o caráter estimulante, os meninos dos lares
de classe média bem arrumados usam a pior palavra que conhece, “negro”, e
rabiscam a pior pichação, uma suástica. Os pais deles não são racistas; os pais
ficariam chocados. E é isso, exatamente, o que interessa. É um erro chamar a
pichação de suáticas feitas pelos meninos de um “crime de preconceito”. E um
errro ainda maior responsabilizar os pais por isso. Eles fazem suásticas porque
ninguém se espanta mais quando escrevem “FODA-SE”.
A rebeldia do tipo escancarado a que muitos adolescentes se dedicam
hoje é uma característica das sociedades que mandam os adolescentes
para a escola. Ela não é encontrada, porque seria inútil, nas sociedades que
consideram as meninas de quatorze anos suficientemente maduras para casar e os
meninos de quatorze anos suficientemente maduros para assumir as
responsabilidades e as armas dos homens. (...) [Nestas sociedades] os indivíduos
não têm nenhum conceito de adolescência, porque nessas sociedades, os
adolescentes não têm a oportunidade de ficar vadiando com outros adolescentes.
Adolescentes adotam comportamentos diferentes e filosofias diferentes; eles
inventam novas palavras e formas novas de se enfeitar. E eles levam esses
comportamentos, essas filosofias, etc., com eles para a idade adulta. Eles deixam
para os filhos o encargo de descobrir novas maneiras de ser diferente. Mamãe e
papai fumavam maconha? Ta certo, a gente vai ter que descobrir uma outra coisa
pra fumar!
Toda nova cultura mistura os dados recebidos da sociedade como um todo – da
mídia, do que está acontecendo no mundo, das culturas das coortes anteriores –
com algo novo, acrescido por seus criadores como uma maneira de se distinguirem
dos seus predecessores.
A adolescente que entra num grupo chamado pelos pais dela de “turma da
pesada” não terá uma vida tranqüila em casa. Os pais não gostam dos amigos
dela, não gostam do modo de se vestir e de agir dela, e não gostam dos relatórios
que estão recebendo da escola. Eles pedem que ela pare de se encontrar com os
amigos, mas, como os pais não podem controlar o que ela faz quando não está em
casa, ela os encontra escondido dos pais e mente. (...) Os adolescentes que são
membros de grupos “legais” tendem a se dar bem com os pais; os adolescentes
que são membros de grupos de delinqüentes tender a ter relações difíceis com os
pais.
“A pressão dos pares é mais um desejo de participar de experiências que são
vistas como relevantes, ou potencialmente relevantes, para a identidade do
grupo.”
O contato com pares que fumam é o que determina se uma adolescente
irá , ou não, experimentar o fumo. O genes dela determinam se ela irá,
ou não, ficar dependente.
Os adolescentes criam suas próprias culturas, que variam conforme o grupo de
pares, e nõs não podemos adivinhar nem determinar que aspectos da cultura dos
adultos eles vão conservar e de que aspectos eles vão se descartar, ou que coisas
eles vão bolar por sua própria conta.(...) Mas o nosso poder não é zero. Os adultos
controlam uma importante fonte de dados para as suas culturas: a mídia.
[A autora apresenta uma sugestão de forma leviana. “Diz ela: aumentar
drasticamente o preço do maço do cigarro talvez também adiantasse. Pelo menos
diminuiria o numero do de cigarros usados pelos que estão experimentando e
assim diminuiria o numero dos que se tornam viciados.” Ela só esqueceu que
proibições levam a transgressões e que, no caso, levam ao crime.]
[Mas] a delinqüência deles é temporária e circunstancial e depende do contexto
social. A delinqüência é algo que os garotos se metem junto com seus amigos.
Os psicólogos usam o termo período sensível para um estágio da vida no qual
certas coisas, cuja realização pode ser difícil em outros estágios, podem ser
realizadas prontamente. A infância é um período sensível para a aquisição de uma
língua “nativa” e a formação de uma personalidade “nativa”. Essas coisas podem
passar por um refinamento posterior na adolescência, mas a estrutura básica foi
construída. A personalidade que adquirimos nos grupos de amigos de nossa
infância e adolescência é a que nos acompanha pelo resto das nossas vidas.
396
O mistério não é por que algumas crianças são violentadas: é por que a maioria
das crianças não o é. As crianças incomodam tanto! Elas podem enfurecer tanto os
outros! Mas a maioria dos pais não maltrata os filhos e a maioria das crianças não
sofre maus-tratos – emso os filhos de pessoas que foram violentadas na infância.
A evolução forneceu às crianças traços e sinais que diminuem a possiblidade de
provocar raiva – que nos fazem nos sentirmos protetores em relação a elas e, se
elas são nossas, amá-las.
405
Como os pesquisadores observaram, esses traços de personalidade desvantajosos
são tão herdáveis quanto os traços saudáveis: as influencias genéticas respondem
por cerca de 50% das variações entre os indivíduos. E os traços aparecem cedo:
os pesquisadores puderam ver sinais deles em crianças de apenas três anos. É isso
mesmo, eles tinham dados desses mesmos indivíduos – do comportamento deles
avaliado por examinadores treinados – obtidos quando eles tinham 3 anos. As
crianças nesta idade que eram mais impuylsivas e se enfureciam mais rapidamente
do que outras da idade delas, e que tinhjam mais dificuldade em se concentrar
numa tarefa, tendiam a permanecer assim, e esses indivíduos tendiam a se meter
em “comportamentos de risco a saude” quando ficavam mais velhos.
481
A teoria da socialização do grupo prediz que as crianças irão se comportar de
forma diferente em contextos sociais diferentes porque o comportamento
aprendido é específico ao contexto no qual ele foi aprendido.
Cinderala descobriu que sua beleza era uma desvantagem em casa, mas uma
vantagem fora dela.
Quando um pai leva sua filha adolescente a um restaurante e confica alguns
amigos dela para irem junto, ele considera a maneira como ela se comporta
estranha para ele? Quando os pais visitam a escola, os filos ficam satisfeitos e/ou
embaraçados? E os filhos, será que eles voltam a se comportar como se
comportam em casa? O que faz um menino quando machuca o joelho na
presença tanto da mãe quando dos amigos: ele chora, como faria junto
com a mãe, ou banca o durão, como faria junto com os amigos?
A teoria da socialização prediz que independentemente da qualidade do ambiente
familiar as crianças se transformarão em adultos normais desde que se
mantenham as seguintes condições:
 que não tenham herdado nenhuma característica patológica dos pais delas
(por isso será necessário usar crianças que sejam filhos adotivos ou postiços
para testar essa predição);
 que seus cérebros não tenham sido danificados por neglig?encia ou abuso;
 e que elas tenham relações normais com seus pares.
Podemos chamar este teste de “experiência Cinderela”. A Cinderela, aliás, se saiu
muito bem.
ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
Os bebês começam a estabelecer um contato visual com os pais quando dhegam a
aproximadamente seis semans de vida. Mas desde o nascimento ele sabe quando
alguém está olhando para ele.
Já ao final do primeiro ano, o bebê também sabe para onde uma pessoa está
olhando quando esta não está olhando para ele. Observar o rosto da mãe quando
ela está falando com uma pessoa que ele desconhece ajuda-o a decidir se o
estranho é amigo ou inimigo. Se o estranho olha muito intensamente para o bebê
antes que este tenha podido chegar a uma conclusão, o bebê vai provavelmente
virar o rosto. Se o estranho tenta pegá-lo no colo nesse momento, é provável que
o bewbê resista e chore de medo.
Em meados do segundo ano, a criança olha fixamente para a mãe para ver para
onde ela está olhando quando esta lhe diz uma plavra; a criança presume que a
poalavra se aplica ao objeto para o qual a mãe está olhando. Quando a criança
aponta para algo, ela confere para ver se a mãe olha para o objeto apontado.
Apontar para chamar a atenção de uma outra pessoa é uma característica
humana. Os chimpanzés não fazem.
Bebês de 6 meses se mostram precavidos contra adultos desconhecidos, mas
concedem o benefício da dúvida a crianças desconhecidas.
Aos 2 anos e meio, as crianças podem usar tanto palavras quanto ações para
coordenar sua brincadeira.
Aos 3 anos elas são capazes de participar de brincadeiras como casinha, que
requer tanto uma imaginação coordenada quanto uma ação coordenada.
Entre os 3 e os 4 anos as crianças começam a atalhar o seu comportamento pelo
dos colegas da escola maternal e, mais, começam a trazer esse modo de agir para
dentro de casa.
A fase intermediária da infância (os anos da escola primária) é, a meu ver, o
período em que as coisas mais importantes acontecem. É quando as crianças se
socializam definitivamente e quando ocorrem as mudanças permanentes em suas
personalidades. E ainda assim esse é também o período provavelmente mais
ignorado pelos psicólogos. Freud achava que esse era um período no qual não
acontece muita coisa.
É na fase intermediária da infância que as crianças se encaixam em papeis cuja
representação pode durar o resto das vidas delas. Elas escolhem esses papeis
sozinhas, ou, então, eles lhes são designados – ou impostos – pelos outros.
385
Mais precisamente, se a presença ou ausência dos pais teve algum efeito
duradouro nos filhos, deve ter sido um efeito diferente para cada criança.
Não há nenhum gene do divórcio. Em vez disso há uma variedade de
características de personalidade, cada uma delas desbastada por um comlexo de
genes e moldada e lixada pelo ambiente, que juntos aumentam as chances de que
uma pessoa tenha um casamento infeliz.
Os métodos de educação de crianças podem mudar com estonteante velocidade, à
medida em que uma geração de conselheiros ´pe substituída pela seguinte.
O PAPEL DOS PAIS
Não há dúvida de que os adultos que prestam cuidados desempenham um papel
importante na vida da criança pequena. É dessas pessoas mais velhas que as
crianças aprendem a sua primeira língua, adquirem suas primeiras experiências de
estabelecer e manter relações, e aprendem suas primeiras lições sobre o
cumprimento de regras.
Educar filhos não é algo que um pai faça a um filho: é algo que o pai e o filho
fazem juntos.
A relação entre um pai e um filho, como qualquer outra relação entre dois
indivíduos, é uma rua de mão dupla – uma transação continua em que cada
sujeito desempenha um papel.
A idéia de que os filhos causam efeitos nos pais vem sendo gradualmente aceita.
A educação de filhos torna-se mais fácil se feita sem culpa e sem você ter que
pensar sobre os efeitos a longo prazo que as suas ações poderão ter sobre a frágil
e pequena psique do seu filho.
A educação de filhos torna-se mais fácil se feita sem culpa e sem você ter que
pensar sobre os efeitos a longo prazo que as suas ações poderão ter sobre a frágil
e pequena psique do seu filho.
“No primeiro dia de aula da minha filha ... ouvi a professora conversando com ela,
mas os murros na porta e os gritops continuavam. Eu quis entrar de novo, mas a
professora tinha me dito para eu não faze-lo, e assim não entrei.” A autora.
Na nossa sociedade nós ouvimos os especialistas. E eles nos dizem que se eles
trilham o caminho errado apesar de nossos esforços, devemos ter falhado na
execução de uma, ou de mais de uma, dessas instruções, ou te-las executado de
uma maneira insuficientemente consciente.
160
Posso pensar em 4 motivos para explicar porque o fato de se deixar influenciar em
excesso pelos pais não seria o melhor, a longo prazo, para a prole
1. uma predisposição para aprender apenas com os pais impediria que a prole
assimilasse as inovações úteis introduzidas por outros membros da
comunidade dela. Além do fato de que o que ela aprende com os pares
também tem mais probabilidade de ser mais oportuno, de estar mais
adequado às condições do momento.
2. variedade. Clonagem não é uma boa. A clonagem carrega virtudes e
defeitos. Algo que pudesse matar um, matéria a todos da família. A
evolução só foi (e é) possível graças a mecanismos que provocam a
diversidade. Em tempos bons e maus, a variedade dentro de uma família
pode propiciar uma gama maior de habilidades e uma base mais ampla de
conhecimento que será útil para a família como um todo. Ou seja, se os
pais tivessem o poder de influenciar os filhos tanto por meios ambientais
como geneticamente, os filhos seriam semelhantes demais aos pais e
semelhantes demais uns aos outros. Os filhos se pareceriam muito com
pequenos clones.
3. as crianças não podem contar com o fato de ter pais. Ter dois pais, um de
cada sexo, não era algo de que as crianças dos tempos ancestrais
pudessem ter certeza. Entre os inanomâmis, a probabilidade de que uma
criança de 10 anos ainda esteja morando com os pais biológicos é apenas
de um para três, porque a taxa de mortalidade é alta. Se as crianças
precisassem de pais para aprender o que tivessem de aprender, perder um
pai ou uma mãe seria um certificado de morte sob condições ancestrais.
4. interesses concorrentes de pais e filhos. O que é melhor para os pais não é
necessariamente melhor para os filhos. E vice-versa. O biólogo evolucionista
Robert Trivers conclui que a melhor política para a prole seguir é a de
cuidar dos próprios interesses e ao mesmo tempo procurar permanecer em
bons termos com os pais. [É o que a maioria de nossos filhos faz.] As vidas
das crianças caçadoras-coletoras dependia mais da sobrevivência do grupo
do que dos pais delas, porque memso que os pais morressem elas tinham
uma chance de sobreviver se o grupo delas obrevivesse. (...) As
perspectivas futuras delas dependiam, não em fazer com que os pais as
amassem, mas em se relacionar com os outros membros do grupo –
especialmente, os membros da geração delas, aquele com quem elas
passariam o resto da vida delas. A mente da criança moderna é um produto
destes 6 milhões de anos de historia evolutiva.
O modelo de Sulloway para relações fraternais é o mergulhão de pés azuis, uma
espécie na qual o filhote maior do ninho reduz a competição pela atenção parental
bicando até matar o menor deles.
[Por que se tem tanto horror à clonagem de seres humanos se o tempo todo o que
os pais mais desejam e se empenham em, é em tornar seus filhos uma cópia de si
mesmo? Por que será que os pais (são, na maioria, sempre 2) insistem em gerar
este terrível conflito em seus filhos que é o de a cada momento ter que ser de um
jeito, uma hora do jeito do papai, outra do jeito da mamãe. Certos estava nosso
avô que se abstinha de interferir e deixava para a vovó toda a tarefa de educar os
filhos.]
O prego que se salienta ganha uma martelada, dizem no Japão.
Os adolescentes não são empurrados para se ajustar – eles são puxados, pelo
próprio desejo deles de pertencer ao grupo.
Em um grupo, todos devem se juntar, mas quando não há nenhuma ameaça
externa cada um deve ser capaz de contribuir para o grupo ao jeito dele.
192
Então, alguns meses depois do início da oitavba série, minha família mudou-se
mais uma vez, e meus dias de proscrita terminaram. (...) E os anos de solidão, de
busca de sonsolo nos livros, estavam começando a ter um saldo: meus colegas de
classe se referiam a mim como o “crânio”... Mas eu continuava inibida e insegura.
As crianças do bairro arrogante tinham conseguido o que meus pais não tinham:
eles tinham mudado a minha personalidade.
A crianças nascem com certas características. Os genes delas as predispõem a
desenvolver um certo tipo de personalidade. Mas o meio pode muda-las [????].
Não a “criacao” – não o meio que os pais lhes propiciam -, mas o ambiente fora de
casa, o ambiente que elas partilham com os pares delas.
As diferenças genéticas de temperamento podem explicar porque é mais fácil para
algumas crianças largar mamãe à porta da sala da creche, e porque algumas se
interessam mais que outras em se socializar com seus pares. Mas é improvável
que os genes sejam responsáveis pela história toda [???] – é claro que as
experiências das crianças também têm um papel nisso.
A mente da criança não possui apenas um único modelo mas muitos – um para
cada relacionamento. [???]
Não há nenhuma lei da natureza que diga que o sofrimento tenha de ter
seqüelas. As coisas que tornam os bebês (ou os adultos) infelizes não
têm necessariamente conseqüências a longo prazo. [???]
Embora uma mãe não possa atuar como substituta dos companheiros, os
companheiros podem atuar como substitutos da mãe.
O exemplo de William James Sidis. Seus pais acharam que o único filho deles era
tão especial que dedicaram as vidas deles a educa-lo. Ele aprendeu a ler aos 18
meses; aos seis anos, ele lia em diversas línguas. Em seis meses ele passou por
todas as sete series da escola. Foi retirado da escola e passou 3 anos em casa, 3
meses no segundo grau e mais alguns anos em casa.
Aos 11 anos entrou para a Universidade de harvard. Alguns meses depois fez uma
conferencia sobre “Corpos de 4 dimensões” no clube de matemática de harvard.
Esse foi o apogeu. Daí em diante, foi só decadência. Quando adulto, voltou-se
contra os pais – ele até se negou a comparecer ao enterrro do pai – e contra o
mundo acadêmico em geral.
É mais fácil para um bebê brincar com um dos pais ou um irmão: a pessoa mais
velha estrutura o jogo e, através da repeticção, ensina a criança a responder de
forma adequada. Já no primeiro aniversário, a criança americana média pode
brincar de massinha ou de esconder com os pais. Um companheiro da mesma
idade, um par, não é nem de longe tão prestativo nem tão compreensivo. Mesmo
com a melhor da intenções, uma criança de um ano não brinca com outra da
mesma idade.
Oberva Irenäus Eibl-Eibesfeldt: “A socialização da criança ocorre principalmente
dentro do grupo de brincadeiras.”
O fato de quem uma ligação sólida com um dos pais (ou com um substituto de um
dos pais) seja necessária para bebês e crianças pequenas não significa que ela
seja uma necessidade para uma criança mais velha.
As crianças adquirem idéias como “mulheres cozinham” e “homens saem para
trabalhar” são adquiridas em casa, na televisão e nos livros de estória. Mas é nas
brincadeiras de faz-de-conta com seus amigos da escola é que elas vão conferir a
exatidão dessas idéias.
Donald Kellogg, não foi criado por maçados - lê fooi criado, durante quase um
ano, com um macaco. Com um ano e sete meses, Donal só falava três palavras em
inglês mas ele se saía muito bem ao se comunicar na língua dos chimpanzés. Por
que Donald preferia imitar a língua do chimpanzé em vez da língua dos pais dele?
Porque ele percebeu que ele e Gua estavam na mesma categoria social, na eu se
baseava na idade. Os bebês categorizam por idade e por sexo antes de
completarem um ano.
B. F. Skinner disse que os organismos têm de receber recompensas para aprender,
mas as crianças aprendem sem serem recompensadas – e, aliás, sem serem
castigadas. Elas podem aprender observando outras cojmo elas e vendo o que
acontece com essas outras. Uma criança não precisa queimar os dedos no fogão
acesso para aprender a não tocar nele: tudo o que ela tem a fazer é observar o
que acontece quando o irmão dela toca no fogão.
Só há uma maneira de fazer com que uma crianã em idade pré-escolar aprenda a
gostar de um alimento que despreza: sentá-la à mesa com um grupo de crianças
que gostam dessa comida e servi-la a todas elas.
Uma das características do sentido de grupo é que as pessoas não têm de gostar
de todos os membros do grupo. Alias, elas não têm de cohecer todos os membros
do grupo. Aliás, elas não têm de conhecer nenhum membro do grupo. A única
coisa necessária é saber que vc e eles estão na mesma categoria social. É uma
questão de autocategorizacao:
Eu sou (um) X.
Eu não sou (um) Y.
As relações duais se baseiam em coisas como dependência, amor e ódio, e prazer
na companhia do outro. O sentido de grupo se baseia no reconhecimento de
semelhanças básicas – somos parecidos de algum modo – ou compartilhamos de
um destino – estamos todos no mesmo barco.
A questão central deste livro é: como as crianças aprendem a se comportar como
membros normais, aceitáveis, da sociedade em que vivem? o que transforma a
matéria-prima do temperamento da criança no produto acabado da personalidade
do adulto?
A identificação com um grupo, e a aceitação ou rejeição por parte do grupo, é que
deixam marcas permanentes na personalidade.
[E “se identificar” não significa aceitação.] Embora como aluna da quinta série eu
não interagisse, de nenhuma maneira, com as outras meninas da quinta série, eu
me identificava com elas. Elas eram o meu grupo psicológico e me rejeitaram; por
isso, nesse sentido, fui explusa do grupo.
[Meninos se comportam como meninos e meninas idem] porque isto é resultado
da autocategorizacao – do fato de eles se verem como membros de um grupo
específico. Porque eles estão neste grupo, eles o preferem. E por estarem nele,
querem ser como os outros membros do seu grupo e não como os do outro grupo.
[Este é o grande problema dos que nascem com tendência homossexual.]
Um pai ouviu sua filhinha dizer ao dinossauro de brinquedo que só meninos
brincam com armas... Sendo filosoficamente contrário tanto a armas quanto à
discriminação sexual, o pai estava numa enrascada. “Tentei explicar a minha filha
que:
a) meninos ou meninas podiam brincar com armas;
b) eu não gostava de armas não importa quem estivesse brincando com elas;
c) realmente, embora ela forsse menina, ela poderia ter uma arma, mas eu
não qeria que ela brincasse com armas.”
Valeu, papai. Mas relaxe: não é a sua opinião que conta para a sua filhinha. (...)
As opiniões dela não se baseiam no que ela ouve os pais dizerem; eles, por
exemplo, nunca disseram: “Meninos são... eca!” nem “Ele não pode brincar com a
gente, ele é menino”.
[Quando um professor pede que um menino vá se sentar ao lado de uma menina
para fazer um dever na sala de aula, ela está se esquecendo de] que para garotos
de 10 anos, sentar-se ao lado de alguém do sexo oposto é tão ruim quanto mijar
nas calças.
Depois de atravessar as chamas purificadoras da infância, meu irmão e eu somos
muito mais parecidos do que éramos quando crianças.
Sempre me diverte ver os pré-adolescentes andando com suas famílias num
shopping, sempre dez passos adiante ou atrás dos pais. Se alguém “dos seus” os
vir, eles querem que a situação esteja perfeitamente clara: eu não estou com esse
pessoal.
326
Não parece haver nenhuma grande vantagem em ter pais que possam lhe ensinar
os costumes locais antes que você se aventure lá fora. A maior vantagem é que
você se sente menos constrangido quando, mais tarde, quiser levar seus amigos
para a sua casa ao sair da escola.
O ambiente da vizinhança tem influência durante a infância porque as escolas de
primeiro grau tendem a ser pequenas e a atender a populações homogêneas. Uma
das razões para que os efeitos dessa influência muitas vezes desapareçam na
adolescência é que as escolas de segundo grau tendem a ser maiores. O numero
importa. Mesmo que a população atendida pela escola seja homogênea, o maior
numero de matrículas numa escola de segundo grau permite que os alunos
formem mais categorias sociais e se dividam mais diversamente. Crianças negras
ou asiáticas criadas em bairros de brancos, cujos amigos até então eram brancos,
podem encontrar um grupo de pares negros ou asiáticos com quem talvez se
identifiquem na escola de segundo grau. Garotos que tiveram problemas em
acompanhar o trabalho escolar nas séries iniciais podem se juntar e formar grupos
anti-escola – grupos, talvez, anti-sociais – no segundo grau. Uma vez formados
esses grupos, suas características iniciais, quaisquer que elas tenham sido, se
acentuam devido aos efeitos de contraste dos grupos.
Uma vez que as crianças tenham se dividido em grupos, ´pe extremamente difícil
faze-las voltar à situação inicial.
Uma das maneiras para desencorajar a divisão é tornar as crianças tão
homogêneas quanto possível. É por isso que as meninas têm melhor desempenho
em matemática e ciência em escolas só de meninas, e as faculdades
tradicionalmente negras produzem o maior numero de talentosos cientistas e
matemáticos negros do país. E é por isso que os uniforme escolares talvez
funcionem.
Uma outra maneira é criar novos grupos que se entrecruzem. Ou seja, propriciar
às crianças oportuniddes de divisões inofensivas.
Se tudo mais falha, uma maneira segura de unir pessoas é fornecer-lhes um
inimigo comum.
A função do professor não é enfatizar as diferenças culturais entre os alunos (isto
já é feito em casa pelos pais), mas ameniza-las. A duncao do professor é unir os
alunos dando-lhes uma meta comu.
366
Vou lhe pedir que vc me prometa não sair por aí dizendo a todo mundo
que eu disse que não importa a maneira como vc trata os seus filhos. Eu
não disse isso; não estou insinuando isso; e nem acredito nisso. Não é
legar sermos cruéis ou negligentes com os nossos filhos. Não é legar por
muitas razões, mas principalmente porque as crianças são seres
humanos pensantes, afetivos e sensíveis, completamente dependentes
das pessoas mais velhas próximas a eles. Podemos não ter o amanhã
deles em nossas mãos, mas sem dúvida temos o hoje deles, e temos o
poder de tornar esse hoje muito infeliz.
A proporção do efeito da hereditariedade é de certa forma maior nas condições de
peso do que nas características da personalidde: cerca de .70. Mas o importante é
que a variação no peso que não se deve aos genes – a fração que se deve ao meio
– não pode ser imputada ao meio familiar. Não há provas de que o
comportamento dos pais influencie a longo prazo o peso dos filhos e provas muito
claras de que não influencia. E, no entando, os colunistas de jornal e os pediatras
continuam a dizer aos pais, num tom que não admite duvidas, que se eles “derem
um bom exemplo” os filhos deles serão magros a vida toda.
A proporção exata – quanto se deve aos genes, e quanto às experiências – não é
importante; o importante é que a hereditariedade não pode ser ignorada.
Se digo que Amy e Beth “herdaram” essa predisposição dos pais biológicos delas,
não me compreenda mal: os pais tiologicos delas talvez não tivessem nenhum
desses sintomas. Combinações ligeiramente diferentes de genes podem produzir
resultados muito diferentes, e apenas gêmeos idênticos têm exatamente a mesma
combinação. Gêmeos fraternos podem ser surpreendentemente diferentes e o
mesmo vale para pais e filhos: uma criança pode ter características que não se
encontram em nenhum dos pais dela. Mas há uma relação estatística – uma
probabilidade maior de que uma pessoa com problemas psicológicos tenha um pai
biológico ou um filho biológico com problemas semelhantes.
As crianças que são desagradáveis em casa não são necessariamente
desagradáveis fora de casa.
A moralidade, como outras formas de comportamento social aprendido, está ligada
ao contexto em que é adquirida.
381
O meio através do qual as culturas são passadas não pode ser a família, porque se
vc tirar uma família de um bairro e colocá-la num outro lugar qualquer, o
comportamento das crianças mudará para se adequar ao dos seus pares do novo
bairro. [Isso explica a inacreditável adaptação de um índio que é retirado de sua
aldeia e colocado em nosso meio social.]
Em uma pesquisa constatou-se que “os adolescentes do sexo masculino dessa
amostra que viviam em lares de mães solteiras não diferiram de jovens que viviam
em outrs constelações familiares quanto ao uso de álcool e drogas, quanto à
delinqüência, à evasão escolar ou a distúrbios psicológicos.”
A renda mais alta de uma família que inclui um adulto do sexo masculino significa
que as crianças com os dois pais têm maior probabilidade de morar num bairro
com uma cultura de classe média, e, consequentemente, maior probabilidade de
se adaptar às normas da classe média.
Mas por que a renda familiar mais alta não ajuda as crianças criadas em famílias
com um padastro? A resposta é que essas crianças têm um outro problema:
mudanças demais. Elas foram transportadas de uma residência para a outra com
mais freqüência do que as crianças civendo em qualquer outro arranjo familiar, e a
cada vez que se mudaram elas perderam o grupo de pares delas e tiveram de
começar tudo de novo num outro lugar.
397
É claro que as crianças pequenas precisam de pais ou de pais substitutos. Acredito
que as pessoas que cuidam das crianças sejam um aspecto do ambiente, como a
luz e o padrão, que o cérebro de um bebê requer para se desenvolver
normalmente. Mas os pais ou os pais substitutos talvez não sejam necessários
para as crianças acima dos cinco ou seis anos (pense nas crianças criadas em
orfanatos). Para as crianças mais velhas, um grupo de pares estável talvez seja
mais importante. A teoria por trás dos lares de adoção é a de que crianças
precisam de famílias. Acho que eles precisam mais de um grupo de pares estável
do que de famílias. Ao tentar lhes propiciar famílias – tentar, em alguns casos,
muitas vezes – agências bem-intencionadas roubaram-lhes os pares.
As crianças maltratadas, em geral são mais agressivas do que as outras, mas isso
poderia se dever à herediatiedde: os pais que as maltratam também são
agressivos. Seus outros problemas poderiam se dever mais aos maus-tratos dos
pares do que aos maus-tratos parentais, ou ao fato de se mudarem demais. Não
sabemos exatamente.
Culpar os pais é fácil se vc nunca esteve no lugar deles. Às vezes acorrentar a
garota no radiador podia ter sido o único recurso ainda não tentado por eles. Os
pais de adolestentes razoavelmente bem-comportados não imaginam o quando a
capacidade deles de monitorar as atividades do filho depende da cooperação
voluntária dele. Não se pode monitorar um adolescente que não queira ser
monitorado. (...) Se você pára de lhes dar mesada, eles pedem dinheiro para os
amigos ou furtam. Os adolescentes que podem ser monitorados são os que
estão dispostos a ser monitorados, e esses são os que menos precisam
disso.
Os adolescentes que mais precisam de monitoramento são os que pertencem a um
gru´po de pares que seus pais não aprovam., Os pais não querem que seus filhos
sejuntem a esse grupo, o que podem fazer? Esses são os amiogos da filha e ela irá
vê-los quer os pais queiram quer não. Todos os adolescentes normais preferem
passar o tempo com os amigos a passá-lo com os pais; é por isso que os pais
impõem horários. Os horários são um reconhecimento tácito de que o adolescente
prefere estar em outro lugar do que em casa. Os pais toleram essa preferência – e
fazem piada sobre ela com seus próprios amigos – se eles não têm nenhuma
objeção aos amigos do filho. Se eles têm alguma objeção, não tem graça
nenhuma.
O que quer que os membros do grupo tenham em comum tende a se tornar
exagerado pela influencia mutua e pelos efeitos de contraste com outros grupos.
411
Duas gemes idênticas, criadas separadamente desde a infância e cresceram em
lares adotivos diferentes. Uma se tornou uma pianista concertista, talentosa o
suficiente para ter se apresentado como solista da orquestra de Minnesota. A outra
não toca uma nota sequer. Como elas têm os mesmos genes, a disparidade pode
ser atribuída a uma diferença nos meios em que as duas foram criadas. Com
certeza, uma das mães adotivas era uma professora de música que dava aulas de
piano em casa. Os pais que adotaram a outra gêmea não tinham nenhum pendor
musical. [Quase isso! Os pais adotivos que não tinham nenhum pendor musical
eram os pais da gêmea virtuose, e a mãe que era professora de piano era a da
filha adotiva que não tocava uma nota sequer!]
Foi perguntado à virtuose qual tinha sido a motivação para ela ter se dedicado
tanto ao piano. Ela respondeu: “Eu gostava de tocar e queria tocar melhor, e eu
melhorava à medida que praticava.” O virtuosismo contem em si o seu premio.
Os pais têm influencia no modo como os filhos se comportam em casa. Os pais
também fornecem o conhecimento e a instrução que os filhos poidem levar com
eles quando saem porta afora, o que pode ser útil lá fora. Uma criança que
aprendeu a falar inglês em casa não tem que aprender tudo de novo para
conversar com seus amigos – desde que, é claro, seus amigos falem inglês. O
mesmo vale para outros comportamentos, habilidades e conhecimentos. As
crianças levam para o grupo de pares muito daquilo que aprenderam em casa, e,
caso isso corresponda ao que os pares aprenderam em csas, elas provavelmente
irão conserva-lo.
413
[Outra escorregada autora. quando ela diz que “a prática de uma religião não é
algo que ocorra entre as crianças e seus pares: as criancas praticam alguma
religiao junto com os seus pais. É por isso que os pais ainda têm algum poder de
dar aos filhos uma religião.” Hora, nada disso, e é ela mesma que demonstra que
não é. A razão não são os pais mas o ambiente religioso comum dos seus pares é
que sustenta sua crença religioso.]
414
Algumas coisas que são aprendidas em casa podem ser conservadas mesmo que
sejam levadas para o grupo de pares – ainda que sejam diferentes – porque os
grupos exigem a conformidade apenas até um certo ponto. Há comportamentos
que são obrigatórios e outros que são opcionais, e saber qual é qual depende do
grupo em que se está.
O que é obrigatório também pode variar com o tempo. O patriotismo é obrigatório
para os membros de um grupo durante os tempos de guerra, mas pode ser
opcional em tempos de paz. [Não é isso. A formulação é outra. Esta variação não
se dá dentro do grupo mas do grupo. O soldado não deixa de ser patriota porque
não está na guerra, pois ser patriota é obrigatório no grupo soldado. Os civis,
serão patriotas quando eles se categoriazam como cidadãos da nação em guerra
e, nesta categorização, é impossível ser a favor do inimigo.]
As crianças aprendem a tocar piano em casa. Elas aprendem como é ser médico
ou por que é melhjor ser um democrata ou como embrulhar as palhas do milho em
volta das pamonhas. O que elas não aprendem em casa é a se comportar em
público e a conhecer que tipo de pessoa elas são. Isso elas aprendem no grupo de
pares. [Aqui eu vejo a origem da dificuldade que a maioria das pessoas têm de
falar em público.]
Na China pré-colonial, se um homem cometia um crime grave, toda a sua família –
pais e filhos, irmãos e irmãs – era executada junto com ele. Acreditava-se que a
família toda partilhava da responsabilidade.
As pequenas rivalidades entre os irmãos se evaporam como poças nas calçadas de
Tucson. Mas a trégua é temporária. Assim que os pais e os filhos voltam para o
carroe, mais uma vez, eles estão juntos e sozinhos, o sentido de grupo diminui e a
rivalidade [melhor dizendo, os espaço para a individualidade] aumenta.
Onde o sentido de grupo é fraco ou ausente, a diferenciação triunfa sobre a
assimilação. (...) Talvez seja por isso que a gêmea com a mãe professora de piano
nunca aprendeu a tocar: a família dela já tinha uma pianista. A filha teria de
competir com a mãe se ela se dedicasse ao mesmo instrumento. [Isto derruba
minha tese de que o melhor caminho para iniciar a vida adulta, é seguir o pai, se
isto for possível.]
Tiger Woods e o pai tinham ambos a mesma tenacidade que encontrei em Donald
Thornton – a mesma capacidade de se concentrar numa meta e trabalhar com
muita persistência para atingi-la.
Escolher os pares de seus filhos é o único poder que quase todos os pais têm – a
possiblidade de determinar o curso da vida do seu filho. [Fica mais difícil quanto
mais o filhos cresce mas] ao menos nos primeiros anos, eles podem determinar
quem são os pares do seu filho.
O contágio das atitudes tem seu ponto fraco: as atitudes más são tão atraentes
quanto as boas. Muitos pais temem que o filho tenha entrado numa “turma da
pesada” e que essas companhias tenham uma influencia perniciosa nele. Muitas
vezes eles estão certos, embora seja quase certo que o filho deles tanto influencie
como seja influenciado.
Segundo o psicólogo Robyn Dawes, tentar aumentar a auto-estima das pessoas é
bobagem porque essa estratégia “ignora o princípio simples de que grande parte
do nosso sentimento é o resultado, e não a causa, do que fazemos”.
Às vezes as pessoas me perguntam: “Você está querendo dizer que o jeito como
eu trato o meu filho não tem importância?” Elas nunca perguntam “Você está
querendo dizer que o jeito como eu trato o meu marido ou a minha mulher não
tem importância?” (...) Eu não espero que o jeito como trato o meu marido vá
determinar o tipo de pessoa que ele vai ser daqui a dez ou 20 anos.
[O problema é que os pais não “querem” que os filhos sejam como eles desejam.
O que os pais querem é evitar a dor: a dor da discusão, a dor da aporrinhacao, a
dor de encarar os pares, a dor da decepção de pensar que o filho não vai atingir o
status sócio-economico que ele conseguir, a dor de ver um filho preso, a dor de
ver um filho ferido, alijado ou moto... Exclua todos estes riscos e qualquer pai não
vai estar nem aí para o que o filho seja ou deseje ser.]
Se você não acha que os imperativos morais sejam motivo suficiente para você ser
bom com o seu filho, tente esse outro: seja bom com o seu filho enquanto ele é
pequeno para que ele seja bom com você quando você for velho. [O melhor seria
você ser bom com ele numa fase em que ele mais tarde vá se lembrar disso.]
Um bebê num bando de caçadores-coletores nômades nunca ficav a sozinho em
cisrcunstancias normais. Se ele se percebesse soainho, e ao começar a chorar não
conseguisse a presença da mãe, ele estava metido numa grande enrascada. Ou a
mãe dle estaria morta ou elea teria decidido não tomar mais conta dele. O grupo
já ia prosseguir e ele estava sendo deixado para trás. Ele estava liquidado se não
os persuadisse rapidamente a mudar de idéia. O único meio de persuasão que ele
tinha era o choro. E ele chorou porque estava aterrorizado e zangado, e com toda
razão.
429
Se o cérebro precisasse de leitura de poesia e de móbiles decorativos para que
suas sinapses ocorressem corretamente, nossos ancestrais teriam perambulado
pelo mundo com cérebros defeituosos.
A razão para os pais que lêem para os filhos terem filhos mais inteligentes é que
esses pais são mais inteligentes. Seus filhos são mais inteligentes porque a
inteligência é em parte herdada [???]. Se houvesse alguma razão ambiental, então
não encontraríamos uma correlação zero no Q.I. entre dois irmãos adotivos criados
pelos mesmos pais. Não há base nenhuma cientifica para a crença de que é
possível tornar as crianças mais inteligentes dando-lhes coisas interessantes para
elas verem e ouvirem.
A evolução propicia tanto os corretivos como os incentivos. (...) A natureza não dá
a mínima para a justiça. (...) A nossa obsessão atual com a justiça e a beleza é
muito recente.
Nas sociedades tradicionais, pais não são colegas. Eles não são companheiros de
vrincadeiras. A idéia de que os pais devam entreter as crianças é bizarra para as
pessoas dessas sociedades.
A idéia de que podemos fazer com que os nossos filhos se transformem em
qualquer tipo de pessoa que desejemos é uma ilusão. Desista dele. Os filhos não
são relas em branco em que os pais possam pintar o que sonham.
Não se preocupe com o que os conselheiros lhe dizem. Ame os seus filhos porque
os filhos são adoráveis, não porque você ache que eles precisem disso. Curta-os.
Ensine-lhes o que você puder. Relaxe. O tipo de adulto em que eles vão se
transformar não é um reflexo dos cuidados que você lhes propiciou. Você não
pode nem aperfeiçoa-los nem estragá-los. Eles não são seus, para você
aperfeiçoar ou estragar: eles pertencem ao amanhã.
439
As crianças não são assim tão frágeis. Elas são mais duras do que você pensa. Elas
têm que ser, porque o mundo lá fora não as trata com luvas de pelica. Em casa
pode ser que elas ouçam “O que você fez me deixou muito triste”, mas lá no
recreio vai ser: “Seu babaca!”
As pessoas pensam que os pais têm grandes efeitos nos filhos, efeitos duradouros.
Ms se eles realmente têm efeitos, deve ser um efeito diferente para cada filho,
porque crianças criadas pelos mesmos pais não resultam em adultos iguais, do
momento em que se afastam as semelhanças devidas aos genes partilhados. Duas
crianças adotadas, criadas na mesma casa, não têm mais semelhanças na
personalidade do que duas crianças adotadas criadas em lares separados. Um par
de gêmeos idênticos criados no mesmo lar não é mais parecido do que um par
criado em lares separados.
O problema é que todos [nós] os sujeitos vêm de lares “suficientemente bons”
dentro da serie normal. Alguns teóricos estão agora inclinados a admitir em
público que não importa em que lar uma criança cresça, desde que seja dentro da
série de lares normais, suficientemente bons. Mas eles ainda acham que seja
possível que lares fora da série normal – ou seja, lares excepcionalmente maus –
tenham efeitos na criança. [Evidentemente acreditam também no outro lado da
questão.]
Deixarei que os proponentes da hipótese da criação se agarrem à ultima e frágil
esperança deles, a de que a hipótese deles se confirme para a pequena proporção
de famílias clasificadas como muito más. Ela não se confirma para a grande
maioria das famílias. Ela não se confirma para famílias como a sua e a minha.
Naso há nenhuma justificativa para usa-la como arma contra os pais comuns cujos
filhos não estão resultando extamtente no tipo de pessoa que eles esperavam que
eles se tornassem.
O primeiro erro sobre as crianças tem a ver com o ambiente da criança. (...) Na
grande maioria das culturas até recentemente, os homens que tinham condições
podiam ter esposas extras. A poliginia é antiga e muito difundida na nossa espécie.
Muitas vezes as crianças são solicitadas a partilhar o pai com os filhos das oturas
esposas do pai.
O segundo erro tem a ver com a natureza da socialização. (...) A socialização não
é uma ação dos adultos sobre as crianças – lea é uma acao das crianças sobre si
mesmas.
O terceiro erro tem a ver com a natureza da aprendizagem. (...) As crianças se
comportam de forma diferente em ambientes diferentes porque tiveram
experiências diferentes – num lugar elas são elogiadas, num outro, ridicularizdas –
e porque se exigbem comportamentos diferentes. Também se presumia que se as
crianças se comportassem de um jeito em casa e de um j eito diferente no pátio
da escola, o comportamento que importava mais era o comportamento de casa
O quarto erro tem a ver com a natureza da natureza – a natureza da
hereditariedade. O poder dos genes ainda não recebeu o que lhe é devido, embora
todo mundo ouça historias sobre gêmeos idênticos separados que se encontram
quando adultos e descobrem que estão ambos usando camisas azuis com dois
bolsos e dragonas nos ombors.
O quinto erro é ignorar a nossa historia evolutiva e o fato de que, por milhões de
anos, nossos ancestrais viveram em grupos. Foi o grupo que permitiu a essas
criaturas delicadas, desprovidas de presas ou garras, sobreviver num ambiente
que tinha presas e garras.
A socialização é o processo de adaptar o comportamento de uma pessoa ao dos
outros membros da categoria social dessa pessoa.
Aprendemos a disfarçar a nossa diferença; a socialização nos faz menos estranhos.
Mas o disfarce tende a se desgastar mais tarde na vida. Vejo a socialilzacao como
uma espécie de ampulehta: você começa com um punhado de indivíduos dispares,
que, à medida que se juntam, devido à pressão do grupo, vão ficando mais
parecidos. Depois, na idade adulta, a pressão afrouxa gradualmente e as
diferenças indivíduos se reafirmam. As pessoas se tornam mais peculiares à
medida que envelhecem porque elas param de se preocupar em disfarçar as
diferenças. As penas por se ser diferente não são tão severa.
Embora os estilos de pais na educação dos filhos difiram drasticamente de uma
cultura para outra – em alguns lugares, pais muito duroes, em outros muito moles
-, os grupos de crianças são bastante parecidos no mundo todo.
A obra A Origem das Espécies, de Darwin, mudou as opiniões de muitas pessoas,
mas não é provável que tenha mudado a personalidade delas.
474
Há um par de gêmeas inseparáveis que mora no meio-oeste dos Estados Unidos:
são duas meninas felizes, bonits, que compartilham um único corpo. Abigail
controla o braço e a perna direita, Brittany, o braço e a perna esquerda. Seus
cérebros separados foram constuidos conforme inst5rucoes idênticas codificadas
numa estrutura de DNA idêntica. Seus ambientes também são idênticos – elas vão
a toda parte juntas, não têm outra opção. E, no entanto, as personalidades delas
não são idênticas. Uma das gêmeas é dominante. A atitude dela com a irmã é
maternal, protetora. A outra parece menos segura de sei, mais moça. Talvez essas
diferenças tenham origem no fato de que uma é mais saudável do que a outra
(que tem propensão a ter infecções pulmonares e de ouvido). Seja como for que a
assimetria na relação delas tenha começado, ela se tornou um padrão de interação
que se autoperpetua.
PESQUISAS
Estudos recentes demonstram que a resposta para a pergunta “Os bebês sofrem
prejuízos a longo prazo pela falta de cuidado materno em seus primeiros anos?” é
NÃO.
Os pesquisadores aplicaram nos adolescentes um questionário que perguntava
sobre os métodos de educação dos pais e também pediram aos pais destes
adolescentes que preenchessem o mesmo questionário. A correlação entre os
registros dos pais e os registros dos jovens foi de apenas, 0,07 – em outras
palavras, não houve nenhuma concordância. E, no entanto, os pesquisadores da
socialização aceitam sem discussão as descrições dos jovens (e as descrições dos
pais) a respeito do que acontece em suas casas e usam dados desse tipo para
sustentar suas teorias.
276
Em 1930, Hugh Hartshorne e Mark May empreenderam uma pesquisa sobre o que
eles chamaram de “caráter”. Os pesquisadores propuseram às crianças diversas
situações em que as tentações eram mentir, roubar ou trapacear. Eles descobriram
que as crianças que se comportaram virtuosamente numa situação não
necessariamente se comportariam da mesma maneira numa outra. Descobriram,
especificamente, que um garoto que resistiu à tentação de desobedecer às normas
de casa, mesmo quando não havia ninguém espiando, tinha tanta probabilidade
quanto qualquer outro de colar numa prova da escola ou trapacear num jogo do
pátio. Os resultados sugerem que o que as crianças aprendem dos pais
sobre padrões morais não ultrapassa a porta da casa delas. Eles
concluíram que “a unidade normal para a educação do caráter é o grupo ou a
pequena comunidade.”
Em uma pesquisa para demonstrar a falha dos pesquisadores, foi mostrado a
alguns professores um vídeo de um menino de 8 anos e lhes disseram que os pais
do menino eram divorciados. Esses professores julgaram-no menos ajustado de
como julgaram o grupo de professores que viram o mesmo vídeo, mas para os
quais foi dito que ele vinha de um lar completo.
[Uma outra abordagem.] É fácil confundir diferenças culturais com as
“conseqüências” que os pesquisadores estão procurando. Os garotos brancos de
classe média recebem menos surras e também tendem a ser menos agressivos,
por isso se uma pesquisa reúne garotos de bairros brancos de classe media com
garotos de bairros negros de baixa renda, os pesquisadores podem estar quase
certos de encontrar uma correlação entre surras e agressividade. As esperanças
deles, entretanto, ficarão frustradas se eles incluírem muitos americanos de origem
asiática entre os participantes porque eeses pais realmente usam castigos físicos
mas não têm filhos agressivos.
As correlações são resultado de, ou são influenciadas por, algo que os estatísticos
chama de “variância metodológica compartilhada”. As pessoas têm respostas
tendenciosas que influenciam as respostas delas a todas as perguntas que lhes são
feitas: sim, meus pais são bons para mim; sim, estou me saindo bem. Uma pessoa
que se preocupa em apresentar ao mujndo um rosto socialmente aceitável marca
respostas socialmente aceitáveis: sim, meus são bons para mim; não, não me meti
em brigas enm fumei nada ilega. Uma pessoa que está com raiva ou deprimida
marca respostas raivosas ou deprimidas: meus pais são uns babacas e eu fracassei
no teste de álgebra e esse questionário que se dane.
Dos erros cometidos pelos pesquisadores que estudam os métodos de educação
adotados pelos pais, o mais sério é acreditar que a maneira de educar seja uma
característica sod pais. É uma característica da relação entre um dos pai e o filho.
As duas partes contribuem para ela.
606?
Teorias que não se baseiam em métodos ou resultados científicos são difíceis de
serem derrubadas com argumentos científicos.
478
Para testar as teorias do desenvolvimento infantil, é necessário separar três
possíveis influencias sobre o comportamento e a personalidade das crianças: os
genes, as experiências delas em casa e as experiências delas fora de casa.
Resumirei aqui, por que razão acredito que as evidencias existentes não provam o
que, a primeira vista, elas parecem provar.
1. Muito poucas pesquisas fornecem um meio para se distinguir influencias
genéticas de influencias ambientais.
2. Quase nenhuma pesquisa fornece um meio para se distingui efeitos do filho
nos pais dos efeitos dos pais no filho.
3. Os pesquisadores não distingujiram entre o comportamento da criança em
casa e o comportamento da criança fora de casa: eles simplesmente
presumiram que medir um dos fatores nos informa algo sobre o outro. Em
alguns casos, eles nem se preocuparam em mencionar onde as medidas
foram tomada.
4. Os pesquisadores não levaram em conta circunstancias que poderiam
influenciar as experiências fora de casa. por exemplo, só estudar os efeitos
do divórcio, eles não levaram em conta os efeitos de uma mudança para
uma nova residência. Meu colega David G. Myers observou que a
necessidade de uma mudança de casa pode ser legitimamente considerada
uma das conseqüências do divórcio, e ele está certo.
5. Fatores demogr´paficos não foram controlados de forma adequada. Quando
se misturam crianças de grupos étnicos, classes sociais ou bairros diferentes
na mesma pesquisa, é provável que se encontrem correlações enganosas
entre pais e filhos. As correlações refletem o fato de que pais e filhos
pertencem ao mesmo grupo étnico e à mesma classe social e moram no
mesmo bairro. As crianças têm uma maior semelhança com os próprios pais
(e com os pais dos pares delas) do que com os pais de outros grupos
étnicos, outras clases sociais ou outros bairros.
6. Cometeram-se muitos erros metodológicos. Por exemplo, em muitas
pesquisas pediu-se que os mesmos informantes dessem informações sobre:
(a) os métodos de educação de filhos dos pais deles e (b) o próprio
comportamento ou condição psicológica deles, ou (a) os métodos de
educação de filhos deles próprios e (b) o comportamento dos filhos deles.
As correlações encontradas entre (a) e (b) são tomadas como prova de a
(a) causa (b).
7. Em geral, a pesquisa não foi realizada com a imparcialidade necessária
exigida em outras disciplinas cientificas. A coleta de dados não foi do tipo
“duplo-cego”. Mediram-se muitas variáveis e depois examinaram-se os
dados em busca de correlações significativas em qualquer sub=grupo de
variáveis. As pesquisas que não produziram os resultados desejados não
foram publicadas. As pesqusisas que não produziram nenhum resultado
foram excessivamente enterpretadas.
GLOSSÁRIO:
Pesquisa da socialização: é o estudo cientifico da influencia do meio no
desenvolvimento psicológico das crianças.
Efeito genético indireto – os efeitos dos efeitos dos genes. A timidez de uma
criança (efeito genético direto) faz com que sua mãe reafirme a confiança que tem
nela, com que a irmã zombe dela e com que seus parceiros lhe caiam na pele.
Gêmeos idênticos levam vidas semelhantes por causa dos efeitos genéticos
indiretos.
Especiação – ocorre quando alguma pequena subpopulacao de uma espécie se
divide e pára de cruzar com a espécie-mae, em geral devido ao isolamento
geográfico.
Díade – termo técnico para um “grupo” de duas pessoas. Tríade, para três.
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