1 Protocolo de enfermagem para as alterações psicossociais e

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PROTOCOLO DE ENFERMAGEM PARA AS ALTERAÇÕES
PSICOSSOCIAIS E ESPIRITUAIS DA PESSOA COM COLOSTOMIA*
Elaine Soares da Silva1, Denise Silveira de Castro2, Walckiria Garcia Romero3, Telma Ribeiro Garcia4, Cândida
Caniçali Primo5
1
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Enfermeira da Secretaria de Saúde do Espírito Santo. Vitória-ES-Brasil.
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do
Espírito Santo. Vitória-ES-Brasil.
3
Enfermeira. Doutora em Fisiologia. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do
Espírito Santo. Vitória-ES-Brasil.
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública e
Psiquiatria da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa-PB, Brasil.
5Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Espírito Santo. Vitória-ES-Brasil .
2
RESUMO: Pesquisa exploratório-descritiva, realizada em 2013, com objetivo de elaborar um
protocolo de assistência de enfermagem contendo os diagnósticos/resultados e intervenções
de enfermagem, relacionados às necessidades psicossociais e psicoespirituais da pessoa com
colostomia. Elaborou-se 47 diagnósticos/resultados e 57 intervenções de enfermagem
utilizando a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem, organizados segundo o
referencial teórico de Wanda de Aguiar Horta. Concluiu-se que a pessoa com colostomia se
apresenta fragilizada e demanda cuidados de enfermagem específicos, individualizados,
devido a aflições, medos e mudanças em seu estilo de vida. Esta classificação de enfermagem
é de fácil utilização e a sua associação com as necessidades humanas básicas permitiu
perceber a pessoa com colostomia de maneira integral, para além das técnicas e
procedimentos de enfermagem.
* Artigo extraído da dissertação intitulada: Diagnósticos e intervenções de enfermagem para a pessoa com
colostomia: uma tecnologia do cuidado. Universidade Federal do Espírito Santo, 2013.
Autor Correspondente:
Cândida Caniçali Primo
Universidade Federal do Espírito Santo - Departamento de Enfermagem
Av. Marechal Campos, 1468, Maruípe, Vitória, ES, Brasil. CEP: 29040-090.
E-mail: [email protected]
Recebido: 16/01/2015
Finalizado:19/06/2015
2
DESCRITORES: Colostomia; Processos de enfermagem; Classificação; Terminologia;
Teoria de Enfermagem.
INTRODUÇÃO
As colostomias constituem parte de abordagens terapêuticas de trauma abdominal com
lesão intestinal decorrente de acidentes por causas externas e também de doenças do intestino
ou do ânus, como o câncer colorretal(1). São realizadas por meio de um procedimento
cirúrgico, no qual ocorre exteriorização do cólon na parede abdominal (estoma), fornecendo
assim um novo trajeto para eliminação do conteúdo intestinal(2).
Após uma cirurgia que resulta em colostomia, o paciente, ao se recuperar, defronta-se
com modificações fisiológicas, psicossociais, psicoespirituais e com necessidades de
adaptação para a convivência com o problema. Precisa iniciar uma nova fase da vida,
incorporando em sua rotina diária o autocuidado, a manutenção de suas atividades sociais e
interpessoais, os cuidados pós-operatórios, bem como compreender a própria doença, as
alterações da imagem corporal, os sentimentos de luto, de perda, com reações e
comportamentos diferentes dos que apresentava antes do estoma(3).
Estão presentes na vida da pessoa com colostomia sentimentos como depressão;
solidão; pensamentos suicidas; sentimentos de estigma; perda da autoestima e alteração da
autoimagem; insegurança e medo do desconhecido(4-5).
É comum o paciente desenvolver um sentimento de autorrejeição, o que faz aumentar
a sua insegurança. Esse período torna-se mais difícil e dolorido com a rejeição social
encontrada no seio da própria família, de quem deveria receber apoio e acolhimento para que
a aceitação de sua condição fosse menos traumática(6). As alterações das necessidades
psicossociais e psicoespirituais exigem que lhe sejam dispensados cuidados específicos para
atender às suas demandas e colaborar na superação dessa nova condição de vida.
3
O relacionamento social fica muito difícil, não sentem vontade de sair de casa, limitam
as atividades sociais por medo de “acidentes com a bolsa de colostomia”, como o odor, a
eliminação de gases ou o rompimento da bolsa(7). As pessoas colostomizadas apontam o
impacto que essa condição gera no seu estilo de vida e no de sua família, prejudicando os
momentos de lazer. O lazer proporciona bem-estar físico e mental, é fonte de prazer e é
importante para a constituição e manutenção das relações sociais, enquanto a falta de lazer
altera a qualidade de vida(6).
Vale ressaltar a importância do Processo de Enfermagem, uma vez que acrescenta
qualidade ao cuidado prestado. Por meio do processo, o cuidado é focalizado na resposta do
cliente, na forma como reage aos problemas de saúde, ao tratamento e às mudanças na vida
diária, assegurando que as intervenções sejam elaboradas para o cliente, e não apenas para a
doença(8-9).
Para a realização de algumas das etapas do Processo de Enfermagem, como o
diagnóstico, o resultado e a intervenção, são necessários o uso de sistemas de classificação.
Neste estudo, optamos pela Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
(CIPE®), por ser considerada como um sistema de linguagem unificada em enfermagem e ter
sido reconhecida, desde 2008, como membro da família de classificações da Organização
Mundial de Saúde(9-10).
Tendo em vista essas questões e com o intuito de ajudar o colostomizado a enfrentar
as dificuldades nesse período de adaptação, de modo a alcançar um bem-estar físico e
psicológico, este estudo teve como objetivo elaborar um protocolo de assistência de
enfermagem, contendo diagnósticos / resultados e intervenções de enfermagem, relacionados
às necessidades psicossociais e psicoespirituais da pessoa com colostomia.
MÉTODO
4
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, que consistiu em três etapas, sendo a
primeira etapa a revisão da literatura sobre cuidados de enfermagem e colostomia por meio de
livros-texto da área de enfermagem, assistência cirúrgica e artigos científicos extraídos das
bases: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) com os descritores: “cuidados
de enfermagem”, “diagnóstico de enfermagem”, “classificação”, “colostomia”, nos idiomas
português, inglês e espanhol, publicados no período de 2000 a 2013. Foram excluídos dessa
revisão trabalhos apresentados em congressos. Para direcionar a pesquisa, utilizou-se a
questão norteadora: Quais os fenômenos e ações de enfermagem relacionadas à pessoa com
colostomia? Entende-se por esses fenômenos e ações os aspectos de saúde relevantes para a
enfermagem e os cuidados que os enfermeiros executam no que diz respeito às necessidades
humanas, para alcançar determinados resultados.
Foram encontrados 182 artigos no LILACS e 252 no MEDLINE. Desse total de 434
artigos, 47 foram selecionados e utilizados para consulta, visto que alguns eram repetidos e
outros não respondiam à questão norteadora deste estudo.
A segunda etapa consistiu do mapeamento dos termos identificados na revisão de
literatura com os termos do Modelo de Sete Eixos da CIPE®(11). A terceira etapa foi a
elaboração do protocolo de enfermagem contendo os diagnósticos / resultados e intervenções
de enfermagem relacionados à assistência à pessoa com colostomia, organizados a partir das
necessidades humanas básicas alteradas(12). Para a construção dos diagnósticos / resultados de
enfermagem deve-se incluir, obrigatoriamente, um termo do eixo Foco e um termo do eixo
Julgamento e termos adicionais dos outros eixos, conforme a necessidade; para elaborar as
intervenções de enfermagem recomenda-se incluir um termo do eixo Ação e um do eixo
Alvo, sendo que esses termos podem pertencer a qualquer um dos eixos, exceto ao do
Julgamento(10).
5
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo, sob número 09167813.1.0000.5060, em 22
de fevereiro de 2013.
RESULTADOS
Considerando as necessidades humanas básicas psicossociais e espirituais alteradas,
específicas para o paciente com colostomia, foram elaborados 47 diagnósticos / resultados de
enfermagem e 57 intervenções de enfermagem, utilizando a CIPE® que estão apresentados no
Quadro 1. Para isso, foram utilizados 14 termos do eixo “Foco”, 09 termos do eixo
“Julgamento” e 01 termo do eixo “Localização”. Elencaram-se os termos do eixo “Foco”:
socialização, divertir-se, ansiedade, insegurança, medo, aceitação do estado de saúde,
autoimagem negativa, autoestima baixa, vergonha, conhecimento, regime de cuidados com o
estoma, autocuidado, recursos materiais terapêuticos e angustia espiritual. Os termos do eixo
“Julgamento” utilizados foram: risco, diminuído, eficaz/adequado, prejudicado, melhorado,
baixo/falta/insuficiente/déficit, positivo, negativo, disposição. O termo do eixo “Localização”
utilizado foi: colostomia.
Quadro 1 - Protocolo de assistência de enfermagem para as necessidades psicossociais e
psicoespirituais da pessoa com colostomia. Vitória, ES, Brasil, 2014
INTRODUÇÃO
Pacientes estomizados apresentam insegurança e vergonha devido aos odores e gases da
colostomia; o cuidado com a bolsa coletora interfere no relacionamento social; referem
rejeição quanto à imagem corporal e falta de orientação sobre a cirurgia e os cuidados a serem
realizados diariamente com a colostomia(7,13-14).
OBJETIVO
Padronizar as condutas clínicas de enfermagem para as alterações psicossociais e espirituais
da pessoa com colostomia.
ATIVIDADES ESSENCIAIS
Realizar o Processo de Enfermagem e registrá-lo utilizando a classificação CIPE® por meio
de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para as necessidades psicossociais
6
e psicoespirituais.
DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS/INTERVENÇÕES
Necessidade gregária
Necessidade de recreação e lazer
Necessidade de amor e aceitação
Necessidade de segurança emocional
Necessidade de educação para a saúde e aprendizagem
Necessidade de autoestima, autoconfiança e autorrespeito
Necessidade de autorrealização
Necessidade de garantia de acesso à tecnologia
Necessidade de religiosidade e espiritualidade
Quadro 2 – Diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para as necessidades
gregária; recreação e lazer; amor e aceitação da pessoa com colostomia. Vitória, ES, Brasil,
2014
DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS
INTERVENÇÕES
Necessidade gregária
 Socialização diminuída;
 Encorajar participação em atividades
sociais;
 Risco de socialização diminuída;
 Encorajar participação em grupos de
 Socialização adequada.
apoio, como a Associação Brasileira de
Ostomizados;
 Orientar quanto à importância do convívio
social;
 Encorajar a realização de autoirrigação
intestinal;
 Encorajar o retorno às atividades de rotina;
 Encorajar o retorno ao convívio social.
Necessidade de recreação e lazer
 Lazer diminuído;
 Orientar quanto à importância do lazer;
 Risco de lazer diminuído;
 Orientar quanto à importância do convívio
social;
 Divertir-se adequado.
 Identificar as preferências de recreação do
paciente;
 Estimular a recreação e o lazer;
 Encorajar a recreação de acordo com as
limitações do ostomizado;
 Estimular a recreação com a família;
 Estimular a recreação com grupos de
ostomizados.
Necessidade de amor e aceitação
 Aceitação do estado de saúde;
 Encorajar participação em atividades
sociais;
 Risco de aceitação do estado de
saúde diminuída;
 Encorajar participação em grupos de
apoio, como a Associação Brasileira de
 Aceitação do estado de saúde
Ostomizados;
diminuída;
 Avaliar a aceitação do paciente quanto à
 Aceitação do estado de saúde
7
melhorada.
colostomia;
 Avaliar a aceitação da família quanto à
colostomia.
Quadro 3 – Diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para as necessidades de
segurança emocional; educação para a saúde e aprendizagem da pessoa com colostomia.
Vitória, ES, Brasil, 2014
DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS
INTERVENÇÕES
Necessidade de segurança emocional
 Ansiedade;
 Identificar
situações
que
causam
ansiedade;
 Risco de ansiedade;
 Identificar situações que causam medo;
 Ansiedade melhorada;
 Identificar
situações
que
causam
 Insegurança;
insegurança;
 Risco de insegurança;
 Encorajar o paciente a controlar a
 Insegurança melhorada;
ansiedade;
 Medo;
 Encorajar o paciente a falar sobre seu
 Risco de medo;
medo;
 Medo melhorado.
 Estimular o enfrentamento;
 Oferecer apoio psicológico;
 Responder as dúvidas;
 Avaliar atitudes em relação à colostomia;
 Avaliar enfrentamento em relação à
colostomia;
 Encorajar participação em grupos de
apoio, como a Associação Brasileira de
Ostomizados.
Necessidade de educação para a saúde e aprendizagem
 Conhecimento insuficiente sobre
 Encorajar participação em grupos de
colostomia;
apoio, como a Associação Brasileira de
Ostomizados;
 Risco de conhecimento
insuficiente sobre colostomia;
 Responder as dúvidas relacionadas aos
cuidados com o estoma;
 Falta de conhecimento sobre
colostomia;
 Orientar o autocuidado com a colostomia;
 Risco de falta de conhecimento
 Monitorar o autocuidado com a
sobre colostomia;
colostomia;
 Conhecimento adequado sobre
 Encaminhar ao Programa de Ostomizados;
colostomia;
 Orientar os cuidados com a pele ao redor
 Regime de cuidados prejudicado
da colostomia;
com o estoma;
 Orientar a autoirrigação da colostomia;
 Risco de regime de cuidados
 Monitorar a autoirrigação da colostomia.
prejudicado com o estoma;
 Regime de cuidados eficaz com o
estoma.
8
Quadro 4 – Diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para as necessidades de
autoestima, autoconfiança e autorrespeito; autorrealização; e garantia de acesso à tecnologia
da pessoa com colostomia. Vitória, ES, Brasil, 2014
DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS
INTERVENÇÕES
Necessidade de autoestima, autoconfiança e autorrespeito
 Autoimagem negativa;
 Estimular o paciente a identificar atributos
pessoais positivos;
 Risco de autoimagem negativa;
 Encorajar pensamentos positivos;
 Autoimagem positiva;
 Encorajar o paciente a se arrumar;
 Baixa autoestima;
 Estimular a recreação com a família;
 Risco de baixa autoestima;
 Estimular a recreação com grupos de
 Autoestima positiva;
ostomizados;
 Vergonha da colostomia;
 Orientar quanto à importância do convívio
 Risco de vergonha da colostomia;
social.
 Vergonha melhorada da
colostomia;
 Vergonha ausente da colostomia.
Necessidade de autorrealização
 Déficit de autocuidado com a
 Estimular o autocuidado com a
colostomia;
colostomia;
 Risco de déficit de autocuidado
 Identificar adaptações necessárias para o
com a colostomia;
autocuidado;
 Autocuidado eficaz com a
 Encorajar participação em grupos de
colostomia,
apoio, como a Associação Brasileira de
Ostomizados;
 Disposição para o autocuidado
eficaz com a colostomia.
 Responder as dúvidas relacionadas aos
cuidados com o estoma;
 Orientar o autocuidado com a colostomia;
 Monitorar o autocuidado com a
colostomia;
 Encaminhar ao Programa de Ostomizados;
 Orientar os cuidados com a pele ao redor
da colostomia.
Necessidade de garantia de acesso à tecnologia
 Recursos materiais terapêuticos
 Reforçar a importância da participação na
inadequados (bolsa de colostomia,
Associação de Ostomizados;
protetores de pele, outros);
 Orientar quanto ao direito de ganhar a
bolsa de colostomia;
 Recursos materiais terapêuticos
adequados (bolsa de colostomia,
 Orientar quanto aos tipos de bolsa de
protetores de pele, outros).
colostomia.
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Quadro 5 – Diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para as necessidades
psicoespirituais da pessoa com colostomia. Vitória, ES, Brasil, 2014
DIAGNÓSTICOS/RESULTADOS
INTERVENÇÕES
Necessidade de religiosidade e espiritualidade
 Angústia espiritual;
 Apoiar práticas espirituais da pessoa e da
família;
 Risco de angústia espiritual;
 Encaminhar ao líder espiritual para
 Angústia espiritual diminuída;
atendimento à pessoa e à família;
 Angústia espiritual melhorada.
 Proporcionar ambiente que favoreça a
expressão de religiosidade e espiritualidade;
 Promover o bem-estar do paciente.
DISCUSSÃO
A ocorrência de uma colostomia implica um sistema complexo de mudanças no
cotidiano da pessoa. É uma fase crítica que necessita de análise e reflexões, tendo em vista as
experiências construídas pela pessoa ao longo de sua vida(8).
Um paciente com colostomia vivencia sentimentos diversos, como medo, sofrimento,
dor emocional, ansiedade. Portanto, necessita de um cuidado sensível que o torne forte e
capaz de enfrentar desafios e limitações(15). Para superar os sentimentos de perda, negação,
revolta, desesperança que o acometem, é fundamental o apoio e o estímulo de pessoas
significativas bem como a ajuda do enfermeiro, cujo papel é importante em todo o processo
até sua reinserção social(13,16).
Além de ter que aprender os cuidados com a colostomia, o colostomizado necessita
também de orientações quanto à provisão dos dispositivos ou sistemas coletores, que são
compostos por placas e bolsas; adequações de vestuário para que não apertem a bolsa,
evitando que se desloque; adaptações alimentares para minimizar gases e odores intestinais
durante as interações sociais(14).
A perda de controle da eliminação de fezes e gases pode levar o paciente ao
isolamento psicossocial, à baixa autoestima, a sentimentos de incapacidade na gestão da nova
10
condição em que se encontra. O fato de necessitar de condições especiais para troca dos
dispositivos acaba por restringir o convívio social e até mesmo viagens. Portanto, uma rede de
apoio de familiares, amigos, grupos sociais, grupos de autoajuda são importantes para
melhorar a aceitação e adaptação do colostomizado(16).
Uma higiene eficaz e cuidados adequados com a bolsa minimizam os odores e o risco
de acidentes, melhorando a autoconfiança, além de diminuir a ansiedade e os medos do
colostomizado facilitando assim sua socialização(17). A realização da autoirrigação da
colostomia provoca um efeito positivo sobre a qualidade de vida do colostomizado, devido ao
controle que a maioria das pessoas consegue obter na eliminação de fezes e gases pelo
estoma, o que lhes proporciona segurança e conforto nas relações sociais(18).
A participação em programas de estomizados e em grupos de autoajuda colabora de
maneira positiva, diminuindo o sentimento de solidão, visto que proporciona a troca de
experiências e a percepção de sentir-se semelhante a outros com os mesmos problemas. Isso
fortalece sua autoconfiança e tem grande valor terapêutico(19).
É importante enfatizar também a contribuição do lazer como fonte não só de prazer,
mas também de manutenção das relações sociais, para o bem-estar físico e psíquico do
paciente com colostomia, pois tudo o que prejudica o lazer altera a qualidade de vida do ser
humano(6).
A família e os amigos formam uma rede de cumplicidade e de apoio imprescindível
para que o colostomizado supere os problemas e encontre as soluções adequadas para essa
nova etapa de sua vida(20). Os efeitos positivos causados pela religiosidade/espiritualidade
traduzem-se em mais força para a superação dessa fase da vida, causando bem-estar e
satisfação(16,19).
11
Todas essas transformações ocorridas na vida da pessoa com colostomia necessitam de
tempo para que ela aceite a sua nova imagem corporal e aprenda a se autocuidar. Para tanto, a
educação em saúde é primordial e indispensável(4).
O enfermeiro tem um papel social importante e influencia na forma como essa pessoa
com colostomia vai encarar as mudanças necessárias para sua adaptação. Portanto, reforça-se
a necessidade de utilização do Processo de Enfermagem, visto que amplia a atuação desse
profissional, estimulando seu raciocínio crítico e sua autonomia ao dispensar cuidados e
orientações de forma a atender a individualidade do ser humano(21).
O Processo de Enfermagem sistematiza a prática profissional do enfermeiro,
direcionando seu modo de pensar e sua tomada de decisões, favorecendo e organizando o
cuidado prestado com o intuito de alcançar os resultados necessários para atender as
necessidades alteradas(8-9). Os enfermeiros consideram a sistematização da assistência muito
importante, referindo que melhora a qualidade da assistência, promove autonomia e permite a
unificação da linguagem, mesmo que a maioria dos enfermeiros (70%) não utilizem os
diagnósticos em sua prática profissional(22).
Estudos apontam que a CIPE®, uma linguagem padronizada, facilita a comunicação
entre os enfermeiros e os profissionais de saúde, aperfeiçoa os cuidados prestados, padroniza
a documentação e o planejamento do cuidado prestado por meio das intervenções de
enfermagem(9-10,23).
CONCLUSÃO
A pessoa com colostomia apresenta-se fragilizada, podendo apresentar alterações de
ordem psicológica, emocional e social. Portanto, necessita de acolhimento e apoio para
superar essa fase de adaptação. A reinserção social constitui um desafio para o enfermeiro que
precisa encorajar o colostomizado e sua família a aceitar e conviver com o estoma.
12
Foram elaborados 47 diagnósticos e 57 intervenções de enfermagem para a pessoa
com colostomia relacionados às necessidades psicossociais e espirituais. Destaca-se, dentre as
intervenções elaboradas, a importância do incentivo ao paciente na participação dos grupos de
autoajuda e na Associação Brasileira de Ostomizados. É importante enfatizar o autocuidado,
estimulando a participação e o envolvimento efetivo do colostomizado, de modo a contribuir
para a sua reabilitação e para a superação das dificuldades encontradas.
Estudos como este podem contribuir para o planejamento adequado do cuidado que
deve ser prestado a esse paciente, uma vez que o enfermeiro desempenha papel importante na
orientação e assistência a ele e à sua família. Também reforça a importância da utilização de
uma linguagem padronizada na elaboração de diagnósticos e intervenções, o que pode ser
conseguido com o uso da CIPE®.
No decorrer desse estudo percebeu-se que a CIPE® é de fácil utilização, pois seus
termos são relacionados com a prática clínica. A identificação das necessidades humanas
básicas alteradas e o desenvolvimento de um raciocínio clínico para organizar os diagnósticos
de enfermagem possibilitou uma percepção mais ampla do cliente. A associação das
necessidades humanas básicas aos diagnósticos / resultados e intervenções de enfermagem da
CIPE® permitiu perceber a pessoa com colostomia de maneira integral para além das técnicas
e procedimentos de enfermagem.
Esta pesquisa possibilitou a elaboração de um protocolo de assistência de enfermagem
para a pessoa com colostomia, e contribuiu para a produção de novas tecnologias na área da
enfermagem, pois a CIPE® é um instrumental tecnológico que visa padronizar a linguagem
de enfermagem para uso nos sistemas de informação em saúde e documentação eletrônica.
Espera-se incentivar os enfermeiros a realizar o Processo de Enfermagem em todas as
etapas e a utilizar a CIPE® para sistematizar a assistência prestada, contribuindo para a
melhoria da qualidade do cuidado prestado por esse profissional.
13
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