A pesquisa agrícola e os benefícios do consumidor

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Barros, José Roberto Mendonça, Rizzieri, Juarez e Barros, Alexandre Mendonça de. “A
pesquisa agrícola e os benefícios do consumidor”. São Paulo: Valor Econômico, 24 de janeiro de
2002. Jel: D, Q
A pesquisa agrícola e os benefícios do consumidor
José Roberto Mendonça de Barros, Juarez Rizzieri e Alexandre Mendonça de Barros
A pesquisa agrícola afeta o consumidor por três caminhos: provocando queda de preços reais de
alimentos, reduzindo crises de abastecimento, o que estabiliza preços e, finalmente, melhorando a
qualidade dos alimentos ingeridos.
Na verdade, a pesquisa também afeta o consumidor de forma indireta, uma vez que o preço e a
qualidade das fibras naturais e outras matérias primas para a indústria não alimentícia também
devem ser considerados. Não obstante, aqui nos concentramos em alimentos porque nas classes de
renda mais baixas a alimentação é, de longe, o item mais importante do orçamento familiar.
Neste artigo apresentamos resultados referentes aos preços de alimentos. Sua queda, se verificada,
pode ser atribuída a três elementos principais: em primeiro lugar como resultado do crescimento
persistente da produtividade. Este eleva a produção e, através da concorrência, caem os preços na
ponta final. Este mecanismo clássico de transferência dos ganhos de produtividade para o
consumidor é bastante conhecido em economia agrícola. Por outro lado, os preços podem se reduzir
ao longo do tempo por reduções na margem que separa os preços na lavoura e ao consumidor, que
são chamados de margem de processamento e comercialização. Finalmente, a queda nos preços
pode decorrer de eventuais reduções na carga tributária.
Estudos anteriores sugerem, em geral, que as margens de comercialização não se alteram de forma
generalizada ao longo do tempo, o que também apareceu em nossa pesquisa. Ao mesmo tempo não
existem evidências convincentes de reduções importantes na carga tributaria incidente em
alimentos; em muitos casos ocorreu o oposto. Como conseqüência, variações persistentes nos
preços de alimentos podem ser atribuídas, essencialmente, à produtividade e ao progresso
tecnológico.
Entretanto, antes de discutir causas é preciso verificar o comportamento dos preços no varejo.
Trabalhamos com os dados mensais do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe para a cidade de
São Paulo, para o período que vai de janeiro de 1975 a dezembro de 2000. O índice da Fipe tem
algumas vantagens, em particular a sistemática revisão dos orçamentos familiares e o fato de ser o
único índice onde os preços de todos os produtos são coletados a cada semana. Nossa cesta de
produtos é composta de leite, carne bovina, frango, arroz, feijão, laranja, tomate, cebola, batata,
banana, açúcar, alface, café, cenoura, mamão, ovo e óleo de soja. É um conjunto bastante
representativo do item alimentação.
Os números mostram que em todos os casos a queda dos preços
reais foi significativa, como pode ser visto na tabela.
Como se vê, os resultados são extraordinários: durante 25 anos
os preços reais de alimentos de uma cesta significativa caíram,
em média, 5% ao ano! O poder de compra dos salários, em
termos de alimentos, subiu muito, o que abriu espaço para
elevações de consumo de outros bens e serviços.
É certo que uma redução de preços de tamanha magnitude é
resultado de um conjunto de fatores. Entretanto, sem uma forte
elevação da produtividade, tal como a ocorrida no período, seria
impossível aos agricultores absorver tais reduções de preços
sem uma ruptura na oferta. Na verdade, no período coberto pela
presente análise ocorreu uma constante expansão da oferta de
alimentos, tanto para o mercado interno como para exportação.
A agricultura brasileira se expande cada vez mais por incorporação de tecnologia, elevando a
produtividade ao invés de simples expansão da área cultivada. Tudo isto não seria possível sem um
vigoroso sistema de pesquisa agropecuária, comandado no período pela Embrapa. É esta rota de
sucesso que precisamos continuar trilhando
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