Anexo - Arcos

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Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Ciência Política – IPOL
Disciplina: Teoria Política Moderna
Professor: Alexandre Araújo Costa
Turma: “A”
Estudantes: Gabriel Silva Elias – 09/0018460
Laura Mourão Santana – 09/0009177
Rafael de Oliveira Taveira – 09/0074351
Raquel de Lima Meirelles – 05/91653
RESENHA
MIRANDOLA, Giovanni Pico della. Discurso sobre a dignidade do homem. 1ª Edição.
Editora: Edições 70. Lisboa, 2006.
O autor inicia o texto com uma citação de Hermes, na qual exalta a natureza
humana. Posteriormente questiona o significado da natureza humana e afirma que o
homem não só pertence à classe das criaturas superiores, mas que é soberano das
criaturas inferiores; o autor afirma que o Homem é também o elo entre as classes de
criaturas, e que só é inferior aos anjos.
Mirandola afirma a grandiosidade do homem, mas ressalta que essa grandiosidade
não deve se reduzir a uma admiração cega e ilimitada, ele nos diz que devemos admirar
mais os anjos e os beatos coros celestiais. Contudo o autor ressalta, mais uma vez, que o
Homem é chamado e considerado um maravilhoso milagre por ser possuidor de alma.
Pico della Mirandola afirma que Deus estabeleceu o homem como uma criatura que
possui a potencialidade de ter e de desenvolver todas as qualidades e capacidades que
foram dadas às outras criaturas separadamente.
Posteriormente o autor nos diz que, no momento do nascimento, as bestas trazem
consigo desde o ventre materno tudo o que necessitarão durante sua vida; e que os
espíritos superiores, desde o princípio, ou pouco depois, se tornam aquilo que serão
eternamente. Mirandola afirma que o pai celestial, desde o nascimento, conferiu ao
Homem os germes de todas as espécies e de toda a vida. O autor também diferencia a
natureza das criaturas de acordo com sua existência, e nos diz que as criaturas que
vegetam são plantas; as criaturas sensíveis são bestas (animais); as criaturas racionais
são superiores, são animais celestes; e as criaturas intelectualizadas são anjos ou filhos
de Deus. Com essas diferenciações podemos inferir que o autor acredita que o
conhecimento e as ciências são divinos, assim como a capacidade humana de
desenvolvê-las.
Mirandola se apropria das idéias de Maomé e afirma que aquele que se distancia
da lei divina transforma-se em besta, e diferencia mais uma vez as criaturas terrenas:
aquilo que se arrasta pelo chão como uma serpente é uma planta; aquele que é escravo
dos sentidos e da sensualidade é uma besta; e aquele que pensa com reta razão e
discerne todas as coisas é um animal celeste, digno de veneração. O autor afirma
também a crença de que o Homem é um animal de natureza mutante e heterogênea.
Pico della Mirandola cita também o profeta Asaf que disse: “somo todos deuses,
filhos de Deus”; contudo o autor nos diz que não devemos nos aproveitar erroneamente
do excesso de liberalidade que Deus nos concede, não devemos nos satisfazer com as
coisas medíocres, devemos almejar as coisas grandiosas e para isso é preciso que nos
esforcemos para alcançá-las. De acordo com o autor, se nos dedicamos à vida ativa e
assumimos a proteção das coisas inferiores com justo discernimento, estaremos apoiados
na solidez do trono divino; porém se optarmos por nos manter longe da ação, devemos
nos entregar ao ócio contemplativo, sempre meditando sobre Deus e sobre Sua obra.
Posteriormente Mirandola afirma que o poder do trono divino é imenso e que o
alcançaremos através do amor. Contudo o autor questiona a possibilidade de se amar
aquilo que não se conhece.
Desta forma podemos, mais uma vez, identificar a defesa do conhecimento daquilo
que é humano e também daquilo que é divino. Para Pico della Mirandola a filosofia
contemplativa é o princípio que devemos buscar, imitar e aceitar como regra de conduta
para que possamos alcançar o amor e assim nos tornaremos aptos aos deveres da ação.
Para que a vida humana alcance os princípios divinos devemos ter claros os princípios
que regem a vida, as ações e as obras, e assim alcançaremos a purificação; pois uma vez
iluminados tornamo-nos perfeitos. Depois de purificar nossa alma devemos conhecer a
luz da filosofia natural e assim poderemos finalmente acessar a perfeição do
conhecimento daquilo que é divino.
O autor também afirma que nossas lutas e questionamentos internos são piores do
que as guerras civis, pois os questionamentos nos distanciam da paz interior que é o que
nos aproxima de Deus. Para solucionar essas dificuldades o autor sugere que utilizemos
a filosofia moral que é o instrumento capaz de tranqüilizar as inquietudes humanas.
Mirandola afirma também que devemos buscar a paz, não devemos cultivar inimigos; pois
o equilíbrio entre a carne e o espírito gera um pacto inviolável com a paz santíssima. De
acordo com o autor a filosofia natural acalmará as opiniões e as divergências que
distanciam a alma humana da paz divina.
Assim Mirandola justifica o valor da teologia e nos diz que esta nos mostrará o
caminho para a paz santíssima, para a união eterna e para a amizade (amizade nesse
contexto deve ser entendida de acordo com a lógica pitagórica que afirma que a amizade
é o propósito de toda a filosofia, ou seja, conhecimento). Essa paz é que permite, de
acordo com o autor, que os anjos desçam à Terra e anunciem aos homens de boa
vontade que ela (a paz) é o caminho para o céu e é também a forma para que nos
tornemos anjos, ou seja, divinos em essência. A paz é o caminho para que alma se torne
a morada de Deus.
O autor também diz que devemos combater os excessos, pois a da virtude se
encontra no equilíbrio moral; É preciso manter ativa a racionalidade, pois é a partir desta
que a alma mede tudo, é a partir dela que se julga e se examina tudo. Para o autor é
preciso manter a racionalidade pronta ao exercício e à regra dialética (dialética nesse
contexto deve ser entendida como o método grego de diálogo, contraposição e
construção de idéias). O autor cita Davi e Santo Agostinho para afirmar que não há lugar
para os imundos de espírito.
Depois de defender as idéias acima descritas o autor justifica sua postura crítica e
afirma que por isso se dedicou ao estudo da filosofia. Mirandola defende que a filosofia
deve ser estudada por todos aqueles que buscam a verdade e a sabedoria, o estudo da
filosofia não deve ficar restrito aos príncipes ou aos afortunados. Não se deve estudar a
filosofia buscando prêmios ou interesses materiais, devemos estudar filosofia inspirados
pelo conhecimento e pela busca da verdade por si mesma. Posteriormente o autor se
defende dizendo que não tem a intenção de simplesmente confrontar os poderosos, ele
afirma que as boas ações têm mais críticos do que as condutas viciosas.
Mirandola cita Platão e Aristóteles, os quais, de acordo com o autor, tinham
convicção de que nada é mais favorável à verdade do que a busca contínua pelo debate e
pelo exercício. E diz também que não se deve julgar as pessoas por sua idade (esse texto
foi escrito por Pico della Mirandola quando tinha 24 anos). Com muita modéstia Mirandola
diz que gostaria que sua obra fosse lida sem preconceitos e que todos poderiam criticá-la
ou elogiá-la por seu conteúdo e não pelas características de seu autor.
Depois de citar filósofos e sábios de todos os tempos que o ocidente tem
conhecimento Mirandola fala sobre a magia (humana) e a luz (magia natural e divina) ele
diz que a primeira é monstruosa e nociva e que a segunda é divina e saudável. A magia,
de acordo com o autor, distancia o homem de Deus, já a luz incita a admiração pelas
obras do Senhor e que dela, da luz, derivam a caridade, a fé e a esperança.
Posteriormente Pico della Mirandola se propõe a escrever sobre os antigos
mistérios hebreus com o argumento de que é preciso esclarecer esse pensamento para
que possamos defender a sagrada religião (católica) das descabidas calúnias dos
hebreus. O autor afirma que Moisés ao receber a Lei que deixou a seus sucessores,
recebeu também a secreta interpretação das mesmas, e Deus lhe ordenou que
divulgasse a Lei, contudo Moisés não deveria escrever e nem divulgar a interpretação das
mesmas. De acordo com o autor, o simples relato dos fatos deveria ser suficiente para
conhecermos a potência de Deus e sua ira contra os impuros, sua indulgência para os
bons e sua justiça para com todos. Apenas seria necessário que os homens fossem
educados a partir dos preceitos divinos e saudáveis, para que assim tivessem uma boa
vida e para que pudessem cultuar a verdadeira religião, a religião católica. Partindo
dessas assertivas podemos afirmar que Mirandola tentou defender a filosofia e o
conhecimento com base nos princípios católicos de sua época.
O autor diz também que a interpretação da lei comunicada a Moisés por Deus foi
chamada Cabala, que entre os hebreus significa o mesmo que para os cristãos: Tradição.
No princípio a doutrina cabalística era transmitida por meio de revelações que um recebia
do outro como que por direito hereditário. Depois a igreja decidiu que não seria possível
manter o costume de transmitir oralmente os ensinamentos divinos e assim pediu que
todos manifestassem suas memórias sobre os mistérios da lei divina. Estes mistérios,
chamados mistérios dos escribas, foram transcritos em setenta volumes que são os livros
da Cabala. Esdras, o líder dessa igreja, disse então que esses livros continham a sublime
teologia divina, continham a fonte da sabedoria, da metafísica e das formas inteligíveis e
angelicais, ou seja, a filosofia da natureza. Pico della Mirandola afirma que se dedicou a
leitura e ao estudo desses livros e que neles encontrou tanto a religião de Moisés como a
religião cristã, assim como também identificou nesses livros o mistério da santíssima
trindade, a encarnação do verbo e a divindade do Messias. Mirandola nos diz também
que pôde identificar semelhanças entre os escritos da Cabala e os escritos de Dionísio,
Jerônimo e Santo Agostinho, os quais falam sobre o pecado original, sobre a Jerusalém
celeste e sobre a queda dos demônios; sobre as ordens angélicas e também sobre o
purgatório e o inferno. Portanto não há argumentos controversos entre os cristãos e os
hebreus, afirma Pico della Mirandola, ambas as crenças se fundamentam em princípios
muito similares.
Posteriormente o autor continua a defender sua tese de que a busca por
conhecimento é mais importante do que as divergências entre as diversas religiões
existentes, e para isso demonstra sua forma de interpretar as obras de Orfeu e de
Zoroastro. Nos textos gregos, afirma Mirandola, se lê quase integralmente os escritos de
Orfeu, já os escritos sobre Zoroastro estão incompletos; contudo ambos são considerados
pais e autores da antiga sabedoria. O autor diz que Orfeu escreveu sobre os dogmas
através de alegorias poéticas, de forma que quem o lê acredita que seus escritos não
passam de fábulas ou divagações, contudo afirma Mirandola, que a obra de Orfeu trata da
filosofia secreta.
Por fim Mirandola diz que não tem a intenção de mostra-se um conhecedor de
muitas coisas e sim um conhecedor de coisas que muitos ignoram. E diz também que o
discurso sobre a dignidade do homem foi escrito com a intenção de demonstrar os fatos
para que aqueles que estão prontos e preparados para a luta encarem definitivamente o
combate à mentira e às ilusões tão vagamente disseminadas em prol de verdades e
religiões particulares.
COMENTÁRIOS / IDÉIAS PRESENTES NO TEXTO
Cabala – em hebreu significa tradição recebida; em sentido genérico designa o misticismo
judeu. é uma sabedoria que investiga a natureza divina. A Kabbalah — corpo de
sabedoria espiritual mais antigo — contém as chaves, que permaneceram ocultas durante
um longo tempo, para os segredos do universo, bem como as chaves para os mistérios
do coração e da alma humana. Os ensinamentos cabalísticos explicam as complexidades
do universo material e imaterial, bem como a natureza física e metafísica de toda a
humanidade. A Kabbalah mostra em detalhes como navegar por este vasto campo, a fim
de eliminar toda forma de caos, dor e sofrimento.Durante milhares de anos, os grandes
sábios cabalistas têm nos ensinado que cada ser humano nasce com o potencial para ser
grande. A Kabbalah é o meio para ativar este potencial. A Kabbalah sempre teve a
intenção de ser usada, e não somente estudada. Seu propósito é trazer clareza,
compreensão e liberdade para nossas vidas. Formas antigas de misticismo judaico
consistiam inicialmente de doutrina empírica. Mais tarde, sob a influência da filosofia
neoplatônica e neopitagórica, assumiu um carácter especulativo. Na era medieval
desenvolveu-se bastante com o surgimento do texto místico “O Livro da Luz”, porém o
mais antigo monumento literário sobre a Cabala é o Livro da Formação, onde se defende
a idéia de que o mundo é a emanação de Deus.
Dialética – Na Grécia antiga esse conceito era compreendido como a arte do diálogo, da
contraposição e contradição de idéias que leva a outras idéias.
Henoch – descendente de Caim, um dos profetas do Islã.
Humanismo – o humanismo renascentista propõe o antropocentrismo. Antropocentrismo
é a idéia do homem como o centro do pensamemento filosófico, esse pensamento se
opõe ao teocentrismo que é a linha de pensamento que defende que Deus deve estar no
centro do pensamento filosófico. O conceito logosófico de humanismo diz que o ser
racional e consciente se realiza em si mesmo, isso implica a realização de um processo
de superação individual, visando a formação espiritual.
Logosofia – significa verbo criador ou manifestação do saber supremo. Designa uma
nova linha de conhecimentos, uma doutrina, um método e uma técnica que lhe são
eminentemente próprios.
 LOGOS = palavra escrita ou falada
 SOFIA = conhecimento
A Logosofia surgiu em 1930, com a criação da primeira sede da Fundação Logosófica na
cidade de Córdoba na Argentina. É uma doutrina ético-filosófica desenvolvida pelo
pensador e humanista argentino Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche. A Logosofia é uma
doutrina que oferece ferramentas de ordem conceitual e prática para se obter o autoaperfeiçoamento por meio de um processo consciente de evolução espiritual e racional,
que conduz ao auto-conhecimento, ao respeito pelos semelhantes, e à compreensão de
Deus, do universo e de suas leis eternas. Essa doutrina diz que os pensamentos são
autônomos e independentes da vontade individual, e que nascem e cumprem suas
funções sob a influência de estados psíquicos ou morais, próprios ou de outrem. A
Logosofia tem como finalidade libertar as faculdades mentais das influências sugestivas,
para que o indivíduo, pensando melhor, compreenda os verdadeiros objetivos da vida.
Essa linha de pensamento tem o humanismo como o foco de seu conteúdo.
Misticismo – é a busca pela comunhão com o consciente ou com a consciência de uma
realidade. É uma religião que valoriza a comunhão com a divindade, a verdade espiritual,
ou Deus através da experiência direta ou intuitiva. Pode ser compreendido também como
um tipo de religião que enfatiza a relação direta e íntima com Deus, com a espiritualidade
e com a consciência da Divina Presença. Os antigos cristãos empregavam a palavra
"contemplação" para designar a experiência mística.
Propércio – poeta latino e mitógrafo romano.
Zoroastro – profeta nascido na Pérsia (atual Irã), Ele foi o fundador do Masdeísmo ou
Zoroastrismo, religião adotada oficialmente pelos governos da Pérsia em seu primeiro
período monárquico independente (558 – 330 a.C.). A denominação grega Ζωροάστρης
significa contemplador de astros.
REFERÊNCIAS
WIKIPÉDIA. Cabala / Dialética / Henoch / Humanismo / Logosofia / Misticismo / Propércio
/ Zoroastro. Capturado em 26 de agosto de 2009.
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