MATERIAL DIDÁTICO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS SEGUNDO A PERSPECTIVA DA TEORIA DE GÊNEROS DO DISCURSO Ana Paula Seiffert Universidade Federal de Santa Catarina / CNPq Pós-Graduação em Lingüística [email protected] RESUMO: Buscou-se, com este artigo, analisar os textos contidos em um material didático de português como segunda língua (L2), segundo a perspectiva da teoria dos gêneros do Círculo de Bakhtin. Nessa perspectiva, os gêneros do discurso constituem tipos de enunciados relativamente estáveis, os quais estão vinculados a situações típicas de comunicação social. A linguagem é entendida como prática social, reconhecendo-se que as ações dos indivíduos são sempre permeadas por contextos específicos, gêneros e esferas sociais. No livro selecionado são analisadas, tanto nos objetivos do material quanto nas atividades propostas, as práticas de leitura e de escuta e também de produção textual. Introdução Aprender a falar outras línguas deixou, há muito tempo, de ser um luxo para se tornar uma necessidade, em virtude, principalmente, da globalização e das mudanças de atitude e de pensamento que essa disseminou. Atualmente, falar outras línguas, mesmo que não se saia do país de origem, é garantia de melhorar o currículo profissional. A busca por um novo idioma está estampada nas cidades com o crescente aumento de escolas de idiomas. No Brasil, principalmente entre os falantes de português1, o idioma mais procurado como segunda língua é o inglês, dada a importância política e econômica dos Estados Unidos e o fato de estar se tornando uma das principais línguas de comunicação entre países. Os profissionais do ensino de língua inglesa como segunda língua (L2), têm à disposição uma gama enorme de materiais didáticos, que trazem diferentes abordagens com relação à linguagem. A língua portuguesa também vem sendo ensinada em instituições de vários países como língua estrangeira, evidentemente em escala muito menor que o inglês. Entretanto, o Produziu-se o ‘conhecimento’ de que no Brasil se fala o português, e o ‘desconhecimento’ de que muitas outras línguas foram e são igualmente faladas. (...) Para compreendermos a questão é preciso trazer alguns dados: no Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. (MÜLLER DE OLIVEIRA, 2000, p. 83-84). 1 interesse pela língua tem aumentado significativamente, tanto em países de continentes mais distantes, como na Europa2, assim como em países mais próximos, como a Argentina3, por exemplo. A questão é que ainda não há grande profissionalização da área: poucos cursos de graduação em Letras – Língua Portuguesa no Brasil preparam seus estudantes para lecionarem português como L2, assim como também não há grande diversidade de materiais didáticos e de apoio para tais cursos. Neste artigo, pretende-se verificar de que forma um material didático de português como L2 específico trata dos textos que nele se apresentam e se o livro em questão os apresenta ou não de acordo com a teoria de gêneros do discurso. A análise de materiais didáticos, segundo a perspectiva da teoria de gêneros, vem sendo realizada por pesquisadores em inúmeros materiais utilizados nas escolas para a disciplina de Língua Portuguesa. Entretanto, o mesmo trabalho ainda não é significativamente explorado com relação aos livros didáticos de Português para estrangeiros. No livro selecionado são analisadas, tanto nos objetivos do material quanto nas atividades propostas, as práticas de leitura e de escuta e também de produção textual. Com a análise realizada de tal livro didático, busca-se possibilitar que materiais de Língua Portuguesa como L2 reconheçam que, noções como as de gêneros do discurso e de linguagem como prática social são um subsídio imprescindível para a elaboração e desenvolvimento de qualquer material de ensino de língua que vise a interação do aluno com indivíduos em várias esferas sociais, gêneros e contextos. A noção de gêneros e o material didático selecionado O material didático de português como L2 selecionado para este estudo é o livro Fala Brasil: português para estrangeiros4. O material, que é um dos mais bem-sucedidos Como por exemplo, na Espanha: “A Espanha começou a falar mais português. Em uma década, o número de estudantes de língua portuguesa na Espanha quase quintuplicou, passando de 3 mil para 14 mil alunos, segundo o Instituto Camões”. (BATISTELLA, Rosangela. O português da Espanha. In: Revista Língua Portuguesa. Ano 1, 2005, n. 6 – p. 21) 3 Os ministérios da educação brasileiro e argentino desenvolvem, conjuntamente, o projeto Escolas Bilíngües de Fronteira, através do qual são difundidos português e espanhol nas cidades fronteiriças. Nesse projeto, professores brasileiros atravessam a fronteira uma vez por semana para dar aulas em português em escolas argentinas e professores argentinos fazem o caminho inverso para ensinar em espanhol aos alunos brasileiros. 4 PATROCÍNIO, Elizabeth Fontão do; COUDRY, Pierre. Fala Brasil: português para estrangeiros. Campinas, SP: Pontes, 15a edição, 2004. 2 2 para esse fim (encontra-se na sua 15a edição e está há mais de 10 anos no mercado) é constituído apenas por um livro de aluno, um conjunto de cds que trazem os textos do livro a fim de que o aluno possa praticar a pronúncia e um pequeno livro de exercícios, não contando com manual do professor. O livro possui 239 páginas e é um volume único. Segundo informações disponíveis na contra-capa do livro-texto, o fato de não haver manual do professor se dá porque: “Sua utilização é de tal forma descomplicada que dispensa o uso de manual do professor”. A única informação disponível para o profissional que atuará utilizando tal material encontra-se na referida contra-capa e em uma página que contém a apresentação do material. Tal apresentação contendo as instruções sobre o livro será descrita mais adiante, juntamente com as análises dos textos e atividades do material. Para compreender a forma como tal material didático apresenta os textos, utiliza-se, neste artigo, a noção bakhtiniana5 de linguagem como enunciação, o que significa dizer que a língua não pode ser vista como expressão individual de um locutor. Bahktin (1997) sustenta que o locutor, ao produzir seu enunciado, dirige-se ao outro com intencionalidade, não esperando apenas que sua fala (discurso) seja compreendida pelo outro, mas espera também uma resposta, uma atitude, uma adesão, ou seja, espera agir sobre o outro (reaçãoresposta). Além disso, o próprio enunciador também “responde”, na medida em que seus enunciados estão vinculados a outros enunciados que já foram produzidos, nos quais ele fundamenta o seu discurso ou com os quais ele dialoga. Assim, para compreender a língua como discurso é preciso considerar também os falantes, as esferas sociais e os valores ideológicos. Essa “cadeia dos atos de fala” (Bakhtin, 2004) reflete a experiência comunicativa das pessoas e suas interações com outros, em diferentes contextos históricos, culturas e sob ideologias variadas. Assim, a linguagem é entendida como prática social, reconhecendo-se que as ações dos indivíduos são sempre permeadas por contextos específicos, gêneros e esferas sociais. Nessas esferas o enunciado se realiza, e, dessa forma, fica marcado com os valores e a ideologia de cada uma. É nas esferas (situações típicas de comunicação social), que são elaborados “tipos relativamente estáveis de enunciados”, ou seja, os gêneros do 5 M. Bakhtin, Voloshinov e Medvedev produziram, na ex-União Soviética, até 1974, vasta obra a respeito de diversos aspectos da linguagem. Muitos divergem a respeito da autoria de tais obras, a que aqui serão referidas como pertencentes ao Círculo de Bakhtin, sem entrar em tais discussões. 3 discurso. Por exemplo, na esfera literária há gêneros como o romance e o poema; na esfera jornalística há gêneros como o artigo e a entrevista; na esfera religiosa há gêneros como a oração e o sermão. Há grande variedade de gêneros do discurso, assim como há de atividades humanas e, portanto, também de esferas sociais, pois os gêneros são formados e estabilizados historicamente a partir do surgimento de novas situações de interação social entre os indivíduos. Segundo Rodrigues (2005): “É somente nessa situação de interação que se podem apreender a constituição e o funcionamento dos gêneros. O que constitui um gênero é a sua ligação com uma situação social de interação, e não as suas propriedades formais”. [p. 164] É importante salientar ainda que os gêneros do discurso, embora se estabilizem de certa forma, não são estáticos ou acabados, pelo contrário: são suscetíveis a mudanças e transformações de acordo com o passar do tempo e as mudanças nas práticas sociais de utilização de línguas dos indivíduos. São os gêneros que regulam, organizam e significam a interação. Assim, considerar a linguagem do ponto de vista discursivo, requer que um material didático adequado de Português como L2, deva contemplar textos de gêneros variados, para que o estudante possa ter uma idéia global do uso da língua em diferentes esferas sociais. Análise da abordagem do material didático à prática de leitura e escuta e produção textual O livro selecionado (livro-texto) para esta análise é subdividido em quinze unidades nas quais intercalam-se atividades de prática de leitura e escuta, produção textual (raríssimas vezes), gramática e análise lingüística. As atividades mais recorrentes abordam tópicos gramaticais e vocabulário. Não há uma seqüência fixa desses itens ao longo do livro e as atividades estão voltadas à exposição, assimilação e manipulação de regras. A apresentação do material didático selecionado (conforme já explicitado é a única instrução sobre o uso do livro, destinada tanto para os professores quanto aos estudantes) que ocorre em português, inglês e francês, ocupa menos de uma página para cada uma das línguas e traz informações superficiais sobre o funcionamento e conteúdo do livro. Obviamente, para um professor que desconheça o material, a leitura da apresentação não 4 oferece subsídios suficientes para que tal profissional possa começar a utilizá-lo em suas aulas. A apresentação traz apenas duas menções aos textos existentes no material. A primeira referência a textos nessa apresentação diz respeito aos que aparecem em formato de diálogos, os quais, segundo instruções do material “são o elo de ligação entre a simples capacidade de conjugar um verbo e a capacidade de utilizá-lo em situações práticas” (p. 1). A segunda referência feita pelos autores sobre os textos é: “Outro ponto a destacar é a apresentação da cultura brasileira em situações da vida cotidiana de modo a evitar os aborrecidos textos informativos – informações mais objetivas (fatos históricos, políticos) encontram-se num quadro cronológico ao final do livro”.(p. 1) “Poupando” os estudantes de “aborrecidos textos informativos”, os autores também deixam de lado gêneros interessantes, produzidos em determinadas esferas sociais as quais o estudante provavelmente necessite conhecer para se comunicar plenamente em português como a sua segunda língua. Sob a perspectiva bakhtiniana de se compreender a linguagem, é preciso que os estudantes dominem não apenas as formas da língua, mas também as formas do discurso, ou seja, os gêneros. Compreender a natureza dos gêneros do discurso e as esferas de sua produção e circulação é fundamental para que, estudantes estrangeiros (e isso se estende, obviamente, a estudantes que tem o português como língua materna) possam elaborar enunciados construídos sob a perspectiva de um determinado gênero em sua prática discursiva. Diferentemente de muitos materiais didáticos de português elaborados para alunos brasileiros, os materiais didáticos de português como L2 contemplam não apenas o que Bakhtin (1997) chamou de gêneros secundários (complexos), como também os gêneros primários (simples), geralmente em forma de diálogos (gêneros orais), que trazem situações típicas do cotidiano6. Em todas as unidades do material há diálogos e as atividades propostas a partir deles também variam: podem ser apenas lidos, podem ser lidos e depois ouvidos através do cd que acompanha o material ou ainda podem ser exercícios nos quais os alunos completem as palavras ausentes. Os exemplos a seguir demonstram atividades típicas do material envolvendo diálogos. Quando os diálogos do livro estão destinados a 6 A separação entre gêneros primários e secundários do Círculo de Bahktin não diz respeito a uma separação entre gêneros orais e escritos. Há gêneros primários (simples) escritos, como o bilhete, por exemplo, assim como há gêneros orais secundários (complexos), como a palestra, por exemplo. 5 práticas de leitura e escuta, o leitor encontra no material certas informações quanto ao lugar de enunciação, conforme exemplo abaixo, onde há situações do cotidiano “na rua” e “no bar” (p. 21): NO BAR -Eu queria um café, por favor. -Pois não. Olhe aqui. -Obrigado. -De nada, às ordens. NA RUA - Oi Maria, tudo bem? - Meu nome é Márcia. - Ah, desculpe. - Não têm importância. Entretanto, os diálogos de situações do cotidiano que fazem parte dos exercícios para completar não apresentam informações sobre os enunciadores ou o lugar de enunciação, conforme pode ser visualizado no próximo exemplo (p. 145 do material analisado), um exercício para que se complete com os tempos verbais adequados: Complete usando o tempo adequado: Presente simples Pretérito Perfeito Presente contínuo Pretérito mais-que-perfeito Passado contínuo Futuro com o verbo IR Pretérito imperfeito 1) - Você _____ (ir) ontem à feijoada na casa do Toninho? - ____ (ir) e _____ (comer) pra burro. (pra burro = muito) 2) - Por que você não _____ (trazer) os pãezinhos que eu _____ (pedir)? - Porque quando eu ____ (passar) na padaria, os pãezinhos já _______ (acabar). Além dos diálogos (que englobam diferentes gêneros discursivos), os gêneros textuais mais recorrentes encontrados no material são: tira, letra de música, carta pessoal e crônica. Entretanto, o material não nomeia ou apresenta características dos gêneros apresentados, como ocorre com as letras de música. Nessas atividades, há a presença da letra de uma música que pode ser ouvida no cd que acompanha o livro, entretanto, a leitura aparece desvinculada de qualquer atividade: não há qualquer referência ao gênero, e nem mesmo ao tipo de atividade que se espera com tal texto. Os gêneros do discurso priorizados pelo material didático não compreendem gêneros mais modernos (ou formas discursivas novas, como explicita Marcuschi, 2002). Apesar de haver várias re-edições, o material não aborda gêneros atuais como o e-mail, o blog, a mensagem de celular (SMS), entre outros que circulam nas mais variadas esferas sociais. Certamente, tais gêneros também trariam importantes contribuições para a 6 aprendizagem de português como L2, visto que são praticamente imprescindíveis para a comunicação nos dias de hoje e que, portanto, podem ser do interesse dos estudantes que necessitam se comunicar, em vários gêneros, em português. Ao longo do livro há raras (menos de dez, ao todo) atividades de produção textual e em nenhuma delas fica claro qual é o gênero esperado para a produção, nem o interlocutor do texto que será produzido. O exemplo a seguir (p. 216 e 217) mostra uma atividade na qual é realizada a leitura de um texto (produzido pelos autores do material didático) e a seguir propõe-se uma produção textual baseada na leitura, na qual o estudante deve produzir um diálogo de acordo com os dados que obteve dos indivíduos com a leitura do texto: TEXTO II – São Paulo e Rio de Janeiro Lívia gosta muito do Rio porque, além das praias, a cidade oferece muitos pontos turísticos e uma paisagem inigualável. Ela adora chegar lá de avião para apreciar o contorno da Baía de Guanabara, do Pão de Açúcar e do Corcovado. Na sua opinião, as pessoas do Rio são mais descontraídas e vivem muito melhor que em São Paulo, onde a poluição e o trânsito tornam a vida muito desgastante. Gilberto, que gosta de vida ativa, prefere São Paulo, um centro que, apesar de toda a sua agitação, não é voltado só ao trabalho. Ele argumenta que a vida noturna oferece bem mais opções com seus inúmeros bares, teatros, cinemas e boates. Como grande apreciador dos bons pratos, cita os restaurantes de excelente cozinha espalhados pela cidade. Ele gosta de passear por São Paulo de carro para apreciar o brilho mágico dos luminosos e a diversidade étnica retratada nos bairros das várias colônias. Gilberto não suporta o calor do Rio e aponta como um segundo ponto desfavorável o alto índice de assaltos, lembrando que lá a violência cresce a cada dia. EXPRESSÃO ESCRITA Onde passar o feriado? Use a sua imaginação e monte um diálogo entre Lívia e Gilberto levando em consideração as razões e preferências de cada um. Inexistem, portanto, nas atividades de produção textual do material, as informações básicas para que o estudante possa produzir seu texto de forma a prever seus interlocutores e a situação de interação, como o objetivo da atividade, o nível de linguagem (mais ou menos formal), o tipo de situação em que o gênero está inserido, a relação entre os participantes (proximidade, hierarquia, etc.), além de outros dados importantes. Ao contrário da atividade descrita acima, que visava produzir um diálogo a partir de um determinado texto, a atividade de produção textual do material demonstrada a seguir, consiste em uma atividade na qual, a partir de um diálogo, o aluno deve produzir um texto. Fica muito evidente nessa atividade, a falta de instruções ao estudante sobre que texto e de que forma ele deve produzir, prevendo quais interlocutores. A única instrução sobre o tipo 7 de texto que o aluno deve produzir é a de que deve escrever uma “crítica” ao relacionamento do casal em questão, com base na leitura de um diálogo (p. 201): EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA a mulher: O teatro começa às nove horas e você ainda nem se vestiu? o marido: Calma, meu bem. Já estou indo. Que roupa eu ponho? a mulher: Aquela camisa xadrezinha. Está na prateleira do meio, à esquerda, atrás das camisetas. o marido: Huuuumm, deixa eu ver... Na prateleira de cima, à direita... Não estou conseguindo achar essa maldita camisa! Regina! Regina! a mulher: Já vou, Adolfo! Estou me pintando! o marido: O que falta nessa casa é organização... Que coisa! Faça uma crítica ao relacionamento do casal. A maior parte dos textos do livro foram produzidos pelos próprios autores para o material, o que limitou a possibilidade de inclusão de vários gêneros. Há poucos textos de outros autores ao longo de todo o livro e claro, pouca variedade de gêneros. Em alguns dos textos, mesmo os criados pelos autores, parece haver a preocupação em mostrar ao aluno o suporte (ainda que não seja o suporte original), como na atividade de leitura a seguir (figura 1), embora não se dê informações suficientes sobre o gênero em questão, o que poderia enriquecer imensamente o livro. A página com classificados aparece após o tópico gramatical que trata da forma “se” como pronome apassivador e como sujeito indeterminado, servindo “apenas” como atividade de leitura e observação do seu uso, conforme o próprio material destaca: “Observação: Essas formas são muito usadas em anúncios, como você vai verificar a seguir. Note que, apesar de a gramática normativa condenar, há uma tendência em se deixar o verbo no singular também em sentenças do tipo 3 (vende-se casas).” (p. 209) 8 Figura 1 – Atividade de leitura. (p. 210) Os autores deixaram passar uma excelente oportunidade de explorar os gêneros, preocupando-se apenas com a questão formal do uso do “se”. Embora não haja grande variedade de gêneros no livro já seria um grande passo se de fato os que existem fossem utilizados em atividades que permitissem reflexões sobre os gêneros do discurso. Considerações finais Através da análise desse material didático, busca-se possibilitar que materiais de Língua Portuguesa como L2 reconheçam que, noções como as de gêneros do discurso e de linguagem como prática social são um subsídio imprescindível para a elaboração e desenvolvimento de qualquer material de ensino de língua que vise a interação do aluno com indivíduos em várias esferas sociais, gêneros e contextos. Quando um aluno estrangeiro decide aprender português, ele necessita mais do que gramática para poder efetivamente se comunicar, ele necessita, principalmente, dominar determinados gêneros textuais que lhe possibilitarão interagir com indivíduos nas mais variadas esferas. Segundo Marchuschi (2002): 9 “Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e sim uma forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”. (p.29) Ou seja, é através dos gêneros que os indivíduos poderão se socializar, interagir e assim torna-se muito importante, para o enunciador, conhecer e respeitar os limites impostos pelo gênero em questão, a fim de que o mesmo possa realizar uma comunicação eficiente. Espera-se que os materiais possam ser cada vez mais aprimorados a fim de desenvolverem nos estudantes a reflexão e a compreensão acerca dos gêneros do discurso. Com esse aprimoramento, os estudantes (especialmente aqueles que estudam português fora do Brasil), terão a oportunidade de entrarem em contato não apenas com os gêneros do discurso, mas também com as múltiplas possibilidades de utilizar a língua portuguesa no dia-a-dia. REFERÊNCIAS BATISTELLA, Rosangela. O português da Espanha. In: Revista Língua Portuguesa. 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Brasileiro fala português: monolingüismo e preconceito lingüístico. In: F. L. da SILVA & H.M. de M. MOURA (orgs.) O direito à fala: a questão do preconceito lingüístico. Florianópolis: Insular, 2000. p. 83-92. 10 PATROCÍNIO, Elizabeth Fontão do; COUDRY, Pierre. Fala Brasil: português para estrangeiros. Campinas, SP: Pontes, 15a edição, 2004. RODRIGUES, Rosângela Hammes. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, José Luiz; BONINI, Adair; MOTTA-ROTH, Desirée. (orgs.) Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. ROJO, Roxane. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, José Luiz; BONINI, Adair; MOTTA-ROTH, Desirée. (orgs.) Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. SILVA, Jane Quintiliano G. Gênero discursivo e tipo textual. In: Scripta. v.1, n.1, 1997. Belo Horizonte: PUC Minas, 1997. 11