Programa de Pós Graduação em Ciência Política – UFPE - 2008 I Avaliação – Métodos e Técnicas de Pesquisa I – Prof. Flávio Rezende Carla Cristina Costa de Menezes 1 Boudon – Efeitos Perversos e Ordem Social – Cap. VII – Determinismos Sociais e Liberdade Individual. O texto aborda a existência de dois paradigmas para a análise social: paradigmas interacionistas e paradigmas deterministas. Há quatro espécies de paradigmas interacionistas: Marxiano (ações dependem apenas de seu livre arbítrio; contexto de estado natural, onde comportamento é determinado pelas preferências individuais); Tocquevilliano (ações dependem apenas da livre apreciação de cada um; no contexto de estado natural, os atores podem se abster de considerar os efeitos de seus comportamentos sobre os outros). Mertoniano (os agentes têm que levar em conta os efeitos de suas ações sobre os outros; a interação entre indivíduos se dá em um contexto de contrato e não de estado natural); Weberiano (comportamento dos atores é dotado de intencionalidade; elementos das ações são determinados por fatores anteriores, ou seja, há introdução de elementos deterministas). Ao tratar dos paradigmas deterministas, Boudon interpreta o comportamento dos agentes a partir de elementos anteriores a ele. O interesse determinista é descritivo e implica em reduções dos paradigmas interacionistas. Existem três espécies de paradigmas deterministas: Hiperfuncionalistas, Hiperculturalistas e Realismo Totalitário. Paradigmas Hiperfuncionalistas reduzem os paradigmas Mertonianos, aqui toda ação está em contexto de contrato, as instituições e o papel dos indivíduos são compostos de elementos complementares e não contraditórios. Paradigmas Hiperculturalistas reduzem os Weberianos, tratam da explicação porque os indivíduos se comportam de maneira aparentemente contraria a seus interesses em função de uma socialização, de um caráter ritual de certos atos. Realismo totalitário, por sua vez, reduz o paradigma Tocquevilliano. Aqui as preferências individuais dependem de dados sociais que caracterizam o sistema em que se insere o indivíduo. As escolhas são forçadas, impostas ao indivíduo pela estrutura social. O conjunto dos paradigmas deterministas leva ao sociologismo, para Boudon, são impotentes para conceber e explicar conflitos sociais e mudanças sociais. Ele critica a sociologia contemporânea como sem sujeito; o sujeito é descrito por estruturas sociais influenciadas por origens sociais e pela posição social, que levam assim ao sociologismo, onde o agente social não tem capacidade de escolha. Programa de Pós Graduação em Ciência Política – UFPE - 2008 I Avaliação – Métodos e Técnicas de Pesquisa I – Prof. Flávio Rezende Carla Cristina Costa de Menezes 2 Assim, Boudon defende que o único paradigma determinista aceitável é o Determinismo Metodológico, segundo o qual as afirmações deterministas não possuem interpretações incompatíveis com as interpretações interacionistas. Para ele, apenas modelos interacionistas podem fundamentar análises sociológicas. Coleman – Fundations of Social Theory - Cap. 1- Metatheory-Explanation in Social Science e Cap. 2 – Actors and Resources, Interests and Control. O texto demonstra quanto os focos da pesquisa social e da teoria social estão afastados. A pesquisa social hoje se baseia na observação de comportamentos individuais, considerados individualmente e não no contexto social. Já a teoria social cuida do funcionamento do sistema social como um todo. Coleman buscou explicar o comportamento de um sistema social através de três componentes: os efeitos das propriedades do sistema com as limitações ou orientações de atores; as ações de atores que estão dentro do sistema; e a combinação ou interação dessas ações que resultem o comportamento do sistema. O individualismo metodológico passa a explicar o comportamento sistemático a partir das ações e orientações individuais. Interação entre indivíduos no nível do sistema é responsável pelas transformações que compõem a teoria social. A teoria social é composta de transformações micro-macro, macro-micro e pela ação individual. Traz o exemplo de Weber para explicar uma transição micro-macro, onde os efeitos da ética protestante sobre os indivíduos, que ao absorver esses valores promoveram a transformação social, levando ao capitalismo. Exemplo que explica a transformação macro-micro é trazido por Durkheim onde o suicídio é ato resultante de um estado psicológico do individuo resultante de sua relação com o meio social. Ou seja, o macro trouxe alterações no micro. O princípio da ação é núcleo fixo da teoria social que causa diferenças de comportamento do sistema quando localizados em contextos sociais distintos ou quando ações pessoais combinam em caminhos também distintos. Programa de Pós Graduação em Ciência Política – UFPE - 2008 I Avaliação – Métodos e Técnicas de Pesquisa I – Prof. Flávio Rezende Carla Cristina Costa de Menezes 3 O nível individual (micro) da teoria da ação é usado implicitamente pela maioria das teorias sociais, de modo que a teoria da escolha racional não tem espaço para emergir e estruturar hierarquicamente sua escolha. A base mínima para um sistema social de ação são dois atores, cada um tendo o controle sobre recursos de interesse do outro. De acordo com Friedman, há três tipos de interdependência entre atores: Interdependência Estrutural, Interdependência Comportamental e Interdependência Evolucionária. Coleman limita-se a analisar a Interdependência Estrutural onde cada ator assume que as ações dos outros atores são independentes de sua própria ação. Estuda a construção da teoria de como sistemas normativos se desenvolvem e se mantém. Estuda a origem problemática e a manutenção de normas, a aderência de pessoas às normas, o desenvolvimento de um código moral e identificação com coletividades, por exemplo. Diferentes tipos de estruturas de ação são encontrados na sociedade, dependendo do tipo de recursos envolvidos na ação. Todas as questões tratadas estão contidas no domínio da ação intencional, que prevê transferências de controle ou de direitos de controle que são às vezes feitas como transações isoladas, às vezes como uma parte do sistema de relações. Ele conclui com o exemplo mais comum de um ambiente socialmente construído onde os bens econômicos de que a vida moderna depende são produtos desse ambiente, que é baseado no complexo de relações do ator corporativo moderno.