REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A IDENTIDADE PROFISSIONAL: A FORMAÇÃO, OS SABERES PROFISSIONAIS E O CONTEXTO DE ATUAÇÃO Alessandra de Mesquita Universidade Católica de Santos Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Mestrado em Educação São Paulo Eixo 2: Pesquisa em Pós-Graduação em Educação e Formação de Professores Categoria: Pôster Resumo Este trabalho pretende refletir sobre as representações sociais de professores formadores a respeito dos saberes que constituem a identidade profissional. Parte-se do pressuposto de que é o conhecimento adquirido no campo da formação e da atuação docente que constitui a identidade profissional do professor. A pesquisa se fundamenta em Moscovici (1961, 1978), na medida em que sua teoria das representações sociais (TRS) contribui para a análise dos questionários aplicados (questões fechadas, abertas, e palavras de evocação) e das entrevistas semi-estruturadas, dentro de uma abordagem qualitativa de pesquisa. Também, autores como Cunha (1989; 2010), Contreras (1990), Nóvoa (1992), Charlot (2000), Tardiff (2002); Abdalla (2006, 2008); Pimenta (2009), entre outros, fundamentam as questões em torno da (re)construção da identidade profissional e dos saberes profissionais que, de fato, fundamentam a formação dos futuros professores. Os resultados, ainda que parciais, apontam para três eixos estruturantes de análise dos dados coletados: 1º os profissionais e a formação acadêmica; 2º as representações dos professores formadores sobre seus próprios saberes profissionais e o que consideram necessário para uma aprendizagem significativa; e 3º a influência do contexto de formação e do campo de atuação profissional na constituição dos saberes profissionais. Palavras-chave: Identidade profissional - Formação – Saberes profissionais Introdução Com a preocupação de fazer uma reflexão sobre as representações sociais de professores formadores sobre a constituição da identidade profissional, este texto pretende, primeiro, colocar o acento na formação e na atuação docente, para repensar alguns elementos que constituem a identidade profissional. Nesta perspectiva, apresenta um referencial teórico, que evidencia a importância de se considerar a formação, os saberes profissionais e o contexto de atuação docente. E em um segundo momento, assinala alguns aspectos relevantes quanto aos procedimentos metodológicos da pesquisa, para, na sequência, indicar os resultados alcançados. Da formação à docência: elementos para se repensar a identidade do professor Sabemos que a formação de professores passa por revisão substantiva, e que há uma falta de nitidez sobre a função de educador e a problemática redefinição dos cursos superiores, de uma pedagogia universitária. O que se faz pensar ou repensar em uma tomada de posição urgente por parte dos educadores sobre o sistema de formação de professores e profissionais em educação. Como pedagoga, sinto-me concebida como pesquisadora das condições de ensinoaprendizagem que precisam ser planejadas para garantir resultados para os novos educadores desta área, pois a rápida transformação da sociedade passou a exigir da educação e, especialmente dos educadores, novas posturas fundamentadas em uma reflexão sistemática, profunda e contextual da realidade, seguida de novas estratégias e metodologias muito bem planejadas e eficientemente desenvolvidas. Essa pluralidade de conhecimentos e saberes, já estudada por tantos pesquisadores (TARDIF; LESSARD, 2005; ABDALLA, 2006; TARDIF, 2006; PIMENTA, 2009, entre outros), durante o processo formativo do docente no ensino superior, sustenta a conexão entre a formação inicial, o exercício da profissão e as exigências da formação continuada (e de pesquisa). Investimento, mão-de-obra, preparação para o trabalho, capacidades técnicas adequadas são os nomes que levam à adequada formação do professor frente aos desafios de sua profissionalização docente (ABDALLA, 2008). Levando em consideração que a conveniência de uma base comum de formação superior no plano institucional tende ainda a possibilitar a derivação em atividades de extensão e de pós-graduação, um status de alta credibilidade e eficácia em vários contextos, norteia-me a defesa de um projeto que tenha clara a construção de uma fundamentação teórico-prática, sólida, e que atenda às necessidades dos alunos, futuros professores-profissionais. E, nesta perspectiva, que proporcione os melhores resultados à sociedade e à instituição. Nesta perspectiva, este texto tem como objetivo central refletir sobre as representações sociais de professores universitários a respeito dos saberes que constituem a identidade profissional. Parte-se do pressuposto de que é conhecimento adquirido no campo da formação e da atuação docente que constitui este profissional. A pesquisa, então, se fundamenta na teoria das representações sociais (TRS), de Moscovici (1961, 1978), que nos alerta que é preciso compreender a representação social como elemento da dinâmica social “determinada pela estrutura da sociedade onde se desenvolve” (1961, p. 337), considerando, assim, que existem, como afirma Abdalla (2008), diferenciações, relações de dominação, normas e valores. Também sabemos, junto com Abdalla (2008), que tratar da identidade profissional do professor e/ou das representações sociais e/ou profissionais a respeito da profissão docente, é pensar em outras três dimensões: 1ª no tipo de formação acadêmica, tanto inicial, quanto continuada, que se teve na trajetória profissional; 2ª nos tipos de saberes que estruturam/organizam o trabalho docente, assim como, diria Abdalla (2006, p. 95), que constituem a identidade profissional, pois desenvolvem suas capacidades cognoscitivas e sócioemocionais nos momentos do planejamento, execução e avaliação das atividades realizadas; e 3ª no contexto de ação e formação do professor, seja a instituição superior e/ou a escola. Aspectos estes que também serão levados em conta na análise. A (re)construção da identidade do professor, conforme Pimenta (2009), “coloca-nos constantemente como desafio trabalhar com suas diferentes linguagens, discursos e representações, suas descrenças e crenças”, e isto inclui o curso, a profissão, a didática e a instrumentalização do fazer docente. Também, consideramos que a identidade não é um dado imutável, como afirma Nóvoa (1992), mas um processo de construção do sujeito historicamente situado, ou seja, a profissão de professor emerge em um dado contexto e momento históricos como resposta a necessidades que estão postas pela sociedade, adquirindo estatuto de legalidade. Nesta direção, o autor se posiciona dizendo que, ao longo do séc. XIX, “consolida-se a imagem do professor”. Se dialogarmos com Nóvoa (1992), entenderemos que a imagem do professor está fragilizada, o que interfere no processo de profissionalização docente, em um professor críticoreflexivo. Há uma dificuldade em profissionalizar a profissão docente, pois a mesma reside nas mutantes fases e significados que teve a educação no Brasil, ao longo de sua história. Penso, também, junto com Contreras (1990), quando se refere à qualidade do ofício docente e à questão de sua autonomia profissional. Vemos, ainda hoje, profissionais leigos, sem formação, atuando e formando outros profissionais, o que gera um círculo vicioso de má profissionalização docente. Esta situação precisa ter fim, tem-se que buscar novas estratégias de formação de professores, aliás repensar no para que formar professores. Ainda, se nos remetermos ao que diz Charlot (2000), uma identidade profissional se constrói a partir de significação social da profissão, de sua revisão e tradição, e do confronto entre as teorias e as práticas. Constrói-se, também, pelo significado dado pelos professores, pelos valores que atribuem a ela, pelo modo como se situam no mundo profissional, o que pensam sobre seus saberes e anseios sobre a profissão que exercem. Como reforça Abdalla (2006, p. 88-92), é preciso produzir um espaço para a prática de reflexão coletiva e individual, no interior do contexto de formação e do campo de atuação docente, para que se aprenda a profissão docente e se apreenda quais seriam os saberes profissionais que melhor constituam a identidade profissional docente, sua pertença social e suas representações profissionais que dão um contorno a imagem do professor (ABDALLA, 2008). Sabe-se que o perfil do profissional (qualificar para exercer atividades) é ter a capacidade de lidar, de forma crítica, com as linguagens, usar corretamente os recursos da língua, refletir criticamente sobre temas e questões relativas aos conhecimentos linguísticos e literários, utilizar novas tecnologias pedagógicas que permitam a construção do conhecimento para os diferentes níveis de ensino. Mas, como diria Cunha (2010), as iniciativas individuais dos professores, são louváveis e necessárias, entretanto, não é possível responsabilizar apenas essa dimensão da formação. É preciso, também, que o poder público e as instituições de Educação Superior assumam a sua parte e reconheçam a complexidade da docência, sendo referentes para uma necessária ruptura cultural e cidadã. Considerando que a ação educacional é uma prática social, mediadora da prática social mais ampla, o principal objetivo da pesquisa, como um todo, é investigar a formação do professor da educação superior, elegendo a situação educacional como base para definir os saberes relativos aos diferentes campos que fazem parte da formação do profissional que se pretende - autônomo, crítico e com identidade própria. Neste sentido, consideramos necessário valorizar a formação dos docentes e pesquisadores para compreender, mais efetivamente, como se dá o processo de ensino e de aprendizagem da Língua Portuguesa para os futuros professores, nosso objeto em questão. A Busca dos Caminhos Metodológicos Trata-se de uma abordagem de pesquisa qualitativa (LÜDCKE; ANDRÉ, 1986), e pelos estudos da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978), que privilegiam a experiência vivida pelos atores sociais, buscando a “criação de significado” que dão aos fenômenos sociais, como diria Abdalla (2008, p. 44). Privilegiamos, assim, a percepção e a interpretação dos sujeitos que constituíram a amostra deste estudo. Em relação à TRS, levamos em consideração, as três condições que afetam a emergência da representação social (MOSCOVICI, 1961, apud ABDALLA, 2008, p. 20-21): a) a dispersão da informação, que nos remete à defasagem dos dados quantitativos e qualitativos disponíveis e a informação que é necessária para a compreensão do objeto a ser analisado; b) a focalização, que é uma das condições para que se efetive uma análise de qualidade, e depende da implicação dos sujeitos, dos recursos a serem utilizados, dos interesses profissionais e/ou ideológicos; e c) a pressão para a inferência, que se concretiza pela necessidade de ação, de tomada de posição, para se obter reconhecimento ou adesão dos outros. Tendo por base estes princípios, que nos ajudaram a pensar os caminhos metodológicos da pesquisa, definimos, então, a nossa questão central: quais as representações sociais de professores universitários a respeito dos saberes que constituem a identidade profissional? O contexto de pesquisa se circunscreve no interior de um Curso de Letras de uma universidade privada da baixada santista, e os sujeitos de pesquisa são professores formadores deste curso. Optamos por fazer, em uma 1ª fase, um questionário para 15 professores, com 13 questões fechadas, 2 abertas e com 4 palavras de evocação, para compreender as representações em, pelo menos, três dimensões: 1ª o que pensam os professores formadores a respeito da constituição de sua própria identidade profissional; 2ª a influência da formação acadêmica em suas escolhas e decisões profissionais; e 3ª o que consideram necessário para que seus estudantes possam ter um conhecimento profissional mais significativo. Na 2ª fase, estão sendo realizadas entrevistas semi-estruturadas com 5 destes professores, para aprofundar a análise anterior. Dos resultados de pesquisa às considerações finais Com base nos dados coletados, tanto na primeira fase, quanto na segunda, os resultados de pesquisa, ainda que parciais, já apontam para três eixos estruturantes de análise: 1º Os profissionais e a formação acadêmica – em que destacamos elementos referentes à trajetória profissional, e que incluem aspectos relacionados às motivações, aos projetos de formação, ao ideário profissional, que colaboram para a orientação das condutas e das práticas profissionais; 2º As representações dos professores formadores sobre seus próprios saberes profissionais e o que consideram necessário para uma aprendizagem significativa – desenvolvendo os tipos de saberes mais privilegiados na organização e estruturação do trabalho docente, reforçando os saberes experienciais, que consideram como a base do conhecimento profissional; 3º A influência do contexto de formação e de atuação profissional na constituição dos saberes profissionais – destacando aspectos que caracterizam a cultura deste espaço de formação – Curso de Letras -, como lugar (ou não) de aprendizagem e de formação, de socialização e de constituição de identidades profissionais. É preciso assinalar, ainda, que, em relação ao primeiro eixo de análise, os professores formadores levam em consideração não a formação acadêmica, mas os percursos de formação, as situações vivenciadas, e as motivações que os levaram a acreditar na potencialidade de serem professores. Quanto ao segundo eixo, os tipos de saberes que melhor se identificam são aqueles que foram sendo construídos no dia a dia de ser professor, e identificam os saberes experienciais como os mais significativos. E, em relação ao terceiro eixo, junto com outros pesquisadores (ABDALLA, 2006), o contexto de formação e de atuação profissional influência a constituição e o desenvolvimento de uma cultura institucional e/ou profissional. Por fim, esperamos que a análise e/ou a interpretação das representações sociais dos professores formadores sobre a sua formação acadêmica, os saberes profissionais e o contexto de atuação profissional possam contribuir com alguns elementos para se repensar a formação de novos profissionais. Referências Bibliográficas ABDALLA, M.F.B. O senso prático de ser e estar na profissão. São Paulo:Cortez Editora 2006. ____________. O sentido do trabalho docente e a profissionalização: representações sociais dos professores formadores. Relatório pós-doutorado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC/SP, 2008. CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. CONTRERAS, J. A autonomia de professores. Cortez, 1990. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus,1989. ___________ (Org). Trajetórias de formação da docência universitária: da perspectiva individual ao espaço institucional. Araraquara: Junqueira&Marin; Brasília: Capes: CNPq, 2010. LÜDCKE, M.; ANDRÉ, M. E.D.A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas, 1986. MOSCOVICI, Serge. La Psychanalyse, son image et son public. Paris: PUF, 1961. ___________. A representação social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. NÓVOA, A. Formação de professores e formação docente. In NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992, p. 15-33. PIMENTA, S.G. Saberes Pedagógicos e atividade docente. 7ª.ed. São Paulo:Cortez, 2009. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002. TARDIF. M. LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2005.