As empresas têm sido nocauteadas. - Site da Professora Elizabeth

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APOSTILA
COMUNICAÇÃO APLICADA
LÍNGUA PORTUGUESA
PROFA. ELIZABETH VERGÍLIO
MARÇO/2006
1
ARTIGOS DE APOIO
A GÍRIA: DO REGISTRO COLOQUIAL AO REGISTRO FORMAL
Mª Auxiliadora Bezerra (UFPB - Campina Grande)
Ana Christina Souto Maior (UFPB – Bolsista PET-Letras)
Antonio Claudio da Silva Barros (UFPB – Bolsista PET-Letras)
1. Introdução
O léxico é o componente da língua que mais facilmente retrata as mudanças
e variações lingüísticas, visto que, por ter como função nomear e designar fatos,
processos, objetos, pessoas, etc., reflete necessariamente as transformações
sociais, daí ser uma classe de palavras aberta (está sempre incorporando novos
itens lexicais). Sendo uma classe aberta, o léxico comporta unidades de todos os
registros lingüísticos, inclusive a gíria, objeto de análise deste artigo.
Em trabalhos anteriores, analisou-se a gíria sob o ponto de vista de sua
formação (Souto Maior e Barros, 1999a) e do preconceito lingüístico e social (idem,
1999b) e viu-se que, apesar de recorrente em diversos grupos sociais e nos meios
de comunicação, há preconceito contra essa variedade lingüística, que não é a
padrão e a cujo significado o acesso pode não ser fácil.
Para o presente estudo, cujo objetivo é verificar a presença de gíria na
imprensa escrita, descaracterizando-se como gíria de grupo, esse tipo de
vocabulário é abordado numa perspectiva gramatical, lingüística e didática, para,
em seguida, poder-se comparar essa abordagem com as recomendações a respeito
de seu uso, dadas pelos manuais de redação de cada um dos jornais analisados. Os
dados para análise advêm dos jornais de circulação nacional O Globo e a Folha de
São Paulo, em suas edições eletrônicas, de janeiro a junho de 2000. Foram
considerados seus editoriais e as matérias relativas a política e economia, que são
escritas em um registro lingüístico formal. Procurou-se saber se as gírias estão
presentes nesses textos e, em caso afirmativo, se são escritas com sinais gráficos
(aspas, itálico, negrito... ), demonstrando pertencer a outro registro ou se estão
incorporadas ao registro formal, sem nenhum destaque gráfico.
O embasamento teórico dessa análise vem, principalmente, de Preti (1984,
1996, 1997, 1998, 1999); de Bagno (1999), considerando o preconceito lingüístico;
e de Tarallo (1986), referindo-se à variação lingüística e sociedade. Além dessas
fontes, os dois jornais selecionados possuem manuais de redação e estilo, nos
quais constam recomendações a serem seguidas por seus jornalistas, dentre elas o
não uso de gíria nos textos.
2. A gíria e seus estudos
A gíria, considerada como um conjunto de unidades lingüísticas (itens lexicais
simples ou complexos, frases, interjeições...) que caracterizam um determinado
grupo social, nem sempre mereceu um estudo específico, visto que faz parte,
predominantemente, da modalidade oral da língua e num registro informal. Como,
por tradição, valorizou-se sempre o estudo da língua escrita padrão, não havia
lugar para esse tipo de vocabulário. Isso é o que se pode ver, consultando
gramáticas da língua portuguesa de épocas diversas.
2.1. A gíria na perspectiva gramatical
2
De forma breve, faz-se uma consulta a algumas gramáticas tradicionais de
português, para observar-se o tratamento que é dado à gíria, vocábulo com
empregos e valores afetivos diversos, que contribui para o enriquecimento da
língua portuguesa.
Foram consultadas oito gramáticas, das décadas de 70, 80 e 90 (ver bibliografia),
das quais apenas três mencionam a gíria, dois com um caráter prescritivo e um,
descritivo: 1) Cegalla, em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa
(1985:535), se refere a sete modalidades da língua portuguesa, dentre elas, a
popular, em que a gíria está incluída. Na definição de língua popular, esse autor
afirma: “é a fala espontânea e fluente do povo. Mostra-se quase sempre rebelde à
disciplina gramatical e está eivada de plebeísmos, isto é, de palavras vulgares e
expressões da gíria. É tanto mais incorreta quanto mais incultas as camadas sociais
que a falam”; 2) Rocha Lima, em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa
(1972:05), ao falar da língua-comum (“instrumento de comunicação geral, aceito
por todos os componentes de uma coletividade para assegurar a compreensão da
fala.” p.04) e suas diferenciações, se refere a aspectos que influenciam a língua – o
regional e o grupal – este, subdividido em três modalidades – o calão, a gíria e a
língua profissional. Ao definir gíria, este gramático, preconceituosamente, fala em
“língua especial (...) de um grupo socialmente organizado” com uma “educação
idiomática deficiente”; 3)Bechara, na edição revista e ampliada da sua Moderna
Gramática Portuguesa, (1999:351), cita a gíria apenas como mais uma forma de
renovação lexical, através de um empréstimo feito por uma comunidade lingüística
a outra comunidade lingüística dentro da mesma língua histórica.
Do ponto de vista dos dicionários de língua, não é outra a postura dos
especialistas.O Dicionário de Filologia e Gramática de Mattoso Câmara Jr. (s/d:197)
conceitua gíria como sendo um vocábulo parasita de um grupo com preocupação de
distinguir-se da grande comunidade falante. Este estudioso inclui a linguagem
profissional dentro da gíria mas, como aquela é usada por uma classe “culta”, ela
não tem “qualquer intenção de chiste ou petulância”, que caracteriza a gíria de
classes populares.
O dicionário Michaellis (1998:1034) trata a gíria como uma linguagem
especial de um grupo pertencente a uma classe ou a uma profissão, ou como uma
linguagem de grupos marginalizados. O dicionário Aurélio (1999:989) complementa
a definição acima com a expressão “linguagem de malfeitores, malandros etc”,
usada para não ser entendidos pelas outras pessoas e fala ainda em “calão” e
“geringonça”, que segundo o próprio Aurélio é “coisa malfeita e de duração ou
estrutura precária (op. cit.:984).
Como se pode ver, alguns gramáticos não chegam sequer a mencionar o que seja
gíria, onde encontrá-la ou usá-la e aqueles que a mencionam, tratam-na de forma
preconceituosa, devendo ser eliminada.
2.2. A gíria na perspectiva lingüística
O papel da língua é fundamental nas relações humanas. Essa importância é
acentuada, se se considera que qualquer sociedade depende da língua para
divulgar suas informações – através dos meios de comunicação de massa –, para
construir um sistema literário e cultural, para desenvolver tecnologias, enfim, para
perpetuar-se.
Ao associar-se língua e sociedade, pode-se recorrer à área de estudos
denominada Sociolingüística, que trata da relação entre as variações da estrutura
social e as variações da estrutura lingüística, para observar-se como a gíria é
abordada: é o termo genérico usado para designar o fenômeno sociolingüístico no
3
qual grupos sociais formam um vocábulo próprio que posteriormente pode vazar
dos limites desse conglomerado de pessoas. Muito comumente ela é confundida
com o jargão, porém aquela abrange este, que é o vocabulário técnico de uma
profissão, da mesma forma a gíria abrange o calão, que é a expressão lingüística
grosseira ou obscena.
O Dicionário de Lingüística de Dubois et alii (1973:308) a define como um
“dialeto social reduzido ao léxico, de caráter parasita”. É vista como um vocabulário
marginal, mas também de grupos sociais aceitos ou até mesmo da sociedade em
geral.
Com a introdução dos estudos lingüísticos no Brasil, a gíria passou a ser
analisada, aqui, a partir da década de 70, em uma perspectiva descritiva e não
normativamente como faziam os poucos gramáticos que se dispunham a tratá-la.
Quem mais se destaca, nesse estudo, é o professor Dino Preti, que, com sua equipe
de estudo, contribuiu sobremaneira para quebrar a aura pejorativa que cercava o
vocabulário gírio, até há poucos anos.
Os estudos sociolingüísticos detectam que a maior aceitação da gíria e a
“permissão” concedida a todos os falantes a fazerem uso dela, provêm do
dinamismo por que passa a sociedade moderna, da velocidade das mudanças e do
abandono das tradições. Esses três conceitos são definidores das características da
gíria: dinamismo, mudança, renovação (Preti, 1999).
A gíria, como era relacionada a classes pouco cultas e a grupos
marginalizados, sempre foi cercada por preconceito lingüístico, decorrente de um
problema mais amplo, o preconceito social (Bagno, 1999), advindo do pouco
prestígio social que gozam os supostos falantes de gíria (marginais, travestis,
toxicômanos, pessoas iletradas, entre outros). É verdade que o vocábulo gírio surge
dentro de um grupo social restrito antes de vulgarizar-se na linguagem falada por
toda a comunidade, mas esta comunidade cada vez mais fala gíria, em todos os
seus níveis sociais, etários, econômicos e culturais.
Para Preti (1984), o vocabulário gírio está dividido em duas grandes
categorias: a gíria de grupo e a comum. A primeira categoria é específica de grupos
determinados e na maioria dos casos só é acessível aos iniciados naquele grupo. Já
a gíria comum faz parte da linguagem usada por todas as comunidades lingüísticas.
Ela surge como um signo de grupo (Preti, 1984), mas ao incorporar-se à linguagem
corrente perde seu caráter restrito e torna-se uma gíria comum, utilizada por todos
os falantes da língua popular social. O próximo passo neste processo é a migração
do registro informal para o formal, como o usado pelos meios de comunicação.
Como a língua reflete as transformações sociais de uma comunidade e a
parte da língua mais sensível a esse dinamismo é o léxico, o fato de uma grande
quantidade de gírias de grupo migrarem para a linguagem comum reflete uma
certa flexibilização dos costumes sociais, e uma maior integração entre os
interlocutores é cada vez mais usada na comunicação, principalmente se o caráter
da interlocução é descontraído.
2.3. A gíria na perspectiva didática
A gíria está presente no cotidiano da vida dos membros de uma sociedade,
em seus diversos setores (escola, família, trabalho, lazer, igreja, dentre outros),
embora usá-la adequadamente implique o domínio das diversas variedades
lingüísticas, de modo que para cada situação use-se um registro pertinente.
Devido à presença da linguagem gíria no dia-a-dia e a uma nova concepção de
língua que envolve variações, os livros didáticos de língua portuguesa começam a
tratar a gíria, não mais como algo errado, de forma preconceituosa, mas como uma
outra maneira de se expressar, adequada a situações especiais.
O gramático Roberto Melo Mesquita (1997:28) divide a linguagem em níveis e inclui
a gíria no que ele chama nível relaxado da linguagem, no qual há desvios da
linguagem-padrão. Sua abordagem é de cunho prescritivo. Já Isabel Cabral (1995),
no seu livro didático Palavra Aberta, trata a gíria de uma perspectiva descritiva.
4
Exemplo 1
Situação: um jovem falando com seu pai ao telefone.
O jovem fala: Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... Sempre
batalhei, arrumei um trampo, dou um duro danado! Me empresta o
carango pr’eu sair com a gata hoje?
O pai responde: Só se você conseguir traduzir o que disse para uma
linguagem que eu gosto de ouvir de meu filho!
Exercício: Reescreva a fala do filho provando para seu pai que sabe utilizar
o nível formal da linguagem nas ocasiões em que isto é necessário.
(Cabral, 1995, 8ª série, p.40)
Cabral, recorrendo à contextualização das palavras que aparecem nos textos
principais das unidades, aborda as gírias como pertencentes a contextos
específicos, mostrando com isso que elas podem ser usadas com sentidos diversos,
para tanto, faz uso de alguns exercícios do tipo apresentado abaixo:
Exemplo 2
O livro apresenta a letra de uma música e destaca os seguintes versos:
Leio os roteiros de viagem
enquanto rola o comercial.
A seguir pede-se ao aluno:
a) A palavra que melhor substitui rolar no texto é:
fazer girar passar assistir a
b) No sentido utilizado no texto, rolar é gíria. Escreva uma frase em
que rolar seja usado com o sentido de “fazer girar”.
(Cabral, 1995,7ª série, p.55)
Embora a autora não explique o que é gíria e nem diga em que contexto usá-la,
deixa subentendido que a gíria é uma variação da linguagem e, o mais importante,
não a julga negativamente.
Em outro exercício, o mesmo livro apresenta uma crônica em que aparece a
expressão “Já eram quase três da matina” e pede ao aluno outros exemplos de
linguagem coloquial presentes no texto, demonstrando desta forma que a gíria faz
parte desse tipo de linguagem.
Exemplo 3
Já eram quase três da matina [...]
Dê em seu caderno um outro exemplo de linguagem coloquial presente no
texto.
(Cabral, 1995,7ª série, p.98)
O autor da crônica utilizou muitas palavras próprias da língua coloquial,
bem como gírias, dando um tom informal, ao texto. E a autora da livro didático
explora-as, sem um enfoque normativo, mas de variações de uso.
2.4. A gíria no jornalismo
5
Mesmo surgindo no interior de um grupo social, devido à interação entre as
pessoas de grupos diversos e ao dinamismo social, a gíria migra para a linguagem
comum da sociedade e assim vulgariza-se, tornando-se gíria comum (Preti, 1996),
chegando à imprensa escrita. Em outras palavras, depois de ser usada
exaustivamente pela população, pela tv, pelo cinema etc., a imprensa escrita, que
usaria um registro estritamente formal, incorpora um item nascido coloquialmente,
talvez porque os jornalistas não se dão conta de que estejam usando vocábulos
populares já totalmente integrados a registros formais da língua.
O Manual de Redação e Estilo de O Globo afirma que, quando a gíria
aparece em transcrição de declaração no jornal, ela recebe sempre o negrito como
destaque gráfico. Não contém destaque gráfico a gíria encontrada em artigos,
exceto quando o texto exigir. O manual diz que “em qualquer outra circunstância
não são usados (termos gírios) no GLOBO.”
Apesar dessas recomendações, de caráter normativo como nas gramáticas
tradicionais, em O Globo de 12/02/2000, encontra-se o artigo intitulado “Clinton
anuncia nova taxação de 10% sobre aço”, em que o advogado Charles Verril
declara que
Exemplo 4
As empresas têm sido nocauteadas.
AO REFERIR-SE ÀS ALTAS MULTAS COBRADAS PELO GOVERNO AMERICANO DAS
EMPRESAS QUE EXPORTAM AÇO PARA OS ESTADOS UNIDOS, O ADVOGADO VALEU-SE DE
UMA METÁFORA, USANDO “NOCAUTEADAS” COM O SENTIDO DE “GOLPEADAS”. E A
PALAVRA “NOCAUTEADAS” NÃO APARECE EM NEGRITO COMO AFIRMA O MANUAL DE
REDAÇÃO DO JORNAL.
NO ARTIGO SOBRE POLÍTICA PUBLICADO NO GLOBO EM 16/03/2000,
INTITULADO “SEM CPI, IMPEACHMENT GANHA FORÇA”, ENCONTRA-SE O SEGUINTE
TRECHO:
EXEMPLO 5
(...) SINAIS DE RACHA NA BANCADA GOVERNISTA MOSTRAM QUE É POSSÍVEL A APROVAÇÃO
DO IMPEACHMENT, NO LUGAR DE UMA CPI.
COMO ESSA PARTE DO TEXTO FOI ESCRITA PELO AUTOR DO ARTIGO, NÃO SE
TRATANDO PORTANTO DE UMA DECLARAÇÃO, O MANUAL DO JORNAL NÃO EXIGE DESTAQUE
GRÁFICO PARA O VOCÁBULO GÍRIO (NESTE CASO, RACHA). O TERMO “RACHA” FOI USADO
METAFORICAMENTE PARA REFERIR-SE A “ROMPIMENTO”.
NESTE MESMO ARTIGO ENCONTRA-SE A TRANSCRIÇÃO DA DECLARAÇÃO DO
VEREADOR JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO, DO PT DE SÃO PAULO, NA QUAL ELE DIZ:
EXEMPLO 6
6
VEREADORES GOVERNISTAS COMEÇARAM A BALANÇAR EM FAVOR DA CPI.
MAIS UMA VEZ A GÍRIA (BALANÇAR) NÃO APARECE DESTACADA EM UMA
DECLARAÇÃO E MAIS UMA VEZ OCORREU UMA METAFORIZAÇÃO: “BALANÇAR”
SIGNIFICANDO “POSICIONAR-SE”.
O NOVO MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S. PAULO, NO CAPÍTULO
INTITULADO “TEXTO”, AFIRMA QUE UM BOM TEXTO JORNALÍSTICO “DEVE EVITAR
FÓRMULAS DESGASTADAS PELO USO E CULTIVAR A RIQUEZA DOS VOCÁBULOS ACESSÍVEIS À
MÉDIA DOS LEITORES” (1992:47). MAIS ADIANTE, AO SE REFERIR À GÍRIA, ELE ORDENA
QUE SE “EVITE AO MÁXIMO”, SENDO MANTIDA APENAS EM REPRODUÇÕES DE
DECLARAÇÕES, POIS, SEGUNDO O MANUAL, A GÍRIA BANALIZA O TEXTO E NA MAIORIA DAS
VEZES SEU SIGNIFICADO É RESTRITO A UMA PARCELA DE LEITORES. ESTAS AFIRMAÇÕES
NOS FAZEM SUBENTENDER QUE, PARA O NOVO MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S.
PAULO, O CONCEITO DE GÍRIA É RESTRITO À GÍRIA DE GRUPO, SENDO DESCONHECIDA OU
NÃO LEVADA EM CONSIDERAÇÃO A EXISTÊNCIA DA GÍRIA COMUM. NO ENTANTO, NÃO É
CONDENADO O USO DE TERMOS GÍRIOS E NEM UMA GRAFIA QUE OS MARQUE, O MANUAL
APENAS NÃO RECOMENDA USÁ-LOS.
EM UM DOS EDITORIAIS DA FOLHA DE S. PAULO DE 14/05/2000, INTITULADO
“CAPITAL PARA CRESCER” FOI ENCONTRADO O SEGUINTE TRECHO:
EXEMPLO 7
HOUVE BOLHAS DE CONSUMO, SURTOS DE CRESCIMENTO E APOSTAS NUMA
ECONOMIA MAIS ABERTA(...)
O EDITORIAL É, SUPOSTAMENTE, UM TEXTO NO QUAL É USADO UM DOS REGISTROS
MAIS FORMAIS E UMA LINGUAGEM DAS MAIS SÓBRIAS NO JORNAL. ENTRETANTO, DEPARASE COM A EXPRESSÃO COLOQUIAL “BOLHAS DE CONSUMO”, SIGNIFICANDO “ÁREAS
ISOLADAS DE CONSUMO”.
AINDA NA FOLHA DE S. PAULO, NO CADERNO FOLHA INVEST, DE 03/01/2000,
FOI VISTO UM ARTIGO SOBRE ECONOMIA COM O SEGUINTE TÍTULO:
EXEMPLO 8
SETOR DE TELE (EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES) DO BRASIL É VEDETE NA AL
(AMÉRICA LATINA).
7
ATRAVÉS DE UMA METAFORIZAÇÃO, FOI SUBSTITUÍDA A EXPRESSÃO “SE
SOBRESSAI” POR “VEDETE”.
NA FOLHA DE S. PAULO DE 01/02/2000, FOI ENCONTRADO UM ARTIGO SOBRE
POLÍTICA INTITULADO “FHC DECIDIRÁ AÇÃO CONTRA BRIZOLA, AFIRMA BRINDEIRO” NO
QUAL APARECE A EXPRESSÃO “PASSAR FOGO” DITA PELO PRESIDENTE DO PDT, LEONEL
BRIZOLA:
Exemplo 9
(Leonel Brizola) se disse favorável a “passar fogo” no presidente Fernando
Henrique Cardoso.
A expressão está entre aspas, porque é a transcrição literal das palavras
usadas pelo deputado, conduta esta recomendada pelo manual da Folha (“passar
fogo” significa “atirar com arma de fogo”).
3. Considerações finais
Observa-se que palavras gírias já se apresentam nos textos jornalísticos, e,
em muitos casos, sem nenhuma marca gráfica (do tipo aspas, itálico, negrito) que
demonstre ser um item lexical de um outro registro lingüístico. Com isto, percebese que a gíria de grupo torna-se gíria comum e, por sua força expressiva, termina
sendo utilizada na escrita formal, mesmo quando há recomendações para redigir-se
os textos, como é o caso dos jornais analisados, que têm um manual de redação e
estilo.
O uso da gíria já não causa tanta celeuma em vários setores da sociedade
moderna. Os estudos sociolingüísticos e a flexibilização dos costumes permitem que
o vocabulário gírio seja enfocado didaticamente, como uma opção a mais de
comunicação. O tipo de gíria aceito socialmente é a gíria comum, muito encontrada
até na imprensa escrita, como foi mostrado neste artigo.
Raramente a gíria encontrada nesse tipo de imprensa aparece com algum
sinal gráfico que sinalize a sua concernência a outro registro lingüístico; podemos
até, em certos casos, atribuir isso à não consciência do jornalista ou do revisor de
que se trata de uma expressão gíria. Além da diminuição do preconceito e da
quebra dos tabus, a gíria é mais um recurso que o redator possui, para aproximarse do leitor ou obter o efeito semântico desejado.
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