UFPR – PPGE RECURSOS TECNOLÓGICOS E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ALUNA: LUCIANE MULAZANI DOS SANTOS 03/05/2007 Falando sobre Valente, Freire e o computador Uso do computador na educação. Considerando a forma tão rápida como o computador instalou-se nos vários âmbitos da nossa vida – lazer, trabalho, comunicação – é de se incluir seu uso também a serviço da educação. Já que o computador está presente nos processos relacionados à educação – isso é fato – são vários os pesquisadores que pensam e estudam a respeito de como se dão as relações de ensino e aprendizagem em meios onde o computador é usado. Dentre tais estudos, aparecem os de Valente que tratam da informática na educação sob a ótica do embate instrucionismo x construcionismo. Assim como a discussão “ser instrucional” e “ser construcionista” aparecem nas relações de ensino e aprendizagem ditas convencionais nas quais o computador não está presente, também são levantadas nas chamadas aulas de computador. A questão é: de que forma o professor utiliza o computador em sua aula? (1) como uma máquina de ensinar que só repete, utilizando uma mídia diferente, os métodos de ensino convencionais ou (2) como uma máquina a ser ensinada, a qual ajuda no processo em que o aluno constrói o seu próprio conhecimento? Tratando como Valente trata, a abordagem é instrucionista ou construcionista? Se é instrucionista, o processo trata o conhecimento como sendo o produto do acúmulo de informações que são levadas do professor ao aluno como se fossem tijolos empilhados que constroem uma parede. Seguindo na analogia, o computador tem então o papel de ajudar na construção da parede fornecendo os tijolos de acordo com as demandas dos alunos. Sobre isso, falando agora sobre o pensamento de Freire (1983), lembramos do conceito de “extensão”. Sob esse enfoque, o homem que aprende recebe mecanicamente do homem que ensina as informações que precisa para construir o seu depósito de prováveis conhecimentos. Mas, conhecer não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe. O conhecimento pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica invenção e reinvenção (...) aquele que é “enchido” por outros conteúdos cuja inteligência não percebe, de conteúdos que contradizem a própria forma de estar em seu mundo, sem que seja desafiado, não aprende”. (FREIRE) Esse pensamento de Freire faz com que voltemos ao que diz Valente quando diz que por outro lado, se é construcionista, como denominado por Papert, o computador é programado, é ensinado pelo aluno, que constrói o seu próprio conhecimento. E essa construção do conhecimento ocorre utilizando-se de algum programa de computador que é de interesse do aluno envolvido, o que torna a aprendizagem mais significativa por conta do envolvimento afetivo que ocorre nessa relação. É como se, em vez de se utilizar de tijolos prontos (instrucionista), o aluno pusesse a mão na massa para fazer os tijolos que vão construir a sua parede, a parede que ele tem o desejo de construir. Voltando a Freire, temos que conhecer não é tarefa dos objetos, e sim dos sujeitos e, sendo assim, o homem só pode conhecer se for visto como sujeito. No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele sujeito que se apropria do aprendido e que o transforma em apreendido, com o que pode reinventá-lo. Valente traz para a discussão aspectos importantes para diferenciar essas duas maneiras de construir conhecimento dizendo que a presença do computador contribui para as diferenças entre ambas as abordagens. Sua explicação sobre como se dá a interação com o computador sob a ótica construcionista, fala sobre o caso da resolução de um desenho pela programação do computador usando o Logo gráfico (Tartaruga). A observação desse processo de aprendizagem mostrou a importância da linguagem como mediadora na interação do aluno com o computador. Cada novo passo da Tartaruga em sua tarefa de desenhar é definido pelo aluno que reflete sobre cada nova situação que se apresenta, o que leva o aluno a modificar e depurar o programa, utilizando-se da linguagem de programação, sempre que assim o desejar e quando achar necessário. Sua ação é, assim, uma ação reflexiva que sai em busca de soluções, de encontrar alternativas, de aplicar estratégias. Entretanto, aluno e computador sozinhos não dariam conta de tal atividade da forma como foi realizada. Foi preciso – e é importante – a presença e a mediação por um professor que também conhece a linguagem de programação utilizada tanto do ponto de vista computacional, quanto do pedagógico e do psicológico. Um ponto importante indicado é que os termos de comando do programa são simples, precisos, formais, fáceis de serem assimilados, pois são semelhantes aos termos usados no dia-a-dia. Isto facilita a relação do aluno com o computador no desempenho das tarefas solicitadas e, conseqüentemente, com o conhecimento a ser construído. Além disso, considerando esta relação como parte de um processo de aprendizagem, é fundamental que se veja o aluno como um ser social que faz parte de uma cultura própria que é formada pelo contexto – cultural, social, econômico – em que esse aluno vive. Todos os elementos de seu contexto podem servir ao aluno como fonte de idéias, de conhecimentos e de situações-problema a serem resolvidas com o uso do computador. O meio pode ser o gerador de uma situação em que se dê a aprendizagem. Essa questão vai de encontro ao que Freire diz quando defende que o professor, quando efetiva uma ação educadora, deve estabelecer a comunicação com um ser concreto, inserido em uma realidade histórica e também quando diz que só aprende verdadeiramente aquele que consegue aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas. Outra questão apontada é que o tipo de tarefa que foi feita só foi possível de ser realizada dessa forma por ter sido feita com a mediação do computador. Pensando que o ato de aprender é um ato de pensar, retomamos Freire (p. 44) quando diz que “Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto pensado, me mediatiza o primeiro sujeito do segundo, e a comunicação entre ambos, que se dá através de signos lingüísticos.” Desta forma, o mundo humano é um mundo de comunicação. Se o computador faz parte desse mundo de comunicação, seu papel como mediador deve estar inserido em uma abordagem segundo a qual nenhum sujeito é passivo, segundo a qual a educação é comunicação, é diálogo e não transferência de saber, acúmulos e empilhamento de informações na cabeça de quem aprende. Referências Valente, J. A. Informática na educação: instrucionismo x construcionismo. Disponível em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/tecnologia/tec03a.htm Freire, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.