Epilepsia

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Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Psicofarmacologia II/ prof Fernanda Quaresma de Araujo
Epilepsia / Conceitos_ Fármacos antiepilépticos
Introdução
O que significa epilepsia? A palavra epilepsia é derivada do grego, no qual significa
uma condição de tornar-se dominado, apanhado ou atacado. O povo usava-a por
acreditar que as crises eram causadas por um demônio. Assim a epilepsia tornou-se uma
doença sagrada. Esta é a base para os mitos e medos que cercam a epilepsia, e que
influenciam as atitudes populares no sentido de dificultar ainda mais o alcance de uma
vida normal para os portadores da mesma.
A palavra epilepsia não significa mais do que uma tendência para ter crises.
Epilepsia é uma condição neurológica que de tempo em tempo produz breves distúrbios
nas funções elétricas cerebrais normais. A função cerebral normal é garantida por
milhões de pequenas cargas elétricas passando entre células nervosas no cérebro e em
todas as partes do corpo. Quando alguém tem epilepsia, este padrão normal pode ser
interrompido por surtos intermitentes de energia elétrica muito mais intensa do que o
habitual. Isto pode afetar a consciência da pessoa e provocar movimentos corporais ou
sensações por curtos períodos de tempo. Estas mudanças fisiológicas são chamadas de
crises epilépticas.
Conceitos
Epilepsia é uma doença neurológica crônica, podendo ser progressiva em muitos casos,
principalmente no que se relaciona a alterações cognitivas, freqüência e gravidade dos
eventos críticos. É caracterizada por crises convulsivas recorrentes, afetando cerca de
1% da população mundial.
É uma alteração do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre,
drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do
cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se
Uma crise convulsiva é uma descarga elétrica cerebral desorganizada que se propaga
para as regiões do cérebro, levando a uma alteração da atividade cerebral. Pode- se
manifestar como uma alteração comportamental, na qual o indivíduo pode falar coisas
sem sentido, por movimentos estereotipados de um membro, ou mesmo através de
episódios nos quais o paciente parece ficar "fora do ar", no qual ele fica com o olhar
parado, fixo e sem contato com o ambiente.
A epilepsia é caracterizada por crises epilépticas repetidas e não é contagiosa. Às vezes,
a pessoa com epilepsia perde a consciência, mas às vezes experimenta apenas pequenos
movimentos corporais ou sentimentos estranhos. Porém, sintomas menores não
significam que a crise seja de menor importância. Se as alterações epilépticas ficam
restritas a uma parte do cérebro, a crise chama-se parcial; se o cérebro inteiro está
envolvido, chama-se generalizada. Crises parciais simples não ocasionam a perda da
consciência e caracterizam-se por distorções na percepção auditiva ou visual,
desconforto estomacal, sensação súbita de medo e/ou movimentos estranhos de uma
parte do corpo. Se uma crise parcial complexa ocorre a seguir, essas sensações são
denominadas "aura". Crises parciais complexas são crises que, como as parciais
simples, iniciam-se em um foco determinado no cérebro, mas espalham-se para outras
áreas, causando perturbação da consciência. A pessoa aparenta estar confusa e pode
caminhar sem rumo, falar sem coerência, salivar em excesso, morder a língua e realizar
automatismos, como puxar a roupa ou virar a cabeça de um lado para outro repetidas
vezes.
As “Crises de ausência” constituem-se por lapsos de consciência que, em geral, duram
de cinco a 15 segundos. O paciente fica olhando para o nada e pode virar os olhos,
embora seja capaz de retomar normalmente sua atividade depois do episódio. Essas
crises não são tipicamente precedidas por aura e costumam ocorrer na infância,
desaparecendo por volta da adolescência. Crises tônico-clônicas são convulsões
generalizadas, com perda de consciência, que envolvem duas fases: na fase tônica, o
corpo da pessoa torna-se rígido e ela cai. Na fase clônica, as extremidades do corpo
podem contrair-se e tremer. A consciência é recuperada aos poucos. Apesar de ser o tipo
mais óbvio e aparente de epilepsia, não é o mais comum. Existem, ainda, várias outras
manifestações de epilepsia. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa
recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.
O mecanismo desencadeador das crises pode ser multifatorial. Em muitas pessoas, as
crises convulsivas podem ser desencadeadas por um estímulo visual, auditivo, ou
mesmo por algum tipo específico de imagem. Nas crianças, podem surgir na vigência de
febre alta, sendo esta de evolução benigna, muitas vezes não necessitando de
tratamento. Em alguns pacientes, as crises são desencadeadas por luzes piscantes, certos
tipos de ruídos, leitura prolongada, privação de sono, fadiga, uso de álcool,
hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) etc. Álcool, determinados
medicamentos ou ingredientes alimentares podem interagir com as drogas antiepiléticas
e precipitar crises.
Nem toda crise convulsiva é caracterizada como epilepsia. Para tal, é preciso que o
indivíduo tenha apresentado, no mínimo, duas ou mais crises convulsivas no período de
12 meses, sem apresentar febre, ingestão de álcool, intoxicação por drogas ou
abstinência, durante as mesmas.Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se
"desligada" por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em
crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de
percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Ele pode sentir um
medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se,
além disso, perder a consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do
episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de
memória. Tranqüilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Quando elas duram mais
de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo
prejudicar as funções cerebrais.
Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas que auxiliam
no diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito importante, já que
exames normais não excluem a possibilidade de a pessoa ser epiléptica. Se o paciente
não se lembra das crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na
investigação do tipo de epilepsia em questão e, conseqüentemente, na busca do
tratamento adequado.
Tratamento farmacológico
O tratamento da epilepsia é realizado através de medicações que possam controlar a
atividade anormal dos neurônios, diminuindo as cargas cerebrais anormais. Existem
medicamentos de baixo custo e com poucos riscos de toxicidade. Geralmente, quando o
neurologista inicia com um medicamento, só após atingir a dose máxima do mesmo, é
que se associa outro , caso não haja controle adequado da epilepsia.
Mesmo com o uso de múltiplas medicações, pode não haver controle satisfatório da
doença. Neste caso, pode haver indicação de cirurgia da epilepsia. Ela consiste na
retirada de parte de lesão ou das conexões cerebrais que levam à propagação das
descargas anormais. O procedimento cirúrgico pode levar à cura, ao controle das crises
ou à diminuição da freqüência e intensidade das mesmas.
Existem vários grupos de medicamentos eficazes no controlo de diferentes formas de
epilepsia. A eficácia da terapêutica antiepiléptica depende em parte do tipo de crises.
Alguns medicamentos estão indicados apenas num tipo de crise.As drogas
antiepilépticas são eficazes na maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido
diminuídos. Os mecanismos de ação dos medicamentos antiepilépticos podem ser
sistematizados em 3 categorias principais. Os medicamentos eficazes no controlo das
crises mais comuns, isto é, as parciais e as generalizadas tonico-clônicas, atuam quer
por promover o estado inativado dos canais de sódio, quer por potenciar a transmissão
inibitória mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA). Os medicamentos úteis no
controle das crises menos freqüentes, como é o caso das ausências, interferem com os
canais de cálcio.
O conjunto dos medicamentos antiepilépticos divide-se nos seguintes grupos:
fenitoínas, barbitúricos (fenobarbital, primidona), iminostilbenos (carbamazepina,
oxicarbamazepina), ácido valpróico / valproato de sódio, oxazolidinedionas
(trimetadiona), benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, clorazepato dipotássico e
lorazepam)
e
outros
(gabapentina,
lamotrigina,
vigabatrina).
De uma forma geral, o efeito ansiolítico dos benzodiazepínicos é útil no tratamento de
doentes epilépticos. Porém, nem todas os benzodiazepínicos são antiepilépticos sendo
abusivo esperar ação antiepiléptica para um determinado benzodiazepínico que não
demonstrou possuir especificamente esse efeito, aplicando-se o mesmo princípio aos
barbitúricos. Por esta razão, os benzodiazepínicos serão apresentadas no grupo dos
ansiolíticos-hipnóticos.
Alguns
dos
medicamentos
inicialmente
desenvolvidos
como
antiepilépticos
demonstraram, posteriormente, serem eficazes no tratamento de outras patologias.
Assim, a carbamazepina e o valproato têm indicação como estabilizadora do humor na
doença bipolar. Também a gabapentina e a carbamazepina têm eficácia no tratamento
da dor neuropática.
Tratamento alternativo - Dieta Cetogênica
É uma forma de tratamento para epilepsia à base de dieta muito rica em gorduras e
pobre em proteínas e carboidratos. Este tipo de tratamento foi baseado em observações
feitas desde a antiguidade que o jejum melhorava as crises epilépticas. A dieta
cetogênica foi desenvolvida por Wilder em 1921 numa tentativa de simular os efeitos do
jejum sobre a epilepsia.
Em condições normais o corpo humano (inclusive o cérebro) utiliza a glicose como o
substrato para produzir energia, porém ao iniciar o jejum, as reservas de glicose no
nosso corpo duram em torno de 24 horas. Após este período o corpo começa a usar a
gordura como substrato energético e produzir "cetonas" como produto de degradação da
gordura.Entretanto hoje ainda não se sabe qual o mecanismo de ação da dieta cetogênica
na diminuição das crises epilépticas. Geralmente a dieta cetogênica é aplicada a crianças
entre 2 a 6 anos de idade, portadores de crises tônico-clônicas. É muito difícil manter a
dieta cetogênica para crianças abaixo de 2 anos e também para crianças acima de 6
anos, estas porque tendem a ser mais rebeldes para seguir a dieta.Aparentemente a dieta
cetogênica não é tão efetiva nas crises parciais e nas crises de ausência.
Comordidades
Pessoas com epilepsia podem desenvolver depressão ou ansiedade por razões biológicas
e sociais. Algumas desordens críticas de longa duração e pobremente controladas pela
medicação podem associar-se com mudanças crônicas de personalidade. Alguns
pacientes com crises do lobo temporal podem apresentar, após as crises, episódios de
curta duração de descontrole emocional ou dificuldade de pensamento. Embora a
epilepsia seja um problema médico, a pessoa com epilepsia precisa também fazer alguns
ajustes emocionais. O primeiro passo é a aceitação do diagnóstico.Inicialmente, pessoas
com epilepsia e seus familiares podem ficar chocados ou negarem o fato. Raiva, medo e
depressão são também comuns. Contudo, com informação e suporte terapêutico,
pessoas com epilepsia podem compreender a condição e desenvolver estratégias
positivas. É importante lembrar que pessoas com epilepsia podem viver plena e
produtivamente.
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