A EXPANSÃO COLONIAL PORTUGUESA NA AMÉRICA Durante os primeiros tempos de colonização, a ocupação portuguesa limitou-se à faixa do litoral Atlântico. A partir das últimas décadas do século XVI, ao mesmo tempo que expulsaram franceses e holandeses, os portugueses deram início à exploração do interior do território. Colaborou para isso a ação dos bandeirantes e missionários, assim como a expansão das atividades econômicas, sobretudo a da pecuária. Nesse processo de expansão, o período de união das coroas portuguesa e espanhola contribuiu para a flexibilização dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. A união entre Portugal e Espanha Como vimos no capítulo anterior, com a morte do rei de Portugal em 1580, o rei da Espanha, Filipe II, assumiu o governo do vasto império português, incluindo a colônia na América. Esse período ficou conhecido como União Ibérica. Durante os sessenta anos em que o governo da Espanha exerceu domínio sobre Portugal (1580-1640), muitas mudanças ocorreram no território colonial português que hoje forma o Brasil. As principais foram: ● Portugueses e espanhóis lutaram contra os franceses e consolidaram a posse de vastas áreas do litoral do Norte e Nordeste; ● Holandeses, que estavam em guerra contra a Espanha, invadiram e ocuparam o Nordeste durante 24 anos ( 1630-1654); ● Diversas expedições - as bandeiras - penetraram no interior da América procurando indígenas para escravizar, bem como pedras e metais preciosos; assim, avançaram em terras que, pelo Tratado de Tordesilhas, pertenciam à Espanha; ● Em 1621, as terras da colônia foram divididas em dois Estados: o Estado do Maranhão, com capital em São Luís, e o Estado do Brasil, com capital em Salvador. Apesar do domínio espanhol, grande parte da estrutura administrativa portuguesa foi mantida. Assim, o governo da colônia conseguiu ter bastante autonomia. Mas a União Ibérica provocou, como uma de suas principais conseqüências, a invasão da América pelos holandeses. Como vimos no capítulo 16, a Holanda era o principal parceiro de Portugal na produção de açúcar. A atividade era muito lucrativa para os holandeses, mas, com a União Ibérica, os negócios ficaram ameaçados. Na época, a Holanda lutava para conquistar sua independência política, pois, assim como os portugueses, fazia parte dos domínios espanhóis. Buscando encontrar outras opções para manter o lucro que obtinha com o açúcar, a Holanda assumiu o controle de todas as etapas de produção e distribuição do açúcar no Nordeste da colônia e dos entrepostos de escravos na África. O domínio holandês A ocupação holandesa no Nordeste foi organizada pela Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa formada por particulares, mas com forte apoio do governo holandês. A primeira tentativa de ocupação do Nordeste ocorreu na Bahia, entre 1624 e 1625. Expulsos da Bahia, voltaram sua atenção para Pernambuco, a capitania que mais produzia açúcar na época. Para conquistar Pernambuco, os holandeses contaram com o apoio de um grande conhecedor da região, Domingos Fernandes Calabar, que se aliou a eles. De Pernambuco estenderam seus domínios sobre grande parte do litoral nordestino e dominaram a região por 24 anos. Os senhores de engenho não ofereceram resistência ao domínio holandês, pois a eles interessava a produção de açúcar, não importando para quem. Os holandeses foram ampliando suas conquistas sobre uma grande área do Nordeste, à qual deram o nome de Nova Holanda. Só em 1654 os habitantes da região conseguiram expulsá-Ios. O governo de Maurício de Nassau Em 1637, Maurício de Nassau foi enviado pela Companhia das Índias Ocidentais como governador das terras holandesas nas terras americanas. Além de manter a aliança com os senhores de engenho, Nassau trouxe cientistas e artistas para estudarem e retratarem a natureza tropical da América. Cuidou da infra-estrutura de Recife, construindo pontes e obras sanitárias. A aliança com os senhores de engenho não durou muito. Em 1642 a Companhia das Índias Ocidentais tomou algumas medidas que Ihes desagradaram, dentre elas, podemos citar: ● Tentou forçá-Ios a aumentar a produção de açúcar; ● Passou a cobrar as dívidas atrasadas e a confiscar as propriedades de quem não as pagava; ● Aumentou os impostos. Maurício de Nassau, que era contra essas medidas, pediu demissão de seu cargo de governador. Alguns senhores de engenho, descontentes com a situação, iniciaram uma guerra contra os holandeses. Foi a Insurreição Pernambucana. As duas principais batalhas ocorridas durante a Insurreição Pernambucana, em que os holandeses foram derrotados, aconteceram nos montes Guararapes, em 1648 e 1649. Mas eles só deixaram a colônia em 1654. Nessa época Portugal tinha recuperado sua autonomia, colaborando na fase final com os colonos para a expulsão dos holandeses. Expulsos de Pernambuco, os holandeses se fixaram nas Antilhas, onde construíram engenhos para a fabricação de açúcar. Isso acabou contribuindo para a decadência da economia açucareira na colônia portuguesa. Fim da União Ibérica Em 1640, quando Portugal reconquistou a autonomia política em relação à Espanha, seu governo estava mais pobre do que antes. Os portugueses precisavam encontrar uma maneira de explorar novas riquezas em sua colônia americana, para reequilibrar sua economia destruída durante os anos de domínio espanhol. O governo adotou várias medidas com esse objetivo: ● Procurou recuperar parte dos territórios coloniais perdidos; ● Criou o Conselho Ultramarino, destinado a controlar as colônias; ● Comprou os direitos hereditários dos capitães-donatários sobre suas capitanias: em 1759, todas as capitanias pertenciam ao rei; ● Tirou a autoridade e a independência das câmaras municipais; ● Incentivou ainda mais as expedições de exploração do território. Os bandeirantes Com o objetivo de buscar novas riquezas e explorar o interior do continente, durante o século XVII, numerosas expedições armadas, organizadas por particulares e autorizadas pelo governo português, saíram do litoral e avançaram para o sertão. Eram as bandeiras. A maioria partia de São Paulo. Houve dois tipos principais de bandeiras: ● As de apresamento de indígenas, que predominaram na primeira metade do século XVII; ● As que procuravam ouro, prata e pedras preciosas, mais freqüentes na segunda metade do século XVII. Havia também as expedições organizadas pelas autoridades portuguesas. Chamavam-se entradas e tinham por objetivo encontrar ouro e outras riquezas minerais. Costumavam partir da Bahia. Durante a primeira metade do século XVII, devido à ocupação dos entrepostos de escravos na África pelos holandeses, os traficantes de escravos passaram a enviar menos africanos para o Brasil. Por isso, os grandes proprietários de terra fizeram uso da escravidão indígena para realizar o trabalho em suas propriedades, o que deu grande impulso à atividade dos paulistas, que intensificaram as expedições de apresamento de indígenas para vendê-Ios a esses proprietários. Os bandeirantes tiveram muitos atritos com os padres jesuítas, pois invadiam e destruíam as reduções (aldeamentos organizados pelos jesuítas onde reuniam os indígenas para catequizá-Ios). Leia a seguir um trecho de uma carta escrita pelo padre jesuíta Antônio Vieira (1608-1697), na qual ele denuncia a ação dos bandeirantes: “O modo como os índios recebiam os portugueses era comumente de paz e só com sinais de grande espanto, que Ihes causava a novidade de gente que nunca tinham visto. Outros havia que tomavam as armas e se punham em defesa de suas casas. Eu perguntei a um dos cabos dessa entrada o que faziam com eles. Respondeu-me o cabo com grande paz de alma: ‘A esses dávamo-Ihes tiros, caíam uns, fugiam outros. Entrávamos na aldeia, tomávamos aqueles que queríamos, metíamo-Ias nas canoas e prosseguíamos a nossa viagem’. Isto me respondeu este capitão como se contara uma ação muito louvável; e assim fala toda esta gente nos tiros que deram; nos que fugiram, nos que alcançaram, nos que escaparam, nos que mataram, como se falassem de uma caçada e não valessem mais as vidas dos indígenas que as dos animais. Por que são concedidos aos sertanistas de São Paulo estes privilégios? Declaram eles mesmos que o ouro que se tira das minas de São Paulo compra ministros e governadores. O certo é que os maiores autores destes delitos vão à corte e vivem na corte. Se os reis não impedirem estas tiranias, não há que esperar que os autores delas se emendem.” A ação dos bandeirantes contribuiu para a ocupação do interior do território pelos portugueses. Ao avançar pelos sertões, eles criaram condições para o surgimento de pequenos povoados, que depois deram origem a vilas e cidades. A atividade dos bandeirantes foi facilitada pela União Ibérica. Durante esse período, os portugueses não encontraram resistência da parte dos espanhóis e, assim, penetraram no continente em direção às regiões produtoras de metais preciosos controladas pelos espanhóis, em Potosí, na região da atual Bolívia. Explorando o interior do continente, os bandeirantes realizaram o maior desejo do governo português: encontraram ouro. ATIVIDADES 1. O que foi a União Ibérica? 2. Explique o que eram as entradas e as bandeiras.