Área de Trabalho CIÊNCIAS HUMANAS Título ANÁLISE E INTERVENÇÃO EM PROCESSOS GRUPAIS E SEU PAPEL NA ARTICULAÇÃO DE INICIATIVAS COMUNITÁRIAS Nome do aluno CARINE MARIA CERQUEIRA SANTOS Orientador Prof. Dr. ALCIDES SANTOS CALDAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA COMUNICAÇÃO UNIVERSIDADE SALVADOR Co-orientadora Prof. RENATA CAMAROTTI RIBEIRO Agência de Fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa analisar estratégias para a articulação comunitária, a partir do acompanhamento de um grupo produtivo comunitário e da introdução de técnicas de decisão e auto-regulação [4] enquanto “dispositivos agregadores” de lideranças comunitárias e moradores do bairro da Mata Escura, como parte das ações do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais – LTECS, parceria entre os Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador – UNIFACS, do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e do Núcleo de Estudos e Práticas Psicológicas – NEPPSI/ UNIFACS . O LTECS tem como missão articular as demandas sociais, culturais, econômicas e ambientais através do desenvolvimento de projetos de inclusão social e redução das desigualdades sócioespaciais, com o apoio dos setores público e privado, de modo a contribuir para o desenvolvimento local. A discussão em torno da aplicação dos conhecimentos teóricos e empíricos das ciências humanas no campo social comunitário tem dado origem a novos modos de conhecimento correspondentes a paradigmas geradores de novas metodologias de investigação e procedimentos de análise de informações. Neste contexto, uma das esferas a serem consideradas no âmbito das práticas sociais é a importância da participação nas decisões relacionadas à planificação e execução de políticas que beneficiem a população em geral, de modo a evitar a reprodução das formas de exclusão. Na busca de alternativas que possibilitem um processo democrático, as cooperativas de trabalho e as redes comunitárias [1] tem sido concebidas como espaços que possibilitam o exercício da participação política e democrática, estimulando processos de autogestão. É relevante questionar em que medida estas iniciativas tem proporcionado a participação efetiva na definição de objetivos e na proposição de planos de ação. Entendendo educação cooperativa, como “conteúdos de um processo que levem a pensar, sentir, ver, julgar e agir cooperativamente”.[3] A articulação e o acompanhamento de grupos a partir da Psicologia Social Comunitária têm sido apontados como elementos significativos para a criação das condições de participação em contextos comunitários, sendo considerados facilitadores da operatividade destes grupos [4], que resultariam no desenvolvimento de tecnologias sociais, “definidas como um conjunto de técnicas e procedimentos, associados às formas de organização coletiva, que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida”. [5] 2 METODOLOGIA A metodologia utilizada é a pesquisa participante, com foco no componente político que possibilita discutir a importância do processo de investigação, tendo por perspectiva a intervenção na realidade social, que segundo HAGUETE (1987, p.149-150) pretende, de forma concomitante, um processo de geração de conhecimento, um processo educativo de intertransmissão e um processo de mudança imediata e projetiva. Para isso, a presente pesquisa analisa as possibilidades de intervenção em um processo grupal / comunitário e os desdobramentos advindos destas práticas com vistas à participação efetiva de seus membros, a partir da consideração de que uma intervenção, de acordo com PRADO (2001) deve: compreender os processos articulatórios da criação de identidades coletivas a partir das ações coletivas; compreender os fatores psicossociais que incidem sobre os fenômenos da reivindicação social e da participação social através das ações coletivas; valorizar e estudar o que deveria ser o princípio de uma sociedade democrática: o surgimento de novos sujeitos políticos, que de acordo com seu tempo histórico, surgem e organizam-se em identidades coletivas, criando novas formas de ação coletiva. A pesquisa vem sendo realizada a partir do acompanhamento de um grupo de mulheres, residentes no bairro da Mata Escura – Salvador/Ba, que pretendem constituir uma cooperativa de costura e artesanato – a griffe Mata Escura. O grupo conta com a intervenção de uma psicóloga que realiza trabalho de assessoria visando criar, manter e fomentar a comunicação, fazendo coincidir didática, aprendizagem, comunicação e operatividade. [4] Os dados vem sendo obtidos através da interação com o grupo, da observação, da elaboração de diário de campo e da utilização de fontes secundárias (relatórios, documentos de avaliação, etc.) que colaboram para a compreensão do cotidiano comunitário, estando prevista a realização de entrevistas com as costureiras participantes da iniciativa, em momentos distintos da trajetória do grupo, com o objetivo de perceber a visão das integrantes sobre a experiência de constituição de um empreendimento coletivo. 3 RESULTADOS PARCIAIS Processo participativo das costureiras da Mata Escura ampliado no que diz respeito ao desenvolvimento de ações visando à melhoria de suas condições de vida – Realização de reuniões semanais do grupo de costureiras onde são definidas as ações necessárias à constituição da cooperativa, possibilitando a participação de todas as integrantes do grupo e a emergência de temáticas prioritárias para análise e intervenção da coordenação. Fortalecimento da identidade local – Realização de discussões sobre a forma como o bairro é visto pelos seus moradores e pelos moradores de outras localidades devido à necessidade de estabelecer um nome para a cooperativa. Novas lideranças comunitárias identificadas e atuando em rede - Algumas integrantes assumem de forma diferenciada as tarefas necessárias para a constituição da cooperativa, participando de reuniões com outros grupos , lideranças do bairro e possíveis financiadores para o empreendimento . Cooperativa de costureiras da grife Mata Escura implementada através da auto-gestão - O grupo tem organizado e realizado ações para o levantamento de recursos iniciais para o funcionamento do empreendimento. Aspectos psicossociais do funcionamento de grupos produtivos em fase de identificação e análise – O principal aspecto identificado até o momento refere-se à insatisfação das costureiras que estão empenhadas na constituição da cooperativa em relação às integrantes que demonstram menor grau de engajamento e aguardam o início das atividades diretamente relacionadas à costura / perspectiva concreta de renda para fazerem parte do grupo. Elementos metodológicos e estratégias de intervenção em fase de sistematização e análise – Principais elementos identificados: Construção coletiva das pautas a serem discutidas nas reuniões semanais; análise coletiva do processo de confecção de produtos para bazares e feiras como estratégia para discussão acerca da dinâmica grupal; estímulo ao contato com possíveis financiadores visando à autonomia do grupo; definição de tarefas envolvendo o maior número possível de integrantes; convocação de reunião geral para reafirmação do interesse e compromisso do grupo em relação a todas as ações necessárias à constituição da cooperativa. 4 BIBLIOGRAFIA [1] FREITAS, Maribel Gonçalves de & MONTERO, Maritza (2003). “Las redes comunitárias” in: Teoria y Practica de la Psicologia Comunitária – La Tensión entre comunidad y sociedad. 1ª ed. Buenos Aires: Paidós, 2003. [2] HAGUETE, Teresa M. F. Metodologias Qualitativas na Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1987, 163p. [3] LIMBERGER, E. Cooperativa – empresa socializante. Porto Alegre: Imprensa Livre, 1996, p.267 [4] PICHON-RIVIÈRE, E. O Processo Grupal. Martins Fontes, São Paulo, 1998. [5] PEDREIRA, Juçara at all. Tecnologia Social: Uma estratégia para o desenvolvimento, fundação Banco do Brasil, RJ, 2004.