Aula 5: Mitocôndrias e a Respiração Celular A respiração celular é o processo que, através da destruição de cadeias carbônicas de moléculas orgânicas, a energia química é liberada às reações do metabolismo. Pode ser: aeróbia (realizada pela maioria dos seres vivos, que se processa parte no citoplasma e parte no interior da mitocôndria) e anaeróbia (realizada por alguns micro-organismos e algumas células de organismos superiores, que se processa inteiramente no citoplasma). Nesta fase ocorre também desidrogenação com formação de 2 NAD2H. Assim, temos: Mitocôndria É uma organela delimitada por duas membranas semelhantes à plasmática. A membrana interna possui dobras, chamadas cristas mitocondriais. Entre as cristas está uma solução coloidal idêntica ao citoplasma, chamada matriz mitocondrial. Na matriz e na membrana interna encontram-se várias enzimas responsáveis pelas reações químicas da respiração. A vantagem das cristas é aumentar a superfície de enzimas sem aumentar o tamanho da mitocôndria. Na matriz encontramos DNA, RNA e ribossomos; logo, as mitocôndrias possuem equipamento próprio para a síntese de proteínas (enzimas respiratórias) e são capazes de se autoduplicar, garantindo que o seu número se mantenha constante nas células. É bem provável que as mitocôndrias sejam bactérias primitivas que, no passado, teriam invadido as células, passando a viver harmonicamente com elas. Esta é a Teoria da Endossimbiose, e suas evidências são: 1) autonomia reprodutiva das mitocôndrias; 2) presença de DNA circular e ribossomos 70 S, típico de organismos procariontes; 3) semelhança entre as cristas mitocondriais e os mesossomos das bactérias; 4) alguns antibióticos (ex: cloroanfenicol) inibem a síntese de proteínas no interior das mitocôndrias. Membrana interna 2) Ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico: Ocorre na matriz mitocondrial. Neste ciclo, as 2 moléculas de ácido pirúvico serão desidrogenadas (realizadas pelo NAD e FAD [flavina adenina dinucleotídeo]) e descarboxiladas (retiradas de moléculas de CO2 do ácido pirúvico por enzimas denominadas descarboxilases) gradativamente. Antes de iniciar o ciclo, o ácido pirúvico é preparado para o Ciclo de Krebs, sendo descarboxilado e desidrogenado, formando 1 NAD2H e 1 CO2, ele se reúne a uma substância chamada coenzima A (CoA), formando o acetil-Coa (2 C). O acetil-Coa, se liga a um composto de 4C existente na matriz mitocondrial, o ácido oxaloacético, resultando em um composto de 6C, o ácido cítrico. O ácido cítrico sofre desidrogenações e descarboxilações, resultando em vários compostos intermediários e, no final do processo, o ácido oxaloacético é regenerado e devolvido à matriz. Durante estas transformações, são produzidas 3 NAD2H, 1 FAD2H, 2 CO2 e 1 GTP (guanosina trifosfato), que se transforma em ATP. Tem-se então como saldo: 4 NAD2H, 1 FAD2H, 3 CO2 e 1 ATP para cada molécula de ácido pirúvico que inicia o processo. Resumidamente, temos: Membrana externa Cristas Matriz NAD2H NAD2H CO2 Respiração Aeróbia Na respiração aeróbia, as moléculas orgânicas interagem com o oxigênio, produzindo gás carbônico e água. A quebra das cadeias das moléculas orgânicas é feita gradativamente, liberando energia em pequenas parcelas. A principal molécula utilizada pelas células é a glicose (C 6H12O6) e o processo pode ser resumido pela reação abaixo: C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O + ENERGIA A energia armazenada nas ligações químicas da glicose é liberada através de oxidações (perda de elétrons) sucessivas. Estas reações ocorrem por retiradas de átomos de hidrogênio da molécula – uma série de desidrogenações sucessivas, catalisada por enzimas chamadas desidrogenases, que possuem como coenzima o grupamento NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo). O NAD recolhe estes átomos de hidrogênio, que passam por várias substâncias intermediárias, liberando energia gradativamente, até reagirem por fim com o oxigênio absorvido do ambiente, formando água. A energia liberada é armazenada em uma molécula de ATP (adenosina trifosfato). Quando uma molécula precisa de energia para realizar algum trabalho, o ATP cede o seu terceiro fosfato, rico em energia, e transforma-se em ADP. O ATP pode ser regenerado através de reações de fosforilação do ADP. 3) Cadeia Respiratória ou Fosforilação Oxidativa: Ocorre nas cristas mitocondriais. Nesta etapa, os elétrons dos átomos de H retirados pelo NAD serão transportados por várias moléculas intermediárias (entre elas, a coenzima Q ou ubiquinona, e os citocromos) até o oxigênio. Com ele, formam água e grande quantidade de moléculas de ATP: A respiração aeróbia compreende 3 etapas: 1) Glicólise: Ocorre no hialoplasma celular e consiste na quebra parcial da glicose em 2 moléculas de ácido pirúvico (C3H4O3), liberando energia suficiente para a produção de 4 ATP. Entretanto, são gastos 2 ATP para ativar a glicólise, restando então o saldo de 2 ATP. Durante o trajeto, os elétrons formam com os transportadores compostos cuja quantidade de energia é menor do que a do transportador anterior. Assim, teremos uma liberação de energia em etapas, utilizada para a síntese de ATP. Por fim, estes elétrons reduzirão o oxigênio (aceptor de elétrons definitivo), formando a água. Assim, o O2 precisa ser continuamente fornecido à célula: se parar, os transportadores permanecem reduzidos, sem condições de receber novos H+, o que interrompe toda a cadeia respiratória. FAD2H NAD2H CO2 ATP Neste caminho: 1 NAD2H → 3 ATP 1 FAD2H → 2 ATP Assim, temos um saldo de 38 ATP para cada molécula de glicose, conforme o quadro seguinte: Hidrogênios ATP Glicólise 2 NAD2H 4 ATP Ciclo de Krebs (2 voltas) 8 NAD2H 2 FAD2H 2 ATP Cadeia Respiratória 10 NAD2H 2 FAD2H 30 ATP 4 ATP Total - 40 ATP Gasto Inicial - 2 ATP 38 ATP* Saldo * No fígado e coração; em células musculares e nervosas, os átomos de H retirados durante a glicólise perdem energia ao atravessar a membrana mitocondrial e o rendimento é de 36 ATP. Respiração Anaeróbia ou Fermentação Processo de quebra da glicose sem a presença de oxigênio do ambiente. Na respiração anaeróbia, por não ter o oxigênio como aceptor final de elétrons, as bactérias podem utilizar outras moléculas, como NO3- (Nitrato) e S (enxofre). Na respiração anaeróbia pode ocorre também a liberação de gás metano (CH4). O processo mais conhecido de respiração anaeróbia é a fermentação. Ela pode ser de 2 tipos: lática e alcoólica. Na fermentação, a quebra da glicose termina na glicólise. Os organismos que a realizam podem ser: - Anaeróbios Estritos ou Obrigatórios – não possuem as enzimas responsáveis pelas reações químicas do Ciclo de Krebs e da Cadeia Respiratória, e não sobrevivem em presença de oxigênio. Ex: bactéria do tétano. - Anaeróbios Facultativos – Fazem respiração aeróbia, mas podem optar pela fermentação caso falte oxigênio. Ex: células musculares. Fermentação Lática: Realizada por bactérias (p.ex: lactobacilos) usadas na produção de iogurtes e coalhadas. O produto final é o ácido lático. Este processo pode ser resumido pela seguinte equação: Durante um esforço muscular prolongado, o oxigênio que chega ao músculo não é suficiente para fornecer toda a energia necessária. As células musculares passam a realizar a fermentação lática. O acúmulo de ácido lático nos músculos causa dor, cansaço e cãibras. Posteriormente, parte do ácido lático é conduzida pela corrente sanguínea para o fígado, onde será transformado em glicose. Outra parte permanece no músculo, sendo oxidada aerobicamente durante o repouso, quando a célula volta a dispor de oxigênio. A célula muscular em repouso produz um excesso de ATP, que passa a sua energia para um outro composto, a creatina fosfato, armazenada na célula. Em caso de necessidade, a creatina fosfato cede energia para a produção de ATP e este é usado no trabalho muscular. Fermentação Alcoólica: Realizada por vários fungos (p.ex: Saccharomices cerevisiae), usados na fabricação de bebidas alcoólicas. O produto final é o etanol. Neste caso, o ácido pirúvico é descarboxilado antes de receber os átomos de hidrogênio, produzindo também CO2: Exercícios 1) (ENEM 2010) Um ambiente capaz de asfixiar todos os animais conhecidos do planeta foi colonizado por pelo menos 3 espécies diferentes de invertebrados marinhos. Descobertos a mais de 3000 metros de profundidade no Mediterrâneo, eles são os primeiros membros do reino animal a prosperar mesmo diante da ausência total de oxigênio. Até agora, achava-se que só bactérias pudessem ter este estilo de vida. Não admira que os bichos pertençam a um grupo pouco conhecido, o dos loricíferos, que mal chegam a 1,0 mm. Apesar do tamanho, possuem cabeça, boca, sistema digestivo e uma carapaça. A adaptação dos bichos à vida no sufoco é tão profunda que suas células dispensaram as chamadas mitocôndrias. Lopes, R. J. Italianos descobrem animal que vive em água sem oxigênio. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 10 abr 2010 (adaptado). Que substâncias poderiam ter a mesma função do oxigênio na respiração celular realizada pelos loricíferos? a) S e CH4 b) S e NO3c) H2 e NO3d) CO2 e CH4 e) H2 e CO2 2) (PUC 2011) O mau cheiro que vem do lodo das Lagoas da Bacia de Jacarepaguá no Rio de Janeiro e que, desde domingo, impesteia a Barra da Tijuca é uma das ameaças aos Jogos Olímpicos de 2016, que terão no bairro o epicentro das competições esportivas. O vento forte, aliado à ressaca, revolveu o fundo das lagoas e liberou gases metano e sulfídrico. Adaptado do Jornal O Globo de 18 ago. 2010. Os gases metano e sulfídrico de que tratam a reportagem são resultantes da: a) respiração aeróbica de micro-organismos b) respiração anaeróbica de micro-organismos c) reação do CO2 produzida por fermentação d) biodegradação de metais e material inorgânico do lodo e) reação da matéria orgânica com o O2 trazido pelos ventos 3) (UFRJ 2010) A hipótese sobre a origem das células eucarióticas com maior número de adeptos é a hipótese da endossimbiose sequencial proposta pela bioquímica Lynn Margulis. De acordo com essa hipótese, podemos dizer que as células dos animais têm dois genomas e as das plantas têm três; nos dois casos, os genomas funcionam de forma integrada. Identifique em quais organelas das células dos animais e das plantas estão localizados esses genomas. 4) (UNIRIO 2009) Fadiga muscular, de forma sucinta, pode ser definida como o declínio da tensão muscular devido à estimulação repetitiva e prolongada de uma atividade. Assim, quando ocorre trabalho muscular excessivo, o ácido pirúvico resultante da glicólise é convertido em ácido lático que é tóxico e se acumula nos músculos, causando dores musculares. a) Qual processo biológico de obtenção de energia produz o ácido lático? b) Em qual condição celular este processo ocorre? 5) (UERJ 2009) Para estudar o metabolismo de organismos vivos, isótopos radioativos de alguns elementos, como o 14C, foram utilizados como marcadores de moléculas orgânicas. Podemos demonstrar, experimentalmente, utilizando a glicose marcada com 14C, o acúmulo de produtos diferentes da glicólise na célula muscular, na presença ou na ausência de um inibidor da cadeia respiratória mitocondrial. Em presença desse inibidor, o metabólito radioativo que deve acumular-se no músculo é o ácido denominado: a) lático b) cítrico c) pirúvico d) glicérico 6) (UFRJ 2007) A eritropoetina (EPO) é uma proteína cuja atividade principal é estimular a produção de hemácias na medula óssea. A EPO produzida em laboratório tem sido usada pelos médicos no tratamento de certos tipos de anemia. Alguns atletas, no entanto, usam indevidamente a EPO com a finalidade de melhorar seu desempenho esportivo, prática denominada doping biológico. Explique por que a EPO melhora o desempenho dos atletas. 7) (UFRJ 2002) Em 1949, enquanto estudavam o metabolismo energético, Eugene Kennedy e Albert Lehninger, realizaram uma experiência na qual separaram, por centrifugação, os diferentes componentes celulares. Em seguida, os pesquisadores colocaram cada uma das frações contendo os diferentes componentes em soluções compostas dos nutrientes adequados e mediram o consumo de oxigênio (O2) em cada uma das frações. Em outro conjunto de frascos, testou-se a produção de trifosfato de adenosina (ATP) pelas diferentes frações. A tabela abaixo mostra alguns dos resultados possíveis em uma experiência deste tipo. Com base nos resultados da tabela, identifique qual das frações deve corresponder às mitocôndrias. Justifique sua resposta. 8) (ENEM 2006) As características dos vinhos dependem do grau de maturação das uvas nas parreiras porque as concentrações de diversas substancias da composição das uvas variam a medida que as uvas vão amadurecendo. O gráfico a seguir mostra a variação da concentração de três substancias presentes em uvas, em função do tempo. O teor alcoólico do vinho deve-se a fermentação dos açúcares do suco da uva. Por sua vez, a acidez do vinho produzido é proporcional a concentração dos ácidos tartárico e málico. Considerando-se as diferentes características desejadas, as uvas podem ser colhidas a)mais cedo, para a obtenção de vinhos menos ácidos e menos alcoólicos. b)mais cedo, para a obtenção de vinhos mais ácidos e mais alcoólicos. c)mais tarde, para a obtenção de vinhos mais alcoólicos e menos ácidos. d)mais cedo e ser fermentadas por mais tempo, para a obtenção de vinhos mais alcoólicos. e)mais tarde e ser fermentadas por menos tempo, para a obtenção de vinhos menos alcoólicos. 9) (UFRJ) Há um cuidado que deve ser tornado quando se compra um alimento enlatado. Devemos observar não só a data de fabricação e o prazo de vencimento do produto, mas também o aspecto da lata, que não deve se apresentar com a tampa estufada. Se a tampa estiver estufada, pode ter – se desenvolvido, entre outras bactérias, a produtora de botulismo, uma doença freqüentemente fatal. a) Que tipo de respiração essa bactéria mantém no interior da lata fechada? b) No caso do produto contaminado, o que causou a pressão no interior da lata, estufando a tampa? 10) (FUVEST-SP) As mitocôndrias são consideradas as “casas de força” das células vivas. Tal analogia refere-se ao fato de as mitocôndrias: a) estocarem moléculas de ATP produzidas na digestão de alimentos. b) produzirem ATP com utilização de energia liberada na oxidação de moléculas orgânicas. c) consumirem moléculas de ATP na síntese de glicogênio ou de amido a partir de glicose. d) serem capazes de absorver energia luminosa utilizada na síntese de ATP. e) produzirem ATP a partir da energia liberada na síntese de amido ou de glicogênio. 11) (UFF modif) A cadeia respiratória é parte de um mecanismo funcional que, devido às alterações a que está sujeito, é capaz de exercer influência sobre a vida e a morte da célula e do indivíduo. Responda às questões: a) Na célula, em qual local ela (cadeia respiratória) ocorre ? b) No óbito por asfixia ou por envenenamento por cianeto o que acontece com a produção de ATP? c) Por que a falta de oxigênio leva à morte por asfixia? d) Qual o papel dos co-fatores NAD e FAD na respiração celular? Gabarito Aula 5 1) B 2) B 3) Nos animais há um genoma no núcleo das células e outro nas mitocôndrias. Nos vegetais há um genoma no núcleo, um nas mitocôndrias e outro nos cloroplastos. 4) a) Fermentação Lática. b) Na deficiência ou escassez de oxigênio. 5) A 6) O aumento do número de hemácias amplia a capacidade de transporte de oxigênio, que é necessária para a produção de energia na respiração celular aeróbica. 7) A fração A contém mitocôndrias, visto que há uma grande produção de ATP e um concomitante consumo de oxigênio, o que indica a ocorrência de fosforilação oxidativa ao longo da cadeia respiratória. 8) C. Quanto maior a concentração dos ácidos tartárico e málico, maior a acidez do vinho. Isso acontece quando as uvas são colhidas mais cedo. Quanto maior a concentração de açúcar, maior a quantidade de álcool que será obtida, o que ocorre quando as uvas são colhidas mais tarde. Portanto, quanto mais tarde as uvas forem colhidas, menos ácido será o vinho e maior será o teor alcoólico. 9) a) No interior da lata ocorreu a respiração anaeróbia ou fermentação. b) A produção de CO2. 10) B. 11) a) Nas cristas mitocondriais. b) Bloqueio da síntese de ATP. c) Porque os transportadores (citocromos) ficam "carregados" de elétrons, levando ao bloqueio do fluxo de elétrons ao longo da cadeia respiratória que param, cessando a produção de ATP. d) Eles transportam hidrogênio, liberados na respiração aeróbia, para o O 2 formando H2O.