educação física e interdisciplinaridade: possibilidades pedagógicas

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EDUCAÇÃO FÍSICA E INTERDISCIPLINARIDADE: POSSIBILIDADES
PEDAGÓGICAS NA ESCOLA
Cláudia de A. R. Machado
Roberta C. Gaio
Centro Universitário Moura Lacerda
Eixo 1: Pesquisa em Pós-Graduação em Educação e Práticas Pedagógicas
Pôster
Resumo
Este trabalho tem como objetivo investigar se ações pedagógicas interdisciplinares são
realizadas no ensino fundamental, tendo como referencial de análise o/a professor/a de
Educação Física como um possível catalisador dessas ações. A fragmentação dos saberes
científicos distancia a possibilidade de integração das diversas disciplinas que compõem um
currículo escolar. Esta fragmentação tem motivado os professores a atuarem de maneira distinta,
independente, não estimulando ações que promovam conhecimentos contextualizados,
multifacetados e, nem promovendo os estímulos necessários ao processo de aprendizagem
efetiva, visando à emancipação intelectual dos discentes. Esse estudo parte da seguinte questão
problema: ações interdisciplinares são práticas realizadas na escola? A metodologia utilizada
nessa pesquisa é descritiva documental, baseada em Rudio (2009), na qual analisamos o plano
de gestão de uma escola estadual da cidade de Ribeirão Preto/SP, Os professores de Educação
Física, juntamente com os professores em sala de aula, devem favorecer ações
interdisciplinares, proporcionando um ensino de qualidade e um retorno eficaz na
aprendizagem.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Educação Física Escolar; Ação Pedagógica.
EDUCAÇÃO FÍSICA E INTERDISCIPLINARIDADE: POSSIBILIDADES
PEDAGÓGICAS NA ESCOLA
Cláudia
Roberta Cortez Gaio
Centro Universitário Moura Lacerda
Eixo 1: Pesquisa em Pós-Graduação em Educação e Práticas Pedagógicas
Órgão de Fomento: SEE/SP
Categoria: Pôster
1. Introdução
Após anos de atuação como professora de Educação Física em uma Escola Estadual
no município de Ribeirão Preto/SP, atendendo a crianças de 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental, considero que o grande desafio como educadora sempre foi possibilitar aos meus
alunos a ampliação do conhecimento, promovendo a interação e a contextualização dos saberes
para além da quadra, da sala de ginástica ou do campo de futebol.
Formada numa área de conhecimento que, historicamente, sempre foi desvalorizada
como saber científico, minha preocupação sempre esteve centrada em dialogar com outros
professores, no intuito de trazer aos discentes um entendimento mais amplo de mundo, de si
próprio e de aprendizagem, pois “o que se pretende com esse diálogo é a problematização do
próprio conhecimento” (FAZENDA, 2003, p. 37).
A percepção de que os professores, polivalentes, ao ensinar Matemática, Português e
outras disciplinas, o faziam de forma restrita ao seu planejamento sempre me incomodou. E por
que não um planejamento conjunto, possibilitando o acesso daquele conhecimento específico de
outras formas? Como por exemplo: na Matemática, enquanto em sala de aula a aprendizagem se
dá na lousa sobre os números ímpares e pares, na Educação Física a oportunidade para os
alunos, está em seus pés, com um trabalho corporal, desenvolvendo coordenação motora e
equilíbrio, na brincadeira do caracol, na amarelinha, por exemplo. No Português as vogais ou
até mesmo o alfabeto completo pode fazer parte das brincadeiras corporais, desenvolvendo
habilidades motoras sobre as mesmas, como pular através e/ou por dentro das letras desenhadas,
ou formadas pelas próprias crianças através de materiais como barbantes, arcos e outras
possibilidades. Desta forma a criança tem condições de ampliar e contextualizar o conhecimento
de forma ampla, utilizando-o além da sala de aula.
A fragmentação dos saberes científicos distancia a possibilidade de integração das
diversas disciplinas que compõem um currículo escolar. Esta fragmentação tem motivado os
professores a atuarem de maneira distinta, independente, não estimulando ações que promovam
conhecimentos contextualizados, globalizados, multifacetados e complexos (Morin, 2000), nem
tão pouco promovendo os estímulos necessários ao processo de aprendizagem efetiva, visando a
emancipação intelectual dos discentes. O/A professor/a de educação física escolar, através do
desenvolvimento da cultura corporal ou cultura de movimento, pode contribuir e interagir de
forma a estimular ações interdisciplinares no processo de aprendizagem, no ensino fundamental
de 1º ao 5º ano.
Atualmente, evidencia-se a importância da interdisciplinaridade nas escolas, pois
através da mediação, o professor auxilia o educando na construção da aprendizagem. A
Educação Física Escolar, enquanto disciplina que aborda a cultura corporal, através de jogos,
danças, lutas, esportes e ginásticas, deve proporcionar, aliada às outras disciplinas, a produção
de saberes significativos para os educandos. Não uma Educação Física que priorize atividades
de caráter mecânico, mas que possa resgatar a linguagem sensível, que priorize o movimento
como parte do conhecimento.
Este estudo tem o foco voltado para a Interdisciplinaridade, abordando o professor de
Educação Física como catalisador desse processo, sua ampla área de atuação permite-lhe o
contato com diversas disciplinas, atuando de forma direta com os alunos e professores,
especialmente nas séries iniciais do ensino fundamental.
Surge então um questionamento: ações interdisciplinares são práticas realizadas na
escola? Como professora do ensino fundamental em uma escola da rede estadual, percebo a
fragmentação dos diferentes saberes científicos, dificultando a compreensão contextualizada por
parte dos educandos. Assim, esse trabalho tem como objetivo investigar se ações pedagógicas
interdisciplinares são realizadas no ensino fundamental I.
2. A Interdisciplinaridade Vivenciada
Foi no final do século XX, que a preocupação com a interdisciplinaridade acontece de
forma profícua, passando a escola a recorrer a formas educacionais interdisciplinares ao invés
de disciplinares. Mas, segundo Fazenda (1994), ainda são poucos educadores que realmente
vivenciam a alteridade, ainda predominam os educadores que limitam, rotulam, exercendo de
forma patriarcal a educação, pois a quebra deste paradigma exige ruptura, uma nova visão de
totalidade, o que significa para muitos, um preço alto a se pagar, pois o novo sempre enfrenta
resistências.
Na escola de hoje convivem intencionalidades de matriarcado com
normas de patriarcado. Currículos com disciplinas rígidas, cargas
horárias extensas, objetivos dúbios, indiscriminados, em que
convivem tanto a polaridade patriarcal, quanto o desejo de alteridade
(FAZENDA, 1994, p.43).
Fazenda (1994), também nos alerta sobre o atraso educacional que vivemos, pois
enquanto a escola se organiza na Europa (França) em 1830, no Brasil isto ocorre em 1930, sem
o conhecimento preciso do seu significado. Foi apenas entre 1940 a 1970, que há um conceito
sobre ensino e definição de currículos. Como afirma: “Seria isto o anúncio de um patriarcado na
educação?” (FAZENDA, 1994, p. 43).
Faz-se necessário entender que tudo obedece a um processo, sendo fundamental o
olhar para o que já se construiu com o que devemos construir, com o antigo e o novo, pois se
destruirmos o que já realizamos, caímos no modismo sem fundamentos, o essencial é
reconstruir, é recriar o conhecimento, lapidando nossos conceitos com novo rigor, considerando
a objetividade e a subjetividade, não como situações antagônicas, mas que se complementam,
interagem entre si (FAZENDA, 1994).
Ainda sobre subjetividade, Morin (2010), coloca a necessidade da compreensão
humana, que vai além das situações objetivas de conhecimento, e apenas a partir desta
compreensão, considerando o subjetivo, que se pode evitar a exclusão, favorecendo a
aprendizagem. Um dos caminhos para enfrentarmos esta dificuldade humana, seria o
conhecimento a partir de vários recursos, pois:
Enfrentar a dificuldade da compreensão humana exigiria o recurso não
a ensinamentos separados, mas a uma pedagogia conjunta que
agrupasse filósofo, psicólogo, sociólogo, historiador, escritor, que
seria conjugada a uma iniciação à lucidez (MORIN, 2010, p. 51).
Segundo o mesmo autor citado anteriormente, a mobilização de recursos para uma
vida plena, requer não apenas conhecimentos específicos, mas sim, saberes amplos, que podem
motivar e colaborar para uma vida mais saudável, crítica e reflexiva, colaborando para a
condição humana em que nos encontramos, condição esta, que motiva, que desperta o interesse
em vários segmentos da compreensão humana, como ilustra: “Conhecer e pensar não é chegar a
uma verdade absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza” (MORIN, 2010, p.59).
O dialogar realizado como um exercício, como um movimento dialético, nos leva a
prática interdisciplinar, revelando-se novas descobertas, novos caminhos a se desvendarem,
possibilitando o contato com novas formas de conhecimento, no qual, a relação desafiadora
entre elas, estimula sua interpretação, a curiosidade do aluno faz com que transforme a
informação em conhecimento, possibilitado pela interrelação entre as disciplinas (FAZENDA,
1994).
Um dos fundamentos que estimula a troca e que é de fundamental importância na
interdisciplinaridade é a parceria, que Fazenda (1994), reforça como sendo uma possibilidade de
ampliação de um projeto interdisciplinar. Esta parceria se dá no encontro entre os indivíduos,
onde cada projeto, represente um desafio a ser saboreado, a ser vivenciado de forma
metodológica e constantemente acessado, se caracterizando pelas constantes buscas, pesquisas e
transformações, oportunizando o questionamento e a construção do conhecimento, como
informa: “Aprender a pesquisar, fazendo pesquisa, é próprio de uma educação interdisciplinar,
que, segundo nossos dados, deveria se iniciar desde a pré-escola” (FAZENDA, 1994, p. 88).
3. Interdisciplinaridade e Educação Física
Segundo os PCNs (1997), a educação tem o compromisso de formar um ser humano,
daí a importância da interdisciplinaridade. Cabe à escola trabalhar com repertórios
diversificados, partindo de experiências vividas pelo educando, possibilitando o acesso a novas
experiências e garantindo a aprendizagem dos alunos.
Os conteúdos escolares vêm sofrendo grandes questionamentos sobre situações de
contextualização. Darido (2005), coloca sobre reflexão os conteúdos disciplinares que formam a
base da estrutura escolar, pois esta divisão por matérias caracteriza um modelo cartesiano, que
favorece a fragmentação do conhecimento científico, afastando o trabalho feito na escola, das
relações humanas, do desenvolvimento do educando de forma integral, de sua formação pessoal,
o que favorece um aprendizado sem um real significado para o aluno, descontextualizado de sua
realidade.
Uma forma de trabalho interdisciplinar, o que ultrapassa a lógica de apenas uma
disciplina, oportunizando um conhecimento de interesse comum, são os projetos
interdisciplinares, que Darido (2005), propõe como uma forma significativa de aprendizagem,
sem desprezar o conhecimento específico das disciplinas, como afirma:
É preciso ressaltar que a interdisciplinaridade não invalida os
contornos específicos de cada disciplina, até porque não se pode falar
em interdisciplinaridade sem disciplinas, assim como não há
internacional sem nações. Ela não se confunde com polivalência e,
portanto, não anula o conhecimento específico nem o papel de cada
profissional (DARIDO, 2005, p.81).
A Educação Física, como área de conhecimento possibilita a integração entre várias
disciplinas, pois possui um vasto conteúdo no que se refere a cultura corporal, como no esporte,
na ginástica, dança, lutas e jogos. Um exemplo citado por Darido (2005), se refere ao
acontecimento das Olimpíadas, que está ligado a disciplina de Educação Física, mas também
pode ser abordado em outras áreas, como nos relata:
O trabalho com as Olimpíadas, por exemplo, caracteriza-se como uma
possibilidade envolvendo a geografia, pois alguns países
desconhecidos ou pouco comentados por vezes ganham destaque em
função da conquista de uma medalha ou por apresentar um grupo de
atletas muito animado durante o desfile de abertura; pode-se analisar a
estrutura geopolítica dos países participantes, relacionando-a com
conflitos contemporâneos; a matemática poderá explorar os critérios
utilizados para contagem dos pontos, as medidas de distância nas
provas, os valores investidos na realização do evento, estudos de
porcentagem dos mais diversos, enfim um estudo quantitativo do
evento; de forma análoga com disciplinas como ciências, educação
artística, língua portuguesa (DARIDO, 2005, p.82).
4. Ações interdisciplinares na escola: a pesquisa
Este estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva. Segundo Rudio (2009) das
diversas formas que a pesquisa descritiva se apresenta, optou-se pela pesquisa documental, na
qual o plano gestão 2007 (valido por quatro anos) foi analisado, juntamente com os planos de
ensino da escola estadual do município de Ribeirão Preto/SP definida como universo da
pesquisa. Para análise da pesquisa documental foram criadas cinco categorias baseadas na
fundamentação teórica, que são: planejamento (se está mencionado a interdisciplinaridade no
plano de ensino que é elaborado no inicio de cada ano letivo); projetos escolares (se os projetos
realizados durante o ano são elaborados com a presença de trabalho interdisciplinar, envolvendo
todas ou grande parte das disciplinas existentes); datas comemorativas e eventos especiais (se
existe registro nos planos de ensino sobre o planejamento e execução de um trabalho
interdisciplinar nas datas comemorativas, incluindo as disciplinas que participarão) e
capacitação interdisciplinar (se consta no planejamento ou plano de gestão, previsão de cursos
ou capacitações para professores, objetivando um trabalho interdisciplinar mais completo).
Os resultados parciais já apontam para uma preocupação em promover ações
interdisciplinares quando se percebe no plano de gestão os projetos a serem desenvolvidos pela
escola, porém não fica claro como as ações interdisciplinares, envolvendo todas ou a grande
maioria das disciplinas devem acontecer. Apesar de, existir no plano de gestão, uma
programação de eventos e comemorações da escola, no mesmo não aparece, descritivamente, as
ações pedagógicas que devem acontecer e nem como as mesmas serão elaboradas e dirigidas.
Quanto à capacitação, existe no plano uma preocupação em realizar ações conjuntas que,
possam culminar com discussões sobre propostas pedagógicas interdisciplinares. A pesquisa
ainda em andamento não traz nesse momento os resultados oriundos dos planejamentos dos
professores, que serão, em outro momento, analisados e interpretados.
5. Conclusão
A interdisciplinaridade é um caminho de busca, de pesquisa, que amplia e favorece a
aquisição do saber. Não um saber fragmentado, isolado, mas sim, um saber complexo e
relevante, que possibilita a aprendizagem significativa, transformando o conhecimento em algo
interessante e motivador, transformando não só o aluno, que utilizará este saber para resolver
questões cruciais em sua vida, mas influenciando de forma positiva uma sociedade que carece
de justiça e igualdade social.
Os professores de Educação Física, juntamente com os professores em sala de aula,
devem se conscientizar da importância de seus papéis na educação brasileira, favorecendo esta
forma interdisciplinar de atuação na escola, proporcionando um ensino de qualidade e um
retorno eficaz na aprendizagem.
6. Referências
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação
física. Brasília: MEC/SEF, 1997.
DARIDO, S. C. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus,
1994.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 16ª ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 36ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2009.
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