Plantio Ecológico de Árvores

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Plantio Ecológico de Árvores
Hélcio de Abreu Junior
Engº. Agrônomo, Mestre
Prof. Faculdade Cantareira
Plantio de árvores até então parecia que não tinha segredo, até começarmos a verificar a quantidade de
mudas mortas em plantios nas estradas, praças, áreas rurais, pomares. Tem alguns cuidados que devemos ter.
Muda de árvore precisa de solo fofo, fácil de lançar raízes e criar as “bocas” que irão alimentá-la. Quanto
mais terra afofar, ou seja, quanto maior for o buraco do plantio, mais rápido o desenvolvimento e maior a saúde
da futura árvore. Raízes precisam de ar, elas também respiram.
Muda de árvore não é poste, não é moirão de cerca, desta forma devemos encarar e fazer o local que
receberá a “árvore bebê” um ambiente agradável e propício para seu desenvolvimento.
Buracos feitos com brocas, bem justos e com paredes laminadas, servem para colocar postes e moirões,
mas não mudas de árvores.
O viveiro de mudas pode ser chamado de berçário, onde a muda recebe todos os cuidados necessários,
o mesmo que damos a um recém nascido. Elas recebem água, nutrientes e cobertura para evitar o excesso de
sol, vento, as pragas e doenças são controladas sempre no início da infestação. Neste período elas conhecem
“o céu”.
No sistema convencional de plantio de árvores, implantação de pomares, toda vegetação é retirada, a
área é arada e gradeada, faz-se os sulcos ou covas e se coloca as mudas em pleno sol, as vezes sem água,
recebendo diretamente o vento. Neste momento elas conhecem “o inferno” daí o pegamento das mudas é
comprometido. Em sistema convencional a “falha” no plantio das mudas é sempre acima de 10%. Em áreas de
plantio de praças, rodovias esta falha é maior que 90%. É um desperdício de mudas, de trabalho, de insumos e
compromete a credibilidade de quem faz e de quem orienta os plantio, ou seja agrônomos e engenheiros
florestais.
No sistema de plantio ecológico de mudas, as falhas de plantio não chegam nem a 1%, aumentando
assim, o aproveitamento dos recursos, principalmente o tempo e R$.
O Plantio de árvores na agricultura ecológica
Inicialmente temos de diferenciar os sistemas de plantio convencional em cova e o sistema ecológico,
chamado berço. Atualmente as pessoas, muitas vezes orientadas por “técnicos” fazem plantios de mudas de
árvores em covas. Veja as diferenças mais importantes:
Aspectos
Caracteríticas
Local onde se coloca

Cova

Organismos mortos, cadáveres, que Vida nova, frágil, em crescimento, que
querem se livrar
se tem afeto, carinho
Dimensões do buraco

Do tamanho do morto
Quase sempre 40 x 40 x 40 cm
Estrutura do solo
Solo compacto, duro

Abertura do buraco
Adubos
Horizontes do solo misturados
Químicos solúveis (sais)
Bem maior que o organismo
Mínimo 80 x 80 x 80 cm



Matéria
Orgânica
(composto,
esterco, Misturada com todo o solo
húmus de minhoca)
Proteção do solo
Sem cobertura, solo exposto

Micronutrientes
Berço
Não se acrescenta
Tempo entre preparo da Separado de pelo menos 2 meses
terra e plantio
Maquina de abertura do Broca, cavadeira, deixando as paredes
buraco
lisas e compactas
Plantas ao redor
Eliminadas qualquer vegetação, solo nu,
recebendo diretamente o sol e
evaporando rapidamente a água.
Fofo, aerado, sem compactação
Horizontes separados, e adubados
separadamente
Pós de rochas, minerais e cinzas de
baixa solubilidade
Misturada somente com o solo da

camada superficial – até 20 cm
Com cobertura morta e viva, solo
protegido
Coloca-se sempre acompanhado de
biofertilizante
Pode ser executado ao mesmo tempo.
As mesmas, porém as paredes e fundo
trincadas e afofadas com pá
Semeadas adubos verdes e plantas
companheiras para proteger a muda do
excesso de sol e após o corte, fornece
palha sobre o solo, na época seca.
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No plantio de mudas fazer berços e não covas, separar as 2 camadas de solo e colocar o material
orgânico (composto, esterco, resto de culturas) na superfície para que possa sofrer decomposição aeróbia. Se
for colocada abaixo de 20 cm haverá fermentação anaeróbia, produzindo gases tóxicos como o sulfídrico,
metano, monóxido de carbono e substâncias fétidas e igualmente tóxicas como putrefacina e cadaverina,
causando intoxicação das mudas, e conseqüente amarelecimento e morte ou causando forte estresse e
favorecendo o ataque de pragas e doenças(Figura 1). Nas duas camadas, superior (0 a 20 cm) e inferior (20 a
80 cm), colocamos calcário calcítico, cinzas + carvão moído, pó de rocha, fosfato natural.
O tempo entre o preparo do berço e plantio não precisa ser de 2 meses, como para as covas, pois você
não está misturando a parte orgânica, que pode ser composto orgânico ou esterco curtido, em todo o solo, mas
apenas na superfície. Pode-se realizar o plantio no mesmo momento da abertura e preparo do berço.
Mudas de árvores plantadas em covas com esterco misturado em todo o solo ou colocado no fundo do
buraco, amarelam e sofrem diminuição do desenvolvimento no inicio, geralmente secam o ponteiro e aparecem
brotos laterais próximos ao solo. Esta é o primeiro sinal da morte da muda. Fazendo no sistema berço
esplêndido, isso não acontece e se ganha 2 meses na estação chuvosa, tendo como resultado uma planta mais
bem enraizada e desenvolvida com maiores chances de sobrevivência no período seco, diminuindo a
dependência da irrigação.
Os passos para o plantio ecológico de árvores no sistema berço esplêndido”, devem ser seguidos a
risca. Não fazer substituições pois pode causar danos as árvores.
Plantio ecológico de mudas em sistema Berço Esplêndido
ABERTURA DO BERÇO
Dimensões do berço da muda
solo da superfície (20 cm)
I
0,8 m
subsolo
II
0,8 m
Fazer o berço com cavadeira,
separando as duas camadas
ADUBAÇÃO DO SOLO DO BERÇO
1 Copo Calcário Calcítico
1 Copo de Fosfato Natural
1 Copo de Pó de Rocha
1 copo de cinzas
20 litros de composto
I
2 Copos de Calcário Calcítico
1,5 Copo de Fosfato Natural
1 Copo de Pó de Rocha
1,5 Copo de cinzas
II
PLANTIO DA MUDA NO BERÇO
Modo de plantio de mudas de árvores
I
II
Retirar cuidadosamente a muda do saquinho,
cortando as raízes tortas e enoveladas, partes
doentes e mortas;
Retirar algumas plantas de adubo verde do centro do berço;
Fazer um buraco no berço o suficiente para a muda,
colocando terra da superfície e apertando com a
mão em torno do tronco;
Fazer o coroamento do berço;
Colocar o composto orgânico, misturar levemente
e irrigar suficientemente;
Colocar garrafa PET cortada no fundo e superfície
Caso não tenha plantado adubos verdes, colocar palha, capim
secos na superfície do solo;
Fincar um bambú (tutor) ao lado da muda e amarrá-la
levementecom uma fita.
Irrigar com biofertilizante + micronutrientes (cobre, zinco,
boro, manganês, molibdênio, cobalto)
Para proteção da muda contra ataques de saúvas e formigas cortadeiras.
Pegar uma embalagem PET de refrigerante de 2 litros, cortar as extremidades e colocar sobre a muda, ou
seja, fixar no solo deixando a muda no centro. As formigas tem dificuldade em subir e descer para coletar as
folhas. Uma camada de graça no lado de dentro da garrafa cortada protege 100% a muda.
Em mudas adubadas com equilíbrio e com nutrientes que são fornecidos aos poucos, favorece a resistência
da planta, dificultando o ataque de pragas e doenças. Meteria orgânica, pós de rocha, cinza, são adubos com
esta característica.
Proteção das mudas contra ataques de herbívoros (bois, cabras, ovelhas, cavalos ...)
Para proteger as mudas das investidas dos animais que as comem, danificando-as severamente, podemos
aplicar a calda de esterco fresco.
Pegar 4 L de esterco fresco de vaca, cavalo ou qualquer animal que tenha na propriedade, diluir em 10 L de
água até formar uma pasta e pincelar ou “benzer” com uma brocha as folhas das mudas. Os animais ao
tentarem se alimentar das folhas e partes das mudas, sentirão repugnância e as respeitarão. Repetir esta
operação sempre que verificar que está saindo das folhas ou a muda tenha lançado folhas novas. Ao longo do
tempo os animais vão percebendo que as plantas não são comestíveis e a necessidade de benzê-las diminui.
Não afeta as muda, desde que não cubra totalmente as folhas e brotos. Deve ficar apenas respingado com a
calda.
Plantio em grandes áreas: Para implantação de pomares em grandes áreas,
Fazer análise de solo e enviar o resultado para recomendação segundo Equilíbrio de Bases, um sistema em que
se estabelece uma proporção dos nutrientes semelhante ao húmus e colocado no solo, dá condições para a
planta crescer e ter resistência a pragas e doenças, consequentemente torna-se produtiva.
Marcar os pontos de mesmo nível do terreno e fazer toda preparação e plantio seguindo as curvas em nível.
Preparo do solo: Se o solo estiver muito compactado, pode-se subsolá-lo antes de colocar os corretivos e
adubos. Em seguida, esparrama-se ½ dose do calcário antes da aração e ½ antes da gradeação. Fazer sulcos
profundos nas linhas de plantio acima de 60 cm de profundidade, colocar fosfato natural, cinzas e demais
insumos com exceção da matéria orgânica, nesta terra retirada, misturar tudo e voltar para o sulco, fechando-o.
Realizar o plantio de espécies de adubos verdes 1 mês antes do plantio das mudas. Protege a muda do sol forte
e mantém o solo coberto. Ao final da estação chuvosa, cortar as ramas dos adubos verdes e deixar sobre o solo,
protegendo-o.
Depois de algumas semanas que o adubo verde estiver crescendo, com 30 a 50cm, realizar o plantio
das mudas nos sulcos, e neste momento coloca o composto orgânico misturado a terra da superfície.
Para implantação de matas ciliares, fazer o berço e semear guandu e/ou crotalária pelo menos 1 mês
antes do plantio das mudas. Retirar algumas plantas de adubo verde do centro do berço e plantar a muda.
Deve-se abolir o uso de herbicidas, pois além de matar a vida do solo afeta o sistema de defesa da
planta e contamina o ambiente. Roçar o mato entre as linhas e colocar cobertura morta embaixo das saias das
árvores afim de abafar o crescimento das plantas espontâneas. Deve-se dar preferência a instalação de
adubação verde permanente como Arachis pintoi (amendoim forrageiro), uma leguminosa nativa do Brasil
central, que além de fixar nitrogênio, suprime o crescimento do mato e protege o solo da erosão e excesso de
calor.
Adubação de manutenção:
Na adubação de manutenção e produção das árvores frutíferas, deve-se espalhar em toda a área e não
só na projeção da copa, a fim de promover o desenvolvimento de raízes em todo o solo, fazendo a planta
explorar mais nutrientes e água . O mato e outras plantas entre as árvores será adubado sim, mas
periodicamente roçado e pulverizado biofertilizante ou espalhado esterco na superfície do solo para acelerar a
decomposição. Não haverá competição, mas uma reciclagem contínua dos nutrientes, contribuindo para o
aumento do teor de matéria orgânica e vida do solo, aumentando a sustentabilidade do sistema. O ideal é
sempre roçar o mato antes que ele floresça. O uso de herbicidas causam intoxicação das mudas, atraso no
desenvolvimento e aparecimento de doenças, além de contaminar solo e frutos, evite.
Adubação convencional: coloca-se adubos somente na projeção da copa.
Área adubada menor, concentra
nutrientes e desencoraja
crescimento das raízes por todo
o solo, diminuindo a absorção de
nutrientes e água.
Área adubada
Área adubada
Desta forma a, a planta fica com volume de raízes menor, restrita a faixa adubada da projeção da copa. Desta
forma, com menos raízes, torna-se dependente de irrigação e mais adubações periódicas.
Adubação Ecológica:
Espalhar os adubos orgânicos e minerais na projeção do tamanho da muda/árvore, ou seja se a muda
tem 1 metro, a área a ser adubada será uma faixa de um metro em torno do tronco. A medida que a muda vai
crescendo, as raízes vão se espalhando e explorando mais solo, absorvendo mais nutrientes e água. Desta
forma, reduz necessidade de irrigação e diminui os problemas de excessos e deficiências nutricionais.
Área adubada maior, distribui
melhor os nutrientes e
desencoraja crescimento das
raízes por todo o solo,
diminuindo a absorção de
nutrientes e água.
Altura da
árvore
(h)
45º
Área a ser adubada (h)
45
º
Área a ser adubada (h)
É recomendável a aplicação de pós de rocha finamente moída em todo o pomar, plantas e solo a fim de
promover maior atividade e microvida no agroecossistema.
Para controle de doenças fazer uso de biofertilizantes e extrato de húmus que promovem o aumento de
microrganismos benéficos, que quando são pulverizados sobre as plantas, ocupam os sítios de entrada da
planta e competem por alimentos com os patógenos, diminuindo as chances de desenvolvimento de doenças
nas plantas.
Quanto ao controle de pragas, faz-se o uso de extrato de Nim, alho, tagetes, timbó, calda sulfocálcica,
entomopatógenos (Beauveria bassiana, Metharizium anisopleae, Bacillus thurigiensis), extrato pirolenhoso,
armadilhas com feromônio e/ou alimentícias, ensacamento de frutos dentre outras técnicas de controle
alternativo de pragas descritas no livro “Práticas de Controle Alternativo de Pragas e Doenças na Agricultura”, na
qual conta mais de 90 receitas ecológicas para manejo das principais pragas e doenças em plantas e animais.
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PRIMAVESI, A.M. , Manejo Ecológico dos solos, 9ª ed., São Paulo, Nobel, 1886.
CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da Trofobiose; tradução Guazzelli,
M.J., Porto Alegre: L&M, 256p. 1987.
ABREU JUNIOR, H. et alli. Práticas alternativas de Controle de Pragas e Doenças na Agricultura,
Campinas, Gráfica Editora EMOPI, 115pp., 1998.
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