Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Programa Nacional de Educação em Pressão Arterial O SEXTO RELATÓRIO DA REUNIÃO NACIONAL DO COMITÊ na Prevenção, Detecção, Avaliação, e Tratamento da Pressão Arterial Alta. CAPÍTULO 2 Medida da pressão arterial e avaliação clínica A hipertensão é definida como pressão arterial sistólica (PAS) de 140 mmHg ou mais elevada, pressão arterial diastólica (PAD) de 90 mmHg ou mais elevada, ou quando em uso de medicação anti-hipertensiva. O objetivo da identificação e tratamento da pressão arterial elevada é reduzir o risco de doença cardiovascular e da morbidade e mortalidade associadas. Com este fim, é útil fornecer uma classificação da pressão arterial de adultos com o propósito de identificar os indivíduos de alto-risco e fornecer orientações para o acompanhamento e tratamento. A relação positiva entre PAS e PAD e o risco cardiovascular tem sido há muito reconhecido. Esta relação é forte, contínua, gradativa, consistente, independente, preditiva, e etiologicamente significante para aqueles com e sem doença coronariana 40,41. Quanto a pressão arterial e pressão arterial elevada, três aspectos são importantes. O primeiro refere-se a distribuição da pressão arterial sistólica e diastólica na população adulta e a relação com risco a longo prazo de morbidade e mortalidade. Na meia idade, apenas uma pequena proporção de americanos(20%) têm níveis pressóricos ótimos, i.é. menores que 120/80 mmHg. Geralmente, quanto mais elevada a pressão maior o risco dos principais eventos clínicos, incluindo morte por doenças cardiovasculares e de todas as causas. A relação entre pressão sistólica e diastólica e este risco é intenso, contínuo e gradual e extendido para população com pressão arterial elevada definida pelos critérios clínicos (maior-igual que 140/90 mmHg) mas também para os chamados normalalto (sistólica 130-139 mmHg e diastólica 80-89mmHg). A conduta para redução deste risco deve ser por medidas dietéticas para prevenção primária do aumento da pressão durante a idade adulta e para pressão elevada. Mudanças no estilo de vida, são instituídas, potencialmente, para reduzir a distribuição da pressão arterial de toda população. O segundo se refere aos fatores de risco conhecidos que causam a ocorrência maciça de aumento da pressão na idade adulta e da pressão elevada. Estes fatores são ingestão elevada de sal, relação elevada entre sódio/potássio da dieta, desbalanço calórico resultando em obesidade, ingestão elevada de álcool. A obtenção de grande quantidade de dados para estabelecer o papel destes fatores na etiologia da pressão arterial/ pressão arterial elevada é a base científica para dirigir o esforço para prevenção primária. O terceiro aspecto relaciona-se ao impacto combinado de outros fatores de risco junto com pressão arterial/ pressão arterial elevada no aumento da probabilidade de morbidade e mortalidade (colesterol, fumo, diabetes, lesão de órgão-alvo). Por esta razão, embora a classificação da pressão arterial para adultos seja de certo modo arbitrária, é útil aos clínicos que precisam decidir pelo tratamento baseado em uma constelação de fatores incluindo o real nível pressórico. A Tabela 2 fornece uma classificação da pressão arterial para adultos (com idade de 18 anos e mais velhos). Comparando-se à classificação do JNC V, observa-se que foi incluido definitivamente a categoria de pressão ótima, suprimido o estágio 4 e abandonado a denominação leve, moderada, severa e muito severa. Esta classificação proposta, como também a anterior, difere daquela adotada pelo comitê da Organização Mundial 1 de Saúde que considera os termos leve, moderada e severa. Isto porque estes se referem ao grau de elevação da pressão arterial ao invés do fator de risco acompanhante. Prefere utilizar os "estágios" I-III para se referir ao estágio do processo fisiopatológico que involve o estágio I (sem manifestação de órgão alvo) para o II (com evidências definidas de lesão de órgão alvo, porém sem sintomas) e III, no qual sintomas e sinais estão presentes. No critério da OMS "estágio" indica evolução no decorrer do tempo e não somente nível de pressão arterial. Estes critérios são para indivíduos que não estão tomando medicação anti-hipertensiva e que não apresentem a doença aguda. Esta classificação é baseada na média de duas ou mais leituras realizadas de acordo com as seguintes recomendações em cada uma de duas ou mais visitas após uma visita inicial de investigação. Quando a PAS e a PAD caem em categorias diferentes, a categoria mais alta deve ser selecionada para classificar a pressão arterial do indivíduo. A classificação esta ligeiramente modificada em relação ao relatório do V JNC no qual os estágios 3 e 4 da hipertensão estão agora combinados por causa da relativa infrequencia do estágio 4 da hipertensão. Tabela 2. CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL PARA ADULTOS COM IDADE DE 18 ANOS E MAIS VELHOS* Categoria Sistólica (mmHg) Diastólica (mmHg) Ótima** <120 e <80 Normal <130 e <85 Normal-alta 130-139 ou 85-89 Hipertensão*** Estágio 1 140-159 ou 90-99 Estágio 2 160-179 ou 100-109 Estágio 3 ³180 ou ³110 * Sem tomar drogas anti-hipertensivas e não doentes agudamente. Quando as pressões sistólica e diastólica caírem em categorias diferentes, a categoria mais alta deve ser selecionada para classificar a posição da pressão arterial do indivíduo. Por exemplo, 160/92 mmHg deve ser classificado com estágio 2 da hipertensão, e 174/120 mmHg deve ser classificado como estágio 3 da hipertensão. Hipertensão sistólica isolada é definida como PAS de 140 mmHg ou mais elevada e PAD abaixo de 90 mmHg e estadiado apropriadamente (p.e., 170/82 mmHg é definido como estágio 2 da hipertensão sistólica isolada). Além disso para classificar os estágios da hipertensão com base na média dos níveis pressóricos, os médicos devem especificar a presença ou ausência de doença nos órgãos-alvo e os fatores de risco adicional. Esta especificidade é importante para a classificação do risco e tratamento (ver tabela 5). ** a pressão arterial ótima em relação ao risco cardiovascular está abaixo de 120/80 mmHg. Entretanto, leituras menores não habituais devem ser avaliadas para o significado clínico. *** Baseado na média de duas ou mais leituras realizadas em cada uma de duas ou mais visitas após uma visita inicial de investigação. Detecção e confirmação A detecção da hipertensão começa com medidas pressóricas apropriadas, as quais devem ser obtidas a cada encontro para cuidados com a saúde. As medidas repetidas da pressão arterial irão determinar se as elevações iniciais persistem e necessitam de atenção imediata ou se retornaram ao normal e necessitam apenas de vigilância periódica. A pressão arterial deve ser 2 medida de modo padronizado usando equipamento que apresentem os critérios de certificação42. As seguintes técnicas são recomendadas: O paciente deve estar sentado em uma cadeira com suas costas apoiadas e seus braços despidos e apoiados ao nível do coração. Os pacientes devem abster-se de fumar ou ingerir cafeína durante os 30 minutos que precedem a medida. Em circunstâncias especiais, medidas da pressão arterial nas posições supina e ortostática podem estar indicadas (ver capítulo 4). Este ítem foi acrescentado para condições mais comuns que ocorram hipotensão ortostática com alteração do sistema nervoso simpático nos pacientes idosos ou portadores de diabetes mellitus. A medição deve começar depois de pelo menos 5 minutos de repouso. Um manguito de tamanho apropriado deve ser usado para garantir a acurácia da mensuração. A camara dentro do manguito deve envolver pelo menos 80 por cento do braço. Muitos adultos vão necessitar de um manguito adulto grande. As medidas devem ser realizadas preferencialmente com um esfigmomanometro de mercúrio; por outro lado, um manômetro aneróide recentemente calibrado ou aparelhos eletrônicos validados podem ser usados. Ambos, PAS e PAD devem ser registradas. O aparecimento do primeiro som (fase 1) é usado para definir a PAS. O desaparecimento do som (fase 5) é usado para definir a PAD. Deve-se calcular a média de duas ou mais medidas separadas por 2 minutos. se a primeira das duas leituras diferir mais do que 5 mmHg, leituras adicionais deverão ser obtidas e calculada a média. Os clínicos devem explicar aos pacientes o significado da leituras de seus níveis pressóricos e informá-los sobre a necessidade de novas medições periódicas. A Tabela 3 fornece as recomendações para acompanhamento com base numa série de medidas de pressão arterial iniciais. Mais informações com relação à medição da pressão arterial pode ser encontrada no Recommendations for Human Blood Pressure Determination by Sphygmomanometers43 da American Heart Association e no Recommendations for Routine Blood Pressure Measurement by Indirect Cuff Sphygmomanometry44, da American Society of Hypertension. Auto-medição da pressão arterial Medidas da pressão arterial fora do consultório médico poder fornecer valiosas informações para a avaliação inicial de pacientes com hipertensão e para monitorização da resposta ao tratamento. A auto-medição tem quatro vantagens gerais: (1) distinguindo a hipertensão mantida da "hipertensão do avental branco", uma condição observada em pacientes nos quais a pressão arterial é consistentemente elevada no consultório médico ou na clínica mas normal em outros momentos; (2) avaliando a resposta à medicação anti-hipertensiva; (3) melhorando a aderência do paciente ao tratamento; (4) reduzindo potencialmente os custos. A pressão arterial de pessoas com hipertensão tende a ser maior quando medida na clínica do que fora do consultório. Não um limite superior de normalidade para a pressão arterial medida em casa que seja universalmente aceito, mas leituras de 135/85 mmHg ou maiores devem ser consideradas com elevadas 45,47,48. Escolha dos Monitores para Uso Pessoal Embora o esfigmomanometro de mercúrio ainda seja o aparelho mais acurado para uso clínico, ele não é de um modo geral prático para uso domiciliar. Portanto, tanto aparelhos eletrônicos validados ou esfigmomanometros aneróides que tenham provado ser precisos de acordo com 3 testes de padronização 42, são recomendados para uso junto com manguitos apropriados. Monitores digitais não são precisos. Periodicamente, a precisão do aparelho do paciente deve ser conferida através da comparação das leituras com registros de leitura auscultatória simultaneamente, realizadas com um aparelho de mercúrio. Avaliações independentes dos instrumentos disponíveis aos pacientes são publicadas de tempo em tempos. Tabela 3. RECOMENDAÇÕES PARA O ACOMPANHAMENTO COM BASE NAS MEDIDAS DE PRESSÃO ARTERIAL INICIAL PARA ADULTOS Pressão Arterial - Inicial (mmHg) * Acompanhamento Recomendado** Sistólica Diastólica <130 <85 Reconfirmar em 2 anos 130-139 85-89 Reconfirmar em 1 ano*** 140-159 90-99 Confirmar dentro de 2 meses*** 160-179 100-109 Avaliar ou encaminhar para um centro de vigilância dentro de 1 mês ³180 ³110 Avaliar ou encaminhar para um centro de vigilância imediatamente ou dentro de 1 semana dependendo da situação clínica * Se as categorias sistólica e diastólicas são diferentes, siga as recomendações para o período de acompanhamento mais curto (p.e., 160/86 mmHg deve ser avaliado ou encaminhado para um centro de vigilância dentro de 1 mês). ** Modifique o plano de acompanhamento de acordo com uma informação segura sobre as medidas pressóricas anteriores, outros fatores de risco cardiovascular, ou acometimento em órgão-alvo. *** Aconselhe sobre modificações no estilo de vida (ver capítulo 3). Monitoração ambulatorial de pressão arterial Uma variedade de monitores comercialmente disponíveis, que sejam seguros, adequados, fáceis de usar, e precisos, estão agora disponíveis. Estes monitores são programados tipicamente para realizar leituras a cada 15 a 30 minutos ao longo do dia e da noite enquanto os pacientes empreendem suas atividades diárias normais. As leituras podem então ser transferidas para um computador pessoal para análise. Os valores normais da pressão arterial tomados pelas medidas ambulatoriais (1) são mais baixas do que as obtidas no consultório quando o paciente está acordado (abaixo de 135/85 mmHg); (2) ainda estão mais baixas enquanto o pacientes está adormecido (abaixo de 120/75 mmHg); e (3) fornece medidas da carga pressórica da PAS e PAD 47. Na maioria dos indivíduos, a pressão arterial cai cerca de 10 a 20 por cento durante a noite; esta mudança está mais intimamente relacionada ao padrão de sono e insônia do que o período do dia, como ilustrado pela inversão do ciclo de atividade que acompanha o ritmo de pressão arterial em trabalhadores noturnos. Entre as pessoas com hipertensão, um amplo e consistente conjunto de evidencias indica que a pressão arterial ambulatorial se correlaciona melhor do que a pressão arterial de consultório com uma variedade de medidas de lesão em órgão-alvo tais como hipertrofia ventricular esquerda47. Dados prospectivos relacionado a pressão arterial ambulatorial com o prognóstico estão limitados a dois estudos publicados, os quais sugerem que, em pacientes nos quais uma pressão arterial elevada no consultório é a única anormalidade, a monitorização ambulatorial pode identificar um grupo com um risco relativamente menor de morbidade. Verdecchia e cols. sugerem que a MAPA estratifica o risco cardiovascular na hipertensão primária, independente da pressão arterial medida na clínica e de outros marcadores tradicionais de risco como a hipertrofia ventricular esquerda. A morbidade cardiovascular é baixa na "hipertensão do avental 4 branco" e excessivamente elevada (risco relativo 6,8 vezes maior) na mulher hipertensa sem redução pressórica durante o sono comparado aquela que apresenta queda noturna. A monitorização ambulatorial de pressão arterial é clinicamente mais proveitosa e mais comumente usada em pacientes com suspeita de "hipertensão do avental branco" , mas também é proveitosa em pacientes com aparente resitencia às drogas, sintomas de hipotensão com as medicações anti-hipertensivas, hipertensão episódicas, e disfunção autonômica. De qualquer modo, este procedimento não deve ser usado indiscriminadamente como uma avaliação de rotina de pacientes com suspeita de hipertensão. Quanto a custos47 é estimado para a MAPA o preço de U$ 120.00, variando-se entre U$ 100-400,00. Se esta técnica fosse utilizada rotineiramente para diagnóstico e monitorizar todo paciente hipertenso, a nível nacional, o custo anual ultrapassaria 6 bilhões de dolares. Por outro lado, para o paciente que supostamente apresente "hipertensão do avental branco" a realização da MAPA seria mais barato do que o uso de drogas anti-hipertensivas que não estivesse indicado. Avaliação A avaliação de pacientes com hipertensão documentada tem tres objetivos: (1) identificar as causas conhecidas para pressão arterial alta; (2) avaliar a presença ou ausencia de lesão em órgãos-alvo e doença cardiovascular, o grau da doença, e a resposta à terapia; e (3) identificar outros fatores de risco cardiovascular ou doenças concomitantes que possam definir o prognóstico e orientar o tratamento. Os dados para a avaliação são adquiridos através da anamnese , exame físico, testes laboratoriais, e outros procedimentos diagnósticos. Anamnese A anamnese deve incluir o seguinte: conhecimento da duração e dos níveis pressóricos; história do paciente e sintomas de DC, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, doença renal, diabete melito, dislipidemia, outras condições combinadas, gota, ou disfunção sexual; história familiar de hipertensão, CD prematura, acidente vascular cerebral, diabete, dislipidemia, ou doença renal; sintomas que sugiram causas de hipertensão; história de alteração recente no peso, tempo para atividades de laser e exercícios, fumo e outro forma de uso de tabaco; avaliação dietética incluindo ingesta de sódio, álcool, gordura saturada, e cafeína; história de todas as medicações prescritas e medicamentos sem receita médica, remédios de plantas, e drogas ilícitas, algumas das quais podem elevar a pressão arterial ou interferir com a efetividade das drogas anti-hipertensivas (ver capítulo 4); resultados e efeitos adversos de terapias anti-hipertensivas prévias; e fatores psico-sociais e ambientais (p.e., situação familiar, posição no trabalho e condições de trabalho, nível educacional) que possam influenciar no controle da hipertensão. Exame Físico O exame físico inicial deve incluir o seguinte: 5 duas ou mais medidas pressóricas separadas por 2 minutos com o paciente quer na posição supina ou sentada e depois de ficar em pé por pelo menos 2 minutos de acordo com as recomendações técnicas mencionadas anteriormente; verificação no braço contralateral (se os valores são diferentes, o valor mais alto deve ser usado); medidas do peso, altura, e circunferencia da cintura (ver capítulo 3); fundoscopia para exame da retinopatia hipertensiva (p.e., estreitamento arteriolar, constrições focais arteriolares, cruzamentos arteriovenosos alterados, hemorragias e exsudatos, edema de papila); exame do pescoço para sopros carotídeos, distensão das veias, ou um aumento da glândula tireóide; exame do coração para anormalidades no ritmo e frequencia, aumento do tamanho, esforço precordial, estalidos, murmúrios, e terceira e quarta bulhas; exame dos pulmões para estertores e evidências de broncoespasmo; exame do abdomen para sopros, aumento dos rins, massas, e pulsação aórtica anormal; exame das extremidades para diminuição ou ausência dos pulsos arteriais periféricos, sopros, e edema; e avaliação neurológica. Testes Laboratoriais e Outros Procedimentos Diagnósticos Testes laboratoriais de rotina recomendados antes de iniciar a terapia são testes para determinar a presença de lesão em órgão-alvo e outros fatores de risco. Estes testes rotineiros incluem análise de urina, contagem completa das células do sangue, bioquímica (potássio, sódio, creatinina, glicemia de jejum, colesterol total, lipoproteína de alta-densidade (HDL) colesterol), e um eletrocardiograma de 12-derivações. Comparativamente ao JNC V foi suprimido as dosagens de cálcio, ácido úrico e triglicérides como exames de rotina passando a serem opcionais. Testes opcionais Testes opcionais incluem depuração de creatinina, microalbuminúria, proteinúria de 24 horas, cálcio, ácido úrico, triglicérides de jejum, lipoproteína de baixa-densidade (LDL) colesterol, hemoglobina glicosilada, hormonio estimulante da tireóide, e ecocardiografia limitada (ver capítulo 4) (para determinar a presença de hipertrofia ventricular esquerda). Uma avaliação mais completa da anatomia e função cardíaca através de ecocardiograma padrão, exame das alterações estruturais nas artérias pela ultrasonografia, medida do índice tornozelo/braço, e atividade plasmática de renina/determinação do sódio urinário pode ser útil na avaliação da posição cardiovascular em pacientes selecionados. Como exames opcionais foram acrescentados a dosagem de hemoglobina glicosilada, hormônio estimulante da tireóide e ecocardiografia limitada189. São indicações para este útimo exame: 1. Pacientes hipertensos sem tratamento com pressão arterial estágio 1 (140-159/90-99 mmHg) sem evidência de hipertrofia ventricular esquerda ou outro fator de risco cardiovascular. 2. Quando evidências de hipertrofia ventricular esquerda necessitem de provas adicionais (alterações de voltagem eletrocardiofráficas suspeitas de serem falsas positivas, ECG com anormalidades atriais esquerdas). 3. Para minimizar excessos de uso de um procedimento ecocardiográfico mais caro quando pretende-se apenas medir a massa ventricular esquerda e espessuras de paredes. Causas identificáveis de Hipertensão 6 Procedimentos diagnósticos adicionais podem estar indicados para procurar causas de hipertensão, particularmente em pacientes (1) cuja idade, história, exame físico, severidade da hipertensão, ou achados laboratoriais inciais sugiram tais causas; (2) aqueles cuja pressão esteja respondendo pouco à terapia com drogas; (3) com hipertensão bem controlada cujos níveis pressóricos comecem a subir; (4) com estágio 3 de hipertensão; e (5) com aparecimento súbito de hipertensão. Por exemplo, hipertensão lábil ou paroxismos de hipertensão acompanhados por cefaléia, palpitação, palidez, e transpiração sugerem feocromocitoma; sopros abdominais, particularmente aqueles que lateralizam para as áreas renais ou tem um componente diastólico, sugerem doença renovascular; massas abdominais ou nos flancos podem ser rins policísticos; ausencia ou demora no pulso da artéria femoral e níveis pressóricos diminuídos nas extremidades inferiores podem indicar coarctação da aorta; e obesidade do tronco com estrias vinhosas sugerem Síndrome de Cushing. Exemplos de dicas a partir dos testes laboratoriais incluem hipocalemia não provocada (aldosteronismo primário), hipercalcemia (hiperparatireoidismo), e creatinina elevada ou exame de urina anormal (doença parenquimatosa renal). Investigações apropriadas devem ser conduzidas quando houver um alto indício de suspeita de uma causa identificável. Genética da Hipertensão Os níveis pressóricos são correlacionados entre os membros da família, um fato atribuível à genética comum de base, ambiente compartilhado, ou hábitos de estilo de vida. A pressão arterial elevada parece ter uma característica complexa que não segue as regras clássicas de herança Mendeliana atribuível a um único locus no gene; as exceções atualmente documentadas são umas poucas formas raras de hipertensão, tais como aquelas relacionadas a uma única mutação envolvendo um gene sintase quimérico da 11-beta-hidroxilase/aldosterona. A pressão arterial elevada parece ser uma desordem poligênica e multifatorial na qual a interação de vários genes com os demais e com o ambiente é importante. Potenciais genes candidatos sugeridos por experimentos recentes incluem aqueles que afetam vários componentes do sistema renina-angiotensina-aldosterona, sistema calicreína-cininas, e o sistema nervoso simpático. Os avanços na biologia molecular têm se efetivado em todos os campos da medicina. A hipertensão arterial não é excessão e este tópico foi acrescentado em relação ao JOINT anterior para destacar a importância da genética da hipertensão. Entretanto, do ponto de vista clínico tradicional as descobertas ainda não resultaram em medidas práticas a serem adotadas no atendimento do paciente hipertenso. Tabela 4. COMPONENTES DA ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR EM PACIENTES COM HIPERTENSÃO * Principais Fatores de Risco Fumo Dislipidemia Diabete melito Idade acima de 60 anos Sexo (homens e mulheres pós-menopausa) História familiar de doença cardiovascular: mulheres abaixo de 65 anos e homens abaixo de 55 anos Lesão em órgãos-alvo /Doença Cardiovascular Clínica Doenças cardíacas 7 Hipertrofia ventricular esquerda Angina/ infarto do miocárdio anterior Revascularização coronariana anterior Insuficiência cardíaca Acidente vascular cerebral ou ataque isquemico transitório Nefropatia Doença arterial periférica Retinopatia * ver tabela 5 Estratificação do Risco O risco de doença cardiovascular em pacientes com hipertensão é determinado não apenas pelo nível pressórico mas também pela presença ou ausencia de lesão em órgão-alvo ou outro fator de risco tais como fumo, dislipidemia, e diabete, como mostrado na tabela 4. Estes fatores modificam independentemente o risco para doença cardiovascular subsequente, e sua presença ou ausencia é determinada durante a avaliação de rotina do paciente (p.e., anamnese, exame físico, testes laboratoriais). Baseado nesta avaliação e no nível pressórico, o risco do paciente pode ser determinado, como mostrado na tabela 5. A classificação empírica estratifica os pacientes com hipertensão dentro de grupos de risco para as decisões terapêuticas. O Comitê de Autoridades no Controle da Hipertensão da Organização Mundial de Saúde recomendou recentemente uma abordagem semelhante. A obesidade e a inatividade física também são preditivos de risco cardiovascular e interagem com outros fatores de risco, mas eles são de menor significância na seleção das drogas anti-hipertensivas. Na estratificação do risco ocorreram modificações mais substanciais. Definiu-se de forma clara e ampliou-se os fatores de risco maiores. Suprimiu-se inatividade física e obesidade desta lista, embora sejam preditivos de risco cardiovascular. Além das evidências de lesão de órgão alvo acrescentou-se doença cardiovascular clínica . Esta mudança foi para definir alterações na instituição do tratamento com drogas anti-hipertensivas. Conforme se observa na tabela 5 foram criados grupos de risco A, B e C. Pacientes do grupo C, com lesão de órgão alvo/ doença cardiovascular clínica com ou sem outros fatores de risco devem receber tratamento imediato, mesmo aqueles pacientes com pressão arterial normal-alta (130-139/85-89), portanto não hipertensos classicamente. Esta estratégia difere dos critérios adotados pela OMS que recomenda apenas mudanças no estilo de vida e seguimento para pacientes com pressão menor que 160/95 mmHg, com baixo risco cardiovascular, este definido como ausência de lesão de órgãos alvo. Segundo o comitê da OMS, a simples presença de acometimento destes órgãos confere o rótulo de paciente de alto risco significando tratamento medicamentoso imediato independente do seu nível de pressão arterial. Enquanto não houver estudos com argumentos indiscutíveis para desanuviar esta área cinzenta a decisão mais sábia seria deixar a cargo de cada médico e, particularmente, indicado individualmente para cada paciente. O comitê da OMS irá se pronunciar futuramente, preparando um novo guia de conduta, após o término de dois estudos: O primeiro se refere ao risco e benefício com o tratamento não farmacológico de aumento pressórico de graus leves, e o segundo sobre a intervenção medicamentosa em pacientes com pressão normal-alta ou limítrofe, com pressão diastólica entre 85-95 mmHg e sistólica 140-160 mmHg. Grupo de Risco A 8 O grupo de risco A inclui pacientes com pressão arterial normal alta ou hipertensão estágios 1, 2, ou 3 que não tenham doença cardiovascular clínica, lesão em órgão-alvo, ou outro fator de risco. Indivíduos com hipertensão estágio 1 no grupo de risco A são candidatos para estudos mais longos (até 1ano) de vigorosas modificações no estilo de vida com atenta monitorização dos níveis pressóricos. Se a meta da pressão arterial não for alcançada, pode ser adicionada terapia farmacológica. Para aqueles em estágio 2 ou 3, a terapia com droga está justificada. Grupo de Risco B O grupo de risco B inclui pacientes com hipertensão que não tenham doença cardiovascular clínica, lesão em órgão-alvo mas tem um ou mais fatores de risco mostrados na tabela 4, mas não diabete melito. Este grupo contem a grande maioria dos pacientes com pressão arterial elevada. Se múltiplos fatores de risco estão presentes, os clínicos devem considerar as drogas anti-hipertensivas como terapia inicial. Modificações no estilo de vida e gerenciamento dos fatores de risco reversíveis devem ser fortemente recomendados. Grupo de Risco C O grupo de risco C inclui os pacientes com hipertensão que tem doença cardiovascular clinicamente manifesta ou lesão em órgão-alvo, como delineado na tabela 4. A opinião clínica do comitê executivo do VI JNC que alguns pacientes que tem níveis pressóricos alto-normal como também insuficiência renal, insuficiência cardíaca, ou diabete melito devem ser considerados para terapia farmacológica de imediato. Modificações no estilo de vida apropriadas sempre devem ser recomendadas como tratamento adjunto. A classificação (estágio da pressão arterial e grupamento de riscos) está diretamente ligada ao tratamento e as metas do tratamento são discutidas no capítulo 3. Ele proporciona aos clínicos um método simples de identificação dos riscos estratificados para os pacientes individualmente (pela anamnese, exame físico, e testes laboratoriais de rotina) assim como instruções para o tratamento daqueles pacientes. Com estes achados, uma avaliação do risco absoluto pode ser feita. Tabelas, fórmulas, programas de computadores software, e endereços na World Wide Web estão disponíveis para calcular o risco cardiovascular de um paciente individual através do significado dos dados obtidos em estudos epidemiológicos. Tabela 5. ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO E TRATAMENTO * Estágios da Pressão Arterial (mmHg) Grupo de Risco A (Sem Fatores de Risco Sem LOA/DCC) Grupo de Risco B(Pelo menos 1 fator de risco, não incluindo Diabete**, Sem LOA/DCC) Grupo de Risco C (LOA/DCC e/ou Diabete, com ou sem Outros Fatores de risco) Normal alta (130-139 /85-89) Modificação no estilo de vida Modificação no estilo de vida Terapia com drogas**** Estágio 1 (140-159/90-99) Modificação no estilo de vida (até 12 meses) Modificação no estilo de vida*** (até 6 meses) Terapia com drogas Estágios 2 e 3 ( ³160/ ³100) Terapia com drogas Terapia com drogas Terapia com drogas Por exemplo, um paciente com diabete e níveis pressóricos de 142/90 mmHg mais hipertrofia ventricular esquerda deve ser classificado com tendo hipertensão estágio 1 com lesão em órgãoalvo (hipertrofia ventricular esquerda) e com outro principal fator de risco (diabete). Este paciente 9 deverá ser categorizado como Estágio 1, Grupo de Risco C, e recomendado para início imediato de tratamento farmacológico. * Modificação no estilo de vida deve ser uma terapia adjunta para todos os pacientes recomendados para terapia farmacológica. ** LOA/DCC indicam lesão em órgão-alvo/ doença cardiovascular clínica (ver tabela 4). *** Para os pacientes com múltiplos fatores de risco, os clínicos devem considerar como terapia inicial o uso de drogas mais modificações no estilo de vida. **** Para aqueles com insuficiência cardíaca, insuficiência renal, ou diabete. RESUMO A tabela 2 fornece a classificação dos estágios de acordo com os níveis pressóricos em adultos. Os estágios 3 e 4 da hipertensão estão agora combinados. As recomendações para detecção, confirmação, e avaliação da pressão arterial alta permanece consistente com aquelas apresentadas no relatório do V JNC. Uma nova definição é proposta para os níveis pressóricos normais com auto-monitorização e medidas ambulatoriais de pressão. Uma discussão da genética e uma discussão das dicas clínicas para causas identificáveis de hipertensão foram adicionadas. Novas tabelas listando os fatores de risco cardiovascular e descrevendo a estratificação dos riscos foram adicionadas. 10