Manfred Max-Neef e Herman Daly: Dois

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Manfred Max-Neef e Herman Daly:
Dois economistas alternativos
Marcus Eduardo de Oliveira
Manfred Max-Neef e Herman Daly são economistas comentados no artigo de Marcus
Eduardo de Oliveira, publicado pelo EcoDebate, 18-06-2010.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor do Depto. de Economia da FACFITO e do Depto de Comércio Exterior do UNIFIEO (Centro Universitário FIEO). Mestre em
Integração da América Latina (USP) e Especialista em Política Internacional (FESP),com
especialização pela Universidad de La Habana – Cuba.
Eis o artigo.
A economia só faz sentido se for usada para atender as necessidades humanas. A
economia precisa respeitar os limites físicos impostos pela natureza, até porque ela é um
subsistema da bioesfera finita. Urge promover a conciliação entre a economia e o meio
ambiente e extirpar o pensamento econômico tradicional que recomenda o crescimento
econômico infinito e exponencial. Os agentes econômicos não são os donos da Terra, e sim
seus hóspedes. Não podemos mais fingir que vivemos em um ecossistema ilimitado. O
crescimento econômico permanente é impossível. Há espaço para certa irracionalidade
econômica, em lugar de se pensar que todas as decisões são pautadas, exclusivamente,
pela mais pura racionalidade. O eixo central da economia não pode ser estritamente o
mercado e, o objeto, a mercadoria, mas, sim, o indivíduo e suas necessidades
elementares.
Não basta fazer a economia crescer para acabar com a pobreza. Contra o desemprego não
basta apenas só intensificar a demanda por bens e serviços, baixando os juros e
estimulando investimentos. O ritmo econômico atual baseado na exploração desenfreada
de recursos naturais e no super-consumo é insustentável. A práxis econômica deve ser
buscada no sentido de ser solidária, participativa e coletiva, trocando, assim, o atual
modelo econômico baseado na competição pelo de cooperação. O objetivo primordial da
atividade econômica não deve ser a produção de riqueza, mas, sim, o bem-estar das
pessoas.
Todas essas afirmações, sem exceção, sopram em ventos contrários à ordotoxia
econômica. Tais argumentos ferem uma espécie de pensamento único que tem dominando,
sobremaneira, o cenário acadêmico das ciências econômicas.
As afirmações que fizemos acima refutam, na essência, os manuais de introdução à
economia que são largamente usados nos cursos universitários. Esses manuais insistem em
defender uma economia hermeticamente padronizada, além de propagarem a prática do
individualismo em economias centradas apenas, e, tão somente, na valorização de ganhos
máximos. Pouco, quase nada, é expresso em termos da valorização do indivíduo, do
respeito aos limites físicos e naturais e de uma economia voltada ao bem-estar coletivo.
É nesse sentido, da refutação consistente e bem alinhada, que os chamados economistas
alternativos (aqueles que fogem, pois, do dito padrão tradicional e fazem o vento soprar
em direção contrária) se apresentam e vão, aos poucos, ganhando mais espaço no cenário
acadêmico.
Relacionando temas como economia e meio ambiente, economia comportamental (ou
psicologia econômica), e os mais inusitados temas e situações do coditiano, alguns desses
economistas já são, hoje, vistos como referência.
A economia ecológica
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No que toca, em especial, as preocupações com o meio ambiente, desde os primeiros
trabalhos acadêmicos sobre essa questão, na década de 1970, defendidos por Nicholas
Georgescu-Roegen, principalmente com a publicação de The Entropy Law and the
Economic Process, as preocupações com o meio ambiente tem sido trazidas à tona
dentro da análise econômica. É verdade que não com a intensidade que se espera, dada a
gravidade do problema em se pensar, de forma tradicional, que uma economia mais
produtiva e mais abundante, em matéria de bens e serviços, será a solução de todos os
males que afligem o mundo.
O fato é que os economistas alternativos, ou os ecologistas da economia, têm trabalhado
intensamente para propagarem suas idéias em torno da conscientização de todos para os
graves problemas e conseqüências que cercam o modo de produção da atualidade.
É, pois, na mesma linha de pensamento de Roegen que, infelizmente continua sendo
ignorado pela comunidade acadêmica, como ignorado também continua o prêmio Nobel de
Química, Frederick Soddy (1877-1956) – um dos precursores da economia ecológica -,
que o professor da Universidade de Maryland, Herman Daly, vem fazendo críticas
consistentes ao atual sistema que insiste em não olhar para a questão ambiental como se
deve.
Daly tem insistido, veementemente, sobre a necessidade de levar em conta os efeitos da
atividade econômica sobre os recursos naturais não renováveis.
O ponto básico do pensamento de H. Daly é a idéia daquilo que ele intitulou “crescimento
deseconômico”, ou seja, aquele crescimento que, pela expansão da economia, afetou (e
afeta) excessivamente o ecossistema circundante sacrificando o capital natural (peixes,
minerais, a água, o solo, o ar…).
Daly salienta que uma vez ultrapassado a escala de crescimento ótimo, esse crescimento
torna-se custoso e estúpido no curto prazo e impossível de ser mantido no longo. A prática
maciça desse “crescimento deseconômico” tem um final já vaticinado: uma catástrofe
ecológica que tende a reduzir sensivelmente o padrão de vida de todos os hóspedes do
planeta Terra.
É nesse pormenor que a economia tradicional (a que consta dos manuais) peca de forma
considerável, pois não reconhece, ou ignora, por exemplo, que a biosfera, além de ser
finita, não cresce e é fechada.
É por ir contra essa economia tradicional que cerra os olhos para essa questão, que os
trabalhos dos economistas alternativos vem ganhando corpo.
No entanto, ir contra o pensamento tradicional, enraizado por longa data, não é tarefa
fácil. Essa dificuldade esbarra, em grande medida, no fato de que os ditos padrões estão,
há muito, bem estabelecidos. Um desses padrões mais expostos, por exemplo, recomenda
que o modelo de qualidade e felicidade (utilidade) de cada um está no acúmulo de bens
materiais.
Para isso, a receita econômica é simples: basta fazer a economia produzir mais, afinal, um
belo dia, esse crescimento excessivo chegará a nossas mãos em termos de mais produtos
disponíveis no mercado de consumo. Será? É claro que não! Para tudo há algo que a
tradicional teoria econômica não percebeu: existem limites.
Percebe-se, então, que para a teoria econômica convencional o que importa são mais
produtos; portanto, deve-se buscar, a qualquer custo, aumentar a quantidade
(crescimento). Essa teoria ortodoxa convencional não “entende” que quantidade
(crescimento) não significa qualidade (desenvolvimento).
É pela qualidade, e não pela quantidade, que o economista chileno Manfred Max-Neef
vem lutando, arduamente, para implantar novos modos de produção econômica em que as
pessoas sejam alçadas para o primeiro plano, em lugar dos objetos.
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Para Max-Neef, o crescimento econômico está alinhado à qualidade de vida das pessoas
até certo ponto. Ultrapassado esse ponto, não há ganhos, mas sim perdas; não há
benefícios, mas, custos, e, o principal deles, é a deterioração da qualidade de vida.
Essa é a base teórica da “Teoria do Umbral”, propugnada por Max-Neef que aponta dedo
em riste para os custos excessivos do processo produtivo a qualquer preço. Custos que,
por sinal, não são quantificados, mas sentidos por todos: a poluição das águas, do ar, dos
solos, a degradação ambiental, a emissão de gás carbônico para se produzir de tudo e
transportar para lugares cada vez mais distantes.
Para Manfred Max-Neef, esse economista alternativo ganhador do Prêmio Nobel
Alternativo de Economia, uma economia “saudável” se sustenta em seis postulados:
1. A economia está para servir as pessoas, e não as pessoas para servir a economia;
2. O desenvolvimento se refere a pessoas, e não aos objetos;
3. O crescimento não é o mesmo que desenvolvimento, e o desenvolvimento não precisa
necessariamente de crescimento;
4. Nenhuma economia é possível à margem dos serviços que prestam os ecossistemas;
5. A economia é um subsistema de um sistema maior e finito, que é a biosfera, e,
portanto, o crescimento permanente é impossível; e,
6. Nenhum processo ou interesse econômico, sob nenhuma circunstância, pode estar acima
da referência à vida.
Dessa forma, vemos que a realidade econômica atual, avalizada pelos manuais econômicos
tradicionais, está completamente oposta a esses princípios. E por serem esses princípios
algo que faz a “roda da economia”, por vezes, travar, esses economistas alternativos,
quase sempre, são taxados de personas non gratas.
Necessidades humanas preteridas
Assim sendo, por irem contra o tipo de economia que recomenda que tudo deva ser
transformado em números e, por conseqüência, em valores, esses pensadores são postos à
margem.
Ao praticarem uma economia em que tudo circula ao redor de números e valores, as
necessidades humanas ficam cada vez mais preteridas na escala das preferências. Dessa
forma, o modelo de economia que vigora é aquele em que o valor está nas prateleiras dos
supermercados e nas vitrines das lojas, portanto, apenas nos produtos, e não nos seres
humanos.
É contra esse tipo de pensamento econômico que Herman Daly, Manfred Max-Neef, Riane
Eisler, Gary Backer e tantos outros estão construindo suas opiniões. Foi contra isso que
Georgescu-Roegen marcou presença.
Definitivamente, a economia não está nos números, mas sim nas pessoas. Pessoas que
agem, que sentem, que fazem e que pensam a economia (atividade econômica) em seu dia
a dia.
Mesmo que esse pensamento esteja nos mais inusitados assuntos, nas mais interessantes
situações, a economia, certamente, lá está (e estará) presente. Basta, para isso, atentar
para as recentes abordagens de outros economistas que também podem ser classificados
como economistas alternativos, que são capazes de observar fatos econômicos onde
poucos enxergam tal ocorrência.
Outros economistas alternativos
Mas as obras que versam sobre esse olhar diferenciado da economia não param de surgir.
Muitos têm sido os casos de novos autores que estão explorando esse lado “oculto” das
ciências econômicas. É o caso específico de Steven Levitt e Stephen Dubner, com
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“Freakeconomics”, que se tornou, em pouco tempo, best-seller em vários lugares. É o caso
ainda de Tim Harford, com “O Economista Clandestino”; de Diane Coyle, com “Sexo,
Drogas e Economia”; de Riane Eisler, com “A Verdadeira Riqueza das Nações” e,
principalmente, dos trabalhos do economista norte-americano laureado com o Nobel, Gary
Becker, que levou o prêmio justamente por ter estendido o domínio da análise
microeconômica para uma escala de comportamento humano e interações, incluindo o
comportamento extra-mercado. Becker chega a analisar situações inusitadas como crime,
divórcio e consumo de drogas à luz do comportamento econômico de cada um.
Para finalizar, cumpre ressaltar, nesse pormenor, as mais recentes abordagens sobre a
Teoria da Economia Comportamental ou “psicologia econômica” que, aos poucos, vem
dominando a leitura das novas gerações, à medida que incorpora em suas análises certo
grau de irracionalidade econômica nas ações das pessoas, contrariando, assim, a teoria
tradicional que preconiza que toda e qualquer ação do indivíduo está pautada pela mais
absoluta racionalidade econômica.
Como podemos perceber, o “mundo econômico” exposto nos livros-técnico-didáticos, não é
bem assim, como tenta nos fazer crer a ortodoxia econômica.
Fonte: EcoDebate, 18-06-2010. Divulgado pelo sítio www.ihu.unisinos.br – 18/06/2010
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