1 New Age: argumentos de fundo Breve explicação da New Age Por Eduardo Peláez, filosofo, periodista e professor universitário argentino A New Age é um fenómeno complexo, um movimento pseudo-religioso de ideias e crenças, que se apresenta como uma “nova espiritualidade”, cujos elementos principais são incompatíveis com a fé cristã. É uma falsa aproximação ao divino e uma resposta enganadora a uma situação de crise cultural. É o que manifestamente podemos constatar no documento “Jesus Cristo, portador da Água Viva”, uma reflexão cristã sobre a “New Age” do Conselho Pontifício para a Cultura e do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, de 2003. A expressão New Age (Nova Era), significa que na história da Humanidade nasceu uma “Nova Era”, pelo facto de estar mudando o sinal do zodíaco de Peixes para Aquário. Segundo os astrólogos, com a passagem do sol de um signo de zodíaco para outro a cada 2 160 anos, produz-se uma mudança radical da civilização, no seu sentido mais amplo e por conseguinte também, uma transformação da espiritualidade e religiosidade, assim como a mentalidade e a sensibilidade. A era de Peixes, marcada pela religião cristã tem sido, segundo eles, um período de pobreza material e espiritual, com guerras e divisões entre Deus e o homem, entre os homens, entre os homens e o mundo, entre a carne e o espírito e entre as diversas religiões. Em vez disso, a Era Aquário, será caracterizada segundo eles, sobretudo por uma nova “espiritualidade mística”, a qual fará desaparecer a religião cristã, causa da divisão entre as religiões, reconciliando-as a todas numa nova religião universal. Uma era de amor, concórdia e paz, em que todas as divisões desaparecerão. Muitos dos seus elementos procedem entre outras, de correntes agnósticas e especialmente é importante a influencia das religiões orientais (especialmente budista, trantista e taoista), as práticas da “meditação” Yoga e Zen, a psicologia profunda de C.G.Jung e a psicologia transpessoal, baseada na convicção segundo a qual, o homem pode experimentar a sua plena realização, unicamente com experiencias que superam a sua própria individualidade, transcendendo-a e conseguindo assim o acesso à unidade com o Todo e consequentemente à experiencia “mística”. Para chegar a semelhante experiencia, serve-se sobretudo da música. As condições culturais que favorecem o nascimento da “New Age” e que actualmente levam ao seu êxito, são essencialmente de ordem espiritual e social: a sociedade dos nossos dias é individualista e marcada por uma luta dura e cruel pela existência. É uma sociedade com tensões e contraposições, onde há falta de harmonia, de paz, de amor e de felicidade. É uma sociedade materialista e espiritualmente vazia e árida, que fecha as pessoas numa procura obsessiva de dinheiro e êxito, impedindo o seu acesso a experiencias espirituais, de ordem propriamente transcendente e mística Como reacção as estas divisões, a New Age aspira a uma vida harmoniosa, pacífica, alegre e rica de emoções espirituais. Na realidade para a New Age, a grande culpa do cristianismo residiria em ter trazido a divisão e a oposição ao mundo. O Universo por sua vez, é um corpo unitário e harmonioso, onde cada um é parte do Todo e se encontra em harmoniosa conexão com todos os outros seres. Deus e o mundo, o homem e a mulher, o espírito e a matéria, o corpo e a alma, a inteligência racional e o sentimento, a consciência e a inconsciência, o céu e a aterra, os homens, os animais e as plantas, são uma imensa vibração energética onde tudo está ligado, quer dizer, um todo único no qual as diferenças, separações e oposições são superficiais e aparentes e por isso 2 enganadoras e ilusórias, enquanto que no fundo se encontra a unidade e a compenetração de carácter real. Por isso a New Age é holista (do grego Holos, que significa “todo”) e vê com grande simpatia as religiões orientais, que consideram aparência ilusória a multiplicidade de seres e pessoas individuais, porquanto a única Realidade existente é o Absoluto impessoal. Por essa razão a New Age acusa o cristianismo de haver colocado, com a sua doutrina da Criação, um obstáculo intransponível entre Deus e o homem e entre Deus e o cosmos e de impedir com a sua doutrina da pessoa, segundo a qual Deus é um Ser “pessoal” e o homem é uma “pessoa” em diálogo “Eu Tu” com Deus. A unificação do homem com Deus com a imersão do homem em Deus. Acusa-a de ter despojado o mundo do seu carácter divino com a sua doutrina da transcendência absoluta de Deus e de ter criado uma rotura entre o homem e a mulher, entre o homem e os animais, entre a matéria e o espírito, entre a alma e o corpo, com a sua doutrina antropocêntrica e machista e com o seu espiritualismo, de haver convertido o homem em amo e senhor da terra, permitindo-lhe assim explorá-la até destruir toda a forma viva, animal ou vegetal. Em particular a New Age, acusa o cristianismo de haver feito o homem infeliz com a sua doutrina moral, baseada no pecado (que para eles não existe), tornando impossível para o homem a experiencia mística, com o seu legalismo e o seu racionalismo, receoso do sentimento e da experiencia religiosa não regulada pelas suas normas. Assim, em contraste com o cristianismo, a New Age afasta a ideia da visão de Deus como Pai, pois isso seria aceitá-lo como um ser masculino e patriarcal, e do homem como um ser superior à mulher. Afasta a ideia antropocentrista, segundo a qual o homem é qualitativamente distinto dos animais e superior a eles, pelo que pode dispor deles a seu gosto, chegando a dar-lhes a morte e come-los. Afasta a ideia de que a terra e as formas de vida que nela se encontram - plantas e animais – estão sujeitas à determinação despótica do homem. Portanto a New Age é feminista, animalista, vegetariana e biocentrica, exigindo o respeito pela vida em todas as suas formas e vê a Terra como um ser vivo divino e único (o seu verdadeiro nome é Gaia, a Mãe Terra), por isso é ecologista e se opõe a tudo quanto a explore, a deteriore e a destrua, como acontece com o uso desenfreado da tecnologia. No entanto a ideia ecológica da New Age, é a “ecologia profunda” (deep ecology), baseada não só no respeito à Natureza, mas também num biologismo absoluto, para a qual a vida (bios) é o valor supremo e todos os seres vivos têm igual valor e dignidade: o homem é puramente um ser vivo entre os demais e tem direito a viver tal como os outros seres vivos, de maneira que se for necessário sacrificar alguns homens para salvar uma outra espécie viva em perigo de extinção, isso deve ser feito. Em particular a New Age defende o corpo para uma vida saudável, mas não recomenda o recurso à medicina oficial, já que esta tende a curar as enfermidades específicas e isoladas, e não presta atenção à pessoa no seu carácter integral e sobretudo não tem em consideração a função da mente na cura das enfermidades, porque considera que a medicina oficial actua contra a Natureza. Por esse motivo, a New Age recorre à medicina” alternativa” , que usa técnicas e produtos “naturais” – e não artificiais – e por essa razão em harmonia com a pessoa, como a acupuntura, a quiroterapia, a fisioterapia, a homeopatia, a iridologia e vários tipos de ervas medicinais, a cristaloterapia, a metaloterapia, a musicoterapia, a cromoterapia, etc. Estes tratamentos, aos quais se juntam as terapias de carácter espiritual, como as diversas formas de “meditação” oriental, podem curar doenças e prolongar a vida. Em todo o caso não podem impedir a morte, mas isto não constitui um problema para a New Age. Na realidade eles professam a doutrina da reencarnação, segundo a qual com a morte, a alma que 3 é uma chispa do divino no homem, passa para um outro corpo e sucessivamente para outro, numa progressão para um estádio cada vez mais perfeito, até mergulhar plenamente no Todo divino, quer dizer, na Consciência cósmica universal. Em todo o caso para a New Age, é possível submergir-se a partir do presente no Divino, ou seja: a experiencia ”mística” propriamente como tal. Esta é a aspiração mais profunda de todos os homens, porque unicamente nela é possível encontrar a paz interior, o amor e a harmonia com todos os seres e a alegria de viver num mundo “reencontrado” (que o cristianismo segundo eles, ao despojá-lo da sua divindade “desencantou”, privando-o do seu carácter divino e por conseguinte da sua “fascinação”) e “unificado” ( e portanto sem fragmentação e libertado, em troca de todos os dualismos introduzidos no mesmo pelo cristianismo). Na realidade, de acordo com a New Age, a experiencia mística é uma experiencia de harmonia e unidade, que liberta as pessoa da sensação de imperfeição e finitude que a aflige, fá-la participar da energia universal que a aflige, a faz participante da energia universal cósmica e a insere no processo evolutivo que conduz o cosmos até à sua perfeição: esta alcançar-se-á de facto, quando todas as divisões e oposições que hoje afectam a humanidade se tenham fundido no Todo. Assim a experiencia mística da New Age é expressa perfeitamente pela fusão dos princípios opostos yin (feminino) e yang (masculino), ensinada pelo taoísmo e pela experiencia de quantos praticam o yoga ,quando em “êxtase” descobrem a sua própria identificação com Brahma, o Absoluto. Para alcançar a experiencia mística, a New Age propõe a prática do Yoga, a meditação transcendental, a recitação de mantras e exercícios tântricos. Propõe para além disso o recurso a experiencia “transpessoais”, em que superam os limites do próprio Eu e a própria consciência pessoal e una se submerge na Consciência universal e na Energia cósmica. Propõe por último métodos para desenvolver o lado direito do cérebro, onde as emoções, as fantasias, os sonhos, as intuições e as percepções totalizadoras se formam. No entanto, diz a New Age, o Ocidente desenvolveu o hemisfério esquerdo do cérebro, onde se desenvolvem a linguagem, a racionalidade, a linguagem e o cálculo, caindo no racionalismo e no cientificismo tecnológico, que deterioram gravemente a terra e os seres vivos, enquanto a Oriente têm o mérito de terem o privilégio de desenvolverem o hemisfério direito do cérebro, com as suas técnicas de meditação. Propõem por último que vivam experiências espirituais de luz e comunhão com todos os seres vivos e sobretudo, a experiência da própria identidade com o Absoluto. Concluindo, a New Age é ao mesmo tempo uma ideologia, uma espiritualidade e um conjunto de práticas psicológicas, terapêuticas e de alimentação, dirigida a assegurar o bemestar psíquico e físico. É antes de mais uma ideologia na qual confluem a astrologia, o esoterismo hermético, a gnoses, o monismo panteístico, com a rejeição do dualismo, o espiritismo, a psicologia de C.G.Jung, A. Maslow e C. Rogers, o taoísmo, a ecologia, o feminismo e o animalismo. Agora com este ecletismo, a New Age é tudo ao mesmo tempo e por isso resulta difícil fazer uma síntese coerente da mesma, mas talvez a sua principal característica seja, a oposição ao cristianismo. O documento que estamos a comentar, mostra no seu capítulo 4, a New Age e a fé cristã em contraste, pois a New Age nega os conteúdos revelados pela fé cristã, e no capítulo 6 observa que esta se apresenta como “uma alternativa ao legado judeo-cristão” e “a sua atitude perante o cristianismo não é neutra, mas sim neutralizante”, pelo que não é possível ao mesmo tempo fazer parte do movimento New Age e ser cristão. O motivo é claro. A New Age nega explicitamente todas as verdades da Revelação cristã: a transcendência de Deus no mundo e a Sua personalidade; a Criação do mundo, que 4 para a New Age é eterno e incriado: a existência do pecado, visto pela New Age como uma imperfeição que se corrige com a psicoterapia e as técnicas para o desenvolvimento do “potencial humano”; a necessidade da graça e da salvação, uma vez que esta é obtida pelo homem com as suas próprias forças. Assim a New Age é panteísta e pelagiana, por uma parte e por outra, é gnóstica, porquanto faz consistir a salvação no facto de que a chispa divina que se encontra no homem, se reúne novamente com o Todo divino, submergindo-se neste. Indubitavelmente, a New Age fala de Cristo, mas não se trata do Cristo Histórico, do Jesus de Nazaré, mas sim do Cristo cósmico, de quem o Cristo histórico é uma entre tantas manifestações que sucederam e hão-de suceder-se na história humana com nomes diferentes. Para alguns é o mestre das doutrinas esotéricas, para outros é um dos grande iniciados, ainda para outros por último, é a energia “crística” que está na base de cada ser e de todo o ser, da qual é preciso tomar consciência, mediante a iniciação para chegar ao estado mais elevado da perfeição de si mesmo. Evidentemente, a New Age nega tanto a Encarnação como a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo. Em segundo lugar, a New Age não é uma religião nem um movimento religioso, conquanto queira unificar todas as religiões numa só, de carácter universal e em condições de unir toda a Humanidade, porque as religiões são expressões distintas da mesma realidade interior e aspiram aos mesmos objectivos: o Amor, a Fraternidade, a Paz, a Sabedoria, a iluminação. É ao contrário uma espiritualidade, isto é, um caminho espiritual interior, levado a cabo sem a ajuda de alguma Igreja. A espiritualidade da New Age é uma espiritualidade mística, que pretende conduzir a quem a pratica, a uma experiencia de exaltação alegre e pacificadora de imersão num oceano de vibrações que é o cosmos, e portanto de fusão da própria individualidade como Todo divino. Aqui reside o núcleo essencial da New Age, mas também o que mais a opõe radicalmente ao cristianismo, em que o misticismo não é uma conquista do homem, mas sempre e unicamente um dom gratuito do Amor de Deus. Um dom pelo qual o homem vive uma experiencia sobrenatural de Deus, que é uma experiencia inefável de luz e amor, sem desaparecer contudo, a infinita distancia entre Deus e o homem, entre a santidade de Deus e o pecado do homem. Na realidade nem mesmo nos estados místicos mais elevados, existe uma fusão entre Deus e o homem, nem imersão alguma no Divino. Por outro lado, de acordo com a New Age, no cristianismo não existem técnicas de meditação, psicológicas e terapêuticas, capazes de proporcionar experiencias místicas. Em terceiro lugar, a New Age é um conjunto de práticas de distintos tipos, às quais se recorre por motivos tanto espirituais, enquanto ajudam a viver a experiencia mística, como de bem-estar físico e psíquico. É importante ter em conta estas três distinções, já que a maior parte das pessoas que participam no movimento New Age, nada sabem da sua ideologia ou não se ocupam da mesma, sem estarem conscientemente introduzidos no ambiente espiritual da New Age. Também é preciso ter consciência de que o “espirito” da New Age - se não a sua ideologia- está sendo aceite com a ajuda dos Media no mundo cristão, incluindo os grupos de oração e compromisso social, despertando uma sensibilidade e uma simpatia por métodos e formas de espiritualidade que dificilmente podem ser compatíveis com a fé e a oração cristã. Constitui portanto um desafio que deve levar a que urgentemente se dê a conhecer as riquezas da verdadeira espiritualidade cristã e que passam por: descobrir e cuidar com profundidade a Liturgia – sabendo que o cristão vive a sua experiencia espiritual mais verdadeira e profunda sobretudo na Celebração Eucarística e na Adoração silenciosa – e a ensinar o verdadeiro objectivo e conteúdo da oração cristã e da contemplação, tendo em conta que a experiencia de Deus, Uno e Trino, não é fruto de um esforço humano nem muito menos de técnicas de meditação, mas sim um dom de Deus. 5 Em definitivo, reconhecer pela Fé, que só Cristo, o Filho de Deus feito Homem – e não o aquário – pode ser o portador “ da Água viva”, que pode satisfazer a sede de vida, de paz, de alegria e fraternidade. Encuentra Tradução livre de MAM