CORREIO BRAZILIENSE Caderno Cidades – 26/março/2008 URBANISMO Terracap busca saída para RUVs Governo estuda alternativas para os lotes destinados aos Restaurantes de Unidade de Vizinhança entre as quadras 200 e 400 da Asa Sul. Moradores criticam o cercamento das áreas Helena Mader Da Equipe do Correio Dois anos após a assinatura do decreto que transformou os lotes conhecidos como RUVs (Restaurante de Unidade de Vizinhança) em áreas de utilidade pública, a Companhia Imobiliária de Brasília quer encontrar uma solução para essas áreas. O prazo estimado é até o final de abril. As áreas localizadas na ponta das quadras 200 da Asa Sul — voltadas para as 400 — foram vendidas na época da construção de Brasília e fazem parte do projeto de Lúcio Costa para a nova capital. Os moradores do bairro lutam para que os lotes permaneçam como áreas verdes, mas os empresários que pagaram pelos imóveis querem construir lojas no local. O governo estuda três alternativas para resolver o problema: a desapropriação, a troca dos lotes em RUVs por terrenos em outras regiões do Distrito Federal ou a restrição dos tipos de comércio que poderiam ser criados nessas áreas, para evitar a instalação de atividades mais incômodas para os vizinhos — como bares e restaurantes. O lote RUV da CLS 208 foi rodeado por cercas que lembram um curral. A reação dos moradores reacendeu a polêmica sobre o assunto Um grupo de moradores cansou de esperar e decidiu ironizar o abandono desses terrenos. Na CLS 208, os Protesto dos moradores tapumes que separavam o lote RUV foram substituídos contra os tapumes em por cercas que lembram um curral. No último domingo, lotes RUV, em 2005 foi colocada uma vaca de papelão, feita em tamanho real. Na noite de segunda-feira, entretanto, a réplica do animal havia desaparecido. A confusão em torno do destino dos RUVs começou em 2005, quando os donos de lotes das quadras 208, 211 e 216 cercaram o espaço antes dedicado aos pedestres. Muitos moradores da Asa Sul estranharam a presença dos tapumes e acharam que as empresas estariam ocupando espaços públicos ilegalmente. Mesmo diante da afirmação do governo de que os lotes existiam e eram legais, a população não aceitou as novas construções e fez uma série de protestos. Decreto Diante das pressões, em março de 2006 o então governador Joaquim Roriz assinou um decreto para desapropriar todas os 15 RUVs da Asa Sul e transformar os terrenos em área de utilidade pública. Mas, de lá para cá, nenhum processo avançou e as indenizações não foram pagas. Portanto, os terrenos continuaram como propriedade das empresas que haviam comprado esses espaços. 1 CORREIO BRAZILIENSE Caderno Cidades – 26/março/2008 Como a desapropriação custaria caro aos cofres públicos — cerca de R$ 30 milhões para pagar os donos e manter os lotes como áreas verdes — a Terracap negocia com representantes dos moradores e com os proprietários dos terrenos a melhor saída para o problema. A comunidade que reclama da possibilidade de construções teme aumento no tráfego e engarrafamentos. A diretora técnica da Terracap, Ivelise Longhi, lembra que a construção nos lotes de ponta das quadras 200 foi prevista pelo plano original da capital. “Como elas ficaram muito tempo vazias, a comunidade se acostumou com os espaços verdes e agora não quer novas construções. Mas vamos estudar a proposta mais viável”, explica Ivelise. A desapropriação não é a idéia que mais agrada ao GDF. Isso porque pagar indenizações aos proprietários dos lotes teria um custo alto. Cada um desses lotes no comércio da Asa Sul custaria, no mínimo, entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. “Essa opção é mais complicada porque exige um investimento muito alto, que poderia ser usado em várias obras para a cidade. Além disso, os proprietários podem recorrer do valor na Justiça e prolongar muito esse processo”, destaca Ivelise. A troca por terrenos em outras regiões também seria uma alternativa complicada, já que o Tribunal de Contas do DF costuma questionar esse tipo de procedimento e os donos dos RUVs poderiam reclamar na Justiça. A alternativa preferida pelo governo é a restrição de uso. “Podemos restringir o porte desses estabelecimentos e definir atividades que têm menos impactos. Bancos ou academias, por exemplo, não incomodam tanto como bares ou supermercados”, argumenta Ivelise Longhi. A presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Heliete Bastos, defende que o governo faça a desapropriação da área para que os terrenos passem a ser espaços públicos definitivamente. “Isso não é um custo, um desperdício, mas sim um investimento para manter a qualidade de vida na cidade. O importante é que a Asa Sul não ganhe mais comércio, já que o trânsito está saturado”, justifica Heliete. Os proprietários dos RUVs garantem que aceitariam a restrição das atividades nesses lotes para poderem, enfim, construir. A Attos Empreendimentos, empresa que é dona do RUV da CLS 208, tenta há mais de 10 anos fazer lojas no local para aluguel. O diretor comercial da empresa, Elton Santos, discorda da proposta de desapropriação e defende a liberação das áreas, mesmo que haja restrição de uso. “Seria um absurdo o governo gastar mais de R$ 30 milhões para beneficiar meia dúzia e pessoas, sendo que esse dinheiro daria para urbanizar toda uma cidade, como o Varjão. Aceitamos restringir o tipo de atividade e propusemos a construção de garagens subterrâneas, para evitar problemas de estacionamento”, explica Elton. Opções Propostas da Terracap para resolver o problema dos lotes para Restaurantes de Unidade de Vizinhança (RUVs) Desapropriação: o governo pagaria indenizações aos proprietários dos terrenos para que essas áreas fossem transformadas em espaços públicos Permuta: o GDF trocaria esses lotes por outros terrenos da Terracap, em diversas 2 CORREIO BRAZILIENSE Caderno Cidades – 26/março/2008 cidades. Dessa forma, a área permaneceria como espaço verde, sem construções de comércio Restrições de atividades: a Terracap liberaria a construção de imóveis comerciais nos lotes RUVs, desde que não fossem instaladas atividades incômodas aos vizinhos, como bares. 3