título: estratégia metodológica para o fortalecimento dos valores

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
SEÇÃO : ARTIGO
TÍTULO: ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O FORTALECIMENTO DOS
VALORES MORAIS HONESTIDADE E SOLIDARIEDADE NOS ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS DO CURSO DE PEDAGOGIA
NOME DO AUTOR: DILERCY ARAGÃO ADLER
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO-UFMA
TITULAÇÃO:
PSICÓLOGA-CEUB/DF,
ESPECIALIZAÇÃO
EM
METODOLOGIA DA PESQUISA EM PSICOLOGIA-UFMA, ESPECIALIZAÇÃO
EM SOCIOLOGIA-UFMA, MESTRADO EM EDUCAÇÃO-UFMA e DOUTORA
EM CIÊNCIAS PEDAGÓGICAS –ICCP/CUBA.
ENDEREÇO: RUA DA FÍSICA, ED. MICHERINOS, APTO 301 COHAFUMA.
CEP: 65074-210 SÃO LUÍS/MA
TEL: (98) 246 2018 CELL: 88265798
E-mail [email protected]
8161 2361
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RESUMO
Modelo de Estratégia Metodológica para o fortalecimento dos valores morais honestidade
e solidariedade nos estudantes universitários do Curso de Pedagogia a partir de duas linhas
de ação: Linha de Estudos Teóricos em Sala de Aula e Linha de atividades Extraclasse. A primeira linha é desenvolvida através dos conteúdos da disciplina Sociologia da
Educação e a segunda, através de atividades diversificadas realizadas fora do contexto da
sala de aula, tais como: projeção e discussão de filmes, dramatizações, performances
poéticas, entre outras. Esse modelo objetiva contribuir para que o professor das séries
iniciais, no momento de sua formação universitária, compreenda teórica e criticamente as
condições e contradições da sociedade e da escola capitalistas, em suas inter-relações com
a honestidade e a solidariedade, valores morais, neste estudo, considerados pilares de uma
sociedade mais humana e equânime.
Palavras-chave:
Estratégia Metodológica.
Professor.
Valores morais.
Honestidade. Solidariedade. Formação do
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ABSTRACT
Model of Metodológica Strategy for the fortalecimento of the moral values honesty and
solidarity in the university students of the Course of Pedagogia from two lines of action:
Line of Theoretical Studies in Classroom and Line of activities Extra-classroom. The first
line is developed through the contents of disciplines Sociology of the Education and
second, through carried through diversified activities outside of the context of the
classroom, such as: projection and poetical quarrel of films, dramatizações, performances,
among others. This objective model to contribute so that the professor of the initial series,
at the moment of its university formation, understands theoretician criticamente and the
conditions and contradictions of the capitalist society and the school, in its Inter-relations
with the honesty and solidarity, moral values, in this study, considered pillars of a society
more human being and equânime.
Keywords:
Metodológica strategy. Moral values. Honesty. Solidarity. Formation of the professor.
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ESTRATÉGIA
METODOLÓGICA
PARA
O
FORTALECIMENTO
DOS
VALORES MORAIS HONESTIDADE E SOLIDARIEDADE NOS ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS DO CURSO DE PEDAGOGIA
INTRODUÇÃO
A elaboração da Estratégia Metodológica para o fortalecimento dos valores
morais honestidade e solidariedade nos estudantes do Curso de Pedagogia tem como cerne
de motivação a função política e social da escola e, nesse contexto, o professor deve, na
sua prática, ter uma compreensão real da sociedade para que possa agir, transformando e
participando de mudanças da sociedade na qual vive.
A estratégia objetiva atuar, preventivamente, ao centrar-se no fortalecimento
dos valores morais honestidade e solidariedade, no momento da formação universitária do
professor, ou seja, quando ainda aluno do Curso de Pedagogia, de modo a otimizar, com
sustentação nesses valores, a prática profissional futura nas séries iniciais.
Optou-se pelos valores honestidade e solidariedade, em função da compreensão
desses valores como pilares morais de uma sociedade mais humana e equânime e ainda
como elementos essenciais para as relações intra e interpessoais. Além disso, realça-se a
compreensão da importância desses valores no coletivo da vida humana, assim como a
necessidade de estudá-los e fortalecê-los no momento da formação profissional
universitária dos professores que terão a sua prática profissional na Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Médio. Para tal, o trabalho envolverá, também, os professores
universitários que trabalham na formação desses professores, como mediadores, nas
diversas ações educativas.
A estratégia apresenta duas linhas de ação: Linha de estudos teóricos em sala de
aula através da disciplina Sociologia da educação que objetiva a análise e compreensão
científica do mundo vivido e a Linha de ações extraclasses através de atividades
diversificadas, tais como: mesas redondas, palestras, seminários, painéis, projeção e
discussão de filmes, dramatizações, performances poéticas e teatrais, círculos de leitura
poética e literária, análise de letras de música, dinâmicas de grupo e outras, com a
finalidade de reforçar o tratamento pedagógico dos valores morais honestidade e
solidariedade.
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Assim, acredita-se que a elaboração do referido modelo vem ao encontro de
uma necessidade premente na ação educativa escolarizada, além de apresentar reflexões
consistentes para consubstanciar novas perspectivas referentes ao tratamento pedagógico
dos valores morais na prática educativa, esperando-se, desse modo, contribuir para a
construção de uma escola mais cidadã e mais democrática e, por extensão, favorecer o
estabelecimento de uma sociedade que apresente uma ordem econômica, política e social
verdadeiramente voltada para o bem-estar geral de todos os seus membros.
MODELO DE ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
Antes de ser enfocado o Modelo de Estratégia Metodológica propriamente dito,
convém lembrar que os alunos do curso universitário já se encontram em uma fase
adiantada de desenvolvimento, ou seja, final da adolescência e, a grande maioria, na idade
adulta. Isso significa que a consciência moral e os valores morais a ela correspondentes já
estão estabelecidos.
No entanto, trabalhar de forma planejada, sistematizada, a dimensão da moral, com
certeza contribuirá para maior compreensão das condições e contradições individuais e
sociais existentes, de modo a fortalecer a honestidade e a solidariedade nas relações
escolares e extra-escolares.
Este trabalho se justifica a partir do pressuposto de que nenhuma dimensão da
personalidade é permanente, mas o ser humano está em constante desenvolvimento, o que
lhe permite remodelação de aspectos comportamentais e afetivo-emocionais.
Por outro lado, não se deve esquecer de que as fases de desenvolvimento iniciais
deixam as suas marcas e, em maior ou menor grau, podem dificultar ou facilitar mudanças.
Outra variável que não deve ser esquecida é o processo de ideologização
permanente existente numa sociedade marcada pela desigualdade, que, com certeza, trava
as possibilidades de mudanças, sem, no entanto, impedi-las de todo.
Para a elaboração de uma Estratégia Metodológica para o fortalecimento dos
valores morais honestidade e solidariedade nos estudantes do Curso de Pedagogia, tomamse os seguintes eixos norteadores:
 Conhecimento profundo da própria realidade social, com respaldo
teórico-crítico, indispensável para uma apreensão da essência - além da
aparência - dessa realidade. Lembrando que é essencial, nessa perspectiva,
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uma capacidade de abrir-se ao mundo, aceitando-o ou negando-o para
transformá-lo.
 Autoconhecimento,
também
profundo,
lembrando
que
a
singularidade de cada ser social tem um vínculo com o seu coletivo. Ainda,
que o desconhecimento dessa imbricada conexidade “indivíduo-sociedade”
emperra, muitas vezes, os avanços dos projetos coletivos consubstanciados
pela bem engendrada ideologia dominante reproduzida com esse fim.
 Elevação da auto-estima e da fé no potencial criador dos alunos,
associada à conscientização da necessidade de empregar esses talentos a
serviço do bem comum, da coletividade, estimulando o espírito de equipe, a
solidariedade e a honestidade.
 Compreensão da importância do papel do professor como mediador
no processo de fortalecimento dos valores morais honestidade e solidariedade.
 Compreensão da necessidade de utilizar estratégias reflexivas que
permitam elevar o nível de consciência crítica dos alunos nas dimensões
axiológicas de um modo geral e, em especial, dos valores honestidade e
solidariedade.
 Compreensão, também, de que a felicidade é o estado natural do ser
humano, a qual, por sua vez, é incompatível com a preocupação do “Ter” em
detrimento do “Ser” e que o progresso individual só é viável no progresso
social, no bem-estar coletivo e não apenas de uma parcela da sociedade.
 Vivência do amor como pilar de sustentação da vida intra e
interpessoal dentro de um contexto social e histórico mais amplo.
Neste sentido, a construção de um modelo para o desenvolvimento do trabalho
pedagógico, voltado para o fortalecimento dos valores morais honestidade e solidariedade
implicam, a nosso juízo, um tratamento metodológico que aglutine um conjunto de
procedimentos inseridos em duas linhas de ação principais:
Linha de Estudos Teóricos em Sala de Aula: através de estudos teóricos de
Sociologia da Educação de modo a contribuir para a desmistificação da intangibilidade dos
estudos sociológicos e, com isso, quebrar as barreiras sedimentadas frente à compreensão
científica da realidade social e dos efeitos no plano individual e coletivo dos sujeitos de
uma dada sociedade.
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Linha de Ações extraclasses: através de atividades variadas, de natureza aberta,
com participação de alunos de outros cursos.
Linha de Estudos Teóricos em Sala de Aula
A linha de estudos teóricos em sala de aula busca resgatar a importância da relação
teoria e prática, demonstrando que ao mesmo tempo em que a prática é pressuposto básico
da teoria, esta não pode ser entendida separadamente da prática. Não há como o homem
criar a ação cultural a partir do nada ou de uma postura não-humana, não-social, ahistórica. A ação humana está inserida num contexto social determinado.
De fato, a separação entre teoria e prática não existe em termos absolutos. Assim,
essa separação é uma questão formal que pode levar a duas situações distintas: a de colocar
a prioridade na teoria, divorciando-a da prática, o que leva a uma falácia, discurso
esvaziado da ação, ou de privilegiar a prática em detrimento de uma reflexão teórica, que
resulta num praticismo, visão pragmática e utilitária da ação.
Convém reforçar que a teoria não significa um ato puramente intelectual, mas ação
do homem envolvido no mundo e na relação com os outros homens. Segundo Pereira
(1982, p.13), “O homem não teoriza só porque pensa, mas porque sente e age. O seu ato
teórico tem a ver com o seu desejo, a sua paixão, a sua ação, além da sua racionalidade”.
Teorizar bem, ascender à práxis tem a ver com a capacidade do homem em abrir-se
ao mundo, aceitando-o e/ou negando-o para transformá-lo, ou seja, capacidade de
contemplar a realidade sem amarras aos modelos dominantes que tendem à cristalização.
Os estudos teóricos em sala de aula são de fundamental importância, na medida em
que permitem a análise, a reflexão e a compreensão do mundo vivido. Sem embasamento
teórico não é possível compreender cientificamente a realidade circundante, e, sem esse
entendimento, fica impossibilitada qualquer transformação eficaz, porque não se pode
mudar, transformar o que não se conhece.
Por outro lado, convém lembrar que é notória em geral, na prática escolar
desenvolvida, uma espécie de “fobia teórica”, isto é, uma forte rejeição aos estudos
teóricos. No entanto, a escola deve ser o espaço, por excelência, para o exercício da teoria
(juntamente com a prática) no ensino, na pesquisa e, no caso da universidade, também na
extensão.
Essa condição se deve ao fato de que, nas últimas décadas no Brasil, após o golpe
militar de 1964, as disciplinas das Ciências Sociais foram afetadas, de forma significativa,
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tanto no que se refere ao conteúdo quanto à abordagem crítica, inerentes a essas
disciplinas,
o
que
resultou
no
empobrecimento,
fragmentação
e
conseqüente
desvalorização das mesmas.
Na construção da linha de estudos teóricos em sala de aula alguns questionamentos
foram arrolados como fonte inicial de reflexão, a saber:
 Como partilhar conceitos e fundamentos teóricos considerados
complexos por alunos que apresentam, via de regra, pouca familiaridade com
disciplinas das Ciências Humanas, como: Filosofia, Sociologia, História,
entre outras, de forma crítica, em oposição à metodologias fragmentadas?
 Como demonstrar aos alunos a fundamental importância do
conhecimento da realidade social e da natureza humana e, ainda, da própria
condição do homem como ser histórico, para o exercício profissional na
educação, pautado nos valores morais honestidade e solidariedade, já que a
sua prática profissional dar-se-á junto a determinados homens de determinado
tempo e lugar?
 Como resgatar ou mesmo criar, bem como desenvolver o gosto pela
leitura, análise e discussão de textos acadêmicos, pelos estudos teóricos
indispensáveis à prática, já que esta é pressuposto básico da teoria e não pode
ser entendida separadamente dela?
 Como resgatar ou mesmo criar e ainda desenvolver o gosto pela
produção textual acadêmica, tão pouco desenvolvida no âmbito universitário?
 Como contribuir para o desenvolvimento de uma postura crítica,
questionadora que resulte no desejo da busca, da investigação, da pesquisa,
tão pouco desenvolvida no meio acadêmico brasileiro sobretudo nas regiões
Norte e Nordeste?
 Como demonstrar a importância da mediação do professor no
processo de construção dos conhecimentos e fortalecimento dos valores
morais honestidade e solidariedade pelos alunos através de estudos teóricocríticos da realidade social?
 Como, a partir da dimensão conceitual, procedimental e atitudinal,
interrelacionar as condições de produção capitalistas e os determinantes
sociais na prática pedagógica da escola capitalista com os valores morais
honestidade e solidariedade?
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 Como deixar claro que as transformações sociais e a própria práxis
só se tornam possíveis a partir de uma compreensão científica e criteriosa da
realidade social?
Como ação proposta nessa linha, foi elaborado um mini-projeto de seminários
acerca das teorias sociológicas da educação, organizados e executados pelos alunos, com a
mediação da professora da disciplina (professora pesquisadora).
Em relação aos alunos, os objetivos dessa ação estabelecem que estes sejam
capazes de:
 Compreender a premente necessidade de estudos teóricos em geral;
 Reconhecer a indissociabilidade entre teoria e prática;
 Reconhecer
a
importância
fundamental
dos
conhecimentos
sociológicos em geral e, em especial, os inerentes à esfera da educação para a
prática pedagógica (também para a prática futura do professor em formação
acadêmica);
 Otimizar a análise, a reflexão teórico-crítica, assim como a produção
de pesquisa e produção textual acadêmica no âmbito universitário;
 Analisar, cientificamente, a dinâmica das relações entre sistema
formal de ensino e a sociedade, compreendendo os condicionamentos, os
conflitos e as contradições que, reciprocamente, estabelecem entre si;
 Inter-relacionar as condições de produção capitalistas e os
determinantes sociais na prática pedagógica da escola capitalista com os
valores morais honestidade e solidariedade;
 Reconhecer a importância da formação ou fortalecimento (segundo o
caso), de valores morais, em geral e, fundamentalmente da honestidade e da
solidariedade, como condição indispensável para a existência de uma
sociedade mais justa e humana;
 Compreender que para os avanços dos projetos humanos torna-se
imprescindível um respaldo teórico-crítico;
 Compreender que a ciência pode estar também legitimando situações
de opressão, daí a necessidade da criticidade nos estudos teóricos.
Convém lembrar que, para a consecução desses objetivos, não se deve prescindir da
mediação pedagógica do professor, como instrumento facilitador de desenvolvimento do
aluno e de promoção de mudanças.
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No que diz respeito aos seminários propriamente ditos, neles serão desenvolvidos
análises e reflexões acerca da sociedade e escola capitalistas, a partir de dois paradigmas
antagônicos, o do Consenso, que legitima o capitalismo, e o do Conflito, cuja tônica reside
na denúncia e indicações de novas direções, com vistas à superação da desigualdade e do
autoritarismo, características marcantes do capitalismo.
Ao mesmo tempo, os seminários possibilitarão a análise das inter-relações entre as
ideologias que dão sustentação a cada paradigma e os valores morais (principalmente
honestidade e solidariedade), inerentes a cada ideologia de per si.
Como requisito os alunos já devem apresentar um conhecimento sociológico
teórico-prático substancial acerca das condições objetivas e subjetivas dos vários modos de
produção, em especial do modo de produção capitalista, contemplado pela disciplina
Sociologia Geral.
Os dois paradigmas referidos aglutinam análises, respaldadas em teorias que se
opõem radicalmente, a partir da base intelectual que lhes dá suporte, o Positivismo e o
Materialismo Histórico respectivamente.
Os paradigmas do Consenso e do Conflito também estão relacionados a duas fases
distintas na história da educação, denominadas de ”Otimismo pedagógico” e de
“Pessimismo pedagógico”.
A primeira fase vai até a década de 60 e é caracterizada principalmente pelo
entendimento da educação como fator de democratização, até mesmo no sentido da
distribuição de renda e da melhoria da natureza humana.
A segunda fase inicia-se na década de 70 e caracteriza-se pela desilusão com a
educação, a partir da constatação de que a escola, ao invés de viabilizar a equalização
social, constitui-se, contrariamente, instrumento da classe dominante, na manutenção e
reprodução da ordem vigente, instaurada sob o auspício da dominação e exploração de
alguns homens sobre os demais.
São estudadas, nesse contexto, as diferentes teorias sociológicas da educação,
arroladas em um ou outro paradigma, ressalvando-se, no entanto, que esse procedimento é
utilizado mais como um recurso didático, e não de forma absoluta, pelo entendimento dos
riscos que toda e qualquer generalização impõe e, neste caso específico, sabe-se que alguns
autores baseiam as suas análises, ao mesmo tempo, nos dois paradigmas, apesar de se
firmarem mais em um deles.
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Como representantes do Paradigma do Consenso foram abordados neste estudo:
Émile Durkheim, Fernando de Azevedo, Karl Mannheim e John Dewey (cujo pensamento
é considerado ambíguo), pois, como já foi referido, este paradigma busca legitimar a
sociedade capitalista e, de modo geral, não considera nem se refere ao conflito resultante
da existência de classes sociais antagônicas, as quais apresentam condições materiais de
existência distintas, assentadas em desigualdades de ordem econômica e cultural.
Como representantes do Paradigma do Conflito: Louis Althusser, Antônio Gramsci,
Bourdieu e Passeron, Christian Baudelot e Roger Establet, Paulo Freire e Ivan Illich, os
quais, contrariamente, fazem a denúncia da desigualdade e opressão existentes na
sociedade e escola capitalistas, originadas no processo de produção das condições de
existência.
Analisando os dois paradigmas, fica claro que o do Consenso diz que é o que de
fato deveria ser, mas não é. Enquanto o Paradigma do Conflito diz que é o que de fato não
deveria ser. Ou seja, este último faz a denúncia da desigualdade e do caráter opressor que
marcam a sociedade capitalista e interpreta, ainda, a escola capitalista como instrumento de
disseminação da ideologia da classe dominante.
A tônica desses estudos e reflexões deve pautar-se na necessidade de compreensão
de como os valores morais honestidade e solidariedade são reproduzidos e experienciados
na sociedade e escola capitalistas e, concomitantemente, intermediar condições que
fortaleçam esses mesmos valores de modo a promover relações intrapessoais, interpessoais
e coletivas mais adequadas a uma convivência mais igualitária e humanizada.
Ao todo são dez temas, inseridos num ou noutro paradigma, a saber:
 As reflexões e contribuições de Émile Durkheim para a educação,
tomando por base os seus pressupostos sociológicos;
 A educação como processo social geral, segundo Fernando de
Azevedo;

As contribuições teóricas de Jonh Dewey, sustentadas na
concepção escolanovista, e a sua critica à Escola Tradicional;
 A contribuição da educação para o planejamento racional da
sociedade, segundo Karl Mannheim;
 Análise da escola como Aparelho Ideológico de Estado em Louis
Althusser;
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 Pressupostos teóricos de Antonio Gramsci, para análise da
superestrutura política e ideológica da sociedade e sua relação com a escola;
 Análise da escola na sociedade capitalista, a partir do conceito de
violência simbólica em Bourdieu e Passeron;
 A teoria da Escola Dualista de Christian Baudelot e Roger Establet;
A
concepção
da
Educação
Bancária
e
da
Educação
Libertadora/Problematizadora de Paulo Freire;
 A desescolarização da sociedade capitalista, segundo Ivan Illich.
Como forma organizativa adotaram-se seminários com o propósito de os alunos
prepararem, mediante estudos em equipe, as diferentes teorias sociológicas acerca da
sociedade e escola capitalistas, em diferentes teóricos e paradigmas.
Ainda
como
procedimentos
metodológicos
foram
adotados
elementos
problematizadores que subsidiaram as reflexões teóricas dos alunos e que permitiram, ao
final dos estudos e apresentação dos temas, conclusões teórico-práticas pertinentes a uma
ação educativa voltada para a formação dos valores morais honestidade e solidariedade, a
saber:
 Como são apresentadas as condições das dimensões políticoeconômico-sociais do modo de produção capitalista e da escola capitalista em
cada modelo teórico?
 Quais são os principais pressupostos teórico-práticos de cada autor?
 Como o Estado Capitalista é analisado em cada teoria?
 Como a Escola Capitalista é apresentada em cada teoria?
 Como se dão as análises da relação escola-sociedade em cada teoria?
 Qual o modelo de sociedade e de homem defendido em cada teoria?
 Quais as principais críticas levantadas acerca da sociedade e da
escola capitalistas?
 Quais os papéis do professor e do aluno em cada teoria?
 Quais teorias apresentam alternativas e como estão configuradas?
 Como estão configurados e como se expressam os valores morais
honestidade e solidariedade na sociedade e escola capitalistas?
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 Qual tratamento pedagógico deve ser dado aos valores morais
honestidade e solidariedade, na escola capitalista, com vistas à superação das
inadequações hoje existentes?
Ao longo da demonstração das diferentes teses do fenômeno educativo na
sociedade capitalista, fica claro que todas elas são caracterizadas por afirmações que são
comprovadas ou não encontram ressonância quando confrontadas com a prática social, já
que é esta que se configura como parâmetro de confiabilidade do discurso teórico.
Decerto que a escola que existe hoje, na sociedade capitalista, apresenta as suas
bases na hierarquização, burocracia e desigualdade. Configura-se, assim, como
prolongamento próprio do modo de produção e relações sociais capitalistas. Em outras
palavras, a sociedade capitalista, obrigatoriamente, terá uma escola capitalista.
Uma sociedade autoritária, marcada pela exploração e dominação não pode ter uma
escola democrática e igualitária (no sentido geral). Não se pode educar homens livres,
honestos e solidários numa e para uma sociedade marcada pelo poder e competitividade,
onde a ambição e a especulação (por exemplo: bancária, imobiliária, entre outras) são
consideradas meios lícitos de ascensão social.
No entanto, isso não significa que não existam escolas que experienciem liberdade,
solidariedade, honestidade e uma verdadeira intimidade e prazer (não vinculado apenas ao
lúdico, mas, também, à reflexão e teorização) na construção do conhecimento. Estas,
entretanto, não estabeleceram ainda significação expressiva no conjunto do sistema escolar
brasileiro.
A avaliação das ações dessa linha de trabalho processar-se-á em duas
dimensões: Dimensão de Processo e Dimensão de Produto
Dimensão de Processo: Esta dimensão relaciona-se ao próprio desenvolvimento
das ações. Tem como objetivo detectar falhas ou inadequações e imediatas correções,
ajustes. Nesse sentido, a avaliação de processo será periódica, tendo como referenciais os
seguintes indicadores:
 Adequação dos objetivos às necessidades identificadas;
 Grau de alcance dos objetivos e metas, comparando-se o
desempenho real (comportamento emitido na sala de aula) com o esperado;
 Adequabilidade e funcionalidade das ações dessa linha de ação da
estratégia metodológica;
 Nível de participação dos segmentos envolvidos;
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 Forma de integração entre os participantes das ações;
 Fatores restritivos e facilitadores na operacionalização das ações.
Dimensão de Produto: Esta dimensão relaciona-se ao produto, aos resultados
obtidos com a realização das ações. Objetiva medir, identificar, verificar os efeitos
produzidos ou alcançados. Nessa perspectiva, a avaliação do produto dar-se-á ao final das
ações, tendo como referenciais os seguintes indicadores:
 Participação dos segmentos envolvidos nas ações;
 Quantidade de pessoas que demonstrarem elevação de consciência
crítica e outros indicadores conceituais, procedimentais e atitudinais que
denotem mudança de paradigmas;
 Quantidade e qualidade da produção teórica e prática acadêmica;
 Efeitos produzidos ou mudanças ocorridas na prática e relações
pedagógicas.
As estratégias e instrumentos a serem utilizados na avaliação são os que seguem:
Observação sistemática e assistemática de todos os passos dos eventos;
Entrevistas;
Coleta de depoimentos;
Reuniões ao final da apresentação de cada teoria para:
- análise de desempenho e participação dos alunos responsáveis pela teoria, pelos
próprios integrantes da equipe;
- análise dos alunos responsáveis pela teoria, pelos demais colegas da classe;
- análise dos alunos responsáveis pela teoria, pelo professor da disciplina;
-
análise geral do conjunto dos seminários por todos.
Linha de Ações Extraclasses
A linha de ações extraclasses foi planejada com o objetivo de reforçar o tratamento
pedagógico dos valores morais honestidade e solidariedade, de modo a fortalecê-los,
através de atividades que extrapolem os conteúdos programáticos da disciplina Sociologia
da Educação, trabalhados na sala de aula .
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Em relação aos alunos, os objetivos dessa ação estabelecem que estes sejam
capazes de:
 Compreender a premente necessidade de análise e reflexões acerca
dos valores morais honestidade e solidariedade em situações diversas,
incluídas as do cotidiano;
 Analisar, cientificamente, a dinâmica das relações entre as pessoas,
com laços afetivos mais próximos ou não, em situações mais lúdicas e
culturais;
 Inter-relacionar as condições de produção capitalistas e os
determinantes sociais nas relações entre as pessoas com os valores morais
honestidade e solidariedade;
 Identificar a importância do fortalecimento de valores morais, em
geral e, fundamentalmente da honestidade e da solidariedade como condição
indispensável para a existência de uma sociedade mais justa e humana;
 Compreender que a cultura e o lúdico podem estar também
reforçando a legitimação de situações de opressão, daí a necessidade de
reflexão e análise crítica acerca do contexto apresentado ou vivido.
As temáticas abordadas estiveram dirigidas ao conteúdo dos valores morais
honestidade e solidariedade.
Esta linha de ação, como forma organizativa, incluiu atividades diversificadas,
tais como:
Palestras; Mesas redondas; Seminários; Painéis; Projeção e discussões de filmes;
Dramatizações, performances poéticas e teatrais; Círculos de leitura poética e literária;
Análises de letras de músicas; Dinâmicas de grupo e ainda outras sugeridas ao longo do
desenvolvimento das atividades.
As formas organizativas selecionadas deverão ter o propósito de reforçar e
complementar as reflexões realizadas pelos alunos como parte da disciplina Sociologia da
Educação, conforme referido, e, neste caso, mediante maior quantidade e diversidade de
situações que possam permitir aos alunos elevar o nível de consciência e ter uma postura
mais crítica ante a problemática da realidade social, objeto de análise.
Desta forma, atividades de cunho mais teórico, como palestras, mesas redondas,
seminários serão desenvolvidos juntamente com outras de cunho mais cultural e lúdico,
como projeção de filmes, círculos de leitura poética e literária, as quais permitam aos
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alunos apreciar a presença ou não desses valores nos estímulos, nas situações vividas e
apresentadas no geral.
Ainda dinâmicas de grupos podem ser realizadas, buscando vivenciar situações
afetivo-emocionais, envolvendo os valores morais honestidade e solidariedade, como
instrumento facilitador da compreensão prática dos mesmos.
Todos os eventos visam à apresentação de subsídios para a promoção de amplas
discussões acerca dos valores morais e, em especial, da honestidade e da solidariedade, na
sociedade e escola capitalistas, e como procedimentos metodológicos serão também
adotados elementos problematizadores que consubstancieam as análise e discussões, a
saber:

Como são apresentadas as condições das dimensões político-
econômico-sociais da situação vivida ou apresentada em cada mesa-redonda,
filme, dramatização ou outros?

Quais são os principais pressupostos teórico-práticos
implícitos e explícitos em cada contexto?

Como se dão as relações intrapessoal, interpessoais e
coletivas em cada situação apresentada?

Qual o modelo de sociedade e de homem apresentado/vivido
em cada situação?

Quais os papéis de cada personagem em cada contexto social
e histórico?

Como estão configurados e como se expressam os valores
morais honestidade e solidariedade nas situações apresentadas?

Que tratamento deve ser dado aos valores morais honestidade
e solidariedade no âmbito das relações intrapessoais, interpessoais e coletivas,
com vistas à superação das inadequações identificadas?
A avaliação das ações dessa linha de trabalho processar-se-á igualmente nas duas
dimensões já referidas na outra linha de ação:
Dimensão de Processo: Esta dimensão relaciona-se ao próprio desenvolvimento
das ações. Tem como objetivo detectar falhas ou inadequações e imediatas correções,
ajustes. Nesse sentido a avaliação de processo será periódica, tendo como referenciais os
seguintes indicadores:
 Adequação dos objetivos e metas às necessidades identificadas;
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 Grau de alcance dos objetivos e metas, comparando-se o
desempenho real com o esperado;
 Adequabilidade e funcionalidade das ações dessa linha de ação da
estratégia metodológica;
 Nível de participação dos segmentos envolvidos;
 Forma de integração entre os participantes das ações;
 Fatores restritivos e facilitadores na operacionalização das ações.
Dimensão de Produto: Esta dimensão relaciona-se ao produto, aos resultados
obtidos com a realização das ações. Objetiva medir, identificar, verificar os efeitos
produzidos ou alcançados. Nessa perspectiva, a avaliação do produto dar-se-á ao final das
ações, tendo como referenciais os seguintes indicadores:
 Participação dos segmentos envolvidos nas ações;
 Quantidade e qualidade de eventos realizados;
 Efeitos produzidos ou mudanças ocorridas na prática e relações
pedagógicas;
 Quantidade de pessoas que efetivamente demonstrarem, na prática
pedagógica, elevação da consciência crítica, e outros indicadores
conceituais, procedimentais e atitudinais que denotem mudança de
paradigmas.
As estratégias e instrumentos a serem utilizados na avaliação são os que seguem:
Observação sistemática e assistemática de todos os passos dos eventos;
Entrevistas;
Coleta de depoimentos;
Reuniões ao final de cada evento para:
- análise de desempenho e participação dos alunos responsáveis por cada evento,
pelos próprios alunos da equipe organizadora;
- análise dos alunos responsáveis pelo evento, pelos demais alunos e professor da
disciplina;
- análise geral do conjunto dos eventos, por todos dentro de um período
determinado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora não se possa garantir que todas os procedimentos constantes na Estratégia
Metodológica para o fortalecimento dos valores morais honestidade e solidariedade
resultem em mudanças substanciais no comportamento daqueles envolvidos no trabalho,
considera-se que não se pode deixar de reconhecer a importância de sua efetivação no
sentido de abrir canais e espaços de reflexão e análise acerca dos modelos sociais
existentes, tanto cientificamente, no âmbito da sala de aula, como cultural e ludicamente,
fora desse contexto.
É conveniente também lembrar que a distinção do científico, cultural e lúdico nos
contextos da sala de aula e fora destes referem-se apenas à ênfase, ou seja, o científico tem
seu componente cultural e lúdico e o cultural e lúdico tem o seu componente cientifico.
Um dado indicativo da validade desta estratégia é que em todas as modalidades de
ação fica clara a demonstração da capacidade de identificação das inadequações pelos
alunos e os posicionamentos lúcidos emitidos por eles no sentido da indicação de
superação dessas inadequações.
O próprio procedimento leva o aluno a desenvolver posturas críticas e reflexivas,
bem como a se apropriar de formas metodológicas para o tratamento pedagógico dos
valores morais honestidade e solidariedade adequadas às idades das crianças e dos jovens
com os quais vão trabalhar.
19
Modelo de Estratégia Metodológica
para o fortalecimento dos valores
Honestidade e Solidariedade
Linha de estudos teóricos
na sala de aula
(Sociologia da Educação)
Seminários temáticos
Linha de
ações extraclasses
Mesas redondas
Projeção de filmes
Dramatizações, etc.
Dinâmica de grupos
(entre outras)
Fortalecimento dos valores morais honestidade e solidariedade
Expressado em:
 Posturas críticas, questionadoras;
 Nível superior de consciência ante a análise científica das
problemáticas tanto conceituais como da vida social;
 Atitudes mais honestas e solidárias nas relações interpessoais.
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