CURSO ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA I AULA 4: OS LIMITES DA POLÍTICA ECONÔMICA NA REPÚBLICA VELHA 1. RECORDANDO A AULA PASSADA . Brasil: depreciação cambial gerava crise nas finanças federais: . receitas fixas (imposto de importação calculado sobre câmbio fixo) . despesas crescentes (divisas para serviço da dívida) . consequência: . desvalorização prejudicava governo . valorização prejudicava exportadores . a alternativa era a estabilização cambial . na época isto era sinônimo de padrão-ouro . lei de 1846: paridade de 27 pence por mil réis (cerca de 10 mil réis por libra) . atingir a paridade exigiria: . forte apreciação cambial . grandes reservas . instituição financeira forte bastante para impedir especulação cambial . só se atingiu em 1889 1 2. LIMITES DA POLÍTICA ECONÔMICA NA REPÚBLICA VELHA . vulnerabilidade a 2 tipos de choques exógenos . flutuação do preço do café, função de: . no curto prazo: clima determina produtividade do cafezal . safra do ano é um dos determinantes da oferta . no longo prazo: plantios anteriores . o outro determinante da oferta são os estoques . a demanda é determinada pelo estado da economia mundial . grau de prosperidade determina renda . expectativas quanto ao mercado de café . flutuação no fluxo de capitais externos, função: . da prosperidade da economia mundial . das expectativas quanto ao Brasil . problema: crise no café pode provocar fuga de capitais . instrumentos à disposição do governo brasileiro: . ajustes fiscais (limitados) . receita da União é inflexível e indeterminada . depende do imposto sobre importações . ajuste se resume à redução das despesas 2 . políticas monetária, cambial e de defesa do preço do café, sujeito às restrições: . do Sistema Financeiro Internacional . da Política dos Governadores . política cambial com 2 regimes cambiais: . normal: câmbio flutuante . com emissões controladas pelo Tesouro ou BB . política monetária determina a taxa de câmbio . padrão-ouro em 1907-14 e 1927-30 . Caixas de Conversão e de Estabilização com quase monopólio . compra de divisas a valor fixo usando “notas de estabilização” . taxa tem que estar muito próxima da de mercado para evitar arbitragem . adotado quando se espera aumento do saldo de divisas e não se quer valorização cambial . que prejudicaria exportadores 3 . havia um debate quanto à política monetária (teórico, sem testes) . metalistas: defendiam que só se deveria emitir moeda no valor do saldo do Balanço de Pagamentos . ou seja, em função dos negócios internacionais do país . oferta de mil-réis deve ser igual ao saldo em ouro e divisas . isso porque se a demanda exceder a oferta interna será possível aumentar a oferta externa . resolve-se o problema aumentando importações . se não fosse possível importar mais haveria inflação . papelistas: pode-se emitir moeda na medida da necessidade dos negócios nacionais . pois os investimentos decorrentes elevarão a oferta . evitando a inflação . em geral prevaleciam os metalistas . o que provocava carência generalizada de moeda . economia funcionava via crédito informal 4 . meios de pagamento eram deslocados de um lado a outro do país . segundo a época das safras de exportação . esse sistema era viável em uma economia escravista . despesas com manutenção do escravo eram cobertas com crédito (geralmente informal) . e resgatadas depois da venda da safra . na economia urbana, com trabalho assalariado, havia escassez permanente de papel-moeda . a Abolição vai agravar o problema e obrigar a uma solução . fazendeiros esperavam ser indenizados pelos escravos libertados . governo não tinha meios para incorrer nesta despesa . Abolição pegou a todos de surpresa . da noite para o dia fazendeiros eram obrigados a pagar salários sem terem como . ex-escravos receberam apenas casa e comida durante um bom tempo 5 3. A CRISE FINANCEIRA DA ABOLIÇÃO . faltavam . trabalhadores . papel moeda para pagá-los 3.1. A FALTA DE TRABALHADORES . fazendeiros não acreditavam que negros pudesse ser assalariados . pois eram preguiçosos e só trabalhariam no chicote . faltavam trabalhadores brancos ainda que abundassem brancos pobres . pois o trabalho braçal era desonroso . mesmo carregar pacotes . faltavam imigrantes devido ao problema do financiamento . crise econômica expulsava italianos do campo . quem podia pagar a viagem ia para NY ou Buenos Aires . se um fazendeiro pagava a viagem de imigrantes podia perdê-los para um vizinho oportunista . a solução seria o financiamento público da imigração . quando o Estado pudesse assumir este gasto 6 3.2. A FALTA DE MEIOS DE PAGAMENTO . governo restringia emissões para valorizar o câmbio e facilitar a compra de divisas para o pagamento da dívida externa . indo contra exportadores que pediam desvalorização . objetivo do governo era voltar à paridade legal de 1846 . mil-réis = 27 pence de libra . mas quase todo o Império a taxa esteve mais desvalorizada . a entrada de divisas era menor do que o pretendido . além disso os bancos eram poucos e atrofiados . para sair da crise seria preciso expandir meios de pagamento . para financiar a expansão da dívida pública que pagaria pela imigração . para pagar salários semanais a trabalhadores livres 7 3.3. A POSSÍVEL SOLUÇÃO DE OURO PRETO Visconde de Ouro Preto . em 1889 a taxa de câmbio tinha voltado aos 27 pence . devido à alta dos preços do café . plantações do Ceilão devastadas por praga sem que o Brasil pudesse aumentar o plantio . redução dos estoques mundiais . expectativa de que o Brasil não resolveria seus problemas . nesse momento o gabinete do Visconde de Ouro Preto cria um novo banco de emissão com capital estrangeiro . emissões lastreadas em ouro e divisas . mal teve tempo para se implantar pois o Império foi derrubado logo em seguida . e a República começou em meio a uma dupla crise 8 . política . financeira 9