Introdução:

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Tlachtli: Esporte ou Ritual de Sangue?
Introdução:
Desde que entrei em contato pela primeira vez com o conhecimento de que
houve um dia uma alta cultura na América antes de seu descobrimento e
conquista pelos europeus, tornei-me um apaixonado e aficionado desses
povos. É verdade que quando soube pela primeira vez algo mais profundo
sobre estes povos estava ainda na 6ª série do Ensino fundamental e, sendo
assim, não pude compreender perfeitamente tudo o que representaram
estas civilizações.
Mais tarde, em 1999, quando iniciei o curso de História, tive a sorte de ter
aulas com um dos maiores especialistas do mundo na cultura Inca: o
Antropólogo Dr Rodrigo Montoya, da Universidade de San Marcos, no Peru.
Os conhecimentos do professor Montoya suscitaram ainda mais a sede de
saber em mim e, sendo assim, desde então passei a ler tudo o que
encontrava acerca dos povos Mesoamericanos e Andinos.
Na primeira edição de Klepsidra, em abril de 2000, escrevi um texto sobre a
civilização Inca (Tawantinsuyu: O Império Inca), na época a civilização com
a qual eu mais estava familiarizado. Posteriormente, escrevi um texto sobre
a civilização Asteca (Astecas: Uma República Confundida com Teocracia) e,
devido à pesquisa que me obriguei a fazer para confeccionar este texto,
passei a conhecer melhor as civilizações da Mesoamérica. Deste
conhecimento, uma das coisas que mais me encantou foi, certamente, o
Tlachtli, o jogo de pelota tradicional daquela região e comum a todos os
povos que a habitaram.
Meu interesse pela cultura Mesoamericana cresceu tanto nos últimos anos
que, no último mês de julho, mês de férias, aproveitei para ir conhecer
pessoalmente os sítios arqueológicos mexicanos. Dessa viagem, de quase
vinte dias, trouxe muitas fotos (muitas das quais ilustram esse texto) e um
conhecimento ainda mais aprofundado (pela visita in loco e pela aquisição
de muitos livros produzidos no próprio México) sobre aquela região.
Parte do conhecimento adquirido nessa viagem se reverte agora nesse
texto sobre o Tlachtli, e o restante será transformado em textos acerca dos
Maias e dos Olmecas, mas isso será para as edições posteriores.
Como sempre, quero alertar a todos que apesar de minha paixão pela
região, esta é uma obra introdutória, feita por um estudante quartanista de
História, mas que não visa ser completa e nem se esgotar em si mesma,
apenas proporcionar àqueles que nada sabem sobre o assunto um bom
conhecimento, que pode, inclusive leva-los a se interessar pelos povos da
América Pré-Colombiana, além disso, mesmo para os que já têm alguma
base sobre o tema, as informações aqui apresentadas podem não ser
totalmente inúteis, visto que as apresento segundo a minha visão, que,
mesmo podendo ser falha, é única.
1 – Breve introdução acerca da Mesoamérica e de seus povos:
Convencionou-se, arqueológica e historicamente, em chamar de
Mesoamérica à região composta pelos atuais países do México, Guatemala,
Belize, Honduras e El Salvador (estes dois últimos, em menor grau) devido
a uma necessidade muito mais histórica do que geográfica.
Geograficamente existem duas divisões para a América: a continental
(Norte, Central e do Sul) e a Cultural (Latina e Anglo-saxônica); no entanto,
nenhuma dessas duas divisões é capaz de dar conta do fenômeno histórico
importante que ocorreu na América (mais precisamente nos países já
referidos) antes de sua conquista pelos povos europeus.
É sabido que o continente americano era habitado por povos indígenas
antes de 1492, porém, apenas duas regiões da América chegaram a
desenvolver o que se pode chamar de “alta cultura”, ou seja, civilizações
complexas o bastante para se expandirem em forma de Impérios que,
através de uma administração centralizada de cunho extremamente
elaborado, disseminava a cultura do povo dominante por grandes extensões
de terra. Essas duas regiões são precisamente a Cordilheira dos Andes, na
América do Sul e a Mesoamérica, mais ao norte. É justamente sobre esta
região que este trabalho tratará.
Quando os Espanhóis chegaram à região onde hoje se localiza o México, se
depararam com um Império muito poderoso tanto militar, quanto
culturalmente. Este Império chamava a si próprio de México (por isso, aliás,
a região foi batizada com esse nome) e era controlado por uma etnia
residente na cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México): os Astecas.
Inicialmente, os contatos se deram sem grandes conflitos e só após a morte
do governante Asteca, Montezuma, em 1520, é que se iniciou uma guerra
aberta entre Espanha e México. Já era tarde, Hernán Cortez, o responsável
pela empresa da conquista da região para a Espanha, já havia conseguido
a aliança de quase todas as etnias que compunham o Império e que, dessa
forma, eram exploradas pelos Astecas. Sendo assim, em meados de 1521,
Tenochtitlán foi retomada pelos Espanhóis que haviam sido expulsos e, em
1525, totalmente destruída para que por sobre seus escombros fosse
construída a capital do Vice-Reino da Nova Espanha: a Cidade do México.
Depois da conquista do Império Asteca (também chamado, como já foi
referido, de México), os Espanhóis rumaram para o sul e, só depois de
muita luta, no final do século XVI, conseguiram conquistar a península do
Yucatán, região habitada pelos Maias, que não estavam subordinados aos
Astecas e que também não estavam unidos em nenhum tipo de país ou
Império, sendo assim, tornaram sua conquista um empreendimento bem
mais trabalhoso.
Obviamente a conquista do México foi um dos episódios mais importantes
da História da humanidade, isso porque, ela mudou as concepções
existentes até então de que os autóctones ameríndios seriam algo abaixo
dos seres humanos, na medida em que não eram “civilizados”. A conquista
de um Império tão elaborado quanto o Asteca (cuja organização interna era
mais bem organizada do que a organização interna de muitos Reinos
europeus da época) provou ao mundo e, em especial à Igreja, que os povos
da América eram sim humanos. Essa comprovação se deu através da
vitória dos argumentos do Frei Bartolomé de Las Casas (que dizia que os
ameríndios eram criaturas passíveis de salvação e que, portanto, deveriam
ser catequizados na fé Cristã) sobre os de seu rival, o Padre Juan Jinés de
Sepúlveda (que afirmava que os indígenas eram macacos belicosos e que,
por isso, precisavam ser destruídos).
Com a descoberta de que povos americanos conheciam a escrita, a Igreja
mais do que depressa organizou autos de fé nos quais foram queimados a
maior parte dos livros e pergaminhos Mais e Astecas, além da totalidade
dos livros de outras culturas menores. Essa prática visava destruir mais
rapidamente a cultura e, em especial, a religião daqueles povos para que o
trabalho dos sacerdotes Católicos se desse mais facilmente. A destruição
de tais obras sob a alegação de que se tratavam de símbolos e rituais
demoníacos (alegação baseada no fato de que boa parte desses povos
praticavam o sacrifício humano com alguma regularidade) dificultou
imensamente o trabalho dos arqueólogos e historiadores de hoje que
buscam entender como se dava a vida naquelas regiões, além disso, fez
com que fossem perdidos para sempre muitos dados valiosíssimos sobre
tais culturas.
2 – Os Olmecas:
Atualmente é consenso entre os estudiosos da América Pré-colombiana que
houve uma civilização Mesoamericana que foi a disseminadora dos
primeiros genes de evolução cultural na região. Essa civilização foi batizada
de Olmeca. Foi batizada porque, na verdade, devido à sua antiguidade (os
Olmecas desapareceram por volta do ano 400 a.C.) quase todos os
vestígios dela foram perdidos, inclusive seu nome, sendo assim, receberam
essa denominação devido ao fato de os Astecas, na época da conquista da
América, se referirem à região central da cultura Olmeca como Olman, que
em Nahuatl, a língua dos Astecas, quer dizer País da Borracha, sendo
assim seus habitantes foram denominados Olmecas (o sufixo “eca”, em
Nahuatl significa habitantes de), ou seja, Habitantes do País da Borracha.
Os Olmecas foram os primeiros, por volta de 1200 a.C., a construir cidades
(a palavra cidade, em se tratando das culturas da Mesoamérica, é um tanto
errônea, isso porque, em geral os conglomerados de edifícios de pedra
eram, na verdade, Centros Cerimoniais, ou seja, o lugar onde a elite
governante vivia acompanhada dos sacerdotes e dos possíveis guerreiros,
sendo que o restante da população vivia em vilarejos de casas construídas
em madeira e barro nos arredores desses Centros Cerimoniais), a
desenvolver comércio, a trabalhar a arte da cinzelagem da jade, a erigir
monumentos em homenagem a seus deuses, a desenvolver um sistema
administrativo que propiciasse administrar grandes regiões e,
possivelmente, a desenvolver a pesca marítima através da navegação de
cabotagem, a utilizar o calendário Mesoamericano e, finalmente, a utilizar a
escrita.
A cultura Olmeca se disseminou por toda a região conhecida como
Mesoamérica e alguns estudiosos chegam a ver alguns de seus elementos
em culturas ainda mais distantes, como a cultura de Chavin de Huantar, no
Peru. O fato é que depois do declínio dos Olmecas (declínio esse cujas
causas ainda não são conhecidas), suas colônias (é fato que os Olmecas,
nas regiões além de Olman, que fica nos atuais Estados Mexicanos de
Veracruz e Tabasco, construíram “cidades” onde eles controlavam as
populações nativas de uma forma direta, por vezes, mas, na maioria das
vezes, indireta) devem ter ser desenvolvido por si próprias e chegado a se
tornar diferentes civilizações. Civilizações essas que foram acrescidas, mais
tarde, nos séculos X, XI e XII, de levas migratórias de povos da América do
Norte, dentre os quais estavam os próprios Mexica, ou Astecas.
3 – O Tlachtli:
Neste item falarei sobre o esporte em si, ou seja, sua implicação na
sociedade Mesoamericana, suas regras e ainda darei um breve descrição
de como eram os locais de jogo.
3.1 – O Tlachtli como ritual:
Um dos mais fortes indícios de que no passado uma única cultura teria se
disseminado por toda a Mesoamérica é o fato de que em todos os povos, na
época da conquista, quer mantivessem contato uns com os outros, quer
não, havia um costume: o Tlachtli, também chamado Teotlachtli, o Jogo de
Bola Mesoamericano.
O Tlachtli possivelmente foi inventado pelos Olmecas, visto que uma de
suas esculturas mais famosas, “O Lutador”, seria, segundo especialistas, na
verdade, um jogador de Tlachtli. Não se sabe como esse esporte era
praticado entre os Olmecas, mas sabe-se como o jogavam os povos da
época da conquista e a homogeneidade era tão grande que se pode
concluir que as regras não devem ter sido muito alteradas desde o período
Olmeca.
Antes de tudo, é necessário dizer que o Tlachtli não era um esporte
praticado por qualquer pessoa e, muito menos em qualquer lugar. Tudo leva
a crer que sua prática era revestida de rituais religiosos, visto que só
existiam campos para a realização de partidas dentro dos Centros
Cerimoniais e, no mais das vezes, em lugares de bastante destaque.
Em algumas cidades, como em Monte Albán (cidade principal da cultura
Zapoteca, próximo a atual cidade de Oaxaca), somente os principais
dignatários estavam aptos a presenciar as disputas. Já em Chichén Itzá
(cidade do final do período Maia, na península do Yucatán e sítio
arqueológico mais visitado da América, devido à sua proximidade com
Cancun), as arquibancadas eram tão grande que se pode presumir que uma
partida fosse um evento de confraternização entre a cidade e um outro povo
próximo. Na própria Tenochtitlán (a capital Asteca e segunda maior cidade
(esta era uma cidade, não apenas um Centro Cerimonial) do mundo na
época, com cerca de 700 mil habitantes), o Tlachtli era praticado no Centro
cerimonial, ou seja, na única área da cidade cuja circulação do indivíduo
comum estava vedada.
3.2 – As regras do Tlachtli:
Um observador que percorra todos os sítios arqueológicos conhecidos da
Mesoamérica só encontrará dois tipos de campos (ou quadras) de Tlachtli:
um em forma de “I” (como o número um em algarismos romanos, ou seja,
com um traço em cima e outro em baixo) e o outro em forma de “T”. Isso
que dizer que havia algumas variações de lugar para lugar, no entanto, o
primeiro formato é o mais comum.
O esporte era praticado com uma bola de borracha maciça (mais um indício
de que o jogo tenha sido criado pelos Olmecas, visto que eles eram os
Habitantes do País da Borracha, ou seja, viviam numa região onde as
seringueiras, das quais é extraído o látex utilizado na confecção da
borracha é retirado), que, aliás, era muito pesada (pesava entre 3kg e 5kg),
o que demandava equipamentos de proteção aos jogadores.
Antes de falarmos dos equipamentos de proteção, devemos falar das regras
propriamente ditas. Os times eram compostos de sete jogadores (todos
homens, não há indícios de que mulheres tenham praticado o Tlachtli). Era
proibido a qualquer jogador reter a posse da bola, sendo assim, o jogo era
extremamente dinâmico, pois quem recebia, já passava a pelota. Por sua
vez, a bola não podia ser chutada, nem cabeceada, nem mesmo tocada
com as mãos; só era permitida a utilização dos joelhos, cotovelos e bacia
para tocar a bola ou arremessa-la rumo ao aro. Sim, o objetivo do jogo era
fazer com que a bola passasse uma única vez por dentro de um aro de
pedra preso na parede. Cada time tinha o seu aro (que deveria ser
defendido) e precisava buscar o ponto levando a bola até o aro do
adversário. Não havia tempo de duração máximo nem mínimo para uma
partida, ela só terminava quando algum time conseguia o objetivo, sendo
assim, devido à enorme dificuldade da façanha, acredita-se que muitas
partidas levavam mais de seis horas para terminarem.
Quanto aos equipamentos de segurança, sabe-se que os jogadores
jogavam descalços, mas tinham uma espécie de joelheira feita de couro e
madeira, uma espécie de cotoveleira confeccionada no mesmo material,
portavam ainda um protetor para a bacia e um capacete (pois apesar de
não serem permitidas as cabeçadas, uma bolada acidental na cabeça
poderia ser fatal).
Os jogadores deviam sair imundos das partidas, isso porque, apesar de o
estádio ser feito em pedra, o campo em si era de terra e a maioria das
jogadas se dava com os jogadores se lançando ao chão para impulsionar a
bola com a bacia, sendo que cotovelos e joelhos eram muito menos
utilizados.
3.3 – Diferenças regionais na prática do Tlachtli (três casos):
Como mencionei, havia algumas diferenças na prática do Tlachtli entre as
diversas regiões. Neste item analisarei sucintamente três regiões para que
sirvam de exemplo das diversas maneiras de como este esporte era
praticado no México pré-colombiano.
3.3.1 – Monte Albán:
Aqui o campo era bem pequeno, com uma arquibancada capaz de
acomodar não mais do que cem pessoas. Sendo assim, a apreciação da
prática devia ser restrita apenas aos governantes e aos sacerdotes e,
talvez, a algum convidado ilustre.
O jogo não devia ser realizado com muita freqüência neste sítio, isso
porque, Monte Albán tinha uma cultura religiosa demais e, o jogo estaria,
para eles, relacionado com algum tipo de rito de passagem divino, dessa
forma ele era realizado de uma a quatro vezes no ano apenas.
Como os Zapotecas não eram um povo adepto dos sacrifícios humanos,
não havia sacrificados nem antes, nem depois das partidas de Tlachtli. No
demais, as regras e a prática eram exatamente iguais à das demais regiões.
3.3.2 – Tenochtitlán:
A capital do Império Asteca era ao mesmo tempo a cidade mais cosmopolita
de todo o México e a mais sedenta de sangue. Em dias de celebração
religiosa podiam ser sacrificadas mais de mil pessoas naquela cidade-ilha e
mesmo em dias normais ocorriam cerca de vinte ou trinta sacrifícios em
Tenochtitlán, visto que os deuses Astecas, em especial Uitzilopochtli, o sol,
precisavam de sangue para manterem suas vidas eternas.
Aqui não se tem uma idéia exata da freqüência das realizações das partidas
de Tlachtli, mas é certo que no tempo em que estiveram amistosamente na
cidade (antes da morte de Montezuma e da chamada “Noite Triste”, quando
foram expulsos) os Espanhóis devem ter presenciado ao menos uma
partida.
O estádio de Tenochtitlán encontra-se atualmente soterrado sob a Catedral
do México e as disputas entre o governo do México e os Católicos do país
acabam por entravar escavações na área, sendo assim, não se sabe
exatamente sua capacidade, mas certamente devia comportar ao menor 5
ou 10 mil espectadores.
No final das partidas, o time perdedor inteiro era sacrificado, enquanto que o
autor do “gol” ficava sozinho dentro do campo e era homenageado pelos
espectadores que lhe arremessavam suas jóias, ouro e plumas (que eram
consideradas tão valiosas quanto jóias), sendo assim, o indivíduo que
decidisse a partida ascendia socialmente na sociedade Asteca e nunca
mais precisava jogar outra vez.
Provavelmente os jogos eram disputados por pessoas que haviam se
tornado escravas devido às dívidas, ou seja, por pessoas da própria etnia
Asteca.
3.3.3 – Chichén Itzá:
Esta cidade Maia tem o maior campo de pelota do México, com
acomodações para cerca de 30 mil pessoas. Além disso, é devido aos
retratos esculpidos neste campo que se sabe muito sobre o jogo. Sabe-se,
por exemplo, que o número de jogadores de cada equipe era sete, devido à
representação de dois times em posição final de jogo.
Em Chichén Itzá, um dos times jogava utilizando roupas feitas de pele de
jaguar (um felino típico do México, semelhante a uma onça, mas um pouco
menor) e o outro, com roupas feitas com penas de águia. O jaguar
representa a noite e a águia, o dia, sendo assim, os jogos deviam ser
iniciados ou ao anoitecer ou ao amanhecer, visto que se tratavam de uma
disputa entre a noite e o dia.
Neste sítio, vê-se que as argola por onde a bola deveria passar são muito
distantes do chão, o que tornaria quase impossível para os jogadores
conseguirem o ponto, ou “gol”. Justamente por isso, excepcionalmente em
Chichén Itzá, os jogadores utilizavam uma espécie de raquete para acertar
a bola, dessa maneira, é possível que nessa cidade o jogo estivesse
evoluindo devido, talvez, a uma grande prática, pois, como já foi ressaltado,
parece que o jogo era especialmente importante para cotidiano dos Maias e
Toltecas (a cidade era composta por uma miscigenação pacífica dessas
duas culturas, caso raro no mundo Mesoamericano) de Chichén Itzá.
Por fim, outra coisa que particularizava a prática do Tlachtli neste sítio em
relação aos outros era o fato de os times terem um capitão. Este era, ao
que parece, o único habilitado a fazer o ponto, talvez por ser o jogador mais
experiente, o que tornava as partidas certamente mais demoradas ainda.
No final da disputa. Os times se posicionavam em fila atrás de seus
capitães e estes se posicionavam um de frente para o outro; então, o
capitão do time perdedor decapitava o capitão do time vencedor. Essa
prática pode parecer absurda aos olhos de pessoas como nós, mas
devemos ter em mente que, na cultura Maia, a morte através do sacrifício
era considerada honrosa para o sacrificado, sendo assim, ele não morria,
mas se tornava imortal. Isso é comprovado pelo conjunto de colunas que se
encontram na cidade. São colunas com quatro faces e em cada uma delas
há a escultura de um indivíduo. Cada um desses indivíduos foi um
“felizardo” sacrificado por ter conseguido marcar o “gol”.
4 – Repercussões atuais do Tlachtli:
A primeira coisa que se pensa quando se lê o título desse item é que
simplesmente não há nenhuma repercussão atual desse esporte morto há
tanto tempo. Bem, isso é, de fato, uma inverdade. É certo que o Tlachtli
como esporte não é mais praticado desde o século XVI, mas como show ele
vem sendo praticado no parque de Xcaret, na Riviera Maia, próximo a
Cancun.
É certo que um show não é um esporte, pode ser uma atividade física, mas
não um esporte competitivo, mas vejamos: há uma teoria na Antropologia
que diz que nada é inventado paralelamente em dois lugares, mas sim que
quando duas coisas são muito semelhantes em lugares diferentes, houve
uma espécie de difusão. Por essa teoria, o arco e flecha, por exemplo, que
era utilizado na América, teria sido introduzido, possivelmente, por viajantes
de outros continentes, ou, pelo menos, seria produto de uma memória
transmitida oralmente pelos primeiros habitantes da América, vindos da Ásia
através do Estreito de Bering.
Partindo dessa mesma teoria, muitos pesquisadores afirmam que o
Basquete – “criado” pelo professor de Educação Física canadense James
Naismith, em Springfield, Massachusetts, EUA, em 1891 – não seria um
jogo novo, mas sim, uma releitura de uma tradição antiga da América précolombiana. Tal suposição não é impossível, visto que os EUA nutrem um
verdadeiro sentido de posse sobre a cultura Asteca, visto que ela formou
um Império poderoso legitimamente americano e que a etnia que o
governava era, segundo pesquisas, oriunda de uma ilha lacustre situada no
atual território dos EUA (Aztlán, aliás, Astecas significa: Habitantes de
Aztlán), sendo assim, os Astecas não seriam nada mais do que os
antepassados dos Norte-americanos, coisa que justificaria o destino
manifesto que eles tanto pregam. O Basquete, por esse viés, seria então
uma reformulação das regras de um jogo inteiramente americano.
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